sábado, 5 de fevereiro de 2011

Primeiro apagão do governo Dilma é o maior do Nordeste

Irritada com blecaute, presidente decide acelerar mudanças no setor

Uma falha na subestação Luiz Gonzaga, na divisa entre Pernambuco e Bahia, deixou oito estados do Nordeste sem energia elétrica por até cinco horas na madrugada de ontem. Ao todo, 47,7 milhões de pessoas ficaram sem luz. Segundo o Operador Nacional do Sistema (ONS), cerca de 90% do Nordeste foram atingidos, no maior apagão da região. Em 2009, no maior apagão do país, só o Nordeste escapara. O blecaute irritou a presidente Dilma Rousseff, que cobrou explicações de vários órgãos e deve acelerar as mudanças no comando do setor, hoje nas mãos do PMDB.


ÀS ESCURAS

Nordeste apagado

Falha em subestação de energia deixa 47,7 milhões de pessoas sem luz em 8 estados

Mônica Tavares

Menos de um ano após o Nordeste sofrer um apagão de mais de uma hora por causa de um galho de árvore, um blecaute de grandes proporções atingiu oito estados da região aos 21 minutos da madrugada de ontem, horário de Brasília. O governo justificou o evento, que durou até as 5h e deixou 47,7 milhões de pessoas às escuras, dizendo que houve uma falha em um componente eletrônico do sistema de proteção da subestação de Luiz Gonzaga, na divisa de Bahia e Pernambuco. Apesar da extensão e da duração do problema, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, classificou-o de "interrupção temporária de energia" e defendeu que o sistema elétrico brasileiro é "moderno e robusto", afastando risco sistêmico ou de apagões durante a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016.

- Não há sistema de energia mais moderno do que o brasileiro. Pelo contrário, o nosso sistema é melhor do que na maior parte do mundo - afirmou o ministro, em coletiva convocada logo após se reunir com a presidente Dilma Rousseff. - Tem falhas? Tem falhas, isto acontece em todos os países do mundo.

O presidente do Operador Nacional do Sistema (ONS), Hermes Chipp, estimou que cerca de 90% do Nordeste ficou sem luz, considerando que apenas o Sul da Bahia e parte do Piauí e do Maranhão não foram afetados, por serem atendidos por outras linhas de transmissão não ligadas à subestação.

- Praticamente todos os consumidores do Nordeste foram atingidos. Nesse caso acho que não houve problemas na manutenção. A falha aconteceria mesmo no dia seguinte a uma manutenção no sistema.

Governo suspeita de pane em software

Segundo Lobão, não há causa definitiva para o blecaute, mas o governo trabalha com a hipótese de pane numa espécie de software do sistema de proteção da subestação de Luiz Gonzaga, que recebe, através de dois linhões de transmissão, energia da hidrelétrica de Sobradinho (BA). Quando um deles (linha 1) caiu, por um evento corriqueiro, houve a tentativa dos técnicos de religar. O software entendeu que esta intervenção era uma ocorrência grave na linha 1. Para proteger o sistema, desligou a linha 2, cortando o fornecimento de Sobradinho à subestação.

Um outro sistema de transmissão de Sobradinho, pelo Piauí, estava desligado para manutenção, o que "represou" a energia. Esses acontecimentos provocaram alterações no sistema elétrico nordestino, o que levou ao desligamento em cascata de outras linhas de transmissão que vão distribuindo a energia até chegar às cidades - inclusive os pontos de interligação com o Norte e o Sudeste, que poderiam mandar energia. Isolado, o Nordeste apagou por completo à 0h29, deixando sem luz Bahia, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Ceará, Piauí, Sergipe e Rio Grande do Norte. Apenas o Maranhão, estado de Lobão, escapou.

- A falha em Luiz Gonzaga é a provável causa. Se depois verificarmos que o motivo foi outro, vamos informar - afirmou o ministro.

A sobrecarga do sistema e o erro humano foram eliminadas por Lobão como causas do blecaute. Ele disse que os funcionários da subestação de Luiz Gonzaga tentaram religar a primeira linha de transmissão, que caiu "naturalmente":

- Não é sobrecarga. Eram dois circuitos, falhou uma linha, tentou-se religar o circuito e aí, sim, houve o problema com o desligamento dos dois circuitos, o que gerou uma contaminação do sistema.

Lobão descartou que o Brasil não esteja preparado para os grandes eventos de 2014 e 2016 e que um blecaute ocorra na Copa e nas Olimpíadas. Ele contou que foi criada uma comissão para trabalhar em todas as regiões e cidades onde os eventos vão acontecer, para reforçar a segurança do sistema:

- Não temos esta preocupação, de que possa haver um acidente. (A comissão) é uma precaução a mais, estamos tomando todas as providências, não queremos ser surpreendidos.

Na próxima segunda-feira, Lobão se reúne no Rio com o ONS, as distribuidoras dos oito estados, a Chesf - subsidiária da Eletrobras que responde pela hidrelétrica de Sobradinho e os linhões de transmissão - e a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), à qual caberá determinar a punição aos culpados. O ministro disse que no encontro será feita uma radiografia conjunta de tudo o que ocorreu para evitar que o problema se repita.

Prejuízos não foram contabilizados

Os cálculos sobre os prejuízos ainda não foram feitos, segundo Lobão, porque a preocupação imediata das autoridades do setor foi com a normalização da situação. O governo planeja a construção de cinco hidrelétricas no rio Parnaíba, no Nordeste.

O restabelecimento do fornecimento de energia no Nordeste começou à 1h10, por Fortaleza. Os habitantes de João Pessoa sofreram com a falta de luz até as 2h40. Em Maceió e Aracaju, a luz só voltou completamente às 4h e uma hora depois o fornecimento a Natal já estava normalizado. As últimas capitais a terem o sistema restabelecido foram Salvador e Recife, às 5h. Em Salvador, Rosana Martins ficou preocupada ao saber que a falta de energia atingira a área do Festival de Verão 2011, onde seu filho adolescente estava.

FONTE: O GLOBO

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