domingo, 6 de fevereiro de 2011

Líderes buscam saída honrosa para Mubarak

Opositores, aliados e intelectuais propõe que presidente do Egito abra mão do poder e continue formalmente com o título até setembro, quando estão previstas eleições no país. A ideia é que o vice-presidente Omar Suleiman fique à frente do governo de transição. O clima segue tenso nas ruas, com rumores de atentado contra Suleiman e explosão de gasoduto no Sinai.

Líderes opositores e regime egípcio discutem "saída honrosa" para Mubarak

"Conselho de sábios" e vice-presidente, Omar Suleiman debatem possibilidade de ditador abrir mão do governo, mas manter o título de presidente até setembro; clima nas ruas segue tenso com rumores de atentado contra Suleiman e explosão de gasoduto no Sinai

Jamil Chade com AP

Cairo - Líderes dos protestos que pararam o Egito nos últimos 12 dias reuniram-se com o vice-presidente e ex--chefe da inteligência, Omar Suleiman, para discutir uma "saída honrosa" ao número 1 do regime egípcio, Hosni Mubarak, há 30 anos no poder. A principal proposta discutida nos últimos dias prevê a transmissão imediata do poder de Mubarak a Suleiman, sem que o ditador perca formalmente seu título de "presidente".

Falando em uma conferência de segurança em Munique, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton; disse ser "importante o apoio a um processo de transição no Egito levado adiante, na prática, por Suleiman".

O clima nas ruas do Cairo continua tenso. Ontem a rede de TV Fox News noticiou que atiradores teriam tentado assassinar o vice-presidente. A informação foi desmentida pelo Cairo.

Na Península do Sinai, parte da tubulação de um gasoduto que liga o Egito a Israel e Jordânia explodiu. Autoridades do Sinai e um investigador local, ouvidos pela TV estatal egípcia, levantaram a hipótese de sabotagem. A empresa responsável afirmou que o incidente foi causado por uma falha técnica.

Mubarak promete ficar no poder até a eleição de setembro e irritou-se a trocar os cargos da cúpula do regime. Na sexta-feira, ele teve a primeira reunião com o novo gabinete. Aliados do presidente insistem que ele não deve deixar o poder de forma humilhante. Do outro lado, manifestantes contrários ao governo - que continuam aos milhares na Praça Tahrir, centro do Cairo - prornetem voltar para casa só quando Mubarak deixar o poder.

Um grupo de 30 intelectuais de oposição conhecido como "conselho de sábios", ligado ao diplomata Mohamed ElBaradei, encontrou-se duas vezes nos últimos dias com Suleiman para discutir a saída do presidente e a formação de um governo interino até as eleições de setembro. Mubarak abriria mão de tudo menos do título de presidente, segundo Arnr el-Shobaki, um dos integrantes do conselho.

O grupo opositor exige ainda a dissolução do Parlamento, controlado por aliados de Mubarak, e o fim das leis de emergência em vigor desde que o presidente assumiu, em 1981. Na pratica, elas dão poderes quase ilimitados ao aparato policial do regime.

Na sexta-feira, o grupo encontrou-se com Ahmed Shafiq; nomeado por Mubarak primeiro-ministro após o início dos protestos. Abdel-RahmanYoussef, líder estudantil que participa do conse1ho, disse que as negociações diretas não começaram formalmente, mas "mensagens para acabar com a crise" estavam sendo trocadas entre os dois 1ados. "A nossa mensagem é que eles (o governo) devem reconhecer a legitimidade da revolução e o presidente deve sair de alguma forma, seja uma despedida real ou política", disse Youssef.

Ontem, na Praça Tahrir, veículos militares que cercam o local há uma semana começaram a ser retirados. Opositores colocaram-se diante dos blindados, exigindo que permaneçam para protegê-los da polícia egípcia.

Explosão no Sinai. Segundo a TV estatal egípcia, o ataque de ontem contra um gasoduto no Sinai cortou o abastecimento de combustível. A exportação do gás para Israel e Jordânia não teria sido afetada, pois há mais de um gasoduto entre os países.

O Egito fornece todo o gás consumido na Jordânia e grande parte do utilizado em Israel. A integração energética foi lançada há 15 anos por Mubarak .

O ataque é mais um incidente na península nas últimas semanas. Mohammed Abu Ras, líder dos beduínos da região e aliado dos militares, foi assassinado depois de uma reunião com generais egípcios. Na sexta-feira, um ataque com lança granadas ainda atingiu a sede da segurança em EI-Arish, na fronteira com a Faixa de Gaza.

Há uma semana, Israel permitiu que o Egito enviasse ao Sinai 800 soldados para ajudar no patrulhamento da região. Desde os acordos de paz de 1979, o Sinai é uma região desmilitarizada.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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