quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Dilma rejeita Cunha e irrita PMDB do Rio

NOVA LEGISLATURA

Henrique Eduardo Alves, líder do partido, diz que bancada não abre mão de indicar o presidente de Furnas

Gerson Camarotti, Adriana Vasconcelos e Cristiane Jungblut

BRASÍLIA. Com a retomada das articulações para nomeação dos cobiçados cargos do segundo escalão, a mudança do comando de Furnas virou ontem o principal problema do governo por causa do impasse entre PT e PMDB. Os peemedebistas ameaçaram entregar todos os cargos caso a bancada do Rio de Janeiro perdesse o comando de Furnas. Mas segundo interlocutores próximos, a presidente Dilma Rousseff já avisou que não vai aceitar uma indicação do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) não só para Furnas, mas também para todos os cargos do setor elétrico.

No Palácio do Planalto, há forte contrariedade com as últimas declarações em tom de ameaças do deputado peemedebista por causa das denúncias envolvendo Furnas feitas pelo jornal O GLOBO. A informação de que Cunha estava disposto a manter as ameaças numa entrevista para uma revista semanal foi considerada por ministros como uma espécie de declaração de guerra do peemedebista.

Líder do PMDB se reúne com Palocci e endurece discurso

No início da noite de ontem, o líder do PMDB, deputado Henrique Eduardo Alves (RN), teve um encontro no Palácio do Planalto com o chefe da Casa Civil, ministro Antonio Palocci, e resolveu endurecer as negociações com o governo. Muito próximo de Cunha, deixou claro que não abriria mão de que o comando de Furnas fosse indicado pela bancada do PMDB do Rio de Janeiro e que não aceitaria compensações. A reunião marcou o início das negociações pelo loteamento político dos cargos de segundo escalão.

Para integrantes do PMDB, Henrique Alves fez um desabafo pouco antes de ir para o Planalto: caso a bancada ficasse sem Furnas, seria melhor entregar todos os cargos. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, chegou a sugerir como solução para o impasse a indicação do ex-diretor da Eletrobras Flávio Decat para o comando de Furnas. Dentro dessa proposta, o PMDB manteria o comando da Eletrobras e da Eletronorte.

- Eu e a presidente Dilma queremos o Flávio Decat - disse Lobão.

Mas a proposta foi rejeitada pela bancada do PMDB da Câmara, o que acentuou o impasse. Inicialmente, o nome de Decat estava indicado para presidir a Eletrobras.

- O Decat não ia para a Eletrobrás? Ele não é uma indicação da bancada. Estamos discutindo nomes técnicos. Não posso como líder desconhecer essa realidade: a bancada do PMDB do Rio tem nove deputados. Como fica essa bancada? Eletrobras e Eletronorte são indicações do Senado e não da Câmara. Por isso, não podemos anular as reivindicações da Câmara - avisou Henrique Alves.

Dilma está disposta a fazer uma mudança completa na diretoria de Furnas com a substituição não só do presidente da estatal, Carlos Nadalutti Filho, indicado pelo PMDB, mas de toda a diretoria, inclusive as indicações petistas. Apesar do esforço do líder peemedebista Henrique Eduardo Alves em disfarçar a ansiedade latente dentro de sua bancada, o clima entre os parlamentares da legenda continua de desconfiança em relação ao PT.

- A eleição do deputado Marco Maia foi um primeiro sinal da melhora do clima na base governista, depois do jogo desigual na composição ministerial, que mais parecia um jogo de handebol no qual o PT fez 17 gols e o PMDB apenas quatro. O ministro Palocci prometeu a partir de agora equilibrar o jogo. Vamos ver agora se os fatos confirmam essas intenções - adiantou o líder peemedebista.

Paralelamente às negociações do segundo escalão, a bancada do PMDB no Senado também busca se precaver para não ser surpreendida pelos petistas mais adiante. O grande temor do partido é que o PT reivindique, daqui a dois anos, o comando da Casa, como contrapartida ao apoio dos deputados petistas ao peemedebista Henrique Dias na sucessão de Marco Maia. Esse foi um dos assuntos discutidos ontem numa reunião promovida na casa do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).

Depois de participar da cerimônia de abertura dos trabalhos do Legislativo, o presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, disse que os partidos estão disputando, mas não necessariamente brigando pelos cargos. Apesar de na terça-feira o vice-presidente Michel Temer ter dito que existe uma briga entre PT e PMDB, Dutra afirmou que o que existe é uma "disputa natural".

- O termo não é briga política, mas sim disputa. Esse é um governo plural apoiado por diferentes partidos políticos que podem indicar quadros para o segundo escalão. É um governo de continuidade, não basta apresentar uma lista de indicações. Os cargos não estão vagos, é continuidade - disse Dutra.

FONTE: O GLOBO

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