quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Ameaça não impede novo confronto no Irã

Grupos pró e contra Ahmadinejad se enfrentam em funeral de universitário morto durante a manifestação de segunda-feira

Teerã – Partidários do governo iraniano entraram em confronto com manifestantes da oposição ontem, durante o funeral de um estudante baleado em um protesto contra o governo há dois dias, o primeiro em um ano. A informação é da emissora estatal Irib. O curdo sunita, Sanee Zhaleh, se tornou um mártir tanto para os partidários como para os oponentes do presidente do país, Mahmud Ahmadinejad. As duas partes trocam acusações de responsabilidade pela morte do jovem, de 26 anos.

A TV estatal mostrou milhares de manifestantes pró-governo na cerimônia do funeral de Zhaleh, na Universidade de Teerã, onde ele estudava. Segundo a versão oficial, "estudantes e as pessoas que estavam no enterro de Zhaleh se chocaram com alguns membros do Movimento de Sedição (incitação ao motim) e os forçaram a sair do local, entoando slogans de “morte aos hipócritas”. O enfrentamento ocorreu no dia seguinte à ameaça de Ahmadinejad de não aceitar a revolta da oposição. Ele também prometeu combater os “inimigos do país”.

De acordo com a agência de notícias Fars, o mártir iraniano era membro da Basij, milícia formada por voluntários e ligada à Guarda Revolucionária do Irã, unidade militar da elite do regime. A Basij teve papel importante na supressão dos protestos contra o governo em 2009. Sites da oposição não negam que ele fosse um membro da milícia – que tem milhões de integrantes por todo o país –, mas disseram que ele foi à manifestação na condição de ativo partidário dos protestos contra o governo. De acordo com esta versão, o funeral foi organizado pela seção estudantil da milícia. Além do jovem, um outra pessoa morreu nos protestos de segunda-feira, que foram encabeçados pelos dirigentes da oposição no país, Mir Hossein Mussavi e Mehdi Karubi. Ambos agora estão em prisão domiciliar. Na terça-feira, deputados pró-governo chegaram a pedir a execução deles.

Ontem, eles pediram ao governo que "ouça o povo", em declarações publicadas na internet. "Eu os alerto, abram os ouvidos antes que seja tarde demais", afirmou Karubi, o ex-presidente reformador do Parlamento. "As ações violentas e a hostilidade ante as exigências da população só podem ajudar a manter a situação atual durante certo tempo. Aprendam a lição do destino dos poderes que se afastaram do povo", acrescentou o líder, aludindo às recentes revoltas no Egito e na Tunísia.

Mas o procurador-geral do Irã, Gholam Hossein Mohseni Ejeie, advertiu que serão tomadas ações contra os mentores dos protestos e afirmou que várias pessoas foram presas na segunda-feira. A maioria teria sido libertada na sequência. O governo também convocou um comício contra os "chefes da sedição" para amanhã, depois das habituais orações. Na cidade sagrada de Qom, partidários do regime se reuniram ontem na principal escola religiosa da área para ouvir o clérigo linha-dura aiatolá Ahmad Khatami.
FONTE: ESTADO DE MINAS

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