domingo, 23 de janeiro de 2011

Reeleição de Sarney é 'menos pior' para Dilma

Especialistas afirmam que, mesmo com escândalos, escolha do senador acalma base

Adriana Vasconcelos

BRASÍLIA. Ruim com ele, pior sem ele. Esse é o raciocínio que deverá garantir a eleição do senador José Sarney (PMDB-AP), pela quarta vez, para o comando do Senado no dia 1º de fevereiro. Mesmo reconhecendo que isso poderá prejudicar a já desgastada imagem da instituição, devido aos escândalos que levaram Sarney a ser alvo de pelo menos seis representações por quebra de decoro parlamentar nos últimos dois anos, parlamentares da base governista e até da oposição se recusam a criticar abertamente a decisão da bancada do PMDB de mantê-lo no posto.

Mas o que os senadores evitam falar, cientistas políticos e especialistas explicam facilmente: por mais desgastes que possa provocar, sua reeleição sem questionamentos é considerada fundamental para que o PT garanta a eleição do deputado Marco Maia (PT-RS) para a presidência da Câmara. E é uma segurança a mais para o governo da presidente Dilma Rousseff.

Reeleição seria um "mal menor", diz especialista

A oposição, com as bancadas de PSDB e DEM reduzidas, adota o discurso de respeito à regra da proporcionalidade - que garante ao maior partido indicar o candidato a presidente -, para não correr o risco de perder seu espaço na Mesa Diretora.

- De fato, a avaliação dos escândalos enfrentados pelo Senado é problemática. Mas Sarney continua sendo uma peça muito importante, não só no PMDB. Não há muita saída para o governo - afirma David Fleisher, cientista político e professor da Universidade de Brasília (UnB).

Essa também é a opinião do cientista político Paulo Kramer:

- Do ponto de vista das relações entre o Executivo e o Legislativo, a reeleição de Sarney representa um mal menor.

Apoio mantido, mesmo nos momentos de crise

Para Kramer, o PMDB não teria muitos outros nomes com condições morais e políticas para assumir o comando do Senado. A segunda opção seria o líder da bancada, Renan Calheiros (AL), obrigado a renunciar a presidência da Casa em dezembro de 2007 em meio a suspeitas de que teria contas pessoais pagas por uma empreiteira.

O poder e a influência de Sarney junto ao PT são atribuídas ao papel que exerceu na pior crise vivida pelo governo Lula, entre 2005 e 2006, no escândalo do mensalão. Além da gratidão de Lula, Sarney ganhou a confiança de Dilma, ao se manifestar solidário durante seu tratamento de um linfoma, em 2009.

No auge da crise do Senado - quando foi revelado que foram editados mais de mil atos administrativos secretos para acobertar casos de nepotismo e outras irregularidades - a então ministra Dilma atuou em defesa de Sarney.

Já como presidente, Dilma indicou dois aliados de Sarney para seu Ministério: Edison Lobão (PMDB-MA) na pasta de Minas e Energia e Pedro Novais no Turismo. E aceitou a indicação do senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), que poderia ameaçar os planos de reeleição de Sarney, para a Previdência.

FONTE: O GLOBO

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