sábado, 8 de janeiro de 2011

A inflação mostra força:: Celso Ming

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Por duas vezes, no seu discurso de posse, a presidente Dilma Rousseff reafirmou seu compromisso com a derrubada da inflação. Os números de dezembro mostram que o governo precisa agir com vigor para evitar que os preços disparem em 2011.

Ao longo do ano passado, o ministro Guido Mantega tudo fez para tirar importância da alta de preços. Seu objetivo foi evitar que o Banco Central engatilhasse o trabuco da elevação dos juros. Mantega insistiu no diagnóstico de que a disparada de preços teve como causa choques de oferta de alimentos. Foi, dizia ele, excesso de chuva que prejudicou a produção de tomate e a surpreendente quebra de safra que produziu "a inflação do feijãozinho". O que Mantega pretendia dizer é que não seria nova subida dos juros que garantiria mais tomates ou mais feijão na mesa do consumidor. Tudo o que teria de ser feito era esperar para que a oferta se restaurasse e os preços voltassem ao normal.

Ao ministro não se pode negar certa dose de razão. Toda a esticada de preços dos alimentos teve um componente de choque de oferta. Além dos casos mencionados, a alta internacional do trigo, acompanhada pela da soja e do milho, teve a ver com estiagens nos países produtores, como Rússia e Argentina. E a alta dos preços da carne foi também causada pela excessiva liquidação de matrizes há dois anos.

No entanto, em nenhum país importante do mundo houve esticão tão forte como o que houve por aqui. Os dados do IBGE mostram que 3,18 pontos porcentuais da inflação, que em 2010 foi de 5,91%, deveu-se ao salto dos preços dos alimentos. O feijão subiu 51,5% e a carne, 29,6%. Essa disparada foi também responsável pelo reajuste de 10,6% nos preços das refeições fora de casa.

É que o sujeito não tropeçou apenas porque havia uma pedra no seu caminho; tropeçou, principalmente, porque estava bêbado. Ou seja, os preços dos alimentos subiram tudo o que subiram em 2010 também e especialmente porque as despesas públicas aumentaram demais, criaram renda demais e puxaram o consumo demais.

Um forte componente dessa inflação tem a ver com a frouxidão da política fiscal adotada pelo governo com objetivo de lubrificar a máquina eleitoral.

Isso significa que é preciso, sim, combater a inflação de demanda que está minando o poder aquisitivo do trabalhador, como admitiu a presidente Dilma. O governo não pode contar mais com a queda da cotação do dólar, que barateia o produto importado. Nem com a persistência de uma baixa inflação nos países ricos. Ao contrário, a retomada da atividade econômica nos Estados Unidos e o forte consumo nos países asiáticos indicam que 2011 será um ano de mais pressões sobre os preços dos alimentos e matérias-primas.

O combate à alta de preços terá de se concentrar no uso de dois instrumentos de política econômica: austeridade na administração dos gastos públicos e aperto monetário (elevação dos juros).

As notícias de que o governo já admite reajuste do salário mínimo acima do nível anteriormente definido mostra que a disposição de apertar os cintos não é tão firme como pareciam indicar as declarações oficiais. Quanto aos juros, saberemos qual será a determinação do Banco Central na próxima reunião do Copom, dia 19.

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Ontem, as bolsas tiveram um dia ruim, como mostra o gráfico. O comportamento do mercado de trabalho nos Estados Unidos (payroll) continua insatisfatório. "A esse ritmo serão necessários cinco anos para normalização do mercado de trabalho", disse Ben Bernanke, presidente do Fed (o banco central americano).

Cada vez pior

Mas não foram apenas os problemas com o desemprego nos Estados Unidos que puxaram os mercados para baixo. Foi, também, a percepção de que a situação fiscal da área do euro continua em deterioração.

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