domingo, 2 de janeiro de 2011

Ao assumir, Dilma promete enfrentar desafios pós-Lula

DEU EM O GLOBO

A economista Dilma Vana Rousseff, de 63 anos, assumiu a Presidência da República prometendo consolidar o legado do presidente Lula e fazendo uma carta de intenções de seu governo: erradicar a miséria, melhorar a saúde, a segurança e a educação. Também prometeu reformas política e tributária, que o governo Lula não fez. Dilma reafirmou compromissos com a estabilidade econômica, a democracia e a liberdade de expressão. Ex-guerrilheira, eleita numa disputa acirrada, ela também fez um discurso de conciliação. Disse que estende a mão à oposição e que quer ser a presidente de todos os brasileiros. Presa, torturada pela Ditadura militar, chorou ao lembrar os companheiros que morreram e disse que não guarda arrependimento, mas tampouco ressentimento ou rancor. Dilma destacou que é a primeira mulher a chegar ao Planalto e prometeu "honrar as mulheres, proteger os mais frágeis e governar para todos". Mineira, citou Guimarães Rosa para dizer que precisará de coragem para a tarefa de governar.

Dilma e os desafios do pós-Lula

Primeira mulher presidente do Brasil promete fazer país avançar mais e fala em conciliação

Luiza Damé e Chico de Gois

Eleita com 55.752.483 (56,05%) de votos, a petista Dilma Rousseff, de 63 anos, assumiu ontem a Presidência do Brasil como a primeira mulher a ocupar o cargo e prometendo "consolidar a obra transformadora" do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na solenidade de posse no Congresso, se comprometeu a erradicar a pobreza extrema, manter a estabilidade econômica, ampliar investimentos, melhorar a qualidade da educação, da saúde e da segurança, entre tantas outras promessas, numa demonstração de que reconhece que muita coisa ainda precisa ser feita e que seus desafios são enormes.

Depois de oito anos de poder, Lula não conseguiu conter a emoção ao receber sua sucessora - eleita graças à sua imensa popularidade - na rampa do Palácio do Planalto e passar a faixa. Diferentemente do que prometia seu estilo, Lula não discursou, mas em seguida à cerimônia caiu nos braços do povo e chorou por diversas vezes.

Antes de empossar seus 37 ministros, no discurso no parlatório, dirigido ao público na Praça dos Três Poderes, Dilma pediu apoio da população para dar continuidade ao trabalho iniciado no governo Lula. A presidente, que embargou a voz e interrompeu sua fala para tomar água, disse ter a responsabilidade de manter, com o vice Michel Temer, a parceria de Lula e José Alencar para "seguir no caminho iniciado por eles" no rumo do desenvolvimento. Afirmou que, para governar um país continental como o Brasil, é preciso sonhos mais do que metas.

Dilma abriu o discurso dizendo estar muito feliz por ser a 1ª mulher a assumir a Presidência, mas emocionada porque chegava ao fim o mandato do "maior líder popular que este país já teve":

- São coisas que se guardam para a vida toda. Conviver todos esses anos com o presidente Lula me deu a dimensão do líder justo e apaixonado por sua gente.

- Lula estará conosco. A distância de um cargo nada significa para um homem de tamanha grandeza e generosidade. Saberei honrar esse legado e avançar nessa obra de transformação do Brasil.

Para Dilma, foi a vontade de mudança que levou um operário à Presidência e, agora, a ousadia do povo levou uma mulher ao Palácio do Planalto. A presidente afirmou que o esforço, a dedicação e o nome de Lula estão "gravados no coração do povo":

- Nesse período, o presidente liderou as transformações deste país. Isso permitiu que o povo brasileiro tivesse uma nova ousadia: colocar pela 1ª vez uma mulher na Presidência. Para além da minha pessoa, a valorização da mulher melhora nossa sociedade.

Ela reafirmou o compromisso de cuidar "com muito carinho dos mais frágeis e necessitados". Prometeu governar "de mãos abertas e estendidas" para "todos os brasileiros e todas as brasileiras". Num recado à oposição, disse estar disposta a conversar com os aliados de primeira hora e com os que não participaram da sua eleição:

- Não peço a ninguém que abdique de suas convicções. Buscarei o apoio, respeitarei a crítica. É o embate civilizado entre as ideias que move as grandes democracias como a nossa. Não carrego nenhum ressentimento nem espécie de rancor.

Dilma homenageou seus companheiros de luta contra a ditadura, dizendo que sua geração pagou um preço pela redemocratização do país:

- Aos companheiros que tombaram, minha comovida homenagem e minha eterna lembrança.

A presidente disse que muito foi feito nos últimos oito anos, mas ainda há muito o que fazer. Foi nesse momento, que a voz falhou:

- Foi por acreditar que podemos fazer mais e melhor que o povo nos trouxe até este momento.

E pregou a união para que o Brasil continue crescendo, gerando empregos e criando oportunidades:

- É o sonho que constrói um país, uma família, uma nação. Esse é o desafio que ergue o país. Existem metas e objetivos, mas também existem sonhos. Para governar um país continental do tamanho do Brasil é preciso ter sonhos e persegui-los.

Mais uma vez citou Lula, que a aguardava no Palácio, onde se encontravam a mãe da presidente, Dilma Jane, sua filha, Paula, e a tia Arilda.

- Foi por não acreditar que havia o impossível que o presidente Lula fez tanto pelo país nesses últimos anos. Para consolidar e avançar as grandes conquistas recentes precisarei muito do apoio de todos vocês. Vou estar ao lado dos que trabalham pelo bem do Brasil. Se todos trabalharmos pelo Brasil, o Brasil nos devolverá em dobro nosso esforço.

Dilma encerrou o discurso pedindo a bênção de Deus para transformar o Brasil "no maior e melhor país para se viver".

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