sábado, 6 de novembro de 2010

Reflexão do dia – Roberto Freire

“O processo da campanha e seus resultados deram duas sinalizações claras do eleitorado brasileiro: há espaço para um partido de direita ideológica e outro espaço para um partido defensor de uma agenda modernizadora verde e social-democrata. A necessária união dos partidos de oposição durante a campanha escamoteou a profunda diferença que existia entre as agremiações e seus ideários, principalmente em questões relativas aos valores que devem servir de base para a formulação das políticas públicas.

É preciso deixar claro que essas ambiguidades partiram da campanha governista, o que foi demonstrado pelo vai e vem sobre a questão do aborto e a liberdade de imprensa, configurando um claro retrocesso das conquistas da luta das mulheres e da cidadania.

Nesse sentido, foi verificada a atitude de algumas lideranças de direita do espectro oposicionista, que durante toda a campanha tencionaram para a adoção de uma abordagem conservadora, muitas vezes baseada num discurso anticomunista, o que além de equivocado já está totalmente ultrapassado pela história. “


(Roberto Freire, no artigo,’Oposição avançada’, Brasil Econômico, 5/11/2010)

A anatomia dos votos :: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

A polêmica sobre a importância do voto nordestino para a eleição de Dilma Rousseff como presidente do país não resiste a uma análise dos mapas eleitorais. O cientista político Cesar Romero Jacob, da PUC do Rio, acostumado a analisar esses mapas para definir o que chama de “a geografia dos votos”, explica com objetividade: Dilma foi eleita porque ganhou de muito nas áreas que lhe eram favoráveis, como no Norte e Nordeste, mas perdeu de pouco onde o ambiente político favorecia seu adversário tucano, José Serra.

Mesmo sem os votos do Norte e Nordeste, Dilma venceria Serra na soma dos votos do Centro-Oeste, Sul e Sudeste por míseros 275.124 votos, ou 0,25%. Já no Norte e Nordeste, Dilma tirou uma vantagem sobre Serra de espetaculares 11.777.817 de votos.

Na Região Sul, onde a oposição predomina, a diferença a favor de Serra foi de apenas 6 pontos. No Rio Grande do Sul, por exemplo, Serra perdeu no primeiro turno e ganhou de pouco no segundo.

Em Santa Catarina, o Oeste do estado sempre tende a votar mais à esquerda; Serra ganha bem, com a média nacional invertida — 56% a 44% a seu favor —, mas o estado não é dos maiores colégios eleitorais, o mesmo acontecendo no Paraná e no Mato Grosso do Sul.

No Centro-Oeste, a diferença foi de 2 pontos para Serra, com empates técnicos em Mato Grosso e em Goiás.

No Sudeste, a vantagem de Dilma foi de 4 pontos. A diferença entre PT e PSDB na Região Sudeste vem se reduzindo desde 2002.

Anteriormente, em 1994 e 1998, Fernando Henrique Cardoso havia ficado à frente de Lula nas vitórias no primeiro turno em até 5 milhões de votos em São Paulo, o que garantia a supremacia no Sudeste.

Embora Alckmin tenha vencido no primeiro turno de 2006 por uma pequena margem de cerca de 700 mil votos, graças à vantagem que tirou em São Paulo de 3,8 milhões de votos, no segundo turno Lula venceu por 12 pontos. Metade do que tivera em 2002 (25 pontos), e Dilma venceu agora por 4 pontos.

A média nacional invertida a favor de Serra em São Paulo, apesar de se tratar do maior colégio eleitoral do país, não foi suficiente para compensar Minas Gerais (11% do eleitorado) e Rio de Janeiro (9%), que juntos dão praticamente o estado de São Paulo (22%), destaca Romero Jacob.

Mesmo que, no conjunto de três estados do Sudeste (Rio, Minas e Espírito Santo), Dilma tenha tido uma redução de 8,5 pontos em relação à votação de Lula em 2006.

Ainda na Região Sudeste, a metade Norte do Rio foi a favor do Serra por causa da atuação do Garotinho. No Espírito Santo, houve também empate.

A vantagem final de Dilma se deveu à diferença obtida no Nordeste (38 pontos) e Norte (15 pontos). Mas, como destaca outro cientista político, Jairo Nicolau, a votação final de Dilma foi menor do que a obtida por Lula em 2006 em todas as regiões do país, com exceção da Região Sul, onde ela manteve o mesmo patamar de Lula em 2006: 44% dos votos.

Dilma perdeu 4 pontos percentuais no Centro-Oeste; 8 pontos no Norte; 6 pontos no Nordeste e 5 pontos no Sudeste.

No Nordeste, Lula em 2006 teve 77,2%, e Dilma obteve 70,6%; no Norte, Lula teve 65,5% e Dilma, 57,4%.

Romero Jacob analisa que, como estratégia para ganhar a eleição, o PT foi eficaz por que perdeu de pouco no Sul e Centro-Oeste e venceu no Sudeste.

Em uma análise do Brasil como um todo, lembra Romero Jacob, dá para ver nos mapas eleitorais que, no Nordeste, os pontos azuis (locais onde Serra venceu) são muito poucos, e no Sul e Centro-Oeste os pontos vermelhos são muitos (onde Dilma teve mais votos).

As eleições do segundo turno de 2010 praticamente repetiram o padrão territorial que começou no primeiro turno de 2006, manteve-se no segundo turno de 2006 e no primeiro turno de 2010.

Segundo Jairo Nicolau, comparativamente a Alckmin em 2006, Serra cresceu em quatro regiões: 3 pontos percentuais no Centro-Oeste (onde o PSDB passou a vencer); 9 pontos no Norte; 3 pontos no Sudeste. Na Região Sul, Serra obteve (51%) e repetiu a votação de Alckmin em 2006 (50%).

Dilma perdeu, no total, em 11 estados. “Nunca um presidente eleito perdeu em tantos estados”, destaca Nicolau em seu blog.

O cientista político fez comparações entre as eleições de 2006 e 2010 e chegou a conclusões interessantes.

Quando comparado a Alckmin (2006), Serra obteve mais votos (em pontos percentuais) em 24 estados; manteve-se no mesmo patamar em dois (São Paulo e Mato Grosso do Sul) e diminuiu apenas em um (Rio Grande do Sul).

Quando comparada a Lula (2006), Dilma obteve menos votos (em termos percentuais) em 25 estados; e aumentou apenas em dois (Rio Grande do Sul e Pernambuco).

As eleições foram bastante competitivas (menos de 10 pontos de diferença) em 11 estados (São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná, Pará, Goiás, Espírito Santo, Mato Grosso, Alagoas, Mato Grosso do Sul, Sergipe e Rondônia) e no Distrito Federal.

Nos outros 15, um dos dois candidatos abriu uma grande diferença sobre o outro.

Cesar Romero Jacob, da PUC, considera que os mapas eleitorais deixam claro que não existe uma disputa ideológica, nem mesmo uma disputa de classes, mas uma votação movida muito mais por interesses econômicos, seja das classes mais abastadas — que votaram em Dilma em todo o Nordeste — ou dos eleitores das classes C, D e E que, embora tenham ascendido socialmente nos últimos anos, só votaram em massa na candidata do governo no Nordeste.

Em muitos casos, o apelo do candidato tucano José Serra pela melhoria dos serviços públicos atingiu esse eleitor, que agora quer mais do governo além da pura distribuição de renda. Quer melhor educação, melhores hospitais, maior eficiência da máquina pública.

O que faltou na fala de Lula:: Editorial - O Estado de S. Paulo

Pode ter soado como uma manifestação de grandeza - ou de cavalheirismo em relação à sua sucessora Dilma Rousseff - o apelo que o presidente Lula fez à oposição na entrevista conjunta de ambos, esta semana. A coletiva, aliás, foi convocada às pressas, na tentativa de pôr um freio de arrumação nas especulações sobre o futuro Ministério e a interferência do presidente na sua formação. Daí o seu empenho em avisar aos interessados que "somente ela pode dizer quem quer e não quer".

Perguntado sobre o que espera de agora em diante da oposição, Lula pediu que ela virasse a página. "A Dilma é uma outra pessoa", assinalou. Contra ele mesmo, "não tem problema, podem continuar raivosos do jeito que sempre foram". Mas, depois que ela assumir, aconselhou, a oposição deveria ter a compreensão de não fazer o que chamou "política do estômago, da vingança, do trabalhar para não dar certo". E completou com uma referência ao imperativo de ser "a mais harmoniosa possível" a relação entre a União e os governos estaduais, 10 deles em mãos oposicionistas.

Tomada pelo seu valor de face, a exortação seria convincente ou, melhor ainda, prova de que Lula completou o percurso da atitude de confrontação furiosa, com que ingressou na vida pública, à aceitação da civilidade como ideal a ser buscado no relacionamento entre as forças de cada lado da divisa política. Pena que não tenha aproveitado o momento para reconhecer que ninguém superou o seu partido, sob o seu inconteste comando, em matéria do que agora diz condenar. Movido a vingança, o PT de Lula fez tudo, durante 8 anos, para que o governo Fernando Henrique não desse certo.

À omissão, ele adicionou uma contrafação. A história da era Lula está aí para que se esqueça que a oposição sofreu não poucas críticas pela falta de contundência com que se comportou diante do primeiro homem do povo a dirigir o País. Quaisquer que tenham sido os seus motivos, o PSDB e o então PFL ensarilharam as armas - a rogo de interlocutores do Planalto - quando o marqueteiro Duda Mendonça contou na CPI dos Correios, em agosto de 2005, que os R$ 10,5 milhões que cobrou por seus serviços na campanha petista de três anos antes foram pagos com dinheiro de caixa 2 em conta secreta no exterior.

Das evidências surgidas no escândalo do mensalão, nenhuma outra atingiu Lula tão frontalmente, e, ainda assim, a oposição "maneirou". Talvez tenha até feito a coisa certa, para evitar uma crise que no limite seria institucional. Seja como for, falta ao presidente autoridade política, que dirá moral, para pôr o dedo no nariz da oposição, acusando-a de uma conduta que foi, isso sim, dele, dos seus companheiros de legenda e das organizações a ela vinculadas. "A oposição que Lula teve é a que todo presidente pede a Deus", resume o vice-líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias.

Como diria a então candidata Dilma antes de ser advertida para não falar difícil, o presidente tergiversou também quando lhe perguntaram se a ampliada maioria governista no Congresso deixará a sucessora menos refém de "oligarquias do Nordeste". Diante dessa alusão à fraternal relação de Lula com o soba maranhense José Sarney, ele deitou falação sobre o que seria "a lógica do jogo" - as servidões da política que obrigam os governantes a se entender com quem o eleitorado mandou para o Legislativo e não com quem eles gostariam que tivessem mandado.

Pondo a mão no ombro de Dilma, disse que "ela vai ter que conversar com o companheiro do PC do B e com o Tiririca", como se exemplificassem os oligarcas a que se associou gostosamente, a pretexto da "governabilidade", para consolidar o seu poder e fazer a sucessora. Outra falácia conveniente a que recorreu foi a de que "o Congresso é a cara, a síntese da sociedade". Todo Parlamento é uma das caras possíveis de uma nação. A face que prevalece resulta em ampla medida do sistema eleitoral. As suas regras podem ampliar ou, como no Brasil, restringir a representatividade - só 35 dos 513 novos deputados federais se elegeram com os próprios votos.

Se assim não fosse, a reforma política que Lula defende seria desnecessária. Mas cobrar coerência dele já é demais.

Pós-eleições:: Arnaldo Jardim

DEU NO PORTAL DO PPS

Momento eleitoral é a consagração da democracia, quando a cidadania escolhe o futuro, determina caminhos, estabelece prioridades e escolhe os governantes! Todavia, é frustrante a constatação de que os temas de interesse nacional, que deveriam fazer parte deste debate substantivo para construção de um projeto nacional de desenvolvimento, foram relegados a um segundo plano nesta eleição.

A vitoriosa candidatura governista foi construída a partir de uma conjuntura internacional extremamente favorável para a nossa economia (período pré-crise global), medidas para aumentar o consumo e o crédito internos, reduções pontuais de impostos sobre alimentos e bens de consumo, além de um bem sucedido programa de transferência de renda.

Com maior poder de compra, empregos formais em alta, a maioria dos eleitores votou pela continuidade, tendo ainda o Presidente como “maior cabo eleitoral”, buscando sempre uma campanha com tom plebiscitário, na qual o olhar para trás acabou por inibir as discussões do futuro!

Por outro lado, faltou à oposição esclarecer que o bom momento atual não é fruto de milagre nem magia, mas o resultado de processos que têm uma história, iniciada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, há 16 anos, com o Plano Real, a Lei de Responsabilidade Fiscal, etc.. Além de cobrar que estes fundamentos bem sucedidos fossem mantidos e aprimorados.

Apesar de contarmos com um candidato reconhecidamente com mais experiência administrativa, caímos na “armadilha plebicitária” governista, em provocações e deixamos que temas religiosos e de colunas policiais tomassem conta do período eleitoral e assim não apresentamos nossa pauta, fomos simplesmente reativos!

Todavia, é importante destacar que a oposição eleitoralmente reagiu, sai da eleição sem a Presidência, mas governando dez Estados, que reúnem mais de 50% da população brasileira.

Na Câmara dos Deputados o bloco governista contará, a princípio com 372 dos 513 deputados, enquanto no Senado, terá 58 senadores e 22 da oposição. Mesmo definidos como “governistas”, sabemos que a formação de uma base aliada não se dará por decreto e dependerá muito de como o novo governo enfrentará os desafios que virão e a oposição deverá ter sabedoria para lidar com as contradições deste bloco, estabelecer avanços, “fazer política”.

Por isso, mais do que chorar uma derrota, acredito que o momento deve servir para os partidos de oposição demonstrem os compromissos assumidos com o Brasil, restabeleçam seus vínculos sociais, reafirmem seu perfil e apresentem claramente suas bandeiras. Propus isto ao PPS e aos demais partidos da oposição.

Afinal, pairam muitas dúvidas sobre como a nova presidente vai enfrentar o desaquecimento da economia global pós-crise, o aumento recorde dos gastos públicos, a inflação que superou as metas do Banco Central, a valorização excessiva do real que ameaça as exportações, indústrias e empregos. Isso só para ficar na área econômica, sem mencionar outros gargalos históricos.

Cabe-nos fiscalizar o novo governo, denunciar o mau uso do erário público, punir os seus responsáveis, além de termos sabedoria em lidar com as contradições do poder para estarmos abertos a alianças momentâneas em torno de projetos de interesse da nação.

Mais do que isto, definir nosso espaço ideológico e não tenho dúvidas de que uma real e clara opção de ´política social democrata necessita ser apresentada à sociedade. Para isto devemos contribuir!

Particularmente, o Congresso Nacional tem uma grande dívida com a sociedade, principalmente em virtude das reformas estruturais e estruturantes que foram deixadas de lado pelo Governo Lula, tais como: as reformas Política, Previdenciária, Tributária e do próprio Estado.

Também precisamos ser propositivos no sentido de oferecer uma porta de saída para a população que sobrevive dos programas assistencialistas federais, assim como, reafirmamos a defesa do meio ambiente, a qualidade dos serviços públicos oferecidos à população, a política de defesa/segurança e o tipo de liderança que o Brasil deve desempenhar no mundo.

Portanto, a próxima presidente terá sérios desafios econômicos de curto prazo, para conduzir políticas que contribuam para a sustentabilidade do atual ciclo de crescimento, e outros desafios sociais, como educação, saúde e segurança pública, de médio e longo prazos, que exigirão da candidata eleita uma visão mais de estadista do que de chefe político ou de uma facção partidária.
Arnaldo Jardim é deputado federal (PPS/SP)

Lá vem o Patto! :: Urbano Patto

DEU NO JORNAL DA CIDADE DE PINDAMONHANGABA/SP

Algumas observações sobre as eleições enquanto ainda estão frescas na memória:

1. Ficou patente a dificuldade das campanhas em abordar a questão econômica, e para mim o motivo é claro - o modelo econômico do governo Lula, tirando algumas firulas mais ou menos assistencialistas e aspectos pseudo-ideológicos estatistas ou privatistas, é essencialmente o mesmo de FHC, o tripé câmbio flutuante, juros altos e superávit primário. Com seus índices e variações fortemente determinados pelo papel que o sistema econômico mundial, principalmente o sistema financeiro, reserva para o Brasil.

Para Serra, contrapor-se a isso ficou muito difícil, pois também está vinculado, como quase tudo no mundo globalizado de hoje, a essas forças econômicas que se fazem presentes em suas alianças políticas e em sua campanha. Tentou colocar-se nesse campo também como a alternativa de ser um melhor gerente, de uma mesma política. Enganou-se redondamente. Nesse meio, gerente se contrata e se demite, não se decide em eleição. Na eleição interessa quem defende melhor seus interesses e isso estava muito claro: o governo Lula e a campanha de Dilma, que pouco tocaram nesse assunto, e quando o fizeram sempre afirmaram que o lema nessa área é: continuar para seguir continuando.

2. Não restou dúvida sobre o abandono da oposição dos movimentos populares, sindicais e estudantis. Só houve campanha de Dilma nessas searas. Não só pela política de “correias de transmissão” e apelegamento através de verbas e programas (inclusive de entidades e lideranças supostamente independentes e/ou oposicionistas), mas pelo vazio de discurso. O que tem tudo a ver com a observação acima.

3. A questão democrática, e dentro dela a questão da ética e da corrupção, ainda tem pouco apelo nas massas populares, embora tenham tido uma certa penetração nas camadas médias e mais instruídas. A lógica predominante no eleitorado ainda é: se o pirão é pouco, o meu primeiro.

A indicação no mapa do voto resultante dessas eleições, continuando e ampliando o mapa da eleição anterior, é que isso tende a mudar. Onde a economia e a cultura são mais desenvolvidas os eleitores não se empolgaram tanto com o continuísmo. Por mais que alguns intelectuais e propagandistas ligados aos vencedores tentem minimizar ou desqualificar essa questão, não dá para negar esse fato. Tanto a configuração do mapa nacional, como no interior dos estados indicam o mesmo padrão: onde o IDH é mais baixo foi maior a votação da situação, com poucas exceções, que confirmam a regra.

4. Lula, permanentemente nesse segundo mandato, mais que a própria campanha de Dilma, trabalhou essa propensão pragmática do eleitorado de forma precisa, com duas vertentes de argumentação que não se excluem. Na primeira afirmava que as denúncias de corrupção e coisas do gênero são mentiras orquestradas, veiculadas e aumentadas pela imprensa, para atrapalhar o seu governo, dirigido por um homem do povo que defende esse mesmo povo contra indefinidas e malvadas “elites” e que garante sua ascensão social e econômica.

A segunda, mais direcionada à sua base histórica e àqueles com certo grau de politização estabelece que as malfeitorias, os desvios, as alianças sem princípios e coerência, o populismo e a corrupção são tributos inescapáveis que a virtude paga ao vício para que se possa permanecer no poder, e quem sabe algum dia cumprir as “bandeiras históricas” que foram dobradas, guardadas e, de vez em quando, convenientemente desfraldadas e desempoeiradas em Planos Nacionais de Direitos Humanos, em discursos antiimperialistas retóricos e na colocação (e retirada rápida) dos bonés do MST.

5. Houve sim um componente altamente conservador e retrógrado dentro das campanhas com matiz ideológico marcadamente antipopular direitista e, digamos, fundamentalista, com maior presença na campanha de Serra, mas também existente nas de Dilma e de Marina. Felizmente, não observei nem vi estímulo a isso dentro das campanhas oficiais, pelo contrário. Porém, uma certa estrutura e lideranças paralelas se constituíram nos partidos e, principalmente, nos movimentos religiosos. Exemplos patéticos disso foram o “santinho” de Serra citando Jesus e a “carta-compromisso” que as lideranças evangélicas arrancaram de Dilma.

A criação de uma organicidade desse pensamento ultraconservador na política brasileira, que sabemos existir mas não tem conseguido muito espaço após a redemocratização do país, é uma coisa que pode preocupar mais adiante.

6. Foi imperdoável, anti-republicana e deseducadora a ausência da questão internacional das campanhas e do debate. Além de ser o Chefe de Governo, (vá lá que seja só com perfil gerencial) o Presidente também responde como Chefe de Estado. Não ser esse tema de alto interesse do eleitorado em geral não justifica o silêncio sobre ele.


Urbano Patto, Arquiteto Urbanista, Mestre em Gestão e Desenvolvimento Regional, membro do Conselho de Ética do Partido Popular Socialista -PPS- do Estado de São Paulo.

Partidos avaliam o custo Serra

DEU NO CORREIO BRAZILIENSE

Legendas que apoiaram o presidenciável tucano começam a definir seus destinos políticos. O DEM cogita fusão de siglas

Josie Jeronimo

Os partidos que apoiaram a candidatura de José Serra (PSDB) iniciaram o debate interno para definir os rumos políticos e o discurso que adotarão no governo Dilma Rousseff (PT). Apesar de contribuírem para levar a disputa presidencial para o segundo turno, o DEM e o PPS saíram menores das eleições de 2010. Na avaliação do custo Serra, o DEM já admite a hipótese de fusão com outra legenda, e líderes do PPS demonstram certo arrependimento de encampar o projeto tucano, principalmente quando a disputa entre Serra e Dilma foi desviada para o âmbito da discussão da vida privada e religiosa dos eleitores.

O presidente do PPS, deputado eleito por São Paulo Roberto Freire, afirma que ficou incomodado com a condução da campanha e aponta que o partido segue sozinho daqui para frente. “Não tem aproximação (com o DEM e o PSDB), o PPS vai cuidar da sua vida. O partido foi um aliado no processo eleitoral. Incomodou ( o debate religioso). Incomodou o país. Discordei dos rumos da campanha, do discurso oportunista religioso. Mas a candidata colocou isso no centro do debate, não havia como fugir.” A necessidade de unir partidos da oposição, reflete o deputado eleito, levou as legendas a deixarem de lado os ideais fundadores das siglas em prol da disputa presidencial.

Sobre a possibilidade de guiar a legenda na oposição ao governo Dilma, Freire diz que ainda é cedo e que o partido precisa avaliar a gestão da petista antes de se posicionar. “Prefiro aguardar para ver a cara que esse governo vai ter”, pondera Freire. Depois da aliança com o PSDB, o PPS perdeu 10 deputados. A bancada na Câmara caiu de 22 para 12 parlamentares.

O presidente do PPS critica, no entanto, o comportamento dos governadores eleitos e reeleitos que se calaram, segundo ele, durante a eleição sobre a volta da Contribuição Provisória Sobre Movimentação Financeira (CPMF). “Veja o estelionato eleitoral dos governadores. Deveriam ser todos cassados. É de uma desonestidade que não tem tamanho”, censura Freire.

No DEM, a desidratação eleitoral do partido levantou dois debates imediatos. Os mais otimistas defendem antecipação das eleições dos diretórios municipais e estaduais, e da executiva nacional, para mudarem o eixo direcional do partido levando em conta os estados e os grupos políticos com melhor desempenho nas urnas. Os pessimistas admitem a fusão. No centro da discussão sobre a renovação está a perda do poder político da família Maia no Rio de Janeiro. A derrota do ex-prefeito Cesar Maia (DEM-RJ) na disputa para o Senado indicou que o presidente da sigla, deputado Rodrigo Maia (RJ), não tem ascendência em sua base eleitoral.

De olho na presidência do DEM, caciques do partido no Nordeste já se movimentam para convocar convenção em janeiro. O nome de Marco Maciel (DEM-PE) é o mais cotado para assumir o comando. De acordo com o secretário de Assuntos Institucionais do DEM, deputado André de Paula (PE), o partido se reunirá, no fim deste mês, para avaliar o resultado das eleições. “O partido deve promover uma reunião de parlamentares para avaliação das eleições e construção da estratégia congressual. Os diretórios teriam encerrado os mandatos em outubro, mas pediram prorrogação para não renovar no meio do processo eleitoral. Mas é preciso avaliar o quadro de cada lugar e a nova correlação de forças.”

O dirigente não aposta na possibilidade de o DEM se fundir com o PMDB, apesar de o cenário eleitoral ter suscitado conversas entre as duas siglas. Mas André de Paula não descarta a união com o PSDB. “Fusão é só especulação, mas não estou descartando. Acho uma equação difícil de operar com o PMDB. Existem diferenças e, na hora em que há fusão, anula a identidade. Significaria a absorção do Democratas pelo PMDB. No caso do PSDB, um pouco menos, porque os partidos têm perfis semelhantes. Com o PSDB, isso até poderia ocorrer”, afirma o vice de Relações Institucionais do DEM.


Mudança de data

O departamento jurídico do DEM informa que é praxe no partido realizar, em outubro, convenções para a eleição da executiva nacional e de presidente de diretórios. No ano passado, a legenda decidiu prorrogar o mandato do atual presidente nacional, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), e dos dirigentes regionais. Assim, pela regra em vigência, a nova eleição seria em outubro de 2011. Mas se a executiva decidir, a data pode ser alterada e a convenção antecipada.

PMN e PTdoB temem represálias

Considerados nanicos no plano nacional, o PMN e o PTdoB demonstraram coragem ao trocar as bênçãos governistas pela campanha de José Serra (PSDB). As legendas não sofreram o mesmo impacto que o DEM e o PPS e, ao contrário, elegeram mais parlamentares, em relação à disputa de 2006. Mas os pequenos preocupam-se com o reflexo político que o apoio ao presidenciável tucano pode ter em relação à destinação de recursos públicos em suas bases eleitorais.

Senador eleito pelo Acre, Sérgio Petecão (PMN) explica que apoiou Serra em seu estado porque é adversário político dos irmãos Jorge Viana (PT) e Tião Viana (PT). Apesar da indisposição com o PT do Acre, Petecão afirma que pertencerá à base de apoio de Dilma Rousseff no Congresso.
“Entendo que o Acre precisa muito do governo federal. Hoje, nós vivemos naquela dinastia Viana e precisamos contrapor essa ditadura que tem lá. Lá (no Acre), não tem PT, lá tem os ‘Vianas’.
Vivo em um estado que depende 100% de recursos federais, mas relação com os Vianas não tem jeito, mas quero ter uma boa relação com o governo federal”, prega.

Itamar prega oposição combativa desde o 1º dia de Dilma no poder

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Ex-presidente e senador eleito por Minas recomenda atuação "sem trégua" na próxima legislatura

Bruno Siffredi

O senador eleito e ex-presidente Itamar Franco (PPS-MG) convocou a oposição a ter uma postura mais combativa na próxima legislatura. "Oposição precisa ser oposição, sem trégua", disse o mineiro, em entrevista ontem à Rádio Bandeirantes.

Itamar recomendou firmeza à oposição desde o primeiro dia do futuro governo da petista Dilma Rousseff. "Eu tenho a esperança que a oposição realmente seja oposição", disse o mineiro. "A oposição, por menor que seja, tem de estar presente e tem de exercitar o seu papel."

O senador eleito criticou o candidato derrotado à Presidência José Serra (PSDB), por ter sido pouco combativo na campanha. "O que se viu na campanha, com todo o respeito ao nosso candidato, é que não havia oposição ao governo." Itamar lembrou que, logo no início da campanha, foi contra a estratégia de Serra de elogiar o presidente Lula.

Ele lamentou a ausência de temas sensíveis ao governo na campanha, como a questão cambial e a carga tributária, e descartou responsabilizar senador eleito Aécio Neves (PSDB-MG) pela derrota tucana em Minas. "Ele (Serra) não fez uma regionalização adequada em Minas", observou.

Para Itamar, Dilma enfrentará dificuldades para conciliar os interesses dos partidos aliados ao PT. "Até a posse, tudo são flores", disse. O senador eleito afirmou ainda ser contrário à recriação da CPMF para aumentar investimentos na saúde.

Aécio articula com aliados de Lula para presidir o Senado

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Com o apoio informal de aliados da base de Lula, o senador eleito Aécio Neves (PSDB-MG) deflagrou articulação para presidir o Senado. PSDB e DEM contam com apoio de senadores do PSB e do PP, podendo ter adesão de PDT e PCdoB. Em troca, Aécio daria sustentação a projetos dos parceiros de controlar a Câmara. A movimentação preocupa Planalto e PMDB.

Aécio assedia aliados de Lula e opera para conquistar presidência do Senado

Marcelo de Moraes

BRASÍLIA - Com apoio de partidos da base governista, o senador eleito Aécio Neves (PSDB-MG) deflagrou articulação política para conquistar a presidência do Senado, acenando em troca com apoio para os parceiros de empreitada controlarem a Câmara.

Na chamada "operação Aécio", bancada por PSDB e DEM e com o apoio informal de setores do PSB e do PP - podendo ter a adesão de PDT e PC do B -, seria formada uma ampla aliança entre esses partidos. Isso garantiria ao grupo uma expressiva quantidade de votos na Câmara e no Senado, ameaçando a parceria entre PMDB e PT para controlar as duas Casas.

No Senado, a soma do bloco de oposição formado por PSDB, DEM e PPS garante 18 votos, total que pode subir para 21, com a adesão de senadores dissidentes do PMDB. É pouco para impor perigo à dupla PMDB-PT. Mas a costura de um acordo com PP (5 senadores), PDT (4 senadores) PSB (3 senadores) e PC do B (2 senadores) mudaria esse patamar para 32 senadores, o que garantiria uma largada forte nessa disputa contra outros 17 senadores do PMDB e 14 do PT. Assim, a decisão da questão se daria por meio da captura dos votos de partidos mais flutuantes, como PTB e PR, por exemplo.

Não se trata de uma equação fácil, muito menos de efeito garantido, já que o poder de fogo do governo federal é muito grande e pode fazer com que parlamentares da base governista desistam de embarcar no projeto de Aécio, sob pena de retaliação política. Dentro do Palácio do Planalto ainda não surgiu a ordem para explodir os planos tucanos. Mas apenas a existência dessa movimentação já preocupa o governo, que não deseja ver um adversário em potencial da próxima disputa presidencial comandando a pauta e a agenda do Senado e deve atuar para impedir sua vitória.

PMDB. A negociação de Aécio preocupa mais ainda ao PMDB, que sempre tem a Presidência de pelo menos uma das duas Casas e não quer abrir mão desse poder.

Quando conquistou a presidência da Câmara, em 2001, Aécio se movimentou de forma semelhante, atraindo apoio de partidos adversários, e derrotou, na época, o favorito Inocêncio Oliveira, então do PFL. Na ocasião, os tucanos também não tinham a maior bancada em nenhuma das duas Casas. Em compensação, tinham o controle do governo federal, com o presidente Fernando Henrique Cardoso, o que, certamente, facilitou a tarefa.

Agora, alinhado com a oposição à presidente eleita Dilma Rousseff, Aécio terá muito mais problemas para fazer a operação avançar. A seu favor, porém, conspiram vários fatores.

Primeiro, a disputa entre PT e PMDB para definir quem indicarão para presidir Câmara e Senado. Os partidos negociam um rodízio, mas a discussão está longe de apresentar um consenso. Uma má solução para esse acordo pode gerar espaço para o avanço do ex-governador mineiro.

Articulação. Outro ponto positivo é a forte capacidade de articulação de Aécio. Além de ser consensual entre a oposição, ele conta com apoio garantido dentro do PP, presidido pelo senador Francisco Dornelles (RJ), seu primo.

Com o PSB, seu trânsito também é forte. A parceria política com os socialistas é antiga e já rendeu, por exemplo, uma ampla aliança em Minas Gerais, com a eleição do prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda (PSB), com o apoio do então governador tucano.

A mesma parceria entre PSDB e PSB também produziu frutos no Paraná, onde Luciano Ducci (PSB) assumiu a Prefeitura de Curitiba depois que o tucano Beto Richa se desincompatibilizou do cargo para concorrer e ganhar o governo estadual.

O governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), defendeu publicamente dentro de seu partido a candidatura de Aécio. Apesar de dizer oficialmente ser contra esse acordo, o presidente do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, conversou nos últimos dias com pelo menos dois governadores tucanos, Beto Richa e Teotônio Vilella Filho (AL).

Cargos. A confirmação desses apoios passa por discussões mais complicadas dentro da Câmara. Partidos governistas de porte médio deverão formar blocos parlamentares para ampliar seu tamanho. Assim, conseguiriam cargos melhores na divisão do controle de postos nas Mesas Diretoras e no comando das comissões técnicas e relatorias da Casa.

O PSB estuda reeditar com PDT e PC do B o antigo bloquinho, aliança política reunindo os três partidos que garantiria uma bancada de 77 deputados na Câmara. PP, PR e PTB podem também se juntar e montar uma aliança com 103 deputados, superior ao PT, maior partido da Casa, que elegeu 88 deputados.

Aécio também poderia trazer para o Senado a imagem de renovação tão desejada, depois de um período de muitas crises, provocada pela descoberta do inchaço da estrutura da Casa e do pagamento de benefícios exagerados para parlamentares e funcionários por meio de atos secretos.

FATORES QUE CONTRIBUEM PARA O PLANO DO TUCANO

Aliança
Mesmo de lados opostos, PSB e PSDB têm consolidado uma parceria informal. Aécio Neves se relaciona bem com os principais líderes do PSB

Espaço
Desejo de partidos da base governista, como PSB, PDT e PC do B, em conquistar maior espaço de poder dentro do Congresso

Ocupação
Tentativa de isolamento do PMDB para quebrar sua hegemonia na ocupação dos melhores postos tanto na Câmara quanto no Senado

Trânsito
Capacidade de articulação política de Aécio Neves, que tem trânsito forte entre oposição e governo e até mesmo dentro de PMDB e PT

Estratégia
Disputa entre PT e PMDB pelo controle da Câmara e do Senado. Para salvar a parceria, os dois partidos já estudam um rodízio

Contraponto
Necessidade dos partidos de oposição de ocupar um espaço onde possa fazer

Movimentação acende luz de alerta nas fileiras petistas

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Bastidores: Denise Madueño

A articulação de partidos da base governista com PSDB de Aécio Neves (MG) é vista como perigosa por setores do PT. A possibilidade de o próprio PT chegar a apoiar o tucano para presidência do Senado em um acordo com o PSB para tirar a hegemonia do PMDB, mesmo informalmente e nos bastidores, pode ser um tiro no pé, nessa avaliação.

O PT vê com temor a hipótese de minar o maior partido no Senado - em 2011 serão 20 peemedebistas - e o segundo maior na Câmara, com 79 deputados. Na Câmara, setores do PT estão seduzidos com a ideia de se aproximar mais de outros partidos da base para garantir a presidência da Casa, caso o PMDB não aceite um petista no posto nos dois primeiros anos de mandato. Esse é um plano B aventado por petistas para pressionar o PMDB a um acordo.

O deputado José Genoino (PT-SP) reagiu para acalmar os afoitos. "Não se pode iniciar um governo tensionando a primeira bancada do Senado e a segunda da Câmara. Os desafios são muito grandes e, em política, a gente não sabe o dia de amanhã", alerta Genoino.

Dirigentes do PSB defendem a eleição de Aécio para a presidência do Senado para minar o poder do PMDB. Depois de eleger seis governadores e aumentar suas bancadas na Câmara e no Senado, o PSB quer se apresentar como uma alternativa. A ideia de se aliar a Aécio, antes restrita a conversas de bastidores, ficou pública depois da defesa do governador do Ceará, Cid Gomes, na reunião da Executiva do PSB.

Interlocutores de Aécio apostam que ele usará os dois primeiros anos de mandato para articulações e não deverá se apresentar como uma alternativa para a presidência da Casa. Nesse entendimento, o tucano deverá apoiar o PMDB para, até 2013, costurar uma aliança ampla que envolva os próprios peemedebistas em torno de sua candidatura para o comando do Senado.

Serra: Lula faz 'governo populista'

DEU EM O GLOBO

Na França, tucano bate forte no governo

Silvia Amorim

SÃO PAULO. O candidato tucano derrotado à Presidência, José Serra, viajou anteontem para a França para participar do 11oFórum de Biarritz, que tem como objetivo analisar as relações entre a América Latina e a União Europeia.

No evento, Serra criticou a desindustrialização do país e acusou o presidente Lula de fazer populismo de direita na economia. Ontem à noite, no Twitter, Serra postou alguns comentários sobre sua participação no fórum.

“Falei sobre perspectivas do desenvolvimento e da democracia na região”, escreveu ele. “Falei sobre questões que entravam o amadurecimento das democracias. Sobre política externa e integração da região, sobre relações com a Europa”, acrescentou.

Serra também reproduziu na internet a acusação de que a América Latina e o Brasil estão em processo de desindustrialização: “O processo de desindustrialização em marcha criará problemas para a criação dos 50 milhões de novos empregos que a América Latina necessita até 2020”.

Segundo o “Blog do Noblat”, que reproduziu reportagem da agência internacional de notícias EFE, Serra acusou o governo Lula de fazer um “governo populista” na economia e de se unir a ditaduras como o Irã.

Nesse momento, um manifestante da Fundação Zapata, do México, criou um mal-estar na sala ao interrompeu o tucano com o grito “Por que não se cala?”, relembrando o episódio em que o rei Juan Carlos, da Espanha, interpelou o presidente da Venezuela, Hugo Chávez.

O coordenador do programa de governo da presidente eleita, Dilma Rousseff (PT), Marco Aurélio Garcia, também foi a Biarritz, cidade ao sul da França, e fez palestra ontem.

Entre as autoridades internacionais presentes estavam o ex-secretário-geral da Unesco, Federico Mayor Zaragoza, o ex-presidente da Colômbia Ernesto Samper, o presidente do Senado espanhol, Javier Rojo, e o secretário de Estado para Assuntos Europeus da França, Pierre Lellouche.

O tucano chegou a comentar com amigos, após a eleição, que havia recebido um convite para fazer uma palestra no encontro, mas que estava indeciso se compareceria; ele confirmou presença na última hora. Serra não informou quando voltará ao Brasil.

Ele teria viajado na companhia do filho, Luciano, e aproveitaria a viagem para descansar na Europa.

Também viajaram ao exterior para descansar o candidato a vice do tucano, deputado Indio da Costa (DEM-SP), que está na Espanha, e o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), que foi para os Estados Unidos.

Alberto Goldman: 'Oposição é para fazer oposição'

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

ENTREVISTA
Alberto Goldman. Governador de São Paulo

Do grupo de Serra, governador contraria tese de Aécio por uma agenda consensual pela aprovação de reformas

Eduardo Reina

Ao contrário do que disse o ex-governador de Minas Gerais e senador eleito Aécio Neves, o governador de São Paulo, Alberto Goldman, do grupo político de José Serra, disse ontem que o PSDB vai ser oposição ao governo Dilma Rousseff e só as matérias de interesse da população terão os votos tucanos no Congresso Nacional. "Não tem coalizão. Oposição é para fazer oposição", disse ontem em entrevista ao Estado. "(A oposição precisa) se opor com toda combatividade. Não é fazer de conta. Não é meio termo."

Já Aécio defende a construção de uma agenda pela aprovação das reformas políticas e tributária e a participação dos governadores do PSDB num projeto de poder.

O governador paulista quer um PSDB nacional mais forte, e admite fragilidade ao lidar com o segmento mais popular da sociedade. Afirmou que o grupo paulista e o mineiro estão em pé de igualdade, pois elegeram o governador e um senador cada. Disse ainda que a legenda em São Paulo não perde espaço e nacionalmente está mais forte do que nunca.

Como será a oposição no terceiro governo seguido do PT. Será mais forte, mais fraca?

Oposição tem de fazer o papel de oposição. Quem perde a eleição fica fora do governo, analisa o governo. Nós não temos nada a ver com o passado velho, do velho PT contra tudo e contra todos. Podia ser a melhor coisa ou a pior coisa para o povo que eles iam ser contra. Vamos fazer diferente. Não pensamos assim. Fui líder e vice-líder da oposição no primeiro governo Lula na Câmara. E teve várias matérias que ajudamos o governo a aprovar. Matéria muito específica sobre legislação de florestas. Que tinha a (ex-ministra do Meio Ambiente e ex-candidata do PV) Marina, ela se empenhou muito para fazer. Eu que ajudei a provar. Eram matérias que a gente achava corretas. Aquilo que a gente acha que não está correto tem de se opor mesmo. Se opor com toda combatividade. Não é fazer de conta. Não é meio termo.

Essa responsabilidade da oposição pode facilitar uma coalizão com o governo federal?

Não tem nada de coalizão. Oposição é para fazer oposição. O povo determinou que você fizesse oposição, que não fosse governo. Isso não significa que o povo quer que a gente aja ao contrário dos interesses do País.

O PSDB de São Paulo sai enfraquecido desse pleito?

Não. Há um certo tempo o PSDB de São Paulo não elegia um senador. Agora elegeu um senador, elegeu o governador. Teve maioria dos votos para a Presidência da República em São Paulo. Aqui ganhamos todas. O que vamos querer mais? Em São Paulo fizemos toda a lição de casa.

Mesmo com Aécio Neves despontando como nome forte do PSDB para 2014?

O PSDB de São Paulo ganhou a eleição nos dois níveis (para o governo do Estado e para o Senado). O PSDB de Minas ganhou a eleição nos dois níveis. Como aqui, Minas ganhou o governo do Estado e fez um senador. E na coligação fez outro senador, que foi o Itamar Franco. O governo de Minas também saiu vitorioso. O PSDB do Paraná também saiu vitorioso. Se você começar a diferenciar por Estado, você não chega a lugar nenhum. Aqui é um País. Um País único. O partido é nacional. Tem mais força aqui, menos força ali por questões regionais. Mas é um partido nacional. O PSDB tem hoje sua maior força, é verdade, nas áreas de concentração onde você tem o maior volume de pessoas. Somos majoritários em quase 60% do eleitorado nacional. Fomos majoritários na maioria das capitais. De 27 capitais elegemos 14. Elegemos todas as capitais do Sudeste e do Sul, menos o Rio de Janeiro. Temos presença forte no PIB nacional. Ganhamos as eleições nos Estados que representam 60% do PIB nacional. É um partido forte.

Há fragilidades, onde?

Sim, ele tem suas fragilidades. Tem áreas onde é muito frágil, como junto às pessoas mais simples, mais humildes e carentes. Nós perdemos (a eleição) onde vivem as pessoas mais humildes.

Baden Powell - pout-pourri

Belo Belo – II :: Manuel Bandeira

Belo belo minha bela
Tenho tudo que não quero
Não tenho nada que quero
Não quero óculos nem tosse
Nem obrigação de voto
Quero quero
Quero a solidão dos píncaros
A água da fonte escondida
A rosa que floresceu
Sobre a escarpa inacessível
A luz da primeira estrela
Piscando no lusco-fusco
Quero quero
Quero dar a volta ao mundo
Só num navio de vela
Quero rever Pernambuco
Quero ver Bagdá e Cusco
Quero quero
Quero o moreno de Estela
Quero a brancura de Elisa
Quero a saliva de Bela
Quero as sardas de Adalgisa
Quero quero tanta coisa
Belo belo
Mas basta de lero-lero
Vida noves fora zero.

Petrópolis, fevereiro de 1947