quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Reflexão do dia – Alberto Aggio

Houvesse um vencedor nas eleições presidenciais do dia 3 de outubro este teria sido Lula e o neologismo que lhe corresponde. Mas, como se sabe, não foi isso que aconteceu. A arrogância com a qual Lula se conduziu, aliada a outros fatores, resultou na insuficiência de votos para que Dilma colocasse um ponto final na contenda. O comportamento de Lula não se resume a uma questão de conduta eleitoral. Ele é a expressão de uma interpretação da política que ganhou corações e mentes e se espalhou por entre os apoiadores do presidente.



(Alberto Aggio, no artigo, ‘O lulismo em xeque’, segunda-feira)

Estancar a sangria:: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

O tom mais agressivo da candidata oficial Dilma Rousseff no primeiro debate do segundo turno e nas entrevistas que vem dando pode ser explicado pela constatação de que ela vem perdendo votos desde as últimas semanas de campanha e continuava perdendo no início do segundo turno

O empresário e consultor Paulo Milet utilizou três conjuntos de informações das pesquisas Datafolha para chegar a essa conclusão: a última pesquisa Datafolha, divulgada no sábado, dia 9, uma semana depois do primeiro turno; uma pesquisa anterior, divulgada no sábado, dia 2, véspera das eleições, sobre o segundo turno, além do resultado oficial apurado.

Na comparação da pesquisa atual com a pesquisa anterior do primeiro turno, em votos totais, com os votos de Marina Silva indo para um dos dois candidatos ou para os indecisos, temos o seguinte resultado: a candidata petista cresce 1 ponto, de 47% para 48%, e o candidato Serra cresce 12 pontos, de 29% para 41%.

Dos 16% de Marina, portanto, 3 pontos vão para os indecisos. Por regiões, a situação fica a seguinte: no Sudeste, Dilma permanece igual, com 41%, e Serra cresce 13 pontos, de 31% para 44%, indo 6 pontos de Marina para os indecisos.

Na região Sul, Dilma cresceu 3 pontos, indo de 40% para 43%, e Serra cresce 10 pontos, de 38% para 48%, com os 13% de Marina na região distribuídos para os dois candidatos.

No Nordeste, Dilma cresceu 1 ponto, de 61% para 62%, e Serra cresceu 12 pontos, de 19% para 31%, com os 12% de Marina indo para os dois candidatos, e 1 ponto dos indecisos indo para um dos dois.

No Norte/Centro-Oeste, Dilma permaneceu no mesmo, com 41% dos votos, e Serra cresceu 13 pontos, de 31% para 44%. A candidata Marina Silva teve nessa região 18% dos votos, o que significa que 5% foram para os indecisos.

Sua conclusão é lógica: se pelo Datafolha Serra recebeu 51% dos 16% dos votos totais de Marina (pouco mais de 8%) e cresceu mais do que isso, quer dizer que Serra continuou tirando efetivamente votos de Dilma ou dos indecisos nessa primeira semana pós-eleições, inclusive na Região Nordeste.

Nos votos válidos, Serra cresceu 15 pontos, e Dilma, 4 pontos, perfazendo o total de 19% de Marina Silva.

Na comparação da pesquisa atual com a pesquisa anterior para o segundo turno, vemos o que mudou em uma semana. Dos votos totais, Dilma caiu 4 pontos, de 52% para 48%, e Serra cresceu 1 ponto, indo de 40 para 41%.

Já nos votos válidos, Dilma caiu 2,5% — de 56,5% para 54% — , e Serra cresceu 2,5%, de 43,5% para 46%. Pelos votos válidos, 2,5 milhões de eleitores que estavam dispostos a votar em Dilma no segundo turno viraram para Serra em uma semana.

Comparando a pesquisa atual com os resultados oficiais, chega-se à conclusão de que nos votos totais Dilma cresceu 5,2 pontos, de 42, 8 % para 48%, e Serra, 11,2 pontos, indo de 29,8% para 41%.

Como Marina obteve 18,6% dos votos totais, quer dizer que 2,2 pontos foram para os indecisos.

Já nos votos válidos, Dilma cresceu 7 pontos, de 47% para 54%, e Serra, 13 pontos, indo de 33% para 46%. Marina teve 20% de votos válidos, que foram divididos entre os dois candidatos finalistas.

Tudo indica, portanto, que a queda progressiva de Dilma nas duas semanas anteriores à eleição continuou na semana pós-eleição.

A diferença de Dilma para Serra está encurtando, e por isso a candidata oficial tentou estancar suas perdas com a atitude mais agressiva no debate da TV Bandeirantes.

Existem indecisos e ausentes que podem decidir a eleição. A equipe da PUC do Rio, coordenada pelo cientista político Cesar Romero Jacob, chegou à conclusão de que “uma das principais causas que levaram as eleições para o segundo turno” foi o alto grau de abstenção, votos em branco e nulos, nas Regiões Norte, Nordeste e norte de Minas, áreas onde a candidata Dilma Roussef obteve suas mais altas votações.

Pelo mapa da distribuição dos votos pelo país, que os especialistas da PUC finalizaram neste fim de semana, pode-se observar que o “não voto” chegou mesmo a representar 45% do total de eleitores em algumas microrregiões do Amazonas, do Maranhão, do Ceará e de Minas Gerais.

Em outras regiões, os números variaram entre 14,8% e 36,8%, sendo que as regiões Sul e Sudeste foram as que tiveram os índices mais baixos.

A análise registrada aqui do cientista político Cesar Romero Jacob sobre a falta de estrutura política de Marina Silva para firmarse como uma líder nacional com vistas a futuras eleições foi contestada por vários leitores, entre os quais destaco dois.

O cientista político Nelson Paes Leme acha que a agenda ambiental da candidata verde tende a se aprofundar nas próximas eleições.

Lembrando o filósofo contemporâneo inglês John Gray, ele destaca o caráter ilusório daquilo que consideramos “progresso”.

Paes Leme diz que esse é “o tema do século que apenas desponta. Quem sabe do Milênio. Ainda em 2012 teremos no Rio a Rio Mais Vinte, em cima das eleições municipais”.

Para ele, o eleitorado de Marina nos grandes centros, escolarizado e mais bem informado do que nos rincões onde ela teve inexpressiva votação, certamente levou essa agenda e essas perplexidades em consideração ao sufragar seu nome com quase 20 milhões de votos. “E a tendência é ela voltar muito mais forte nas próximas eleições.” Já o leitor Marcelo Paes de Oliveira discorda do paralelo feito pelo deputado federal eleito do Partido Verde Alfredo Sirkis entre a fraca votação do PV nesta eleição e a do PT na eleição de 1989, argumentando que os votos dela (Marina) “foram muito além das fronteiras deste partido”.

Buraco é mais em cima:: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Pesquisa do Datafolha mostrou a quase irrelevância da questão do aborto sobre o comportamento do público em geral na hora de votar.

Pode ter tido importância crucial no voto pautado pelas igrejas, mas no eleitorado como um todo o que pesou mesmo foi o caso Erenice Guerra e o que o episódio invoca em matéria de escândalos nos últimos anos.

Segundo o instituto, três em cada quatro pessoas deixaram de votar na candidata do PT por causa das denúncias de tráfico de influência na Casa Civil e apenas uma em cada quatro teria sido influenciada pela religião.

De onde, duas conclusões: primeira, perdeu-se tempo com o assunto errado; segunda, o apreço à moralidade pública não é uma ligeireza das elites bem informadas nem uma manifestação tardia de "moralismo udenista", mas é um dos tópicos importantes na escala de valores do País.

Em tese, portanto, para a campanha de Dilma Rousseff seria melhor que a discussão ficasse no campo religioso do que se estendesse para o terreno da ética e dos bons costumes.

Isso na teoria e no cenário referente ao primeiro turno. A importância dada ao tema do aborto fez com que na campanha do segundo turno ele assumisse a posição de destaque que não teve ao longo da primeira etapa.

E, por paradoxal que pareça, justamente por causa das análises que equivocadamente atribuíam ao aborto a transferência de uma boa parcela de votos de Dilma para Marina Silva.

Isso fez com que o debate saísse do âmbito das igrejas e do subterrâneo difamatório da internet e sentasse praça ao centro da campanha, ao ponto de a candidata do PT ter escolhido enfrentar o tema de forma "assertiva" já no primeiro embate mano a mano com o adversário.

O assunto saiu da clandestinidade. Ontem, dia da Padroeira do Brasil, distribuíram-se panfletos em missa campal de Contagem (MG) e do lado de fora da Basílica de Aparecida recomendando votos apenas em candidatos contrários à descriminalização do aborto.

Não eram apócrifos nem se dirigiam a Dilma ou a Serra: estavam assinados pela Regional Sul 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e se referiam a uma posição bem especificada.

Um problema que a campanha do PT não resolve acusando o PSDB de caluniador nem chamando de retrógrados e medievais os brasileiros e brasileiras contrários - por razão religiosa ou não - à descriminalização do aborto.

Papel da crítica. O resultado do primeiro turno da eleição presidencial encerrou várias lições, várias amplamente comentadas nos últimos 10 dias. Uma, porém, não recebeu ainda o merecido destaque: o desmentido da tese defendida até por setores da oposição de que o contraditório era mercadoria em extinção.

Algo se move. Na próxima eleição é bem possível que os marqueteiros já não tenham mais tanto poder. Poder, aliás, distorcido, pois pressupõe a substituição da política pela propaganda.

O que indica essa tendência? As reclamações nas hostes tucanas e petistas e a exigência - apoiada por eleitores de parte a parte - de que Dilma seja "mais Dilma" e Serra "mais Serra".

Rumo. Passada a eleição presidencial o DEM abrirá discussões internas a respeito do destino do partido, notadamente no que tange à sua direção. A aposta "jovem" de entregar a legenda nas mãos dos herdeiros de maduros líderes, não deu certo.

Os experientes preferem esperar o resultado da eleição porque a correlação interna de forças se altera dependendo do presidente eleito.

Troféu. A piada entre tucanos é que Aécio Neves adorou a multa que recebeu por propaganda antecipada em favor do candidato do partido: só assim pode apresentar prova material do engajamento pró-Serra.

Tigre de papel:: Marco Antonio Villa

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Dilma está na encruzilhada; a popularidade de Lula já foi transferida, e agora o embate será de biografias

O PT NÃO gosta de ser atacado.

Na verdade, hostiliza quem o ataca. Tem enorme dificuldade de conviver com a crítica. Imagina ser o proprietário de um pensamento único, algo como o velho centralismo democrático leninista. Quem for contrário deve se calar. Seus dirigentes acabaram se acostumando com uma oposição pouco atuante. Que passou os últimos oito anos quase que em silêncio, temendo o debate, acreditando piamente nos índices de popularidade do presidente.

No início da campanha eleitoral o quadro se manteve inalterado. Lula foi desferindo na oposição golpes e mais golpes. Não encontrou respostas à altura. Dedicando-se plenamente à campanha -que é o que efetivamente gosta- fez política 24 horas por dia. Transformou o Palácio da Alvorada no comitê central da candidatura Dilma.

Não temeu alguma reprimenda do TSE, pois sabe com quem está lidando.

Abandonou a rotina administrativa e concentrou-se na campanha. Desferiu ataques aos adversários como se fosse um líder partidário e não um chefe de Estado.A oposição assistiu a tudo sem saber bem o que fazer. Temia enfrentar o rolo compressor do PT.

Quando, finalmente, resolveu partir para o embate, viu que o adversário era um tigre de papel. O eleitorado estava aguardando alguma reação. E o resultado de 3 de outubro não deixou dúvida: a maioria estava com a oposição, claro que em um universo dos mais diferentes matizes.

A derrota do primeiro turno transtornou os dirigentes do oficialismo. Consideravam a eleição ganha. Tinham até preparado a festa da vitória. Imputaram a culpa à oposição, que tinha denunciado escândalos, e mostrado as vacilações e contradições da candidata oficial. Era o mínimo que a oposição poderia fazer, mas para o PT foi considerado algo intolerável.

Agora chegamos à etapa final da campanha. Dilma jogou fora o figurino utilizado nos últimos meses. No debate da Band assumiu uma postura agressiva e que deve manter até o dia 31. A empáfia foi substituída pelas ameaças. O arsenal foi acrescido de armas já usadas em 2006, como a privatização. Sinal de desespero, pois o cenário é distinto e os personagens também. E deve fracassar.

Dilma está numa encruzilhada. A popularidade de Lula já foi transferida. Seus principais aliados regionais foram eleitos e dificilmente farão sua campanha com o mesmo empenho do primeiro turno. O PMDB não assimilou as derrotas do Rio Grande do Sul, da Bahia e, principalmente, de Minas Gerais. E, numa eleição solteira, o embate será de biografias.


Marco Antonio Villa é professor do Departamento de Ciências Sociais da UFSCar

Quem governará? :: Leôncio Martins Rodrigues

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Uma possível eleição de Dilma Rousseff, juntamente com a maioria de cadeiras já obtidas pela chamada base aliada no Congresso Nacional, tem suscitado muitos receios em setores sociais das classes médias e altas sobre os rumos da próxima administração "esquerdista". Teme-se especialmente que o novo governo aumente a participação estatal na economia, o controle partidário da administração pública e a consolidação de um populismo que, de modo mais radical, teria algumas semelhanças com o fascismo italiano ou com uma "mexicanização". Os dois fenômenos, na verdade, são diferentes entre si e têm pouca chance de vingar no Brasil de hoje, especialmente em razão da divisão partidária e das vitórias do PSDB em Estados importantes.

Acho, contudo, que os analistas de nossa política têm dado pouca atenção a um aspecto aparentemente de natureza administrativa - que não diz respeito à ideologia e aos rumos programáticos de um eventual governo de Dilma -, mas que pode complicar o funcionamento do Executivo federal.

Quem efetivamente governará a partir de 2011? Lula ou Dilma?

Quando votaram em Dilma, no primeiro turno, em 3 de outubro, os eleitores foram informados de que, na realidade, não estariam escolhendo Dilma, mas Lula. O ex-metalúrgico, aliás, explicitou claramente o sentido que teria cada voto numa candidata totalmente desconhecida da imensa maioria do eleitorado, escolhida por ele para dar continuidade ao seu governo. Por essa via, os eleitores estariam dando a Lula um terceiro mandato sem alterar a Constituição. Há, porém, outro aspecto não tão virtuoso. A ex-guerrilheira, se chegar ao Palácio do Planalto sem mérito próprio, não terá a legitimidade oriunda do efetivo apoio popular.

Antes da corrida presidencial, para cuidar da administração do governo Lula havia colocado na Casa Civil - e não foi por acaso - alguém que não tinha força política própria. Ou seja, Dilma Rousseff. Era uma posição na administração federal que dava a Dilma muita força e influência, que deixariam de existir, no entanto, no momento em que, por alguma razão, deixasse o cargo.


Não seria o caso de um político de algum prestígio próprio que fosse chamado a ocupar algum Ministério. Estamos, pois, diante de uma estranha situação. Se Dilma vencer, e se Lula não for indicado para algum Ministério, o político mais popular do Brasil - em quem os eleitores de facto votaram ao escolherem Dilma - estará fora do governo por quatro anos. Mas ficará de fora da cena política? Pode-se acreditar que se dedicará a assar coelhinhos no seu sítio? Ou, ao contrário, terá alguma sala no Palácio do Planalto ou uma mesa no gabinete da Presidência? Quem mandará de fato?

Caso seja eleita, se Dilma passar a Lula o governo, transferindo-lhe a última palavra nas principais decisões, a ex-chefe da Casa Civil estará desmoralizada e terá sua autoridade diminuída. Mas é pouco provável que se disponha a ser uma figura de segundo ou terceiro escalão e que aceite a função de uma fiel secretária, sem vontade própria.

E, aqui, é preciso considerar que, não importando quão grata e leal Dilma possa ser a Lula, pelas regras do jogo dos regimes presidencialistas quem manda é o presidente. Geralmente, com o correr do tempo, as criaturas revoltam-se contra o criador. Na História brasileira temos muitos casos de padrinhos políticos, impedidos de disputar um novo mandato, que conseguiram eleger o que foi denominado de "poste". Lembremos dois casos.

Adhemar de Barros, então governador, em 1950 lançou o professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo Lucas Nogueira Garcez para lhe suceder. Todavia, uma vez no governo, Garcez afastou-se de Adhemar e ajudou a eleger Jânio Quadros. Celso Pitta, um desconhecido, eleito prefeito de São Paulo em 1996 com apoio integral de Paulo Maluf, logo rompeu com seu tutor. Note-se que, em ambos os casos, o chefe político dono de votos, para não se arriscar, escolheu alguém sem força eleitoral e política. Um "administrador". Mas isso não impediu que o anterior protegido declarasse a independência.

Não é que as criaturas tenham vocação para a traição, mas sim que não gostam de ser paus-mandados. Mais do que isso, não podem ocupar posições de chefia permanecendo subordinados a alguém que não tem mais poder, situação que Lula experimentará para os próximos anos. Poderia ser contemplado com algum Ministério. Mas seria uma capitus diminutio para quem terminou dois mandatos com a aprovação popular que sabemos. Atividades políticas não admitem mais do que uma grande liderança. Trotsky e Stalin que o digam.

Todos os atos importantes do próximo governo deverão trazer a assinatura de Dilma, se a indicada vencer. Um novo Ministério deverá ser formado. A quem estarão subordinados os novos ministros? Que partidos aliados e facções do PT serão mais beneficiados com Dilma na Presidência da República?

A carreira de Lula e a de seu círculo de relações mais estreito não são iguais à da candidata que ele escolheu. Dilma veio do PDT, aderiu oportunamente ao PT somente em 2001, não passou pelo sindicalismo e não disputou eleições. Se eleita, ficará todo o mandato sob as ordens de Lula?

A ex-guerrilheira está longe de ser caloura na área da política. Na realidade, foi política a vida toda. Começou antes de Lula, mas veio do movimento estudantil e da guerrilha. Ocupou posteriormente altos cargos públicos na administração pública estadual (Rio Grande do Sul) e federal que devem ter-lhe trazido experiência administrativa. Nada na sua personalidade e na sua trajetória indica que tenha vocação para secretária obediente. Se vencer, terá de governar e aprender rapidamente a navegar em águas turvas.


Cientista Político

De câmbio, juros e trem-bala não se fala:: Elio Gaspari

DEU EM O GLOBO

Dilma Rousseff e José Serra subiram o tom no primeiro debate. Nele houve mais vapor do que energia, mas se a baixaria mútua das volantes dos candidatos sair da agenda, todos terão a ganhar. É pedir muito, mas vale o registro: o dólar está a R$ 1,66 e a palavra câmbio não foi pronunciada. O real valorizado corrói a competitividade dos produtos brasileiros. Mais um pouco e retorna-se ao delírio do dólar tucano, quando se comprava manteiga francesa baratinha nas boas casas do ramo, como durante a República Velha.

O dólar está a preço de banana porque a economia brasileira atrai investidores estrangeiros, muitos do quais vêm para cá buscar os juros lunares que Nosso Guia paga. José Serra é um veterano crítico dessa política e pode-se supor que Dilma Rousseff também não goste dela, mas nenhum dos dois toca no assunto porque temem sua complexidade e a antipatia da banca.

Ambos são economistas e sabem o que fazem, mas devem refletir sobre o risco que correm. No fim do mês, contados os votos, alguém poderá perguntar ao vencedor: — Você tocou na questão do câmbio? — De passagem.

— E discutiu a fundo o quê? Serra: — O aborto.

Dilma: — A privataria do Fernando Henrique.

Indo-se a outro tema, podem apresentar seus projetos de reforma política.

Tanto Dilma como Serra querem mudar o quadro partidário e o sistema eleitoral, mas, por conveniência, não tocam no assunto.

Dilma Rousseff já disse que pretende instituir o voto de lista. Ele fortalece os partidos (ou suas burocracias) e retira ao eleitor o direito de votar nominalmente num candidato a deputado. Serra nunca tocou no assunto, mas há uma forte corrente no tucanato que simpatiza com a ideia. Seu xodó é o voto distrital.

Essa modalidade de manifestação é como a feijoada, tem de tudo. Distrital simples? Com quantos candidatos? Distrital misto? Com lista aberta ou fechada? Que tal o distritão? Nele cada estado forma um grande distrito e é eleito quem tem mais votos, sem transferências. Vale o registro de que o voto distrital pode ter muitos defeitos, mas não produz Tiriricas.

Na eleição americana de 1992 o marqueteiro James Carville (“É a economia, estúpido”) proibiu Bill Clinton de pronunciar a palavra “infraestrutura”.

Serra e Dilma adoramna. Qualquer problema está relacionado com a tal de “infraestrutura” e qualquer solução, também.

No entanto, nenhum dos dois se detém no mais ambicioso e caro projeto de obra colocado na agenda nacional. Trata-se do trem-bala que ligaria o Rio de Janeiro a Campinas.

Pelo último cálculo, custaria R$ 34,6 bilhões, ervanário equivalente ao preço das hidrelétricas de Santo Antônio, Jirau e Belo Monte, mais boa parte da obra de transposição do Rio São Francisco.

Serra não gosta do projeto. Dilma, por seu lado, defende a iniciativa desde a época em que, entregue a uma estatal loteada, a Valec, o trem-bala era uma girafa com tromba de elefante. Nosso Guia quer leiloar a obra em dezembro. Seja o que Deus quiser.

Talvez nenhum desses temas caiba numa resposta de dois minutos, mas os dois candidatos dispõem de outros meios para mostrar que são capazes de discuti-los.


Elio Gaspari é jornalista.

Inversão do papel protagonista:: Rosângela Bittar

DEU NO VALOR ECONÔMICO

A campanha da candidata do PT, Dilma Rousseff, fez uma inflexão radical: a troca de posições entre a criatura e o criador. Dilma sai do canto e tenta dominar o centro do palco; o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixa para ela o papel protagonista e vai exercitar sua veemência no bastidor. O estilo do presidente, depois de dar à candidata todos os 47% de votos válidos que recebeu no primeiro turno, perdeu a dose do limite e passou a levar risco ao projeto. O estilo Dilma estava subdimensionado, deixando-a com a imagem de alguém que continuaria a auxiliar o presidente, e não ser a presidente.

Mas a mudança não significa que Lula está fora da campanha, como pareceu nesta primeira semana do segundo turno. Foi bem estruturado para ele outro papel. Será usado onde ainda pode render muito tanto novos votos como manter os já recebidos: comícios no Nordeste, na periferia das grandes cidades, aparições no programa eleitoral gratuito de uma maneira subalterna a Dilma - como na cena em que a entrevistou e a ouviu como aluno bem aplicado - e não o contrário, além de continuar com discursos e inaugurações.

O presidente, com o susto de não ter ganho a eleição do primeiro turno, teve que, primeiro, dar uma reanimada no governo, porque passou a temer a derrota e depois não ter mais tempo, bem como seus ministros, para concluir iniciativas. Deu uma chamada geral e vários ministérios estão acordando aos poucos do sonho. Depois, está trabalhando intensamente ao telefone, em articulações políticas nos Estados tendo em mãos as planilhas de votação no primeiro turno.

Noite dessas, na semana passada, ficou até a meia-noite cobrando a ação dos aliados e falou com vários políticos no Mato Grosso, onde Serra foi bem votado.

Exigiu mais trabalho também do Rio e de Brasília, locais onde a candidata Marina Silva teve uma votação expressiva. O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) já foi aos templos evangélicos explicar as posições da candidata sobre o aborto, o governador reeleito Sérgio Cabral fez gravações para o programa de televisão falando diretamente ao eleitorado do Rio.

Nos Estados onde o adversário ainda disputa o segundo turno, o que torna o engajamento dos cabos eleitorais mais efetivo, Lula irá pessoalmente para manter acesa a fusão da sua imagem à da candidata e continuar dando sua palavra de que Dilma tem capacidade para ser presidente.

O comando da campanha introduziu a ideia do elemento surpresa, tanto no comportamento de Dilma quanto no de Lula, para surpreender o adversário do PSDB, José Serra.

A assertividade do debate de segunda-feira foi resultado disso. Dilma foi instada a assumir a titularidade da candidatura, para o bem e para o mal. Enfrentará a discussão dos temas espinhosos diretamente, sem ter Lula como escudo.

O presidente está no comando dessa mudança, acha que foram todos arrogantes no primeiro turno e vestiram a faixa antes da hora mas, principalmente, a avaliação do Planalto coincide 100% com análise do instituto Datafolha, publicada também na segunda-feira pelo jornal "Folha de S.Paulo", segundo a qual o caso Erenice - a mais próxima auxiliar de Dilma Rousseff em todos os cargos que ocupou no governo, indicando-a sua substituta como ministra chefe da Casa Civil -, tirou mais votos da candidata do PT do que qualquer outro escândalo descoberto no período da campanha.

Nem mesmo a quebra de sigilo fiscal de autoridades do PSDB pela Receita Federal ou a tentativa de contratar espionagem para elaboração de dossiês contra o adversário, tiveram o efeito do caso Erenice. A ação da Receita poderia ser jogada mais para a responsabilidade do governo do que do PT ou da candidata. No caso do dossiê de espionagem, a candidata poderia utilizar o argumento de que uma campanha trabalha com milhares de pessoas e ela não pode ter o controle de tudo. Na avaliação do governo, o dossiê serviu mais para afetar as relações de Dilma com o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel (PT-MG) que seria o responsável pelo grupo de profissionais que articulava a espionagem, do que para qualquer outro efeito.

Nos dois casos, ela poderia dizer que não tinha nada com isso, embora tivesse ficado mais difícil, sendo a responsável legal e chefe da sua própria campanha perante a lei, dizer que não sabia de algumas iniciativas do grupo de apoio administrativo.

Na avaliação que foi feita nas assessorias próximas ao presidente, porém, o caso Erenice foi campeão da perda de votos. Dilma, segundo esta análise, subestimou o caso Erenice em todos os ângulos pelos quais foi analisado. Tanto nas irregularidades e atos de corrupção, em si, como da rede por ela montada com familiares e amigos, tendo como epicentro a Casa Civil, onde despachava Dilma e novamente muito perto de onde despacha o presidente Lula, como foi o mensalão.

Não poderia ter sido pior, também, porque não há ninguém mais próximo dos problemas vividos por Dilma no governo do que Erenice, uma parceria que sobreviveu a inúmeros avisos: houve o dossiê do cartão corporativo contra Ruth Cardoso, a mulher do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, e as convocações a Lina Vieira ex-secretária da Receita, para dar explicações na Casa Civil sobre investigações do fisco, para falar de dois em que Erenice apareceu como agente da ministra-chefe da Casa Civil.

Lula, primeiro, ouviu da sua candidata que o caso Erenice não tinha a dimensão que a campanha adversária queria demonstrar. Depois, veio a nota oficial em que a então ministra Erenice ultrapassou o tom para alguém que sabia a extensão das denúncias que ainda poderiam surgir. Os dias foram se sucedendo e com eles novas denúncias, novas descobertas. Aquilo que, no Palácio, se chamou de "parentada da Erenice", teria sido o que mais sensibilizou o eleitorado.

Lula acha que agiu certo, a demissão de Erenice foi a decisão mais rápida que tomou em todos os casos ocorridos no governo ao longo dos oito anos, mas não o suficiente para evitar que Dilma se enrolasse como gestora. Só se aquilo não tivesse acontecido.

Marina Silva já tem ponto de partida para a disputa eleitoral de 2014, em que deve concorrer novamente à Presidência da República. Em janeiro sua base passa a ser o Instituto de Desenvolvimento Sustentável que criou discretamente, com sede em São Paulo. Cidade onde passará a morar e trabalhar.

Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras

A política econômica do novo presidente:: Carlos Lessa

DEU NO VALOR ECONÔMICO

O primeiro turno das eleições não permitiu perceber, com nitidez, qual seria a política econômica que daria sustentação a um projeto brasileiro. Temos, agora, pouco mais de vinte dias para tentar perceber as diferenças político-econômicas dos dois candidates à presidência.

A candidata da continuidade fez a exaltação sistemática dos feitos do governo Lula e prometeu continuar - e mesmo ampliar - os programas estritamente sociais, e enfrentar os temas da educação, saúde e segurança. Fez, de modo parcelado, referências a ferrovias que incluem o trem-bala. Não ouvi referências à reordenação da infraestrutura brasileira e, pelas promessas, a candidata parece fazer repousar na moradia popular o principal e - praticamente único - programa voltado para as redes metropolitanas e urbanas. Li que a candidata, antes do início da disputa, declarou que o Brasil necessitava "de um choque de capitalismo". Se o objetivo é gerar mais empregos de melhor qualidade e renda, estaria (?) atrás da ideia de "choque" uma significativa mudança político-econômica.

Sei que o presidente Lula acompanhou de perto o ingresso do dr. Meirelles no PMDB e houve uma forte campanha para que o PMDB indicasse o nome de Meirelles para vice-presidente. Quando Meirelles abriu mão da candidatura a governador de Goiás, disse que o presidente lhe havia solicitado a permanência no comando da política econômica. Fontes me informam que há um programa de governo em elaboração no PMDB, por um grupo que integra, entre outros, Meirelles e Delfim Netto. Sei que, quando da última viagem aos EUA, Meirelles afirmou que tudo permaneceria como antes e um importante banqueiro declarou que, no caminho certo que o Brasil seguiria, alterações cambiais fariam pouca importância. Dado o silêncio da candidata sobre a política econômica (posso crer que quem cala consente), manteremos a âncora cambial para o processo inflacionário e seguiremos praticando juros primários hiperelevados.

A equação brasileira acumula dólares em busca de uma rentabilidade anual garantida em 11,85% em papel pré-fixado do Tesouro brasileiro com vencimento em 2021. O nosso Banco Central aplica a maior parcela das reservas internacionais brasileira em títulos do Tesouro americano, com vencimento em 2021. É uma brincadeira de mau gosto a decisão de elevar o IOF sobre investimentos externos em renda fixa de 2% para 4%. A continuidade político-econômica levará o Brasil a um crescimento medíocre; apenas uns poucos setores - bancos e instituições do mercado financeiro, bem como concessionários de serviços públicos, com tarifa indexada - terão rentabilidade espetacular.

Os brasileiros endividados pagam mais juros do que a própria prestação. Segundo estudo do Banco Central, as famílias já gastam 13,3% do salário com o pagamento de juros e apenas 10,1% com a dívida principal.

O ponto de inovação mais surpreendente está no destino do pré-sal que, para a candidata, gerará as exportações necessárias "para que a transição do Brasil para uma era cuja economia e produção industrial sejam baseadas na baixa emissão de carbono". Meu espanto decorre de o presidente Lula haver afirmado que "o Brasil não será exportador de óleo cru".

O projeto brasileiro não é nacional e propõe ampliar, pelo produto geopoliticamente mais perigoso - o petróleo -, a densidade das exportações brasileiras. Assim sendo, é de se supor que a globalização, com o real cada vez mais valorizado, irá atrofiar atividades produtivas internas. É de se supor que, para o Nordeste, serão multiplicadas as termelétricas e será confirmada a política de intensificar vendas financiadas de carros bebedores de petróleo e derivados.

O outro candidato também não perfilou que política econômica pretende, nem qual é o seu projeto nacional de desenvolvimento. Ele sabe que o Brasil pode crescer muito mais e de forma sustentada. Certamente, podem ser afastados os riscos de apagões e é possível estimular o mercado interno para produtores instalados no Brasil, se for modificada a política cambial.

Porém, o candidate, até agora, pouco falou sobre política econômica. Em um relâmpago de lucidez, afirmou ser contrário à autonomia do Banco Central, porém fez silêncio sobre o que é óbvio: com a massa de juros que o governo federal paga, é impossível tocar para a frente, no tamanho e ritmo necessários, a infraestrutura bem como promover a elevação da qualidade de ensino, saúde e segurança.

Na eleição presidencial anterior, em que Lula derrotou Alckmin, foram realizados dois longos debates na TV. Resumindo o conteúdo, foi algo assim: o tema educação era muito importante para os dois candidatos, Lula disse que recebeu uma condição deteriorada e Alckmin falou maravilhas do que estava sendo feito em São Paulo. Nada de realmente importante foi colocado nos dois debates esterilizados daquele segundo turno.

Espero que agora, ao contrário do que ocorreu, os dois candidatos construam e divulguem proposições mais sólidas. Afinal, a crise mundial está aí e, provavelmente, terá ressurgências. A taxa de investimento macroeconômica (18% do PIB) é ridícula; se o Brasil quiser crescer modestos 5%.a.a, necessita de uma taxa de 22% e duplicação dos gastos de investimento público.


A pauta que os brasileiros esperam é o que os candidatos propõem como projeto nacional e que ajustes deverão ser realizados na política econômica. Creio que a candidata Marina conseguiu seu surpreendentes 20% com um discurso muito suave em que afirmava que é necessário pensar um projeto global para o Brasil.


Carlos Francisco Ribeiro de Lessa é professor emérito de economia brasileira e ex-reitor da UFRJ. Foi presidente do BNDES; escreve mensalmente às quartas-feiras

Renato Braz e Zé Renato

Uma 'nova' Dilma em cena::Editorial- O Estado de S. Paulo

A pesquisa de intenção de voto do Datafolha indicou que José Serra conseguiu reduzir para 8 pontos a vantagem de 15 com que Dilma Rousseff vencera o primeiro turno. Foi o suficiente para disseminar o pânico nas hostes petistas. O que é compreensível, considerando que desde o mais anônimo militante até o chefão Lula, todos os apoiadores da candidata oficial davam a fatura eleitoral como liquidada e alardeavam que 3 de outubro representaria apenas a formalidade de homologação de uma retumbante vitória.

Os efeitos dessa reversão de expectativa se tornaram evidentes já no primeiro debate do segundo turno, promovido pela Rede Bandeirantes. Logo em sua primeira intervenção Dilma partiu para o ataque aberto, violento, acusando Serra, sua esposa e os tucanos de modo geral de serem os responsáveis pela campanha caluniosa movida contra ela na internet. Colocou-se assim a escolhida de Lula na posição em que ele próprio, o chefe, sempre soube se instalar com muita competência, nos momentos de aperto: a da pobre vítima que jamais ataca, como é próprio dos malvados - nada disso, apenas exerce o direito de legítima defesa. Com a vantagem adicional de demonstrar que é uma mulher capaz de assumir atitudes firmes, corajosas.

Quanto a essa questão da "firmeza", que quando fora de controle, como a própria Dilma demonstrou na ocasião, descamba para a rispidez, o debate não revelou nada de novo. Dilma Rousseff sempre foi conhecida como pessoa rude e de difícil trato, especialmente com subordinados. Se a resposta não fosse evidente, seria até o caso de perguntar: se é para voltar a ser como sempre foi, por que então mudou durante o primeiro turno, fazendo o gênero "paz e amor"?

Já no que se refere às baixarias que rolam na internet, a ex-favorita absoluta à sucessão presidencial tem todo o direito de reclamar, mas é preciso colocar essa questão nos devidos termos. Em primeiro lugar, o óbvio: ataques caluniosos são desferidos de todos os lados e contra todos os candidatos e obedecem à tendência natural de se tornarem mais pesados com a polarização da campanha eleitoral.

Embora em alguma medida essas baixarias possam ser manipuladas, quando não inspiradas, pelo comando das campanhas - nesse assunto certamente não se pode colocar a mão no fogo por ninguém -, é claro que a maior parte desse comportamento condenável corre por conta de uma militância incontrolável composta por indivíduos ou grupos que usam a enorme sensação de poder que lhes confere a web para fazer a catarse de suas frustrações. É o tributo que se paga às inconsistências da democracia que ainda persistem no País. Além disso, Dilma conhece o PT há tempo suficiente para saber que o ataque como melhor defesa, e sem nenhum escrúpulo, sempre foi a tática preferencial, uma autêntica marca registrada de seu atual partido - em períodos eleitorais ou fora deles.

Ademais, ainda, é risível a tentativa da candidata petista de incluir no balaio das calúnias de que se diz vítima fatos de domínio público sobre os quais não paira a menor dúvida, como o amplo noticiário sobre o tráfico de influência que a família de sua protegida Erenice Guerra promoveu a partir do Palácio do Planalto, ou sobre seu constrangido vaivém na questão do aborto.

O desempenho de Dilma Rousseff no primeiro debate do segundo turno e nos dias subsequentes deixa clara a guinada tática na campanha petista: Dilminha-paz-e-amor virou a vítima indignada de boatos, calúnias e difamação. Indignada, mas não "agressiva". Apenas "firme". Na segunda-feira, na cidade-satélite de Ceilândia, Lula e sua candidata inauguraram o primeiro palanque do segundo turno e a "nova" Dilma mostrou ter assimilado as novas instruções: "Meu adversário faz uma campanha baseada no ódio, na boataria, na calúnia, na mentira e na falsidade. Ele não acusa de frente, olho no olho, não faz a disputa justa, leal e verdadeira."

Já o chefão não perdeu a oportunidade para mais uma demonstração de suas inexcedíveis soberba e megalomania: "Eu poderia ter escolhido um deputado, um senador, um governador. Por que a Dilma? (...) A Dilma vai começar a redenção das mulheres no Brasil e no mundo (sic)."
Agora é a vez de o eleitor escolher.

Após caso Erenice, piora crise nos Correios

DEU EM O GLOBO

Menos de um ano após ter sua concessão renovada pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) com a ajuda de Israel Guerra, filho da ex-ministra Erenice Guerra, a Master Top Linhas Aéreas (MTA) está em crise financeira e não honra mais seus compromissos com os Correios. A contratação de empresas para substituí-la custará mais ao governo. A MTA deverá ficar proibida de transportar cargas postais por 5 anos.

Desfecho da crise anunciada

Pivô do escândalo Erenice Guerra, MTA agora atrasa entregas e causa prejuízo aos Correios

Fábio Fabrini

BRASÍLIA - Onze meses depois de a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) dar aval para que a Master Top Linhas Aéreas (MTA) continuasse voando, mesmo tendo detectado o risco de paralisação de seus serviços por problemas financeiros, a empresa está em crise financeira e não honra mais seus compromissos com os Correios, o que causa prejuízos ao contribuinte. A MTA foi pivô do escândalo que derrubou a ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra. A Polícia Federal investiga a denúncia de que a Anac teria aprovado a renovação da concessão da empresa após a intervenção de Israel Guerra, filho de Erenice, que teria recebido propina para deslanchar o processo.

Erenice nega envolvimento.

O presidente dos Correios, David José de Matos, confirmou os problemas da MTA, ontem, e disse que a contratação de concorrentes para substituí-la custará mais ao governo. Em entrevista ao GLOBO, ele adiantou que a companhia deverá perder os contratos com os Correios e ficar proibida de operar linhas de transporte de cargas postais por cinco anos.

A MTA vem sendo multada pelos Correios por atrasos ou descumprimento de voos da malha postal. Para manter as entregas, a estatal é obrigada a comprar, a preços mais altos, espaço em aeronaves de concorrentes, mediante pregões diários.

Numa contratação regular, pagase por um pacote de voos e os aviões só podem levar encomendas da estatal. Numa emergência, o governo fica sujeito à disponibilidade das companhias, inclusive as que operam o transporte regular de passageiros — o que, invariavelmente, cria uma relação desvantajosa.

David de Matos não informou os valores que têm sido desembolsados para substituir a MTA: — Esse número depende muito do dia. Varia, mas é mais caro do que um contrato normal.

MTA é multada desde maio

Ele afirmou ontem que a proibição de ter negócios com os correios por cinco anos é a punição máxima pelo descumprimento de cláusulas do transporte. Um processo administrativo será aberto para avaliar o caso. Após a empresa apresentar suas alegações, a área técnica definirá as penalidades.

A decisão será da diretoria da estatal, mas uma notificação avisando sobre as multas e cobrando as explicações já foi enviada.

— Estou falando sem ter os números nas mãos, mas, provavelmente, ela vai ter dificuldades de manter esses contratos — adiantou Matos, prometendo que não haverá concessões à prestadora de serviços: — Os Correios, desde 2005, depois que houve aquela questão toda que levou ao mensalão, são muito rigorosos em tudo o que fazem. Não tem colher de chá com contrato não cumprido. Não tem esse negócio de mandar carta ao presidente, de mandar deputado ou senador ir lá pedir para refrescar. Não tem isso.

A MTA opera hoje linhas GuarulhosSalvador e Guarulhos-Recife para os Correios. Ambas são consideradas secundárias. Contudo, recentemente perdeu na Justiça o direito de fazer a rota GuarulhosBrasília-Manaus, uma das mais rentáveis.

A MTA havia sido desclassificada em licitação para prestar o serviço e obteve liminar para suspender a contratação da nova empresa.

A decisão caiu recentemente, garantindo à Rio Linhas Aéreas o contrato, de R$ 44 milhões.

Foi um baque duplo, já que, enquanto a pendenga não se resolvia, a MTA prestava o serviço por um contrato emergencial de R$ 19 milhões, que perdeu. Conforme reportagem do jornal “O Estado de S. Paulo”, a MTA vem sendo multada desde maio por atrasos, mas a situação ficou crítica mês passado.

Falta dinheiro para combustível e fornecedores têm sido procurados para negociar débitos.

Parecer da Anac, do fim do ano passado, já apontava uma série de problemas, como má gestão, endividamento alto e risco de descontinuidade do serviço. Mesmo assim, a diretoria da agência renovou a concessão da empresa, o que abriu caminho para os negócios com os Correios. Israel Guerra é acusado de receber R$ 125 mil de propina pelo tráfico de influência junto ao governo.

Questionada, a Anac informou ontem que a análise da situação financeira não era impedimento para que a MTA voasse, e que o acompanhamento de suas operações é permanente. Até ontem, a empresa não havia comunicado paralisação das atividades à agência, tampouco a retirada das aeronaves do país. Procurado, o advogado da MTA, Marcos Pagliaro, não foi localizado até o fim da noite.

O presidente dos Correios tentou justificar que não cabe à estatal questionar as decisões da Agência de Aviação Civil.

— Estaria me metendo em outra área — disse David de Matos.

O ministro das Comunicações, José Artur Filardi, disse ontem que considera satisfatórias as justificativas de Matos, mas que conversará com ele sobre o caso.

Matos nega pressão para deixar o cargo

O presidente dos Correios contestou outra acusação — esta publicada pelo “Estado de S. Paulo” no último domingo — de que teria aprovado contrato superfaturado em R$ 2,8 milhões para favorecer a empresa Total Linhas Aéreas no transporte de cargas. Consultoria contratada pela estatal fixou em pregão eletrônico o preço do serviço em até R$ 41,5 milhões, mas a empresa conseguiu fechar o contrato por R$ 44,3 milhões, 6,75% mais do que o teto. Contudo, segundo o presidente dos Correios, o valor é 8% menor do que o preço médio praticado no mercado, conforme consulta feita pela estatal.

— A área técnica (dos Correios) analisou o valor e o considerou razoável.

Não há como fazer qualquer alegação sobre superfaturamento — assegurou David de Matos, acrescentando que a decisão está sustentada por parecer do Tribunal de Contas da União (TCU) e que, em pregões eletrônicos, não há vedação para que o valor do contrato supere o estipulado previamente.

Matos, que é último indicado por Erenice Guerra ainda no governo, negou que esteja sofrendo pressão para se afastar do cargo e disse que permanecerá se o Palácio do Planalto concordar: — Enquanto o presidente Lula demonstrar confiança em mim, vou ficar, porque acho que tenho ainda a ajudar os Correios.

Entenda o caso Erenice Guerra

DEU EM O GLOBO

A polêmica em torno da MTA ocorre desde que a empresa ganhou contratos com o governo.

Denúncias indicavam que a empresa poderia ser, na verdade, de um diretor dos Correios, que utilizaria laranjas para obter contratos com a estatal.

Mas a MTA ganhou notoriedade de vez quando seu nome apareceu no primeiro caso do escândalo de tráfico de influência na Casa Civil que acabou por derrubar a ministra da pasta, Erenice Guerra, ex-braço-direito da candidata petista à presidência, Dilma Rousseff.

De acordo com a revista “Veja” de 11 de setembro, o empresário Fábio Baracat procurou Israel Guerra, sócio da empresa de lobby Capital e filho da exministra, em abril de 2009, para facilitar contatos da MTA. Fábio Baracat teria sido aconselhado por diretores dos Correios a buscar a Capital para aumentar seus negócios com a estatal.

Baracat se encontrou com Israel e Vinícius Castro, ex-assessor jurídico da Casa Civil, que lhe explicaram que poderiam facilitar as coisas para a Via Net Express e propuseram um contrato com “taxa de sucesso” de 6% do negócio, se vitorioso, ou cerca de R$ 5 milhões.

A revista indicava que Israel e Vinícius levaram Baracat a Erenice Guerra, em seu apartamento funcional, em Brasília.

Em agosto de 2009, Baracat fechou acordo com a Capital e passou a pagar R$ 25 mil mensais a Vinícius, em dinheiro. Em dezembro de 2009, Baracat estava com problemas para renovar a licença de voo da MTA na Anac. Israel e Vinícius disseram que precisavam de propina na Anac, e Baracat passou R$ 125 mil para a conta da Capital no Banco do Brasil. Quatro dias após, a licença foi liberada.

Ainda segundo a “Veja”, em abril de 2010, com Erenice já no cargo de ministra, Baracat conseguiu o novo contrato, e a MTA, que antes recebia R$ 40 milhões dos Correios, passou a deter um contrato de R$ 84 milhões.

Por conta dos escândalos, ela e outros dois assessores deixaram o governo.

Serra defende acusado por Dilma

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O candidato tucano à Presidência, José Serra, disse ontem que são "fantasiosas" as acusações de que Paulo Vieira de Souza, ex-diretor da Dersa, arrecadou R$ 4 milhões para a campanha eleitoral do PSDB e depois desapareceu com o dinheiro. A denúncia foi levantada pela candidata Dilma Rousseff (PT) no debate de domingo na TV Bandeirantes, e Serra, na ocasião, não respondeu. "Ele (Souza) é totalmente inocente nessa matéria", disse Serra. Para o tucano, o caso é "factoide feito para pegar a imprensa".

Serra defende aliado acusado por Dilma

Segundo turno. Tucano chama de "fantasiosas" informações exploradas por sua adversária de que ex-diretor da Dersa Paulo Vieira Souza teria arrecadado R$ 4 milhões para a campanha presidencial do PSDB e depois desaparecido com o dinheiro

Julia Duailibi

O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, saiu ontem em defesa do ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Souza e classificou como "fantasiosas" informações de que ele teria arrecadado R$ 4 milhões para a campanha presidencial do PSDB e depois desaparecido com o dinheiro.

Durante o debate da TV Bandeirantes de domingo, a candidata do PT, Dilma Rousseff, mencionou o engenheiro. Disse que ele "fugiu" com recursos supostamente arrecadados para custear a campanha tucana, conforme reportagem da revista IstoÉ, em agosto.

Após participar de missa na Basílica de Aparecida, Serra defendeu o ex-diretor da Dersa, um dos responsáveis pelas obras do Rodoanel na sua gestão no governo paulista e exonerado do cargo quando Alberto Goldman (PSDB) assumiu o Palácio dos Bandeirantes, em abril deste ano.

"Isso não é verdade. Ele não fez nada disso, ele é totalmente inocente nessa matéria", disse o tucano, que ainda chamou Paulo Souza, conhecido como Paulo Preto, de "competente".

"A relação que eu sempre tive com a Dersa, com a área de transportes, era através do secretário ou do presidente da empresa. Evidente que eu sabia do trabalho do Paulo Souza, que é considerado uma pessoa muito competente e ganhou até o prêmio de engenheiro do ano, no ano passado. Nunca recebi nenhuma acusação a respeito dele durante sua atuação no governo", completou o candidato.

Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, publicada ontem, o ex-diretor da Dersa fez ameaças veladas ao PSDB e cobrou do candidato tucano que o defendesse das acusações de Dilma. "Não se larga um líder ferido na estrada a troco de nada. Não cometam esse erro", declarou Souza.

Em viagem a Goiânia, anteontem, indagado sobre o ex-diretor da Dersa, Serra chegou a dizer: "Não sei quem é Paulo Preto. Nunca ouvi falar. Ele foi um factoide criado para que vocês fiquem perguntando."

O candidato, que disse inicialmente não ter lido a entrevista, chegou a declarar, em Aparecida, que a acusação levantada contra o ex-diretor da Dersa era injusta. "A acusação contra ele é injusta. Não houve desvio de dinheiro da campanha por parte de ninguém", afirmou, destacando que, por ser o candidato a presidente, saberia se isso tivesse ocorrido.

Serra negou que a ausência do senador eleito Aloysio Nunes Ferreira na missa ontem tivesse relação com o caso. Aloysio é amigo de Paulo Souza e pegou R$ 300 mil emprestados com ele para comprar um apartamento em Higienópolis - o senador eleito diz que o empréstimo foi pago e consta das suas declarações de Imposto de Renda.

"Isso aí é uma coisa de relações pessoais, não vejo nada de especial nisso", comentou o presidenciável. Serra partiu então para o ataque à adversária. "O curioso é que Dilma está preocupada com problemas internos da nossa campanha, quando a nossa preocupação é com o destino do dinheiro da Casa Civil, dinheiro dos contribuintes."

Dilma 'delira', afirma Zylbersztajn

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Rui Nogueira

BRASÍLIA - O economista David Zylbersztajn divulgou ontem uma nota de esclarecimento para rebater as afirmações feitas pela candidata petista Dilma Rousseff no debate da TV Bandeirantes, domingo passado. Zylbersztajn disse que "a candidata (ou quem a assessora) delira, talvez motivada por assombrações que lhe assomam, vendo uma privatização a cada esquina".

A petista ressuscitou no debate a tática usada em 2006 pelo então candidato à reeleição Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contra Geraldo Alckmin (PSDB) - que acusou o tucano de querer vender a Petrobrás e o Banco do Brasil. Dilma levantou a suspeita de que José Serra pode apoiar a "privatização do pré-sal".

Para fazer a ilação sobre a ameaça de privatização do pré-sal, Dilma citou de maneira deturpada entrevistas concedidas por Zylbersztajn, na terça-feira passada, no Rio, durante um seminário da revista Exame sobre o petróleo. Parafraseando o escritor Eça de Queirós, ele considerou a deturpação um caso de "má fé cínica".

O economista, que foi o primeiro presidente da Agência Nacional de Petróleo (ANP), criada no governo Fernando Henrique Cardoso, em 1997, defendeu a manutenção do regime de concessões na exploração do pré-sal, em vez da proposta do governo Lula, que enviou ao Congresso projeto - ainda em tramitação - para implantar o regime de partilha. No esclarecimento, o economista rebateu a informação de que seria assessor de José Serra. "Não sou, nem nunca fui assessor do candidato (Serra)".

Ao considerar a partilha "um modelo danoso aos interesses do país", o economista lista, entre outros motivos, o fato de que ele obrigou o governo "a criar uma estatal para comprar e vender petróleo".

No encerramento da nota, o economista destaca que o governo Lula já usou o modelo das concessões para leiloar áreas do pré-sal. " Durante o governo FHC foram realizados 4 leilões sob este regime (num dos quais foram licitadas as áreas do pré-sal). No governo do PT foram 6 (leilões). Ou seja, se este é um modelo privatizante, foi aplicado de forma bem sucedida e permanente pelo governo do qual fazia parte a candidata Dilma, inclusive na qualidade de Ministra de Minas e Energia", afirmou.

Debate religioso não afeta Estado laico, diz tucano

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Serra disse que questão foi trazida pela "sociedade" e negou que debate em torno do tema seja estratégia eleitoral

Julia Duailibi

APARECIDA - Em visita à Basílica de Aparecida, ontem, o candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, negou que haja uma "banalização" do debate sobre religiosidade no Brasil em razão das eleições presidenciais.

"Essa é uma questão que foi introduzida pelas pessoas, não pelos partidos nem pelos candidatos. Numa campanha, os candidatos apresentam o que fizeram e sua visão de mundo, e as pessoas vão se interessando. Os valores acabam aparecendo também", disse ele, que participou da missa ao lado da mulher, Monica.

Durante a missa na basílica, que reuniu mais de 35 mil pessoas, segundo a organização, foram distribuídos os textos produzidos em agosto pela comissão representativa do Conselho Episcopal Regional Sul, da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), com críticas ao governo e aos candidatos que apoiam o aborto. O documento elencava ações propostas pelo governo no passado rumo à descriminalização do aborto e recomenda o voto em candidatos e partidos que são contra a prática.

Para o presidenciável, o tema da religião, mais presente nesta eleição que nas disputas anteriores, aparece no debate não por causa de uma "estratégia" eleitoral, "mas porque o Brasil coloca essa questão". Serra disse não haver "nada de estranho" em discutir a questão da religiosidade na eleição. Também afirmou que o assunto não "macula" o Estado brasileiro, que é laico.

No dia seguinte à ida da adversária Dilma Rousseff (PT) à basílica, o tucano comungou. Numa menção tácita à questão do aborto, defendeu a infância, falou sobre o seu programa para gestantes, o Mãe Brasileira, e chegou a dizer: "Cada coraçãozinho novo que bate no Brasil a cada dia é uma esperança que se renova".

Também criticou o Plano Nacional de Direitos Humanos proposto pelo governo. "É uma coleção de absurdos", afirmou, citando a restrição ao uso de imagens religiosas em repartições públicas. "Se já tem uma imagem, por que tirar?", questionou.

Direitos humanos. Depois, mencionou a forma como o tema fora tratado no plano. "Se a questão do aborto faz parte dos direitos humanos, e você for contra, você está restringindo os direitos humanos", criticou. Serra também foi questionado por um jornalista, que se disse argentino, sobre o passado de Dilma.

O tucano afirmou: "Não cabe a mim ficar perscrutando a vida de um candidato". E completou: "Me preocupo mais com o que pensa e com o que diz e propõe para amanhã".

Dilma vai a evangélicos fazer voto antiaborto

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Em encontro hoje, petista também assumirá "compromisso de fé" com a liberdade religiosa

Vera Rosa

BRASÍLIA - Alvejada pela polêmica do aborto no primeiro turno da disputa, Dilma Rousseff (PT) vai garantir hoje a líderes evangélicos de todo o País que, se for eleita, não enviará ao Congresso projeto de lei para legalizar a interrupção da gravidez. Mais: a candidata do PT à Presidência reafirmará, no encontro, o que classifica como "compromisso de fé" com a liberdade religiosa.

A reunião entre Dilma e os evangélicos foi preparada sob medida pela coordenação da campanha para estancar a sangria de votos entre cristãos e tentar pôr um ponto final na guerra santa em que se transformou a corrida ao Planalto. O encontro ocorrerá em um hotel de Brasília e deve contar com a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na hora do almoço.

Dois dias após visitar o Santuário de Nossa Senhora Aparecida, onde rezou e conversou com católicos, Dilma fará agora um afago aos evangélicos. O PT avalia que subestimou a questão do aborto no primeiro turno e não quer deixar a polêmica crescer.

Na tentativa de enfrentar o problema, a coordenação da campanha de Dilma foi remontada para dar assento a políticos que integram a Frente Parlamentar Evangélica ou são próximos à Igreja Católica. São eles que farão a interlocução com bispos, padres e pastores e atuarão como porta-vozes da candidata.

"Vamos deixar claro que, a exemplo do governo Lula, a gestão de Dilma não entrará em assuntos como aborto ou união civil entre homossexuais. Trata-se de temas muito afeitos ao Congresso e a Igreja tem de pressionar os parlamentares para travar essa luta lá dentro", disse o senador eleito Walter Pinheiro (PT-BA), evangélico. "O Estado é laico".

Para Pinheiro, o candidato do PSDB, José Serra, inventou um "medidor de Espírito Santo" nessa disputa. "Serra encarnou o inquisidor, como se tivesse dedicado toda a vida dele a Deus", ironizou o petista. "Não dá para ficar refém dessa retórica porque Serra tem se utilizado da boa fé das pessoas para assacar mentiras", emendou o presidente do PT, José Eduardo Dutra.

"De bom tamanho". Embora tenha dito, em 2007, que era a favor da descriminalização do aborto, Dilma adotou discurso menos controverso desde o início da campanha. Em agosto, ela divulgou a "Carta ao Povo de Deus", na qual assinala que "cabe ao Congresso a função básica de encontrar o ponto de equilíbrio nas posições que envolvam valores éticos e fundamentais, muitas vezes contraditórios, como aborto (...) e uniões estáveis". Não adiantou: pesquisas em poder do comitê indicam que Dilma não recuperou totalmente o apoio perdido entre cristãos.

"O PT é um partido democrático e cada um tem sua posição, mas eu, pessoalmente, sou contra o aborto", insiste Dilma. "É, porém, uma questão de saúde pública e o Estado não pode deixar mulheres de baixa renda recorrerem a métodos medievais para pôr fim à gravidez sem dar assistência a elas." A candidata assegurou, no entanto, não pretender mudar a legislação a respeito do assunto, que prevê o aborto em casos de estupro e risco de morte para a mãe. "Do jeito que está, está de bom tamanho", resumiu.

Na avaliação do vice-presidente do PSC, Pastor Everaldo, tanto Dilma quanto Serra devem agora apresentar seus programas de governo. "O aborto é um assunto relevante para a comunidade cristã, mas não é o único", disse o pastor, que faz parte do Conselho Político da campanha dilmista. "Nós defendemos as reformas tributária, política e menor carga de juros. É preciso botar o barco para a frente."

Depois de ouvir reclamações dos aliados sobre a demora na divulgação da plataforma de governo, o PT decidiu anunciar na semana que vem os "13 Compromissos de Dilma com o Brasil". Logo na abertura, o documento dará ênfase à defesa da democracia. A liberdade de imprensa e a de religião, que tanta polêmica causaram na campanha, também integram esse pacote.

Garotinho liga apoio a veto a Plano de Direitos Humanos

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Alfredo Junqueira

RIO - Deputado federal eleito com a maior votação no Rio, o ex-governador Anthony Garotinho (PR) condicionou seu apoio à candidata de Dilma Rousseff à revogação imediata pelo presidente Lula do decreto que instituiu o Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH 3).

Evangélico, da denominação pentecostal Assembleia de Deus, Garotinho diz que a questão do aborto, que surgiu fortemente na campanha eleitoral, não é o único problema do plano. "O PNDH 3 ainda propõe a legalização da prostituição e obriga os hospitais conveniados ao SUS a fazer operação de mudança de sexo, sob pena de perder o convênio. É um absurdo esse tipo de exigência", disse Garotinho.

O ex-governador estima ter recebido 500 mil dos seus 695 mil votos de evangélicos e diz que nem em casa consegue pedir votos para a petista. "Princípio não se negocia. Fui seguramente o deputado mais votado entre os evangélicos, mas tenho dificuldades até dentro de casa, Meus filhos, por exemplo, votaram na Marina", disse o líder do PR, partido que, graças em grande parte à sua votação, elegeu oito deputados federais no Rio.

Em favor de Dilma, os deputados federais reeleitos Eduardo Cunha (PMDB) e Filipe Pereira (PSC) e o vice-presidente nacional do PSC, pastor Everaldo Dias, assumiram a defesa da petista. Segundo eles, panfletos apócrifos eram distribuídos associando a candidata ao movimento gay.

"Vou a todos os cultos que eu puder para esclarecer esse tipo de boataria. Todo mundo tem o direito de se posicionar. O que não pode é mentir. Vou chamar a polícia quando tiver panfleto apócrifo", afirmou Cunha.

Já o pastor Silas Malafaia, líder do ministério Associação Vitória em Cristo, divulgou em seu site depoimento gravado em que declara voto em José Serra e acusa Dilma e o PT de terem defendido abertamente a legalização do aborto e o projeto de lei que criminaliza a homofobia.

"Nós evangélicos somos cidadãos, como os católicos, e temos direito de opinar e o direito de interferir (no processo eleitoral), sim senhor", disse Malafaia.

Em campanha, Lula paralisa o governo

DEU EM O GLOBO

Com o presidente Lula em campanha no 2º turno, o governo deixou em compasso de espera assuntos como Orçamento de 2011, reajuste do mínimo, compra de novos caças para a FAB, o caso do italiano Cesare Battisti e até a escolha do novo ministro do Supremo.

Segundo turno paralisa o governo Lula

Orçamento de 2011, valor do mínimo, compra de caças e até escolha de ministro do STF só vão ser decididos após eleições

Cristiane Jungblut

BRASÍLIA. Diante da realização do segundo turno, são muitos os assuntos do governo Lula que estão em compasso de espera até a escolha do novo presidente.

Em especial, temas que afetarão o futuro governo, como o Orçamento 2011 e o salário mínimo que passará a vigorar em janeiro. O governo também decidiu deixar para novembro a decisão sobre a compra de novos caças para a Força Aérea Brasileira (FAB).

O projeto que regulamenta a exploração do pré-sal, que era prioridade para o presidente Lula, está parado no Congresso. Os parlamentares até ensaiaram retornar semana passada, mas decidiram esticar o recesso branco até o início de novembro.

Até questões que dependem quase que unicamente de Lula também estão pendentes, como a escolha do novo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). O atraso na nomeação afetou diretamente a decisão da Corte sobre a Lei da Ficha Limpa, que ficou empatada. Lula já tinha dito que deixaria a nomeação para depois da eleição, mas acreditava que poderia fazer a indicação em outubro, pois apostava na vitória de Dilma Rousseff no primeiro turno.

Também ficou para depois da eleição o destino do italiano Cesare Battisti. Lula terá que decidir se extraditará o ex-ativista político. O Supremo Tribunal Federal decidiu que ele deve ser extraditado, mas deu a palavra final ao presidente. Uma decisão de Lula em plena campanha poderia ser um desgaste a mais para a petista Dilma, já que é um tema polêmico.

Enquanto o governo e o Congresso vão acumulando pendências, um dos ministros de Lula, o de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, resolveu tirar férias em outubro para ajudar Dilma. Até então, Padilha vinha sendo uma espécie de porta-voz de assuntos da campanha dentro do governo.

Mas é nos assuntos que dependem dos parlamentares que a paralisia é maior. Para evitar debates acalorados no plenário, nestes dias que antecedem o segundo turno, foram suspensos os trabalhos até novembro, por decisão do presidente da Câmara, deputado Michel Temer (SP), vice na chapa de Dilma.

O Orçamento da União para 2011 — primeiro ano do sucessor de Lula — também está em compasso de espera. O novo valor do salário mínimo será motivo de intenso debate no Congresso.

Além do valor a ser votado no Congresso, a cifra final será fixada por Lula, em MP com validade a partir de janeiro de 2011, e para isso ele deverá conversar com o presidente eleito.

O vice-líder do governo no Congresso, deputado Gilmar Machado (PT-SP), responsável pelas negociações do Orçamento, reconhece: — Só vamos definir o Orçamento depois das eleições.

Temos que considerar a questão do salário mínimo, temos que sentar com as centrais e ainda tratar dos aposentados.

Neste momento, não adianta ter pressa

Cresce desigualdade entre homens e mulheres no país

DEU EM O GLOBO

Estudo do Fórum Econômico Mundial mostra que, pelo segundo ano seguido, o Brasil caiu no ranking internacional de desigualdade entre homens e mulheres. Passou do 81º lugar, em 2009, para a 85ª posição este ano. A pior situação é a diferença de renda entre os sexos, que coloca o país na 123ª colocação em uma lista de 134 países. Outro problema é a baixa participação política das mulheres, com apenas 9% de presença no Congresso.

Desigualdade entre os sexos

Fernanda Godoy*

NOVA YORK e BRASÍLIA - Boa notícia para as mulheres do mundo, mas não para as brasileiras. Enquanto a igualdade entre os sexos está aumentando na grande maioria dos países, a situação no Brasil está piorando.

De um conjunto de 134 países, o Brasil caiu do 81olugar, em 2009, para a 85aposição, este ano. É a segunda queda consecutiva. E o país está entre os piores do ranking global quando o assunto é diferença salarial.

Comparando a remuneração entre homens e mulheres, o Brasil despenca para a 123ª posição, o pior resultado em cinco anos.

Desde que o estudo Gender Gap, do Fórum Econômico Mundial, começou a ser feito, em 2006, 86% dos países aproximaram as condições de vida e de renda entre mulheres e homens. O Brasil, porém, ficou no mesmo lugar, com uma melhora insignificante, de apenas 1%.

O Gender Gap compara 14 indicadores, que vão da educação à expectativa de vida, passando pela participação no mercado de trabalho, remuneração e participação política (número de mulheres no Congresso e nos altos escalões do governo). São dois os indicadores que colocam o Brasil em posição de desvantagem: a desigualdade na remuneração — o estudo aponta que a mulher brasileira ganha pouco mais da metade do salário do homem para fazer o mesmo trabalho — e a baixa participação política das mulheres, com apenas 9% de presença no Congresso.

Para a economista Saadia Zahiri, uma das coordenadoras do estudo e diretora do Programa de Liderança para Mulheres do Fórum Econômico Mundial, os resultados internacionais são animadores e revelam o acerto de algumas políticas públicas.

— O que mais nos amima é que há avanços tanto no topo do ranking quanto na parte de baixo, nos países que já estavam bem e em outros que conseguiram resultados importantes nos últimos anos. Não apenas na Noruega ou na Finlândia, mas também entre os Emirados Árabes — disse Saadia.

A pesquisadora nota que o Brasil melhorou, em termos de igualdade, na esfera da educação fundamental e básica, nos níveis de alfabetização, e que, no que diz respeito ao ensino universitário, as mulheres já ocupam mais vagas que os homens.

— Isso é extremamente importante nesse momento em que o país está mudando de perfil, passando a ser uma economia mais voltada à inovação e ao conhecimento. É preciso assegurar que todo esse talento será integrado à economia, mas quando você olha os níveis de participação na economia, as mulheres têm 64%, contra 85% dos homens — analisa Saadia.

O grande problema do Brasil, continua, é que a integração de grandes contingentes de mulheres às escolas e ao mercado de trabalho não está se traduzindo em maior igualdade de renda. Em termos salariais, a mulher ganha 60% da remuneração masculina para fazer o mesmo trabalho: US$ 7.190 anuais, em média, para mulheres, contra US$ 12 mil pagos aos homens

Brasil perde para Argentina e Chile

As mulheres brasileiras já são maioria nas ocupações com formação técnica ou universitária (52%), mas apenas 36% delas chegam aos postos de comando, o que é apontado pelo estudo como um dos índices de maior desigualdade de gênero no país.

O Brasil vai mal também na comparação com os vizinhos: a Argentina aparece na 28ª posição no ranking, e o Chile, fica em 48º lugar.

Assessora da Secretaria de Política para as Mulheres do governo federal, a economista Hildete Pereira acredita que a persistência das desigualdades entre gêneros no Brasil é um rescaldo da formação histórico-social do país.

Ela concorda que é exígua a participação das mulheres na política e que a diferença salarial entre os sexos continua em quase 30%, mas sustenta que as mulheres estão estudando mais do que os homens: — A estrada que está sendo trilhada no país demonstra que houve um crescimento na área do trabalho, porém ainda estamos longe. Mas na política é uma pedreira e nem mesmo as eleições de 2010 conseguiram mudar esta realidade.

Quatro países nórdicos se mantiveram no topo da lista: Islândia, Noruega, Finlândia e Suécia.
Estes países chegaram a reduzir a desigualdade entre gêneros em mais de 80%. Na Suécia, a licença pelo nascimento de um filho é em média de um ano, podendo ser estendida com redução proporcional de salário, mas tem que ser exercida ao menos em parte pelo pai. São cada vez mais frequentes os casos de famílias em que marido e mulher dividem em proporções mais equilibradas, ou até iguais, o tempo de licença.

— É claro que os países nórdicos têm níveis de impostos muito altos, e que suas políticas são difíceis de reproduzir. Mas é possível replicar algumas experiências, como a igualdade na distribuição de cargos nos conselhos e a substituição do conceito da licença-maternidade pelo de uma licença para os pais — afirmou Saadia.

Em escala global, a presença de mulheres em cargos políticos, que era de 14% em 2006, subiu para 18% ano.

Os Estados Unidos subiram no ranking chegando à 19ª colocação, devido à nomeação de um grande número de mulheres para cargos importantes no governo do presidente Barack Obama. O principal exemplo é o da secretária de Estado, Hillary Clinton.

Na Ásia, o melhor desempenho foi o das Filipinas, um dos únicos oito países do mundo a já ter eliminado as diferenças entre os sexos nos indicadores de saúde e educação.


Colaborou Mônica Tavares
(*) Correspondente


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