sábado, 18 de setembro de 2010

Blindando Dilma:: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

O Palácio do Planalto está agindo rapidamente para se livrar de todos os traços do esquema de tráfico de influência que a ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra implantou no principal gabinete do Palácio do Planalto, ao lado do do presidente da República.

Desta vez o presidente Lula pode até mesmo dizer, como costuma, que de nada sabia, já que sua ligação com Erenice era apenas administrativa.

Se tivesse colocado, como queria, Miriam Belchior no lugar de Dilma, teria sido uma indicação pessoal baseada numa relação histórica de luta partidária com o próprio presidente.

Miriam seria uma personagem na política palaciana menos importante do que foi José Dirceu, mas, assim como é difícil imaginar que Dirceu montou o esquema do mensalão sem que Lula fizesse a menor ideia do que estava acontecendo, ficaria também difícil a ele se dissociar das ações de Miriam Belchior, viúva do ex-prefeito assassinado Celso Daniel, a quem Lula reservara papel de destaque no seu primeiro mandato.

Os erros de Erenice, amplamente divulgados e comprovados a cada dia, têm apenas uma ligação política possível, e é com Dilma Rousseff.

Já escrevi aqui que a relação de Dilma com Erenice é a mesma de Lula com Dilma: criador e criatura.

A família de Erenice não atuaria com tamanha desenvoltura em diversas áreas do governo se não tivesse a certeza de que estava segura por laços políticos e, sobretudo, de amizade.

Fica difícil acreditar que, tendo feito tudo o que está relatado nos últimos dias quando era o braço-direito de Dilma na Casa Civil, Erenice Guerra não deixou rastros de sua movimentação e nem dava à sua chefe imediata e amiga informações sobre o que estava fazendo.

Quanto às alegações de que o consultor Rubnei Quícoli, por sua ficha corrida nada exemplar, não teria credibilidade para sustentar as denúncias, é bom lembrar que em todos os casos, em que surgiram os escândalos dos últimos anos, foram justamente pessoas envolvidas nas negociatas que denunciaram seus cúmplices.

Pedro Collor não se entendeu com o irmão presidente sobre a partilha do butim e denunciou Fernando Collor. Roberto Jefferson sentiu-se traído em seu esquema montado nos Correios e abriu o bico, denunciando o mensalão.

Quando o empresário e consultor Rubnei Quícoli diz que parte da propina que lhe pediram seria alegadamente para financiar a campanha da ministra Dilma Rousseff à Presidência da República, surge um indício de uso de caixa dois na campanha eleitoral que precisa ser investigado e esclarecido.

Ainda mais porque as demais denúncias feitas acabaram mostrando-se verdadeiras, provocando a saída não apenas da ministra como de vários parentes seus de diversos cargos espalhados pela República.

Ontem, mais um servidor do Palácio do Planalto foi demitido rapidamente. O consultor Rubnei Quícoli apontara em entrevista um tal de Stevan, que descreveu assim: Ele é um avião, tem uma porta aberta na Casa Civil e outra no BNDES. Em meio às negociações para aprovação de projeto de energia solar no Nordeste avaliado em R$ 9 bilhões, que não saiu do papel surgiu Stevan, que seria a ligação do governo com a Capital Consultoria.

Pois não é que existe mesmo o tal de Stevan? Seu sobrenome é Knezevic, e ele trabalhava no Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam), órgão subordinado à Casa Civil.

Ele regressou ao seu órgão de origem, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), que, digase de passagem, está transformada em um enorme cabide de empregos para os apaniguados do governo, assim como os Correios, a Receita Federal e outras estatais.

O aparelhamento do Estado, que tem um caráter político de controle das atividades por membros dos partidos e sindicatos que apoiam o governo, tem também, ou sobretudo, o seu lado mercantilista.

Vários parentes de Erenice passaram por lá, inclusive o filho Israel Guerra. Não é difícil imaginar que os dois, Stevan e Israel, conheceramse na Anac e de lá partiram para as ações de lobby no Palácio do Planalto.

Há outro detalhe interessante no episódio da demissão da ministra Erenice Guerra: ao obrigá-la a sair do Gabinete Civil, o presidente Lula está retirando, pelo menos simbolicamente, seu aval às decisões da candidata Dilma Rousseff.

Se, eleita presidente, Dilma pretendia colocar Erenice no Gabinete Civil, contra a vontade de Lula, que quer naquele lugar o ex-ministro Antônio Palocci, que outras escolhas Dilma fará? Sua capacidade de nomear os principais assessores sai do episódio bastante arranhada, além do que persiste uma estranha sensação de que seu eventual futuro governo, pois a eleição para o Palácio do Planalto e seu entorno é tida como uma fatura já liquidada, começou em clima de crise.

O que a família Guerra não poderia fazer num governo da madrinha Dilma?

É impressionante como pessoas de bem aceitam participar de um órgão que não tem a menor influência nas decisões do governo.

Presidida pelo ex-ministro do Supremo Tribunal Federal José Paulo Sepúlveda Pertence, a Comissão de Ética Pública decidiu, em meio à crise gerada pela demissão da ministra Erenice Guerra, puni-la com uma advertência porque ela não apresentou documentos com informações sobre a sua evolução patrimonial e relação de parentes ocupando cargos públicos.

Uma punição que deveria ter sido dada em maio, quando expirou o último prazo. E poderia ter evitado que tantos parentes da ministra se espalhassem pelo governo.

A Comissão já havia sofrido uma grande derrota em 2007, quando tentou fazer com que o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, deixasse de acumular o ministério com a presidência do PDT.

A queda de braço levou a que a comissão sugerisse a demissão do ministro, e a solução foi encontrada meses depois: Lupi fingiu que se licenciou da presidência, e a Comissão fingiu que havia vencido a disputa.

Impacto imprevisível :: Fernando Rodrigues

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASíLIA - Se após o "Receitagate" era fácil prever um impacto eleitoral de tamanho microscópico, agora no "Erenicegate" a análise não é tão simples assim.

Sigilo fiscal violado poucos brasileiros sabem do que se trata. Uma ministra e sua grande família acusados de traficar influência dentro do governo formam uma imagem mais fácil de ser desenhada na cabeça de qualquer um. A dúvida é: existe uma parcela dos eleitores disposta a relacionar a queda de Erenice Guerra da Casa Civil à sua antecessora na cadeira, a candidata petista Dilma Rousseff?

Ninguém tem resposta científica para essa pergunta. O senso comum compele a considerar dados objetivos disponíveis. A lógica das pesquisas e a conjuntura indicam haver uma probabilidade maior de a disputa presidencial ser concluída no primeiro turno, em 3 de outubro, a favor Dilma Rousseff.

Além disso, todos lembram que o cenário hoje é muito mais favorável ao governo do que foi 2006.

Mas, nesta mesma época, há quatro anos, Lula liderava no Datafolha com 50%, contra 29% de Geraldo Alckmin (PSDB) e 9% de Heloísa Helena (PSOL). São percentuais similares aos de Dilma (com 51%), do tucano José Serra (27%) e da verde Marina Silva (11%).

Como se sabe, em 2006, o caso dos "aloprados" eclodiu em 15 de setembro (o "Erenicegate" surge agora, neste mesmo período). Há quatro anos, quando foram tabulados os votos, Lula teve 48,6% dos votos. Faltou 1,4 ponto percentual para ganhar no primeiro turno -a vitória veio em seguida, com votação acachapante (60,8%).

Não há indicações de repetição exata da história neste ano. O escândalo atual tem menos octanagem que aquela foto do dinheiro dos aloprados. A economia está bombando e Lula é o presidente de maior popularidade da história do país. Ainda assim, registradas todas as ressalvas, nunca é demais lembrar: Dilma não é Lula.

Sistema em falência :: Claudio Weber Abramo

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Alta política não existe mais; quase se pode dizer que isso de democracia representativa não funciona no Brasil

O mundo político brasileiro, colocado em natural foco nos dias que correm por causa da época eleitoral, mostra-se, como de hábito, em cores deprimentes.Fora os políticos profissionais, é impossível encontrar alguém que afirme que esse mundo valha um tostão furado.

Não apenas é repleto de aventureiros e aproveitadores, como não diz a que vem e os eleitores não ligam a mínima.

Qual seria, exatamente, o motivo para se depositar um voto por algum candidato ao Legislativo? Todas as pesquisas de boca de urna feitas no Brasil mostram que o eleitor médio nem sequer se lembra em quem votou dois minutos após ter votado.

Mais do que apontar para uma característica do eleitor brasileiro, isso exibe o divórcio existente entre partidos políticos e a sociedade.

O que os partidos dominantes representam são os grupos que os controlam.

Durante muitos anos o PT foi excetuado desse rol, mas mesmo este parece mostrar-se cada vez menos representativo de alguma ideia que faça algum sentido. A única ideia que faz sentido no PT atual é a associação com a figura do presidente da República.

Uma vez eleitos, os representantes desses partidos passarão a integrar Casas legislativas e renunciarão a qualquer veleidade de atuação política de verdade porque terão sido comprados (via distribuição de cargos, promovendo o loteamento da administração) pelos respectivos chefes de Executivo.

A cooptação pelo Executivo, garantida pela Constituição "cidadã", faz com que os parlamentos brasileiros descumpram todos os papéis que o modelo abstrato da democracia representativa lhes reserva: não fiscalizam o Executivo e não legislam.

Uma vez que apenas representam os interesses privados do grupo de seus caciques (em alguns casos, constituindo quadrilhas na acepção completa do termo), grande número de seus integrantes dedica-se a pilhagens e achaques diversos, tudo sob o olhar complacente do governante, seja ele federal, estadual ou municipal.

Como as eleições legislativas brasileiras são essencialmente distritais (candidatos recebem votos em circunscrições muito reduzidas), sem dúvida certo número de representantes é eleito por motivos de baixa política.

Alta política não existe mais.

Mesmo que seja irrealista imaginar que todo político eleito devesse emular Afonso Arinos, o extremo a que chegamos é excessivo.

Trata-se de um quadro institucional que entrou em evidente falência.

Quase se pode dizer que isso de democracia representativa não funciona no Brasil.

Um Judiciário inoperante e um Ministério Público que tudo faz para esconder dados que pudessem iluminar sua eficiência (ou falta dela) completam um quadro de disfuncionalidade que abrange todo o Estado.


Claudio Weber Abramo é diretor-executivo da Transparência Brasil

Dois votos ao Senado? :: Cesar Maia

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

A eleição para o Senado dá ao eleitor, de oito em oito anos, o direito de votar duas vezes. É a única eleição no Brasil em que isso acontece.

No Chile, usa-se o sistema de primeira e segunda maiorias. As eleições para senador e deputado seguem esta regra em cada região eleitoral. A fórmula de primeira e segunda maiorias contribui para a convergência de partidos afins e para o equilíbrio da representação parlamentar. No Brasil, a regra dos dois votos produz distorções que podem afetar a dinâmica e o próprio resultado das eleições.

Naturalmente, cada candidato ao Senado faz sua campanha pedindo votos para si.

E evita conflitar com seus adversários, pois precisa do segundo voto deles. Com isso, o eleitor toma sua decisão direta para o primeiro voto e residualmente para o segundo. São duas as consequências disso.

A primeira é que a taxa de fixação do voto em um candidato é muito maior no primeiro voto do que no segundo. Ou seja: a probabilidade de o eleitor mudar seu segundo voto é muito maior do que mudar o primeiro.

A segunda consequência é o paradoxo do segundo voto como contraditório do primeiro. Na medida em que, na eleição, os candidatos na TV não estabelecem suas diferenças, para evitar perder o segundo voto, o eleitor médio decide seu segundo voto sem preocupação de coerência na chapa que escolhe.

Na medida em que, numa situação dessa, a tendência do eleitor médio é escolher quem tem chance, os candidatos mais competitivos se veem na situação em que o segundo voto de seu eleitor pode derrotá-lo, ampliando a votação de seu adversário. A eleição se despolitiza, e o resultado pode ser o contrário do que a decisão de primeiro voto indicaria.

Como os TREs não separam o primeiro do segundo voto na apuração, uma análise precisa se torna impossível. Mas se pode fazer uma análise dedutiva a partir das últimas pesquisas, na semana da eleição e do resultado final.

Alguns institutos de pesquisa não têm informado, neste ano, o primeiro e o segundo votos separados, o que impede a análise dedutiva. Analisando as eleições de 1994 e de 2002 a partir dos institutos que separaram o primeiro e o segundo votos, focalizando os últimos dias e comparando com o resultado das eleições, a proporção de eleitores que não confirmou seu segundo voto indicado nas pesquisas estava em torno de 30%.

Com isso, na urna, um candidato do primeiro escalão apontado nas pesquisas pode crescer na mudança do segundo voto uns dez pontos, mudando a ordem de chegada do primeiro escalão.

Nesse sentido, fazer campanha pelo segundo voto é decisão de alto risco.

Qual democracia? ::Fernando Perlatto*

DEU NA TRIBUNA DE MINAS (JF)
Passados mais de vinte anos da Constituição de 1988, eis que estamos a atravessar a sexta eleição presidencial após a redemocratização do país. Inseridos no calor dos acontecimentos, não percebemos o quanto importa valorizar essa rotina democrática, bem como as instituições e procedimentos que garantem sua vigência e consolidação. Apesar de alguns percalços, nossa institucionalidade democrática se robusteceu com o passar dos anos, com a garantia das liberdades individuais e políticas, o estabelecimento de eleições regulares e a prática da alternância de poder. A vida democrática, com sua rotina, segue seu rumo e seguirá normalmente, seja lá quem for consagrado vencedor nas urnas finda a apuração daqui a menos um mês.

Contudo, o que importa ressaltar, é que à vida democrática não basta apenas a rotina. A democracia tem de ser rotina, mas necessita de um processo permanente de invenção, sob o risco de se desencantar e funcionar como uma espécie de máquina a ser acionada a cada dois anos. Uma democracia desencantada é aquela cujas decisões políticas se dão de cima para baixo, que funciona amparada apenas em suas instituições e procedimentos, exercida somente no período das eleições e que prescinde até o próximo pleito da participação da sociedade. A linguagem dessa democracia desencantada é o discurso técnico, que não organiza e nem mobiliza a sociedade, que constrange a emergência do novo, sob o risco deste transtornar a rotina e perturbar as regras do jogo.

Em contraposição a essa forma de democracia, há aquela encantada, enraizada e alimentada por uma sociedade vibrante e por uma cultura política de participação constante, sempre à procura da invenção. A democracia encantada não é uma utopia, mas um processo de construção e experimentação permanente, que permite que todos participem frequentemente das decisões centrais sobre os rumos da nação. Trata-se, portanto, e isso é importante destacar, de uma aposta na sociedade. Uma democracia encantada não se move somente a partir das forças do mercado, como se acreditava na década de 1990. Nem ao menos se sustenta somente com o robustecimento do Estado, como querem crer setores importantes do atual governo. Ela necessita dos dois, mas sua força central encontra-se na sociedade.

Os períodos eleitorais são aqueles nos quais se abre uma possibilidade maior para reencantar a democracia. O lamento atual se dá justamente pelo fato dos discursos técnicos e a ampla mobilização de dados pelos candidatos nos debates nãoimplicarem em discussões concretas sobre como encantar a vida democrática. Se por um lado, o discurso governista da “mãe” do povo infantiliza, de fato, a sociedade, a retórica oposicionista segundo a qual o povo vota somente com “a barriga”, também a infantiliza, como se aos subalternos fosse cerceado o direito de votar em qual projeto político acreditam que está fazendo o país melhorar.

Nos últimos anos, a despeito do aumento de canais institucionais de participação– como evidenciam as conferências para a elaboração de políticas públicas –, não ocorreu um processo contínuo de organização e animação da vida popular, de modo que os temas e atores emergentes de baixo pudessem disputar os rumos políticos do país na esfera pública, encantando o jogo democrático. Finda as eleições, torcemos para que o candidato vitorioso assuma o compromisso com esse processo de encantamento da vida democrática. Um bom começo seria o empenho para a realização de uma reforma política que, por um lado, seja capaz de fortalecer e moralizar a rotina da vida democrática – mediante o estabelecimento, por exemplo, do financiamento público das campanhas – e que, por outro, amplie as possibilidades de participação da população na vida política. Uma reforma que aposte na sociedade brasileira, fonte do reencantamento permanente da nossa democracia.



Pesquisador do Centro de Estudos Direito e Sociedade (CEDES).

Paulinho da Viola - Sinal Fechado

Só agora o governo vai punir Erenice por não revelar bens

DEU EM O GLOBO

Somente após demitida sob suspeita de participação no suposto esquema de tráfico de influência comandado por seu filho, a ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra foi punida pela Comissão de Ética da Presidência. Por não ter apresentado, quando assumiu o cargo, em março, documentos sobre a evolução de seu patrimônio e a relação de parentes que trabalham ou têm negócios com o governo, ela foi advertida ontem com uma "censura ética", que pode dificultar sua contratação em outros órgãos públicos. A Declaração Confidencial de Informações, cobrada dela pelo menos duas vezes, é uma exigência do Código de Conduta da Alta Administração Federal. Só ontem foi divulgado que Erenice a desrespeitava. Mais um funcionário da Casa Civil deixou o cargo: Stevan Knezevic, também acusado de ligação com a empresa de Israel Guerra.

Sem prestar contas

Erenice não declarou patrimônio ou parentes no governo ao assumir, mas só agora é punida

Chico de Gois

BRASÍLIA - Um dia depois de deixar a Casa Civil, sob suspeita de participação no suposto esquema de tráfico de influência comandado pelo seu filho Israel Guerra, a ex-ministra Erenice Guerra foi punida pela Comissão de Ética da Presidência porque não apresentou documentos sobre a evolução do seu patrimônio nem a relação de seus parentes que trabalham no serviço público ou fazem negócios com empresas públicas.

A Declaração Confidencial de Informações (DCI), cobrada dela reiteradas vezes, é uma exigência prevista no Código de Conduta da Alta Administração Federal. Por causa da falha, só agora tornada pública, Erenice foi punida ontem com uma censura ética, prevista para o caso de ex-autoridades.

A DCI deve ser encaminhada à Comissão de Ética no prazo de até dez dias depois da posse da autoridade.

Apesar de ter enviado a DCI quando assumiu o cargo de secretária executiva da Casa Civil, em 2005, quando Dilma Rousseff tornou-se ministra da pasta, Erenice não o fez quando a substituiu, em 31 de março deste ano.

Ao notar, dentro do prazo, que Erenice não enviara o documento, a secretaria da Comissão de Ética lhe enviou ofício solicitando a DCI. Não foi atendida. Trinta dias depois, voltou a cobrar a declaração e, mais uma vez, não houve resposta.

Exigência ignorada várias vezes

Uma segunda reiteração ocorreu e, de novo, Erenice não atendeu à exigência da Comissão de Ética. Nem explicou a razão por não seguir a norma.

E o assunto também não foi encaminhado pela Comissão ao governo.

Ontem, nem Erenice nem o Planalto se manifestaram sobre a falha.

A DCI serve para que a autoridade ministros, secretários de Estado, titulares de cargos de natureza especial, secretários-executivos, presidentes e diretores de agências nacionais e autarquias informe sua variação patrimonial, relacione o nome das empresas das quais é sócia, apresente a relação de parentes que trabalham ou mantêm negócios com o poder público.

Como ficaram evidentes nas denúncias da última semana, Erenice não só tinha parentes trabalhando no governo, mas seu filho e irmãos usaram a influência que tinham no governo para intermediar interesses privados junto a empresas públicas.

Embora não tenha um caráter prático de punição Erenice poderá, por exemplo, voltar a trabalhar no serviço público , a censura ética fica registrada na ficha funcional da ex-autoridade por três anos, o que pode dificultar sua contratação em outros órgãos públicos.

Na segunda-feira, a Comissão de Ética resolveu abrir um procedimento preliminar para averiguar a notícia publicada pela revista Veja, que acusa o filho de Erenice, Israel Guerra, de praticar lobby em favor de uma empresa de aviação que mantinha negócios com os Correios.

Depois disso, surgiram novas denúncias contra Erenice e seus familiares a última delas provocou sua queda: o consultor paulista Rubnei Quícoli acusa o filho de Erenice de cobrar R$ 240 mil e mais 5% de comissão de êxito para facilitar um empréstimo de R$ 9 bilhões que pretendia junto ao BNDES.

Ontem, a Comissão de Ética se reuniu em caráter extraordinário.

O relator do processo, Fábio Coutinho, sugeriu, e foi apoiado pelos demais quatro conselheiros, que se transformasse o procedimento inicial em um processo de apuração ética.

A Comissão deliberou também que, ainda no âmbito do procedimento preliminar, já havia uma falta ética da ex-autoridade disse Coutinho. Entendeu-se hoje que a solicitação não atendida e sua reiteração configuraram falta ética pela que agora é ex-autoridade.

Essa falta ética já implicou a sanção de censura ética complementou, explicando que, se ela ainda estivesse no exercício do cargo, teria recebido uma advertência.

É uma falta de atendimento a uma determinação que pode prevenir uma série de situações indesejáveis do ponto de vista da autoridade acrescentou Coutinho.

Erenice será notificada, provavelmente na segunda-feira, e terá dez dias para apresentar sua defesa, por escrito. O relator afirmou que ela também deverá ser ouvida, além de seus parentes. De acordo com Coutinho, dependendo do que for apurado, Erenice poderá receber outra sanção ética. O processo tramitará em sigilo.

O relator declarou que a Comissão de Ética também resolveu modificar o procedimento que era adotado até agora. Antes, como foi o caso de Erenice, mesmo a autoridade não apresentando a Declaração Confidencial de Informações, nada aconteceria se não houvesse algum fato que levasse a Comissão a abrir um procedimento administrativo. A partir de agora, a autoridade que não entregar a DCI no prazo e não atender aos pedidos da Comissão para o fazer, levará uma advertência, se estiver ainda no cargo.

Coutinho disse que, neste momento, a Comissão não vai se dedicar a investigar a conduta do diretor de Operações dos Correios, o coronel Eduardo Artur Rodrigues Silva, ex-consultor da Master Top Airlines (MTA), outro servidor citado nas denúncias de tráfico de influência envolvendo o filho de Erenice. Para Coutinho, essa investigação poderá ocorrer durante o processo aberto contra a ex-ministra.

A pressa de Lula

DEU EM O GLOBO

Para tentar reduzir o desgaste de Dilma Rousseff, Lula tomou a decisão de demitir Erenice Guerra em cinco dias, uma rapidez que ele não adotou em casos anteriores. No escândalo do mensalão, Lula demorou dez dias para demitir José Dirceu. E Palocci ganhou sobrevida de quase 20 dias no caso Francenildo.

Ano eleitoral, decisão rápida

Erenice caiu em 5 dias; Dirceu, em dez

BRASÍLIA. Em seus quase oito anos de mandato no Palácio do Planalto, o presidente Lula adotou posturas distintas para se livrar de auxiliares problemas, embora tenha sido sempre reticente em demiti-los. Ficou evidente, porém, que a maior dificuldade se dá quando os denunciados são amigos e/ou petistas.

O processo de expurgo de Erenice Guerra da Casa Civil foi um dos mais rápidos por dois fatores: não é próxima de Lula, mas de Dilma Rousseff; e o calendário eleitoral exigiu decisão rápida, para tentar evitar um estrago na campanha da petista. As denúncias foram publicadas no dia 11 pela Veja. Cinco dias depois, a ex-braço-direito de Dilma caiu.

A queda de José Dirceu da Casa Civil em 2005 no rastro das denúncias do mensalão demorou dez dias. Em 6 de junho, a Folha de S.Paulo publicou entrevista com o então deputado Roberto Jefferson (PTB) em que ele acusava Dirceu de ser o mentor do esquema de distribuição de recursos entre partidos. Em 16 de junho, Dirceu saiu.

A saída de Antonio Palocci da Fazenda foi mais dolorosa para Lula, que adiou a decisão por quase 20 dias. Em 8 de março de 2006, o motorista Francisco das Chagas Costa disse na CPI dos Bingos que Palocci frequentava a casa de Vladimir Poletto em Brasília. Palocci havia negado que ia à casa, chamada de República de Ribeirão Preto. Em 16 de março, o caseiro Francenildo dos Santos Costa confirmou que Palocci visitava a mansão. No dia 18, a revista Época publicou a quebra do sigilo do caseiro, identificando R$ 38.860 em sua conta. No dia 27, o então presidente da Caixa, Jorge Mattoso, disse ter entregue a Palocci a movimentação bancária do caseiro. Palocci saiu.

Lula foi mais rápido na substituição do ex-titular de Minas e Energia Silas Rondeau, apadrinhado de José Sarney. A Operação Navalha da PF, que investigou corrupção em obras públicas, apontou que Rondeau teria recebido propina da construtora Gautama numa licitação. A Operação foi deflagrada em 17 de maio de 2007, e no dia 22 Rondeau pediu demissão. Outro peemedebista, Romero Jucá, também teve vida no curta na equipe de Lula: alvejado por denúncias de desvio de recursos, ficou cinco meses na Previdência.

Mais um envolvido no escândalo sai da Casa Civil

DEU EM O GLOBO

Knezevic, que pediu exoneração, seria um dos elos entre consultoria e ministério

Carolina Brígido

BRASÍLIA. Mais um personagem do suposto esquema de tráfico de influência no governo que derrubou Erenice Guerra da Casa Civil deixou o cargo ontem. Stevan Knezevic, funcionário do Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam), órgão da Presidência, pediu exoneração. Segundo reportagem da revista Veja, Knezevic era peça importante das irregularidades comandadas por Israel Guerra, filho da então ministra Erenice. Com a exoneração, ele retornará ao órgão de origem, a Agência Nacional de Aviação (Anac). Outro suspeito de participar do esquema, Vinícius de Oliveira Castro, foi exonerado da Casa Civil na segunda-feira.

Knezevic trabalhava como assessor do Departamento de Integração Institucional do Sipam.

Segundo a assessoria de imprensa do órgão, tratava-se de função técnica e burocrática, distante de negociações políticas.

Era dele a função de administrar cooperações técnicas entre o Sipam e órgãos públicos como prefeituras e a Fundação Nacional do Índio (Funai). O funcionário não ocupava cargo de coordenação ou de chefia.

No entanto, segundo reportagem da Veja, a influência de Knezevic no suposto esquema era central: com Israel e Vinícius, seria um dos gerenciadores da Capital Consultoria. A empresa seria especializada em lobby comercial na administração federal. E teria atuado, por exemplo, para viabilizar negócios nos Correios. Segundo a Folha de S. Paulo, a consultoria também tentou aprovar financiamentos junto ao BNDES.

O empresário e consultor Rubnei Quícoli, que seria o beneficiário do financiamento no BNDES, identificou Knezevic como elo para os supostos negócios escusos da Capital consultoria com a Casa Civil e o banco.

A assessoria de imprensa do Sipam informou que, ao comunicar sua exoneração, Knezevic não deu nenhuma explicação aos colegas de trabalho. Ele não retornou as ligações do GLOBO para comentar o assunto.

Por meio de nota, a Casa Civil informou ontem que o ministro interino, Carlos Eduardo Esteves Lima, assinou portaria criando uma comissão de sindicância para apurar o envolvimento de funcionários da pasta nas denúncias.

A comissão terá 30 dias para concluir os trabalhos.

Desde o início das denúncias, três pessoas já caíram, incluindo a ex-ministra Erenice Guerra.

Ela foi punida ontem pela Comissão de Ética da Presidência com uma censura ética.

Quícoli: Abin em reunião para lobby

DEU EM O GLOBO

E-mail de consultor diz que funcionários da Agência de Inteligência acompanharam encontro com ex-diretor dos Correios

Roberto Maltchik e Geralda Doca

BRASÍLIA. Quatro dias depois de romper com a Capital, empresa de filho de Erenice Guerra que teria feito lobby junto ao BNDES, o consultor Rubnei Quícoli enviou uma mensagem aos sócios da EDRB, responsável pelo projeto, relatando a presença de dois supostos agentes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) numa reunião, em Brasília, com o ex-diretor de operações dos Correios Marco Antonio de Oliveira.

No e-mail, enviado em 6 de fevereiro de 2010 a Aldo Wagner e Marcelo Escarlassara, Quícoli relata como foi reunião, da qual teriam participado, além de Oliveira, um auxiliar identificado como Guilherme e agentes da Abin.

O encontro teria ocorrido no flat 3044 do Hotel Brasília Alvorada Towers, usado por Marco Antonio. Na conversa, segundo Quícoli, Oliveira desabafou sobre o estrago provocado pela negociação fracassada, irritando a então secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra. Quícoli cobrava aprovação de financiamento no BNDES para EDRB.

Segundo o e-mail, após 30 minutos de conversa escutando a choradeira de MA (Marco Antônio), apareceram no ambiente dois PF da Abin que (sic) estavam escondidos no banheiro do flat. Quícoli relata que os agentes teriam dito que estavam ali para me ouvir e não seria para prejudicar (a negociação).

Ao GLOBO, Quícoli disse ontem que a reunião ocorreu à noite, e que não conseguiu identificar os supostos agentes que acompanhavam a negociação com Oliveira: Estava escuro e minha preocupação maior era com o Marco Antonio e com o que estávamos conversando.

Quícoli afirmou que, mais tarde, o grupo foi ao encontro de Vinícius Castro, sobrinho de Oliveira e peça-chave do lobby dentro da Casa Civil. Nessa conversa, Vinícius teria reforçado que os dois vigias seriam agentes do serviço de inteligência. Vinícius pediu demissão na última segundafeira, após a revelação pela revista Veja de que ele estaria intermediando a renovação da licença da empresa de transporte de carga Master Top Airlines junto à Anac, mediante propina. A MTA nega a negociata.

Quícoli diz que foi numa das conversas no flat de Marco Antônio que o pedido de propina de R$ 5 milhões foi formalizado.

O dinheiro, segundo ele, iria para a campanha da presidenciável Dilma Rousseff (PT) e de Hélio Costa (PMDB), candidato ao governo de Minas. Eles negam.

Oliveira confirmou as reuniões com Quícoli no flat, mas negou o pedido de propina e participação de agentes da Abin em uma das conversas. Em nota, a Abin informou que o assunto não aparenta se enquadrar nas atividades da agência e que jamais realizou qualquer tipo de trabalho de inteligência envolvendo as pessoas citadas.

Para Planalto, pivô é ex-diretor dos Correios

DEU EM O GLOBO

Demissão de Marco Antonio de Oliveira em junho teria detonado série de denúncias

Gerson Camarotti

BRASÍLIA. Ainda sob impacto da crise política que motivou a demissão de Erenice Guerra da Casa Civil, o Palácio do Planalto está convencido de que o pivô do escândalo é o ex-diretor de Operações dos Correios Marco Antonio de Oliveira.

Integrantes do núcleo do governo atribuem à demissão de Oliveira, em junho, o estopim para a avalanche de denúncias de tráfico de influência na Casa Civil.

O Planalto já identificou que Oliveira tinha relações muito próximas com Erenice Guerra quando ela ainda era secretáriaexecutiva da Casa Civil. Essa proximidade foi mantida quando Guerra tornou-se ministra em substituição à candidata petista Dilma Rousseff, em março.

A relação entre Erenice e Oliveira era perigosa e explosiva, segundo relato feito ao GLOBO por integrantes do governo. A avaliação é que a ex-chefe da Casa Civil ficou refém do ex-diretor dos Correios, e que a amizade ficou deteriorada de forma definitiva quando ele foi demitido, após a constatação de risco de um apagão postal. Também chamou a atenção do Planalto o fato de Erenice ter patrocinado a troca de dois diretores dos Correios com as mudanças concretizadas em julho, como revelou O GLOBO esta semana.

Oliveira é tio de Vinícius Castro, que até segunda-feira era assessor da Casa Civil e foi apontado pela Veja como sócio oculto de Israel Guerra na consultoria Capital. Para o Planalto, toda a oferta de lobby e facilidade no governo foi intermediada pelo ex-diretor dos Correios.

Ele é apontado como elo da dupla Israel e Vinícius com os lobistas Fábio Baracat e Rubnei Quícoli. O primeiro queria beneficiar a MTA nos Correios. O segundo queria um financiamento no BNDES. Para o governo, chamou a atenção o que foi classificado ontem de ousadia de Oliveira de ter intermediado negócios não só nos Correios, mas ter tentado agir em negócios de outras áreas do governo.

Oliveira e Quícoli confirmaram que conhecem Fábio Baracat, autor da denúncia do suposto tráfico de influência feita à Veja. O encontro ocorreu após julho deste ano e, segundo Oliveira, serviria para tratar de interesses de Baracat no setor aéreo, cujo auxílio poderia ser dado por Quícoli.

Rubnei é um cara dinâmico afirmou o ex-diretor dos Correios.

Já Quícoli disse que, até o dia da reunião em São Paulo, não conhecia Fábio Baracat.

O dia em que me encontrei com Marco Antonio em São Paulo, ele (Baracat) estava junto, presente. Eu o conheci nesse dia. Conheci o Fábio através dele (Oliveira).

Apadrinhado do PMDB, Oliveira ficou próximo de Erenice por causa dos laços familiares.

Além da sociedade oculta do sobrinho Vinícius com Israel, ele era próximo do irmão de Erenice, Antonio Eudacy Alves Carvalho. Os dois trabalharam juntos na Infraero. Oliveira chegou a ser superintendente da estatal na região Centro-Oeste.

Oliveira chegou a ter o nome citado no relatório final da CPI do Apagão Aéreo, que em 2007 investigou a crise na aviação brasileira. O relatório foi elaborado pelo senador Demóstenes Torres (DEM-GO), que pedia o indiciamento de 23 pessoas por fraudes cometidas na Infraero, inclusive o de Oliveira. Mas o nome dele foi retirado depois de uma manobra da base governista que aprovou um relatório paralelo elaborado pelo senador João Pedro (PT-AM).


Colaborou: Roberto Maltchick

Serra diz que país precisa de decência

DEU EM O GLOBO

"A eleição é para mudar essas coisas que estão erradas, para se dar um rumo de ética no Brasil", diz tucano

Letícia Lins
Enviada especial

ARACAJU. O candidato do PSDB a presidente, José Serra, afirmou ontem que o Brasil precisa de decência, e afirmou que nenhum país vai para o primeiro mundo mergulhado em sucessivos escândalos no coração do governo, que é a Casa Civil. No aeroporto de Aracaju, ele comentou as denúncias de tráfico de influência que levaram à saída da Casa Civil da ex-ministra Erenice Guerra, sucessora da candidata do PT a presidente, Dilma Rousseff. Ele disse que o caso mostra a necessidade de moralizar o país.

Problema da ética não é de menor importância Serra criticou os delinquentes de partidos e campanhas eleitorais, mas sem citar nomes nem o PT, antes de sair para uma carreata pelas principais ruas de Aracaju.

Nós temos oportunidade de darmos um basta a isso (corrupção e o tráfico de influência), através desta eleição.

Esta eleição é precisamente para resolver isso. O problema da ética não pode ser tratado como algo natural, de menor importância. A eleição é para mudar essas coisas que estão erradas, para se dar um rumo de ética mo Brasil afirmou.

Decência é importante para o Bolsa Família, diz O tucano afirmou que a honestidade na administração pública é necessária para servir de exemplo ao povo e garantir a eficácia dos programas sociais do governo.

Eu tenho apresentado muitos compromissos, mas o que está acima de todos é o da decência. A decência é fundamental no Brasil, na vida pública, porque ela ser ve de exemplo à sociedade. A decência é importante para evitar que recursos como o do Bolsa Família , da saúde, da educação, sejam desviados para os bolsos de delinquentes de partidos e de campanhas eleitorais.

Não é possível que isso continue acontecendo no Brasil, como se fosse natural. É preciso tomar providências, não só na investigação, como também nesta eleição.

Serra afirmou que, no governo, se eleito, vai ocupar cargos de confiança com nomes que conheça bem.

Não dá para nomear para cargos-chave pessoas que você não conhece, ou conhece há pouco tempo. Na Casa Civil, já é o terceiro escândalo. É um atrás do outro. Você tem que nomear gente, tem que dar um padrão de comportamento dentro do governo. Eu tenho 27 anos de vida pública, de cargos no Congresso e no governo, e nunca nada disso aconteceu. Por quê? Porque você forma equipes com pessoas que você conhece e você controla. O que é fundamental defendeu.

O candidato do PSDB prometeu acabar com todas as casas de taipa do país, duplicar a BR-101, que corta o litoral, e ainda voltou a dizer que, se eleito, o salário mínimo será de R$ 600.

Sou economista, e sei que o Brasil tem dinheiro para isso.

Serra foi recebido com bandeiras, folhas de coqueiros e uma torcida que gritava mais o nome do candidato ao governo do estado, João Alves (DEM), do que o do presidenciável.

Volta, negão, volta negão, gritava a multidão, referindo-se ao democrata, que ficou o tempo todo ao lado do tucano.

Militantes invadem área de desembarque do aeroporto Os militantes invadiram a área de desembarque do aeroporto, provocando confusão com seguranças, que tentavam evitar que as vidraças que separam a área de desembarque do saguão fossem quebradas.

Serra ia percorrer o centro de Aracaju, inclusive visitando lojas e mercados públicos, mas só pôde cumprir uma parte do roteiro da carreata, visitando depois o Mercado Albano Franco. Albano, ex-governador de Sergipe, é deputado federal e disputa o Senado pelo PSDB. Mas ele não foi recepcionar Serra no aeroporto.

Comissão de ética só agora pune Erenice por esconder parentes

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Um dia após ser obrigada a pedir demissão por causa das denúncias de tráfico de influência na Casa Civil, a ex-ministra Erenice Guerra sofreu "censura ética" aplicada pela Comissão de Ética PÚblica da Presidência. A censura não foi aplicada em decorrência da. apuração das denúncias, mas porque Erenice, depois que assumiu a Casa Civil, em abril deste ano, deixou de entregar à comissão a Declaração Confidencial de Informações, um documento sobre seu patrimônio e sobre situações que suscitam conflito de interesse, inclusive relativa a familiares. Com isso, escondeu dados a respeito de seus parentes alojados em órgãos públicos. A "punição" não tem efeito prático, não impede Erenice de retomar ao serviço público ou ocupar cargos de confiança. Erenice poderá sofrer uma segunda censura ética se ficar comprovado que ela fez ou permitiu que houvesse tráfico de influência na Casa Civil.

Comissão de Ética pune Erenice com censura, sanção sem efeito prático

Tânia Monteiro

BRASÍLIA - Por esconder por cinco meses a existência de uma rede de parentes instalados em órgãos públicos e em escritórios de advocacia que fizeram funcionar a máquina de lobby instalada na Casa Civil, a ex-ministra Erenice Guerra foi ontem, um dia depois de ser obrigada a pedir demissão, "punida" com uma censura ética. A "punição" não tem efeito prático, não a impede de retornar ao serviço público nem de ocupar cargos de confiança.

A censura foi aplicada porque Erenice, após assumir a Casa Civil, em abril, ignorou as três notificações da Comissão de Ética, exigindo que apresentasse ao órgão a Declaração Confidencial de Informações (DCI), na qual constariam sua variação patrimonial, atividades paralelas à atividade pública e situações que suscitam conflito de interesse - o que também inclui familiares.

O questionário, por exemplo, perguntou se Erenice tinha parente até quarto grau, em linha reta, colateral ou por afinidade, que exercia atividades em áreas afins à atuação da Casa Civil e pedia para identificá-los.

A omissão de Erenice manteve nas sombras a figura de seu filho, Israel Guerra, ex-funcionário da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), dono da Capital Assessoria, que operava na intermediação de negócios de áreas que passavam pelo crivo da Casa Civil. Erenice também omitiu que dois irmãos eram ligados ao escritório Trajano & Silva Advogados, palco de negócios feitos por Israel.

Na gestão de sua mãe, Israel facilitou a vida da empresa de transporte aéreo Master Top Linhas Aéreas (MTA) nos Correios, pelo qual recebeu R$ 120 mil de um contrato que ultrapassaria R$ 5 milhões.

Advertência. A censura ética, porém, não tem valor prático. Não impede que ela assuma nenhum novo posto no governo, apenas faz constar em sua ficha de servidora, pelo período de três anos, a "punição" - aplicada a servidores que já deixaram o governo. Se ainda estivesse no posto, sofreria "advertência" e poderia receber uma recomendação de demissão.

Erenice poderá sofrer uma segunda censura ética, se ficar comprovado que ela fez ou permitiu que houvesse tráfico de influência na Casa Civil. Ontem, na mesma reunião, a comissão decidiu abrir processo para apurar as denúncias, mas não tem prazo para completar a investigação. Se for achada irregularidade, poderá haver processo administrativo.

"A solicitação não atendida e sua reiteração configuraram falta ética da que é, agora, ex-autoridade", disse o relator do processo, Fábio Coutinho, acrescentando que "essa censura ética agora é como se ela ficasse registrada no currículo". Para evitar que casos como este se repitam, Coutinho anunciou que a comissão mudou o procedimento, que permitia que a autoridade levasse meses até apresentar a DCI. Hoje, 54 autoridades do Executivo estão atrasadas na apresentação das suas declarações. A comissão não revela quem são, informando apenas que quatro são ministros e poderão sofrer "advertência".

Depoimento. Coutinho não quis classificar as denúncias como "graves", alegando que os demais problemas estão sendo investigados, e disse que a comissão entendeu que "era necessário converter o procedimento preliminar em processo de apuração ética". Erenice e os parentes poderão ser ouvidos.

Ele disse que por três vezes - em abril, junho e setembro - a comissão reiterou a Erenice a necessidade de apresentar a sua DCI, já que ela assumiu em abril, quando a ex-ministra Dilma Rousseff se tornou candidata.

''Não pode ser encarado como algo natural'', afirma Serra

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Antonio Carlos Garcia

O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, disse ontem, em Aracaju, que nenhum país vai para o primeiro mundo mergulhado em escândalos no coração do governo. A resposta foi dada após o tucano ser questionado sobre o caso que apura a conduta da ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra, que deixou o cargo quinta-feira sob acusações de tráfico de influência. "Isso não pode ser encarado como algo natural."

Serra cobrou a necessidade de providências, "não só na investigação, como também nessa eleição". Sem citar nomes, disse que o governo tem de ditar um padrão de comportamento ao nomear pessoas para sua composição. "Tenho 27 anos de vida pública, nunca nada disso aconteceu, porque você forma equipes com gente que conhece e você controla, o que é fundamental."

Em seu discurso, o tucano citou também o Bolsa-Família, programa de maior popularidade do governo Lula. "A decência é importante, também, que é para evitar que recursos do Bolsa-Família, Educação e Saúde sejam desviados para os bolsos de delinquentes de partidos e de campanhas eleitorais. Não é possível que isso continue acontecendo no Brasil e se ache isso natural."

Projetos. Questionado sobre os planos para o Nordeste, Serra disse não ter dúvidas de que a região precisa de obras estruturais do governo federal e criticou a lentidão das obras de duplicação da BR-101. Destacou a necessidade de se investir em formação profissional para os jovens e repetiu a promessa de elevar o salário mínimo para R$ 600 - segundo ele, o Brasil tem dinheiro suficiente para isso.

O presidenciável chegou a Aracaju com um atraso de quase três horas. Por conta disso, teve de cancelar uma caminhada pelo centro comercial da capital, substituída por uma carreata do aeroporto até a sede do partido, na zona sul da cidade.

Diversas lideranças foram recepcionar Serra no aeroporto, a exemplo do candidato do DEM ao governo do Estado, João Alves Filho. Mas alguns representantes importantes do PSDB de Sergipe não compareceram, como o candidato tucano ao Senado, Albano Franco, e a presidente do diretório estadual, Miriam Ribeiro.

Filho de Erenice 'nomeou' amigos para a pasta de Dilma

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Ex-diretor dos Correios diz que sobrinho foi indicado por Israel Guerra

O filho de Erenice Guerra, ex-braço direito de Dilma Rousseff, indicou amigos para a Casa Civil quando a pasta era chefiada pela candidata do PT à Presidência.

Israel Guerra, Vinicius Castro e Stevan Kanezevic, que trabalharam juntos na Anac, são apontados como o "grupo de lobby" que usava a empresa privada Capital Consultaria para organizar reuniões e liberar recursos no governo federal.

A indicação é confirmada pelo ex-diretor dos Correios Marco de Oliveira, tio de Castro, que conta que o sobrinho, sócio oculto da Capital, usou a mãe como laranja para abrir a empresa.

Erenice e Castro perderam os cargos após reportagens mostrarem tráfico de influência na Casa Civil.

O advogado de Israel não respondeu a ligações. Castro e Kanezevic não foram localizados.


Filho de Erenice levou amigos à Casa Civil

Três pessoas que trabalharam com Israel na Anac, uma delas seu sócio oculto em empresa, foram nomeadas para a pasta

Um dos amigos de Israel pediu demissão ontem; envolvidos não foram localizados para falar sobre nova revelação

Fernanda Odilla
Andreza Matais
Fábio Amato
Rubens Valente

DE BRASÍLIA - O filho de Erenice Guerra, que perdeu o cargo após acusações de tráfico de influência, levou amigos para trabalhar na Casa Civil quando o ministério era comandado por Dilma Rousseff, candidata do PT à Presidência.

Israel Guerra e dois amigos são apontados por empresários como o "grupo do lobby" que usava uma empresa privada para intermediar reuniões, viabilizar projetos e liberar recursos no governo.

Israel, Stevan Kanezevic, Vinícius Castro e Marcelo Moreto trabalharam juntos na Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). Em seguida, os três amigos do filho de Erenice foram nomeados para ocupar cargos na Casa Civil sob Dilma -quando Erenice, seu braço direito e depois sucessora, era secretária-executiva da pasta.

Vinícius foi nomeado assessor de Erenice Guerra. Stevan é cedido para o Sipam (Sistema de Proteção da Amazônia), subordinado à Casa Civil. Um ano antes, Moreto, que não foi citado por envolvidos no escândalo até aqui, já havia trocado a agência pelo cargo de assessor técnico do Sipam.

Tão logo Vinícius e Stevan saíram da Anac, foi aberta em Brasília a Capital Consultoria, que começou as atividades em 6 de julho de 2009.

Trata-se da firma que tem Vinícius e Israel como sócios ocultos e que foi usada para ajudar uma empresa do setor aéreo a conseguir autorização da Anac e fechar contrato com os Correios, primeiro negócio a lançar suspeitas de tráfico de influência.

Stevan é citado pelos consultores Fábio Baracat e Rubnei Quícoli como um dos mais atuantes nas promessas de abrir portas. Estava sempre presente nas reuniões com Vinícius e Israel.

Ontem, Stevan pediu demissão do cargo no Sipam e voltou à Anac. Ele é o terceiro que cai depois das acusações de que o lobby da Capital levou empresários para audiência dentro da Casa Civil, como a Folha revelou.

Tio de Vinícius, o ex-diretor dos Correios Marco Antonio de Oliveira afirmou à Folha que o filho de Erenice fazia nomeações na Casa Civil.

Ele confirma que o próprio sobrinho foi um dos indicados de Israel. "Eles se conheceram na Anac e, na saída da Anac, o Vinícius recebeu o convite do Israel para trabalhar na Casa Civil", disse.

Oliveira reclama que a irmã foi usada como laranja. No papel, uma das sócias da Capital é a mãe de Vinícius, Sônia Elizabeth Oliveira Castro, que sobrevive vendendo queijo no interior de Minas.

"[Criaram] uma empresa para fazer consultoria geral. Ele não poderia aparecer porque era do governo. Por isso botou minha irmã. Acho uma coisa deplorável", disse.

Segundo relato de Vinícius ao tio, a Capital resolveu um problema da empresa MTA (Master Top Airlines) na Anac, que renovou o contrato com a companhia cargueira, ampliando o prazo de três para dez anos mesmo com parecer técnico contrário da agência . "Era esse o perfil deles, vinham da Anac."

OUTROS LADOS

Procurados pela Folha, Stevan e Vinícius não foram localizados. O Sipam informou que Moreto está em férias. Ele também não foi localizado. O advogado de Israel, Eduardo Ferrão, não respondeu às ligações.

A Casa Civil informou que Moreto foi nomeado pela Secretaria Executiva da Casa Civil, à época ocupada por Erenice. Stevan foi nomeado pelo secretário de Administração, Norberto Temóteo.

"Essas nomeações atenderam a solicitações do diretor-geral do Sistema de Proteção da Amazônia", diz a nota.

Chefe da Casa Civil foi a nona a cair por conta de denúncias

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Lucas de Abreu Maia

Em plena campanha presidencial, a saída de Erenice Guerra da Casa Civil foi uma das mais rápidas, se comparada aos outros oito ministros obrigados a deixar o cargo no governo Lula por denúncias de uso indevido de dinheiro público. Ela resistiu apenas cinco dias na pasta desde o surgimento das denúncias de lobby e tráfico de influência envolvendo seu filho Israel Guerra.

Antes dela, a última titular de uma pasta a sair do governo sob acusações de irregularidades havia sido Matilde Ribeiro (Igualdade Racial), que conseguiu se segurar no cargo por 19 dias. Matilde foi acusada, em meio ao escândalo dos cartões corporativos, de gastar R$ 171 mil em um cartão do governo durante viagem ao exterior.

Primeira ministra a cair, Benedita da Silva permaneceu na Esplanada por quatro meses depois de ser acusada de usar recursos da União para uma viagem pessoal à Argentina em 2003. Ela devolveu o dinheiro, mas foi exonerada por Lula em janeiro de 2004.

Ao todo, nove ministros deixaram o governo depois de envolvimento com denúncias de corrupção. A maioria das quedas seguiu o mesmo roteiro: denúncias, negação por parte dos ministros e pedido de demissão. Todos - independentemente do tempo em que conseguiram se manter no cargo - deixaram o governo negando as acusações.

Lula ataca tucanos e imprensa durante comício em Minas

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Wilson Tosta

Em comício marcado por acusações à imprensa e clima de "já ganhou", o presidente Lula provocou ontem os tucanos, que acusou de estarem com "raiva" diante da possibilidade de derrota.

Segundo Lula, primeiro seus adversários não acreditavam que venceria em 2002; depois, apostaram que seu primeiro governo fracassaria e eles voltariam ao poder em 2006; por fim, acharam que sua segunda gestão não daria certo, o que também não se confirmou. "Deu tão certo que até eles colocam a minha cara no programa deles", ironizou, no ato que teve cerca de 10 mil pessoas no Terreirão de Juiz de Fora.

O presidente lembrou as críticas que recebeu quando resolveu que Dilma Rousseff seria sua candidata à Presidência. "Eles diziam: "Esse Lula é louco. Vai escolher uma mulher? O Brasil não tem o hábito de votar em mulheres. Vai escolher uma pessoa que não tem cultura política?"Algumas pessoas diziam: "O Lula está escolhendo alguém que nunca fez comício"", afirmou, criticando os "especialistas".

Sem mencionar o candidato José Serra, Lula o criticou por prometer um salário mínimo de R$ 600. "E agora na política vale tudo. Eles até prometem mais aumento para o salário mínimo", disse. "Será que eles pensam que o povo é tonto e não sabe que eles governam este país há 200 anos e não fizeram o que estão prometendo agora?"

Imprensa. O presidente voltou a mirar na imprensa. "Essa gente não nos perdoa. Basta que você veja alguns órgãos e jornais do Brasil. Aliás, alguns órgãos e jornais deveriam ter a cor do partido que eles defendem e a cara do candidato que defendem e parar de falar em neutralidade", atacou. "Porque na verdade quem faz oposição neste país é determinado tipo de imprensa. Ah, como inventam coisa contra o Lula. Olha, se eu dependesse deles para ter 80% de aprovação neste país eu tinha zero. Porque 90% das coisas boas deste pais não é mostrado (sic).
Nunca disseram que foi um metalúrgico , ajudado por esta gente, e ajudado por vocês, que não teve um diploma universitário, que só tem o quarto ano primário e um curso do Senai, que é o presidente que mais fez universidade na história deste país."

Lula diz que imprensa "inventa" coisas

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Um dia depois de demitir uma ministra por acusação de lobby na Casa Civil, presidente volta a atacar jornais

Ataques do presidente são repetidos por Dilma, que evitou falar sobre as suspeitas de tráfico de influência na sua gestão

Paulo Peixoto
Enviado especial a Juiz de Fora (MG)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a criticar ontem a imprensa ao dizer que "alguns jornais" não são neutros e insinuar que eles apoiam a candidatura presidencial de José Serra (PSDB). Disse que os jornais "inventam coisas" contra ele.

As críticas foram feitas um dia depois de Lula demitir a ministra da Casa Civil, Erenice Guerra, ex-braço direito da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, depois de duas acusações de lobby envolvendo seus familiares em órgãos do governo.

Por 29 minutos Lula ironizou a oposição e criticou os jornais. Falou na condição de "cabo eleitoral" de Dilma, conforme ele próprio disse, durante comício da petista em Juiz de Fora (MG).

Dilma também atacou, afirmando que a oposição se utiliza de "calúnias e falsidades" contra o governo.

Para Lula, os jornais deveriam ter assumir "as cores do partido que defendem".

"Essa gente não nos perdoa."

Para o presidente, "quem faz oposição neste país -eles ficam doidos-, é determinado tipo de imprensa".

Lula chegou a falar que a imprensa inventa fatos contra ele. "Ah! Como inventam coisa contra o Lula", disse, acrescentando que não teria 80% de aprovação, mas "zero", se dependesse da mídia.

Os ataques começaram quando o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel (PT), candidato ao Senado, afirmou que a oposição percebe que vai perder a disputa e parte para "outros métodos", usando a imprensa como meio de propagação.

"Se não conseguem pelo voto, tentam pela calúnia e pela baixaria que plantam nos jornais", afirmou.

Pimentel foi afastado do comando da campanha de Dilma depois de comandar um "grupo de inteligência" na pré-campanha, que recebeu papeis com dados sobre aliados e familiares de Serra.

Logo depois, sempre sem citar o escândalo na Casa Civil, foi a vez de Dilma atacar.Mais cedo, durante entrevista coletiva, ela se negou a falar sobre as acusações, que se referem ao período em que ela ainda era a ministra.

"Diante da eleição, aqueles que temem perder no voto utilizam de mecanismos, utilizam de calúnias e falsidades. Por isso é importante que vocês estejam atentos e percebam que isso acontece sempre 15 dias antes das eleições", disse, no palanque.

Foi uma referência velada ao caso dos "aloprados", em que petistas foram flagrados com R$ 1,7 milhão em dinheiro vivo para comprar um dossiê contra Serra.

Campanha blinda Dilma em entrevistas

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Plínio Fraga e Ana Flor

DO RIO, DE SÃO PAULO. Um forte aparato de segurança e cerimonial nas entrevistas de Dilma Rousseff (PT) ajudou a blindá-la nos últimos dias de perguntas sobre a demissão de sua ex-braço direito Erenice Guerra e sobre o fato de que as acusações de lobby atingem o período em que a própria candidata comandava a Casa Civil.

A estratégia, que vem sendo adotada desde o início da campanha e reproduz o modelo de entrevistas da Presidência da República, ajuda a afastar Dilma do contato direto com os jornalistas.

Mas os cuidados foram reforçados desde o início da crise de Erenice. Além do púlpito usual e da tradicional limitação do número de perguntas, começou a haver uma escolha sem critério claro de quais veículos podem dirigir questões à candidata.

Ontem, Dilma deu entrevista em Juiz de Fora. Falou só sobre temas regionais e, na única vez em que foi questionada sobre Erenice, disse que não estava informada e se recusou a comentar.

Anteontem, na Associação Comercial do Rio, dia da queda de sua ex-assessora e sucessora, ela só falou sobre o tema por cinco minutos.

Dilma usou um acesso exclusivo e concedeu entrevista no auditório, ao qual chegou por entrada isolada.

Respondeu a sete perguntas em 17 minutos. Dessas, apenas duas faziam referência à crise na Casa Civil.

Jornalistas da "Folha do Turismo" (tiragem de 50 mil exemplares) e da "Folha Dirigida" (150 mil), escolhidos para perguntar, questionaram sobre temas de interesse específico das publicações.

Assim como a Presidência da República faz, a assessoria de Dilma envia uma equipe precursora que traça o caminho que a candidata fará do carro até o local de seu compromisso de campanha.

Busca sempre mantê-la distante dos jornalistas. Seguranças e assessores impedem que a candidata responda perguntas de improviso.

Nos comícios, há credenciamento de imprensa -algo que não ocorre usualmente com candidatos. Os jornalistas ficam sempre num "cercadinho" distante do palco.

Nas entrevistas, Dilma fica sempre a pelo menos dois metros de distância dos jornalistas. Um pedestal transparente é usado para amparar microfones e gravadores, e uma faixa de segurança garante que ninguém se aproxime.

Consultor diz ter avisado Casa Civil de que vazaria escândalo

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Quícoli afirma ter enviado e-mails a partir de dezembro de 2009

Rubens Valente
Enviado especial a Campinas

O consultor Rubnei Quícoli disse ter enviado à Casa Civil e-mails em que ameaçava revelar a políticos do PSDB e a jornalistas o esquema de lobby que a firma de um filho da ex-ministra Erenice Guerra operava na sede da Presidência da República.

Quícoli alegou que enviou as mensagens entre dezembro de 2009 e fevereiro de 2010 para forçar o governo a desautorizar a Capital Consultoria, que exigia comissão para "viabilizar" um pedido de financiamento feito pela empresa EDRB ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

O consultor havia sido contratado pela EDRB para "fazer virar" um projeto de energia solar no semiárido do Nordeste, segundo afirmou à Folha um dos donos da empresa, Aldo Wagner.

Os e-mails que Quícoli disse ter enviado entre dezembro e fevereiro estão endereçados a Vinícius Castro, servidor da Casa Civil e sócio oculto de Israel Guerra, filho de Erenice, na Capital.

MENSAGENS

Num dos e-mails, o consultor prometeu revelar os problemas "sem dó nem piedade".

Noutro, falava que quis se reunir com "Serra", referência ao então governador de São Paulo e hoje candidato à Presidência da República pelo PSDB, José Serra, mas diz que a reunião foi "adiada".

E ainda em outro e-mail, escreveu que iria procurar jornalistas da Folha , de "O Globo" e de outros "jornais a que tenho acesso".

Ontem, Quícoli disse à Folha que não levou adiante a ameaça e que jamais esteve com José Serra ou com outro político tucano parar tratar das denúncias.

O consultor afirmou que nunca teve relações com o PSDB, mas com o PDT e com PSB, ambos hoje na base aliada do governo Lula.

Afirmou que nos anos 80 era "militante de esquerda". Disse que trabalhou na campanha à Prefeitura de Campinas (SP) de Jacó Bittar - fundador do PT e amigo do presidente Lula. O consultor disse ter votado duas vezes em Lula, em 1989 e em 1994.

O consultor contou que seu único "contato indireto" com o governo de São Paulo, administrado pelo PSDB, foi uma ONG da qual ele foi vice-presidente e que, em 2006, prestou serviço de atendimento a ex-detentos do sistema penitenciário. Segundo ele, o contrato não previa remuneração aos diretores da ONG, da qual se desligou há dois anos.

Quícoli disse que a primeira vez que falou com um integrante da campanha do PSDB foi anteontem. A pessoa disse ser da produção de programas de TV do partido e queria saber se ele gravaria um depoimento para a propaganda de Serra. O consultor ainda não se decidiu.

O que pensa a mídia

Editoriais dos principais jornais do Brasil
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Mercedes Sosa - Gracias a La Vida

O Analfabeto Político ::Bertold Brecht

"O pior analfabeto é o analfabeto político.

Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos.

Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.

O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política.

Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e lacaio dos exploradores do povo."

Nada é impossível de Mudar

"Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo.

E examinai, sobretudo, o que parece habitual.

Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar."
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