sexta-feira, 17 de setembro de 2010

A vocação totalitária:: Roberto Freire

DEU NO BRASIL ECONÔMICO

Mais uma vez o governo Lula usa de seus métodos esdrúxulos para atribuir às vítimas a culpa de seus mal feitos.

Não bastasse a ação nebulosa de militantes do PT, que atuando na Receita Federal foram responsáveis pela quebra do sigilo fiscal de pessoas ligadas ao candidato da oposição, José Serra, e de milhares de outros cidadãos e cidadãs, temos, mais uma vez, denúncias de que a Casa Civil continua, em sua gestão, abrigo de negócios escusos, envolvendo agora diretamente a sua ministra chefe, senhorita Erenice Guerra, até recentemente reconhecida como "braço direito" da candidata do governo, Dilma Rousseff. Diante de fatos de tamanha gravidade, a resposta do governo, no entanto, é sempre a mesma: trata-se de um "factoide" da oposição, "desesperada" ante a possibilidade da derrota eleitoral. Ou, nos termos usados pelo presidente, de uma "baixaria da oposição".

Em nenhum momento, ao que se percebe, agiu o presidente da República como se espera de alguém que ocupa a representação máxima da sociedade, com a necessária isenção e disposição de apurar tais ilícitos para que continue representando os valores republicanos de impessoalidade que o cargo lhe exige.

Ao contrário, comporta-se como "chefe de uma facção", como muito bem definiu o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, extrapolando de forma sistemática sua função, vociferando contra as vítimas da ação de seus comandados.

A formidável operação de despiste montada pelo Planalto para desqualificar as denúncias do mais novo escândalo, no próprio núcleo da estrutura governamental, torna-o não apenas cúmplice desses crimes, que atingem o próprio Estado Democrático de Direito, mas também seu oculto incentivador.

O fato concreto é que essas sistemáticas e reiteradas violações da legalidade democrática é uma prática permanente do PT, que ao longo dos anos tem aperfeiçoado seus mecanismos de burla à vigência democrática, qualquer que seja o espaço que eventualmente ocupe, desde centros acadêmicos e sindicatos até prefeituras e governos estaduais, culminando agora com a presidência da República.

Assim, entende-se a vocação totalitária de Lula e de seu partido. Haja visto o desejo confesso do presidente de querer "extirpar o DEM" do cenário político nacional, e a crítica aberta do representante maior da "alma do PT", José Dirceu, ao reclamar do "excesso de liberdade" que goza a imprensa no país como claros sinais do incômodo que lhes causam o Estado de Direito, que vige desde 1988, graças à Constituição que, não por acaso, como sabem todos, não foi chancelada pelo PT.

O momento por que passa o processo democrático, pois, é de ameaça às conquistas da cidadania tão duramente conquistadas na luta contra a ditadura, por conta de um governo que busca colocar-se acima das leis e assim alavancar seu projeto de poder, à revelia de qualquer procedimento legal e usando o próprio Estado para atingir objetivos particulares. Como, aliás, já deixou muito claro José Dirceu recentemente.


Roberto Freire é presidente do PPS

Diálogo em decomposição :: José Álvaro Moisés

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Democracia envolve conflito, mas supõe cooperação, exige respeito entre contendores e capacidade de entendimento quando estiverem em jogo interesses públicos

As eleições de 2010 estão trazendo à tona sinais preocupantes. Por um lado, a campanha eleitoral mantém um tom monocórdio, com os principais candidatos repetindo quase à exaustão os mesmos argumentos sem despertar verdadeiramente o entusiasmo dos eleitores para os desafios que a sociedade brasileira enfrentará nos próximos anos. Por outro, a competição pelo poder perdeu muito do seu vigor, em grande parte, por causa da exagerada antecipação da campanha que o presidente da República protagonizou, com o uso indevido (e, em alguns casos, ilegal) de recursos simbólicos que a sua dupla função de chefe do governo e de chefe do Estado lhe atribui.

Há mais de dois anos Lula age com menosprezo, e de modo abusivo, a respeito da obrigação imposta por suas funções de separar o papel de presidente de todos os brasileiros (inclusive daqueles que se situam no campo da oposição ao seu governo) da sua condição de militante de um partido político. Não se trata de negar a ele o direito, como cidadão, de participar e de defender uma candidatura, mas de ter em conta que como primeiro mandatário tem o dever de preservar não só a liturgia do seu cargo, mas arbitrar democraticamente conflitos típicos da competição eleitoral que a campanha tende a exacerbar. Mas, ao invés de agir como um dos responsáveis pela normalidade das eleições, Lula tem tomado partido unilateralmente em todos os conflitos surgidos recentemente.

A preocupação com isso é mera formalidade da "democracia burguesa", como diriam muitos de seus companheiros, ou algo a ser levado em conta? Ajuda a responder isso a observação do tom assumido pela campanha nos últimos dias. No auge da disputa envolvendo as denúncias a respeito da quebra do sigilo fiscal de pessoas ligadas ao candidato José Serra, agravadas pela revelação de que práticas de tráfico de influência podem estar ligadas a pessoas da família da ex-ministra-chefe da Casa Civil, Lula radicalizou o discurso e defendeu a extirpação de parte da oposição do cenário político; referindo-se aos Democratas, endossou Jorge Bornhausen (que anos atrás preconizara o fim da "raça do PT"), ou seja, contra a Constituição, discriminou e estimulou o arbítrio contra opositores. Mas não conseguiu manter a ministra Erenice Guerra em seu posto, revelando uma vulnerabilidade.

A resposta ao presidente foi contundente: FHC disse que Lula age mais como chefe de facção do que como chefe de Estado, e Rodrigo Maia, presidente do DEM, comparou-o a Hitler. Ressalvados os exageros verbais próprios da disputa eleitoral, os fatos apontam para certa deterioração preocupante do diálogo político. Democracia envolve conflito, mas supõe cooperação, exige respeito entre os contendores e a sua capacidade de entendimento quando estiverem em jogo interesses públicos; o contexto da campanha não justifica, portanto, que as pontes de diálogo sejam "queimadas".

Na raiz disso está o relativo desequilíbrio imposto à disputa pelo governo. O regime democrático se distingue de suas alternativas não apenas porque se baseia em eleições, mas porque assegura às diferentes forças políticas o seu direito de contestar quem está no poder e de competir por ele em condições de igualdade. Igualdade absoluta quase nunca existe, mas leis, regras e normas do processo eleitoral existem para maximizá-la. Se forem desqualificadas - ou se os adversários forem vistos como "inimigos" a ser eliminados - isso não afeta apenas a campanha, mas sinaliza um claro descompromisso com a manutenção e o aprofundamento da democracia, que pressupõe liberdade e igualdade.


José Álvaro Moisés é professor titular de Ciência Política da USP e autor, entre outros, do livro Democracia e confiança - por que os cidadãos desconfiam das instituições públicas - (EDUSP, 2010).

A queda :: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

O presidente Lula age de acordo com as pesquisas eleitorais, nada importa mais do que eleger Dilma sua sucessora, e no primeiro turno. E a demissão da ministra Erenice Guerra pode ser um sinal de que a crise começa a afetar, mesmo que minimamente, as intenções de voto em Dilma.

Toda a estratégia montada por Lula há muito tempo previa uma eleição polarizada para ser resolvida a 3 de outubro.

Por isso, sempre que alguém aventa a possibilidade de haver um segundo turno, é acusado de golpismo.

Como se, como diz Marina Silva, dar mais tempo ao eleitor para se decidir fosse um ato de lesa-pátria, uma traição aos ideais democráticos.

Estranha democracia essa, que teme a confrontação direta entre os candidatos, que tem pressa em definir a eleição na primeira rodada.

Na verdade, o que os defensores da candidatura Dilma Rousseff temem, especialmente seu mentor, o presidente Lula, é que ela tenha que se expor mais ao debate durante o segundo turno, em condições de igualdade com Serra ou, mais remotamente, com Marina.

Na eleição de 2002, o presidente do Ibope dizia que, se o deputado Ciro Gomes tivesse viajado para a Austrália com sua mulher, Patrícia Pillar, e lá ficasse até o fim da eleição, estaria eleito. Ao contrário, ficou por aqui fazendo campanha e acabou pagando pela língua.

Dilma não chega a estar tão escondida quanto se tivesse viajado para a Austrália, mas tem sido protegida por um esquema palaciano o mais que é possível.

Até mesmo um púlpito montaram para suas entrevistas coletivas, de forma a afastá-la dos repórteres.

Por que teria Dilma que falar sobre o caso da ministra Erenice Guerra?, pergunta o líder do governo Cândido Vaccarezza. Ora, simplesmente porque ela foi demitida da Casa Civil depois de sucessivos escândalos envolvendo sua família, e quem a colocou lá foi a própria Dilma. E porque vários dos casos denunciados ocorreram quando Dilma ainda era ministra-chefe do Gabinete Civil, e Erenice, seu braço-direito.

O que eu tenho a ver com isso?, pergunta a própria Dilma. Tudo, já que Erenice não tem existência própria sem Dilma, assim como Dilma não existe sem Lula.

Erenice não chegaria ao Ministério sem o apoio de Dilma, nem Dilma seria candidata a presidente da República sem Lula querer.

Fora isso, a demissão da ministra e as medidas anunciadas pelo ministro da Fazenda para tentar conter o vazamento de dados do Imposto de Renda de políticos e seus parentes mostram que as denúncias tinham fundamento e não são meras ações eleitoreiras, como o próprio presidente alegou inicialmente.

Na reta final da campanha eleitoral, eis que mais uma vez, a exemplo do que aconteceu em 2006, os aloprados petistas surgem para tumultuar o ambiente político que se anunciava risonho para a candidatura oficial de Dilma Rousseff.

Hoje, os aloprados surgiram em diversos lugares, e, embora nenhuma ação criminosa denunciada tenha o impacto daquela de 2006, pelo menos visual a montanha de dinheiro vivo mostrada nos jornais e na televisão era a expressão material do mal feito , a variedade e a gravidade de crimes cometidos no entorno do PT e do Palácio do Planalto podem ter impacto semelhante.

As denúncias sobre quebras de sigilos de parentes do candidato oposicionista José Serra, e de pessoas ligadas ao PSDB, deixam claro que, em meio às tantas irregularidades que surgiram na Receita Federal, houve, sim, um aspecto político relevante, ainda mais quando se sabe que as informações sigilosas apareceram em dossiês feitos dentro da campanha petista e em blogs ligados à campanha de Dilma Rousseff.

Mas o tema é de difícil entendimento para a média do eleitorado brasileiro, e sua repercussão ficaria restrita a um eleitor mais bem informado se não surgisse essa série de denúncias de lobby com objetivos financeiros dentro do Gabinete Civil da Presidência da República.

As pesquisas, que continuam dando a vitória de Dilma no primeiro turno, mostram que, entre os eleitores que se dizem bem informados sobre as denúncias, e entre os mais escolarizados e com renda mais alta, já há uma mudança de atitude em relação à candidatura oficial.

Entre esses, a queda de Dilma e a subida de Serra e Marina já indicam que haveria um segundo turno.

Outro fator que pode influir negativamente na escolha dos eleitores é a proximidade do ex-ministro e deputado cassado José Dirceu com a candidata oficial.

A palestra de Dirceu para sindicalistas em Salvador, ressaltando a força que o PT terá num futuro governo Dilma, deixou incomodados os dirigentes petistas e o Palácio do Planalto.

A imagem de Dirceu está associada à ala mais radical do PT, e ao mensalão, de cujo esquema foi acusado de ser o chefe da quadrilha pelo Ministério Público.

Sua influência num governo que não terá Lula para controlar seus aloprados assusta a classe média.

Aloprados foi como o presidente Lula chamou companheiros de partido que, na sua campanha de reeleição, se meteram em uma grossa enrascada ao tentar comprar com R$ 1,7 milhão em dinheiro vivo um dossiê com supostas denúncias contra o então candidato ao governo de São Paulo, José Serra, resvalando de maneira indireta na candidatura tucana ao Palácio do Planalto, naquele ano assumida por Geraldo Alckmin.

O presidente Lula não conseguiu ganhar no primeiro turno, como todas as pesquisas de opinião indicavam, devido à repercussão do episódio, e levou uma semana para se recuperar do baque. No segundo turno, teve uma vitória exuberante sobre Alckmin.

Ainda não há indicações oficiais de que a sucessão de escândalos abalou a tendência da maioria de votar em Dilma no dia 3, como Lula está pedindo. E Lula hoje é muito mais popular do que em 2006. Mas ainda faltam 17 dias para a eleição. E, como mostra a demissão da ministra Erenice Guerra, por mais popular que seja, o presidente Lula não pode tudo.

À deriva :: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

É o que dá o Congresso despir-se de suas prerrogativas, a oposição não funcionar, a sociedade se alienar, a universidade se calar, a cultura se acovardar, o Ministério Público se intimidar e a Justiça demorar a decidir: perde-se a referência do que seja certo ou errado.

Chega-se ao ponto de uma testemunha dizer com todos os efes e erres que uma quadrilha de traficantes de influência funciona a partir da Casa Civil da Presidência da República e que a segunda pessoa na hierarquia, substituta da ministra hoje candidata a presidente do Brasil, intermediava contatos mediante o pagamento de R$ 40 mil mensais.

Foi essa quantia que o consultor Rubnei Quícoli disse ao jornal Folha de S. Paulo que o filho e o afilhado da ministra cobraram dele para "apressar" a liberação de recursos do BNDES.

Antes disso, a revista Veja já apresentara outro caso - menos contundente até - de venda de influência na Casa Civil, com a mesma família da mesma Erenice Guerra, até ontem ministra e, na época da transação denunciada agora, secretária executiva e braço direito de Dilma Rousseff.

Se Dilma não sabia quem era Erenice, trabalhando com ela desde o Ministério de Minas e Energia, e se Erenice não sabia o que faziam seus parentes é ainda pior. Duas ineptas a quem se pode enganar facilmente, sendo que uma delas se dispõe a dirigir a República, a fazer escolhas estratégicas e a se responsabilizar por milhares de contratações.

Quando se trata de escândalos é arriscado falar em superlativos. Sempre pode haver um maior e um mais grave no dia seguinte. Mas o governo habitualmente dá um jeito de encerrar o assunto, jogar a sujeira para debaixo do tapete de maneira a tornar tudo banal e absolutamente sem importância diante dos benefícios que recebem os mais pobres, o crédito dos remediados e as benesses dos mais ricos.

Será udenismo, farisaísmo, tucanismo, direitismo ou golpismo considerar grave a Casa Civil - o gabinete mais importante da República depois do presidencial - ser o centro de três escândalos, um pior que o outro, no período de seis anos?

No primeiro, em 2004, descobriu-se que o braço direito do ministro era dado à prática da extorsão; foi filmado pedindo propina a um bicheiro. Waldomiro Diniz foi demitido "a pedido" e nada mais aconteceu.

No segundo, em 2007, descobriu-se que fora produzido na Casa Civil um dossiê com os gastos de Fernando Henrique e Ruth Cardoso para chantagear a oposição na investigação sobre gastos da atual Presidência. Um funcionário de baixo escalão foi devolvido ao "órgão de origem".

Na época, a desfaçatez chegou ao ponto de a então ministra Dilma Rousseff dizer que telefonara para se desculpar com a ex-primeira-dama e que fora uma boa conversa. Ruth, falecida pouco depois, não desmentiu Dilma em público, mas nem houve pedido de desculpas nem a conversa foi cordial.

No terceiro, em 2010, é o que se vê e ouve. Erenice Guerra, era mais do que evidente, precisava sair para preservar a candidatura de Dilma e acalmar a grita. Não fosse a proximidade da eleição, a amiga Erenice continuaria sendo defendida como foi até horas antes de aparecer uma testemunha da tentativa de extorsão e enterrar os argumentos sobre golpes, factoides e armações.

Mesmo que seja verdadeira a inverossímil versão de que ela redigiu uma nota de resposta sem consultar nenhum capa preta do palácio, Erenice apenas seguiu o exemplo que vem de cima e carregou nas tintas eleitorais como tem mandado o figurino.

O governo fez uma conta de custo benefício e, pelo jeito, achou que sairia mais barato afastá-la. De fato, por pior que seja a repercussão e por mais que a demissão evidencie o fundamento das denúncias, a manutenção da acusada no cargo seria injustificável. Haveria três problemas: rebater as acusações, defender a ministra e explicar o que ela ainda estava fazendo na chefia da Casa Civil.

A respeito do impacto eleitoral, assim como no caso das quebras de sigilo na Receita Federal, este é o aspecto menos relevante, embora seja de espantar a indiferença geral. É que a eleição passa, o Brasil continua e toda conta um dia é cobrada.

A grande guerra:: Míriam Leitão

DEU EM O GLOBO

A demissão de Erenice Guerra do cargo de ministrachefe da Casa Civil não desobriga o governo de investigar o caso. Ele tem indícios escabrosos de tráfico de influência no coração do governo e está ligado a uma pessoa que desde 2002 tem trabalhado diretamente com a candidata Dilma Rousseff. Erenice é o elo entre este governo e o que pode ser o próximo. É preciso entender o que houve.

Há casos que começam simples e só com o tempo se complicam. Esse estourou já num grau de complexidade espantoso. A exministra parecia ser um consórcio: dois filhos, dois irmãos, irmã, ex-cunhada, assessor, mãe de assessor, irmão da mãe de assessor, marido, todos de alguma forma envolvidos em negócios ou conflito de interesses dentro do governo.

Sua primeira reação, quando começaram a ser publicados os abundantes indícios de irregularidades que a cercavam, foi fazer uma nota com timbre e autoridade do Palácio do Planalto acusando o candidato adversário de ser aético e derrotado. Mais uma inconveniência no meio de tantas, porque o primeiro a fazer era se explicar ao cidadão e contribuinte brasileiro.

Mas essa nota foi mais uma prova de que o Brasil não tem mais governo, tem um comitê eleitoral em plena e intensa atividade. A demissão de Erenice, que ninguém se engane, não é um tardio ataque de moralidade.

É o resultado de um cálculo eleitoral. A dúvida era o que poderia atingir a candidata Dilma Rousseff manter Erenice, insistindo na tese de que ela era vítima de uma jogada eleitoral, ou demiti-la para tentar reduzir o interesse no caso? Nada do que foi divulgado pode acontecer num governo sério. Filhos de ministra não podem intermediar negócios, não podem cobrar taxas de sucesso; assessor de ministra não pode ser filho da dona da empresa que faz a defesa de interesses dentro do governo; marido da ministra não pode estar num cargo público que dê a ele o poder de decidir sobre o fechamento do contrato que está sendo negociado.

Ministra não faz essas estranhas reuniões com fornecedores do governo. Há outras impropriedades, mas fiquemos nessas primeiras.

A manchete da Folha de ontem trouxe a arrasadora entrevista de um empresário que, munido de emails e cópias de contratos, diz que foi vítima de tentativa de extorsão ao pedir um empréstimo no BNDES. Além das taxas variadas e dos milhões que ele afirma ter sido pedido para a campanha da candidata do governo, chegou a ser pedido 5% num empréstimo de R$ 9 bilhões.

Se ele fosse concedido, isso seria R$ 450 milhões.

Erenice Guerra trabalhou com Dilma Rousseff desde a transição, foi seu braço-direito, a enviada especial a missões difíceis, a pessoa a quem ela entregou o cargo quando saiu, em quem tinha absoluta confiança. O vínculo não é criado pela imprensa, não é ilação, são os fatos.

Esse não é o caso apenas do filho de uma ex-assessora, como Dilma disse no seu último debate. Esse é um conjunto assustador de indícios de um comportamento totalmente condenável no trato da questão pública.

Não é importante quem ganha a eleição. É importante como se ganha a eleição.

A democracia estabelece que o vencedor é aquele que tem mais votos e ponto final. Cabe aos eleitores dos outros candidatos respeitar a pessoa eleita, a estrutura de poder que ele representa e torcer pelo novo governo. Portanto, ao vencedor, o poder da República por um mandato. O problema é quando um grupo, para se manter no poder, usa a máquina pública como se fosse de um partido, quando um governo inteiro se empenha apenas em defender uma candidatura, e não o interesse coletivo, quando sinais grosseiros de mau comportamento são tratados com desleixo pelas maiores autoridades do país, sob o argumento de que se trata de uma briguinha eleitoral.

Nada do que tem acontecido ultimamente é aceitável num país de democracia jovem, instituições ainda não inteiramente consolidadas e desenvolvidas.

Não importa quem vai ser eleito este ano, o que não pode acontecer é o país considerar normal esse tipo de comportamento que virou rotina nos últimos dias.

As atitudes diárias do presidente da República demonstram que oito anos não foram o bastante para ele entender a fronteira entre o interesse coletivo e o do seu partido; entre ser o governante de todos os brasileiros e o chefe de campanha da sua escolhida; entre popularidade e indulgência plenária para todo o tipo de comportamento inadequado.

O país pode sair desta eleição derrotado em seu projeto, o único projeto que é de todos os brasileiros: o de construir uma democracia sólida, instituições permanentes e a concórdia entre os brasileiros.

O caso Erenice Guerra é assustador demais para ser varrido para debaixo do tapete.

Os indícios são de que a punição aos envolvidos no escândalo do mensalão, que agora respondem na Justiça por seus atos, não mudaram os padrões de comportamento dentro do governo. A Casa Civil não pode estar sempre no noticiário de escândalos.

É, na definição da candidata Dilma Rousseff, o segundo mais importante cargo do governo. Se é tudo isso, que se faça uma investigação do que havia por lá. Mas que não seja mais um doa a quem doer de fantasia; que não seja a apuração que nada apura, que perde prazos, que confunde e acoberta. Não é uma eleição que está em jogo. Ela pode já estar até definida a esta altura, com tanta vantagem da candidata governista a 15 dias da eleição. O que está em jogo é que país o Brasil escolheu ser, neste momento tão decisivo de sua história. Essa é a verdadeira guerra.

Geração espontânea? :: Eliane Cantanhêde

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - E não é que a Casa Civil caiu mesmo? A ministra Erenice Guerra foi convidada gentilmente a pedir demissão, e só falta o presidente Lula explicar se foi:

a) para fazer um gesto de caridade com a oposição, coitada, que vai perder feio em 3 de outubro;

b) porque sucumbiu a um complô maligno da imprensa com a elite branca contra a ministra;

c) diante da evidência de que Erenice, os filhos e os irmãos estavam botando a mão na cumbuca;

d) e/ou para todo mundo esquecer rapidinho que Erenice era unha e carne com Dilma Rousseff.

Com Erenice aboletada na Casa Civil, a poucos metros do gabinete presidencial, evidentemente o noticiário seria pautado pelo escândalo durante toda a reta final da campanha. Com Erenice de volta à sua insignificância de "ex-assessora", Lula certamente conta que o caso vá saindo da manchete e perdendo espaço, até se restringir a um pé de página e cair na vala comum do esquecimento, como tantos outros.

Só que Erenice Guerra não chegou ao cargo mais importante do governo porque quis ou por geração espontânea, mas, sim, porque foi indicada pela chefe Dilma, com quem trabalhou lado a lado. Como Dilma é franca favorita para vencer a eleição no primeiro turno, precisa explicar com que informações, com que critérios e de que forma escolhe e nomeia suas pessoas de confiança. Ou é demais pedir isso da virtual presidenta da República?

O PT sempre foi craque ao devassar a vida alheia, providenciar dossiês e contas bancárias para CPIs e até, se necessário, transformar cem em mil, ou mil em um milhão para potencializar o estrago no adversário. Então, como é que o governo nomeia uma pessoa toda enrolada para o ministério mais importante sem saber quem é?

O partido era muito bom para investigar os outros, mas perdeu o pique e não quer ouvir falar de investigação para si mesmo. Nem para o aliado PMDB, evidentemente.

A Casa da Mãe Rousseff :: Fernando de Barros e Silva

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

SÃO PAULO - A queda de Erenice Guerra é a primeira baixa do governo Dilma Rousseff. Parece estranho, mas isso é verdade em pelo menos dois sentidos.

Primeiro, há indícios de que a artilharia contra a ministra foi estimulada por aliados da candidatura petista, em busca de espaço na futura administração.

Segundo, e mais importante, porque Erenice Guerra deve sua vida política nos últimos oito anos e o cargo que ocupou até ontem exclusivamente a Dilma Rousseff.

Lula relutou antes de confirmar Erenice como ministra quando Dilma se lançou candidata. Acabou cedendo ao apelo, mas fez de Miriam Belchior, a quem preferia no cargo, a coordenadora do PAC.

Não é plausível que Lula ignorasse a parentela pendurada no Estado que a titular da Casa Civil trazia a tiracolo. Onde estava o serviço de inteligência do Planalto?

Ocupado com dossiês a respeito de quem? Até para um leigo parece óbvio que os negócios da família Guerra não resistiriam a um raio-x elementar.

Só o sentimento de onipotência e a convicção da impunidade explicam que tamanha lambança tenha sido praticada no interior do Planalto, tão perto da Presidência.

Não há, neste episódio, nenhum ministro do PMDB, nenhum deputado fisiológico da base aliada, nenhum braço periférico do aparelho estatal. O cenário é a Casa Civil e os personagens são crias de Dilma. E até o enredo, é bom lembrar, há muito deixou de ser estranho ao PT.

Quando o escândalo estourou, Dilma logo correu para separar sua campanha do governo: "Não vou aceitar que se julgue a minha pessoa baseado no que aconteceu com o filho de uma ex-assessora".

A primeira reação de Erenice, por sua vez, foi confundir governo e campanha, atribuindo as denúncias a manobras "em favor de um candidato aético e já derrotado".

São declarações contraditórias, mas movidas pela mesma conveniência. No momento em que se separam, Dilma e Erenice parecem se confundir numa única farsa.

Palavra de Jarbas sobre o escândalo da Casa Civil

Alceu Valença - Pot-Pourri - Cirandas/ Luar de Prata/ Ciranda da Aliança (Marco Zero Ao Vivo)

''É preciso recuperar a dignidade'', diz FHC

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O ex-Presidente se diz "triste" por não ter havido "amadurecimento" do governo - uma referência ao mensalão

Daiene Cardoso

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou ontem que a saída de Erenice Guerra do Ministério da Casa Civil não encerra o escândalo envolvendo o núcleo de poder do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "É um detalhe. Nada será suficiente. É preciso recuperar a dignidade", disse. "Como brasileiro, fico triste de ver tantos acontecimentos negativos. É a repetição deles."

Para FHC, o episódio demonstra que não houve amadurecimento político suficiente dos integrantes do governo, referindo-se ao escândalo do mensalão, que acabou provocando, em 2005, a saída do então ministro José Dirceu da Casa Civil. Dirceu foi sucedido na pasta por Dilma Rousseff, a candidata do PT à Presidência que deixou em seu lugar na pasta Erenice Guerra.

Em sintonia com o ex-presidente, o governador de São Paulo, Alberto Goldman (PSDB), avaliou que a saída de Erenice demonstra que existe um problema institucional na Casa Civil. "A instituição governo federal está muito abalada em vários pontos."

"Foco de problemas". No Recife, o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra, endureceu o discurso em entrevista convocada para falar sobre o episódio em nome do partido e da campanha do presidenciável José Serra. Guerra classificou as denúncias envolvendo a ex-ministra como "caso de polícia" e responsabilizou o governo federal que, na sua avaliação, só tomou a decisão de afastar Erenice com receio dos prejuízos à campanha da candidata do PT, Dilma Rousseff.

"A Casa Civil continua sendo um foco de problemas, de perturbação, de mau exemplo", afirmou. Apesar de não vincular diretamente a candidata petista às acusações contra Erenice, o senador foi enfático. "E cadê a Dilma? A Erenice era seu braço direito quando ela era titular da pasta", disse. Segundo o tucano, o prejuízo para a campanha de Dilma é certo. "O eleitor não é bobo."

Servidora diz que recebia 'agrados' para violar sigilos

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Adeildda Santos, servidora em cujo computador houve acesso ilegal a dados fiscais de tucanos, disse que recebia "agrados" de contadores para violar sigilos e que seu colega Júlio Bertoldo a apresentava a eles.

Bertoldo nega a acusação. A PF indiciou Adeildda sob a acusação de corrupção ativa.



Servidora diz ter ganho agrado por quebras

Adeildda dos Santos, que trabalhou na Receita Federal de Mauá, afirma que recebia pedidos de 3 contadores

Segundo ela, maioria das questões da PF foram sobre contatos entre seu colega Júlio Bertoldo e contadores


Andrea Michael

DE SÃO PAULO - A funcionária do Serpro Adeildda dos Santos, em cujo computador foi quebrado o sigilo de Eduardo Jorge Caldas Pereira e de outras pessoas ligadas ao PSDB e acessados dados de 2.900 pessoas, disse à Folha que recebia "agrados financeiros" de três contadores.

Ela disse que os pagamentos iam de R$ 50 a R$ 100. Adeildda disse que foi o servidor da Receita Júlio Bertoldo quem lhe apresentou os contadores e pediu que fizesse os serviços. Ele nega.

A servidora falou à Folha depois de depor à Polícia Federal. Ela foi indiciada sob a acusação de corrupção ativa, entre outros crimes.

Folha - Seu depoimento foi o mais longo. É verdade que, sobre servidores, o foco das perguntas era Julio Bertoldo?

Adeildda dos Santos- Sim.

Que tipo de perguntas lhe foram feitas sobre Bertoldo?

Sobre se ele me pedia para fazer favores, serviços.

Que tipo de serviço?

Pesquisa fiscal [para ver se o contribuinte tem débitos], de vez em quando. Enquanto eu tirava outras declarações de renda, ele me pedia também -e ele tinha senha para isso. Ele me passava um papel com CPF anotado.

Perguntaram sobre o Atella?

Perguntaram. Ele sempre ia lá na Receita [em Mauá].

E falava com quem?

Com o Julio, com a chefia. Ia frequentemente.

Sobre o acesso imotivado às declarações de Eduardo Jorge, de Veronica Serra e do marido dela, Alexandre Bourgeois, você foi questionada?

Perguntaram, mas isso eu desconhecia. Veronica? Eu nem sabia quem era.

E sobre os 2.900 acessos imotivados na sua máquina?

Isso ele não perguntou.

O que o Julio pedia para você?

O Julio tinha contato com uns contadores, me apresentou e falou que eu poderia tirar as pesquisas para eles, quando eles solicitassem. Isso em Ribeirão [Pires]. Ele fazia e passou para mim. Eu achava que os documentos iam para o contribuinte.

Isso continuou em Mauá?

O Julio pediu para eu continuar a atendê-los, sim.

Alguma vez ofereceram um agrado para a sra. para acessar dados sigilosos?

Não me ofereceram nem eu pedi. A pessoa depositou na minha conta.

Era um contador apenas com acesso a cadastro?

Também tinha acesso a declarações. Eram três [contadores], davam de R$ 50 a R$ 100 quando eu fazia algum serviço.

Em algum momento a sra. falou sobre esses agrados pelo e-mail da Receita?

Sim. Alguém ficou de me mandar um determinado agrado e eu respondi que poderia depositar.

Denúncia que atinge campanha de Dilma faz Lula tirar Erenice

DEU EM O GLOBO

Empresário relatou tráfico de influência com suposta cobrança de propina para gastos eleitorais

Após cinco dias de denúncias, uma nova acusação de tráfico de influência na Casa Civil, respingando agora na candidatura da petista Dilma Rousseff, levou o presidente Lula a demitir a ministra Erenice Guerra. Um empresário de Campinas, Rubnei Quícoli, acusou o filho de Erenice, Israel Guerra, de cobrar R$ 240 mil mais 5% de comissão para facilitar um empréstimo de R$ 9 bilhões do BNDES. O empresário diz que foi recebido na Casa Civil em novembro de 2009, quando Erenice era secretária-executiva da então ministra Dilma. Ele relatou ainda que, diante da negativa na liberação do empréstimo, recebeu proposta dos sócios da Capital Assessoria, empresa de Israel, de desembolsar R$ 5 milhões para pagar dívidas de campanha de Dilma Rousseff e Hélio Costa (PMDB), hoje candidato ao governo de Minas. Na carta de demissão, Erenice negou as acusações. Um filho e um irmão de Erenice, ainda empregados no governo do Distrito Federal, também foram demitidos ontem. No Rio, Dilma negou envolvimento no caso e disse que Erenice agiu corretamente ao sair, porque o episódio exige investigações. Hélio Costa refutou a acusação. O presidente Lula afirmou que Erenice prestou um serviço inestimável, mas que, na máquina pública não se pode errar.

Por Dilma, Erenice cai

Nova denúncia leva Lula a demitir ministra da Casa Civil para blindar sua candidata

Chico de Gois e Luiza Damé

BRASÍLIA - Novas denúncias sobre a suposta participação da Casa Civil no esquema de tráfico de influência no governo federal, respingando agora na candidatura da presidenciável petista Dilma Rousseff, levaram o presidente Lula a demitir, ontem, a ministra Erenice Guerra, que assumira o cargo no início de abril. De acordo com acusação do consultor da empresa EDRB Rubnei Quícoli, publicada na Folha de S.Paulo, Israel Guerra, filho da ministra, cobrou R$ 450 milhões para ajudá-lo na liberação de um empréstimo no BNDES que não foi aprovado pelo banco. E o ex-diretor dos Correios Marco Antonio de Oliveira, ligado a Erenice, teria pedido a ele doação de R$ 5 milhões, supostamente para cobrir despesas da campanha de Dilma e do ex-ministro das Comunicações Hélio Costa ao governo de Minas, que negam.

Quícoli confirmou ao GLOBO, ontem, as denúncias. Nas primeiras horas da manhã, o destino de Erenice Guerra já estava selado, para evitar prejuízo à candidatura de Dilma Rousseff. Sua saída do governo foi confirmada pouco depois do meio-dia, após encontro de Erenice com Lula, pelo porta-voz do Palácio do Planalto, Marcelo Baumbach, escalado para dar a notícia.

Na véspera, o Palácio do Planalto dera os primeiros sinais de que a sucessora de Dilma na Casa Civil estava em situação delicada, quando admitia em conversas a versão de que ela fora infeliz na nota de terça-feira, quando disse que as denúncias não passavam de calúnia e que eram fruto da campanha eleitoral e do adversário aético e derrotado, numa referência ao tucano José Serra. Como ministra da Casa Civil, Erenice tinha levado o escândalo que a atinge para a campanha.

Em nota, Erenice nega tudo

Erenice escreveu a nota após longa reunião com Lula e vários outros ministros, no Palácio do Planalto, mas a versão final foi considerada um tom acima do combinado.

Ontem, depois de seis dias de sucessivas denúncias envolvendo cada vez mais um maior número de parentes da ministra em atividades suspeitas no governo, o ministro de Comunicação do governo, Franklin Martins, e o chefe do Gabinete presidencial, Gilberto Carvalho, amanheceram na casa de Erenice, a residência oficial da Casa Civil.

A gravidade da nova denúncia somada a outras durante a semana, desde que a revista Veja denunciou o caso tornou a permanência de Erenice pesada demais para o governo.

O presidente Lula, que em crises semelhantes segurou o quanto pôde seus ministros, concluiu que não adiantava fazer campanha para Dilma pelo país arrastando um peso que acabaria puxando para baixo a candidatura de Dilma Rousseff.

Por isso, a solução foi sacrificar Erenice para tentar salvar a reputação de seu governo e de Dilma. A própria Dilma, já sabendo das novas denúncias, deu sinal verde logo cedo para derrubar Erenice.

Por volta das 13h, o porta-voz Marcelo Baumbach leu a carta de demissão da ministra, acertada com auxiliares de Lula e apresentada momentos antes ao presidente.

A vaga de Erenice foi assumida interinamente pelo secretário-executivo da Casa Civil, Carlos Eduardo Esteves Lima, um técnico que trabalha no governo desde a gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).

Na bolsa de apostas dois nomes foram citados para a chefia da Casa Civil: o do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, e da subchefe de Articulação e Monitoramento, Miriam Belchior, que coordena o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Mas a decisão deve ficar mesmo para depois da eleição. Há até quem aposte que Esteves pode ficar interinamente até o fim do governo Lula seria apenas mais um ministro técnico entre os muitos que se espalharam pela Esplanada desde abril, com a desincompatibilização dos ministros políticos.

Além da denúncia do empresário paulista, o jornal Correio Braziliense publicou ontem que Israel Guerra, filho, e o irmão da ministra José Euricélio Alves de Carvalho eram funcionários do governo do Distrito Federal, nomeados para cargos de confiança quando José Roberto Arruda (ex-DEM) ainda era governador. Eles foram demitidos ontem pelo governo local.

Na carta divulgada no início da tarde, Erenice, se dizendo muito abalada, desqualifica as denúncias envolvendo seus familiares. Afirma que, apesar de buscar esclarecer as acusações, defronto-me com toda sorte de afirmações, ilações ou mentiras que visam desacreditar meu trabalho e atingir o governo ao qual sirvo.

Ainda na carta, lida pelo portavoz da Presidência, diz que não fez nem permitiu que se fizessem atos que não tenham sido pautados pelo cumprimento de seu dever profissional: Nada fiz ou permiti que se fizesse, ao longo de 30 anos da minha trajetória pública, que não tenha sido no estrito cumprimento de meus deveres.

Lembrou que pediu investigações de órgãos competentes, como a Polícia Federal, Controladoria Geral da União (CGU) e a Comissão de Ética da Presidência, como prova de que nada temia, mas, mesmo assim, a sórdida campanha para desconstituição da minha imagem, do meu trabalho e da minha família continuou implacável.

E fez questão de recorrer à sua formação cristã para se dizer perseguida: Por ter formação cristã, não desejo nem para o pior dos meus inimigos que ele venha a passar por uma campanha de desqualificação como a que se desencadeou contra mim e minha família.

As paixões eleitorais não podem justificar esse vale-tudo. Depois de se reunir com Franklin, Erenice foi para o Planalto e informou aos principais assessores que deixaria o governo. Estava abatida, mas resignada. Fez apenas um rápido comentário ao se despedir: É a vida.

Do PT à queda

DEU EM O GLOBO

2001: Erenice Guerra passa a trabalhar na assessoria técnica do PT na Câmara dos Deputados.

Novembro de 2002: Integra a assessoria do governo de transição, quando começa a se aproximar de Dilma Rousseff.

Janeiro de 2003: É designada para a consultoria jurídica do Ministério de Minas e Energia, cuja titular é Dilma Rousseff.

27 de junho de 2005: É nomeada secretária-executiva da Casa Civil, quando Dilma substitui José Dirceu.

Março de 2008: É apontada como responsável pela elaboração do dossiê com os gastos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e a ex-primeira-dama Ruth Cardoso no cartão corporativo.

31 de março de 2010: Assume o comando da Casa Civil, substituindo Dilma Rousseff

ÚLTIMOS DIAS NO GOVERNO

11 de setembro/2010 (sábado): A revista Veja publica denúncia de que Israel Guerra, filho da ministra, pratica tráfico de influência no governo. Em nota, ela nega e diz que a reportagem é caluniosa.

12 de setembro (domingo): O presidente Lula se reúne com Erenice à noite, no Palácio da Alvorada.

Erenice nega as denúncias, e Lula manda que ela seja rápida na sua defesa.

13 de setembro (segunda-feira): A Comissão de Ética Pública decide apurar se Erenice desrespeitou o código de conduta das autoridades do governo federal. Vinícius Castro, assessor da Casa Civil e amigo de Israel Guerra, pede demissão.

14 de setembro (terça-feira): Em reunião de Lula com ministros, incluindo Erenice, ficou decidido que a PF e a CGU abririam investigação para apurar as denúncias. Erenice solta nota virulenta, chamando o tucano José Serra de aético e candidato derrotado.

14 de setembro (terça-feira): Em reunião de Lula com ministros, incluindo Erenice, ficou decidido que a PF e a CGU abririam investigação para apurar as denúncias. Erenice solta nota virulenta, chamando o tucano José Serra de aético e candidato derrotado.

16 de setembro (quinta-feira): A Folha de S. Paulo publica que Israel Guerra, filho de Erenice, cobrou comissão para intermediar financiamento do BNDES.

ÚLTIMAS HORAS NO GOVERNO

Entre 8h e 8h15m de ontem: O ministro de Comunicação Social, Franklin Martins, vai ao encontro de Erenice, na residência oficial da Casa Civil.

Por volta de 9h: Franklin deixa a casa de Erenice, sem dar entrevista.

Ele teria ido avisar da decisão do presidente Lula de demiti-la.

Por volta das 11h: A saída de Erenice é dada como certa no Planalto.

Meio-dia: Erenice entrega sua carta de demissão ao presidente.

13h: Desta vez, como a notícia era negativa, é o porta-voz da Presidência, Marcelo Baumbach, que anuncia formalmente a demissão.

Amiga, braço-direito de Dilma e ministra por apenas 170 dias

DEU EM O GLOBO

Enquanto esteve no governo, emprego para o filho, irmãos e até ex-cunhada

Chico de Gois e Luiza Damé

BRASÍLIA. Amiga, braço-direito, principal assessora e indicada por Dilma Rousseff (PT) para sucedê-la na função que deixara para entrar na disputa pela Presidência, Erenice Guerra, que ontem oficialmente pediu demissão da Casa Civil depois de seis dias de sangramento sob o teto do Palácio do Planalto, teve longa parceria com a presidenciável, mas curta permanência no cargo de ministra. Cargo, aliás, para o qual já era dada como certa na possível vitória da candidata do PT. A demissionária ficou ministra 170 dias.

Dilma foi a fiadora de sua auxiliar.

Para demonstrar força política, a mãe do PAC bancou Erenice, contrariando, numa das raras vezes, o desejo de seu chefe, o presidente Lula, que preferia ver Miriam Belchior, hoje coordenadora do PAC, na Casa Civil. Lula é amigo de longa data de Miriam, cujo apartamento em Santo André frequentava na época em que ela era Miriam Daniel, casada com o prefeito Celso Daniel, assassinado em 2002.

Erenice é filiada ao PT desde 81

Na posse de Erenice, e de demais ministros, em 31 de março, Lula fez questão de dar seu recado. Ao se dirigir a Dilma, afirmou: (...) Eu, se pudesse colocar duas ministras em uma só, eu colocaria a Erenice e a Míriam Belchior no... não cabe... Mas a Erenice é a parte que ajudou a Dilma a tocar a Casa Civil, e a Míriam Belchior ajudou a tocar o nosso PAC. Portanto, uma vai continuar cuidando do PAC.

Erenice é brasiliense, mas sua família saiu do Ceará em 1957 e levou dois meses viajando até chegar ao Distrito Federal.

O pai foi pedreiro em Brasília e, segundo Erenice, trabalhou na construção do Palácio do Planalto, mas morreu sem entrar no prédio. No discurso de transmissão do cargo, Erenice contou que, quando já estava na Casa Civil, trouxe a mãe para conhecer o Palácio e tirar fotos com o presidente. Ela disse que chorou ao perceber que a mãe estava emocionada.

Erenice é filiada ao PT desde 1981 e trabalhou no governo de Cristovam Buarque (hoje PDT, mas na época no PT) no Distrito Federal e na assessoria da bancada do partido na Câmara. No final de 2002, na equipe de transição, passou a atuar na área de infraestrutura, onde conheceu Dilma.

As duas também atuaram juntas no Ministério de Minas e Energia, onde a agora candidata foi ministra, antes de assumir a Casa Civil. Erenice era consultora jurídica da pasta.

Nomeada secretária-executiva da Casa Civil em junho de 2005, na época da crise do mensalão, Erenice se mostrou mão para toda obra e era uma das responsáveis por tocar a menina dos olhos de Lula e Dilma: o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Para quem, até então, fazia questão de atuar com discrição, avessa a entrevistas e badalações, Erenice teve passagem constante pelo noticiário político, sempre a vinculando a ações pouco ortodoxas. No início de 2008 seu nome foi parar no meio do escândalo dos cartões corporativos, onde foi apontada como principal suspeita de ter elaborado um dossiê a respeito de despesas de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) quando presidente (1995-2002).

Essa discrição externa não a inibiu de atuar com desenvoltura em áreas internas. Com o poder que mantinha, deu jeito de arrumar emprego para vários parentes: o irmão Antônio Eudacy Alves Carvalho foi para a Infraero e depois na Controladoria Geral da União (CGU); o filho Israel na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a irmã Maria Euriza Alves de Carvalho no Ministério do Planejamento; a ex-cunhada Gabriela Pazzini na Secretaria do Patrimônio da União; o outro irmão, José Euricélio, no Ministério das Cidades; e o amigo de seu filho, Vinícius Castro, na Casa Civil.

Durante a posse, elogios a Dilma

Além da Secretaria Executiva da Casa Civil, Erenice participava do conselho fiscal da Petrobras e do conselho da Chesf. Desde 2005, integrava o Conselho de Administração do BNDES. Foi justamente a acusação de que seu filho havia pedido R$ 5 milhões para intermediar um empréstimo do banco à empresa EDRB do Brasil a pá de cal na incipiente carreira de ministra de Erenice.

Na sua posse, diante de sua madrinha, Erenice foi toda elogios a Dilma e disse, no discurso, que não a decepcionaria: Tenho muito orgulho de estar substituindo a ministra Dilma na Casa Civil. E a única coisa que posso dizer é que farei tudo o que estiver ao meu alcance para não decepcionála, para honrar sua confiança em mim e para continuar esse trabalho que acho que é uma missão.

'Ele disse que era para buraco de campanha'

DEU EM O GLOBO

Quícoli diz que negociou empréstimo com assessores da Casa Civil; propina ajudaria campanhas de Dilma e Hélio Costa

Roberto Maltchik, Geralda Doca e Tatiana Farah

BRASÍLIA e SÃO PAULO. Protagonista da denúncia que resultou na demissão de Erenice Guerra, o empresário Rubnei Quícoli confirmou ontem ao GLOBO que negociou com assessores da Casa Civil e com a Capital Assessoria, empresa de lobby cuja sociedade é formada por um dos filhos de Erenice Guerra, para obter um empréstimo de R$ 9 bilhões junto ao BNDES. Quícoli acusa os sócios da Capital de tráfico de influência e de pedirem propina de R$ 5 milhões, supostamente endereçada às campanhas da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, e do candidato ao governo de Minas Gerais Hélio Costa (PMDB).

A tentativa frustrada de tomar o empréstimo, confirmada pelo banco, serviria para viabilizar a instalação de uma central de energia solar no Nordeste. O empresário atuava em nome da EDRB do Brasil, companhia energética sediada em Campinas (SP). Segundo Quícoli, além da propina, os sócios da Capital redigiram um contrato em que fixavam taxa de êxito de 5% do valor do negócio (R$ 450 milhões) e mais um pagamento de R$ 240 mil. Quícoli diz que a propina foi solicitada em conversa com o então diretor dos Correios Marco Antonio de Oliveira, no quarto 4033 do Hotel Brasília Alvorada, a menos de um quilômetro do Palácio da Alvorada.

O empresário, no entanto, admite que não tem como provar o suposto pedido de propina.

Marco Antonio falou que (o dinheiro) era para tampar um buraco da campanha da Dilma, da Erenice e, também, que uma parte era para ajudar o Hélio Costa, candidato a governador de Minas. Ele falou isso logo depois que (o empréstimo) foi bloqueado no BNDES. Ele comentou que o Israel, que eu fiquei sabendo que era o filho da Erenice, disse o seguinte: Se eu não pagasse, eles iriam bloquear, como o que houve. Aí, eu recebi a notificação do BNDES , dizendo que o projeto não foi aprovado.

O hotel confirma que o flat 4033 é utilizado pelo ex-diretor dos Correios. Oliveira admite que se encontrou por diversas vezes com Quícoli no flat, mas nega pedido de propina.

O contrato da Capital com a EDRB é datado de 15 de dezembro de 2009 e teria sido encaminhado à empresa por e-mail. Os sócios da EDRB não assinaram a proposta, alegando discordar do pagamento de R$ 240 mil, cobrados pelos sócios da Capital. Entre dezembro de 2009 e fevereiro deste ano, houve intensa negociação entre a Capital e Quícoli para levar o pedido de empréstimo ao BNDES. A proposta foi protocolada em 26 de fevereiro e rejeitada em 29 de março.

Assessor arrastou negócio com a EDRB

Mesmo assim, Quícoli conta que o assessor da Casa Civil Vinícius de Castro, demitido na segundafeira por tráfico de influência, arrastou o negócio com a EDRB até o início deste ano.

Quícoli afirma que, em novembro de 2009, chegou a ser recebido pela então secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra, à época subordinada à ministra Dilma Rousseff. A Casa Civil confirma que Quícoli foi recebido no Centro Cultural Banco do Brasil, sede provisória do governo.

Mas informa que o encontro não foi com Erenice Guerra.

Ao GLOBO, Quícoli diz que Erenice se comprometeu em encaminhar a demanda para a Companhia Hidroelétrica do São Francisco. Ele afirma que Erenice não tratou de propina.

A Erenice em si, não. Nunca comentou de propina, nunca teve esse assunto com ela.

Foi sempre o pessoal que estava em volta dela é que vinha com esse contrato.

Quícoli, que já foi condenado por receptação de carga roubada, se contradisse ao comentar como e quando conheceu Israel Guerra. Inicialmente, ele afirmou que soube que Israel era filho de Erenice com a reportagem da revista Veja. Mais tarde, no entanto, garantiu que soube de Israel por meio de Oliveira, o ex-diretor dos Correios.

Quícoli afirma que, fora as denúncias de pagamento de propina, tem como provar todas as informações que resultaram na demissão da chefe da Casa Civil.

É um investimento muito alto para a empresa e por conta de meia dúzia, dois, três... ser barrado dessa forma! Então, por isso teve esse manifesto (denúncia) da minha parte. Eu vou sustentar isso através de documento.

Tenho e-mails e documentos que provam tudo isso.

Synergy é fantasma

DEU EM O GLOBO

Empresa está envolvida no lobby

Fábio Fabrini

BRASÍLIA. Apontada como mais uma peça na rede montada para facilitar negócios de empresários com o governo, a Synergy Assessoria e Consultoria Empresarial é uma empresa fantasma, ligada aos principais personagens envolvidos com o lobby na Casa Civil.

Aberta em fevereiro deste ano por um primo de Vinícius de Oliveira Castro assessor da Casa Civil que pediu demissão após a divulgação do esquema , a Synergy ocupa, desde 29 de abril, duas salas alugadas no luxuoso centro empresarial Liberty Mall, em Brasília. Desde abril, segundo funcionários, proprietários e inquilinos do prédio, raramente se vê alguém por lá. Nas portas, não há placa de identificação.

Registros de entrada no prédio mostram que, em cinco meses, quatro pessoas passaram pela portaria rumo à Synergy, entre elas João Batista Marques de Souza, sócioadministrador e primo de Vinícius, que tem parentesco com o ex-diretor dos Correios Marco Antônio de Oliveira e apresenta característica de laranja. Ex-funcionário de siderúrgica em Ipatinga (MG), ele foi passou pelo escritório em 1ode setembro. No registro da Junta Comercial, ele mora em Timóteo (MG).

Se a presença de João Batista é rara, seu sócio Adriano da Silva Costa sequer esteve no escritório desde 29 de abril. Professor com endereço em Juiz de Fora (MG), onde vive a família de Vinícius, Adriano aparece em minuta de contrato apresentada pela EDRB do Brasil como representante da Capital Empreendimentos.

A empresa foi usada por Israel Guerra, filho da ex-ministra Erenice Guerra, para intermediar negócios com a Casa Civil, em troca de comissões, segundo reportagem da revista Veja. Procurados ontem, por telefone, Adriano e João Batista não foram localizados pelo GLOBO.

Empresário ameaçou assessor de Erenice

DEU EM O GLOBO

O GLOBO tem acesso a e-mails em que Rubnei Quícoli pressiona Vinícius de Oliveira Castro sobre empréstimo

Fábio Fabrini e Roberto Maltchik

BRASÍLIA. Com o contrato apresentado pela empresa Capital Assessoria e Consultoria Empresarial em mãos, o empresário Rubnei Quícoli, representante da empresa EDRB, passou a ameaçar Vinícius de Oliveira Castro, então assessor de Erenice Guerra na Casa Civil, e seus parceiros de lobby, para tentar viabilizar o empréstimo no BNDES.

Embora só tenha denunciado o suposto tráfico de influência na reta final das eleições, na sucessão de e-mails enviados ao ex-assessor e a outras pessoas, entre janeiro e fevereiro, o empresário deixa claro que o escândalo era um barril de pólvora prestes a se incendiar.

O GLOBO teve acesso ontem a parte das mensagens repassadas por Quícoli. Em 2 de janeiro, dois meses após ser recebido na Casa Civil, sem uma resposta positiva, Quícoli avisa a Vinícius e aos donos da empresa que tinha encontro marcado com jornalistas e Serra (ele não deixa claro se está se referindo ao tucano José Serra). Informa que adiou a reunião para ver a postura que a Casa Civil irá tomar.

É o começo da intensa pressão exercida por e-mail. Além de Vinícius, ele se comunica com Luiz Carlos Ourofino, que também participaria das negociações.

Em vários e-mails, o empresário diz que discorda da comissão de R$ 240 mil, supostamente exigida pela Capital para azeitar o financiamento. E fixa o dia 2 de fevereiro para que Vinícius e seus companheiros obtenham sucesso junto ao BNDES.

Numa das mensagens para Ourofino, em 28 de janeiro, ele afirma: Derrubo o Coutinho e muita gente ao redor dessa Casa Civil e BNDES. E completa: Cabeças irão rolar... isso eu GARANTIUUUU (sic). A ameaça seria concretizada caso Vinícius e M.A. (iniciais de Marco Antonio, então diretor dos Correios) não dessem demonstrações claras de seu engajamento no projeto de energia. No mesmo texto, ele adverte: Não tenho nada a perder... boca para falar, eu tenho, e muito (sic) saliva.

Nos e-mails, Quícoli se refere a Vinícius como advogado da Dilma e se diz vítima de 171 (estelionato).

Promete que, em caso de recuo nas pretensões de construir a central elétrica, faria estardalhaço nos jornais.

A quatro dias de seu prazo fatal, Quícoli informa a Vinícius que não pode ficar dando explicações e fazendo reuniões com os oportunistas de plantão, querendo saber de quanto e como irão levar se houver o aporte beneficiado pela empresa.

Os dias passam, e os lobistas com acesso à Casa Civil, segundo o relato de Quícoli, não cooperam.

Em 1ode fevereiro, às 7h08m, ele marca a hora em email a Vinícius: Mantenho minha palavra até 18h de hoje, amanhã é outro dia. À noite, volta a pressionar, de forma mais incisiva. A partir de amanhã, não me falem mais sobre BNDES, usina solar e tão pouco (sic) o PT e o que nele contém.

Em alguns e-mails, o empresário cita até um suposto filho do presidente do BNDES, Luciano Coutinho, na trama supostamente montada com integrantes da Casa Civil.

Não permito que um MOLEQUE me ofende (sic) por ser filho do presidente do BNDES. Deveria tomar cuidado na maneira de proceder. Ontem à noite, porém, Quícoli esclareceu que chamou de filho do presidente do BNDES um homem chamado Stevam, que teria participado de reunião para tratar do contrato entre a EDRB e a Capital. Stevam, segundo Quícoli, foi apresentado como pessoa muito próxima a Coutinho, mas não é filho dele.

Coutinho disse que as denúncias são graves e mentirosas.

Sustentou que as acusações não têm pé nem cabeça, e informou que entrará com processo contra Quícoli, pedido indenização por danos morais.

Segundo o BNDES, Coutinho tem dois filhos e nenhum deles trabalha com consultoria ou tem relação com o banco.

Parentes de Erenice tinham cargos no DF

DEU EM O GLOBO

Filho e irmão de ex-ministra da Casa Civil são demitidos de funções comissionadas em empresas públicas

Demétrio Weber

BRASÍLIA. O governo do Distrito Federal anunciou ontem a demissão do filho e do irmão da ex-chefe da Casa Civil Erenice Guerra. Os dois estavam ocupando cargos comissionados em empresas públicas de Brasília.

O irmão José Euricélio Alves de Carvalho foi nomeado em 18 de maio deste ano para o Departamento de Auditoria da Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap) e recebia salário de R$ 4.167,31. O filho de Erenice, Israel Dourado Guerra, estava lotado na Companhia Imobiliária do Distrito Federal (Terracap). Foi nomeado em dezembro de 2008 e recebia salário de R$ 6,8 mil.

Euricléio foi levado para a Novacap pelo então secretário-geral da companhia, David José de Matos, amigo de Erenice. Dois meses depois, em julho, Matos ganhou a Presidência dos Correios por escolha da então ministra.

Segundo a assessoria do governador Rogério Rosso (PMDB), Euricélio era servidor de confiança da Secretaria de Governo na gestão do governador cassado José Roberto Arruda.

Em abril, com a posse de Rosso, foi exonerado. Um mês depois, assumiu o cargo em comissão na Novacap.

Os cargos de Israel e José Euricélio foram revelados ontem pelo jornal Correio Braziliense.

No caso de Israel, a CorregedoriaGeral do Distrito Federal abrirá procedimento para apurar eventuais irregularidades cometidas por ele.

'Jogo sujo ofusca debate político', diz 'El País

DEU EM O GLOBO

Imprensa internacional repercute caso Erenice

A saída de Erenice Guerra da Casa Civil ultrapassou fronteiras e ganhou espaço na imprensa internacional.

O site do jornal espanhol El País, por exemplo, afirmou que o jogo sujo está ofuscando o debate político na reta final da campanha eleitoral brasileira e identificou Erenice como número 2 do Executivo. O jornal lembrou ainda que a candidata a presidente pelo PT, Dilma Rousseff, enfrenta acusações de corrupção e tráfico de influência em seu círculo de confiança.

O pior é que esta rotina já começa a se converter num costume ao qual os cidadãos assistem impotentes, diz o jornal. Em plena campanha eleitoral de 2006 também surgiu um escândalo após provar-se que o PT pretendia comprar informação confidencial sobre membros da oposição.
Nem o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso se conteve ao afirmar esta semana que Lula é o líder de uma facção. Lula decidiu atuar drasticamente em um caso que ameaçava impactar de maneira nefasta a brilhante campanha eleitoral de Rousseff, noticiou a edição online do El País, que conclui afirmando que a saída de Guerra vem confirmar que o governo prefere atacar este câncer a tempo, antes que ele vá se estendendo e afetando mais pessoas.

O site do Wall Street Journal informou que Erenice é a segunda pessoa do governo Lula a se demitir do cargo após acusações de corrupção, lembrando a saída de José Dirceu em 2005, devido ao escândalo do mensalão. As edições online do argentino La Nación e do francês Le Figaro destacaram que o escândalo atinge o governo a poucas semanas da eleição.

Mas a agência de notícias Associated Press consultou analistas políticos que disseram que o impacto do caso na campanha pode ser apenas marginal.

Chávez dá vitória de Dilma como certa

DEU EM O GLOBO

Presidente da Venezuela chama petista de "patriota" e "revolucionária"

CARACAS. O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, deu ontem como certa a vitória da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, nas eleições de outubro. Durante um evento no Teatro Teresa Carreño, em Caracas, Chávez deu indícios de que gostaria de seguir os passos de Lula e entregar o poder a uma mulher quando deixar o governo.

Dilma Rousseff. Vamos aprendendo a pronunciar esse nome, porque tudo indica que em 3 de outubro (ela) vai ganhar e talvez no primeiro turno disse Chávez, no ato transmitido pela estatal VTV.

Uma mulher revolucionária, patriota.

A declaração do presidente venezuelano foi feita num evento que reuniu cerca de 3 mil mulheres, que ontem prestaram juramento como Guardiães de Chávez, prometendo defender sua revolução socialista para o século XXI.

Quando chegar a minha vez de entregar a Presidência, quero entregá-la a uma mulher acrescentou.

Isso, no entanto, pode demorar um pouco. No mesmo evento, o presidente venezuelano, há 11 anos no poder, anunciou que pretende disputar as eleições presidenciais de 2012 e afirmou que sua campanha já começou.

Novamente, presidente superestimou seu poder

DEU EM O GLOBO

Durante uma semana, Lula ficou impassível

José Casado

Na política, jogar parado é arte. Getúlio Vargas passou à História como mestre, e Tancredo Neves como um de seus melhores discípulos.

Lula gasta tempo tentando superá-los, acreditando que pode mais.

Durante uma semana o presidente da República assistiu quase impassível à evolução do caso Erenice Guerra.

Apostou que a algazarra na Casa Civil seria encoberta pelo fragor das habituais salvas de tiros na campanha eleitoral. Perdeu logo nas primeiras 48 horas, quando ficou evidente que a mulher de confiança (e sucessora por ela indicada) de Dilma Rousseff arrastava o governo e sua candidata para um abismo político na reta final da eleição presidencial.

Na segunda-feira, o presidente dobrou a aposta, sob o coro entusiasmado de assessores a maioria disposta ao fervor na crença da infalibilidade de Lula, especialmente depois da destreza demonstrada na construção da candidatura Dilma.

Perdeu, outra vez, quando, em desastrada nota oficial com papel e selo do governo , a ministra abraçou-o, junto com a candidata, e se lançou ao abismo deixando um rastro de suspeitas de desgoverno e corrupção.

Como nas crises anteriores, Lula superestimou seu poder para administrar prejuízos e conduzir plateias com manobras retóricas.

É futurologia achar que a percepção de desgoverno e corrupção vai se espraiar para além da classe média e mudar as chances de Dilma Rousseff no primeiro turno.

Talvez um dia Lula perceba que um presidente pode quase tudo, a exemplo de Getúlio Vargas. Mas, como mostra a História do getulismo, um presidente nunca pode tudo. M e s m o quando ele assina Luiz Inácio Lula da Silva.

Serra: 'Até ontem, diziam que era eleitoral'

DEU EM O GLOBO

Tucano diz que Casa Civil está numa "rota de escândalos" e cobra investigação rigorosa sobre denúncia de lobby

Silvia Amorim


CAMPINAS (SP). O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, acusou ontem o governo federal de tentar impedir uma investigação rigorosa sobre as denúncias de tráfico de influência na Casa Civil, envolvendo um dos filhos da ex-ministra Erenice Guerra. Para Serra, a Casa Civil, chefiada até março pela sua adversária do PT, Dilma Rousseff, está numa rota de escândalos.

Essa não é uma questão eleitoral; é uma questão que tem a ver com os rumos do Brasil. São sucessivos escândalos na Casa Civil nos últimos anos. Um mau exemplo para o Brasil e também um problemas grave para o funcionamento do governo. Na minha vida pública, quando fui governador e prefeito, nunca deixei que se formassem grupos como esse, nem farei isso como presidente. Não permitirei que a Casa Civil continue nessa rota de escândalos um atrás do outro afirmou, em Campinas.

Serra classificou a saída da ministra como um primeiro passo para as investigações.

Afirmou que a nova acusação reforça a tese de que não se trata de denúncias eleitorais.

É um primeiro passo.

Agora, tem que ver as investigações porque, até ontem, estavam dizendo que era uma jogada eleitoral. Eles estavam tentando jogar areia nos olhos com essa história.

Agora, todo escândalo que aparece sempre tem um pretexto.

É a eleição, são denúncias de caráter eleitoral....

não são, não. A prova é que o governo foi obrigado a afastar essa toda-poderosa ministra.

O tucano evitou responsabilizar Dilma diretamente pela rota de escândalos na Casa Civil, mas criticou, sem citar nomes, a condução do ministério no atual governo: A Casa Civil é considerado o principal ministério do governo. Nós temos tido gestão após gestão escândalos nessa área. Isso não pode mais acontecer disse Serra, que cobrou rigor na apuração das denúncias. Tenho certeza que a população não é tolerante com esse tipo de coisa, e, hoje, o que se precisa de fato é de uma investigação séria para que todos os responsáveis diretos e indiretos sejam punidos.

Essa é uma questão do nosso país. Não é uma questão de candidatura.

Na visita a Campinas, o presidenciável voltou a criticar o projeto do trem-bala, ligando São Paulo ao Rio, passando por Campinas. Para ele, o projeto é fumaça e fantasia.

Marina também diz que investigação deve continuar A candidata do PV à Presidência, Marina Silva, também defendeu ontem a necessidade da continuidade das investigações sobre o suposto esquema de tráfico de influências na Casa Civil , mesmo com a demissão de Erenice: O afastamento não significa em hipótese alguma qualquer negligência em relação à investigação. São denúncias graves, tráfico de influência disse ela, em visita à cidade de Varginha, em Minas Gerais.

Marina novamente frisou a necessidade de um segundo turno na disputa pela Presidência da República: Espero que os brasileiros tomem esses episódio como algo que está turvando esse processo sucessório. E não decidam (a eleição) açodadamente.

A apuração é o melhor caminho afirmou.

Para oposição, demissão é insuficiente

DEU EM O GLOBO

Tucanos cobram mais explicações de Dilma e do governo sobre Casa Civil

Adauri Antunes Barbosa, Cristiane Jungblut e Letícia Lins

BRASÍLIA, MAUÁ (SP), BELO HORIZONTE e RECIFE. A demissão de Erenice Guerra da Casa Civil não foi considerada suficiente pela oposição, que continua cobrando explicações da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, sobre as denúncias de tráfico de influência no Planalto. O presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE), afirmou que foi na gestão de Dilma que começaram os casos de contratos suspeitos: Eu já tinha dito que o caso de Erenice não exigia solução política. Que o caso é de polícia.

Ao longo do governo Lula, a Casa Civil tem sido um foco de perturbações permanentes.

O candidato mineiro do PSDB ao Senado, Aécio Neves, evitou atacar diretamente Dilma e Hélio Costa (que disputa o governo de Minas), mas classificou de gravíssimas as acusações: O governo e os partidos que estão lá devem ter a responsabilidade de não deixar dúvidas se pactuam ou não com esses atos descabidos muito próximos à sede do governo federal.

Para o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), a saída de Erenice é demissão pela metade. Ele manterá o requerimento à Comissão de Constituição e Justiça convocando Erenice a depor.

Não há como desvincular a atuação de Erenice de Dilma, responsável por sua nomeação e suas consequências. Ela (Dilma) está tentando se ausentar desse caso, mas não pode se esconder.

Afinal, é a mãe dessa criança.

Cabos eleitorais e Dias fizeram ontem, em Mauá (SP), uma lavagem simbólica da calçada diante do prédio onde funcionava a agência da Receita Federal, fechada desde abril.

Adeildda Ferreira Leão dos Santos funcionária do Serpro que foi emprestada à Receita em Mauá foi indiciada ontem pela Polícia Federal no inquérito que apura a quebra de sigilos fiscais de pessoas ligadas ao candidato tucano à Presidência, José Serra.

Segundo o Jornal Nacional, Adeildda admitiu, em depoimento ontem, que vendia os dados fiscais de contribuintes. Ela afirmou que a motivação era financeira e não política. A servidora disse que recebia a partir de R$ 100 por acesso. E foi indiciada por corrupção passiva. Do computador dela foram acessados, em 2009, os dados fiscais de Eduardo Jorge, vice-presidente do PSDB, do ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros, do ex-diretor do Banco do Brasil Ricardo Sérgio de Oliveira e de Gregório Preciado, casado com uma prima de Serra.

Líder do PMDB: fala de Dirceu atrapalha

DEU EM O GLOBO

Para Henrique Eduardo Alves, se Dilma for eleita, vitória será de todos os partidos coligados, não só do PT

Maria Lima

BRASÍLIA. Para integrantes da cúpula do PMDB, além de atrapalharem o processo eleitoral, ainda não decidido, as previsões do ex-ministro e deputado cassado José Dirceu sobre o maior peso do PT num eventual governo Dilma Rousseff não devem se concretizar, porque a possível vitória será de todos os partidos. O líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), disse ontem que todos os partidos que integram a coligação terão peso igual na vitória que, lembrou, ainda precisa ser confirmada em 3 de outubro.

Em palestra a petroleiros na Bahia na segunda-feira, Dirceu avaliou que, se eleita, Dilma daria maior espaço ao PT, mais do que foi dado pelo presidente Lula em seus oito anos de mandato.

Esse tipo de declaração (de Dirceu) atrapalha e muito.

Porque todos os partidos, não só o PT ou o PMDB, estão trabalhando igualmente para construir essa vitória. Se a vitória acontecer, será de todos, cada partido tem o seu exército.

Todos nós vamos comemorar juntos e trabalhar juntos no governo Dilma, que será partilhado por todos que estão nesse esforço solidário para vencer no 1oturno reagiu Henrique Eduardo Alves, cotado para disputar a presidência da Câmara no lugar de Michel Temer (PMDB), vice na chapa de Dilma.

O líder peemedebista diz que apesar de Temer e outras lideranças do partido não estarem aparecendo de forma sistemática ao lado de Dilma, como outros coordenadores petistas, o vice está numa missão especialíssima, percorrendo os estados onde há dissidência no PMDB para aparar arestas.

O PMDB se sente igual a todos os partidos da coligação que vai eleger Dilma, nem mais nem menos. O Michel está viajando o país inteiro buscando os votos do PMDB onde esses votos são difíceis. Está fazendo quase uma campanha paralela disse Henrique Alves.

Um dos coordenadores do programa de governo da campanha, o peemedebista Moreira Franco diz que divisão de poder no futuro governo não está na agenda do PMDB. Afirma que Dirceu reconheceu a importância do PMDB na coligação, ao atribuir ao partido a razão da vitória de Dilma.

Falar de governo agora é completamente extemporâneo e impróprio. Nós, do PMDB, não falamos sobre o futuro governo, pois precisamos primeiro ganhar a eleição. Não falamos sobre quem terá mais ou menos peso no governo. Todo nosso esforço é para ganhar no primeiro turno disse.

Na mesma linha, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) diz que a discussão sobre quem tem maior ou menor peso no futuro governo fica para depois da eleição.

Não tem nada ganho ainda.

O resto é presepada. Não queremos saber de presepada.

Qualquer um que ficar discutindo isso antes da eleição, não está contribuindo, está atrapalhando disse Eduardo Cunha.

O que pensa a mídia

Editoriais dos principais jornais do Brasil
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Edith Piaf e Isabel Boulay

Poema :: Graziela Melo

Quero
escrever
um poema

Mas
não
consigo!!!

Por que?

O que
se passa
comigo?

Será
um mal
da alma,

ressacas
de algum
furacão?

Alguma
tristeza
profunda?

Ou
pura e
simplesmente

ausência
de emoção???

Ânsias
me tiram
a calma

Dúvidas
abalam-me
o coração

Durmo
pensando
no sim

acordo
com medo
do não!!!!

Rio de Janeiro, 16/9/2010


Graziéla Melo, poetisa, autora do livro ‘Crônicas, contos e poemas’, Fundação Astrojildo Pereira, 2008