domingo, 12 de setembro de 2010

Dessemelhanças:: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

Na sabatina do GLOBO com o candidato tucano José Serra, uma pergunta de Arnaldo Bloch levantou um tema que tem predominado no debate político nos últimos anos: quão realmente semelhantes são os projetos de PT e PSDB e, na atual conjuntura eleitoral, se realmente tanto faz votar em Dilma ou Serra para presidente.

Serra pareceu genuinamente espantado com a comparação, como se o ofendesse, e definiu com sarcasmo as opiniões de dois ícones da cultura moderna brasileira.

Chico Buarque dizer que tanto faz se vencer Dilma ou Serra seria positivo para ele, Serra, já que Chico Buarque apoia declaradamente Lula e diz que votará em Dilma por causa dele.

Já o cineasta Cacá Diegues dizer que Serra e Dilma representam a mesma coisa é um mau sinal para Serra, que foi companheiro dele na UNE e esperava que tivesse uma opinião mais favorável a seu respeito.

Serra ainda alfinetou tucanos que defendem a aproximação com o PT, classificandoos de animais mais exóticos do que o normal.

Claro que Serra está sob o fogo cerrado de uma campanha que luta desesperadamente para não naufragar já no primeiro turno e não está disposto a abrir a guarda para o adversário, mas o fato é que existem tucanos de alta plumagem, como o ex-governador de Minas Aécio Neves, que trabalham com a ideia de uma aproximação com o PT num eventual governo Dilma.

E existem governistas importantes, como o governador de Pernambuco Eduardo Campos, do PSB, que defendem essa aproximação como maneira de neutralizar a força que o PMDB terá.

A decisão da Executiva Nacional do PT de proibir a coligação com o PSDB em Belo Horizonte, quando Aécio e Fernando Pimentel negociaram o apoio conjunto a uma candidatura do PSB à prefeitura em 2008, mostrou, porém, como é difícil esta aproximação.

Quando pensou em fundar um partido político, Fernando Henrique Cardoso procurou Frei Betto, ex-assessor especial do presidente Lula. Pensava utilizar a experiência com as Comissões Eclesiais de Base (CEBs) para fundar um partido socialista.

Frei Betto não se interessou pelo projeto, que considerou elitista, e se engajou mais tarde na criação do Partido dos Trabalhadores.

O PSDB nasceu assim sem as bases operárias que caracterizam os partidos social-democratas europeus. E o PT, visto por muitos como tendo evoluído para um partido socialdemocrata, nos últimos anos do segundo governo Lula viu crescer novamente a força do grupo que ainda defende uma utopia socialista como o objetivo final.

O PT tem uma antiga diferença com a Internacional Socialista, que reúne os maiores partidos da social-democracia do mundo, que apostou no PDT de Leonel Brizola como seu representante no Brasil.

Por influência de Brizola, o PSDB foi rejeitado na Internacional, sob a alegação de que se aliara à direita para governar, mas o crescimento da importância do PT com Lula, e o declínio do PDT com a morte de Brizola fazem com que Lula seja reconhecido como o principal líder da esquerda brasileira.

Mas o PT precisará definirse ideologicamente entre o papel que o mundo vê para Lula, de representante de uma esquerda social-democrata, e a guinada socialista defendida por setores importantes do partido.

PT e PSDB, de tantas características comuns, repartem nos últimos anos também a mesma acusação, a de serem udenistas, o que, no jargão político, significa moralista, golpista.

O PT, apelidado de UDN de macacão por Leonel Brizola, durante os oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso viveu atrás de escândalos e até o impeachment do presidente pedia.

Chegando ao governo, sofreu com o próprio veneno e acusa o PSDB de golpismo.

Serra relembrou na sabatina do GLOBO que, ao contrário, o PSDB, procurado por emissários petistas para negociar na crise do mensalão, em 2005, aceitou não pedir o impeachment de Lula.

São tortuosos os caminhos que levam a uma união, e muitos os obstáculos que se opõem a ela, sendo PT e PSDB partidos que têm origem semelhante, mas que foram se distanciando nas práticas.

Serra hoje tem razão ao dizer que os partidos são muito diferentes, embora já tenham sido mais próximos em alguns momentos do próprio governo Lula. Fernando Henrique surpreendeu quando revelou que, fazendo a transição para o governo Lula de maneira republicana reconhecida pelo próprio presidente eleito em 2002, esperava que o PT chamasse o PSDB para governarem juntos.

Lula, no início do governo, chegou a acenar com essa possibilidade, mas há obstáculos importantes dentro dos partidos, a começar pelas brigas internas em São Paulo, onde estão os principais líderes políticos dos dois lados.

Mas há principalmente a visão do papel do Estado de cada um, que é fundamentalmente diferente, embora os dois sejam favoráveis a uma atuação direta nos setores sociais, como a formação da rede de proteção social que começou com o PSDB e foi ampliada pelo Bolsa Família do PT.

Uma das diferenças é exatamente essa: o PSDB acha que programa social bom é o que diminui a cada ano, e não o que aumenta.

Reduzir o número de famílias abrangidas pelo Bolsa Família significaria que muitas delas teriam sido incluídas no mercado de trabalho, o que significaria o sucesso do programa.

O governo Lula, ao contrário, festeja o aumento para 11 milhões dos bolsistas, numa visão assistencialista, na opinião dos tucanos.

O aumento da máquina estatal, e seu aparelhamento pelos militantes petistas, é outro ponto fundamental de discordância entre os dois grupos políticos, com o PT dizendo que apenas fortalece a máquina estatal que a visão neoliberal do PSDB desmontou, e os tucanos acusando os petistas de usarem politicamente o Estado, abrindo mão da eficiência e não evitando desperdícios do dinheiro público.

Nessa campanha eleitoral, com a quebra dos sigilos fiscais de pessoas ligadas ao PSDB e parentes do candidato José Serra, essa desavença chegou a seu ponto máximo.

S.O.S. Diversidade:: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Passada a eleição, seja qual for o resultado, pessoas, partidos, organizações e instituições vão precisar fazer frente a uma questão política absolutamente relevante atualmente no Brasil: o papel do contraditório.

Educativo, reformador, libertador, vital em qualquer democracia digna do nome, o exercício da discordância anda em baixa. Em vias mesmo de tentativa de extinção, se desenhando como um conceito antiquado, quase à margem da legitimidade.

Há até quem não tenha o menor pudor de manifestar publicamente estranheza pelo fato de existirem pessoas no Brasil - segundo as pesquisas cerca de 5% da população - que não gostam do governo Luiz Inácio da Silva e não se integram à legião de admiradores do presidente.

São tidas como mentalmente deformadas, emocionalmente repulsivas. E, agora que Dilma Rousseff está bem à frente nas pesquisas de intenção de votos, vistas com misericórdia pelos bondosos e tratadas com escárnio pelos ímpios que ficam a se perguntar o que será delas nos próximos anos.

Como se a paz de espírito emanasse do governo e, portanto, a felicidade só existisse para os irmãos de fé.

Individualmente tal pensamento - difundido por toda parte - se resolve na confrontação da realidade: nem todos dependem de governo para viver, pensar e produzir.

Coletivamente o resultado disso é mais preocupante, pois resulta em desequilíbrio ecológico no meio ambiente compartilhado por seres naturalmente plurais. Sem diversidade de opiniões e posições, sem a convivência no contraditório não se exercita a democracia.

Tampouco se faz isso apenas reclamando de que o governo pode tudo, ganha sempre e prepara uma ofensiva para eliminar a oposição da face da terra.

Serve para todos os tipos de governo, mas serve mais para o atual que, se tudo correr como indicam as pesquisas, continuará no poder.

E por que se aplica mais ao governo do PT? Porque ele cansou de demonstrar nestes dois mandatos de Lula que usa de todos os recursos para ganhar disputas. Portanto, não é justo quando se diz que se o governo ganha é por eficácia.

Pode até ser também, mas não só. Ganha principalmente porque não joga na regra, no mano a mano com igualdade (ou quase) de condições e extrapola no abuso da máquina e das infrações à lei.

Muito bem, ocorre que essa é a realidade e com ela a oposição terá de lidar. A menos que faça uma opção definitiva pelo resmungo, pela autoindulgência, pelo adesismo ou pelo ostracismo.

Se quiser manter o estabelecimento funcionando precisará de reformas. Profundas.

Começando por sair da toca e ousar. Parar de querer jogar no certo, com medo de errar. Quem sabe não dá mais certo jogar com vontade de ganhar e fazendo o que acha correto?

Isso só se faz com a clareza de que é preciso ter "lado", posição. Achar que o adversário - principalmente da envergadura do PT - em algum momento dará sombra e água fresca é ilusão à toa.

Coragem é indispensável e sensibilidade para mobilizar a sociedade, nem se fala.

Procurar novos personagens, arejar os partidos, deixar de lado os jargões e chavões do Congresso e da Esplanada dos Ministérios, falar a linguagem de gente normal, tratar as pessoas com franqueza e naturalidade, se aproximar da sociedade.

Antes, porém, é mister uma autocrítica impiedosa, de tirar pedaço e fazer correr sangue.

Tropa. O ex-governador do Amapá Waldez Góes, preso na sexta-feira pela Polícia Federal acusado de corrupção, é um dos candidatos ao Senado amistoso com o qual Lula pretende presentear Dilma Rousseff, se ela for eleita presidente.

Com qual finalidade? Dominar o que falta ser dominado no Poder Legislativo.

Ao centro. São boas as notícias de prisões e cassações de pessoas acostumadas à impunidade. Mas até agora essas punições - excetuando-se Anthony Garotinho (RJ) - só alcançaram autoridades de Estados politicamente periféricos.

Mimetismo - Danuza Leão

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Quase todos os homens usam barba, Erenice é a cara de Dilma, Marta e d. Marisa estão parecidas

Lula está histérico; um recém-chegado ao Brasil que o tenha visto no programa eleitoral acreditaria que o PSDB é que tinha violado o sigilo de altos dirigentes do PT, da filha de Dilma, do seu genro, e não o oposto do que se suspeita.

É muita cara de pau. A maneira como ele se refere aos outros candidatos é baixa, sem nenhum respeito; será que é demais querer para presidente alguém mais educado?

Até agora, Dilma está, segundo as pesquisas, à frente dos outros candidatos, mas a possibilidade de haver um segundo turno tira Lula do sério. Sempre se soube que ele era um mau perdedor, e agora se anuncia também como um (possível) péssimo ganhador. E alguém acredita na investigação da Polícia Federal?

Na quebra do sigilo telefônico da funcionária da Receita? Em alguma coisa que envolva esse governo?

Além de todos os meus medos, agora tenho um novo: de que Lula exploda feito um homem bomba num palco qualquer, com o microfone na mão, tal a raiva e o ódio que não consegue esconder -nem tenta. O presidente não se conforma em ser contrariado, não admite ser derrotado, e sua fúria, quando supõe que isso possa acontecer, é a de um animal com raiva -a doença- em seus piores momentos.

Em suas metáforas, passou da ignorância, até compreensível, à grosseria e à boçalidade.

Já acreditei que o PT fosse o partido da ética, diferente de todos os outros; alguém lembra? E me sinto uma total idiota, por não ter ouvido o que me diziam os mais experientes da política, que um governo Lula se tornaria quase uma ditadura stalinista - e um dos que me disseram isso foi Brizola.

Sou viciada em programa eleitoral, mas na hora do PT, tiro o som. As caras sinistras e os dedos apontando me fazem mal. O mesmo mal que eu sentia quando via Collor (não por acaso, agora aliados).

Para alguns, é mais fácil empunhar uma metralhadora do que um adversário, e Dilma continua se escondendo, não indo aos debates, não falando sobre o assunto. E se ela ganhar?

Lula é bem capaz de dizer, se achando o próprio D. Pedro 1º, "já que é para o bem de todos e felicidade geral da nação, diga ao povo que fico".

O PT sofre de mimetismo. Quase todos os homens usam barba, Erenice é a cara de Dilma, Marta Suplicy e d. Marisa estão parecidíssimas, e os estoques de botox estão se acabando. Menos, gente, menos.

Além da eleição, tenho outra grande preocupação: qual será o destino dos oito pitorescos vestidos verde e amarelo que Marisa Letícia usou nos oito desfiles de 7 de Setembro, para comemorar o Dia da Independência e saudar o povo?

Não deixa de ter sido uma bela contribuição à República, mas como esses vestidos nunca poderão ser usados em nenhuma outra ocasião, aí vai a sugestão: como existe um movimento para transformar a casa tombada dos Paula Machado, na rua São Clemente, em Instituto Lula (para imitar Fernando Henrique), um pequeno espaço poderia ser destinado a esses vestidos, para que as futuras gerações entendam o que foram os anos Lula.

Um museu tipo o de Carmem Miranda; sem tanta graça, é verdade, mas também, a seu modo, histórico.

Mas por que logo no Rio? Por que não em São Bernardo?

Olha a biografia, presidente! :: Alberto Dines

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO

Este é um caso de polícia reafirma o presidente do PT, José Eduardo Dutra. Tem razão. E sendo um caso de polícia é intolerável que o chefe da nação nele se meta ou intrometa, sobretudo da forma desastrada, capciosa e ilegítima utilizada na última terça-feira, Dia da Pátria, ao longo de dois minutos, em pleno horário eleitoral.

O chefe do Executivo autoridade máxima do País, supremo magistrado não é detetive ou delegado para imiscuir-se de forma tão estapafúrdia e parcial num caso de polícia recém-aberto, necessariamente reservado. E se este caso policial tem a gravidade ou relevância que exigem a interferência ostensiva do presidente da República, conviria um pouco mais de comedimento, continência e compostura. Acusar as vítimas sem, ao menos, explicitar o ilícito ou malfeito é juridicamente canhestro, moralmente indefensável.

No papel de grande sedutor, o presidente Lula torna-se quase irresistível. Assusta quando desembesta, pisa no acelerador e imagina-se num torneio do tipo vale-tudo. Já vimos este filme, aqui e alhures.

A vergonhosa operação Aloprados-2 para quebrar o sigilo fiscal de dirigentes do partido da oposição e familiares do seu candidato nada tem a ver com o atual processo eleitoral. É uma ameaça às instituições e ao Estado de direito. A quebra da credibilidade da Receita Federal completou-se com suas incríveis vacilações e a escancarada inapetência para oferecer ao cidadão prontas e cabais providências.

O encaminhamento do caso à Polícia Federal é confortante, garante velocidade e intensidade nas investigações. Garante um mínimo de isenção. Mas é preciso que o êxito da Operação Mãos Limpas que nesta sexta-feira levou para o xilindró o governador, o ex-governador do estado de Amapá uma das capitanias do senador Sarney e mais 16 membros de uma organização criminosa não seja usado como desculpa para justificar demoras na apuração e punição aos responsáveis pela Aloprados-2.

A questão da segurança talvez seja a única que consegue unir governo e oposições. Mas ela não se resume ao narcotráfico, o crime se organiza, consolida e se espalha através de todos desvãos onde o Estado por diferentes motivos convive com falhas.

Um aparelho fiscal incapaz de livrar-se da politização poderá tornar-se vulnerável a toda sorte de crimes e atentados ao direito. Durante a ditadura militar não foram poucos os casos em que a Receita Federal andou de mãos dadas com os órgãos de segurança.

Ridicularizar o sigilo fiscal, bancário e pessoal é ignorar os direitos do cidadão, todos os cidadãos. Não são apenas os contribuintes que estão preocupados com a idoneidade do aparelho que cobra impostos, os não-contribuintes serão os primeiros prejudicados quando o sistema falhar. A transferência de renda faz-se através dos diferentes tipos de taxas e quando os cobradores estão sob suspeita, o Estado torna-se inconfiável.

O presidente gosta de palanques, eleição para ele é oxigênio, mas ao empenhar-se de forma tão imprudente na promoção dos seus sucessores conviria lembrar-se que ibopes são efêmeros. Biografias geralmente são definitivas.


» Alberto Dines é jornalista

Elis Regina - "Folhas Secas" - Ensaio - MPB Especial

O misterioso dinheiro de Brasília:: Fausto Matto Grosso

DEU NO CORREIO DO ESTADO (MS)

O PÇSC (Partido Çossiáu do Seu Creysson) está com tudo nestas eleições. O Tiririca, também, está quase eleito deputado em São Paulo. Assistir ao programa eleitoral de deputados federais e senadores, chega a ser divertido, com todo o respeito, pelo besteirol apresentado pelos candidatos. As exceções são poucas, talvez se contem nos dedos de uma mão, se tanto.

O discurso central desses “nossos representantes”, geralmente, é de que vão trazer dinheiro para o Estado. Não sei se o motivo dessas promessas é a ignorância política pura e simples, não sabem para que serve um deputado, ou é, descaradamente, uma confissão antecipada da velhacaria da política.

Aliás, essa coisa de trazer dinheiro de Brasília, através de emendas parlamentares ou tráfico de influência, é um assunto que não deveria ser comentado na sala, em frente das crianças, muito menos nos horários eleitorais onde os inocentes, mesmos aqueles de maior idade, ainda estão acordados. Entretanto, esse tem sido o tema mais recorrente na propaganda eleitoral. A prática da emenda parlamentar tem sido um dos recantos mais escuros e mal-cheirosos da política.

É necessário jogar luz nesse assunto. Falar o que muitos sabem, mas se calam por conveniência ou leniência. Isso é importante até para que políticos íntegros e bem intencionados, imagino que eles existam, possam escapar desse lodaçal.

Os parlamentares, na sua tarefa de fazer leis, deveriam interagir fortemente com a Sociedade e cumprir o seu papel constitucional. Entretanto, nos tempos atuais, a imensa maioria das leis é formulada pelo Governo e o Congresso Nacional se transformou em mero cartório para homologar a ditadura do Executivo.

Na sua tarefa de acompanhar e fiscalizar o Executivo, deveria se dedicar a avaliar o alcance finalístico dos programas e ações realizadas, avaliar se os recursos foram distribuídos pelos critérios técnicos previstos nos programas, de maneira transparente e republicana, ou ao contrário, se serviu para politicagem barata, tão cara para o bolso do contribuinte.

No momento da análise da Lei Orçamentária, deveria cortar programas de baixa efetividade, fortalecer aqueles que melhor atendem as necessidades dos brasileiros, equilibrando, com a responsabilidade do mandato popular, a distribuição dos recursos entre os diferentes programas, funções, ministérios, Estados e Municípios. Ou seja, tratando do projeto de orçamento nos seus delineamentos maiores, a partir de uma visão de desenvolvimento nacional e de combate aos desequilíbrios regionais. Não cabe nessa hora infiltrar a “emendinha” clientelista e paroquial.

Infelizmente não tem sido esse o caminho. A máxima da atividade parlamentar tem sido a batalha pelas emendas parlamentares mediante as quais se estabelece um jogo espúrio e imoral entre o Executivo e o Legislativo. O início dessa pecaminosa relação é o momento da elaboração do Orçamento. A emenda é, ao mesmo tempo, o instrumento do parlamentar fazer política clientelista e o instrumento de controle político exercido pelo Executivo sobre o Legislativo

O orçamento é apenas uma lei que autoriza o governo a gastar em determinado programa ou ação, mas não lhe impõe a decisão de implementá-lo. A proposição das emendas não tem caráter imperativo, mas os parlamentares vão para os estados e municípios para montar o jogo, com governadores, prefeitos e entidades. É o famoso “me engana que eu gosto”. Anunciam aos quatro ventos que estão trazendo dinheiro para o estado.

Depois vem a realidade. Somente uma parcela ínfima das emendas parlamentares é liberada, assim mesmo mediante chantagem mútua nos momentos das votações decisivas para o Governo. É quando o computador do Planalto pega fogo, selecionando quem pediu o quê, e colocando para funcionar o famoso tabuleiro do franciscanismo do “é dando que se recebe”, do “toma-lá dá-cá”, do “amor remunerado”, seja lá o nome que se queira dar.

Assim a ponte para Cabrobó, ou a ambulância para Nossa Senhora da Mata a Dentro, são trocadas por votos sobre as questões de grande interesse do Executivo. Pior, isso acaba valendo tanto para os parlamentares da situação como para os da oposição de conveniência. É o que nós sempre vemos, mas nem sempre entendemos.

Durante a execução dessas emendas o escândalo é ainda maior. Elas têm “donos” e, segundo a praxe, estes ficam com o direito de cobrar “pedágio” para que esse dinheiro chegue até a obra aprovada. Esse é o reino do baixo clero, a Sapucaí da política brasileira, já exposta nos inúmeros escândalos do Congresso.

Por isso tudo, deveria haver uma lição a ser ensinada desde a escola primária até ao horário político, antecipando-se ao discurso enganoso: não vote em parlamentar que diz que vai trazer dinheiro para o estado. Isso faz mal para a saúde, para a educação, para a agricultura, para a pecuária, para o desenvolvimento, para a cidadania e para a crença na democracia.


Fausto Matto Grosso é engenheiro, professor da UFMS, membro da direção nacional do PPS

Da nobre arte de fazer inimigos e irritar pessoas :: Fabio Campana

Modéstia à parte, eu tenho muitos inimigos. Tantos que não conseguiria contá-los. A verdade é que não quero saber quantos são. Meu interesse se concentra nos desafetos que detêm alguma forma de poder e o usa como déspota pouco esclarecido, característica muito comum nos políticos nativos.

Aprendi que não vale a pena gastar tutano e neurônios com os epígonos. A patuléia miúda é numerosa e só existe coletivamente. Não pensa. Reage emocionalmente. Segue o líder com a cegueira da paixão e da burrice.

Não perco tempo com a malta que se infla de raiva e indignação quando o chefe é atingido. Meu alvo é o suserano de alto coturno. Nunca o torcedor fanático. Meus inimigos de estimação são todos de grosso calibre. A eles dedico o melhor de meus esforços e criatividade.

Isso explica porque identifico poucos inimigos, apesar dos áulicos que servem a cada um deles e que me detestam porque coloco em risco a sua segurança representada no mais das vezes por uma sinecura, um salário, um afago, um favor ou simplesmente pela identificação de quem não consegue justificar sua existência de outra forma.

São de variada catadura, mas há algo comum entre eles. Percebo em suas reações raivosas um ressaibo de inveja e frustração que se expressa coletivamente pelo primitivo. Há uma categoria especialmente patética, próxima da bufonaria, nesse universo. É a classe dos apedeutas, dos intelectuais menores ou dos que tentam se fazer passar por intelectuais.

Se dão ares de sábios e exercitam a crítica pessoal como forma de sublimar sua evidente limitação de neurônios ativos. Não há aditivo que possa ajudá-los. Quase não suportam conviver com a própria mediocridade e isso talvez explique as tentativas de suicídio nesse meio, embora também nisso sejam incompetentes. Não há nada mais ridículo que o suicídio frustrado.

Eu não suporto nada que soe a horda. Prefiro insular-me e só ver os amigos mais chegados. Defendo-me das torcidas organizadas com distância e indiferença. Minha formação em verdadeiros partidos comunistas de antanho provou-me que a máxima dos jesuítas depois adotada pelos leninistas, poucos mas bons, é saudável e eficaz para salvar-nos da patologia social.

Os inimigos não me fazem dano. Mais me divirto com a loucura humana do que me irrito. Os inteligentes percebem. Sou uma pessoa de poucas raivas e rancores. Acredito que o pecado do orgulho me protege desses sentimentos. Em minha soberba sempre enxergo os medíocres como bufões. Há décadas tenho detratores profissionais que ganham a vida nessa faina. Eu acho engraçado. Essa profissão é uma originalidade da província.

Compreendo porque deixo de maus bofes os medíocres. Sempre houve em mim uma dose robusta de inconformismo. Tenho dificuldades para aceitar o que está posto e estabelecido. Não aceito regras imutáveis, desconfio das leis restritivas da liberdade individual, tenho horror de qualquer manifestação autoritária e um desrespeito intelectual absoluto pelos governantes e pela burocracia entrincheirada atrás dos poderosos. Daí essa minha natural vocação para o questionamento, a transgressão, a rebeldia e o que chamam de espírito anárquico.

O inimigo é o sal da terra, dizia meu avô Diego Vera. Eles são a evidência de que temos opinião e sabemos defendê-la. O homem que só tem amigos não tem caráter, dizia ele.

O bom mocismo é papel para os néscios e figurantes. Eu, modéstia a parte, tenho muitos inimigos e poucos, mas bons e brilhantes amigos, que são a contraprova de que não vim à este mundo para ser coadjuvante e passá-la em branco.

Terrível, desolador, será o dia em que os inimigos desaparecerem. Esse será o verdadeiro sinal do fim.


Fábio Campana é jornalista e escritor. Nasceu no município paranaense de Foz do Iguaçu. Publicou Restos Mortais, contos (1978), No Campo do Inimigo, contos (1981), Paraíso em Chamas, poesia (1994), O Guardador de Fantasmas, romance (1996), Todo o Sangue (2004), O último dia de Cabeza de Vaca (2005) e Ai (2007).

11 de setembro:: Graziela Melo

Aquela inteireza do Allende, aquele ideário democrático que cultivava na alma, a extrema direita não poderia suportar. Não poderia gostar. A extrema esquerda também não. Ele ficou quase imprensado. Contava sim, com apoio da população. Mas se sentiu imprensado, quase isolado, incompreendido, magoado, machucado. Está claro, em suas ultimas palavras:

"Trabajadores de mi pátria: tendo fé en Chile y su destino. Superarán otros hombres este momento gris y amargo, donde la traición pretende imponerse. Sigan ustedes sabiendo que, mucho más temprano qu tarde, de nuevo abrirán las grandes alamedas por donde pase el hombre libre para construir una sociedade mejor."

Aquela extrema direita chilena, herdada do fascismo que municiou a guerra civil espanhola, que Neruda tanto repudiava em seus versos – “muerto cayo Frederico, El crimen fue en Granada” -, não poderia suportar que seu país fosse governado por um quadro da esquerda radicalmente democrática e que não tinha nada em seu currículo que permitisse detratá-lo, desacreditá-lo, diminuí-lo, perante a opinião pública.

Um homem cheio de ideias na cabeça, de bons sentimentos na alma e no coração. Ideias todas voltadas para o bem da humanidade e do povo de seu país.

Odiado pela extrema direita e incompreendido pela extrema esquerda, Allende, depois de retirar do Palácio La Moneda, todos os seus funcionários, amigos e familiares, viveu seus últimos instantes em solidão, até ser alvejado por aquela maldita bala que varreu do cenário da vida um dos melhores e mais dignos quadros da América. Latina!

Saudades muitas!. Da figura impoluta do Allende, das festas democráticas que presenciei, da solidariedade do povo chileno, do Conjunto Quilapayum e suas belas músicas e do meu filho morto, cujos restos permanecem sepultados nas terras chilenas.

Tristezas muitas pelo dia de hoje

Serra Presidente - Programa de 11/09 (noite)

Tucano se mantém no ataque

DEU NO ESTADO DE MINAS

Em comício em Goiânia, José Serra continuou batendo forte no governo do presidente Lula e em sua adversária. Ele ressalta que sua biografia mostra que não é preciso ter padrinho

Tiago Pariz

Goiânia - O presidenciável tucano, José Serra, subiu em um minipalanque montado no comitê central da campanha de Marconi Perillo (PSDB) para discursar para uma plateia de agentes comunitários da Saúde contra seu alvo preferido: a candidata adversária Dilma Rousseff (PT). Fez disparos contra a Casa Civil, o governo federal, a biografia e a falta de personalidade de Dilma. Mantendo sua postura de não comentar pesquisas de intenção de votos, Serra convocou seus partidários para formar uma "ventania democrática" e alterar o cenário eleitoral favorável à sua adversária. Depois de prever que, se ela for eleita, Lula não se elege nem deputado federal, Serra agora fez um prognóstico ainda mais sombrio. Com Dilma no poder, em 15 dias haverá disputa entre os partidos aliados, segundo Serra. "Qualquer deputado, qualquer político sabe que ninguém governa na garupa. Se o outro quiser mandar, e os partidos perceberem isso, sai briga em 15 dias", disse no minicomício promovido pelo seu correligionário goiano.

Ele aproveitou ainda para associar novamente a imagem de Lula e Dilma com a de Paulo Maluf (PP) e o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta, morto no fim do ano passado. No comitê de Perillo, o tucano foi recebido com gritos de saudação no comitê eleitoral de Marconi Perillo. Foi bastante assediado, não conseguiu caminhar dois metros dentro do escritório sem ter de tirar uma foto com algum partidário-tiete. Esse clima otimista animou José Serra a afiar a língua contra Dilma. "Eu não tenho padrinho, a minha história é conhecida. Não preciso que outros digam o que fiz, porque as pessoas sabem o que fiz. Eu sou um envelope aberto. Do outro lado, é um envelope fechado que não se sabe o que tem dentro", afirmou José Serra no ato com agentes de saúde.

Estratégia - O tucano escolheu visitar Goiânia ontem depois de Dilma ter feito um comício em conjunto com Lula em Valparaíso (GO) na segunda-feira com candidatos a governador e senador de Goiás e do Distrito Federal. No ato petista, Lula disse que Serra não faz comício porque tem medo de não conseguir juntar gente na praça. O tucano acabou tendo de se adequar à agenda de Marconi Perillo. Depois do ato eleitoral na capital, ele participou de carreata em Morrinhos e Piracanjuba. Serra disse que Dilma é uma incógnita que não foi testada e não tem vida pública e criticou o fato de a petista ter um padrinho na vida política. Eu me apresento como o candidato que tem história, tem biografia. Tenho selo de qualidade e sou um livro aberto. A outra candidata é um envelope fechado, com portas secretas, com partes inexplicadas, o que fez e o que não fez é dito pelos outros. O meu padrinho é o povo brasileiro", afirmou o tucano.

O presidenciável classificou ainda a Casa Civil como um lugar de maracutaia, ao responder sobre a denúncia da revista Veja de que a ministra Erenice Guerra teria atuado para viabilizar negócios nos Correios intermediados por uma empresa de consultoria de seu filho Israel Guerra. "Não é possível que alguns partidos, alguns candidatos achem natural esse processo de corrupção no nosso país. Não é natural, não", afirmou. "A Casa Civil tem sido um foco de problemas no Brasil. Eu lembro que, no caso do mensalão, na época do José Dirceu, a Casa Civil foi o centro. Depois teve a Dilma, que deixou seu braço direito lá, uma pessoa de sua confiança, e de novo o centro de maracutaia é a Casa Civil", atacou o tucano. Serra também disse que o governo federal não revela dados verdadeiros sobre escolas técnicas. "Eles também fazem muita onda com isso", ironizou.

Tucanos tentam tornar assunto mais acessível

DEU EM O GLOBO

Maiá Menezes

Serra diz considerar impossível explicar o caso na televisão

BRASÍLIA. A preocupação em levar o caso até o eleitorado mais popular levou o vice na chapa de Serra, Indio da Costa, a intensificar entrevistas em rádio, no Nordeste. Na semana passada, em Petrolina, Pernambuco, o candidato disse ter tentado explicar o caso de forma mais simples para ouvintes de uma rádio.

Tentei associar com a violação de uma carta ou de uma senha de banco. Ainda que muitos não entendam ou não declarem imposto, essa é uma comparação que aproxima disse Indio.

José Serra diz que a preocupação de explicar e fazer o público entender o escândalo deve ser dos meios de comunicação: É impossível. Não tem como explicar através de uma campanha. Não há tempo para isso no horário eleitoral disse Serra, na última sexta-feira.

Ainda que a repercussão eleitoral seja pequena, alerta o tributarista Antonio Baptista Gonçalves, o crime foi grave: As pessoas podem não estar enxergando, mas o crime ocorreu. Os eleitores podem ter no seu imaginário: chega a época de eleição e acontece de tudo. Mas o crime existe diz, pontuando as violações à lei Existe uma série de crimes cometidos com a violação dos dados.

O mais grave deles foi o de peculato, o crime cometido por funcionário público.

O servidor que vazou também pode responder por corrupção passiva. A questão eleitoral aí é um desdobramento: se for configurado o objetivo de uma vantagem eleitoral indevida, o TRE e o TSE podem ser acionados.

Independente do desfecho, houve crime

O cientista político Paulo Baia reitera que a banalização do crime não o torna menos grave: A venda dos bancos de dados, que deveriam ser reservados, passou a ser prática.

A questão é que é preciso chamar a atenção: isso caracteriza crime grave. A Receita está sendo lenta e cometeu crime. Independente do desfecho eleitoral diz Paulo Baia.

Para o cientista político Eurico Figueiredo, da Universidade Federal Fluminense (UFF) , mesmo que seja uma ofensa à vida privada do cidadão em uma sociedade democrática, o sigilo não deve repercutir eleitoralmente a ponto de virar o jogo em favor do candidato tucano: Não foi possível até agora fazer com que esse fato (a quebra de sigilo) repercuta. A questão não chega ao eleitor médio, que está interessado no aumento da renda, do emprego. A autoridade maior dessa eleição é o senhor PIB (Produto Interno Bruto).

PF filmou funcionários do governo do Amapá recebendo propina

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Governador do Estado e outras autoridades foram acusados de corrupção

Na operação Mãos Limpas, que prendeu na sexta-feira o governador do Amapá, Pedro Paulo Dias (PP), o ex-governador Waldez Goés (PDT) e outras 16 pessoas, a Polícia Federal gravou funcionários do governo pegando propina e indo depositar o dinheiro em conta particular, informa Rui Nogueira.


No Amapá, propina ia para campanha

PF diz que loteamento de cargos para familiares do governador, candidato à reeleição, e de seu antecessor garantia perpetuação do esquema

Felipe Recondo e Rui Nogueira

BRASÍLIA - As investigações da Operação Mãos Limpas encontraram fortes indícios de que o loteamento do governo por parentes do ex-governador Waldez Góes (PDT) e do governador Pedro Paulo Dias (PP) garantia a perpetuação do esquema de desvio de recursos públicos descoberto pela Polícia Federal. Além disso, o dinheiro desviado e as propinas cobradas de empresários serviriam, segundo o Ministério Público, para financiar a campanha de reeleição de Pedro Paulo Dias.

Todos os indícios constam de documento do Ministério Público obtido pelo Estado, que embasa os pedidos de prisão temporária de 18 pessoas, incluindo o atual e o ex-governador, e de busca e apreensão cumpridos pela PF. "Essa "montagem" da cúpula administrativa do Amapá por meio de vínculos familiares é sintomática do propósito de assegurar a estabilidade da atividade criminosa, e, consequentemente, da existência de uma quadrilha no âmbito da administração daquele estado. É inusitado e contraria súmula do STF que um governador tenha esposa e dois irmãos como secretários de Estado", argumenta o MP, referindo-se ao atual governador.

Os documentos e interceptações telefônicas mostraram que Pedro Paulo Dias estaria negociando, com representante de um grupo empresarial da Indonésia, o repasse de R$ 30 milhões para sua campanha eleitoral. A prática, conclui o MP, além de crime eleitoral, caracterizaria a prática de corrupção e peculato.

A PF usou durante as investigações dois agentes infiltrados que colheram provas de corrupção consideradas "inquestionáveis". Em uma filmagem secreta, a PF gravou um funcionário do governo pegando a porcentagem dele na propina e indo tranquilamente depositar o dinheiro na conta particular de um banco.

A investigação foi deflagrada em agosto de 2009, mas os 18 mandados de prisão, 87 mandados de condução coercitiva e 94 mandados de busca e apreensão foram todos executados anteontem no Amapá, Paraíba e São Paulo. Todos os presos - além dos governadores, secretários, assessores especiais e servidores públicos de carreira - foram levados ontem para Brasília e encarcerados na Superintendência da PF e no Presídio da Papuda.

Além de filmagens e escutas produzidas ao longo de dois meses, a operação da PF já tem 30 laudos periciais com cruzamentos sobre movimentação financeira dos envolvidos no esquema de corrupção, a origem e o destino final do dinheiro público, depoimentos e documentos mostrando como as primeiras- damas, os secretários e assessores recebiam propinas mensais como se fossem salário.

Um dos casos de fraude envolve a Secretaria de Educação, com um contrato de R$ 1 milhão para fornecimento de 200 filtros para melhorar a qualidade da água que os alunos bebem nas escolas estaduais do Amapá.

O contrato, que tinha "caráter emergencial", era dirigido a uma única empresa, que instalou tubos coloridos de PVC, com areia e carvão, que contaminava a água consumida pelos estudantes.

Suspeita de lobby no governo

DEU EM O GLOBO

Diretor dos Correios diz que filho de ministra da Casa Civil intermediava contratos públicos

Geralda Doca
BRASÍLIA - A empresa Capital Assessoria e Consultoria, que pertence ou pertenceu até recentemente a Israel Guerra, filho da ministra da Casa Civil, Erenice Guerra, ajudou a companhia de carga Master Top Airlines (MTA) a renovar sua concessão junto à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). O contrato venceu em meados de dezembro passado, mas como a MTA tinha pendências com a Receita Federal, chegou a ser suspenso. A assessoria de Israel Guerra conseguiu reverter a situação da empresa aérea em menos de uma semana. A ação pode constituir tráfico de influência.

Erenice sucedeu a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, no ministério.


Intermediação também junto à Anac

A informação é do diretor de Operações dos Correios, coronel Eduardo Artur Rodrigues Silva, responsável pela área de contratos da estatal.

Embora ele diga que não conhece o filho da ministra, confirmou ao GLOBO ontem que a Capital foi acionada pela MTA no fim de 2009. Sem obter da Receita a Certidão Negativa de Débito (CND), a cargueira não conseguiu renovar o contrato de concessão com a Anac e perdeu, por alguns dias, a autorização para operar.

Na ocasião, o coronel Silva ainda não trabalhava nos Correios, mas prestava assessoria para a MTA, junto aos órgãos de aviação civil, já que é especialista na área. Indicado pela Casa Civil, ele assumiu o cargo de diretor de Operações dos Correios em agosto último.

Silva disse que só ficou sabendo do serviço prestado pela Capital à MTA porque o documento elaborado pela empresa de consultoria foi reenviado ao escritório da sua empresa no Rio, a Martel Assessoria e Consultoria Aeronáutica, para ajustes. O texto da Capital embasava o pedido de renovação do contrato, alegando que o débito tinha sido quitado.

Segundo reportagem publicada pela revista Veja ontem, o filho de Erenice Guerra atuou como lobista da MTA junto aos Correios. Com sua influência no governo, segundo a revista, ele teria sido o responsável pelo contrato da cargueira com a estatal, no valor de R$ 84 milhões.

Ainda de acordo com a Veja, a Capital Assessoria e Consultoria teria recebido comissão de R$ 5 milhões pelos trabalhos, como taxa de êxito ou, o resultado positivo do lobby.

Segundo a revista, a ministra, que sucedeu da intermediação. A denúncia movimentou a campanha e provocou reação da oposição.

O coronel Silva também foi citado em reportagens recentes como sendo o dono da MTA, o que ele nega categoricamente. Afirma apenas que prestava assessoria à companhia. Silva confirmou também que Fábio Baracat, citado na reportagem da Veja, fazia negócios em nome da MTA em Brasília.

Ele agia em nome da empresa em Brasília.

Tinha uma procuração para isso afirmou Silva.

Ele participou, inclusive, de uma audiência pública nos Correios em dezembro de 2008, como representante da MTA.

Silva admite proximidade com a MTA, mas nega que isso tenha ajudado na indicação do seu nome para o cargo nos Correios. Como consultor da Martel, contou que ajudou a companhia de cargas em 2005. Disse também que sua filha era casada, até três anos atrás, com o presidente da MTA. Ele negou que mantenha, atualmente, vínculos com a empresa, tendo se afastado também da Martel. A filha assumiu a consultoria.

Não tenho vínculo com nenhuma empresa.

Quero que provem.

A MTA tem contrato com os Correios para prestar o serviço de carga aérea na linha ManausSão Paulo, uma das mais rentáveis da estatal.

Em maio passado, a companhia assinou um contrato emergencial para explorar o serviço por seis meses, até 10 de novembro.

Por meio de nota, divulgada ontem, Erenice nega a acusação da reportagem que chamou de caluniosa. De acordo com a Veja, a empresa Capital Assessoria e Consultoria, que teria sido aberta em julho de 2009 por Israel Guerra, fez lobby junto ao governo para viabilizar que o empresário Fábio Baracat autor das denúncias na revista ampliasse com os Correios contratos da MTA (Master Top Airlines) e da Via Net Express, que atuam na área de transporte de correspondências. Baracat seria sócio da MTA à época.

A reportagem diz que Erenice se encontrou quatro vezes com o empresário Fábio Baracat, inclusive no apartamento funcional que ocupava no centro de Brasília. Todos os encontros, afirma a revista, aconteceram fora da Casa Civil, entre agosto de 2009 e abril deste ano, e sempre com a participação do filho de Erenice.

O empresário Fábio Baracat nega as acusações feitas pela Veja. Em nota, ele afirma ter sido mais uma personagem de um joguete políticoeleitoral, disse. Embora reconheça que conhece Erenice e Israel, disse que nunca tratou de negócios ou de política com eles. No início da noite, a revista Veja divulgou uma nota na qual afirma que as entrevistas feitas com Baracat foram gravadas.

Lobby rendeu R$ 5 mi a filho de braço direito de Dilma, diz revista

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Reportagem da revista "Veja" afirma que a empresa do fiho de Erenice Guerra (Casa Civil) recebeu cerca de R$ 5 milhões por intermediar contrato de R$ 84 milhões para fornecimento de aviões para os Correios.

Filho de sucessora de Dilma teria feito lobby

Diretor dos Correios e consultor confirmam que Israel, filho de Erenice Guerra, intermediou negócios com estatal

Revista "Veja" apontou empresa da qual é sócio outro filho da ministra como intermediadora de empresas no governo

DE BRASÍLIA - O diretor de Operações dos Correios, Artur Rodrigues da Silva, e o consultor Fabio Baracat apontaram ontem à Folha o filho da ministra-chefe da Casa Civil, Erenice Guerra, como intermediador de negociações e contratos entre uma empresa privada e o governo federal.

Erenice sucedeu a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, de quem era o braço direito na pasta.

Reportagem da revista "Veja" desta semana mostra que Israel Guerra e a empresa Capital Assessoria e Consultoria Empresarial, à qual é ligado, fizeram lobby para ajudar a MTA Linhas Aéreas a obter a renovação de uma concessão da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) que permitiu, mais tarde, um contrato em condições privilegiadas com os Correios.

A revista diz que foi Erenice quem viabilizou o sucesso da atuação do filho. Segundo a reportagem, o dinheiro pago na intermediação teria sido citado pela ministra como necessário para cumprir "compromissos políticos".

Em nota oficial, Erenice classificou a reportagem de "caluniosa", mas o envolvimento de Israel foi confirmado à Folha por dois participantes das negociações com a Anac e os Correios.

Rodrigues Silva disse que a Capital foi contratada pela MTA (Master Top Linhas Aéreas) no final do ano para apressar a liberação de seus voos pela Anac.

Segundo a Junta Comercial de Brasília, a Capital está registrada em nome de Saulo Guerra, outro filho de Erenice, e de Sônia Castro, mãe de Vinícius Castro, assessor da Casa Civil. A "Veja" afirma que os donos são "laranjas" de Israel e Vinícius.

Representante da MTA na época, Baracat diz que era com Israel que os entendimentos eram travados. O filho de Erenice, segundo ele, receberia remuneração se a operação tivesse sucesso.

"Durante o período em que atuei na defesa dos interesses comerciais da MTA, conheci Israel Guerra, como profissional que atuava na organização da documentação da empresa para participar de licitações, cuja remuneração previa percentual sobre eventual êxito, o qual repita-se, não era garantido", disse Baracat à Folha
.
No início do, a MTA fechou contrato sem licitação de R$ 19,6 milhões com os Correios para transporte de carga.

Baracat disse ter conhecido Erenice, mas negou ter discutido negócios com ela. Segundo a "Veja", eles teriam se encontrado quatro vezes para negociar os interesses da MTA.

Dilma Rousseff e José Serra (PSDB) comentaram ontem a denúncia de lobby na Casa Civil. Em Goiânia, Serra disse que o ministério virou um "centro de esculhambação" desde que era comandado por José Dirceu.

Dilma defendeu Erenice e disse que a acusação faz parte de uma tentativa da oposição de achar uma "bala de prata" para atingi-la.

Sucessora de Dilma na Casa Civil montou esquema de lobby no governo, diz revista Veja

DEU EM O ESTADÃO.COM.BR

Conhecida por ser "escudeira", "braço direito" e, claro, "companheira" da presidenciável Dilma Rousseff, a advogada Erenice Guerra, sucessora da candidata petista na Casa Civil, montou no Palácio do Planalto uma central de lobby familiar-partidário que cobra de empresários interessados em fazer negócios com o governo uma taxa propina de 6%.

Reportagem publicada pela revista Veja desta semana revela que o filho de Erenice, Israel Guerra, que até pouco tempo atrás perambulava pela Esplanada em cargos comissionados de menor importância, tornou-se, à sombra da mãe-ministra, um próspero consultor de negócios, eufemismo de lobista.

No novo figurino, segundo a reportagem, Israel operou, pelo menos, a concessão de um contrato de R$ 84 milhões para um empresário do setor aéreo com negócios com os Correios. Chamada de "taxa de sucesso" , a propina foi estimada em R$ 5 milhões e teria servido em parte para "saldar compromissos políticos".

Em abril do ano passado, o empresário paulistano Fábio Baracat, dono da Via Net Express, empresa de transporte de carga aérea e então sócio da MTA Linhas Aéreas, queria ampliar a participação de suas empresas nos Correios.

O objetivo era mudar as regras da estatal, de modo que os aviões contratados por ela para transportar material também pudessem levar cargas de outros clientes, arranjo que multiplicaria os lucros de Baracat e sócios.

Para obter sucesso em suas pretensões, o empresário foi orientado pelo "bas-monde" negocial de Brasília a procurar a Capital Assessoria e Consultoria, uma pequena firma em tamanho, cuja sede é uma casa numa cidade satélite de Brasília, mas grande em contatos.

No papel, são sócios da Capital Saulo Guerra, outro filho da ministra, e Sônia Castro, mãe de Vinícius Castro, assessor jurídico da Casa Civil. São dois laranjas. Sônia Castro é uma senhora de 59 anos que reside no interior de Minas Gerais e vende queijo.

Estabelecido o canal, o empresário encontrou-se com Israel e o Vinícius Castro, um subordinado de Erenice. Nesse contato, obteve a certeza que o negócio sairia. "Bastava pagar", relatou o empresário à revista. Nos acertos seguintes, Israel mostrou que o sucesso empresarial estava em seu DNA: "Minha mãe resolve", teria dito Israel, segundo o empresário.

"Impressionou-me a forma como eles cobravam dinheiro o tempo inteiro. Estavam com pressa para que eu fechasse um contrato", emendou, de acordo com depoimento prestado à Veja.

Prometido o dinheiro, feitos os contatos prévios, as "cláusulas", o contrato chegou à sua fase final, a assinatura simbólica da negociata: o ok de Erenice. "Está na hora de você conhecer a doutora", disse Israel a Baracat.

Os sócios de fato da Capita levaram então o empresário para o apartamento funcional onde Erenice morou até março deste ano, antes de mudar-se para a Península dos Ministros. Na ocasião, entre conversas amenas, Erenice foi amável e abriu um vinho. O negócio estava fechado.

Por e-mail dirigido à Veja, Israel admitiu à revista ter feito o "embasamento legal" para a renovação da licença da MTA na Anac, em dezembro. Israel também admitiu ter apresentado o empresário Fábio Baracat à mãe-ministra, mas apenas "na condição de amigo". A ministra também reconheceu a existência do encontro, por meio de sua assessoria.

Campanha petista

O caso articula-se com a campanha de Dilma não só pela presença de Erenice no caso, pela peculiaridade da propina ter a suposta destinação de "saldar compromissos políticos", mas também porque o escritório do filho-lobista funcionava, na prática, em uma banca de advocacia num shopping de Brasília que presta serviços a campanha de Dilma.

A banca Trajano & Silva Advogados tem como um dos sócios o advogado Márcio Silva, coordenador em Brasília dos advogados que cuida dos assuntos jurídicos da campanha presidencial de Dilma Rousseff.

Reação

O senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) aponta como "pior" aspecto da acusação o fato de o balcão de negócios estar montado na Casa Civil e não em outros órgãos públicos, como tem ocorrido no governo Lula. "Não é nem nos ministérios, tudo parece ser acertado dentro do Palácio do Planalto", constata, lembrando não ser esta a primeira vez que Erenice Guerra está envolvida em operações suspeitas. "Ela também estava no lance dos cartões corporativos, cujos valores o governo não conseguiu explicar", destaca. "Faço votos que não seja esta mais uma denúncia para o presidente Lula ridicularizar, como tem feito com tudo o de comprometedor que ocorre em seu governo", diz o senador.

O Polvo no Poder

DEU NA VEJA

Diego Escosteguy

A reportagem de capa de VEJA da semana passada relatou o escândalo da quebra do sigilo de adversários políticos promovida por militantes do PT e deu uma visão panorâmica da imensidão e profundidade do aparelhamento do estado brasileiro por interesses partidários. A presente reportagem foca nos detalhes de um caso de aparelhamento muito especial.

Os eventos são protagonizados por pessoas que dão expediente no Palácio do Planalto, em um andar logo acima do ocupado pelo presidente Lula, e são quase todos filiados ao PT, em cujo nome eles agiram em seu relacionamento com empresários em busca de contratos milionários com órgãos do governo.

A figura de proa da história é Erenice Guerra, ministra chefe da Casa Civil, pasta na qual sucede Dilma Rousseff, a candidata petista à presidência da República. Lula inventou Dilma, que inventou Erenice, que é mãe de Israel, personagem que nos leva ao segundo capítulo da narrativa. Ela começa em abril do ano passado, quando Erenice era secretária-executiva da candidata Dilma Rousseff. Lula sabia tudo que a ministra Dilma fazia, que sabia tudo que Erenice fazia?

À frente da Casa Civil desde abril deste ano, Erenice despacha a poucos metros do presidente, coordenando o trabalho de todos os ministérios da Esplanada. Esse extraordinário poder político compreende as bilionárias obras do Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC, e a atuação de gigantes como o BNDES, a Petrobras e os Correios.

Hoje, qualquer grande ação do governo precisa receber o aval de Erenice. Ela chegou ao cargo pelos bons trabalhos prestados ao partido nos últimos sete anos. Tornou-se então a principal assessora e confidente da candidata do PT à Presidência. Num eventual governo Dilma, portanto, ela é presença certa.

O Brasil ouviu falar pela primeira vez de Erenice em 2008, quando se revelou seu papel na criação de um dossiê ( banco de dados, na versão oficial) sobre os gastos da ex-primeira dama Ruth Cardoso e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Antes dos detalhes, segue-se aqui um resumo do enredo. Ele ajuda a entender a história que se vai ler a seguir.

Em abril do ano passado, um empresário aterrissa em Brasília em busca de vender ao governo um serviço de transporte aéreo de correspondências e pacotes, justamente o que os Correios procuram. O empresário sabe que sem o empurrão de algum poderoso, por melhor que seja sua proposta em termos de custo e eficiência, ela não será nem analisada. O vendedor então procura um nome forte o bastante para fazer sua proposta tramitar na máquina governamental.

Surgem sugestões de nomes de consultores, como são chamados os lobistas em Brasília. O nome de Israel Guerra se impõe. Ele é filho de Erenice, então secretária executiva de Dilma na Casa Civil. Monta-se um contrato com uma cláusula que prevê “taxa de sucesso” de 6% para Israel caso a licitação pouse suavemente na pista correta.

Dá tudo certo, a empresa prestadora de serviços para os Correios embolsa 84 milhões de reais e entrega pouco mais de 5 milhões para o consultor, lobista, filho da futura ministra chefe da pasta mais poderosa do governo e que despacha no andar de cima do presidente da República. As partes despendem-se e já esquentam os motores para a próxima aventura de ganhar um contrato milionário no governo com ajuda de figura da alta hierarquia.

Casos com enredos semelhantes a esse ocorrem em Brasília a toda hora. Ocorrem no atual governo. Ocorreram em governos passados. A aventura em pauta é diferente por alguns motivos, como se vai ler em seguida. Um dos principais: a “taxa de sucesso” cobrada se destinaria no total, ou em parte, não se sabe bem, a “saldar compromissos políticos”. Para os petistas envolvidos na transação, um claro ato de corrupção capitulado na Constituição, em leis ordinárias e no Estatuto do Servidor Público, era uma ação cívica, um dízimo ideológico destinado a plantar fundações ainda mais sólidas do projeto de poder do grupo.

Nada a esconder. Nada que possa envergonhar cristão. Para eles, desviar dinheiro do bolso dos pagadores de impostos – brasileiros que trabalham cinco meses do ano para o estado -- por meio do direcionamento da licitação fraudulenta, a “taxa de sucesso”, se confunde com as ações rotineiras que cumprem como servidores públicos. Governo e partido, na visão deles, são a mesma coisa.

Nas últimas semanas, VEJA entrevistou clientes do esquema e lobistas que participaram dos negócios. Também teve acesso a emails, contratos, notas fiscais e comprovantes bancários relacionados a essa central de lobby. Dessa investigação, emergem contundentes evidências de que o filho de Erenice e seus sócios usam a influência dela para fechar negócios com o governo.

O grupo, do qual fazem parte dois funcionários da Casa Civil, oferece livre acesso ao Palácio do Planalto, à ministra e ao poder que ela detém de azeitar a obtenção de facilidades e lucros na máquina pública. Em troca, exige pagamentos mensais e a notória “taxa de sucesso”

A empresa do filho da ministra chama-se Capital Assessoria e Consultoria e foi aberta oficialmente em julho do ano passado. No papel, constam como sócios Saulo Guerra, outro filho da ministra, e Sônia Castro, mãe de Vinícius Castro, assessor jurídico da Casa Civil. São dois laranjas. Sônia Castro é uma senhora de 59 anos que reside no interior de Minas Gerais e vende queijo.

A reportagem entrevistou empresários, lobistas, advogados, funcionários e ex-funcionários de alto escalão para tentar entender a história de sucesso da Capital. Na junta comercial, informa-se que ela encerrou suas atividades recentemente. No endereço onde deveria funcionar, na periferia de Brasília, existe um sobrado residencial, e, numa primeira visita, ouve-se do morador que ali é uma casa de família. Uma verificação mais minuciosa, porém, revela que no endereço registrado oficialmente como sede da Capital mora Israel Guerra.

Na ultima quinta-feira, VEJA localizou Israel em sua casa – ou melhor, na sede da empresa. Empresa? Segundo ele, não sabia de empresa alguma funcionando ali. Capital? Nunca ouviu falar. Vinícius? Não se lembrava ao certo nome. Stevan? Este, salvo engano, era amigo de um amigo.

O Vinícius, que ele não se lembrava, era Vinícius Castro, funcionário da Casa Civil, parceiro dele no escritório de lobby. O advogado Stevan Knezevic, o amigo do amigo, o terceiro parceiro, é servidor concursado da Agência Nacional de Aviação Civil, a ANAC, cedido à Presidência da República desde setembro de 2009. Os três se conheceram quando trabalharam na burocracia de Brasília, tornaram-se amigos inseparáveis – amizade que voou a jato para o mundo dos negócios.

Como a sede da empresa funciona em uma residência, quando precisam despachar com os clientes, os três lobistas recorrem ao escritório da banca Trajano & Silva Advogados, que fica num shopping de Brasília. O escritório não tem placa de identificação, mas em cima da mesa de reunião, há vários cartões de visita que indicam que lá trabalha gente famosa e importante. Um dos sócios do escritório é advogado Márcio Dilma, ninguém menos que o coordenador em Brasília da banca que cuida dos assuntos jurídicos da campanha presidencial de Dilma Rousseff. Quem mais trabalha lá?

Antônio Alves Carvalho, irmão de Erenice Guerra e, portanto, tio de Israel Guerra. Há um terceiro sócio, Alan Trajano, que dá expediente no gabinete do deputado mensaleiro João Paulo Cunha. Eles admitem que a turma do filho da ministra usa as dependências do escritório – e até que já tentou intermediar negócios com a banca. “O Israel tinha sido procurado por uma construtora mineira, que queria contratar um escritório de advocacia, mas acabou não dando certo”", disse Márcio Silva.

VEJA localizou o empresário que participou das reuniões com o filho, os funcionários da Casa Civil e Erenice. Em abril do ano passado, o paulistano Fábio Baracat, dono da ViaNet Express, empresa de transporte de carga aérea e então sócio da MTA Linhas Aéreas, queria ampliar a participação de suas empresas nos Correios. A idéia era mudar as regras da estatal, de modo que os aviões contratados por ela para transportar material também pudessem levar cargas de outros clientes. Isso elevaria o lucro dos empresários.

Baracat também desejava obter mais contratos com os Correios. Ele chegou ao nome do filho de Erenice por indicação de um diretor dos próprios Correios. Diz Baracat: “Fui informado de que para conseguir os negócios que eu queria era preciso conversar com Israel Guerra e seus sócios”. O empresário encontrou-se com o filho da entáo secretária executiva de Dilma e o assessor Vinícius Castro. Explicou a eles o que queria – e ouviu a garantia de que poderiam entregar ali se encomendava.

“Bastava pagar”, afirma Baracat. Nos encontros que se seguiram, Israel disse que poderia interceder por meio do poder da Casa Civil: “Minha mãe resolve”. Conta o empresário: “Impressionou-me a forma como eles cobravam dinheiro o tempo inteiro. Estavam com pressa para que eu fechasse um contrato”.

Após algumas conversas de aproximação, segundo o relato de Baracat, os sócios da Capital informaram: “Está na hora de você conhecer a doutora”. Os dois levaram o empresário para o apartamento funcional onde Erenice morava até março deste ano. Para entrar, Baracat teve que deixar do lado de fora celulares, relógio, canetas – qualquer aparelho que pudesse gravar o encontro. Erenice foi amável, abriu um vinho. “Ela conversou sobre amenidades e assuntos do governo. Erenice não mencionou valores ou acordos. Deixou evidente, porém, que seu filho e o sócio falavam com aval dela”, diz.

“Depois que eles me apresentaram a Erenice, senti que não estavam blefando”, admite Baracat, em conversas gravadas. “Israel e Vinícius passaram a me cobrar um pagamento mensal e exigiam que somente eles me representassem em Brasília.” A partir de agosto de 2009, o empresário topou acertar um contrato e efetuar os pagamentos mensais.

O filho da ministra também se encarregou de operar as mudanças que beneficiariam a empresa nas licitações da estatal. E dá-lhe dinheiro. Diz o empresário: “Pagava os 25 mil reais em dinheiro vivo, sempre para Vinícius Castro. Os acertos davam-se em quartos de hotel, restaurantes e dentro do carro. Ele nunca contava o dinheiro”. No segundo semestre do ano passado, no auge desses pagamentos de propina, Baracat encontrou-se mais duas vezes com Erenice. Como no jantar inicial, as conversas versavam sobre planos de governo, fofocas políticas e a situação dos Correios. Afirma Baracat: “Ela sabia de tudo que se passava. Dava respaldo aos meninos”.

O primeiro bônus pago pelo empresário à turma de Israel Guerra veio em dezembro do ano passado – quando Dilma ainda era ministra. A licença de voo da MTA havia expirado, e a empresa chegou a ficar 4 dias sem operar por ter dificuldades na renovação desse documento junto à ANAC. Aos diretores da MTA e a Baracat, Israel Guerra informou que as dificuldades se traduziam em cobrança de propina.

Diante do impasse, no dia 17 de dezembro Baracat fez uma transferência eletrônica bancária (TED) de 120 mil reais, de sua conta pessoal, para a conta da Capital Consultoria no Banco do Brasil. Além da “taxa de sucesso” do filho de Erenice, o pagamento também contemplou, segundo os sócios da Capital, distribuição de propina na ANAC. Narra-se a trajetória dessa renovação em emails trocados entre os diretores da MTA e a Capital. No mesmo dia 17, Stevan Knezevic, o terceiro sócio da turma, informou por email aos clientes que a renovação sairia naquele dia. Assinava apenas “Capital”.

Em abril, assim que Erenice assumiu o cargo de ministra, houve um novo encontro entre ela, o empresário e os dois lobistas. A conversa ocorreu numa padaria. Desta vez, Erenice estava incomodada com o atraso de um dos pagamentos. Israel abordou o assunto, e ela emendou:

“Entenda, Fábio, que nós temos compromissos políticos a cumprir”. O empresário anuiu, e nada mais se disse.

Com o apoio da empresa do filho da ministra, a MTA, que até então ganhava cerca de 40 milhões por ano em contratos emergenciais com os Correios, faturou, num arco de dois meses, 84 milhões de reais em novas licitações. Em outra demonstração da força da ministra Erenice e de seus sócios-juniores, o dono da MTA foi nomeado no final de julho diretor de Operações dos Correios – sim, precisamente o cargo que controla seus contratos como pessoa jurídica.

Consolidou-se, assim, a mais perfeita simbiose entre os interesses do grupo de Erenice e as necessidades empresariais dos fornecedores de serviços aos Correios.

Na sexta-feira, Israel Guerra, parece ter recobrado a memória. Por e-mail, ele admitiu ter feito o “embasamento legal” para a renovação da licença da MTA na ANAC, em dezembro. Disse que recebeu o pagamento por meio da conta da empresa do irmão – que no dia anterior ele nem se lembrava que existia – e confirnmou que até emitiu notas fiscais. Israel também admitiu ter apresentado o empresário Fábio Baracat à mãe-ministra, mas apenas “na condição de amigo”.

O fato é que a vida do filho da ministra mudou significativamente desde que a mãe ascendeu na hierarquia federal. Depois de vagar por vários empregos públicos, sempre por indicação de alguém, ele parece ter se estabilizado financeiramente. Na garagem de sua casa, podem-se ver sinais de que a vida como lobista está lhe fazendo bem: ele tem dois carrões, um Golf preto e uma caminhonete Mitsubshi L-2000 – somente a caminhonete está avaliada em 100 mil reais.

Os carros estão em nome da ministra Erenice.


Com reportagem de Rodrigo Rangel, Daniel Pereira, Gustavo Ribeiro e Paulo Celso Pereira

Dilma diz confiar em Erenice e pede apuração

DEU EM ESTADO DE S. PAULO

Candidata afirma que episódio é mais um para tentar desestabilizar sua candidatura

Moacir Assunção

A candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, desqualificou nesta sábado, 11, as denúncias de suspeita de tráfico de influência, feitas em reportagem da revista Veja, contra a ministra da Casa Civil, Erenice Guerra, que a sucedeu no ministério. Dilma, que visitou o vice-presidente José Alencar, internado no Hospital Sírio Libanês, afirmou que a ministra, com quem teria relação apenas profissional, goza até hoje de sua confiança. "Estou fora do governo há três meses e não tenho acompanhado o dia a dia do ministério, mas tenho certeza de que tudo que foi dito será apurado (referindo-se às denúncias) e, se alguém errou, será punido", disse.

Dilma ressaltou que, em momento algum, a ministra lhe fez algum pedido pessoal quando era secretária-executiva do ministério. Ela afirmou que conhece apenas superficialmente o filho dela, Israel Guerra, acusado de pedir propina a empresários para obter contratos, e não conhece nenhum dos empresários citados na reportagem da revista.

A candidata respondeu duramente quando foi questionada pelos jornalistas a respeito da declaraçaõ do seu adversário José Serra (PSDB) que afirmou que a Casa Civil era "um foco das maracutaias do governo". "Meu adversário tem perdido todas as estribeiras. Tem feito, sistematicamente, acusações sem provas e levianas. Do jeito que vai, periga passar a eleição visto como um caluniador", comentou.

Para a petista, o episódio da denúncia contra a ministra - que disse ter encontrado rapidamente em duas cerimônias após sair do governo - somam-se ao escândalo da quebra de sigilos fiscais de tucanos como um conjunto de acusações para tentar desestabilizar sua candidatura.

"Eles (os adversários) estão procurando a bala de prata, em busca da bala de prata. Sinto informar que não terão".

Com relação à ultima pesquisa Datafolha que a coloca 23 pontos à frente de Serra, ela repetiua que as pesquisas apenas refletem um momento. "Não subo em salto alto. Ninguém pode dizer que já ganhou fiando-se em pesquisas, que são apenas aferições. A vitória só vem após a apuração dos votos na urna".

'Ministério da Casa Civil é o centro da maracutaia no Brasil', afirma Serra

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Aliados de Serra também criticam condução da Casa Civil e candidatura de Dilma

Rubens Santos

O presidenciável José Serra (PSDB) considerou gravíssima a denúncia publicada neste sábado, 11, envolvendo a ministra da Casa Civil, Erenice Guerra, seu filho Israel e mais dois servidores da pasta.

"O Brasil tem que mudar e a época da eleição, é o momento para promover estas mudanças. Não é possível que alguns candidatos e alguns partidos achem natural que esse processo de corrupção em nosso País. Não é natural, não. Nós podemos mudar isso. Podemos mudar com eleição", disse Serra.

Durante visita a Goiânia onde participou de comício seguido de carreata na capital e em duas cidades do interior (Piracanjuba e Morrinhos). Ele criticou duramente a Casa Civil do governo Lula: "A Casa Civil tem sido um foco de problemas para o Brasil. Eu lembro que no caso do mensalão, na época do José Dirceu, foi o centro de escândalo. Depois, esteve a Dilma, que deixou seu braço direito, uma pessoa muito próxima, e hoje de novo, é o centro da maracutaia é a Casa Civil".

Serra prosseguiu em suas críticas: "Essas denuncias devem ser apuradas e tem que haver punição para os responsáveis. E não diversionismo e ocultamento", e aconselhou que "para se terminar com estes escândalos que fazem pouco do povo brasileiro, só mesmo a eleição".

"Eu me apresento com o candidato conhecido, que tem história, e são 27 anos do Brasil que eu ocupo cargos públicos, disse Serra elencando sua trajetória política, e afirmando que sua vida "é um livro aberto. Um livro aberto mesmo. De resto vocês tem na outra candidatura um envelope fechado", como uma ironia sobre o caso dos correios.

Coro

O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), disse que o partido vai pedir à Procuradoria-Geral da República que investigue os favorecidos pelo esquema de cobrança de propina nos contratos do governo. "Não vamos nos calar, não vamos nos omitir, não temos medo de retaliação e vamos à Justiça onde quer que seja possível", afirmou Guerra.

Em coro com Guerra, o senador tucano Álvaro Dias (PR) postou em sua conta no microblog twitter: "Esse escândalo é tao estarrecedor quanto o do Mensalão. Na cozinha da candidata à Presidência", disse. "Está mais do que contaminada a candidatura de Dilma depois das denuncias de hoje. Erenice é alma gêmea de Dilma. Sua parceira e sucessora", completou.

O senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) aponta como "pior" aspecto da acusação o fato de o balcão de negócios estar montado na Casa Civil e não em outros órgãos públicos, como tem ocorrido no governo Lula.

"Não é nem nos ministérios, tudo parece ser acertado dentro do Palácio do Planalto", constata, lembrando não ser esta a primeira vez que Erenice Guerra está envolvida em operações suspeitas. "Ela também estava no lance dos cartões corporativos, cujos valores o governo não conseguiu explicar", destaca. "Faço votos que não seja esta mais uma denúncia para o presidente Lula ridicularizar, como tem feito com tudo o de comprometedor que ocorre em seu governo", disse o senador.

Para o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), ao contrário do que tem ocorrido até agora, a Polícia Federal e a Justiça Eleitoral deveriam adotar as providências necessárias para apurar e punir o que entende ser "mais um fato gravíssimo contra a candidata do PT". Para o senador Demóstenes Torres (DEM-GO), o fato de o filho de Erenice, Israel Guerra, ter dito aos empresários parceiros na fraude que o dinheiro da propina seria usado em parte para "saldar compromissos políticos" compromete a campanha de Dilma e deve ser investigado. "É evidente que se trata de abuso de poder econômico e, se for devidamente comprovado, leva à impugnação da candidatura da Dilma", afirmou. Para ele, a denúncia se encaixa à perplexidade provocada pelas "campanhas vistosas do PT, cujas declarações de gastos ficam muito abaixo do real". Situação que, alega, deixa claro que o partido está "abusando" do caixa dois, por não ter como justificar a origem do dinheiro aplicado para eleger candidatos aliados do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.


Com informações de Rosa Costa

Anos depois de escândalo, 'aloprados' continuam no PT

DEU EM O GLOBO

Caso de compra de falso dossiê contra tucanos ainda é investigado por MP

Leila Suwwan e Anselmo Carvalho Pinto*

SÃO PAULO e CUIABÁ. Quatro anos depois do escândalo dos aloprados, três personagens envolvidos na compra de um falso dossiê contra tucanos continuam abrigados no PT. O caso ainda está sendo investigado pelo Ministério Público Federal, e nenhum dos acusados foi denunciado.

Ameaçado de expulsão em 2007, Osvaldo Bargas, ex-secretário do Ministério do Trabalho, jamais deixou o PT, ao qual é filiado desde 1981. Sindicalista do ABC paulista, Bargas perdeu o cargo após a confirmação de que negociara e intermediara uma entrevista de denúncia contra José Serra (PSDB), por suposto envolvimento com a máfia dos sanguessugas.

A prefeitura de São Bernardo do Campo, comandada por Luiz Marinho (PT-SP), patrocinou o retorno de outro aloprado ao PT: Hamilton Lacerda.

O ex-assessor e ex-coordenador da campanha de 2006 do senador Aloizio Mercadante (PT-SP) se refiliou ao partido em fevereiro deste ano. Sua ficha partidária foi processada no diretório de São Caetano, mas ainda não foi apresentada à Justiça Eleitoral.

Sua ficha ainda deve estar tramitando, ninguém apresentou objeção à filiação disse Paulo Frateschi, secretário de Organização do PT.

Acusado é preso em nova operação da PF

Lacerda também negociou a entrevista contra Serra e foi flagrado no sistema interno de câmera do Hotel Íbis de Congonhas.

Foi nesse local que a Polícia Federal prendeu em flagrante Gedimar Passos e Valdebran Padilha com uma mala com R$ 1,7 milhão em dinheiro vivo, que seria o pagamento pelo dossiê fabricado por Luiz Antônio Vedoin, pivô da máfia das fraudes na compra de ambulâncias.

Nas imagens, Lacerda aparece carregando uma mala, que seria entregue à dupla Valdebran e Gedimar.

Ele alega que a mala continha apenas boletos, laptop, roupas e material de campanha.

Neste ano, ele prestou concurso para professor universitário na Universidade Municipal de São Caetano do Sul. Em abril, a Folha de S.Paulo afirmou que Hamilton se tornou um fazendeiro na Bahia, com negócios no setor rural que somam R$ 1,5 milhão em capital social.

Não se avançou nada em relação à origem do dinheiro (usado para a compra do dossiê).

Nos próximos dias, vou retomar o trabalho e ver o que se aproveita (do inquérito) disse o procurador da República em Cuiabá, Mário Lúcio Avelar.

O processo corre em segredo de Justiça. Em 2007, o Supremo Tribunal Federal (STF) arquivou a investigação contra Mercadante e seu tesoureiro, José Giácomo Baccarin, por falta de provas. Depois desta decisão, os autos voltaram para a Justiça Federal em Mato Grosso, mas o processo não avançou.

Em Cuiabá, um dos principais acusados no episódio, Valdebran Padilha, que tem ligações com políticos do PT de Mato Grosso, saiu de cena nos últimos meses, depois de ser novamente preso em uma operação da PF, denominada Hygeia, que investigou fraudes em obras da Fundação Nacional de Saúde (Funasa).

Ele está discreto, mas sempre atua nas sombras afirmou Gilmar Brunetto, integrante da ONG Moral, que fiscaliza e denuncia casos de corrupção em Mato Grosso.

Semana passada, O GLOBO tentou contato com esses e outros aloprados, que, por terceiros, recusaram-se a dar entrevista.

Um assessor de Lacerda informou que ele não tinha interesse em falar. Localizado em sua casa, em Santo André, Helder Bargas afirmou que ele e seu pai não falam com a imprensa.

Valdebran foi procurado na Engesa e em casa, mas não foi localizado. Seu advogado, Roger Fernandes, afirma que seu cliente está passando por dificuldades financeiras.

Ele não está conseguindo pagar nem as prestações do carro.

Se não fosse a esposa, que é formada em Educação Física, estaria em uma situação desesperadora disse Fernandes.

Outros dois aloprados, Jorge Lorenzetti e Expedito Veloso, continuam fora do PT e evitam holofotes. Lorenzetti conhecido como ex-churrasqueiro do presidente Lula era analista de risco e mídia da campanha de 2006. Ele não retornou os recados deixados no Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina, onde é docente. Veloso, que perdeu o cargo na época, voltou a um posto de superintendência do Banco do Brasil.

Ex-assessor de Lula teve nome citado em investigação

Freud Godoy, ex-assessor de Lula, que teve o nome citado durante as investigações mas não foi indiciado pela PF, diz que tem trabalhado nos últimos anos para se recuperar do abalo de 2006. Ele deixou o cargo na Presidência, mas continua filiado ao PT.

A única mágoa ou ressentimento que tenho é dessa pessoa (Gedimar Passos) que citou meu nome, depois voltou atrás, e, desde então, eu só tenho prejuízos pessoais e profissionais sem nunca ter feito nada de errado.

Já fui investigado por todos os lados e não há nada contra mim ou minha empresa disse Godoy

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Quero saber :: Pablo Neruda

Quero saber se você vem comigo
a não andar e não falar,
quero saber se ao fim alcançaremos
a incomunicação; por fim
ir com alguém a ver o ar puro,
a luz listrada do mar de cada dia
ou um objeto terrestre
e não ter nada que trocar
por fim, não introduzir mercadorias
como o faziam os colonizadores
trocando baralhinhos por silêncio.
Pago eu aqui por teu silêncio.
De acordo, eu te dou o meu
como te dou o meu
com uma condição: não nos compreender



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