domingo, 22 de agosto de 2010

Reflexão do dia – Merval Pereira


A infantilização do eleitorado brasileiro denunciada pela candidata do Partido Verde, Marina Silva, é um dos sustentáculos da alta popularidade do presidente Lula. E a campanha eleitoral vai se desenrolando de acordo com os planos desenhados por ele à imagem e semelhança do seu governo, praticando o que talvez seja o maior mal que esteja fazendo ao país: a esterilização da política.

O controle dos partidos através da distribuição de cargos e de métodos mais radicais como o mensalão neutraliza a ação congressual, permitindo a formação de uma aliança política tão heterogênea quanto amorfa, com partidos que em comum têm apenas o apetite pelos benefícios que possam obter apoiando o governo da ocasião.

A quase unanimidade a favor se deve também ao assistencialismo e à cooptação dos "movimentos sociais", de um lado, e de outro a uma política econômica que aumenta os gastos com juros, Previdência e programas assistenciais.

Uma frente que tem, num extremo, o setor financeiro e, no outro, os mais pobres, numa estranha aliança dos rentistas do Bolsa Família com os rentistas financeiros.


(Merval Pereira, no artigo, ‘Infantilismo e controle’, em O Globo, ontem, 21/8/2010)

Luta pelo Congresso:: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

A disputa pelo poder dentro da coligação governista, que vive momentos de euforia diante da possibilidade real de vitória já no primeiro turno da candidata oficial Dilma Rousseff, foi antecipada para as campanhas estaduais. O centro do poder é o controle do Senado, onde o governo tem encontrado uma barreira a suas iniciativas e onde sofreu a pior derrota, a da extinção da CPMF.

O PMDB tenta manter as maiores bancadas do Congresso, tanto na Câmara quanto no Senado, e tudo indica que desta vez não abrirá mão de continuar comandando as duas Casas como no primeiro momento do governo Lula, quando aceitou fazer um rodízio com o PT, acordo quebrado em 2009, quando Michel Temer foi eleito presidente da Câmara, e José Sarney, do Senado.

A última vez em que o PMDB comandara as duas Casas legislativas ao mesmo tempo fora no biênio 91-92.

Na Câmara, as previsões são de que a bancada governista aumentará sua maioria em cerca de 15 deputados, mas nada que altere o equilíbrio de forças atual.

O PMDB manterá a maior bancada, segundo levantamento da consultoria Patri de Políticas Públicas, de Brasília.

Mesmo com a previsão de um crescimento do PT em 15 deputados, os peemedebistas também crescerão.

De qualquer maneira, a diferença das previsões é pequena 95 deputados para o PMDB e 92 para o PT , e a presença de Lula pode alterar esse quadro a favor do PT.

Que é tudo o que o PMDB não quer. Dominando o Congresso, com o vice Michel Temer assumindo a coordenação das negociações entre o Planalto e os parlamentares, o PMDB ganha força política para se impor no governo.

Na oposição, o DEM será o maior prejudicado, perdendo cerca de 15 cadeiras, enquanto o PSDB permanecerá no mesmo nível da atual bancada. Quem crescerá também na base do governo será o PSB.

No Senado, o crescimento do PT será menor, de 9 para 11 senadores, enquanto o PMDB manterá a mesma bancada de 18 senadores.

A oposição pode perder quatro cadeiras entre DEM e PSDB, mas o PPS deve eleger Itamar Franco em Minas.

Por essa conta, o Senado continuará com a mesma característica atual. Embora o governo tenha na teoria uma larga vantagem 47 senadores da base aliada contra 31 da oposição e 3 neutros , não tem segurança para as votações.

Essa situação pouco será alterada no futuro Senado, segundo as pesquisas até o momento, pois a bancada do PMDB tem dissidentes impor tantes que continuam com mandato, como Pedro Simon, do Rio Grande do Sul, e Jarbas Vasconcellos, de Pernambuco, e deve ganhar a presença do ex-governador de Santa Catarina Luiz Henrique.

O ex-governador Orestes Quércia, em São Paulo, disputa a segunda vaga do Senado com Romeu Tuma (PTB) e Netinho de Paula (PCdoB).

Os números das últimas pesquisas mostram que o equilíbrio de forças regionais está sendo desmontado pela popularidade de Lula, que faz com que sua candidata se recupere até mesmo na Região Sul, o maior bastião da oposição nos últimos anos.

O empate técnico no Sul, que corresponde aos estados de Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, registrado pelo Datafolha, com Dilma chegando a 38% contra 40% de Serra, pode significar uma mudança nas corridas estaduais para o governo e o Senado.

Hoje, Santa Catarina e Rio Grande do Sul são estados azuis, governados pela oposição ou seus aliados.

No momento, as pesquisas apontam que o PSDB pode ganhar no Paraná, com Beto Richa, e perde em Santa Catarina, para o PP de Ângela Amin, e no Rio Grande do Sul, para o PT de Tarso Genro. Havendo segundo turno, o candidato do PMDB dissidente, José Fogaça, pode derrotar Tarso.

A subida de Dilma no estado em que começou sua vida pública, no entanto, indica uma vantagem para o petista.

No Senado, o PP pressiona para que Lula não apoie Paulo Paim contra Ana Amélia Lemos, que estão empatados.

A derrota neste momento de Serra na Região Sudeste, que engloba São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo, é a maior demonstração da situação difícil de sua campanha.

Com Geraldo Alckmin liderando com folga a corrida para o governo, Serra não consegue abrir uma vantagem no seu estado que permita compensar as derrotas em Minas e Rio.

Em Minas, a esperança de vitória vai se desvanecendo diante da dificuldade que o governador Aécio Neves que se elege para o Senado está tendo para virar o jogo contra Hélio Costa, do PMDB. Mesmo que consiga essa reversão, tudo indica que ela não chegará à campanha presidencial.

No Rio, o governador Sérgio Cabral deve ser reeleito no primeiro turno, e a disputa está no Senado. Há um movimento do PMDB e da Igreja Católica para alavancar a candidatura de Jorge Picciani contra o bispo Marcelo Crivella, do PRB, que lidera a pesquisa junto com o ex-prefeito Cesar Maia.

Lula está pedindo votos para Crivella e Lindberg, ex-prefeito petista de Nova Iguaçu.

No Norte/Centro-Oeste, Dilma tem 50%, e Serra, 27%.

Ali, há uma disputa particular em que Lula se empenha para derrotar o senador Artur Virgilio, do PSDB, que por enquanto está com a segunda vaga, pois a primeira é do exgovernador Eduardo Braga.

A tática do governo é dar força para a candidata do PCdoB, Vanessa Grazziottin.
No Nordeste, a candidata petista ampliou sua vantagem em 11 pontos e chegou a 60% contra 22% do tucano.

Por enquanto, a oposição está conseguindo reeleger dois de seus principais líderes para o Senado, Tasso Jereissatti, do PSDB, no Ceará e José Agripino Maia, do DEM, no Rio Grande do Norte. Mas Lula está empenhado pessoalmente em derrotá-los.

Mandato tampão:: Wilson Figueiredo

DEU NO JORNAL DO BRASIL

À medida que se aproxima a eleição que sacode a mesmice eleitoral, mais o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pega jacaré nas ondas e, confiado no que dizem as pesquisas, dá como inevitável a vitória que fará a ponte sobre a qual pretende chegar ao terceiro mandato propriamente dito. O mandato impropriamente dito é o que promete emprestar a Dilma Rousseff, sem pensar em reeleição, quando em 2014 se encontrarem em território brasileiro a eleição presidencial e a Copa do Mundo. Até lá, o presidente ainda não terá se decidido, entre tanta coisa que já lhe passou pela cabeça. Ainda não sabe a que aplicar sua disponibilidade presidencial, mas anunciou o que pretende no governo alheio e, como quem não quer nada, pegará carona no mandato da afilhada. A lua de mel eleitoral entre padrinho e afilhada alternará quartos crescentes e minguantes, como qualquer acordo político que se preze.

Em Pernambuco, para não chover no molhado, numa região em que o mais forte, politicamente, são as grandes secas, o presidente prometeu que, assim que deixar o cargo, sairá por aí em peregrinação por todo o país e, caso observe algo errado, deixará para trás a promessa de não incomodar o sucessor ou sucessora. O tom gentil de falar é a garantia que, na condição de avalista principal, oferece aos eleitores: a candidata Rousseff não é portadora de riscos (os petistas tinham o pé atrás em relação a ela, mas por outras razões que a razão finge desconhecer). Lula dá o exemplo de confiança: eleição, mas sem reeleição, para Dilma Rousseff.

O socialismo pode estar de pé, mas ele, Lula, estará sentado para se refazer.

“Quem pensa que vou deixar a Presidência e vou para Paris”, a seu ver, erra porque ele, o presidente, sem gastar seu francês, se dispõe a percorrer o país de cabo a rabo, para ver “o que fiz e o que não fiz” (e que é a maior parte). Promete que, “se tiver alguma coisa errada”, pegará o telefone e autorizará “minha presidenta” a fazer o que ele, Lula, não tiver conseguido.

Por aí se entende melhor, como complemento circunstancial de hipótese, o mandato por ele delegado a Dilma Rousseff.

No começo do ano Lula descobriu o segredo da sucessão e incorreu num anacronismo que Freud não desculparia, ao apresentar como de sua autoria o princípio implícito na monarquia: “rei morto, rei posto”. Entende que Dilma Rousseff terá de criar um estilo próprio “de fazer as coisas dela”. Por existir mais de uma coisa, precisará de muita atenção: a primeira já está esquecida (foi disposição da mocidade), a segunda foi o brizolismo, e a terceira ainda não se completou.

Presidente, na exacerbação do presidencialismo, pede – no mínimo – respeito republicano equivalente: melhor que Lula tivesse dito, sem superstição, “presidente morto, presidente eleito”. É por aí. No caso brasileiro, aproveitando a oportunidade, aconselha-se a despachar para o exílio histórico a figura do vice-presidente, que nada tem a acrescentar, exceto as crises de apendicite republicanas.

A lua de mel eleitoral alternará quartos crescentes e minguantes


Wilson Figueiredo escreve nesta coluna aos domingos e terças-feiras.

Desencontro marcado:: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

PT e PSDB são sem sombra de dúvida as duas grandes forças políticas antagônicas da cena brasileira, quanto a isso não há quem discorde embora haja quem goste e quem desgoste.

Há anos discute-se uma junção dos dois num hipotético governo de excelências, livre de pressões fisiológicas.

Debate que a realidade insiste em desmentir constantemente pelo acirramento da divergência entre petistas e tucanos que já lutaram juntos contra a ditadura, mas desde a ruptura - final da década dos 70 - disputam o poder sem dar sinais de que possa haver convergência.

Pois bem, a última pesquisa Datafolha mostra que o eleitorado de um modo geral está pouco ligando para a briga dos dois.

Em uma mesma eleição escolhe o candidato a presidente de um partido, de outro para governador, de um terceiro para senador e assim por diante até completar rol de postos eletivos a serem preenchidos, sem se preocupar com a uniformidade partidária.

O voto cruzado não é novidade nem tem razões tão misteriosas ou profundas. Apenas na ditadura os generais inventaram durante certo período o voto vinculado, obrigando o eleitor a escolher candidatos a governador, senador e deputado (não havia eleição para presidente) de um mesmo partido.

A ideia era conter a onda oposicionista que começara a se expressar em 1974. O resultado da eleição de 1982 contrariou a expectativa: a maioria preferiu marcar "PMDB de ponta a ponta".

O motivo mais óbvio pelo qual o eleitor mistura Geraldo Alckmin com Marta Suplicy, Dilma Rousseff com Aécio Neves, Sergio Cabral com seu arqui-inimigo Marcelo Crivella e assim por diante, é o descompasso entre a vida real e o ambiente cenográfico em que vivem os partidos, apartados da população.

Fazendo bobagem em cima de bobagem no Congresso, tratando a administração pública como casa da sogra e abrindo cada vez mais espaço para soluções personalistas e retrocessos carismáticos.

De onde para o autoritarismo é um pulo.

Dois na gangorra. Há uma explicação para a reação imediata e incisiva do PT ao uso da imagem de Lula no programa do PSDB. Principalmente cenas em que aparece em situação de amabilidade com José Serra.

Segundo análise de um mandachuva da campanha dias atrás, o pior momento para o PT foi aquele início em que Serra elogiava Lula sem parar. "Não havia argumentos convincentes para responder. Íamos dizer o quê, que Lula não merecia os elogios?"

Agora ocorre parecido. Quando o PSDB põe Lula no ar para acentuar o fim do governo, é difícil o PT rebater, dado que o governo de fato acabará em poucos meses.

O argumento de que a lei não permite o uso da imagem de político em programa de partido ao qual ele não esteja formalmente coligado, não tem grande fundamento quando o político em questão é presidente da República.

Símbolo nacional, como o hino ou a bandeira.

Mas o PT entende que precisa reagir e busca a melhor maneira de fazer isso.

O tom mais eficaz até agora é o que acusa Serra de querer pegar uma carona no sucesso de Lula, pois não rejeita nem aceita os agrados, mas lembra ao eleitor que o adversário cisca em terreiro alheio.

Guardadas as proporções, Serra faz o que Lula fez com a estabilidade da moeda.

Buraco negro. A autoria da quebra do sigilo fiscal do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge Caldas Pereira, caminha para o mesmo destino da origem do dinheiro com que os "aloprados" do PT comprariam um dossiê contra José Serra.

Quatro anos depois, ninguém sabe de onde saiu o dinheiro apreendido e fotografado pela Polícia Federal.

Dificilmente alguém um dia saberá quem violou o sigilo do tucano na Receita Federal. A funcionária dona da senha identificada diz que emprestou sua identificação para duas colegas e estas informam que a senha foi deixada ao alcance de outras pessoas.

Desse modo todo mundo pode ser culpado e ninguém pode ser punido.

A primeira pedra :: José de Souza Martins

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO / ALIÁS

Ante a perspectiva de execução da iraniana por lapidação ou forca, Lula poderia também se inquietar pelo fato de o Brasil ser um dos países em que mais se lincha
A notícia de que a lapidação de Sakineh Mohammadi Ashtiani, a iraniana condenada à morte por apedrejamento, teria sido comutada para enforcamento trouxe um estranhíssimo alívio para os que se manifestaram contrários à pena e à execução. Embora punições desse tipo ocorram frequentemente nos vários países em que se aplica a lei da sharia, pelo apedrejamento ou pela mutilação dos condenados, o caso de Sakineh teve no Brasil curiosa repercussão.

Num comício eleitoral em Curitiba, na campanha de Dilma Roussef para a Presidência da República, fora da pauta e fora da agenda do que de um presidente da República se espera, Lula, levado pelo seu costumeiro entusiasmo em ajuntamento público, ofereceu à condenada do Irã asilo no Brasil. Foi longe: "Se vale minha amizade e carinho que tenho por (Mahmoud) Ahmadinejad, se essa mulher está causando um incômodo, nós a receberíamos no Brasil". A bravata foi mais longe ainda. Referindo-se a Dilma, insistiu: "Quando ela for eleita, vai telefonar (para o presidente do Irã) e dizer: companheiro Ahmadinejad, meu companheiro Lula pediu que você não fizesse isso". Pouco depois, numa reunião do Mercosul, na Argentina, justificou-se dizendo que é cristão.

É inacreditável que as relações diplomáticas do Estado brasileiro fiquem à mercê dessa retórica de botequim e de amplos desconhecimentos e omissões em face do problema. Do chefe de Estado era de esperar que declarasse em palácio e não na rua que o Brasil adotaria cautelas para evitar que um país que tem tal concepção da Justiça e do castigo pudesse dispor da possibilidade de vir a ter a bomba nuclear, muito mais perigosa ao gênero humano.

O presidente do Brasil poderia ter se inquietado com o fato de que o país que governa está entre os que mais lincham no mundo e que, de 2.028 linchamentos documentados aqui ocorridos nos últimos 60 anos, em 12,1% deles, ou em 246 casos, o condenado morreu ou foi gravemente ferido por apedrejamento. A diferença é que no Irã eles de preferência apedrejam mulheres e nós, de preferência, apedrejamos homens. Gilberto Freyre, em suas referências à influência da cultura muçulmana nos costumes brasileiros, poderia ter incluído a lapidação. Nossas práticas, nesse capítulo, são mais refinadas porque influenciadas por técnicas e concepções herdadas da Inquisição, dita cristã, que fazia espetáculo público da queima de pessoas vivas.

O linchamento entre nós não é violência impensada. Por isso, prefiro me referir a suas vítimas como condenados. Em 14 casos o ritual se explicitou sob a forma de julgamento, até com voto dos jurados. Num caso ocorrido em 1984, no bairro de Cidade Dutra, em São Paulo, Osvaldo P., de 33 anos, ficou sabendo como é que isso funciona. Saído da cadeia havia três dias, após cumprir pena por três anos, era conhecido como traficante de maconha e pelo uso de drogas, por furtos, por espancamento de moradores e por expulsar moradores do bairro. Na manhã do dia 2 de abril foi agarrado por um grupo de moradores e levado para um bar.Os que chegavam, homens, mulheres e crianças, passaram a participar do julgamento. Ouviu as acusações, houve votação e foi condenado à morte. Pediu para ver os dois filhos pequenos, o que lhe foi negado. Os julgadores lhe ofereceram cachaça. Foi, então, morto a pedradas, pauladas e pontapés. Seu corpo foi arrastado pela rua. Houve festa para comemorar a morte. Quarenta e duas pessoas assumiram sua participação no justiçamento.

No sertão da Bahia, em 1996, ocorreu uma das manifestações extremas do linchamento brasileiro. Edvaldo S., de 19 anos, havia tentado estuprar sua antiga professora de escola, de 29 anos, que morava sozinha com a avó cega. Como ela resistisse, feriu a avó e perseguiu-a, matando-a a golpes de facão. Acabou preso e levado para a cadeia de Euclides da Cunha.

Silenciosamente, durante a noite, um grupo de moradores do bairro rural do acontecimento desembarcou de um caminhão na porta da guarnição da Polícia Militar em que se achava o preso.

Rendeu os 14 soldados, arrombou a cela, embarcou o preso e dirigiu-se ao local em que a moça fora morta. No caminho, cortou as orelhas de Edvaldo, depois castrou-o, esquartejou-o vivo no local em que cometera o crime e queimou-o.

Nos dois casos e em muitos outros são esses os ritos de desconstrução do corpo do condenado e, no modo da execução, de destituição simbólica de sua condição humana à vista do crime que originalmente o desumanizara. Portanto, no Brasil e no Irã, muito mais do que crueldade.



José de Souza Martins, Professor Emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. é autor, entre outros livros, de Aparição do demônio na fábrica (Editora 34)

Direitos humanos às escuras :: Sergio Fausto

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Em artigo na Folha de S.Paulo no domingo passado, o chanceler Celso Amorim criticou a diplomacia do "dedo em riste" na área dos direitos humanos. Afirmou que esta agrada à plateia, mas não protege de fato as vítimas de violações daqueles direitos. Mais eficazes seriam as negociações de bastidores com os Estados violadores, conforme proposta apresentada pelo Brasil ao grupo de 19 países incumbido de refletir sobre o fortalecimento do Conselho de Direitos Humanos da ONU.

A manifestação de Amorim - que parece ter-se esquecido da importância das pressões internacionais para o fim do apartheid na África do Sul e das ditaduras militares na América do Sul - indica que continuamos a distanciar-nos da política externa seguida pelo País nessa área, desde o retorno à democracia até o governo Lula.

Nesse período não praticamos a diplomacia do "dedo em riste" nem deixamos de reconhecer com realismo os limites da ação externa para proteção dos direitos humanos, muito menos de ponderar pragmaticamente os nossos interesses econômicos e políticos. No entanto, marcamos com clareza o compromisso com o valor universal dos direitos humanos. Subscrevemos um conjunto de convenções internacionais (a começar pela Convenção Contra a Tortura) que nos havíamos recusado a assinar sob a ditadura militar. E inscrevemos na Constituição a determinação legal que dá prevalência aos direitos humanos na condução da política externa.

No atual governo acumulam-se sinais de mudança. Discretos, mas significativos, na atuação do Brasil no Conselho de Direitos Humanos da ONU. Visíveis nas ações e nas palavras dos principais formuladores da política externa, a começar pelo presidente da República.

A nova orientação da política externa obedece a um diagnóstico segundo o qual o tema dos direitos humanos é manipulado pelas grandes potências ocidentais. Ninguém o exprime melhor do que Samuel Pinheiro Guimarães. Para o ex-segundo homem do Itamaraty e hoje ministro de Assuntos Estratégicos, a defesa dos direitos humanos "dissimula, com sua linguagem humanitária e altruísta, as ações táticas das grandes potências em defesa de seus interesses estratégicos". O alvo da crítica são, principalmente, os Estados Unidos, cuja hegemonia no sistema internacional representaria um dos principais obstáculos, se não ameaça, à projeção do Brasil na cena global, como se lê em seu livro Desafios Brasileiros na Era dos Gigantes. Ou seja, a defesa dos direitos humanos, assim como a defesa da não-proliferação nuclear, presta-se, na prática, ao congelamento do poder mundial tal como hoje se distribui. O resto seria retórica, mal ou bem-intencionada.

Se queremos e podemos tornar-nos um dos gigantes do mundo, e se a defesa dos direitos humanos não é senão a forma como os interesses das "potências ocidentais" se travestem em preocupações humanitárias, o objetivo do Brasil deve ser o de remover a maquiagem ideológica que recobre o tema nos fóruns multilaterais. Não para afirmar o valor em si, e nossas credenciais diferenciadas em relação a ele, mas para relegá-lo a um plano secundário. Quem sabe, com o propósito de livrar-nos dos constrangimentos que a deliberação à luz do dia sobre eventuais casos de violação dos direitos humanos pode impor à nossa movimentação internacional, agora que, acredita-se, nos estamos tornando um dos gigantes do planeta.

Fazer alianças pontuais para questionar a distribuição de poder atual no mundo é objetivo legítimo e oportuno. Ele vem sendo, porém, perseguido ao preço da leniência com violadores contumazes dos direitos humanos. Fica a impressão, certa ou errada, de que a proposta defendida por Amorim tem entre suas motivações a de reduzir o dano moral que a política externa do atual governo na área dos direitos humanos provoca na imagem internacional do Brasil. Figurativamente, em vez de repensar nossa atuação em cena, preferimos apagar a luz do palco.

Para ser efetiva, a proteção internacional dos direitos humanos precisa do olhar vigilante, da ação ruidosa, às vezes equivocada, mas sempre indispensável, de ONGs ligadas ao tema.

Não é preciso idealizar o que seja esse embrião de uma sociedade civil internacional para reconhecer sua importância, tanto mais agora que países com regimes autoritários e repressivos ganham peso na balança de poder global. Estaríamos querendo nos proteger desse olhar para mais livremente manejar nossos interesses econômicos e nossa projeção de poder na nova ordem multipolar?

A visão de mundo expressa por Samuel Pinheiro Guimarães é compartilhada por grande parte das forças políticas de sustentação do atual governo. Comunga o PT o diagnóstico de que a defesa dos direitos humanos é parte da hegemonia norte-americana. O antiamericanismo é um elemento de coesão no campo das esquerdas menos ou não-democráticas, sobretudo na América Latina, onde o partido construiu uma ampla rede de alianças. Serve para defender as violações dos direitos humanos em Cuba e para justificar Chávez e o chavismo. Explica também certa simpatia por grupos como o Hezbollah e o Hamas e a complacência com Ahmadinejad.

Tem razão quem diz que os Estados Unidos não nos devem servir de modelo. Em muitas ocasiões, desde que se tornou uma potência econômica e militar, a atuação externa desse país conflitou com os valores democráticos que professa. A questão, porém, não se resume a questionar as credenciais dos Estados Unidos. O fato de tais credenciais serem questionáveis não nos libera de responder à pergunta e prestar contas sobre o lugar que valores fundamentais como a defesa dos direitos humanos terão em nossa política externa, agora que projetamos nossos interesses e nossas aspirações de poder em escala global.

Será que para sermos gigantes precisamos apequenar-nos na sustentação de valores que devem marcar a nossa identidade internacional?


Diretor Executivo do IFHC, é membro do Gacint-USP

Opções, equívocos e indiferença : aspectos das eleições de 2010:: Bolívar Lamounier

DEU NO BLOG DO BOLIVAR

“O peixe não vê a água”, reza um antigo ditado. Realmente, não é fácil apreender em conjunto o ambiente em que nos movemos. Como tentar entender processos ainda em curso ?

Na campanha de José Serra, chama a atenção a incapacidade de articular um discurso nítido e coerente. Falo de discurso eleitoral, evidentemente, pois não me parece caber dúvida quanto à capacidade intelectual e política do candidato do PSDB .

Deixando de lado o trabalho dos pesquisadores e publicitários, que não conheço, a mencionada dificuldade parece-me decorrer de opções políticas feitas por Serra, por um lado, e da estratégia de Lula, pelo outro.

Serra obviamente optou por não confrontar um presidente ultra-popular. Não fez críticas diretas a Lula e a seu governo. Essa tática poderia ter dado certo se ele tivesse conseguido sustentar sua vantagem sobre Dilma pelo menos até o início do horário gratuito.

Mas não conseguiu. Daí ele se ver agora na necessidade de reverter uma situação extremamente adversa e sem um discurso adequado. No diapasão conciliador, não empolga ; no do confronto, soa incoerente com quase tudo o que disse antes.

Outro ponto em que Serra me parece ter-se equivocado foi não assumir claramente o legado do governo Fernando Henrique. A chamada “herança maldita”. Se tivesse tomado a “maldição” como mote – aceitando o desafio que lhe lançou Lula -, Serra teria se posicionado em terreno mais firme.

Seu contra-ataque aos desígnios lulistas começaria pela inflação e o posicionamento do PT e de Lula contra o Plano Real ; prosseguiria com a bem sucedida privatização das telecomunicações e o fato de praticamente todos os brasileiros possuírem hoje um celular - e se completaria na área social.

No campo das políticas sociais, não seria um bicho de sete cabeças demonstrar a benignidade do legado de Fernando Henrique, apontar defeitos nos programas existentes e articular metas sensatas para os próximos anos .

Do lado de Lula… Bem, antes de começar, peço a atenção dos leitores menos pacientes para este registro : não contesto in totum as realizações do governo Lula e não sou tolo a ponto de ignorar a sua imensa popularidade .

A estratégia posta em prática pelo presidente - cujos riscos para o país eu não me canso de ressaltar – foi de uma notável sagacidade. Ao instaurar o chamado “plebiscito”, praticamente bipolarizando a disputa, Lula inverteu os termos de uma eleição em dois turnos.

O normal seria os candidatos – vários – marcarem primeiro as suas posições e depois, em segundo turno, buscarem o centro . Lula conseguiu inverter essa sequência.

Primeiro os candidatos - a rigor só dois, Serra e Dilma – foram para o centro. Para Dilma, ótimo, é lá mesmo que ela precisa estar. Para Serra, péssimo, porque para ele é imperativo se distinguir, diferenciar seu produto.

Esta, esquematicamente, parece-me ser uma das dificuldades principais, senão a principal, que Serra enfrentou até aqui. Há chance de reversão ? Parece que não, mas esse, em qualquer caso, não é o ponto que pretendi destacar.

No que se refere aos riscos autoritários embutidos na presente situação, o que mais impressiona é a aparente indiferença de uma parcela importante da sociedade : falo aqui de uma parcela de média ou alta escolaridade.

Nessa camada, o próprio adjetivo “autoritário” em grande parte já se diluiu. Deixou de fazer referência a um regime . Passou a significar qualquer relação humana que tenha alguma verticalidade - ou qualquer coisa que não seja do agrado do PT.

O ponto sine qua non a recordar é que a redemocratização do Brasil ocorreu em 1985 - com a vitória de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral ; ou seja, 25 anos atrás. Um quarto de século.

Uma geração inteira.

Desde os “anos de chumbo”, mais de trinta anos já se passaram. Isto, a meu ver, já explica muito. Mas a questão merece uma análise mais extensa. Voltarei a ela dentro de alguns dias.

Acabou. E daí? :: Eliane Cantanhêde

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - Vem mudança partidária por aí. Uma mudança que já se desenha há anos, mas se torna premente a cada dia que passa da campanha e a cada ponto que Dilma escala rumo ao Planalto. A base lulista está excessivamente inchada, e a liga da oposição, muito esgarçada.

Lula pegou o bonde do governo FHC andando, botou o PMDB e a maior parte dos partidos dentro, foi acomodando interesses e dando o rumo. Mas Dilma não tem o mesmo perfil político nem psicológico. Lula é Lula, Dilma é Dilma. No bolsão de apostas, ninguém crê que, se ela for eleita, o casamento com o PMDB possa sobreviver ao mandato. O partido vai lhe dar muito mais trabalho do que PSDB e DEM juntos.

Aliás, você já notou como Sarney, Renan, Jader e até mesmo o vice, Michel Temer, andam sumidos na campanha nacional?

Do lado da oposição, só se fala em novo partido. Não há mais como conviver com as velhas picuinhas, disputas e traições. Muito menos depois de três derrotas sucessivas. Se Serra ganhasse, todos dariam um jeito de se acomodar e de ampliar as bases de apoio. Mas deve perder, e os ratos já começam a pular do barco. Como o navio Lula/ Dilma está com superlotação, pode ter muito rato morrendo afogado.

Serra, 68, é o último fundador do PSDB com força presidenciável. Ele mantém peso e voz na oposição, mas o futuro está em Alckmin, sólido em São Paulo, Aécio, que deve sobressair no Senado, e Beto Richa, que desponta como alternativa. Esse será o eixo da reciclagem, com a maioria do PPS e boa parte do DEM (bem aceito pelos três).

Esse freio de arrumação dos dois lados será possível porque o(a) futuro(a) presidente(a) não precisará tão fortemente do Congresso como seus antecessores. As duas grandes reformas que faltam, a política e a tributária, não dependem de um governo, mas de um amplo acordo nacional. Ou tem acordo, ou simplesmente não saem. Passados os embates de campanha, Dilma e Serra terão muito o que conversar.

Maria Rita || O Que É o Amor

Governo faz do Ipea máquina de propaganda

DEU EM O GLOBO

Ao custo de aumento de gastos com passagens, diárias e novos escritórios.

O Ipea transformou-se numa máquina de propaganda do governo, com alto custo para os cofres públicos. Entre 2007 e 2009, os gastos com diárias aumentaram 339,7% (de R$ 133,8 mil para R$ R$ 588,4 mil) e com passagem subiram 272,6% (de R$ 333 mil para R$ 1,241 milhão). Estudos são produzidos para exaltar realizações do governo Lula e têm sido usados na campanha de Dilma Rousseff. Procurado na quinta pelo GLOBO, o Ipea vazou em seu site, na sexta, perguntas e respostas à reportagem que só seria publicada hoje.

Uma máquina de alto custo

Ipea eleva gastos com diárias, passagens e estrutura e faz propaganda do governo, com levantamentos usados pela campanha de Dilma

Regina Alvarez

BRASÍLIA - O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) transformou-se numa máquina de propaganda do governo e braço de articulação de uma política externa movida pela ideologia, deixando em segundo plano sua missão primordial. E quem banca essa mudança de rumo são os cofres públicos. A máquina montada pela atual gestão consome milhões em recursos do orçamento federal em viagens, comunicação e pessoal terceirizado.

Entre 2007 e 2009, os gastos com diárias aumentaram 339,7%, e as despesas com passagem, 272,6%.

As despesas com diárias passaram de R$ 133,8 mil em 2007 para R$ 588,4 mil. E os gastos com passagens pularam de R$ 333 mil para R$ 1,241 milhão no período. Só este ano já foram gastos R$ 419 mil com diárias, 71% do total de 2009.

Estudos são produzidos sem rigor técnico e acadêmico para exaltar as realizações e políticas do governo Lula e têm sido usados fartamente na campanha da candidata oficial, Dilma Rousseff.

Em julho, o instituto divulgou uma nova abordagem de estudo publicado em janeiro sobre uma das bandeiras da campanha de Dilma, a erradicação da miséria extrema do país em dez anos, em operação casada com o comitê da candidata.

Um outro estudo divulgado este mês, sobre a influência dos municípios no PIB, defende a ampliação de programas do governo Lula incluídos nas propostas de Dilma, para reduzir desigualdades regionais.

O instituto também utilizou sua equipe de pesquisadores para defender teses controversas. Como, por exemplo, que os trabalhadores do setor público ganham menos do que os do setor privado. Ou que a produtividade no setor público aumentou mais que no setor privado.

Neste caso, o comunicado do Ipea omite que a produtividade no setor público decorre dos altos salários e que, pelo critério usado, o órgão mais produtivo no setor público é o Senado Federal.

Reforço com novos pesquisadores

Para produzir estudos como esses, que dão respaldo à política de pessoal do atual governo, o Ipea reforçou substancialmente seus quadros de pesquisadores, com a realização de concurso público e contratação de terceirizados. Entre 2007 e 2009, os gastos com bolsas para pesquisa cresceram 671%, passando de R$ 960 mil em 2007 para R$ 7,5 milhões em 2009.

O auxílio financeiro a pesquisadores terceirizados aumentou 125,6% em apenas um ano, pulando de R$ 308 mil em 2008 para R$ 695 mil em 2009.

Quem não se enquadra na nova orientação é afastado ou posto na geladeira, como aconteceu com o Núcleo de Macroeconomia do Rio.

Um exemplo recente é a colocação de 11 pesquisadores com duas décadas de serviços prestados ao órgão em um quadro de carreira em extinção, com prejuízos financeiros e impossibilidade de qualquer ascensão dentro do órgão. O Ipea nega perseguição política e diz que está cumprindo a lei, mas o procedimento está sendo questionado internamente e na Justiça.

O instituto inaugurou este ano escritórios em Caracas, na Venezuela; e em Luanda, capital de Angola.

Perguntado sobre a relação entre essas iniciativas e a sua missão, que é produzir, articular e disseminar conhecimento para aperfeiçoar as políticas públicas e contribuir para o planejamento do desenvolvimento brasileiro, o Ipea respondeu que a realização de missão no exterior se fundamenta na competência do Ipea (...) de promover e realizar pesquisas destinadas ao conhecimento dos processos econômicos, sociais e de gestão pública brasileira.

A justificativa para os escritórios, segundo informações de bastidores, faz parte da política de estreitamento de relações com governos amigos, como o do venezuelano Hugo Chávez. Não por acaso, a sede do escritório do Ipea em Caracas foi instalada nas dependências da PDVSA, a estatal de petróleo do governo venezuelano.

Oficialmente, o Ipea informa que são representações para apoiar a articulação de projetos de cooperação com países em desenvolvimento.

O objetivo dessas missões é de prestar apoio técnico a instituições e/ou organismos governamentais de outros países. Esses projetos fazem parte de um processo amplo do Ipea de fomentar a cooperação internacional. Na esteira dessa política, o presidente do Ipea, Marcio Pochmann, e diretores fizeram 15 viagens para Caracas, Cuba e Luanda, nos anos de 2009 e 2010.

Os gastos com comunicação também não param de crescer.

No Orçamento de 2010, estão previstos R$ 2,3 milhões para esse fim. No momento, o Ipea tem contratos com empresas de comunicação e marketing no valor de R$ 4,5 milhões.

A revista Desafios, uma das publicações do instituto, também serve ao propósito de divulgação dos feitos do governo e das linhas da política externa. A última edição dedicou 13 páginas a uma entrevista com o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.

Ipea repete Petrobras e vaza perguntas

DEU EM O GLOBO

Instituto divulgou em site questionamentos do GLOBO e respostas antes da publicação da reportagem

BRASÍLIA. O Ipea lançou mão, na noite de sextafeira, do mesmo recurso utilizado pela Petrobras, no auge das discussões sobre a instalação de uma CPI para apurar suspeitas de má gestão e favorecimento político em contratos da estatal, no ano passado: divulgou no site do órgão as perguntas encaminhadas pelo GLOBO para a reportagem sobre os rumos de sua gestão que só seria publicada hoje no jornal.

No fim da tarde de quinta-feira, depois de checar todos os dados de sua apuração, a repórter entrou em contato, por telefone, com o Ipea. Comunicou à assessoria de imprensa que estava fazendo reportagem com base em dados do Portal da Transparência e que gostaria de encaminhar pedido de esclarecimento sobre várias questões.

Ainda na noite de quinta-feira, como combinado, a repórter mandou um e-mail para a assessoria com as perguntas. Ao longo da sexta, ela cobrou várias vezes a resposta, em novos contatos telefônicos, para que o jornal publicasse o outro lado, como determina a prática jornalística.

Na noite de sexta-feira, por volta das 21h05m, para surpresa da repórter, ela foi avisada por um assessor, desta vez por e-mail, que as respostas estavam no site oficial do órgão. Lá, com o título Ipea responde à sociedade, estavam publicadas as perguntas do GLOBO, antes mesmo da publicação da matéria, e as respostas.

Nas respostas ao GLOBO, tornadas públicas na sexta-feira, o Ipea justifica o aumento de gastos com viagens, diárias e passagens na atual gestão pelo incremento das atividades e de seus focos de análise, instituídos pelo planejamento estratégico iniciado em 2008, que estabeleceu sete eixos voltados para a construção de uma agenda de desenvolvimento para o país.

Refere-se à lei de julho de 2008 que criou a Secretaria de Assuntos Estratégicos então sob o comando do professor Mangabeira Unger , à qual o Ipea passou a ser subordinado.

Para atender a esses objetivos, diz a assessoria, foram incorporados 117 servidores concursados. Além disso, o Ipea passou a realizar outras atividades, como cursos de formação em regiões anteriormente pouco assistidas do ponto de vista técnico-científico.

Perguntado sobre o motivo de pelo menos 15 viagens de diretores para Caracas e Cuba em 2009 e 2010, o Ipea diz que elas estão relacionadas à consolidação de acordos. Ressalta que elas não ocorrem apenas para esses países, mas também para instituições dos países desenvolvidos e das Nações Unidas, como os Estados Unidos e França, que, até o momento, nunca foram objeto de questionamentos ou justificativas.

Quanto ao aumento de gastos com bolsistas, o Ipea justifica que aprimorou e ampliou seu programa de bolsas, e destacou o ProRedes, que organizou 11 redes de pesquisa entre 35 instituições em todo o Brasil.

O aumento nos gastos com comunicação social se deu, segundo o Ipea, em função do crescimento da produção, além do cumprimento de um dos termos de sua missão: disseminar conhecimento.

Ministro do TSE arquiva representações e diz que só Lula pode questionar uso de sua imagem por Serra

" No caso, o direito é personalíssimo e, como tal, somente pode ser exercido por seu titular "

BRASÍLIA - O ministro Henrique Neves, do Superior Tribunal Eleitoral (TSE), determinou na noite de sábado o arquivamento de duas representações ajuizadas pela coligação "Para o Brasil seguir mudando", de Dilma Rousseff (PT), que tentava impedir que o PSDB veicule, na propaganda eleitoral da TV, a imagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao lado do candidato tucano José Serra. Para o ministro, apenas Lula poderia reclamar a utilização não autorizada de sua imagem, uma vez que "o direito à imagem é personalíssimo".

"No caso, o direito é personalíssimo e, como tal, somente pode ser exercido por seu titular. Dessa forma, ausente uma das condições da ação (legitimidade), não cabe decidir se a imagem foi bem ou mal veiculada, o que, repita-se, somente seria possível a partir de pedido formulado pelo detentor do direito à imagem", concluiu o ministro ao decidir pelo arquivamento das representações", destacou.

Em sua decisão, o ministro afirmou ainda que o Código Civil determina que "salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da Justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais".

A coligação de Dilma representou contra a campanha de Serra por entender que a utilização da imagem de Lula teve o objetivo de confundir o eleitor, criando uma "armadilha propagandista" que liga o presidente ao candidato tucano. Os partidos pediam a concessão de liminar para impedir que o programa de Serra utilize novamente a imagem do presidente e, no mérito, que fosse cassado o tempo de propaganda de Serra, equivalente ao dobro do tempo da exibição que veiculou a imagem do presidente Lula.

Na véspera, Serra minimizou as representações da adversária.

- São bobagens e factoides do PT, essa é uma tradição. Eles atacam e processam as vítimas - disse.

De caixa alta

DEU EM O GLOBO

Lucros dos 3 maiores bancos do país somam R$ 167 bi na era Lula, alta de 420% sobre gestão FH

Patrícia Duarte e Regina Alvarez

BRASÍLIA - A exuberância do setor financeiro, evidenciada nos recentes balanços divulgados, ganha contornos mais visíveis quando analisado o desempenho das instituições nos últimos 15 anos. Dados da consultoria Economática, levantados a pedido do GLOBO, revelam que o lucro líquido dos três maiores grupos do país Banco do Brasil (BB), Itaú Unibanco e Bradesco, que respondem hoje por quase 80% do mercado saltou quase 420% entre os oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso (19952002) e os sete anos e meio da gestão Luiz Inácio Lula da Silva (2003-1osemestre de 2010). Os ganhos dessas instituições somaram R$ 167,471 bilhões desde 2003, contra R$ 32,262 bilhões no governo anterior. Os valores estão corrigidos pelo IPCA.

Segundo especialistas, os bancos conseguiram quintuplicar seus ganhos, sobretudo com a explosão do mercado de crédito, aos juros, comparativamente à média mundial, elevados, a cobrança de tarifas e o forte movimento de concentração bancária.

A aceleração do crescimento econômico e a maior bancarização complementam o cenário.

O cenário macroeconômico no governo Lula é o melhor possível. O nível de renda e emprego melhorou muito e vimos uma explosão no mercado de crédito e de capitais. Os bancos foram procíclicos diz o economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Rubens Sardenberg.

Na época de FH, os bancos ganharam muito dinheiro com as operações no mercado financeiro, beneficiados pelas taxas básicas de juros que chegaram ao teto histórico de 45% ao ano. Naquele momento, o Brasil ainda era bastante vulnerável às crises internacionais, que levavam o governo a subir a Selic para estancar a perda de recursos externos. Como trata-se da taxa que serve de base para remunerar os títulos públicos, os bancos não precisavam se esforçar muito para garantir resultados: bastava aplicar os recursos na ciranda financeira.

Além disso, conta muito para o salto de ganhos do primeira escalão do sistema financeiro entre as gestões tucana e petista o fato de FH ter herdado de seus antecessores o BB praticamente falido, devido à má gestão de operações, sobretudo na área rural. Tanto que em 1996 a estatal passou por um processo de capitalização, com o Tesouro injetando quase R$ 10 bilhões.

Itaú Unibanco ganha R$ 67 bi; BB, R$ 50 bi

Não por menos, entre 1995 e 2002 o BB registra prejuízo de R$ 16,310 bilhões.

De 2003 para cá, a estatal já lucrou R$ 50,298 bilhões, pouco mais do que o Bradesco. O Itaú Unibanco lidera os ganhos na era Lula, com R$ 67,120 bilhões. Considerando que as instituições estavam separadas até novembro de 2008, a maior contribuição à liderança veio do Itaú.

O governo FH iniciou o processo de profissionalização do Banco do Brasil lembra o professor da FGVSP Domingos Pandeló Júnior.

Já na era Lula, com a redução dos níveis da Selic (chegou ao piso de 8,75%), os bancos passaram a emprestar mais ao setor produtivo e às pessoas, já que os ganhos com Tesouraria não eram tão atraentes. Segundo a Febraban, as receitas com essas operações respondiam por 42,5% do total do setor em 2002 e, no ano passado, essa fatia caiu para 28,8%.

Os bancos, de 2003 para cá, também passaram a cobrar mais tarifas. Ao todo, as receitas com cobrança de serviços tarifas bancárias, de fundos de investimentos, de seguros etc.

saltaram 83% entre as eras FH e Lula, somando R$ 258,7 bilhões só entre 2003 e junho passado, segundo a Economática.

No caso do Bradesco, as receitas com serviços cresceram 130% no período, somando R$ 76,1 bilhões.

A concessão de crédito também ajudou muito, ainda mais com as elevadas taxas de juros que os bancos ainda cobram dos consumidores. Em média, para pessoas físicas, estão em 40,40% ao ano, mas ultrapassam 100% em alguns casos, como o cheque especial.

Na época de FH, os juros chegaram a encostar em 200%.

As operações de empréstimos dos bancos analisados tiveram expansão de quase 170% entre os dois governos, totalizando R$ 3,575 trilhões, valor também corrigido pela inflação.

Destaque para o Itaú Unibanco, com um salto de 200% no período. Na era Lula, o estoque de crédito no setor financeiro saltou quase 300%, chegando a R$ 1,529 trilhão; já no governo FH, a expansão não passou de 110%.

O excelente resultado do setor agrada a Lula. Recentemente, ele disse que fica feliz que os bancos estejam ganhando porque, caso contrário, poderiam ter de receber recursos do Estado em épocas de crise, como o americano Lehman Brothers.

Aposta inclui crédito de longo prazo

Hoje, com a contínua consolidação do setor e o amadurecimento da economia, a tendência é que os bancos continuem buscando fontes de receitas em áreas ainda pouco desenvolvidas em relação ao potencial de consumidores no Brasil, como seguros, cartões de crédito e débito, previdência privada e mercado de capitais. O crédito de longo prazo (como financiamentos imobiliário e de veículos) também será determinante.

Vamos entrar nessa nova fase porque os juros estão menores e há uma formalização maior na economia, com muito mais pessoas bancarizadas afirmou ao GLOBO um alto executivo de um grande banco brasileiro.

Segundo o Bradesco, diversos fatores contribuíram para os seus resultados nesse período. O PIB cresceu 20% entre 1994 e 2002. Se as expectativas do banco se confirmarem, de 2003 a 2010 deve registrar crescimento de 37%, prevê o banco.

Outro aspecto destacado é o da mobilidade social, com 30 milhões de brasileiros migrando das classe D e E para a C nos seis últimos anos.

Também teve aumento significativo a base de clientes do banco, o que reflete nos resultados. Em 1994, eram 5,4 milhões de clientes, contra os 21,9 atuais.

Procurados, Banco do Brasil e Itaú não comentaram o assunto.

Ligar candidato do PSDB a Lula seria mais fácil com Aécio

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Análise: José Roberto de Toledo

Se era para tentar se camuflar como o candidato de Lula, o PSDB deveria ter escolhido Aécio Neves e não José Serra como seu presidenciável. O ex-governador mineiro sempre foi mais próximo do atual presidente do que seu colega paulista. Seria mais fácil para ele jogar na confusão do eleitorado.

Há muito mais imagens de Aécio sorrindo ao lado de Lula e do que as enxertadas no horário eleitoral do PSDB. Serra sempre fez mais oposição ao presidente do que o mineiro.

A opção do PSDB no fim de 2009 foi pelo candidato que tinha mais "recall", ou seja, cujo nome estava mais impregnado na memória do eleitor. O partido está descobrindo, a um custo de potenciais mais quatro anos de sombra, que "recall" não é o mesmo que intenção de voto.

A pesquisa Datafolha mostra a continuidade de um movimento iniciado em janeiro: à medida que mais eleitores vão identificando Dilma Rousseff com Lula, eles migram para a petista. Boa parte deles integrava o time do "recall" de Serra.

Em 2006, Lula terminou o horário eleitoral menor do que começou e teve de disputar o segundo turno. Mas ele entrou na fase da propaganda eletrônica estabilizado, não em ascensão. E ainda se desgastou com os "aloprados". Em 2010, quem tem cometido mais erros na fase decisiva é o PSDB, com a favela de mentira, a crise de identidade (oposição ou situação?) e a divisão dos aliados. Nada garante que isso não possa se inverter. Mas a inércia é favorável a Dilma.

Álvaro Dias cobra campanha mais crítica a Lula

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Para senador tucano, é hora de criar fatos novos para a campanha de Serra "e deixar o governo Lula a reboque, e não o contrário, como acontece hoje"

Miguel Portela

O aumento da vantagem da petista Dilma Rousseff sobre seu principal rival, José Serra (PSDB), caiu como uma ducha de água fria entre os líderes tucanos. O senador Alvaro Dias (PSDB-PR) cobrou ontem, em Cascavel, no oeste do Paraná, um comportamento mais crítico da campanha de Serra em relação ao governo federal.

"Acho que é hora de criar fatos novos para a campanha. Puxar o processo para si e deixar o governo Lula a reboque, e não o contrário, como acontece hoje. Na medida em que se poupam as críticas não se expõem os equívocos, falcatruas e a corrupção que há neste governo", afirmou o senador.

"Fala-se que o presidente é muito popular. Mas por que ele é muito popular? Porque as informações não chegam até a população. As informações que chegam são favoráveis ao presidente. As desfavoráveis não chegam à opinião pública porque o governo dele do ponto de vista ético é a consagração de imoralidade."

Durante a semana, a campanha de Serra já tinha sido alvo de críticas do presidente do PTB, Roberto Jefferson. No Twitter, Jefferson direcionou os ataques ao marqueteiro de Serra, Luiz Gonzalez, alvo preferencial dos aliados. "Se o Gonzalez ouvisse um pouco os políticos, não poria no ar uma favela fake, nem o bobajol do Zé", postou Jefferson, referindo-se ao programa que foi ao ar na terça, estreia da propaganda na TV.

PMDB quer o poder dividido "meio a meio" se Dilma vencer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Com a liderança de Dilma Rousseff nas pesquisas, o PMDB já definiu o tamanho do espaço que vai exigir num eventual governo da candidata petista à Presidência, faltando ainda 40 dias para a eleição, informam os repórteres João Domingos e Christiane Samarco. Sob o argumento de que não é mais "convidado", mas "dono da casa", o partido quero o poder dividido "meio a meio" e assento no Planalto, entre os "ministros da Casa" e no Conselho Político que assessora a Presidência. Quer Henrique Meirelles na equipe econômica, cargos nas estatais e postos de chefia na Petrobras e na Petro-Sal. Quer ainda o Senado e a Câmara sob seu comando, tendo ou não a maior bancada.

A 42 dias da eleição, PMDB reivindica dividir poder ""meio a meio"" com PT

Em caso de vitória de Dilma, partido de Temer deixaria de agir como "convidado", passando a atuar como um dos "donos da casa"

João Domingos e Christiane Samarco

Poder dividido "meio a meio". Assento no Planalto, entre os "ministros da casa", e no Conselho Político que assessora o presidente da República. Henrique Meirelles na equipe econômica. Ministérios de "porteira fechada", os cargos de sempre nas estatais e postos de comando nas vedetes do petróleo, a Petrobrás e a Petro-Sal. Senado e Câmara sob seu comando.

Com a campanha eleitoral em curso e ainda a 42 dias da abertura das urnas, é com essa precisão cirúrgica, alimentada pela liderança nas pesquisas da candidata aliada, Dilma Rousseff (PT), que o PMDB já define as regras de ocupação do poder. Como presidente do partido, deputado Michel Temer (SP), no posto de vice da chapa presidencial, o PMDB estima o tamanho da cota futura de poder baseado no argumento de que agora, se Dilma ganhar, o partido não é mais "um convidado", mas na verdade um dos "donos da casa", o Palácio do Planalto.

A diferença entre "convidado" e "dono da casa" deriva do fato, como explicam os peemedebistas, de que, um governo Dilma seria fruto da coalizão do PT com o PMDB, e não de simples aliança construída depois da vitória - o que aconteceu, por exemplo, nos governos Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010).

Núcleo. Por isso é que o partido, na condição de sócio-proprietário, já dá como certa a presença de um representante no núcleo político do Palácio do Planalto. "Fomos o primeiro partido a assinar com o presidente Lula um compromisso de união política pela democracia, liberdade de imprensa e de opinião, respeito aos direitos humanos e aos movimentos sociais. Com Lula e com Dilma voltamos a ser o velho MDB, que combateu a ditadura", diz Moreira Franco, escalado para coordenar o programa de governo da candidata petista pelo lado do PMDB.

Depois de passar por uma das vice-presidências da Caixa Econômica Federal e assumir um lugar na coordenação da campanha presidencial, Moreira Franco sonha com um ministério: o das Cidades, que tentou criar na gestão Fernando Henrique Cardoso e só viu a proposta se concretizar no governo de Lula.

Como o partido conseguiu seis ministérios após aderir formalmente ao segundo governo Lula (2007-2010), passando a comandar orçamento superior a R$ 100 bilhões, o cenário pretendido na hipótese de vitoriosa a chapa PT-PMDB supera, em muito, as cifras e o atual espaço de poder.

A legenda, agora, quer assento no Palácio do Planalto, com participação garantida no núcleo da tradicional reunião das 9 horas com o presidente da República, e quer também ministérios em que os postos-chave não sejam divididos com outros aliados - a tal "porteira fechada". Além das estatais e da Petrobrás e da futura Petro-Sal, o partido lembra que é candidato a também ratear poder nas agências reguladoras.

Pré-acerto. Em matéria de cargos, o PMDB já tem até pré-acerto para fincar um pé na área econômica do futuro governo. O passaporte para o Ministério da Fazenda ou do Planejamento é o atual presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que se filiou ao partido em setembro passado, a pedido do presidente Lula. Também foi Lula quem deu a Meirelles a carta de garantia de que, se vitoriosa a chapa de Dilma, seu lugar na equipe ministerial está garantido.

No fim de março, quando Meirelles já não tinha expectativas de se tornar o vice de Dilma, Lula o chamou ao Centro Cultural Banco do Brasil, sede provisória do governo. "O PMDB não abre mão de Michel Temer. Então, peço que fique no Banco Central", disse Lula ao presidente do BC. Meirelles concordou em ficar, mas, em troca, o PMDB goiano arrancou de Lula e Dilma a promessa de que o atual responsável pela política de juros terá lugar no primeiro escalão do eventual governo da petista.

Além de Meirelles, outro nome que o PMDB dá como certo numa pasta específica é o do senador Edison Lobão (MA) à frente de Minas e Energia. Lobão conseguiu a proeza de conquistar Dilma, depois de chegar desacreditado a uma área com a qual tinha pouca intimidade, na condição de afilhado do presidente do Senado, José Sarney (AP).

A dupla Sarney e o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), deve manter na administração Dilma a influência que teve na gestão Lula. O atual presidente não se esquece de que no Maranhão tem 97% de aprovação dos eleitores, maior até do que no Amazonas - onde, em 2006, saiu das urnas com 1 milhão de votos de vantagem sobre o tucano Geraldo Alckmin, com voto de apenas 176 mil eleitores.

Bancada. O líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), quer resolver seu futuro dentro do próprio Congresso. A cúpula do partido já negocia com o PT do líder Cândido Vaccarezza (SP) sua indicação para substituir Temer na presidência da Casa.

"Se formos vitoriosos na eleição, vamos pleitear a presidência da Câmara no primeiro biênio do próximo governo, tendo ou não a maior bancada", antecipa o deputado Eduardo Cunha (RJ).

O partido considera "justo e razoável" que o PMDB mantenha a cadeira de Temer em sistema de rodízio com o PT, pelo qual caberá a Vaccarezza o comando da Câmara no segundo biênio da futura administração. Como em fim de governo é sempre mais difícil manter a coesão da base, ter a presidência da Câmara nas mãos de um petista nos últimos dois anos daria mais segurança ao eventual governo Dilma. No Senado, a regra que vale é a da maior bancada indicar o presidente.

O PMDB conta com o sucesso nas urnas como condição única para fazer o sucessor de Sarney, independentemente da presidência da Câmara. O argumento é que o senador peemedebista teria direito a uma reeleição.

Dirigentes do partido também lembram que, tal como diria Lula, "nunca antes neste país" o PMDB foi aliado de primeira hora em uma campanha. No novo cenário, a legenda se recusa a apadrinhar indicações como a de José Gomes Temporão, que Lula nomeou ministro da Saúde na cota do PMDB. Um peemedebista da cúpula diz que, nesse caso, seu partido nem padrinho foi: "Servimos de barriga de aluguel para o PT, e isso não admitiremos mais."

A disputa pelo poder nos Estados

DEU NA ZERO HORA (RS)

Pelos levantamentos mais recentes, pelo menos cinco Estados têm chances de decidir a eleição ainda no primeiro turno. A cerca de 40 dias do pleito, os partidos que se destacam são PMDB, PSDB, PT e PSB

Entra ano, sai ano, lá estão eles de novo: se as eleições para governador fossem hoje, o PMDB emergeria das urnas como o grande vitorioso do pleito em nível nacional. Além de liderar as pesquisas para governador em cinco Estados, entre eles os poderosos Minas Gerais e Rio de Janeiro, o partido divide a ponta também em outros três, além de ter chances de chegar ao segundo turno no Rio Grande do Sul.

Pelos levantamentos mais recentes, pelo menos cinco Estados podem ter a eleição decidida no primeiro turno, no dia 3 de outubro com destaque para o Acre, Pernambuco, Rio e São Paulo.

PSDB e PT disputam o segundo posto na hegemonia do mapa político brasileiro pós-Lula: tucanos e petistas têm expectativa de vencer em três Estados, mas o PSDB lidera em São Paulo e está em situação de empate técnico em outros seis, enquanto o PT assume a dianteira no RS, Acre e Bahia. O PSB, pelas pesquisas, aparece como a quarta força, liderando as intenções de voto em Estados com peso médio no cenário político Ceará, Pernambuco e Espírito Santo.

A cerca de 40 dias da eleição, o resultado reforça ainda mais o papel do PMDB, que governa hoje nove Estados. Ainda mais se a candidata do governo, Dilma Rousseff, vencer a disputa presidencial e levar o presidente da Câmara, o peemedebista Michel Temer, para o posto de vice. Nas eleições de 2006, a legenda emplacou sete governadores, mas o entra-e-sai partidário elevou a cota hoje para nove.

Vem sendo assim desde 1986, quando o partido elegeu 23 governadores na carona do Plano Cruzado apenas no segundo mandato de Fernando Henrique essa hegemonia foi ameaçada.

Não me surpreende. O PMDB nunca teve vocação nacional, mas é fortíssimo nas disputas estaduais e nos municípios diz o cientista político Paulo César Nascimento, do Instituto de Ciência Política (Ipol) de Brasília.

Senado governista

Para o pesquisador, surpresa mesmo é constatar que, apesar da popularidade do presidente Lula, o PT lidere nas pesquisas em apenas quatro Estados em dois dos quais já governa. Nascimento atribui a escassez de votos da sigla à possibilidade maior de alianças do partido, que se transformou numa das legendas mais hábeis para construir coligações.

Já o problema dos tucanos, segundo o cientista, é a identificação cada vez maior com São Paulo:

É o Estado mais importante do país. Até por isso, essa afinidade acaba gerando grande rejeição em nível nacional.

O avanço do PMDB deve se estender também ao Senado, onde o partido pode emplacar 20 parlamentares de acordo com as últimas pesquisas. Coligado com o PT, o partido deve oferecer um amplo leque de apoio se Dilma Rousseff for eleita. Segundo Rudolfo Lago, da ONG Congresso em Foco, a candidata de Lula, se eleita, deve ter apoio de 57% do total do Senado.

Embora o quadro ainda seja instável, com muitos empates técnicos, não acredito em mudança na tendência de um Senado pró-Dilma. Acho até que o apoio pode passar dos 60% diz o analista.

Já José Serra (PSDB), se eleito, deve ter o apoio de no máximo 39% do total de senadores considerando os que ficarão e os que serão eleitos em outubro , conforme o Congresso em Foco.

Jornal promove sabatinas com Cabral e Gabeira

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

SÃO PAULO - A Folha promove, em parceria com o portal UOL, nos dias 25 e 26 de agosto, sabatinas com Sérgio Cabral (PMDB) e Fernando Gabeira (PV), candidatos que disputam o governo do Estado do Rio de Janeiro.

O primeiro a ser sabatinado é Gabeira, no dia 25. No dia seguinte, Cabral, candidato à reeleição, será o entrevistado. As sabatinas acontecerão às 11h, no Teatro dos Quatro (Shopping da Gávea, r. Marquês de São Vicente, 52).

As inscrições para comparecer às sabatinas já estão abertas, e devem ser feitas pelo e-mail eventofolha@grupofolha.com.br , informando nome completo, telefone, RG e evento a que deseja comparecer. A partir de amanhã, as inscrições também podem ser feitas pelo telefone 0/xx/11/ 3224-3473, das 14h às 19h.

A ordem em que eles serão sabatinados foi decidida com base na última pesquisa do Datafolha. Cabral, que lidera a disputa com 57%, contra 14% de Gabeira, participará por último.

Durante duas horas, os candidatos responderão a questões de quatro entrevistadores e da plateia -que poderá enviar questões por escrito.

Pivô de dossiê distribui boletim pró-Dilma

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Acusado de propor documento contra Serra, Lanzetta abastece veículos de comunicação com material antitucano

PT nega relação com empresa, que deixou campanha após caso do dossiê; Lanzetta não respondeu a contatos


Silvio Navarro

SÃO PAULO - Envolvido na negociação de um dossiê contra José Serra (PSDB), o dono da Lanza Comunicação, Luiz Lanzetta, abastece veículos de comunicação de todo o país com conteúdo pró-Dilma Rousseff (PT) e contra o tucano.

Pelas contas da empresa, o material é distribuído diariamente a 556 mil e-mails e reproduzido por 250 sites.

A Lanza entrega gratuitamente o conteúdo do boletim "Brasília Confidencial", que é reproduzido por sites de partidos aliados do PT, simpatizantes de Dilma, centrais sindicais, jornais e rádios.

Também é usado pela rede de mobilização comandada por Marcelo Branco, responsável pela campanha de Dilma na web. Até explodir o caso do dossiê, o site oficial de Dilma usava o conteúdo.

O "Brasília Confidencial" funciona na sede da Lanza em Brasília. No Registro.br, o cartório eletrônico na internet, o domínio da marca é da Lanza. O nome de Lanzetta, acusado de ter proposto dossiê contra Serra -ele nega-, não aparece no boletim.

Quem responde pela chefia é o jornalista Robson Barenho, sócio de Lanzetta em outros negócios com o governo. Ele, que integrava a campanha petista, mas caiu na esteira do dossiê, não quis dizer quem financia o site.

SERVIÇO

O serviço foi criado no segundo semestre de 2009, mas ganhou força e multiplicou o alcance simultaneamente à assinatura do contrato entre a Lanza e o PT para a campanha de Dilma.

O contrato foi rompido em junho após o surgimento das denúncias, e a campanha de Dilma afirma não ter mais vínculo com a Lanza.

No "Brasília Confidencial" também são divulgadas ações do governo, inclusive reprodução de banner do Ministério da Saúde para campanha de vacinação. Lanzetta presta serviços ao ministério por meio de outra empresa, a L2 Projetos e Participações (leia texto ao lado).

A Secretaria de Comunicação da Presidência nega ter pago pelos serviços da Lanza. Também diz que não repassou recursos de publicidade ao site.

Procurados pela Folha, Barenho se recusou a comentar e Lanzetta não respondeu aos telefonemas.

Segurança vira mote de campanha

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Além de criar ministério, Serra promete reforçar as fronteiras; Dilma vai incentivar combate à violência por núcleos comunitários

Lucas de Abreu Maia

Ao comprometer-se, no início da pré-campanha, com a criação do Ministério da Segurança Pública, o presidenciável do PSDB, José Serra, empurrou a questão para o centro do embate eleitoral. Seu programa de quinta-feira, na TV, concentrou-se em suas propostas para o combate às drogas - em especial o crack.

Neste mês, em viagem a Salvador, Serra divulgou seu programa de governo para a segurança. Além da criação da pasta, os sete eixos condutores incluem o fortalecimento do controle fronteiriço, investimento em inteligência e a construção de presídios.

Dilma Rousseff, candidata do PT, respondeu às propostas do adversário com um programa para a segurança com 13 diretrizes básicas, obtidas pelo Estado. Tratam, em linhas gerais, da continuidade das políticas do governo Lula. A ênfase será, contudo, no incentivo ao combate à violência por núcleos comunitários - chamado pelos coordenadores petistas de "segurança cidadã".

A segurança pública tornou-se um dos principais flancos de ataque ao PT. Esta é a área em que o governo Lula é mais mal avaliado, de acordo com a última pesquisa Ibope/Estado/TV Globo. Para 34% do eleitorado, a segurança piorou nos últimos dois anos - mesmo porcentual que considera que houve melhora no setor.

"A verdade é que a segurança não é prioridade para este governo", ataca o cientista político Túlio Kahn, que coordenou o programa tucano para a área. Ele afirma que a criação do Ministério da Segurança "é um meio, não um fim". A nova pasta deverá congregar órgãos atualmente subordinados ao Ministério da Justiça, como a Polícia Federal. O programa fala em "valorizar" e em aumentar os salários dos policiais.

Na semana passada, o partido conseguiu suspender judicialmente uma campanha publicitária da Associação dos Delegados de Polícia de São Paulo (Adpesp) que protestava contra salários e condições de trabalho.

Criticado pelo PT por aumentar o número de presídios em São Paulo, Serra deverá, se eleito, levar o modelo a todo o País. O programa tucano prevê parcerias público-privadas (PPPs) para a construção de novas unidades. "Vamos vencer a burocracia que impede as construções", garante o texto. "Há um déficit de cerca de 180 mil vagas nos presídios", complementa Kahn.

No programa de governo de Dilma, o enfoque será na continuidade. As 13 diretrizes para a segurança pública falam em "melhoria da gestão", "ampliação da política de combate às drogas" e "fortalecimento da Força Nacional de Segurança Pública".

A ruptura fica na promessa de reforma no sistema prisional. Outra inovação é o investimento em policia comunitária. Não há, porém, detalhes sobre como isto seria feito. "Vamos juntar políticas sociais com repressão qualificada. Criaremos territórios da paz, para oferecer, em zonas de perigo, a oportunidade de não envolvimento com o crime", explica o sociólogo José Vicente Tavares dos Santos, colaborador do programa de Dilma.

Promessas. Marina Silva (PV) também dá destaque à segurança pública. Em julho, ela divulgou uma nova versão das diretrizes do seu programa com ênfase no setor. São seis itens, que falam em investir em inteligência, combater a impunidade e estabelecer um plano de carreira para as três polícias. O plano teve a colaboração do antropólogo Luiz Eduardo Soares.

Os candidatos à Presidência fizeram, nesta semana, 13 novas promessas. O levantamento do Estado leva em consideração as aparições públicas dos três principais candidatos, além de entrevistas, propaganda eleitoral e material de seus sites.

O cientista político Luiz Eduardo Soares critica as políticas de segurança pública

RIO - O cientista político Luiz Eduardo Soares, ex-secretário nacional de Segurança Pública e morador de São Conrado, relatou à Rádio CBN a manhã de horror vivida, ontem, no bairro da Zona Sul, onde houve intensa troca de tiros entre bandidos e policiais. O maior susto, segundo ele, foi ouvir de tão perto o estouro das balas, que geralmente são disparadas dentro da Favela da Rocinha. A confusão começou às 8h15m, quando homens armados voltavam de uma festa no Morro do Vidigal e cruzaram aleatoriamente com viaturas policiais.

- Isso abriu um grande confronto em plena luz do dia, só que dessa vez o palco foi o asfalto, a parte nobre do bairro. Os condomínios viraram arena de conflito. A confusão envolveu grupos que normalmente não testemunham a selvageria. Os tiros não eram mais aqueles estampidos distantes que costumamos ouvir na Rocinha. Pareciam tiros dentro de casa. Com as paredes vibrando, nos demos conta de que estávamos no centro do tiroteio - declarou.

Soares contou que ouviu várias sequências de tiros num período de 40 minutos. Segundo ele, os motoristas que circulavam no bairro começaram a andar de marcha a ré, e os carros escoaram por vias laterais ou foram abandonados. Os pedestres se jogaram no chão. Às 9h30m, as ações dos bandidos se concentraram no Hotel Intercontinental, onde eles se refugiaram e fizeram pelo menos 35 reféns. O cientista político criticou com veemência o acesso indiscriminado a armas na cidade.

- Esse acesso às armas é inconsequente e irresponsável. Nós precisamos de ações para libertar a sociedade desse mar de armas ilegais, pois continuamos expostos a confrontos aleatórios e arbitrários. Essa deveria ser a prioridade. É completamente inadmissível que um grupo de homens armados de fuzis e granadas circulem pela cidade impondo o terror.

Na sua avaliação, o episódio mostra que as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) são apenas de ilhas de excelência:

- Nesse momento, há uma esperança renovada pelas UPPs. Então, compartilhávamos a ilusão de que já vivíamos outro capitulo no Rio, virando a página do horror. Isso revela que essas UPPs são só ilhas de excelência num oceano de barbárie que permanece ativo.

Luiz Eduardo Soares lamentou ainda a mancha que o episódio deixa na imagem da cidade e do país, que se prepara receber a Copa do Mundo e as Olimpíadas.

Serra critica política de segurança pública do governo federal após invasão de hotel no Rio

Elenilce Bottari - O Globo; Reuters

RIO - O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, criticou ontem a política de segurança pública do governo federal ao comentar a invasão de um hotel no Rio, após confronto entre traficantes e policiais. O tucano, que fez campanha em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, classificou a ação como ousada

- Essa ação ousada do crime organizado com a invasão que aconteceu no Intercontinental, no Rio de Janeiro, mostra a necessidade daquilo que eu tenho dito, que o governo federal se jogue na luta pela segurança, que o presidente da República se jogue na luta pela segurança do nosso povo - afirmou.

Para Serra, não há no Brasil combate efetivo ao tráfico de drogas e armas.

- A base do crime organizado é o contrabando de armas e de drogas, isto é uma tarefa federal. Isto mostra, o que aconteceu hoje, que a situação de segurança continua precária - disse o tucano, que voltou a defender a criação de um Ministério de Segurança Pública.

- Um fato como esse prejudica a imagem do Rio no exterior (...) O governador que não trabalha direito, desperta o crime em outros estados - acrescentou.

O tucano disse ainda que a instalação de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) em favelas do Rio de Janeiro, embora importante, não é suficiente para o combate à criminalidade.

- É evidente que o programa de ocupação parcial de algumas unidades do Rio é insuficiente para poder segurar esse agravamento da segurança. É algo positivo, mas está longe de representar os investimentos necessários para realmente se vencer o crime organizado - afirmou.

Em entrevista, Serra criticou também a política externa do governo Lula em relação à vizinha Bolívia:

- Por exemplo, no contrabando de armas e drogas que se faz livremente. A Bolívia produz 80% da droga que vem para o Brasil =m e o governo brasileiro não faz nada, em relação ao governo boliviano. O governo boliviano deveria segurar a exportação da droga e o governo brasileiro não toma conta das suas fronteiras. Se tomar conta, se pressionar os outros países para não exportarem drogas, isto ajuda a segurança no Rio de Janeiro, no Espírito Santo, na Bahia, em São Paulo, porque o problema da segurança é grave no Brasil inteiro. Há estados que vão melhor, estados que vão pior, mas a gravidade é geral.

O candidato do PSDB também minimizou a ação que o PT afirma que levará à Justiça Eleitoral contra o programa tucano que mostra uma imagem em que Serra aparece ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

- São bobagens e factoides do PT, essa é uma tradição. Eles atacam e processam as vítimas - disse.

Sem aval do comando da Segurança Pública, 12 policiais teriam tentado prender o chefe do tráfico na Rocinha

DEU EM O GLOBO

Antonio Werneck e Vera Araújo

RIO - Uma operação não autorizada pelo comando da Segurança Pública feita por 12 policiais militares, para tentar prender o traficante Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, chefe do tráfico nas favelas do Vidigal e da Rocinha, estaria por trás da manhã de terror vivida neste sábado por centenas de turistas e moradores de São Conrado. A informação, obtida com fontes do GLOBO, não foi confirmada pela PM, mas será investigada.

Os policiais do Grupo de Ações Táticas (GAT) do 23 BPM (Leblon) foram informados da presença do bandido na Favela do Vidigal, ainda de madrugada. Nem estaria em uma festa acompanhado de ao menos 60 traficantes armados com fuzis, metralhadoras e pistolas. Ele chegou à favela por volta de 5h, anunciando bebidade de graça para os cúmplices e moradores.
Ao deixar a comunidade, às 7h15m, os policiais - todos à paisana - tomaram um dos acessos da Avenida Presidente João Goulart, principal ligação entre a Avenida Niemeyer e o alto do morro, e ficaram esperando, escondidos.

Surpreendidos pelos PMs, Nem e seu bando, que seguiam em comboio para a Favela da Rocinha, reagiram a tiros. A intensa troca de tiros aconteceu por volta das 7h30m.

Moradores do Vidigal confirmaram que Nem e seus cúmplices estavam numa festa no alto da favela, no final da Avenida João Goulart, uma das principais ruas da comunidade. Segundo fontes do GLOBO, Nem e seus cúmplices obrigaram a dois motoristas de Vans, do Vidigal, que os transportassem até a Rocinha, quando o grupo cruzou com policiais militares e começou o tiroteio.

Segundo o coronel Paulo Henrique Moraes, comandante do Batalhão de Operações Especiais (Bope), há suspeitas de que Nem tenha se ferido durante o confronto, mas a polícia não sabe de seu paradeiro.

Na ação, 35 pessoas foram feitas reféns, entre elas, alguns hóspedes do Hotel Intercontinental, que foi invadido pelo grupo armado. Um mulher que, segundo a Secretaria de Segurança Pública, trabalhava para o tráfico de drogas na Rocinha e era foragida da Justiça, morreu no confronto. Duas pessoas ficaram feridas. Elas foram socorridas e levadas para o Hospital Miguel, Couto na Gávea.

Na comunidade, moradores contam que Nem desconfia que o líder da Associação de Moradores do Vidigal, José Valdir Cavalcante, o Zé da Rádio, candidato a deputado estadual, tenha procurado a polícia para denunciá-lo. Na sexta-feira, o traficante expulsou Zé do Rádio, que teria feito algo que o desagradou, embora já tivesse sido avisado. O líder comunitário teria jurado vingança, dizendo que procuraria à 15 DP (Gávea). No morro, para onde voltou, o traficante disse que Zé do Rádio "será a bola da vez".

A invasão do Hotel Intercontinental ganhou destaque na imprensa internacional

DEU EM O GLOBO

RIO - A invasão do Hotel Intercontinental ganhou destaque na imprensa internacional. Os sites do jornal francês "Le Point" e da TV francesa TV5Monde afirmaram que o episódio "mancha mais uma vez a imagem da cidade escolhida para abrigar as Olimpíadas de 2016". Nas reportagens, eles informam que o tiroteio ocorreu dentro de um hotel de luxo, que tinha 300 turistas estrangeiros entre os 1.500 hóspedes.

Ambos os sites destacaram ainda que o "incidente trouxe o pânico ao bairro" e publicaram dados sobre a violência no Rio: "O Estado é um dos mais violentos do Brasil, país que registra a cada ano mais de 40 mil assassinatos, gerando uma taxa anual de 23,8 homicídios a cada 100 mil habitantes".

O tiroteio também teve espaço do jornal americano "The New York Times" ressaltou que o "hotel estava lotado de turistas para a maratona do Rio, no domingo". Ainda segundo o site, todos os reféns foram libertados e a policia conseguiu capturar a maioria dos suspeitos."

O site do jornal "Chicago Tribune", cidade americana que perdeu para o Brasil o direito de sediar as Olimpíadas de 2016, informou que o hotel se "transformou numa zona de guerra, onde dez suspeitos, com armas de grosso calibre e granadas, trocaram tiros com a polícia e mataram uma mulher". Ao informar sobre a invasão, o "Chicago Tribune" destacou o fato de o bando ter feito reféns dentro do hotel de luxo, onde havia turistas estrangeiros.

As páginas da CNN e BBC na internet chamaram atenção para a morte de uma pessoa no tiroteio. A CNN acrescentou que a vítima estava envolvida com tráfico.

No jornal "Washington Post", o destaque foi para a ação dos "homens armados que se envolveram num tiroteio com a polícia e colocaram 30 pessoas como reféns num hotel de luxo com turistas estrangeiros". Ainda de acordo com o periódico, "em algumas horas as vítimas foram libertadas e os criminosos, presos pela polícia."

A versão online do "Jornal de Notícias", de Portugal, fez a seguinte manchete: "Líder do tráfico na Rocinha esteve no sequestro ao Hotel Intercontinental" e afirmou que entre os dez presos estava o "número dois do tráfico de drogas na favela". A matéria também destacou que entre os reféns estavam 50 portugueses, que permaneceram presos durante três horas.

O também português "Diário de Notícias" preferiu ressaltar a ação dos agentes de segurança: "Polícia liberta 30 pessoas feitas reféns num hotel". O jornal chamou a atenção para a continuidade da operação policial mesmo após a libertação das vítimas, com a "incursão de agentes na Rocinha para encontrar os fugitivos."

O incidente repercutiu na primeira página do site do "El Universal", da Venezuela: "A violência voltou a se apoderar do Rio, quando delinquentes fortemente armados tomaram 35 reféns em um hotel".

Segundo o periódico espanhol "El Pais", da Espanha. "O Rio de Janeiro viveu no sábado horas de tensão, pois dez narcotraficantes invadiram o Hotel Intercontinental".

Os empobrecidos jornais da Venezuela de Chávez

DEU EM O GLOBO

Mídia impressa do país, dona de tradição rara na região, perde páginas, publicidade e circulação sob ataques do regime

Mariana Timóteo da Costa

A Justiça controlada por Hugo Chávez impediu, na semana passada, jornais e revistas de publicarem imagens e textos com o tema da violência. Depois, um tribunal voltou atrás, mas o dano para os profissionais da imprensa e defensores da liberdade de expressão já estava feito: o episódio foi o primeiro caso de censura prévia contra a mídia impressa dos 11 anos de governo Chávez. Acusado de perseguir os meios audiovisuais dezenas de estações de rádio foram fechadas, além da RCTV e de todos os problemas como a Globovisión o presidente tinha, até agora, se limitado a dificultar a sobrevivência econômica e a difamar jornais e revistas.

Mas a tradicional imprensa escrita venezuelana continuou representando o último bastião na mídia no qual os críticos ao governo têm voz.

São jornais como os antigos El Nacional, o El Universal e o mais jovem Tal Cual, bem como dezenas de outros regionais, que vêm reportando, por exemplo, detalhes sobre o escândalo dos alimentos estragados, bem como as diversas manobras do governo para, de acordo com denúncias, prejudicar o desempenho da oposição nas eleições. Nenhum diário atuante na Venezuela fechou as portas, apesar da série de dificuldades que seus dirigentes relatam enfrentar para continuar funcionando.

Com Chávez, perdemos 50% de nossas páginas, 30% de nossa circulação e nosso faturamento caiu pela metade. Claro que o advento da internet tem alguma parcela de culpa nisso.

Mas a culpa de Chávez é muito maior. Nossa história de pluralismo e liberdade nunca esteve tão ameaçada afirma Miguel Henrique Otero, presidente do El Nacional, fundado em 1944 e o mais tradicional do país, que hoje vende 80 mil exemplares durante a semana e 200 mil aos domingos, números semelhantes aos do El Universal, que também registra queda de circulação e faturamento. Agora, depois do primeiro caso de censura, a situação pode piorar mais.

García Márquez e Carpentier em fase de ouro dos jornais Os venezuelanos têm um carinho especial pela mídia impressa, conta Carlos Correa, da organização Espacio Público.

Apesar de não haver um instituto que verifique a circulação exata dos diários, Correa estima que os mais de cem jornais existentes no país tenham, ao todo, uma circulação diária de 3,5 milhões de exemplares. Boa parte, diz ele, ainda adotando uma postura anti-Chávez.

Levando em conta que pelo menos quatro pessoas leem o mesmo jornal, metade de nossa população de 28 milhões de habitantes têm contato com a imprensa escrita diariamente.

O número de jornais existentes também impressiona o que, segundo Correa e outros especialistas, explica-se pela história da imprensa escrita no país. Desde os anos 1940, as divisas do petróleo atraíram vários investidores para a atividade, não só em Caracas mas também nas cidades do interior, cujos jornais são tão tradicionais e lidos como os dos grandes centros urbanos.

Além disso, desde 1958 ao contrário de boa parte dos países da região, que enfrentaram golpes de Estado até os anos 1980 a Venezuela tem governos democráticos. Até o início dos anos 80, a imprensa no país viveu uma época de ouro. A lista de quem escrevia nos jornais de Caracas era invejável: os cubanos Alejo Carpentier e Nicolás Guillén, o colombiano Gabriel Garcia Márquez, o chileno Pablo Neruda, o argentino Tomás Eloy Martinez, o mexicano Carlos Fuentes, o guatemalteco Miguel Angel Asturias são alguns deles.

Tivemos um dream team, talvez o melhor jornalismo do mundo. Carpentier tinha uma coluna diária, e Martinez editava nosso caderno literário. Fomos o primeiro jornal das Américas a ter um suplemento assim lembra Otero, admitindo que hoje não teria mais dinheiro para pagar tantos escritores do mesmo nível. Mas ainda temos o (peruano) Mario Vargas Llosa, apesar de sua coluna ser sindicalizada (publicada também em outros veículos). Até os anos 80, e especialmente até o Chávez, tínhamos colaboradores exclusivos.

O cientista político José Vicente Carrasquero, da Universidade Central da Venezuela, diz que a situação da imprensa começou a piorar em 1983, data do primeiro controle cambial que dificultou o pagamento de salários no exterior e a importação do papel. Mas, segundo ele, é com Chávez que os jornais vivem seu pior momento.

Além do controle do câmbio, há o pesadelo da Cadivi (Comissão de Administração de Divisas), que restringe a quantidade de moeda estrangeira que se pode manejar. Isso afeta a compra de papel e o pagamento de colaboradores no exterior. Isso sem falar que, ao nacionalizar mais de 800 empresas nestes últimos 11 anos, a publicidade oficial inexiste para os veículos críticos ao governo diz.

Roberto Weil, do Tal Cual, fala de outro problema: o fato de Chávez ter dobrado o número de funcionários públicos, hoje em torno de quatro milhões.

É uma parcela grande da classe média que sofre represálias se tenta ler uma imprensa crítica diz Weill, lembrando que os jornais fazem parte do último projeto de hegemonia comunicacional do governo. É mais fácil cassar a concessão de uma emissora de TV do que impedir um jornal em papel de circular.

Enquanto isso, atuam contra nós em duas frentes: estrangulamento econômico e campanha contra nossa credibilidade.

Temos um governo que odeia o pensamento crítico O historiador venezuelano Manuel Caballero diz que este cerco de Chávez à mídia crítica afeta e muito a qualidade do que é publicado.

Antes dava gosto ler o El Nacional e o El Universal.

Atualmente eles estão fininhos, suas reportagens com menos conteúdo. Temos um governo que tem ódio da cultura e do pensamento crítico. Ainda não é uma ditadura, mas o estrangulamento dos jornais debilita nossa democracia.

O que pensa a mídia

Editoriais dos principais jornais do Brasil
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Bolshoi Ballet; The Nutcracker;Snowflakes

Que país é este: Affonso Romano de Sant’Anna -1


Uma coisa é um país
outra um ajuntamento.
Uma coisa é um país,
outra um regimento
Uma coisa é um país,
outra o confinamento.

Mas já soube datas, guerras, estátuas
usei caderno Avante

- e desfilei de tênis para o ditador.
Vinha de um “berço esplêndido” para um “futuro radioso”
e éramos maiores em tudo

- discursando rios e pretensão.

Uma coisa é um país
outra um fingimento
Uma coisa é um país,
outra um monumento.
Uma coisa é um país,
outra o aviltamento.

Deveria derribar aflitos mapas sobre a praça
em busca da especiosa raiz? ou deveria
parar de ler jornais
e ler anais
como anal
animal
hiena patética
na fossa nacional?
Ou deveria, enfim, jejuar na Torre do Tombo
comendo o que as traças descomem
procurando
o Qinto Império, o primeiro portulano,
a viciosa visão do paraíso que nos impeliu a errar aqui?
Subo, de joelhos, as escadas dos arquivos nacionais,
como qualquer santo barroco
a rebuscar
no mofo dos papiros, no bolor
das pias batismais, no bodum das vestes reais
a ver o que se salvou com o tempo
e ao mesmo tempo
- nos trai.