segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Ventos do sudoeste:: Luiz Werneck Vianna

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Não se perde por esperar porque, lá longe, já sopra um vento sudoeste, e isso, como sempre se soube, é sinal de chuva grossa. A bonança dessa sucessão é de mau agouro, pois mantém a atenção descuidada do que vem por aí, uma vez que ela não corresponde a um estado de coisas realmente existente, e sim à crença que ultimamente se alastrou entre nós, de que atingimos, nestes 16 anos de PSDB e de PT, o ponto ótimo, e final, da história do Brasil.

Confiante nela, a sociedade se entrega ao curso dos acontecimentos, embalada pelo canto de sereia dos êxitos econômicos, pela pujança do seu agronegócio, pela presença afirmativa no cenário internacional e pela estabilidade política e financeira, certa de que, agora, navega no rumo certo. Nesse diapasão, a palavra de ordem não poderia ser outra senão a de continuar, e, uma vez que a política é sempre o terreno da controvérsia e da exploração de outros mundos possíveis, não haveria lugar para ela em meio a tantas certezas, devendo ceder lugar à administração, arte da qual se espera aperfeiçoar o que aí está.

Contudo, é do próprio processo dessa sucessão presidencial que vem os avisos de desvios de rota, mesmo que se possa desconfiar de que eles sejam meramente parte de uma estratégia eleitoral de setores, que no interior do governo, patrocinam a candidatura situacionista. Pois é deles que têm partido a sinalização para uma forma de capitalismo de Estado orientada para objetivos grão-burgueses de grandeza nacional, associando o empresariado, por meio do financiamento estatal, aos seus propósitos. Trata-se da situação clássica de "exasperar, por meio de recursos políticos, a conquista de fins econômicos", tendente, também classicamente, a realizar uma fusão entre essas duas dimensões.

No caso desse empreendimento vingar, decerto que se introduzem importantes elementos de mutação na experiência de social-democracia no país, em uma deriva potencialmente autoritária, na medida em que a sociedade passará a ser objeto passivo de uma tecnocracia de estilo messiânico que traz para si a representação do projeto de nação. Tal processo pode ser ainda mais insidioso se persistem as tendências atuais de estatalização dos sindicatos - do que a recente legislação sobre as centrais sindicais é um sintoma -, dos movimentos sociais e da política assistencialista, cuja inspiração, não custa nada lembrar, é de cepa neoliberal.

Contudo, esse eixo, melhor identificado em grandes personagens da cena atual, como Samuel Pinheiro Guimarães, Nelson Jobim e Mangabeira Unger, não reina solitário. Em outra ponta, o eixo Antonio Palocci-Henrique Meirelles representa tendência oposta, contínua, em seus fundamentos, ao ciclo de dezesseis anos de governos do PSDB e do PT, mais pragmática e refratária a uma estreita vinculação entre política e economia.

A competição entre esses eixos ainda não é aberta, ambos empenhados na candidatura situacionista, que, na eventualidade de uma vitória, deverá fazer sua opção. Um deles sairá perdedor, restando sempre a possibilidade de um compromisso entre eles, tal como vem ocorrendo nesses últimos anos do governo Lula. Esse compromisso se apresenta, desde já, como difícil, não só porque o pêndulo, nos últimos tempos, se deslocou em sentido favorável a uma forma qualquer de capitalismo de Estado, pela biografia da candidata Dilma - em toda sua carreira, uma personagem da administração pública - e, sobretudo, pela falta de Lula, que fez da composição de contrários a sua marca como homem de Estado e, nessa arte, ao que parece, não formou discípulos à altura.

A disputa entre eles, em um eventual governo Dilma, não deve ficar retida nos quadros palacianos, cada qual procurando escoras em organizações e movimentos da sociedade civil, abrindo um debate público em torno de questões programáticas, que, pela sua própria natureza, estimulam a mobilização social.

Ainda na hipótese de uma vitória de Dilma, outro componente novo será a da posição do PMDB, que contará com a vice-presidência, governadores de Estados, ministérios e uma expressiva bancada congressual, que, diante de uma divisão por motivos programáticos no interior do PT e do governo, pode vir a se comportar com orientação própria, ora vetando políticas, ora impondo outras, e já visando a sucessão de 2014, no interior da coalizão governamental. O dissenso em cima deve afrouxar a capacidade de hoje do Estado de controlar os movimentos sociais, que assim poderão interromper o quietismo em que estão imersos.

Em outra perspectiva, se vencer o candidato Serra, é de se aguardar uma forte oposição por parte de movimentos sociais, especialmente daqueles que foram trazidos pelo atual governo para o interior e proximidades do aparato estatal, e que devem perder essas posições. A sombra de Lula, no ostracismo de São Bernardo, pode vir a assombrar o seu governo, como a de Getúlio, em São Borja, assombrou o de Dutra. O capitalismo de Estado no seu governo não será certamente uma alternativa de política, mas sua linhagem de formação intelectual de estilo keynesiano, mas promete, porém, uma forte presença estatal na condução da economia, até preservando quadros da atual administração.

Assim, por fas ou por nefas, é a política que deve voltar, encerrando esse longo período melancólico em que só se falou da administração das coisas. Mais uma vez, constata-se o papel das sucessões presidenciais na liberação de energias novas, o que ocorreu mesmo no regime militar, que, aliás, acabou em uma delas.


Luiz Werneck Vianna é professor-pesquisador do Iuperj e ex-presidente da Anpocs. Escreve às segundas-feiras

Flucht nach vorne:: Ricardo Noblat

DEU EM O GLOBO

"Quando ela veio para a Casa Civil, percebi que estava diante de um animal político não trabalhado." (Lula sobre Dilma)

A expressão alemã acima significa fuga para frente. Cercado, você ataca e seja o que Deus quiser. Pisa fundo no acelerador do carro como fez diante do abismo a dupla do filme Thelma e Louise. Ou então enfia o pé na jaca como parece preferir o vice-presidente José Alencar no caso da suposta filha de 55 anos que teve fora do casamento.

Alencar responde desde 2001 a processo de investigação de paternidade na Vara Civil de Caratinga, Minas Gerais. Ali quando era rapaz conheceu Francisca Nicolino de Morais, de apelido Tita, uma enfermeira de 26 anos, e com ela manteve um relacionamento amoroso entre 1953 e 1955.

Segundo testemunhas ouvidas pelo juiz José Antônio Cordeiro, os dois se viram pela primeira vez nas dependências do Clube Municipal da cidade. Passaram então a se encontrar em média três vezes por semana. E às quartas-feiras dormiam juntos na casa de Tita. O namoro era público.

Aos sábados, o casal podia ser encontrado no clube ou no Bar do Geraldo Pereira. Aos domingos, no Bar da Zica. Alencar chegou a pagar o aluguel da casa de Tita e ajudou-a com outras despesas. Até que Tita engravidou e deu à luz a Rosemary em 1955. O relacionamento acabou. Ao completar 42 anos, Rosemary soube quem seria seu pai.

Ela aproveitou uma visita de Alencar a Caratinga em 1998 para dizer-lhe que era sua filha. Na ocasião, Alencar teria comentado que resolveria tudo. Não o fez. Rosemary foi à Justiça e pediu para ser reconhecida como filha dele. Uma vez aberto o processo, os advogados de Alencar tentaram extingui-lo por meio de sucessivos recursos.

Ouvido em juízo, Alencar negou ter tido qualquer relacionamento com Tita e acusou-a de freqüentar a zona do meretrício de Caratinga. Como profissional, oferecia-se a quem a pagasse por seus préstimos, disse. Ao comentar o caso em Programa do Jô da semana passada, insistiu Alencar: Todo mundo que foi à zona pode ser pai.

Por duas vezes, o juiz Antônio Cordeiro determinou que Alencar se submetesse a exame de DNA. Em vão. A Jô, Alencar insinuou também que está sendo vítima de chantagem econômica e garantiu que o exame de DNA não é 100% seguro. De fato, não é. A margem de acerto do exame é de apenas 99%.

Diz o artigo 2 da Lei 8.560/90: Na ação de investigação de paternidade, todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, serão hábeis para provar a verdade dos fatos. A recusa do réu em se submeter ao exame de código genético DNA gerará a presunção da paternidade, a ser apreciada em conjunto com o contexto probatório.

Com base na recusa de Alencar em fazer o exame de DNA, no conjunto de provas recolhidas e em jurisprudência consolidada do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, o juiz decidiu em 21 de julho passado que a investigante passe a se chamar Rosemary de Morais Gomes da Silva, filha de José Alencar Gomes da Silva.

O delicado estado de saúde de Alencar, que luta há 13 anos contra um câncer, não lhe confere imunidade para agredir grosseiramente o bom senso. Se permanece apto a assumir a Presidência da República na ausência do seu titular era de se imaginar que conservasse intacta sua capacidade de avaliar bem os fatos.

Fernando Collor, Orestes Quércia e Michel Temer, por exemplo, são políticos que reconheceram filhos de relações extraconjugais. Paulo Maluf fez questão de se submeter a um exame de DNA para provar que não era pai de uma menina de nove anos. E provou. Fernando Henrique Cardoso é um caso à parte.

Teve um filho com a jornalista Miriam Dutra pouco antes de se eleger presidente. Os dois sempre negaram que Tomas fosse filho de quem é. Mas Fernando Henrique ajudou a sustentar o filho, recebeu-o várias vezes no Palácio do Planalto, visitou-o na Europa e assumiu-o como tal depois da morte de dona Ruth, sua mulher.

Alencar não é bronco. Mas esse episódio fez emergir uma face dele até aqui desconhecida rude e mesquinha.

O debate e o nocaute :: José Roberto de Toledo

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

É possível medir com precisão o desempenho dos candidatos em um debate eleitoral? Enquetes, a régua tradicional, são contaminadas pela preferência dos eleitores por um presidenciável ou outro. Uma alternativa é contar quanto cada debatedor falou, o que disse, como disse e a quem se dirigiu.

Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) falaram quase o dobro do que Marina Silva (PV) e Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) durante o debate da Band. Porque fizeram um embate particular: o tucano interpelou a petista três vezes, e foi indagado em duas oportunidades por ela. Marina e Plínio só responderam, cada um, a uma pergunta de seus rivais.Dilma e Serra criaram mais chances para aparecer. Mas não de convencer. Como o sucesso do Twitter e seu limite de 140 caracteres mostram, moderar o discurso é melhor do que falar pelos cotovelos. Plínio foi o que menos falou, mas acabou como o mais falado. Exposição demais para quem se expressa mal é castigo.

Mais do que qualquer outro presidenciável, Dilma respondeu a seis perguntas de adversários e a duas de jornalistas durante o debate, fora suas réplicas, tréplicas e considerações finais. Inexperiente, ela gaguejou, perdeu o fôlego, olhou para a câmera errada, estourou o tempo das respostas.

Dos quatro, foi quem mais empregou palavras longas ("oligopolizados", "acessibilidade", "prioritariamente"), usou termos técnicos ("bioma", "política estruturante") e abusou das siglas: UPPs, UPAs, SUS, Samu. Teve uma recaída da mania por cifras: falou "milhões" 12 vezes, e 4 vezes "mil", mais do que seus três adversários somados.

Até as considerações finais, Dilma pronunciou 2.100 palavras, mas conseguiu a proeza de citar Lula apenas três vezes. E só a partir do terceiro bloco. Esquecimento ou tentativa de parecer independente? A primeira hipótese é mais lisonjeira para a petista.

Aplicada, Dilma abordou temas que as pesquisas mostram que os eleitores querem ouvir. Foi quem mais mencionou educação/ensino/escola. Também tentou falar de trabalho e emprego, um dos pontos altos do governo Lula, mas acabou arrastada por Serra para uma discussão interminável sobre mutirões, cirurgias e Apaes.

Saúde foi o assunto do tucano. Falou tanto que acabou tachado de hipocondríaco por Plínio.

Serra começou nervoso, a língua ressecada estalando no céu da boca. Acalmou-se vendo Dilma tropeçar. Confrontou a adversária ("você falou", "você disse", "você teve responsabilidade") e ajudou-a a perder a concentração. Andava pra lá e pra cá no estúdio da Band enquanto as câmeras miravam a petista.

Serra teria sido o menos pior da noite, não houvesse um Plínio no meio do caminho. Ele fez o tucano se embananar, levando o debate para uma área desconfortável para Serra: a rural. O candidato do PSDB acabou qualificando propriedades de 80 hectares (o que corresponde a 80 quarteirões) de "chácara de fim de semana".

Aos 80 anos, o presidenciável do PSOL debateu como quem não tem nada a perder, e ganhou. Atazanou os três rivais e conversou com o telespectador, a quem se dirigiu com frequência e tratou por "você".

Plínio usou frases e palavras mais curtas que os adversários, e concentrou todo o seu discurso em uma ideia: combate à desigualdade. É certo que pela expropriação, socialização e tudo o que mandam os manuais marxistas.

Foi o oposto de Marina. A verde fez uma pergunta para cada adversário. Sorriu. Não levantou a voz. Declamou poema. Foi quem mais falou de meio ambiente. Fez as frases mais longas e desfiou o vocabulário mais amplo. Se a eleição fosse de candidato mais bem comportado, seria favorita disparada. Mas é para presidente.

O desempenho dos presidenciáveis na Band deu uma medida do que serão os próximos debates: UOL, RedeTV!, Record, Estado/Gazeta e Globo. Desgastes e eventuais fugas devem influir nas intenções de voto, num processo de acumulação.

Debate não é luta de boxe. A ideia de que um candidato só ganha quando leva o oponente à lona projeta o desejo mórbido de ver um deles deitado em uma poça de sangue. Ninguém vira eleição com um golpe só, nem aprende a debater do dia para a noite. A vitória de um candidato é sempre por votos, nunca por nocaute.

Vira uma avacalhação :: Paulo Brossard

DEU NA ZERO HORA (RS)

Depois de ser recebido com simpatia por chefes de Estado e de governo, o presidente Luiz Inácio, ou por iniciativa própria, ou por sugestão de seus altos assessores, passando de pato a ganso, lançou-se ao cimo dos patamares diplomáticos; logo chamou a atenção, em vez de exercer sua influência como presidente do Brasil, no sentido de compor conflitos entre nações vizinhas, ignorando-os, jogou-se a pretender modelar questões em terras da Ásia e África, começando a oferecer préstimos a palestinos e israelenses, o que, em matéria de jactância, era o nec plus ultra, e terminando sua escalada em associar-se ao Irã; ora, além de componentes históricos de notória complexidade, o país vive sob o império dos aiatolás; como se não bastasse a temeridade, tomando o rumo da Guiné Setentrional, colocou o Brasil no plano daquele país, dominado por ditador trintenário, possuidor de fortuna miliardária em contraste com a população miserável. Voltando ao Irã, o país pegou com as duas mãos a tolice brasileira, pois nada tinha a perder e tudo a ganhar, principalmente em suas aventuras nucleares e junto à ONU. Valia a pena relembrar esses fatos uma vez que...

... aconteceu nas bandas do companheiro Ahmadinejad outro fato revelador da tontaria cometida pelo governo brasileiro em seus experimentos diplomáticos. Uma mulher de 43 anos, com dois filhos, é acusada de adultério. Resultou a acusação em 99 chibatadas. Depois, subitamente, foi acusada de haver morto seu marido; inocentada dessa imputação, teve revisto processo por adultério e aplicada nova condenação, desta vez aprimorada com a pena capital. Seu advogado, contra o qual fora emitido mandado de prisão, evadiu-se do país. A morte por apedrejamento pode ser cumprida a qualquer momento, ainda que 11 pessoas aguardem a execução, sete das quais mulheres. Os homens são enterrados até a cintura, enquanto as mulheres até o peito, de modo a ficarem com os braços imobilizados. As pedras a serem jogadas sobre as vítimas não devem ser grandes para que o sofrimento seja maior, antes da morte. Como se vê, um delicado refinamento. Segundo divulgado, o apedrejamento foi introduzido no Irã em 1979, depois da revolução islâmica, sob o governo do companheiro Ahmadinejad. Agora, por obra de entidades internacionais, essa modalidade de execução penal, em face da repercussão mundial, parece que pode ser substituída pelo... enforcamento. Como se vê, uma equitativa concessão!

O movimento chegou ao Brasil e houve quem pretendesse que o presidente Luiz Inácio, na qualidade de amigo e companheiro de Ahmadinejad, intercedesse em favor da condenada, que, antes, pelo mesmo fato, já fora condenada a 99 chibatadas, regularmente cumpridas, 99. Mas o presidente, como procedera em relação aos presos políticos cubanos, no dia em que Orlando Zapata morrera, em razão de greve que se prolongara por 85 dias, se recusou em palavras inapagáveis, se começarem a desobedecer às leis deles para atender ao pedido de presidentes, daqui a pouco vira uma avacalhação.

Mas parece que alguém observou que se tratava de uma mulher e a candidata oficial da casa é mulher e isto lhe poderia ser funesto. Seja por fás ou por nefas, em comício no Paraná, o presidente teria sugerido ao seu companheiro islâmico que exilasse a suposta adúltera com seus filhos para o Brasil...

O alvitre brasileiro desagradou ao islâmico, que, pelo porta-voz do Ministério do Exterior, aplicou ao colega brasileiro boa e pública palmatoada por manifestar-se sem conhecimento de causa e sob influência de mídia estrangeira.

Muita coisa haveria a dizer diante dessa macabra operação, mas limitar-me-ei apenas a uma observação. Foi para associar-se a esse país que o festejado presidente brasileiro se lançou ao mar alto da diplomacia levando consigo o bom nome do Brasil.

Haja avacalhação nisso tudo, para repetir a elegante expressão presidencial.

*Jurista, ministro aposentado do STF

Luisa Maita - Alento

Vídeo deixa Lula e Cabral em situação embaraçosa

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

SÃO PAULO Um vídeo postado na última sexta-feira no YouTube mostra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), em uma situação embaraçosa com um garoto de, supostamente, 17 anos, que se apresenta como Leandro. Em três dias, o vídeo já teve mais de 104 mil visualizações.

O rapaz aparece reclamando para Lula que não pode jogar tênis no complexo esportivo que recebia a visita do presidente, no Rio, ao que Lula responde: tênis é esporte da burguesia.

Em seguida, Leandro aparece dizendo a Lula que não pode nadar porque a piscina do local fica fechada durante os finais de semana. Nesse momento, se vê Lula reclamando da equipe que estava ao seu lado, recomendando a Cabral e seus assessores que coloquem duas pessoas para trabalhar lá aos finais de semana. O dia que a imprensa vier aí e vir isso fechado, o prejuízo político é infinitamente maior do que colocar dois guardas aí, diz Lula.

Os momentos de constrangimento não se encerraram por aí. Abraçado ao presidente, o rapaz conta que acorda com o caveirão (veículo blindado da Polícia Militar do Rio de Janeiro) na porta de casa. Nesse momento Sérgio Cabral interrompe e pergunta: Lá não tem tráfico não? E, ao ouvir a resposta negativa do jovem, o governador diz: deixa de ser otário, está fazendo discurso de otário.

CRÍTICAS

A frase de Lula, de que o tênis é esporte da burguesia, causou indignação no meio do esporte. No Twitter, o ex-tenista Fernando Meligeni disse se tratar de uma declaração infeliz do presidente, afirmando ainda que Lula pisou na bola. Outra ex-tenista, Vanessa Menga que ajuda a crianças carentes a partir do tênis questionou, também no Twitter: Será que ele quer eu enterre meu instituto e pare com os projetos sociais?.

Gabeira anuncia secretaria para portadores de deficiências

DEU EM O GLOBO

Dandara Tinoco

Candidato ao governo do Rio pelo PV, o deputado Fernando Gabeira afirmou ontem que, caso seja eleito, pretende criar uma secretaria especial voltada aos portadores de deficiências mentais e físicas. Em visita ao Zoológico do Rio e à Quinta da Boa Vista, Gabeira foi abordado por pais de crianças portadoras de necessidades especiais.

- Eles reclamaram muito da dificuldade para o tratamento dessas crianças na rede pública - disse, acrescentando que fará um encontro na Lagoa, ainda sem data marcada, para discutir políticas públicas para deficientes.

No passeio, Gabeira criticou ainda o fato de o governador Sérgio Cabral, candidato à reeleição pelo PMDB, não ter criado uma secretaria de defesa da mulher:

- O Cabral prometeu e não cumpriu a criação da secretaria. O governo não tem sensibilidade para a violência contra a mulher.

Sobre as mudanças no Código Florestal, que, se aprovadas, levarão ao desmatamento de 88% da Área de Preservação de Mata Atlântica no Rio, disse que a Câmara dos Deputados está preparada para enfrentar a questão.

No Zoo, o deputado cumprimentou visitantes e vendedores, parando para observar alguns animais. Perguntado sobre por que não foi à gaiola dos tucanos, Gabeira - que divide o apoio aos candidatos do PV, Marina da Silva; e do PSDB, José Serra - respondeu com humor:

- Não visitei tucanos, porque não sabia exatamente onde estão. Visitei os leões, os macacos. Alguns bichos estavam mais... acessíveis.

"JN" inicia entrevistas com presidenciáveis

DEU EM O GLOBO

Rodada será aberta hoje com Dilma Rousseff; amanhã será a vez de Marina Silva (PV) e, na quarta, de José Serra (PSDB)

BRASÍLIA, SÃO PAULO E RIO. Os candidatos à Presidência da República Dilma Rousseff (PT), Marina Silva (PV) e José Serra (PSDB) serão sabatinados, ao vivo, a partir de hoje, no "Jornal Nacional", da Rede Globo, pelos apresentadores William Bonner e Fátima Bernardes. A entrevistada de hoje é Dilma Rousseff. Amanhã será a vez de Marina Silva e, na quarta-feira, de José Serra. As entrevistas terão 12 minutos, com 30 segundos de tolerância.

As perguntas vão abordar os pontos polêmicos de cada candidatura, além da avaliação sobre o que os candidatos ou seus governos já fizeram. As entrevistas de candidatos à presidência são feitas desde 2002 no "Jornal Nacional". O JN foi o primeiro a entrevistar os candidatos ao vivo na bancada, formato que foi adotado por outras emissoras.

O candidato do PSOL, Plínio de Arruda Sampaio, que não pontua nas pesquisas, será entrevistado na quinta-feira. Ele gravará a entrevista, de 3 minutos, na sede da Academia Brasileira de Letras (ABL), onde participará de um fórum promovido pelo BNDES. Além do "Jornal Nacional", o "Bom dia Brasil" e o "Jornal da Globo" farão entrevistas com os candidatos.

Dilma faz preparação com jornalistas e marqueteiros

Dilma tentará aproveitar a entrevista de hoje para neutralizar críticas do PSDB de que é a sombra do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nesses dias, ela tem se preparado intensamente, com jornalistas e marqueteiros.

A candidata deve voltar a se referir ao governo Lula como o "nosso governo". Dilma pretende ainda explorar ao máximo comparações entre as gestões de Lula e Fernando Henrique Cardoso. Também estão sendo preparadas "vacinas" para perguntas como a aproximação do governo Lula com governos como os de Irã e Cuba, que não respeitam os direitos humanos.

Há um cuidado especial para que Dilma seja menos prolixa e mais direta em suas repostas. Esta foi identificada como a principal falha da candidata no debate da TV Bandeirantes. Em alguns momentos, ela ultrapassou o tempo e teve a palavra cortada.

A assessoria de José Serra informou que não haverá nenhum tipo de preparação do candidato para a entrevista ao "Jornal Nacional", na quarta-feira.

A assessoria de Marina Silva (PV) também afirmou que a candidata não fará preparativos e tentará expor sua bandeira de campanha: a necessidade de uma revolução na educação.

- O espaço diário no "Jornal Nacional" tem sido o mais significativo de comunicação com os brasileiros na campanha por enquanto, devido ao alto índice de audiência. E tem sido um espaço equilibrado, nós prezamos muito a decisão da emissora - disse Alfredo Sirkis, um dos coordenadores do PV.

Devido aos preparativos para a entrevista de hoje, Dilma não deve comparecer ao "Encontro com presidenciáveis", em São Paulo, promovido pela Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil (Caceb). A entidade informou que Dilma cancelou sua participação, mas, segundo a assessoria da candidata, ela nunca confirmou presença. De acordo com a entidade, estariam confirmadas as presenças de Dilma, às 14h, de José Serra, às 15h, e de Marina Silva, às 16h.

Fundos de Petrobras e CEF acusados de fazer dossiês

DEU EM O GLOBO

Ex-gerente do fundo de pensão do Banco do Brasil, o advogado Gerardo Santiago disse que uma força-tarefa foi montada para municiar governistas durante o escândalo do mensalão e colher dados contra adversários. Segundo ele, técnicos do BB, da Petrobras e da Caixa e dos respectivos fundos de pensão, participavam do grupo.

Fundos ajudaram governo no mensalão

Chico Otavio

O advogado Gerardo Xavier Santiago, ex-gerente executivo da Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil), disse ontem que, na crise do mensalão, integrou uma força-tarefa montada a pedido do governo federal, com representantes de estatais e fundações de previdência, para elaborar um relatório alternativo à CPMI dos Correios e colher dados contra adversários.

Faziam parte da força-tarefa, segundo Santiago, técnicos do Banco do Brasil, Petrobras e Caixa Econômica Federal, bem como de seus respectivos fundos de pensão, Previ, Petros e Funcef. O grupo se reuniu no dia 2 de abril de 2006, véspera da semana de votação do relatório final da CPMI dos Correios, de autoria do deputado peemedebista Osmar Serraglio (PR), para produzir um texto alternativo. Segundo Santiago, os dados não chegaram a ser utilizados.

- Eu era um deles. Tenho como provar que estive no dia 2 de abril, um domingo, no Senado, com outros técnicos, para ajudar no relatório alternativo. É só consultar o registro de acessos da Casa - disse.

Em entrevista concedida há dois anos à revista "Veja", que a divulgou na última edição, o ex-gerente da Previ, que aposentou-se recentemente, aos 50 anos, contou que o fundo funciona como "fábrica de dossiês" contra a oposição do governo Lula. Na lista dos oposicionistas que teriam sido investigados, ele citou o senador Antônio Carlos Magalhães (DEM-BA), já morto, o então governador José Serra (PSDB) e Jorge Bornhausen, na época presidente do DEM.

Ex-gerente está disposto a contar o que sabe ao MP

Santiago disse ao GLOBO que está disposto a oficializar a denúncia, caso seja chamado pelo Ministério Público, mas não quer depor a pedido de parlamentares, pois teme a exploração política do episódio:

O advogado, que trabalhou na Previ de 2000 a 2007, disse que recebeu ordens, em 2006, para levantar dados que comprometessem o então senador ACM com investimentos da Previ na Costa do Sauípe, complexo hoteleiro a 76 quilômetros de Salvador. Santiago deixou o PT em 2006 e diz que resolveu falar porque está arrependido e decepcionado com o partido.

ACM Neto anunciou que irá interpelar judicialmente o bancário Sérgio Rosa, ex-presidente da Previ.

PT e Previ silenciam sobre dossiês; Dilma reage

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Candidata compara caso a grampos da privatização no governo FHC, mas outros petistas não comentam denúncia de ex-dirigente do fundo de pensão de Ceilândia

Leandro Cólon BRASÍLIA

Dia de feira. Candidatas do PT visitou ontem feira popular da cidade-satélite de Ceilândia

Nem o comando do Partido dos Trabalhadores nem Sérgio Rosa reagiram ontem às denúncias feitas por Gerardo Xavier Santiago, ex-diretor e ex-assessor da presidência do fundo de pensão Previ. Em entrevista à revista Veja, Santiago disse que a Previ é uma "fábrica de dossiês" e funciona como "um bunker" e um "braço partidário" a serviço de um grupo do PT. A única reação à entrevista partiu da candidata do PT, Dilma Rousseff.

Santiago contou que, "cumprindo ordens superiores", elaborou dossiês contra deputados e senadores da oposição. Ele disse que no comando dos pedidos estava o presidente do fundo, Sérgio Rosa, que deixou a Previ dois meses e meio atrás, depois de sete anos na direção máxima da entidade que tem capital de R$ 140 bilhões.

O ex-diretor revelou que um dos momentos em que a Previ mais trabalhou na coleta de informações para dossiês foi durante a CPI dos Correios, em 2005, quando a ordem foi para vasculhar documentos sigilosos, cruzar planilhas e dados com investimentos sobre negócios do fundo que envolviam parlamentares da oposição, como o deputado ACM Neto (DEM-BA), os senadores Jorge Bornhausen (DEM-SC) e Heráclito Fortes (DEM-PI) e José Serra (PSDB-SP).

"A Previ está a serviço de um determinado grupo muito poderoso, comandado por Ricardo Berzoini (ex-presidente do PT), Sérgio Rosa, Luiz Gushiken (ex-ministro) e João Vaccari Neto (dirigentes histórico da cúpula sindical bancária, junto com Berzoini)". A Previ está por trás, acrescentou, das informações espalhadas contra uma suposta relação entre Heráclito Fortes e Daniel Dantas, que permitiria que o parlamentar usasse jatinhos cedidos pelo banqueiro.

O próprio Santiago diz que ninguém conseguiu comprovar esse uso dos jatinhos, mas que a notícia foi plantada e posta a circular a partir da investigação deflagrada na Previ. Disse, ainda, que a senadora Ideli Salvatti (PT-SC) usou informações da "central de dossiês" do fundo na CPI dos Correios. Ontem, o DEM anunciou que vai entrar com uma representação contra Ideli no Conselho de Ética do Senado.

Dilma reage. Para defender-se das recentes polêmicas sobre criação de dossiês por petistas contra adversários, a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, comparou o caso da Previ ao escândalo dos grampos das privatizações do governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e pediu que irregularidades de gestões anteriores também sejam apuradas.

"Se for fazer vinculação de denúncias de pessoas que integram governos, levantemos de todos e não só os meus. Me parece bastante eleitoreira essa tentativa de vinculação", disse. "É possível que a imprensa levante tudo o que aconteceu em governos anteriores. Por exemplo, todos os grampos que ocorreram durante as privatizações no BNDES. Atingirão, por acaso, o candidato da oposição, o meu adversário, José Serra? Então acho que como aquilo não atinge, isso (dossiês) também não tem nada a ver com minha campanha", afirmou, em visita a uma feira em Ceilândia, no Distrito Federal.

Ela referiu-se aos processos de privatização de estatais no governo do tucano Fernando Henrique na segunda metade da década de 90, um negócio de R$ 22 bilhões. Conversas telefônicas revelaram indícios de que houve irregularidades e esquemas para favorecer empresas.

Em junho passado, uma crise atingiu a campanha de Dilma depois da revelação de uma tentativa de elaboração de um dossiê, supostamente por pessoas ligadas à campanha dela, contra o candidato do PSDB, José Serra. Ontem, a petista repudiou as ligações feitas entre sua campanha e esses episódios, como o da Previ. "Eu não acredito que tenha algo a ver isso com a minha campanha. Porque até essa questão de alguém acusar alguém tem que ser provada. Mas de qualquer jeito eu não tenho nenhuma vinculação, minha campanha não tem nenhuma vinculação com a Previ"", afirmou.

Biografia é insuficiente para vencer

DEU NO VALOR ECONÔMICO

De São Paulo - A comparação de biografias no horário eleitoral gratuito tende a não funcionar como estratégia para captar mais votos na disputa presidencial deste ano, analisa o cientista político e professor universitário Alberto Carlos Almeida. Nesta eleição, o voto tende a ser menos "personalista" e mais "institucional", afirma Almeida, diretor do Instituto Análise e autor dos livros "A cabeça do brasileiro" e "Como são feitas as pesquisas eleitorais e de opinião".

"O eleitor não vai votar só no mais bem preparado, mas sim em quem tem mais condições de melhorar a vida dele", disse Almeida. "Nesta eleição as pessoas vão às urnas para comemorar o aumento do poder de compra", afirmou. "E a tendência dos candidatos é reforçar a imagem de defensor dos pobres", comentou.

O fato de ter mais experiência administrativa ou de ser o "mais preparado" não é suficiente para o candidato ganhar o voto do eleitor, considerou o diretor do Instituto Análise. Em 2006, lembrou o Almeida, o então candidato do PSDB, Geraldo Alckmin terminou a eleição com a imagem de "mais bem preparado" do que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas o eleitor preferiu a continuidade de um governo que melhorou a vida dele. O voto "institucional" prioriza o projeto de governo que leva o eleitor a "ganhar mais".

O principal meio de comunicação para defender esse projeto é a televisão. A análise do impacto do programa eleitoral gratuito sobre as intenções de voto nas duas últimas eleições, no entanto, mostra cenários divergentes. Em 2002, Lula cresceu de 37% para 45% com o início da propaganda na televisão e no rádio. Seu principal adversário, o tucano José Serra, manteve-se na faixa de 19%. Na disputa presidencial seguinte, em 2006, Lula manteve-se estável, com 49%, e o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, ampliou a margem de intenção de votos de 25 % para 38%, segundo pesquisa do instituto Datafolha.

Ter a maior fatia do horário eleitoral gratuito na televisão e no rádio, no entanto, não garante vitória a ninguém, segundo analistas políticos e de marketing. Apesar da alta exposição, há dezenas de casos recentes de derrota. O exemplo clássico citado por especialistas em marketing eleitoral é o de Ulysses Guimarães (PMDB), que na disputa pela Presidência, em 1989, terminou a eleição em sétimo lugar, apesar de ter 37% a mais de tempo na televisão do que o segundo colocado na escala de tempo na propaganda oficial.

O importante, destacam marqueteiros, é que o tempo na propaganda eleitoral seja usado para passar uma "mensagem positiva" e para o debate de propostas. São citados os casos da eleição de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que ganhou a disputa pela Presidência após o Plano Real, em 1994 e a reeleição, em 1998. (CA)

Lançamento em São Paulo da nova edição da Política Democrática

DEU NO SITE DA FAP

Na próxima quarta-feira, dia 11, às 19h30minh, a representação estadual da Fundação Astrojildo Pereira promoverá, em auditório do Hotel e Flat Pergamon (Rua Frei Caneca, 80 – Consolação), palestra de Célio Bermann a respeito do projeto de construção da usina hidroelétrica de Belo Monte, no Pará. Na oportunidade, será lançada a edição Nº 27 da Política Democrática.


Trata-se do primeiro número sob a editoria do jornalista Marco Antonio Tavares Coelho. Nesta edição destacam-se artigos de Caetano Pereira de Araujo e de Roberto Freire (Agenda para um novo Brasil), do ex-ministro José Goldemberg (O Brasil e armas nuclares), do jornalista Danúbio Rodrigues (A República posta em questão), do cientista político Augusto de Franco (Idéias para outro tipo de desenvolvimento), Francisco Del Moral Hernandez e Célio Bermann (A usina de Belo Monte: energia e democracia em questão), do jornalista e cineasta Sionei Leão (Os fundamentos...), do cientista social Raimundo Santos (Agronegócio, agricultura familiar e política), do ex-ministro italiano Massimo D’Alema (O paradoxo da Europa: fraqueza e força no século XXI), da doutora em Lingüística Lucília Garcez (Um eterno nacionalista: Monteiro Lobato) do comunicólogo Luiz Carlos Prestes Filho (Por debaixo da máscara de Montevidéu), do cineasta João Batista de Andrade (Apontamentos para um programa de cultura) e outros de igual qualidade.

Leia entrevista com o historiador britânico Tony Judt

DEU EM O GLOBO / PROSA & VERSO

Leia abaixo a entrevista com o historiador britânico Tony Judt, morto aos 62 anos na último sexta-feira, publicado no Prosa & Verso de 22 de maio. Na conversa com Guilherme Freitas, o pensador - que foi diagnosticado em 2008 com esclerose lateral amiotrófica, a doença neurológica degenerativa que o matou - disse ter encontrado na atividade intelectual incessante a melhor reação ao fato de estar confinado ao que definiu, num ensaio, como "minha prisão corpórea":

— A doença não mudou minhas opiniões, mas agora tenho um senso de urgência mais forte em minha atividade intelectual. Tudo está mais difícil para mim, então sou obrigado a selecionar melhor aquilo em que me engajo — declarou.

O senhor escreve que, embora o século XX tenha sido "o século dos intelectuais", eles praticamente sumiram da esfera pública nas últimas décadas. Como explicar o declínio da figura do intelectual público?

TONY JUDT: Boa parte da resposta está nas transformações dos meios de comunicação. Acho também que a grande era da alfabetização em massa — quando muitas pessoas puderam ler pela primeira vez e ganharam acesso a textos e autores pelos quais tinham grande respeito social — ficou para trás. Hoje somos todos letrados, mas não ligamos muito para literatura. A autoridade das antigas gerações de intelectuais vinha precisamente do fato de serem romancistas, filósofos, ou mesmo jornalistas. Hoje, o intelectual tende a ser um acadêmico ou um especialista, o que, ironicamente, reduz seu alcance. E, claro, a cultura das "sound bites" (declarações curtas e impactantes de especialistas e autoridades ouvidos pela imprensa) faz com que o tipo de autoridade associada ao intelectual, ancorada em argumentos e num amplo reconhecimento cultural, esteja em baixa. Não acho que haverá grandes mudanças nesse cenário. A maioria dos "intelectuais" de hoje não se compara a seus predecessores. Ironicamente, a reflexão política inteligente está se retirando para as margens.

Em "Reflexões sobre um século esquecido", o senhor argumenta que um grupo de intelectuais "sem raízes", como Edward Said, Hannah Arendt e Albert Camus, formou a "República das Letras" do século XX. O que distingue este grupo de intelectuais? Como podem servir de exemplo para nós?

JUDT: Todos eles estavam enraizados na alta cultura de um país, comunidade ou idioma, mas se consideravam parte de um diálogo necessariamente transnacional, cujos pontos de referência eram os mesmos quer você vivesse no Brasil ou na Estônia. Hoje, o típico "intelectual global" não tem raízes e, portanto, o que ele diz sobre questões globais carece de fundamentação. Também acho que a autoconfiança intelectual das pessoas que você cita — o fato de elas assumirem que ser inteligente e escrever bem constituía a base para sua influência e a justificativa de seu trabalho — não está presente em seus sucessores. Se tivéssemos que tirar um exemplo de todas essas pessoas, seria esse: intelectuais têm que ir contra a corrente em suas próprias comunidades (seja nacional, religiosa, ideológica etc). Intelectuais que apenas fornecem argumentos em favor de um determinado grupo desempenham outro tipo de papel.

Em entrevista recente, o senhor disse que é preciso "redescobrir a linguagem da divergência"? Como defini-la?

JUDT: Não tenho um modelo. Mas seria algo como o que disse antes: exercitar o pensamento independente mesmo sob o risco de desaprovação dentro de sua própria comunidade. E, em política, insistir na validade do embate, da discordância e da divisão, onde existirem. A democracia não pode sobreviver numa dieta de consenso.

O senhor dedica seu livro mais recente ("Ill fares the land") "aos jovens" que parecem estar "confusos" sobre como agir contra o que acreditam estar errado no mundo. Que tipo de engajamento político é possível para os jovens hoje?

JUDT: Não quis escrever um livro de receitas para os cozinheiros de amanhã. No entanto, acredito que precisamos reaprender o que significa agir politicamente. Movimentos de base que agem pontualmente em nome de uma só causa quase sempre dão em nada — ou desaparecem após o sucesso da causa ou são apropriados por outros interesses e se perdem. Precisamos de um sistema através do qual possamos expressar visões universais sobre como somos governados e como gastamos nossas reservas: para isso precisamos examinar, de uma perspectiva crítica e ética, a forma como fazemos isso. O primeiro desafio é aprender mais uma vez a discordar com confiança daquilo que nos desagrada, em vez de dar as costas à política por desgosto ou desespero. E precisamos falar sobre "nós", não apenas sobre "eu".

Voltando a "Reflexões...", o senhor diz que tendemos a ver a História apenas como triunfos que devem ser recordados ou erros que não podem ser repetidos. Há alternativas a isso? Como lidar com a História, em especial com os eventos mais turbulentos do século XX?

JUDT: Não há uma resposta simples. A melhor forma de lidar com a História é entendê-la — o que significa contar verdades desconfortáveis sobre o passado, mesmo que elas sejam socialmente perturbadoras. Para os democráticos vencedores do século XX, não é fácil reconhecer seus próprios crimes políticos — assim como para eles é difícil reconhecer que o inimigo derrotado era mais popular e até mais bem-sucedido do que gostamos de admitir. Acho que a outra metade da resposta é que temos que lutar duro para distinguir comemorações socialmente úteis e alertas politicamente importantes ("Munique") da verdadeira História. Os primeiros estarão sempre conosco; é a última, em toda sua complexidade, que estará sempre ameaçada. O trabalho do historiador é erguer-se cada vez que alguém diz "Munique" ou "Auschwitz" ou "Vencemos a Guerra Fria" e responder: "Sinto muito, mas é mais complicado que isso e você precisa entender por quê". Numa época de esquecimento instantâneo e falsa memória, o historiador se torna uma commodity rara e valiosa.

Por que o período entre a queda do Muro de Berlim e a invasão do Iraque foi "um tempo perdido", como o senhor diz?

JUDT: Em primeiro lugar, nos primeiros anos esquecemos tudo que já tínhamos feito de correto. Um Plano Marshall para o Leste da Europa e o Cáucaso teria poupado milhões de dólares, vidas e problemas. Além disso, ao tratarmos a Guerra Fria como um simples conflito entre "nós" e "eles" vencido por nós, ficamos cegos para os conflitos que estiveram presentes antes e durante a Guerra Fria e que são a fonte de muitos de nossos problemas atuais. Em terceiro lugar, os anos 1990 teriam sido o momento ideal para repensar os arranjos econômicos internacionais de 1944. Em vez disso, assumimos que o mercado liberal tinha "vencido" e o Estado forte, "perdido": o resultado foi a crise de 2008 e outras por vir.

O senhor argumenta que, embora a noção de Estado do Bem-Estar Social tenha perdido espaço, temos que aprender a reconhecer suas deficiências e, ao mesmo tempo, defender suas funções. Quais devem ser os limites e funções do Estado do Bem-Estar Social hoje?

JUDT: Desconfio que a resposta é óbvia em boa parte da Europa e da América Latina: alguma forma de Estado do Bem-Estar Social é condição necessária para a estabilidade do capitalismo, incluindo serviços básicos suficientes e igualdade para absorver aqueles que sofrem com as inevitáveis injustiças do mercado. Em outras palavras, o Estado do Bem-Estar Social tem o mesmo papel hoje que em seus primeiros tempos: prevenir os erros que o capitalismo comete instintivamente quando é deixado sem regulação. Assim, a única questão é o alcance do Estado e o equilíbrio entre seus gastos em serviços e em bens públicos. Aqui, é preciso ser pragmático. Em países como a Alemanha, até a centro-direita reconhece a necessidade de redes de Bem-Estar Social, fornecimento público, serviços básicos e um alto nível de provisão social a partir de taxação direta. Em outros países, como os EUA, nem a centro-esquerda consegue ver isso. O verdadeiro perigo do gasto estatal excessivo — corrupção, ineficiência etc — tem que ser medido contra os riscos igualmente reais de colapso social na ausência de uma noção clara do coletivo e de sua responsabilidade. A política tem que ser a arena onde debatemos esses temas, em vez de ficarmos gritando "Estado!" ou "Mercado!" um na cara do outro.

A recente crise econômica pode forçar uma revisão do modelo liberal de Estado?

JUDT:
Temo que não. Mas em combinação com futuras crises parecidas (estamos no meio de uma na Grécia) e decepções com os excessos da globalização, é possível que o pêndulo volte a uma visão do Estado como algo não necessariamente ruim em princípio. Lembre-se que há apenas 30 anos essa era opinião corrente entre a maioria dos políticos e economistas, e não só em social-democracias.

O marxismo enfrenta certo descrédito desde a queda do Muro de Berlim, mas o senhor sugere que temos muito a aprender com "o admirável poder das ideias marxistas". Qual é esse poder e como o marxismo pode ser relevante hoje?

JUDT: Eu faria uma distinção entre o poder do pensamento marxista — parte de uma influência mais ampla de ideias e ideologias do período 1870-1970 — e o estrago causado por partidos e Estados marxistas. Foi este último que fez com que o primeiro ficasse muito desacreditado. Não desejo um retorno dos velhos debates ideológicos e dogmáticos, nem das crenças irrefletidas sobre classe e capitalismo. Mas seria bem-vinda uma disposição para reabrir questões sobre conflito social, interesse de classe, divisão econômica e deficiências inerentes ao capitalismo desregulado. Não acho que para fazer isso precisemos ser marxistas, mas os melhores marxistas eram muito bons nisso e seria ótimo para estimular o debate.

O senhor se disse decepcionado com Obama, alegando que ele estaria mais interessado em buscar consensos do que reformas. Como vê os acontecimentos recentes do governo Obama, especialmente a aprovação da reforma da saúde?

JUDT: A reforma da saúde quase fracassou. No fim, foi a vitória de um acordo que muitos de seus defensores não aprovaram, mas que aceitaram por falta de alternativa melhor. Temo que Obama tire a lição errada disso e continue buscando consensos e acordos. Mas em certos temas cruciais — Oriente Médio, guerras, gastos públicos em infraestrutura de longo prazo, reforma bancária — não há acordos e o consenso é difícil. (O primeiro-ministro israelense Benjamin) Netanyahu não quer um acordo, nem a direita republicana. Às vezes você tem que lutar pelo que acredita. Se Obama não entender isso, vai continuar a nos desapontar.

Como o "estilo de vida europeu", cujos benefícios sociais o senhor aponta muitas vezes, foi afetado pela crise? Acredita que a União Europeia tem lidado bem com a questão da Grécia?

JUDT:
A UE tem tratado quase toda crise com total incompetência. Mas tem sorte: assim como os EUA, a UE é muito rica, mas, ao contrário dos EUA, teve o bom senso de aprender com as catástrofes da História. Então, mesmo sendo uma bagunça política e institucional, suas instituições sociais, salvaguardas econômicas e autoridades transnacionais conseguiram criar e preservar um padrão de vida, um nível de segurança e um senso de interesses comuns que o resto do mundo só pode invejar. Mas acho que eles podem arruinar tudo isso — precisamente porque os líderes europeus de hoje têm pouca noção da importância histórica da construção de uma casa institucional comum naquele que já foi o continente mais violento do mundo. Quanto à Grécia, o problema é, em parte, que uma moeda sem Estado tem poucas perspectivas a longo prazo. E os ganhos políticos de permitir que Grécia ou Portugal (ou o Leste da Europa) aderissem à UE e ao euro ofuscaram o planejamento sobre o que fazer numa eventual crise como esta.

Quando jovem, o senhor tomou parte no que mais tarde chamou de "fantasia idealista" da construção do Estado de Israel, mas hoje defende um Estado binacional como a solução para o conflito Israel-Palestina. Em que ponto se deu conta da natureza dessa "fantasia"? Estamos mais próximos hoje de um Estado binacional?

JUDT: Acho que enxerguei as falhas morais e práticas do sionismo bem cedo. Mas o salto para o reconhecimento de que um Estado unicamente judeu era o problema e não a solução foi mais difícil por causa da minha formação. Suponho que passei a encarar a questão melhor no fim dos anos 1990. Acho que, graças a Netanyahu e seus partidários, a criação de um Estado binacional não é uma hipótese realista, e a criação de dois Estados é cada vez mais uma ilusão. Temo que continuaremos vivendo com esse dilema irresolvido por uma década ou mais. Só os EUA poderiam forçar um avanço por sua influência econômica ou militar — e por razões tanto domésticas quanto externas, isso não vai acontecer.

Como o senhor vê o governo Lula? O que pensa do papel mais proeminente que o Brasil tem buscado no cenário internacional nos últimos anos?

JUDT: Noto que o governo Lula colocou na agenda uma questão — qual deve ser o tamanho do Estado e com que fins? — que a maioria das culturas políticas hoje ignora. No plano internacional, penso que o Brasil foi muito perspicaz ao se aproveitar de uma mudança na hegemonia das potências do pós-Guerra, sem fazer muito barulho sobre seus direitos e reivindicações. Nota-se que, sempre que esses temas são debatidos, a autocracia chinesa, o autoritarismo pós-soviético e a pobreza indiana são evocados como razões para desacreditar o futuro dos "Brics", mas o Brasil sempre escapa ileso! Talvez porque, nessa companhia, o Brasil pareça um futuro bastante respeitável para a comunidade internacional! Não devemos nunca menosprezar o papel da sorte e do senso de oportunidade nas relações internacionais. Ainda assim, o Brasil precisa desses aliados pouco atraentes: mesmo hoje, o país nunca seria suficientemente respeitado por si só — tente acompanhar políticos brasileiros, sem falar em seus colegas sul-americanos, na imprensa europeia e americana...

A última homenagem a Freyre na Flip 2010

DEU EM O GLOBO

Na última mesa dedicada a Gilberto Freyre, o homenageado desta edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), José de Souza Martins, Peter Burke e Hermano Vianna se reuniram para tratar da atualidade na obra do sociólogo pernambucanor. A mesa, chamada "Gilberto Freyre e o século XXI", aconteceu na manhã deste domingo, sob mediação de Benjamin Moser.

Os três foram muito aplaudidos ao trazer pontos da obra de Freyre para o debate.

- Precisamos pensar o Freyre para além e adaptar seu pensamento para situações do século XXI - disse Burke.

- Um livro que chega a 52 edições, como o "Casa-grande & senzala" tem seu lugar assegurado na sociologia do século XXI - acrescentou Martins.

- Obviamente o Brasil não é uma democracia racial. Mas acho que temos que entender essa afirmação do Freyre menos como uma tentativa de acobertar o racismo, mais como um meio de combatê-lo - afirmou Vianna.

DEU NO JORNAL DO BRASIL
Verdade tropical


Bolívar Torres - PARATY, RJ

Grande homenageado da Flip, Gilberto Freyre ainda não é reconhecido como merece fora do Brasil.

Pelo menos, esta é a conclusão do historiador inglês Peter Burke, coautor de Repensando os trópicos: um retrato intelectual de Gilberto Freyre (es crito com sua mulher, a brasileira e também historiadora Maria Lúcia Garcia Pallares-Burke), livro que contextualiza as ideias do antropólogo pernambucano, servindo quase de cartão de visita de sua obra para o público estrangeiro. Especialista em Idade Moderna europeia, o conceituado historiador será um dos debatedores na mesa Gilber to Freyre e o século 21, hoje, às 11h45, marcando o último dia da Festa Literária Internacional de Paraty.

Em entrevista ao Ca derno B, Burke frisa que nunca existiu um intelectual como Freyre na Europa e defende a atualidade de seu pensamento.

Como o mundo acadêmico europeu analisa hoje a obra de Gilberto Freyre? – Sinto dizer isso, mas os acadêmicos europeus simplesmente não conhecem sua obra. Na Inglaterra, quando falava do projeto do meu livro, as pessoas diziam: “Ah, Freyre, claro, o educador...”. Na verdade, estavam confundindo com Paulo Freire, que é muito mais conhecido. Tanto na França quanto na Itália também não sabem nada sobre Gilberto. A grande maioria dos seus livros está sem edições novas. Sinto vergonha por isso, mas acredito que, nos últimos anos, não foram vendidas nem 2 mil cópias de seus livros. Quando Casa-grande & senzala saiu, Freyre teve um certo auge, com artigos publicados na França. Mas desde então entrou num lento declínio.

Foi por isso que escreveu o livro tentando apresentar Freyre para os ingleses? – Sim, é uma das principais razões. Gilberto precisa ser mais bem entendido.

Suas ideias continuam relevantes.

Freyre antecipou muitas questões. Quais delas têm mais pertinência hoje? – O hibridismo cultural, que só começou a ser analisado por gerações mais recentes. Mas eu diria que a questão mais extraordinária foi a sua consciência ecológica.

Era incrível a maneira como ele se preocupou com as questões do meio ambiente nos anos 30.

A mistura de culturas e raças é um dos assuntos mais pertinentes na Europa hoje, confrontados principalmente por países como Inglaterra e França. Até que ponto o conceito de democracia racial, defendido por Freyre, pode ser uma referência para estes centros? – É interessante imaginaro que Gilberto pensaria do multiculturalismo atual.

Precisamos antes ver em que contexto surgiram as suas ideias, sua interpretação de culturas. O contexto, claro, era o Brasil colonial.

Mas nos anos 30, quando ele escreveu Casagrande, a questão já era muito mais complexa, com a vinda de japoneses, alemães, italianos... Fiquei decepcionado com Ordem e progresso, que falava quase nada sobre a contribuição dessas culturas à identidade brasileira. A impressão que se tinha é que ele via o Brasil como um clube de três raças, negra, índia e branca. Por outro lado, países europeus também exaltaram a mistura de culturas.A Inglaterra é uma grande mistura de tribos celtas. É irônico pensar que até a clássica ideia de mistura cultural brasileira possa ter inspiração estrangeira.

A ideia de miscigenação de Freyre seria, portanto, relativa? – Sim, sem dúvida.

Mas não é indiscutível que o português teve muito mais tendência à mistura no Brasil do que os britânicos em suas colônias? – Acredito que, neste sentido, Gilberto tenha exagerado as diferenças entre o império britânico e o português.

Sua ideia de colonialismo britânico se limitava à época de Kipling.

Talvez porque adorasse Kipling.

Mas o fato é que, antes disso, os ingleses tiveram um hábito de interpenetrar em países como a Índia, sexual e culturalmente.

A mistura com indígenas era comum.

O senhor esteve com Freyre em duas oportunidades.

Qual foi sua impressão? – A primeira foi em uma palestra em Assex, em 1965, quando ele foi receber um grau honorário.

Em um inglês muito bom ele louvou a miscigenação.

Fiquei surpreso. Para mim era estranho, já que ele era branco, muito pálido: parecia um português, não um brasileiro mestiço. Depois, em 1986, fui convidado a ir à sua casa. Mas na época ele estava adoentado e alternava períodos de lucidez com outros em que não estava muito lúcido. E naquele dia, infelizmente, ele não estava lúcido.

Freyre foi um pensador muito peculiar. Recusava ser visto como acadêmico, e dizia que a literatura não podia ser dissociada de seu trabalho de antropólogo.

Estudar a sociedade era muito mais “uma aventura de sensibilidade do que um esforço de pesquisa”. Existiu na Europa ou nos Estados Unidos algum intelectual parecido com ele? – Realmente, Gilberto nunca quis ser visto como um acadêmico. Financeiramente, era muito menos rentável para ele afastarse das universidades.

Ele era, de fato, polêmico, um enfant terrible que adorava provocar. E é realmente difícil encontrar alguém tão interdisciplinar quanto ele na Europa.

Talvez Fernand Braudel, na França, ou Johan Huizinga, na Holanda.

Mas na Inglaterra não conheço.

Como foi escrever o livro com sua mulher? – Foi minha primeira experiência de escrever um livro a quatro mãos. Nesse caso, a colaboração teve outro fator especial, já que minha mulher pertence à cultura brasileira e eu, não. Seria impossível escrever o livro sem ter vindo ao Brasil. Fiquei encantado com nossa passagem por aqui, de ter acesso aos arquivos da Fundação Gilberto Freyre.

Suas cartas foram importantíssimas para o nosso trabalho. E foi fantástico ver algumas de suas anotações. Tínhamos acesso aos livros que ele lia, com as anotações que ele fazia nas margens.

Era como ver o pensamento dele voando.

Por outro lado, confesso que foi complicado conhecer sua família e as pessoas que conviveram com ele, porque isso provoca uma certa autocensura quando você precisa criticar um ou outro aspecto de sua vida e de sua obra. Como sempre escrevi sobre pessoas do século 16 e 17, não costumava ter esse tipo de problema antes (risos).


(Domingo, 8 de Agosto de 2010)

O que pensa a mídia

Editoriais dos principais jornais do Brasil
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Grupo Corpo - Bach (1) - Belo Horizonte

PRIMEIROS ANOS :: Ferreira Gullar


Para uma vida de merda
nasci em 1930
na rua dos prazeres

Nas tábuas velhas do assoalho
por onde me arrastei
conheci baratas, formigas carregando espadas
caranguejeiras
que nada me ensinaram
exceto o terror

Em frente ao muro negro no quintal
as galinhas ciscavam, o girassol
Gritava asfixiado
longe longe do mar
(longe do amor)

E no entanto o mar jazia perto
detrás de mirantes e palmeiras
embrulhado em seu barulho azul

E as tardes sonoras
rolavam
sobre nossos telhados
sobre nossas vidas .
Do meu quarto
ouvia o século XX
farfalhando nas árvores lá fora.

Depois me suspenderam pela gola
me esfregaram na lama
me chutaram os colhões
e me soltaram zonzo
em plena capital do país
sem ter sequer uma arma na mão.


(Buenos Aires, 1975)