sexta-feira, 30 de julho de 2010

Reflexão do dia – Lula (só para lembrar)


Não me preocupam as pesquisas. Serra já foi candidato à Presidência, a governador do Estado de São Paulo. Mas uma coisa posso dizer: será um privilégio para este país se a eleição for entre Dilma e Serra. Se os candidatos forem Dilma, Serra e Ciro, também será um luxo. O mesmo devo dizer se estiver o Aécio. E isso porque não vejo ninguém de direita aí” - afirmou o presidente. Lula disse ver nos possíveis candidatos "companheiros de esquerda, de centro-esquerda, progressistas". E completou: “Isso representa um avanço extraordinário para o Brasil.


(Lula, em O Globo, segunda-feira, 20/4/2009)

A farsa e a realidade :: Roberto Freire

DEU NO BRASIL ECONÔMICO

Em seu primeiro mandato, logo após ser eleito, o atual governo, carente de um efetivo projeto de mudanças e de reformas estruturantes, adotou o "Fome Zero" como saída pela tangente de nossas dificuldades históricas, ao mesmo tempo que encontrava nessa jogada pirotécnica uma forma de mobilização da sociedade, sem alterar em nada seus fundamentos.

Hoje ninguém fala mais de "Fome Zero", muito menos do "Projeto do Primeiro Emprego", que durante muito tempo foi apresentado como capaz de enfrentar o desemprego crônico da juventude, até se descobrir que o segredo para superarmos esse desafio estava relacionado a uma educação de qualidade, que não é possível se resolver no quadro de políticas de governo, e sim de Estado.

O atual governo sofisticou seu repertório de criar um país de faz de conta, no qual atuava em benefício dos pobres, combatia a especulação financeira e enfrentava os gargalos do que se convencionou "custo Brasil", até a farsa ser desmontada pelos números aferidos por órgãos internacionais sobre nossa real condição econômica e social.

Assim, ficamos sabendo que depois de quase oito anos de governo, e de uma massiva campanha para nos convencer que este governo é o dos pobres, os dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) no que respeita o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) aponta nosso país em nono lugar dos mais desiguais da América Latina!

Quando comparamos a desigualdade da renda entre o trabalho e o capital é que podemos perceber que quase nada mudou em nosso país.

Na contramão do que aponta o governo e seus "novos horizontes". Como revelado por agencias da ONU, os juros, aluguéis e lucros foram os itens da renda brasileira que mais cresceram desde a última década, superando o rendimento dos trabalhadores, cristalizando a política de manutenção do status quão, ou do conservadorismo funcional que este governo representa.

O governo propala que transfere renda para os pobres, via Bolsa Família, que atende pouco mais de 12 milhões de famílias, algo em torno de R$ 13,1 bilhões.

Mas o que o governo não alardeia é que transferiu para os mais ricos, rentistas e bancos, na forma de juros pelos títulos públicos, no ano passado, algo em torno de R$ 380 bilhões!

Se nos detivermos nas reais condições de vida da esmagadora maioria de nosso povo, seja por meio das moradias atendidas com o saneamento básico, ou na qualidade do ensino público oferecido pelo Estado, ou no atendimento da saúde pública, perceberemos que o real significado da grandiloquente propaganda governamental que afirma ser o "Brasil um país de todos", na verdade é mais de uns que de outros.

A verdade é que os números recentes de nossa economia e de nossa trágica condição social estão muito longe da farsa edulcorada pela propaganda que move este governo.

O crescente endividamento das famílias, nosso perigoso déficit em conta corrente, o intermitente custo-Brasil estrangulando nossa capacidade competitiva é o verdadeiro legado que nos deixará o atual governo.


Roberto Freire é presidente do PPS

Controle de qualidade:: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Todo mundo fala de ficha limpa, ficha suja, a vida pregressa dos candidatos a deputado e senador caiu na boca do público e no momento está nas mãos dos Tribunais Regionais Eleitorais decidir sobre o destino de cerca de 3 mil pedidos de impugnação.

Em seguida será a vez de o Tribunal Superior Eleitoral examinar os recursos e logo o Supremo Tribunal Federal será chamado a se pronunciar sobre a constitucionalidade da lei de iniciativa popular aprovada pelo Congresso em maio, impondo como pré-requisito de elegibilidade a inexistência de sentenças condenatórias por tribunais.

Em toda parte se fala sobre a natureza das "fichas", menos na agenda dos candidatos à Presidência da República.

Quem em algum momento renunciou a mandato eletivo para escapar das punições legais e, assim, preservar os direitos políticos também fica inelegível.

Uma mudança e tanto nos meios e nos modos da política.

Se a lei for considerada constitucional - e tudo leva a crer que será, pois dos 11 quatro já se pronunciaram a favor -, o Brasil terá dado início a uma reforma "de base" na política. Ou seja, de dentro para fora (do Congresso) e de baixo para cima.

Ainda que a Justiça venha a demorar, o presidente do TSE, Ricardo Lewandowski, já alertou para a possibilidade de alguns perderem tempo e dinheiro insistindo em concorrer, pois mesmo eleitos os irregulares poderiam ficar sem os mandatos.

Não se trata de algo trivial, bem como não é corriqueira a mobilização de organizações não-governamentais e de entidades civis, como a Ordem dos Advogados e associações de magistrados na vigilância aos pretendentes a representantes populares no Poder Legislativo.

É o controle de qualidade possível.

A partir dele pode começar a acontecer uma transformação até de mentalidade. Firma-se o princípio de que gente suspeita não pode representar a população na Câmara e no Senado.

Há um consenso de que o eleitor deve fazer a sua parte na hora da escolha do candidato. É verdade, mas de qual eleitor falamos?

Por enquanto daquele bem informado, engajado e que acompanhou os lances da aprovação da lei.
O chamado "público em geral" é despertado para os temas que estão na pauta das candidaturas presidenciais, elas é que puxam o debate.

Só que os candidatos a presidente da República não parecem preocupados com isso.

Em tese deveriam ser eles os maiores interessados no assunto Congresso, já que um deles será eleito e terá como primeiro desafio firmar uma posição sobre a relação do Legislativo com o Executivo, há muito torta, promíscua, desarticulada, não republicana, pois há submissão e, portanto, subversão do princípio do equilíbrio entre os Poderes.

Mas passam ao largo dessa agenda. É de se perguntar se para eles as coisas estão bem assim ou se não pensam que um Parlamento melhor é possível.

Obreiro. Ciro Gomes anunciou que vai apoiar Dilma Rousseff porque essa é a decisão do seu partido, o PSB. Quando desistiu da candidatura à Presidência da República o fez em atendimento a uma decisão do partido. Contra a vontade.

Em cena. É a quinta vez que o venezuelano Hugo Chávez ameaça cortar a venda de petróleo para os Estados Unidos. Agora - careca de saber que isso não acontecerá - diz que cortará se a Colômbia atacar a Venezuela por influência dos EUA.

Exige gestos amistosos por parte do novo presidente colombiano, Juan Manuel Santos, cansado de saber que é exatamente isso que ocorrerá em seguida à posse, em 7 de agosto.

Apostas. Palpita o meio diplomático: se Dilma Rousseff ganhar a eleição, o ministro das Relações Exteriores será o embaixador Antonio Patriota; se o presidente eleito for José Serra, o embaixador Sérgio Amaral comandará o Itamaraty.

Força e desequilíbrio:: Eliane Cantanhêde

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - Álvaro Uribe passa o governo da Colômbia no próximo dia 7 para seu sucessor, Juan Manuel Santos, e esperou os últimos dias de mandato para dizer ao presidente Lula poucas e boas engasgadas na sua garganta contra a posição enviesada do Brasil no conflito entre Colômbia e Venezuela, entre Uribe e Hugo Chávez, entre direita e esquerda do continente.

Ao tentar minimizar a crise entre os dois países, Lula a reduziu a um "conflito verbal". Uribe reagiu "deplorando" essa posição, pois o que conta é "a ameaça que a presença de terroristas das Farc representa para a Colômbia e o continente".

Foi uma cacetada no Brasil, que toma partido no conflito, a ponto de Lula falar com Chávez e não com Uribe quando, de um lado, a Colômbia mostrou o que seriam provas documentais de que a Venezuela abriga narcoguerrilheiros colombianos e, de outro, a Venezuela rompeu relações com o vizinho.

Ok. A Colômbia é dependente dos EUA, botou tropas americanas dentro do continente e acobertou paramilitares criminosos. Mas a Venezuela não é uma maravilha nos quesitos democracia, economia e área social. O governo Lula deveria ter sido mais equilibrado e menos ideológico na relação com duas nações vizinhas e amigas do Brasil.

Venezuela e Colômbia têm uma fronteira de 2.200 quilômetros, e o comércio bilateral é decisivo para ambas. Exemplo: o segundo destino das exportações colombianas é a Venezuela, só atrás dos EUA. Com o bloqueio comercial, o total de vendas caiu de cerca de US$ 8 bilhões em 2008 para a expectativa de apenas US$ 2 bilhões no final deste ano. Assim, o desemprego na Colômbia bate em 14%.

Venezuela e Colômbia têm uma dependência mútua, como Santos, o presidente eleito, compreende bem. Basta empurrar um para o outro, o que o Brasil tem força de sobra para fazer. Ou teria, se não tivesse optado por um dos lados e desperdiçado toda essa força.

Políticos com certificação:: Cláudio Gonçalves Couto

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Poucos segmentos sociais são tão desprestigiados como a classe política ? em particular os parlamentares. Isso é facilmente aferível nas frequentes enquetes de opinião popular que procuram identificar o grau de confiança em instituições e grupos sociais. Mas não é uma peculiaridade brasileira, como mostra pesquisa feita em 19 países pelo instituto alemão GFK na última primavera europeia ( www.gfk.com ). Segundo a enquete, os políticos ocupam o último lugar numa lista de 20 profissões, que passam pelos bombeiros (a mais popular, com 97% de confiança), professores (85%), advogados (72%), banqueiros (57%), clérigos (55%) e jornalistas (42%). Os políticos têm apenas 14% de aprovação, obtendo seu melhor resultado na Holanda (32%) e o pior na Itália (apenas 7%!).

O Brasil também foi incluído na amostra do GFK, mas os resultados obtidos especificamente por aqui não foram divulgados (embora saibamos que nossos políticos se saíram melhor que os italianos). Uma indicação sobre o prestígio dos políticos em nosso país, ainda que de forma indireta (já que a pesquisa perguntou sobre confiança em instituições, e não em profissões), consta do último relatório do Índice de Confiança na Justiça (ICJBrasil), elaborado pela Escola de Direito de São Paulo, da FGV, sob a coordenação de Luciana Gross Cunha (disponível em www.direitogv.com.br/subportais/RelICJBRASIL2TRI2010.pdf ). Numa lista de 10 instituições, aquelas nas quais os brasileiros menos confiam são o Congresso Nacional (28%) e os partidos políticos (21%). As três mais bem avaliadas são, além das Forças Armadas (63%, sempre figurando em primeiro lugar), as grandes empresas (54%) e o governo federal (43%).

O fato de os políticos e suas instituições por excelência serem alvo de tanta desconfiança aqui e alhures não é algo difícil de compreender. Trata-se de uma característica inerente ao Estado representativo e seus mecanismos de controle: quem elege desconfia e, portanto, precisa de instrumentos para restringir o poder de seus representantes, sancionar suas condutas e, a depender da avaliação feita, retirar-lhes do posto obtido nas urnas ou reconduzi-los para o cargo. É por isso que democracias de grandes dimensões, necessariamente representativas, têm na competição entre políticos rivais um elemento crucial: se não for possível votar numa oposição, é impossível controlar os governantes no poder.

Por essa mesma razão políticos autoritários, desejosos de agir sem nenhum tipo de controle, têm como um de seus principais recursos de ganho de poder a eliminação (ou a neutralização) dos opositores e/ou dos dispositivos institucionais que viabilizem a oposição, por vezes criando substitutos ilusórios para tais mecanismos mediante formas de ?democracia participativa?, sempre hegemonizadas pelo grupo dominante. Ora, como cidadãos de sociedades modernas não têm tempo nem interesse para participar o tempo todo da vida política, a divisão social do trabalho, que gera uma classe de políticos profissionais, mostra-se desejável e inevitável, mas traz os riscos da perda de controle e das consequentes oligarquização e corrupção. Por isso, o aprimoramento das democracias requer a redução dos custos de fiscalização dos representantes por seus representados.

O desenvolvimento tecnológico e as novas mídias que ele tornou possível viabilizam uma considerável redução dos custos de controle sobre os políticos. A própria legislação eleitoral tem apontado nessa direção, obrigando a publicação na internet das receitas e despesas dos candidatos. Em nosso caso, porém, o avanço foi precário, pois os próprios congressistas, desinteressados de conferir maior transparência a suas contas de campanha, aprovaram a esdrúxula regra segundo a qual só é necessário publicá-las após a realização do pleito ? um escárnio. Da forma como a lei dispõe, o eleitor corre o risco de votar num candidato e descobrir apenas depois do pleito que ele foi financiado por alguém em quem o representado não confia, ou por interesses dos quais diverge. Mas aí o estrago já está feito e o mandato já foi obtido; de novo, só daqui a quatro anos.

A classe política, a despeito das profundas divergências partidárias (doutrinárias ou de qualquer outro tipo) existentes entre seus membros, compartilha um interesse comum: o de preservar-se como grupo profissional, eliminando os mecanismos inibidores da sua atuação livre, inclusive no âmbito da competição entre pares. E como é essa mesma classe a responsável por definir as regras da competição política, dificilmente as regras são modificadas no sentido de aumentar os controles e tolher a liberdade dos representantes. Quando isso acontece, decorre da fortíssima pressão social (inclusive por meio da mídia) que episodicamente se dirige aos políticos, acuando-lhes. Foi esse o caso da recente aprovação da Lei da Ficha Limpa, motivada por ampla mobilização de cidadãos e, sobretudo, da imprensa.

Mas como os mecanismos legais de controle têm-se mostrado insuficientes, são cruciais iniciativas da sociedade civil organizada como a criação do site http://www.fichalimpa.org.br. A ideia é notável: ao obrigar os políticos que desejam ser listados ali a apresentar comprovantes de sua vida ilibada, assim como (o mais importante) prestar contas semanalmente de suas contas de campanha, os organizadores da página criaram uma certificação de políticos confiáveis. Embora surpresas desagradáveis sempre possam ocorrer, os eleitores com acesso à internet ganham a possibilidade de crivar suas escolhas pela certificação: políticos não certificados (ou seja, ausentes do site) não ganham voto, pois provavelmente têm algo a esconder. Impulsionada ainda essa iniciativa pela divulgação do instrumento em meios de comunicação de largo alcance (como a TV Globo), poderemos ter um salutar elemento novo na decisão do voto de muitos eleitores brasileiros este ano.


Cláudio Gonçalves Couto é cientista político, professor da FGV-SP.

Edu e Bena Lobo - Ponteio

Em comício com Dilma, Lula ataca a elite

DEU EM O GLOBO

"A direita tentou dar golpe a cada 24 horas para não permitir que as forças democráticas pudessem continuar"

Leila Suwwan
Enviada especial


PORTO ALEGRE e SANTA CRUZ DO SUL (RS). Em comício no ginásio Gigantinho de Porto Alegre lotado, ao lado da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, o presidente Lula acusou a elite brasileira de tentar dar um golpe a cada 24 horas na democracia nos últimos oito anos.

A direita tentou dar um golpe a cada 24 horas para não permitir que as forças democráticas pudessem continuar neste país. Foram oito anos de ataques, provocações e infâmias.

Eu mandei dizer a essa elite: vocês mataram Getulio (Vargas), obrigaram (João) Goulart a renunciar e o Jânio Quadros durou seis meses. Se quiserem me enfrentar, não vou estar no meu gabinete lendo o jornal de vocês.

Estarei nas ruas conversando com o povo brasileiro! disse Lula sob forte aplauso.

Ao falar de Dilma, afirmou que a petista foi escolhida, logo após a sua reeleição em 2006, para ser sua sucessora, segredo que ele disse ter confidenciado na época ao ex-ministro Olívio Dutra, que o acompanhou o dia inteiro ontem em seus compromissos oficiais no Rio Grande do Sul.

Falava-se em outros nomes, falava-se em nome que não era do nosso partido, de alianças políticas.

Alguns imaginavam que, depois da crise 1985, o PT ia acabar.

Não é 1985, é 2005. Diziam que o PT não iria ressurgir e jamais conseguiria eleger o presidente disse Lula.

Ele contou que pensava em Dilma Rousseff para sucedê-lo desde que ela chegou à Casa Civil da Presidência: Ela construiu uma aliança politica maior do que a que eu tive. Ela tem o apoio de todas as centrais sindicais deste pais, da União dos Estudantes brasileiros e dos estudantes secundaristas.

E continua construindo esse apoio, na área rural, urbana e empresarial. Estamos em situação infinitamente mais confortável e melhor do que já tivemos disse Lula, que celebrou a volta da aliança com o PCdoB e PSB no Rio Grande do Sul.

O locutor também destacou diversas vezes o apoio de setores do PDT e PTB. Os petistas locais celebraram ainda a adesão do ex-governador Alceu Collares (PDT), que estava no palanque. O Gigantinho tem capacidade para cerca de 10 mil pessoas, e estava lotado.

Dilma, que discursou antes, fez apenas ataques velados à oposição, insistindo que seus adversários não cumprem promessas e têm duas caras.

Nós, quando falamos que vamos fazer, nós fazemos. Nós não prometemos só em época eleitoral disse Dilma. O partido que apoia o meu adversário, da onde saiu seu vice, foi o partido que entrou contra nós no STF pedindo a ilegalidade do ProUni. Eles têm duas caras.

Uma nas eleições outra na hora de governar. Quando chega a hora de governar, eles governam não para todos, mas para apenas um terço da população.

Dilma disse que vai continuar a obra de Lula: Trabalhei 24 horas por dia com ele nos últimos oito anos disse, ao lado de Lula e Tarso Genro, candidato do PT a governador do RS.

Antes do comício, Lula disse que pretende atuar como um leão para conseguir realizar a reforma política após deixar o Planalto. Ele, que não tentou aprová-la em seus quase oito anos de governo, disse que o financiamento privado de campanha impede os candidatos de desancarem do empresário e baterem em banqueiro durante a campanha eleitoral. O presidente afirmou à plateia de cerca de 300 convidados na Usina do Gasômetro que defenderá mudanças na poderosa máquina de fiscalização, que inibe burocratas e atrasa obras.

Lula afirmou que, após deixar a Presidência, encabeçará os esforços para que o PT assuma a dianteira da reforma política, que considera ser responsabilidade dos parlamentares.

Já viram político ir para um palanque falar mal de catador de papel, do movimento de moradia, dos pobres? Não! Nesta época é época de desancar empresário, bater em banqueiro, falar mal das pessoas que ele sabe que não pode falar mal, porque são as pessoas que financiam suas campanhas. Mas é assim a lógica da política nacional.

Para ele, a fiscalização pública está muito mais forte que a máquina do governo.

Estou consciente que temos uma poderosa máquina de fiscalização, com jovens ganhando de entrada R$ 15 mil ou R$ 20 mil. E temos uma máquina de execução com pessoas de 30 anos ganhando R$ 6 mil. Tudo que seja levantado é tido como corrupção e tudo inibe a pessoa que tem que dar liberação.

PSDB chama Marco Aurélio de aloprado de direita

DEU EM O GLOBO

Aliados de Serra reagem a ataque e dizem ainda que petista é "embaixador do governo Lula junto às Farc"

Maria Lima

BRASÍLIA. A cúpula da campanha do tucano José Serra se reuniu ontem para preparar e divulgar uma resposta aos ataques desferidos na véspera pelo assessor especial do presidente Lula e coordenador do programa de governo da presidenciável Dilma Rousseff, Marco Aurélio Garcia, que previu o fim melancólico da carreira do tucano já no primeiro turno, em 3 de outubro.

O ex-ministro e atual secretário da Educação de São Paulo, Paulo Renato de Souza, disse ter havido falta de solidariedade e deslealdade de Marco Aurélio, que teria sido livrado da prisão no Chile por Serra. Os tucanos se referiram ao petista como aloprado de direita.

No mesmo tom de Marco Aurélio, que acusou Serra de estar correndo rumo à direita mais raivosa, o coordenador informal da campanha Jutahy Junior (BA) e o senador Álvaro Dias (PR) devolveram a agressão dizendo que ele é um aloprado de direita: Assim como José Eduardo Dutra (presidente do PT), Marco Aurélio é um aloprado de direita porque defende governos que apedrejam mulheres e condenam jornalistas à prisão. Além disso, seus precedentes conhecidos, que o diga o ex-embaixador Luiz Felipe Lampreia, nos autorizam a dizer que o senhor Marco Aurélio está muito mais para embaixador do governo Lula junto às Farc do que para analista político contra-atacou Álvaro Dias.

Ele reproduziu a versão de que no governo Fernando Henrique, num encontro com o então chanceler Luiz Felipe Lampreia, Marco Aurélio se ofereceu para intermediar um encontro de representantes do governo com líderes das Farc.

Os três tucanos fizeram também duros ataques a pontos da política externa do governo Lula, da qual Marco Aurélio é um dos assessores principais. Para Paulo Renato, a política externa é um desastre e uma constante tentativa de afirmação pueril perante os Estados Unidos e alguns países europeus, atendendo a interesses de países com ideologias próximas à do PT.

Marco Aurélio nega ligação com as Farc

DEU EM O GLOBO

Petista divulga resposta no site do Palácio do Planalto

BRASÍLIA. Em nota no site do Planalto, ontem à noite, Marco Aurélio Garcia contestou as afirmações atribuídas ao ex-embaixador Luiz Felipe Lampreia.

Disse que, em 1999, enquanto atendia a uma solicitação do Instituto Rio Branco para proferir palestra aos alunos do curso de formação de diplomatas, fui convidado pelo então ministro das Relações Exteriores para uma reunião privada em seu gabinete, cujo tema principal era a posição de apoio do Brasil à ditadura Fujimori.

O ministro Lampreia tomou a iniciativa de consultar-me, ainda, sobre outros temas da realidade da América do Sul. Em reposta a meu interlocutor, expressei o ponto de vista de que o Brasil deveria desempenhar um papel mais ativo na região e citei, como exemplo, a atuação do Grupo de Contadora, que fora de grande utilidade para pacificar situações de conflito como as de El Salvador, Nicarágua e Guatemala. Em nenhum momento ofereci préstimos pessoais ou do Partido dos Trabalhadores para negociações com as Farc, até porque, naquela conjuntura, não existiam, como não existem até hoje, quaisquer relações com aquela organização, disse Marco Aurélio na nota.

Relembrando episódios de convivência de Marco Aurélio e Serra no exílio, o ex-ministro Paulo Renato contou ter sido chamado por Serra na sede da Flacso (Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais) quando encontrou Marco Aurélio, com a mulher e o filho: A ordem de Serra era livrálo da prisão. Falo isso não para Serra e eu termos louros, mas apenas para mostrar que Marco Aurélio deveria ter, no mínimo, o dever de solidariedade disse. É um desrespeito um assessor presidencial se dirigir desta forma a quem tem uma biografia centenas de vezes superior à sua.

Serra fez muito mais pelo país do que Marco Aurélio.

Mais do que a opinião de Marco Aurélio, o que vale é a postura histórica de Serra. Não é não é palavra do Marco Aurélio que vai diminuir o incomum patrimônio político de respeito à democracia de Serra acrescentou o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), lembrando ainda os laços de colaboração e admiração que o assessor e o atual governo cultivam com governos autoritários.

Os três tucanos criticaram a política externa do governo Lula, da qual Marco Aurélio é um dos assessores principais. Jutahy Magalhães disse que Marco Aurélio Top Top Garcia está levando a política externa do Brasil para o descrédito absoluto, rompendo a tradição do país de sempre colocar-se como mediador no continente, além de uma política em defesa dos interesses nacionais e não partidários, como ocorre com a política externa do PT.

Serra elege voto distrital puro como prioridade

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Vandson Lima, de São Paulo

O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, colocou como umas de suas prioridades, caso vença as eleições, a reforma política no país. Em sabatina realizada pela rede de televisão Record, em São Paulo, o candidato disse que o ponto fundamental da reforma é a mudança para o voto distrital puro, em detrimento ao voto proporcional, no qual um candidato a deputado, por exemplo, pode buscar votos em qualquer parte do Estado.

"Se uma cidade tem 37 vereadores, você a divide em 37 distritos, cada um elegendo o seu vereador. A vantagem disso é que o eleitor vai fiscalizar o vereador em quem ele votou", argumentou o tucano.

A mudança proposta por Serra atingiria cidades com mais de 200 mil habitantes, onde há segundo turno. Para o candidato, o sistema diminuiria os custos de campanha: "O candidato fica procurando voto em todas as áreas [da cidade], gasta uma fortuna. Isto perverte o processo político brasileiro, e é uma das causas da corrupção." O tucano se diz ciente de que a proposta enfrentaria resistência, em especial no Congresso Nacional: "Podemos começar com os municípios. No Congresso poder ter resistência porque o deputado vai pensar "opa, será que eu me elejo nisso?""

Questionado sobre as declarações do assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia, de que teria assumido um discurso de "troglodita de direita" e caminhava para um "fim melancólico" de sua carreira política, Serra atacou: "Acho troglodita de direita quem apoia o [presidente iraniano Mahamoud] Ahmadinejad, que é um governo que apedreja mulheres, prende jornalistas e enforca opositores". E continuou: "O Marco Aurélio Garcia nunca foi de esquerda (...) eles é que estão com o Collor. E o Collor, é de esquerda?", desafiou. Sobre a aliança com o DEM, relativizou: "Mas o DEM nunca disse que era de esquerda." Por fim, Serra declarou: "Eu acho essa discussão de direita e esquerda uma bobagem. Sou um militante dos direitos humanos."

Serra voltou a dizer que o governo da Bolívia faz "corpo mole" no combate à produção e o tráfico de cocaína e se disse contrário à legalização da maconha que, acredita, serve como "porta de entrada" para outras drogas.

O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) voltou a ser alvo de críticas do tucano, que acusou a organização de "fisiológica" e disse que, em seu governo, o MST não receberia dinheiro público. Sobre as acusações de que o PSDB seria privatista, replicou: "Vou estatizar os Correios, as agências reguladoras, que hoje estão loteadas politicamente pelo atual governo, com gente sem preparo para a função".

A entrega de dois discursos seus como programa de governo ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) foi defendida pelo tucano: "Meus discursos foram muito bem elaborados, as diretrizes de governo estão todas lá".

No fim do programa, Serra teve direito a um minuto para as considerações finais e discursou na busca dos votos dos mais pobres: "Eu sou de família pobre, eu vim da pobreza e estudei em escola pública. É para os pobres que vou trabalhar."

Serra: PT não é mais de esquerda

DEU EM O GLOBO

Tucano afirma que quem apoia líderes como Ahmadinejad é "troglodita de direita" e que "Chávez é dilmista"

Flávio Freire

SÃO PAULO. Numa semana em que recebeu críticas de dirigentes petistas de que representaria a direita radical, o candidato à Presidência pelo PSDB, José Serra, rechaçou ontem o rótulo e disse que quem está nesse papel são os seus opositores, principalmente quando apoiam líderes internacionais controversos, como o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad.

Incomodado com a estratégia do PT, o tucano disse também que quem está ligado ao ex-presidente Fernando Collor de Mello não pode se intitular como representante da esquerda no país. Durante sabatina promovida pelo portal R7 e Record News, ontem, Serra rebateu com veemência os recentes ataques.

As críticas vêm de gente que não é mais de esquerda.

Eu me considero de esquerda.

Esse pessoal (do PT) não tem mais nada a ver com isso, mas faz coro para ficar repetindo.

Eu acho troglodita de direita quem apoia o (Mahmoud) Ahmadinejad, que está matando mulheres a pedradas, tem uma ditadura que prende e condena jornalistas há no mínimo 16 anos e enforca opositores.

Ora, quando esse pessoal engenha apoio a essa turma, não tem nada a ver com esquerda.

Mas eles são muito bem organizados para repetir a mesma coisa disse Serra.

Eu acho essa discussão uma bobagem A discussão em torno de ser candidato de esquerda ou direita está no cenário político desde que o presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, disse que Serra que, ao comentar declarações de João Pedro Stédile, afirmou que o MST promoveria mais invasões caso a petista Dilma Rousseff seja eleita representa uma direita troglodita.

O assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia, colocou mais lenha na fogueira, afirmando que o tucano teria um fim melancólico por conta de seu discurso mais radical. Serra retomou ontem a discussão: O Marco Aurélio é de direita, ele não tem nada de esquerda disse o tucano, que lembrou de seu passado como exilado político para defender que está ligado à esquerda no país quem efetivamente luta por direitos humanos.

Indagado se a aproximação com o DEM não o colocaria mais à direita, Serra partiu para o ataque: Mas você já viu algum democrata (integrante do DEM) posando de esquerda? Agora, você acha que o Collor, que é aliado deles (PT), é de esquerda? Na verdade, eu acho essa discussão uma bobagem.

Em meio às críticas de que o governo de Hugo Chávez pôe em risco a paz na América Latina quando rompe relações com a Colômbia, José Serra retomou ontem o assunto com um viés eleitoral.

Perguntado se a briga com países vizinhos não prejudicaria suas relações num eventual governo, Serra foi taxativo: O Chávez já declarou voto na Dilma. Chávez é dilmista, e PT é chavista. Isso não tem nada a ver com governo.

Eu estou apresentando minhas ideias na campanha.

Agora, assumindo o governo, temos uma relação de Estado, com respeito recíproco à auto-determinação de cada um.

Serra voltou a chamar Dilma Rousseff para o debate. Ele diz que não conhece as propostas da candidata petista.

No campo das promessas, Serra disse que pretende estender para todo o país o programa da nota fiscal paulista, que ressarce o contribuinte com 30% do valor de imposto pago em determinado produto. Ele também garantiu que, se eleito, vai implantar o Mãe Brasileira, que acompanha mulheres carentes desde a gestão até o parto.

Serra ainda defende mudanças na legislação eleitoral, com ampliação do voto distrital, mandato de cinco anos, sem reeleição, e um novo sistema de previdência social que priorize quem ainda não é contribuinte.

Ao comentar os problemas do país na área de educação, José Serra disse que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso promoveu a inclusão nas escolas, mas que ainda falta qualidade no setor.

Uribe ataca Lula e posição do Brasil sobre as Farc

DEU EM O GLOBO

Presidente colombiano diz que brasileiro ignora ameaça de guerrilheiros

A crise entre a Colômbia e a Venezuela respingou no Brasil. Num duro comunicado, o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, condenou as declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o conflito do seu país com a Venezuela, classificando-as de deploráveis. Segundo o governo Uribe, Lula trata o assunto como se fosse um embate pessoal e ignora a ameaça que "representa a presença de terroristas das Farc" em território venezuelano: "Lula desconhece nosso esforço para buscar soluções através do diálogo", afirmou a Presidência colombiana. Na véspera, Lula dissera que o conflito entre os dois países era verbal e pediu paciência até a posse do presidente eleito da Colômbia, Juan Manuel Santos. O presidente brasileiro não comentou o comunicado, mas, segundo fontes, o governo se surpreendeu com a dureza da resposta colombiana e evitou retrucar para não elevar a tensão.

Uribe condena Lula por ignorar ameaça das Farc

Colombiano tacha de deploráveis declarações de presidente brasileiro

BRASÍLIA e QUITO - A crise entre a Colômbia e a Venezuela atravessou fronteiras, pelo menos em seu front verbal, respingando ontem no Brasil. Horas antes de a União de Nações Sul-Americanas (Unasul) se reunir em Quito para discutir a ruptura das relações entre os dois países, o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, criticou as declarações da véspera do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, classificando-as de deploráveis.

Segundo um comunicado da Presidência da Colômbia, Lula trata o conflito como se fosse um embate pessoal e ignora a ameaça que representa a presença de guerrilheiros colombianos em território venezuelano.

O presidente Lula preferiu não comentar o comunicado, e o governo não soube informar se ele manterá a presença no jantar de despedida de Uribe, que deixa o cargo no dia 7. Na verdade, fontes em Brasília disseram não saber se Lula ainda está convidado para o evento. Até anteontem, a ida do presidente brasileiro estava confirmada.

Na quarta-feira, após um encontro em Brasília com o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, Lula disse não ver um confronto entre Colômbia e Venezuela, apenas um conflito verbal, e pediu paciência até a posse do presidente eleito da Colômbia, Juan Manuel Santos.

O governo brasileiro se surpreendeu com a dureza da resposta colombiana.

O presidente da República deplora que o presidente Lula se refira à nossa situação com a Venezuela como se fosse um caso de assuntos pessoais, ignorando a ameaça que para a Colômbia e o continente representa a presença dos terroristas das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) nesse país, afirma a nota de Uribe. Lula desconhece nosso esforço para buscar soluções através do diálogo.

Repetimos que a única solução que a Colômbia aceita é que não se permita a presença dos terroristas das Farc e do ELN (Exército de Libertação Nacional) em território venezuelano. Para baixar o tom, Brasília evitou retrucar. Entre auxiliares houve o reconhecimento de que Lula errou ao desmerecer o tamanho da crise entre Colômbia e Venezuela.

O presidente Lula já tomou conhecimento dessas declarações (de Uribe) e não considera apropriado que se responda a esse comunicado disse o portavoz da Presidência, Marcelo Baumbach. O presidente já declarou que lamenta a situação que se criou entre a Colômbia e a Venezuela. Ele acredita que a estabilidade das relações entre esses dois países amigos é fundamental para a tranquilidade na região.

Caracas rompeu relações com Bogotá na semana passada, depois de ser acusada na OEA de tolerar a presença da guerrilha em seu território.

Segundo o governo colombiano, há 1.500 guerrilheiros das Farc e do ELN em 87 acampamentos na Venezuela. As autoridades colombianas apresentaram fotos, imagens de satélite e coordenadas que comprovariam a existência desses acampamentos. O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, rejeita as acusações e pôs em alerta as Forças Armadas, na pior crise entre os dois países em mais de duas décadas.

Lula havia reiterado a intenção de mediar o diálogo e a esperança de que a reunião da Unasul ajudasse a resolver o confronto.

Chanceler venezuelano critica doutrina de guerra

Ao comentar as críticas de especialistas de que Lula perde credibilidade na intermediação do conflito por ser mais próximo a Chávez do que do conservador Uribe, Baumbach minimizou a informação: O presidente já manifestou estar disposto a conversar com todas as partes, independentemente de qualquer outra consideração.

O presidente acredita que só o diálogo entre as partes e a boa vontade é que vão levar à superação desse problema.

Baumbach não soube dizer se Lula manterá a disposição de participar de um jantar de despedida de Uribe, dia 6. Lula planejava visitar a Venezuela e depois seguir para o jantar de Uribe e a posse de Santos, no dia seguinte.

Em Quito, o assessor especial da Presidência Marco Aurélio Garcia também tentou minimizar a crise com Uribe.

Não é esse o sentimento do presidente Lula. O presidente tem outra percepção do problema.

Não é o momento de ficar trocando declarações públicas ponderou.

A reunião dos 12 países-membros da Unasul terminou sem um consenso, com os participantes pedindo que seja realizada uma cúpula de chefes de Estado para discutir o assunto o mais rapidamente possível. O clima que antecedeu o encontro não era dos melhores, com a presença de apenas oito chanceleres já que alguns governos enviaram seus vice-chanceleres ou embaixadores.

O Brasil foi representado pelo número dois do Itamaraty, o embaixador Antonio Patriota.

O próprio secretário-geral da Unasul, o expresidente argentino Néstor Kirchner, não assistiu à reunião.

Esse foi o primeiro encontro dos dois governos desde a ruptura, com o chanceler colombiano, Jaime Bermúdez, e o venezuelano, Nicolás Maduro, sentando-se a três cadeiras de distância um do outro. Ao chegar a Quito, Bermúdez disse não ter maiores expectativas. Já Maduro acusou a Colômbia de manter uma doutrina de guerra e de ser uma ameaça aos vizinhos.

Viemos denunciar o governo da Colômbia por ter uma doutrina de guerra e violadora do direito internacional afirmou Maduro, negando a presença da guerrilha em seu país. Viemos propor um conjunto de ideias para que seja retomado o caminho da paz, dado que a última guerra de nosso continente é na Colômbia.

Para a reunião a portas fechadas, Bermúdez levou provas da presença da guerrilha na Venezuela, desejando que a denúncia seja investigada.

Para analistas internacionais, é pouco provável que Colômbia e Venezuela cheguem a um conflito armado. As relações entre Bogotá e Caracas, que passaram por altos e baixos nos últimos anos, estavam congeladas desde que a Colômbia assinou um acordo com os Estados Unidos permitindo o uso de algumas de suas bases militares.

Em Recife, militantes do Movimento dos Sem Terra que ocupam o Incra deixaram temporariamente a sede do instituto para fazer um protesto a favor da Venezuela e contra os EUA. Com apitos, cartazes e carros de som, eles ocuparam a rua onde fica o Consulado dos EUA, queimaram a bandeira americana e atiraram lixo no prédio da representação diplomática.

Apoiar Irã é ser "troglodita", diz Serra

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Candidato tucano responde a Marco Aurélio Garcia e diz que ser "de direita" é defender governo Ahmadinejad

Núcleo liderado pela mulher de Serra acusa Dilma de "omissão" no caso de iraniana condenada à morte

Catia Seabra

SÃO PAULO - O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, chamou ontem de "trogloditas de direita" aqueles que apoiam o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad.Ao responder a Marco Aurélio Garcia, assessor da Presidência que o acusou de correr para a direita raivosa, Serra disse que os ataques partem "de gente que não é mais de esquerda". E reagiu:

"Acho troglodita de direita quem apoia o Ahmadinejad, que está matando mulheres a pedrada [...], uma ditadura que prende jornalistas, enforca opositores."

Em sabatina do portal R7, Serra cobrou da adversária petista, Dilma Rousseff, a apresentação de propostas. "A Dilma apenas defende a continuidade, o que não é pouco. Mas ideia nova, propriamente dita, não tem."

Instado a destacar uma qualidade da adversária, limitou-se a dizer que "é uma mulher de luta", com quem mantém uma relação cordial.

Serra chamou de fisiológicos os líderes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). "Se quisesse a reforma agrária, o MST apoiaria o Plínio de Arruda Sampaio."

Declarando-se de esquerda, classificou como bobagem a disputa por esse título. Mas, visivelmente incomodado, voltou ao assunto.

Serra -que, na sabatina Folha/UOL, contou ter ajudado asilar Marco Aurélio no Chile- disse ontem que o petista "é de direita". Questionado sobre a aliança com o DEM, lembrou o apoio do ex-presidente Fernando Collor a Dilma: "Você acha que Collor é de esquerda?"

REFORÇO

Sob a liderança de Monica Serra, mulher do tucano, o núcleo de mulheres da coligação que apoia o candidato divulgou ontem nota em que acusa Dilma de omissão no caso da iraniana Sakineh Ashtiani, condenada à morte por apedrejamento.

"Mesmo não sendo nossa candidata, esperávamos dela uma manifestação. Isso se espera de qualquer mulher. Mas ela está sendo absolutamente omissa. Só fala o que dizem a ela", disse Monica.

Segundo ela, a nota foi submetida a cerca de 200 mulheres reunidas ontem em São Paulo.

"Chama a atenção a injustificável omissão da candidata Dilma, que se cala diante de fato tão grave, que humilha e deprecia a imagem da mulher", diz a nota.

Serra ironiza acusações de que é ‘de direita’: ‘defender juros altos é ser de esquerda?’

AGÊNCIA ESTADO

André Mascarenhas

29.julho.2010 16:06:00

O candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, voltou a se defender hoje das acusações de que teria abandonado o campo ideológico da esqurda. Ontem, o assessor especial da Presidência Marco Aurélio Garcia comparou o tucano a um “troglodita de direita”.

Para Serra, as acusações são feitas por “gente que é de direita, que não tem nada pra falar e que monta factóides”. Serra aproveitou o tema para criticar a política de juros do governo federal. “Defender o maior juro real do mundo é ser de esquerda?”, questionou, ironicamente durante sabatina R7/Record News.

Veja a seguir os principais momentos da sabatina:

18h - Em coletiva após a sabatina, Serra negou que se incomode com o rótulo de candidato de direita. Segundo o candidato, as acusações são feitas a “gente que é de direita e que não tem nada pra falar e que monta factóides”. Serra aproveitou o tema para dizer que a política de juros do governo é dedireita. “Defender o maior juro real do mundo é ser de esquerda?”, questionou, ironicamente.

17h46 – Serra encerra sua participação na sabatina.

17h44 – “Todo mundo quer presidídio. Sabe onde? No município vizinho”, diz Serra ao ser questionado sobre se irá construir mais presídios caso seja eleito. Segundo, ele não foi possível avançar na questão em São Paulo devido às resistências da sociedade e governos locais.

17h42 – Serra critica o programa de governo apresentado pelo PT à Justiça eleitoral, e diz que o seu está em fase de conclusão. “Vamos nos comprometer com metas. O resto é trololó”, afirma.

17h42 – Serra critica o programa de governo apresentado pelo PT à Justiça eleitoral, e diz que o seu está em fase de conclusão. “Vamos nos comprometer com metas. O resto é trololó”, afirma.

17h38 – Serra procura diferenciar as multas eleitorais tomadas pelo PSDB e das do PT. “Essas multas que tem chegado, tem sido multas de estados que puseram a minha imagem de forma indevida”, diz. Para ele, há diferença em relação às multas tomadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, na opinião do tucano, estaria deliberadamente burlando a lei eleitoral.

17h35 – “Eu sempre disse que não colocaria dinheiro público para a contruir estádio aqui em São Paulo”, diz sobre as previsões de gastos com infraestrutura para a Copa de 2014. Serra defende o investimento em transporte público e na adequação dos entornos dos estádios.

17h31 – Serra critica a reforma da Previdência do governo Lula. Para ele, o aposentado ganha mal e é mal tratado pelo Estado brasileiro. “Tratar melhor é melhorar a aposentadoria”, diz. O candidato propõe a criação de um novo sistema voltado para quem ainda não entrou no mercado de trabalho, com a manutenção do atual para quem já contribui com o INSS.

17h26 – “O salário mínimo vai ser o maior possível”, responde ao ser perguntado sobre como tratará a questão. “Se Deus quiser, vai continuar aumentando no rítimo dos últimos anos”. “Acho que nos próximos anos pode aumentar 50%”.

17h23 – “O Lula também privatizou, sabia?”, provoca ao ser questionado se irá reestatizar alguma empresa privatizada durante o governo Fernando Henrique Cardoso. “Belo Monte é tudo dinheiro do governo, mas o dono é privado”, ataca. “Sabe o que vou fazer? Vou estatizar os Correios, que hoje é de um partido”, completa Serra.

17h21 – Serra rechaça a pecha de que seja um candidato das elites. “Eu não acho que alguém que ganha dez salários mínimos ou que fez universidade seja rico. Eu quero o voto de todos”, afirma. “Sempre dediquei minhas políticas aos desamparados.”

17h18 – “Tem que vincular mais à educação”, diz sobre os programas sociais do governo Lula, como o Bolsa Família.

17h16 – Para Serra, os mensalões do PSDB e do PT são de naturezas diferentes. “Eu conheço o (ex-governador Eduardo) Azeredo, e sei que ele nunca recebeu dinheiro para votar em ninguém”, diz.

17h13 – “Não sou à favor do controle da internet”, diz em resposta à pergunta de um internauta. O candidato defende, entretanto, algum tipo de remuneração para os direitos autorais de artistas que têm suas obras compartilhadas pela rede. “Acho saudabilíssimo”, diz sobre o compartilhamento de arquivos pela internet.

17h05 – “Se o MST fosse de fato à favor da reforma agrária, o Plínio de Arruda Sampaio estaria com eles”, diz Serra, que aproveita para elogiar a “integridade” de seu adversário na corrida à Presidência. “Eles são fisiológicos”, acrescenta, ao ser questionado o que é, para ele, o MST. Serra aproveita para esclarecer declaração feita no início da semana, quando reproduziu tese do dirigente do MST João Pedro Stedile, para quem haverá mais invasões caso Dilma seja eleita presidente. “Dinheiro de governo é para atender interesse público, não é para dar subsídios para movimentos políticos”, afirma.

17h00 – “Quando eu fui ministro da Saúde, expandi em 50 mil os agentes de saúde”, diz Serra ao ser questionado se irá tirar do serviço público servidores que trabalhem bem. “Você tem que empregar onde precisa”, diz. Ele argumenta ter colocado, no alto escalão do ministério da Saúde, dois médicos ligados ao PT. “Eu não faço a menor diferrenciação de procedência partidária se ele for bom para a função”, acrescenta. O tucano acrescenta ainda não ter decidido se irá acabar com algum ministério. “Sei que vou criar dois”, afirma.

16h53 – Os internautas perguntam por que viajar em São Paulo é tão caro e se serra pretende levar para o plano federal a política de concessões do Estado. “O governo federal arrecadou, de 2006 a 2009, R$ 600 bilhões pela Cide, para recuperar estradas. Não usou um terço”, diz sobre a situação das estradas federais. “O loteamento político faz com que não se sigam prioridades”, critica. Segundo o ex-governador paulista, as melhorias nas estradas dependem do estabelecimento de parcerias com a iniciativa privada, o que implica em pedágios. “Nós até mudamos o sistema de concorrência para o de concessões (em São Paulo). Na Ayrton Senna, o valor do pedágio caiu pela metade”.

16h47 – Serra nega que pretenda acabar com a reeleição no País, mas defende a reforma política. E propõe a criação do voto distrital no País. “Qual é a vantagem disso? O eleitor vai controlar aquele em quem ele votou”, disse.

16h44 – Questionado se nacionalizaria a legislação antitabagista do Estado de São Paulo, Serra diz que não vê necessidade, pois acredita tratar-se de uma responsabilidade dos Estados.

16h38 – “Ele é de direita”, diz Serra sobre o assessor da Presidência, Marco Aurélio Garcia. “Eu acho que essa discussão direita/esquerda é uma bobagem”, diz Serra.

16h34 - Serra reitera as críticas de seu vice, Índio da Costa (DEM), que acusou o PT de ligação com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc): “O PT errou ao tratar [as Farc] como força política, sendo que é, na verdade, do narcotráfico”, diz, depois de afirmar que “todo mundo sabe da ligação do PT com as Farc. As Farc são uma força do narcotráfico.” Serra também negou que sua campanha esteja fazendo “terrorismo eleitoral”, como acusam os adversários. “É o oposto. Eu vivo o tempo inteiro querendo discutir teses”, disse. Em seguida, atacou o PT. “Para eles, qualquer coisa que você contrarie é terrorismo.” Segundo o tucano, os adversários recorrem a essas acusações porque “não têm discurso”.

16h28 – Serra volta a criticar a política externa do governo Lula. Ele usa a questão dos presos políticos de Cuba para argumentar que o País não usa sua influência na região para influenciar em questões como a dos direitos humanos. “O Brasil não usou sua influência para resolver essa questão”, afirmou. “Você assumir um governo é ter uma política de Estado”, diz Serra ao ser questionado sobre que postura adotaria caso tivesse que sentar em uma mesa de negociações com desafetos da região, como o presidente venezuelano, Hugo Chávez. “O Chávez é dilmista e o PT é chavista”, acrescentou.

16h25 – Serra rebate as declarações do assessor da Presidência Marco Aurélio Garcia, para quem o tucano “abandonou a esquerda”. “Troglodita de direita é quem apoia o presidente do Irã, que manda apedrejar mulher adultera”, afirma o candidato, numa referência às relações do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o mandatário iraniano, Mahmud Ahmadinejad.

16h23 – Serra usa os dados do Ideb em São Paulo para defender sua gestão à frente do governo. “Educação não é um desafio de partido, não é de governo, é do Estado brasileiro.”

16h16 – “Eu trabalho, 15, 16 horas por dia. Quanto ao horário, eu não sei qual seria. Não tenho problema em virar madrugadas”, diz Serra ao ser perguntado sobre seus hábitos notívagos.

16h14 – Um dos entrevistadores pergunta se Serra se sentiria constrangido em dizer as qualidades de Dilma Rousseff. “Acho que ela é uma mulher que luta”, responde Serra. “Para por aí?”, questiona o jornalista. “O que você quer, que eu faça um tratado sobre a Dilma?”

16h11 – Questionado sobre o compromisso, firmado em 2004, de se manter na prefeitura, Serra brinca: “Agora ninguém precisa se preocupar porque, se eu ganhar, não vou deixar a Presidência para concorrer a secretário da ONU.”

16h09 – A sabatina começa com a apresentação de reportagem com o currículo de Serra.

Serra: 'Esquerda tem de defender direitos humanos'

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Tucano diz que não teria confiado em Ahmadinejad, acusado de perseguir e torturar oposicionistas, e fala da aproximação entre Dilma e Chávez. Para Serra, se o MST fosse pela reforma agrária "apoiaria Plínio e o PSOL"

Carolina Freitas

O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, definiu-se ontem como um político de esquerda, em resposta a PETISTAS que o classificaram como "um troglodita de direita". E contra-atacou: "Uma coisa é certa: quem se acha de esquerda tem de ser defensor de direitos humanos. Eu não teria confiado em Ahmadinejad", referindo-se ao presidente do Irã.

A afirmação foi feita durante sabatina realizada pelo canal Record News e o portal R7 - na qual o tucano ainda acusou a adversária petista Dilma Rousseff de fugir do debate, atacou o MST e prometeu, se eleito, "dar uma enxugada no desperdício". Sobre programas de governo, disse que o seu "não terá trololó nem firulas" e que virá "em forma de metas, como um milhão de novas vagas no ensino técnico e 154 policlínicas".

Serra reagiu com vigor ao ser mencionada a crítica do assessor da Presidência Marco Aurélio Garcia, que o chamou de troglodita. "Troglodita de direita é quem apoia o Ahmadinejad, que está matando mulheres a pedradas". Segundo o tucano. Garcia "é de direita, totalmente, não tem nada de esquerda. Falar de esquerda é falar em direitos humanos, em políticas efetivamente populares, de curto, médio e longo prazo, não no jogo de grupos econômicos".

E foi além: "Defender o maior juro real do mundo não é ser de esquerda, defender a menor taxa de investimento governamental do mundo em desenvolvimento não é ser de esquerda, defender a maior carga tributária do mundo em desenvolvimento também não é ser de esquerda".

Ao falar da rival Dilma Rousseff, começou com uma acusação implícita, sem citar seu nome: "Há uma fuga do debate, não apenas física, mas também de ideias". Em sua opinião, "não se debatem temas, hoje tem uma central de boatos, que espalha coisa, é uma atitude de ofendido quando você diz alguma coisa que todo mundo sabe que é verdade". Mais adiante, aproximou-a do presidente venezuelano Hugo Chávez: "Chávez já declarou voto em Dilma. Chávez é dilmista e o PT é chavista".

Desperdício. Em outro momento, advertiu que um de seus planos é reduzir a máquina pública. "Vou dar uma enxugada no desperdício. Tem excesso de cargo comissionado". E deu uma explicação a respeito dessas funções: "cargo em comissão significa nomear uma pessoa que não fez concurso e pode não ter nenhuma capacidade para a função. Boa parte é emprego político".

O candidato tucano também ironizou o MST: "Se eles fossem pela reforma agrária, estariam apoiando o Plínio de Arruda Sampaio, do PSOL, que foi exilado por ser relator do projeto pela reforma agrária. Ele é o patriarca dessa reforma." Garantiu que, eleito, faria novos assentamentos e atuaria para aumentar a produtividade dos que já existem. "Hoje você tem muitos assentamentos cujos proprietários vivem de cesta básica."

Falou também sobre a política que adotaria quanto ao salário mínimo: "Será o melhor possível." E detalhou: "Se Deus quiser, vai continuar aumentando nos próximos oito anos, no mesmo ritmo do governo Lula."

Central de boatos

JOSÉ SERRA
CANDIDATO DO PSDB À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

"Não se debatem temas. Hoje tem um mecanismo que é uma central de boatos, que espalha coisas, e uma atitude de ofendido quando você diz algo que todo mundo sabe que é verdade"

"Uma coisa é financiamento de campanha, a outra é tirar dinheiro no banco para encaminhar votações. São fenômenos diferentes"

"Eu vou dar uma enxugada no desperdício. Tem excesso de cargo comissionado. Cargo em comissão significa nomear uma pessoa que não fez concurso e pode não ter nenhuma capacidade para a função. Boa parte deles é emprego político"

Sem Terra fazem protesto na embaixada americana em prol da Venezuela

Do JC Online

Um grupo de manifestantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra realizam nesta tarde de quinta-feira (29) um protesto em frente à Embaixada dos Estados Unidos, na Boa Vista, Centro do Recife. A manifestação é contra as ameaças de um ataque militar contra a Venezuela, por parte dos governos da Colômbia e EUA.

Cerca de 100 pessoas fecharam a rua. Os manifestantes estavam munidos de cartazes, apitos, faixas e um carro de som para auxiliar nos gritos com palavras de ordem contra o "imperialismo americano". O consulado acionou a Polícia para controlar a manifestação.

O protesto, no entanto, está sendo pacífico. Ainda nesta quinta, os Sem Terra retornam ao Incra, onde continuam acampados. Eles aguardam uma rodada de negociações com o presidente nacional do órgão, que chegará amanhã ao Recife para se reunir com os líderes do movimento.

O que pensa a mídia

Editoriais dos principais jornais do Brasil
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Brahms, Capriccio, opus 76 no 2, piano solo

O que Alécio vê :: Carlos Drummond de Andrade


A voz lhe disse ( uma secreta voz):
- Vai, Alécio, ver.
Vê e reflete o visto, e todos captem
por seu olhar o sentimento das formas
que é o sentimento primeiro - e último - da vida.

E Alécio vai e vê
o natural das coisas e das gentes,
o dia, em sua novidade não sabida,
a inaugurar-se todas as manhãs,
o cão, o parque, o traço da passagem
das pessoas na rua, o idílio
jamais extinto sob as ideologias,
a graça umbilical do nu feminino,
conversas de café, imagens
de que a vida flui como o Sena ou o São Francisco
para depositar-se numa folha
sobre a pedra do cais
ou para sorrir nas telas clássicas de museu
que se sabem contempladas
pela tímida (ou arrogante) desinformação das visitas,
ou ainda
para dispersar-se e concentrar-se
no jogo eterno das crianças.

Ai, as crianças... Para elas,
há um mirante iluminado no olhar de Alécio
e sua objetiva.
(Mas a melhor objetiva não serão os olhos líricos de Alécio?)
Tudo se resume numa fonte
e nas três menininhas peladas que a contemplam,
soberba, risonha, puríssima foto-escultura de Alécio de Andrade,
hino matinal à criação
e a continuação do mundo em esperança.



(Carlos Drummond de Andrade in “Amar se Aprende Amando”)