quarta-feira, 28 de julho de 2010

Reflexão do dia – Luiz Francisco de Carvalho


"O jornal e o site não estão fazendo campanha, estão simplesmente informando o leitor a respeito de algo que ocorreu.
A tentativa do PT é um ato de censura grave. Mal comparando, seria o mesmo que mandar agentes do Estado para recortar páginas dos jornais das bibliotecas para que a notícia jamais seja lida".


(Luís Francisco Carvalho Filho, advogado da Folha de S. Paulo, ao pedido do PT para que o jornal retire de seu site o vídeo da entrevista em que Indio da Costa (DEM), candidato a vice de José Serra (PSDB), acusa o PT de ter ligações com às FARC, ontem, na Folha)

Marcas famosas:: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Dizer que o candidato do PSDB, José Serra, vestiu o "figurino da direita troglodita", que faz "o discurso da República Velha" e que obedece a ordens de "falcões associados a um índio", como diz o presidente do PT, José Eduardo Dutra, pode ser interessante como artifício de contra-ataque.

Dá colorido ao embate, alimenta a impressão de que campanha eleitoral se resume à troca de desaforos, serve para ganhar tempo, mas não responde às questões postas em cena pelo adversário.

Estas, se bem rebatidas de forma substantiva, desaparecem num instante do noticiário.

Agora, se tratadas na base dos adjetivos, acompanharão como uma sombra a candidata Dilma Rousseff até o fim da jornada, serão cobradas dela nos debates de televisão e continuarão sendo repetidas no horário eleitoral.

O PT deveria ser o primeiro a ter consciência disso. Tudo o que não é bem explicado, tudo o que não é enfrentado, aquilo que não recebe de início um corte pela raiz, assombra.

Na campanha de 2006, o PT partiu de uma base real - as privatizações feitas durante o governo Fernando Henrique Cardoso - e montou como quis a história dos inimigos entreguistas que no dia seguinte à sua volta ao poder venderiam o Banco do Brasil e a Petrobrás na bacia das almas.

Os tucanos esbravejavam, diziam que era mentira e o candidato recorria à alegoria para rebater, posando de colete e boné cheios de enfeites alusivos às queridas estatais. Seria só patético se não fosse também ineficaz.

Em miúdos, a resposta errada para a questão que estava sendo posta ao exame do público. Ou, por outra, resposta alguma.

Ontem, já na segunda semana consecutiva de ataques duros da oposição à candidatura de situação, Dilma Rousseff resolveu tomar uma providência.

Depois de dizer a todos que candidato à Presidência da República não deve se utilizar da palavra de outrem - no caso, ela se referia ao candidato a vice de Serra, Índio da Costa -, Dilma tomou à frente: "Então, vou responder ao ex-governador José Serra, acho lamentável que a eleição tenha descido, da parte do meu adversário, a esse nível."

Quer dizer, não disse coisa alguma. Não repudiou com veemência qualquer relação com os bandoleiros colombianos denominados Farc, não disse que são terroristas narcotraficantes nem renegou João Pedro Stédile e seu aviso de que em caso de vitória dela o MST perceberá que "vale a pena se mobilizar", ou seja, invadir propriedades privadas, depredar, roubar, barbarizar.

O que fica na cabeça de quem vê?

A evidência, no mínimo, de que esses assuntos rendem constrangimentos ao PT. Essa história de levantar o nariz e dizer "o que vem de baixo não me atinge" é atitude típica de quem não sabe o que dizer.

E por que não sabe? Porque o PT ainda tem contradições internas e externas que se prestam à exploração do adversário.

E por que ainda tem isso oito anos de governo e uma inequívoca opção pelo pragmatismo depois?

Porque fez uma carta-compromisso para se eleger, comprometeu-se com a realidade para governar, mas como partido jamais fez autocrítica em regra, nunca revisou seus conceitos.

São os mesmos contidos no documento A ruptura necessária de 2002 - substituído pela Carta aos brasileiros - e mantidos com nova roupagem em A grande transformação de 2010 - em vias de ser trocado por um enunciado de 13 intenções pluripartidárias mais palatáveis às urnas.

E por que o PT não faz autocrítica?

Porque perderia massa e o indiscreto charme dos revolucionários de almanaque.

Memorial. Em 1999, o então encarregado de assuntos internacionais do PT e atual assessor especial da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, ofereceu ao Itamaraty seus préstimos para aproximar o governo brasileiro das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia.

Na época as Farc eram fortes, cercavam Bogotá e poderiam sim tomar o poder na Colômbia.

Diferente de hoje, praticamente dizimadas e reduzidas a acampamentos rurais isolados.

A oferta de Garcia foi recusada, mas o interlocutor ainda está em atividade nas lides de política externa (não mais no Itamaraty) para não deixar ninguém mentir.

A fila presidencial:: Fernando Rodrigues

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - Toda eleição presidencial é o fim de um ciclo. Alguns políticos se aposentam.

Outros sabem que sua hora vai passar. Quando se observam os nomes dos presidenciáveis de 1989, nota-se grande diferença para o cenário atual. Alguns já morreram, como Ulysses Guimarães, Leonel Brizola, Mário Covas, Aureliano Chaves e Enéas Carneiro. Outros não serão mais candidatos ao Planalto, como Paulo Maluf, Roberto Freire e Ronaldo Caiado.

Agora há também uma sensação de mudança de protagonistas. Fernando Henrique Cardoso, presidente duas vezes, aposentou-se de disputas eleitorais. O atual ocupante do cargo, Luiz Inácio Lula da Silva, é uma incógnita para 2014 -até porque seria necessária uma sofisticada alquimia na democracia brasileira com objetivo de promover um "revival" lulista daqui a quatro anos. Em política, a fila anda.

O favorito deste ano que fracassar também sofrerá embaraços se desejar manter o projeto presidencial mais adiante. É difícil imaginar Dilma Rousseff (PT) pretendendo ser candidata em 2014 se for derrotada agora. No caso de José Serra (PSDB), uma segunda tentativa frustrada (a primeira foi em 2002) pavimentará o caminho para a sua nêmesis eterna dentro do tucanato, o mineiro Aécio Neves.

Além do espectro de Lula rondando 2014, sobrará dos atuais candidatos apenas Marina Silva (PV). Dos que estão fora, há o tucano Aécio Neves e talvez um Ciro Gomes renovado. Em seguida, nunca fora do radar, estão os governadores bem-avaliados e de Estados com grandes eleitorados.

É cedo e temerário apostar, mas hoje os governadores com as avaliações mais positivas do país são, pela ordem, Eduardo Campos (PSB), de Pernambuco, e Jaques Wagner (PT), da Bahia. Ambos favoritos à reeleição em seus Estados e ávidos por projetos nacionais daqui a quatro anos. Estão na fila presidencial, que já começa a andar.

À procura dos seus próprios eleitores:: Rosângela Bittar

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Um bom desafio para este momento da campanha eleitoral se coloca para o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, a partir de algumas demonstrações da última pesquisa de intenção de voto do Datafolha. Seu enfrentamento não parece ser um enigma, mas se fosse fácil os marqueteiros já teriam, certamente, encontrado a fórmula. Trata-se da conquista, ou a reconquista, do eleitorado que há quatro anos votou em Geraldo Alckmin (PSDB), o candidato da oposição ao presidente Lula (PT), no primeiro turno da eleição de 2006.

Além de estar no exercício do cargo, Lula então nem precisava dispender o esforço atual para transferir prestígio, popularidade e carisma a outro, no caso a candidata do PT em 2010, Dilma Rousseff.

O desafio se arma na leitura de análises comparativas feitas entre a campanha da oposição, hoje, e a campanha da oposição, há quatro anos atrás. Estudo do sociólogo Antonio Lavareda, da MCI, feito sobre os resultados da pesquisa do Datafolha divulgada no último fim de semana, compara as intenções de voto em José Serra, hoje, antes da campanha pela TV, e em Geraldo Alckmin, em 2006, ao fim da votação em primeiro turno. O que se evidencia desse trabalho é que não está com Serra, ainda, a totalidade do eleitorado que votou no principal candidato de oposição a Lula, em 2006. Uma das reflexões da análise é que esse eleitor é possível, há espaço para a oposição crescer, sobretudo em São Paulo.

No exercício em questão, Lavareda desconta os eleitores indecisos, os votos em branco e os nulos, para encontrar os números a serem comparados. Assim, Serra tem hoje 43% das intenções de voto, Dilma 42% e Marina Silva (PV) 12%.

Serra se encontra, antes de ser iniciada a propaganda de TV, no mesmo patamar em que Geraldo Alckmin terminou o primeiro turno contra Lula, em 2006. Ele recebeu arredondados 42%, um ponto abaixo do que a oposição tem hoje antes da campanha de TV.

Os votos, esses números também evidenciam, ainda podem se movimentar muito. O levantamento do Datafolha permite um cruzamento, feito por Lavareda neste estudo, entre as intenções de voto em cada candidato e as declarações dos que votariam ou não votariam no candidato indicado pelo presidente Lula.

São 19% os eleitores de Serra que dizem que o apoio de Lula levaria à escolha desse candidato indicado, com certeza. Esses 19% dos 37% que manifestam intenção de voto em Serra, resultam em 7 pontos percentuais, que Serra pode manter ou perder para sua adversária Dilma Rousseff, a candidata de Lula. Há, também, 6% dos 36% que manifestaram intenção de voto em Dilma que, no contraponto, dizem que não votariam em candidato apoiado pelo presidente Lula. Isto representa 2 pontos percentuais que a candidata do PT pode manter ou perder ao longo da campanha para seu adversário, quando seu nome ficar por todos conhecido como a candidata de Lula.

Outro exercício que os resultados permitem fazer, movimentando os números, é de uma comparação mais abrangente da oposição com ela mesma. Já foi constatado que Serra está, hoje, em um patamar praticamente igual ao de Alckmin no fim do primeiro turno de 2006, e Dilma tem 7 pontos abaixo do que Lula recebeu no primeiro turno de 2006.

Dilma pode ampliar, teoricamente, seu eleitorado, para atingir os patamares de Lula, enquanto Serra, que já está no tamanho de Alckmin, tem o desafio de crescer, e a pesquisa lhe aponta os espaços.

A pesquisa Datafolha permite que sejam feitas comparações, no detalhe do estudo, em todo o país. Em alguns colégios eleitorais, Serra já ultrapassou a votação de Alckmin, mas em outros há como avançar.

Em Minas Gerais, por exemplo, Serra está com 44% antes da propaganda da TV, enquanto Alckmin teve 41% depois da TV, no fim do primeiro turno. No Rio, Serra já está 8 pontos acima do que Alckmin teve no primeiro turno de 2006, o Datafolha lhe dá, alí, 37%, enquanto Alckmin teve 29%. No Paraná, está empatado com o que Alckmin teve no primeiro turno, 53%.

A análise sob o ângulo regional mostra que Serra, no Nordeste, está 9 pontos acima do que Alckmin teve em 2006; no Sudeste tem um ponto acima; no Sul, porém, está 3 pontos abaixo, e no Norte e Centro Oeste Serra está com 5 pontos abaixo do que Alckmin teve no fim do primeiro turno em 2006.

O espaço para reconquista dos eleitores da oposição de 2006 é evidente no Sul, no Norte e Centro Oeste mas existe, sobretudo, em São Paulo.

Tirando das análises os votos em branco, nulos e os indecisos, Serra tem 50 pontos em São Paulo, hoje. Alckmin teve 54% ao fim do primeiro turno de 2006. Seriam, portanto, 4 pontos a conquistar em uma campanha no Estado.

Um ponto de reflexão para os formuladores da campanha é a questão, que vem sendo transformada em cláusula pétrea das eleições de 2010, de que Minas e Rio serão o fiel da balança nesta disputa. Os dois colégios têm milhares de eleitores, é verdade, quase 20% do eleitorado nacional somados. Mas não dá para ignorar que São Paulo tem 23% do eleitorado, o maior do país, e Serra ainda está 4 pontos abaixo do que esteve Alckmin em 2006. Justamente o lugar onde Serra é mais conhecido, tem mais prestígio e onde a diferença que pode fazer a sua biografia, como quer fixar na percepção do eleitorado, bem como os resultados de seu trabalho como formulador de políticas e administrador, podem ser melhor medidos pelos eleitores.

Talvez esteja aí, nesse eleitorado que adere à capacidade de formulação e gestão do candidato, tanto como ministro da Saúde quanto como prefeito e governador de São Paulo, a força que o fez resistente. E impediu que sua candidatura implodisse, sob o efeito do descomunal esforço de um presidente mais que popular, destemido para transgredir repetidas vezes a legislação eleitoral, de uma máquina federal azeitada partidariamente, dos mais que numerosos palanques e forças regionais, e um governo aprovado por igual número de admiradores.


Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras

CLARA NUNES-PORTELA NA AVENIDA

Tucano é 'mais progressista' que todo o PT, diz Guerra

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Afirmação foi resposta a declarações de dirigente petista sobre o figurino de "direita troglodita"atribuído a Serra

Julia Duailibi

O presidente do PSDB e coordenador da campanha tucana, Sérgio Guerra (PE), chamou ontem a equipe da adversária do PT, Dilma Rousseff, de "guerrilha da mentira". Ele rebateu as declarações do presidente do PT, José Eduardo Dutra, segundo as quais o tucano José Serra vestiu o figurino de "direita troglodita".

"O Dutra é da direita aloprada, o negócio dele é carimbar as pessoas de forma
preconceituosa. Serra tem 40 anos de vida progressista. Nestes anos, os setores conservadores tiveram resistência a ele", afirmou Guerra.

O presidente do PT fez as declarações ao comentar frase de Serra em evento com empresários anteontem, no qual reproduziu declaração do líder dos sem-terra João Pedro Stédile de haveria aumento de invasões no campo num eventual governo Dilma. O PT reagiu à afirmação de Serra, relacionando-o ao conservadorismo. Os tucanos rebateram as acusações, dizendo que o PT está mais à direita que Serra e afirmando que a frase dita pelo candidato foi proferida por Stédile em entrevista ao Estado.

De acordo com Sérgio Guerra, "muita gente da esquerda sabe que Serra é mais progressista que todo o PT junto". E atacou os adversários: "Eles se associam no subterrâneo a interesses nem sempre republicanos, e na prática apoiam gente que quebra sigilo e que constrói dossiê".

Para o presidente do PT de São Paulo, Edinho Silva, as acusações dos tucanos são características de uma "campanha derrotada".

"Plantar inverdades, na era da informação, não convence mais o eleitorado", disse.

Colaborou Adriana Carranca

Para Serra, é melhor trocar trem-bala por outras obras no país

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Tucano diz que valor que será gasto em ligação SP-RJ daria para construir 300 km de metrô além de rodovias

Candidato, que recebeu sua 4ª multa do TSE por propaganda antecipada, admite não ser não o criador dos genéricos

Gabriela Guerreiro
ENVIADA ESPECIAL A PALMAS (TO)

O candidato à Presidência José Serra (PSDB) sinalizou ontem que, se for eleito, vai rever a criação do trem-bala ligando São Paulo ao Rio. O tucano disse que, com os gastos da construção do trem, o governo federal poderia finalizar outras obras pelo país."Quando eu vejo essa questão do trem-bala, que está estimado em R$ 35 bilhões [...], não era melhor pegar esse dinheiro e fazer 300 km de metrô no Brasil?", questionou, em Palmas (TO).

Segundo ele, "daria para fazer estrada Campinas-São Paulo. Haveria recursos para fazer a estrada, lá vai estar [o aeroporto de] Viracopos, e para fazer todas as obras ferroviárias ligadas à Copa".

O tucano afirmou que, apesar de estar estimado em R$ 35 bilhões, o trem-bala vai chegar ao custo de R$ 50 bilhões para o governo federal.

GENÉRICOS

Ontem, depois de ter questionada a paternidade dos medicamentos genéricos, Serra admitiu que não "inventou" esse tipo de remédio. O tucano disse que a ideia já existia e só trabalhou para colocá-la em prática.

"Eu nem sabia [dos genéricos] quando assumi o Ministério [da Saúde]", afirmou.

Serra disse que o ex-deputado Ronaldo Cezar Coelho (PSDB) lhe falou sobre os genéricos, por isso decidiu trabalhar pela implementação.

O tucano disse que, como o projeto em discussão tinha falhas, fez alterações para garantir o atual modelo de produção dos remédios.

O PSDB chegou a colocar em seu site texto no qual sustentou que o candidato apresentou a "Lei dos Genéricos".

A reação tucana veio após a candidata Dilma Rousseff (PT) reivindicar a paternidade dos genéricos para o ex-ministro do governo Itamar Franco, Jamil Haddad.

Ontem o Tribunal Superior Eleitoral multou Serra em R$ 10 mil por propaganda antecipada. Essa foi quarta punição dele, que deve à Justiça Eleitoral R$ 25 mil.

A penalidade se refere às inserções veiculadas em 16 e 21 de junho. A campanha tucana disse que recorrerá.


Colaborou Felipe Seligman, de Brasília

No Brasil, a TV é muito mais importante do que a internet

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Fernando Rodrigues

BRASÍLIA - A pesquisa Datafolha coloca ciência numa tese sempre propagada pelos marqueteiros: a massa de eleitores disponível para ser influenciada está em frente à TV.

Mesmo antes do levantamento do Datafolha havia indícios fortes da preponderância da TV sobre os outros meios de comunicação quando se trata de influir no processo eleitoral.

Tome-se o caso da candidata pelo PT a presidente da República, Dilma Rousseff. Ela ultrapassou a barreira dos 30% das intenções de voto em fevereiro -justamente quando apareceu de forma hegemônica em programas do PT.

Em maio, com uma nova bateria de comerciais petistas a seu favor, Dilma Rousseff empatou tecnicamente com José Serra (PSDB).

O tucano talvez tenha tirado menos do que poderia das propagandas televisivas: os comerciais do PSDB pró-Serra foram transmitidos no meio da Copa do Mundo.

Estrategistas serristas argumentam que houve um efeito. As propagandas, mesmo durante o torneio de futebol, sustentaram o candidato e impediram uma erosão de sua taxa de intenção de votos nas pesquisas.

Ontem, no início da noite, José Serra tinha pouco mais de 309 mil seguidores no microblog Twitter. Dilma Rousseff vinha a seguir com 128 mil. Marina Silva ostentava a marca de 110 mil.

Como a internet é um meio interativo por excelência, a impressão inicial é que esses exércitos de seguidores podem fazer a diferença no momento em que o processo eleitoral esquentar. É sempre bom para um político ter 100 mil eleitores fazendo campanha de maneira espontânea.

Mas há dois problemas. Primeiro, só 7% se informam sobre a eleição na web. Segundo, as mensagens dos militantes internéticos parecem ser dirigidas só aos que já decidiram o voto.

Tentar falar com quem ainda está indeciso pode ser uma estratégia útil na web. Dos 7% que dizem usar a internet como meio principal para obter dados dos candidatos, 32% respondem que ainda podem mudar de opinião. Essa taxa é menor entre os que usam TV (26%), jornais (28%) e rádio (24%).

Analista da Receita nega ter acessado dados de EJ

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Em quatro horas de depoimento, servidora disse "desconhecer" tucano

Receita investiga acesso "imotivado" do IR; dado constava de um dossiê montado por grupo que trabalhou para Dilma

Claudia Rolli e Andréa Michael

SÃO PAULO - A analista tributária Antonia Aparecida Rodrigues dos Santos Neves Silva, 45, depôs ontem na Corregedoria da Receita Federal, em São Paulo, e negou, segundo a Folha apurou, ter acessado os dados fiscais do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge.

No depoimento, que ocorreu das 8h30 às 12h30 na sede da Receita, no centro de São Paulo, a servidora repetiu o que já havia declarado por meio do sindicato ao qual é filiada -o Sindireceita.

Afirmou que não acessou de forma "imotivada" a declaração de Imposto de Renda de EJ, como o tucano é conhecido, e disse desconhecer o dirigente tucano.

Em junho, a Folha revelou que o IR do político constava de dossiê montado pelo "grupo de inteligência" que atuou na pré-campanha da petista Dilma Rousseff.

O Sindireceita e uma das advogadas da servidora informaram que o caso está sob sigilo e que não se pronunciariam sobre o depoimento.
"Por dever de ofício, a defesa não irá se pronunciar", afirmou Carolina Santos, advogada do Sindireceita e da servidora no processo administrativo disciplinar, no qual Antonia é investigada pela Corregedoria.

A advogada disse que Antonia está "tranquila" em relação ao depoimento, porém abalada por causa da exposição que seu nome e de sua família tiveram na imprensa.

Antonia é investigada, em processo administrativo disciplinar aberto pelo fisco em 1 º de julho, como suspeita de ter acessado de forma "imotivada" a declaração de Imposto de Renda de Eduardo Jorge.

O Sindireceita já pediu esclarecimentos ao secretário da Receita, Otacílio Cartaxo, e ao corregedor-geral do fisco, Antônio Carlos Costa d"Ávila Carvalho, para saber por que razão o nome da servidora "vazou" para a imprensa.

No ofício encaminhado à cúpula do fisco, o Sindireceita considera que no vazamento de informações sobre a servidora houve "desvio de conduta" e que a apuração da quebra de sigilo é importante porque, "caso a investigada venha a ser inocentada", ela poderá propor "ação de reparação por danos morais contra a União".

O Sindireceita também pediu à Polícia Federal para apurar a responsabilidade pelo vazamento do nome da servidora da Receita.

Antonia é funcionária do fisco desde 1995. Era chefe do escritório do órgão em Mauá (SP), mas foi exonerada do cargo no dia 8 de julho, uma semana depois de passar a ser formalmente investigada pela Corregedoria.

O fisco também investiga a possibilidade de a senha de Antonia ter sido usada por outro funcionário sem o consentimento dela.

Ao invés de tentar censurar a Folha, PT deveria explicar suas relações com as Farc, diz Freire

DEU NO PORTAL DO PPS

Nadja Rocha

Freire: "Esse tipo de censura é um retrocesso e atinge a democracia"

O presidente nacional do PPS, Roberto Freire, criticou, nesta terça-feira, a tentativa de censura contra a Folha de S. Paulo por parte da coligação "Para o Brasil Seguir Mudando", da candidata à presidência da República Dilma Rousseff (PT). O jornal publicou um vídeo em que Índio da Costa, candidato a vice de José Serra (PSDB), faz declarações acusando o PT de ter ligações com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e o narcotráfico.

Segundo Freire, ao invés de pedir para o jornal retirar a matéria, o PT deveria dar explicações à sociedade sobre seu envolvimento ou não com as Farc. "Se o PT esclarecesse seu envolvimento com as Farc esse assunto já estaria superado. O problema é que o PT não dá explicações, mas quer impedir o Índio de falar", argumentou o presidente do PPS.
No vídeo, Índio da Costa afirma: "Todo mundo sabe que o PT é ligado às Farc, ligado ao narcotráfico, ligado ao que há de pior".

Roberto Freire destacou ainda a postura da Folha, que se recusou a atender ao pedido formulado pela coligação que apoia Dilma Rousseff (PT). "Esse tipo de censura (por parte da coligação de Dilma) é um retrocesso e atinge a democracia", disse.

Após atacar, Serra diz que é 'trolóló'

DEU EM O GLOBO

Um dia depois de afirmar que invasões do MST vão aumentar com Dilma, tucano refuta tática do medo: "bobagem"

Roberto Maltchik
Enviado especial

PALMAS (TO). Um dia após afirmar que as invasões de propriedades rurais, feitas pelo MST, aumentarão se a candidata do PT, Dilma Rousseff, vencer a eleição, o tucano José Serra evitou continuar a polêmica, mas desclassificou a reação da adversária.

Em campanha na capital de Tocantins, disse que é bobagem a afirmação da petista, feita em Recife, de que o tucano deseja repetir a tática do medo e fazer campanha olhando para o retrovisor, numa referência a 2002.

Isso é bobagem. Eu quero debater propostas para resolver os problemas do país e dos estados.Vou falar mais de Tocantins, se vocês não acham ruim, eu queria falar mais de Tocantins. Depois eu falo do tititi e do trolóló. Não venho nunca a Tocantins, quando venho, quero falar de Tocantins disse o tucano, demonstrando insatisfação por interromper a caminhada na Avenida JK para falar com os jornalistas.

Mais tarde, perguntado sobre a polêmica das invasões, Serra não quis se pronunciar.

Na entrevista, disse que a gestão da saúde pública no Brasil é um tema complexo, mas que é possível melhorar e ampliar todos os programas existentes hoje. Até prometeu dar um enxovalzinho para recémnascidos de famílias carentes: Vou criar o programa da mãe tocantinense. Ela vai saber em que hospital vai, o parto será acompanhado, terá um pós-natal e até enxovalzinho quando se tratar de família modesta.

É um programa de saúde.

Já foi feito em Curitiba e na prefeitura de São Paulo.

Grupo de apoiadores reforçou caminhada Serra criticou a gestão do programa Saúde da Família, que, segundo ele, mantém equipes com menos agentes do que quando era ministro da Saúde, no governo Fernando Henrique Cardoso.

Durante a caminhada, parou numa farmácia e gravou depoimento para seu programa na TV sobre genéricos.

Nas poucas horas que permaneceu em Tocantins, Serra esteve acompanhando do candidato ao governo do estado pelo PSDB, Siqueira Campos, e da senadora Katia Abreu (DEM), que abriu mão da disputa pelo governo do estado para fortalecer o palanque de oposição.

A caminhada foi reforçada por um grupo de apoiadores cuja presença nas mobilizações custa R$ 510 mensais, cada da campanha de Siqueira Campos, segundo afirmou à reportagem uma contratada: Nós votamos no Siqueira Campos. Mas eles nos contratam para acompanhar o candidato nos eventos, para levar esse material para a rua.

Em entrevista, Serra voltou a criticar a construção do trembala entre Rio e São Paulo, reafirmando que com o dinheiro (R$ 33 bilhões) poderia implementar 300 quilômetros de metrô, terminar a Ferrovia NorteSul, a Transnordestina e construir uma nova via expressa para ligar Campinas a São Paulo.

Candidato critica loteamento de cargos aos aliados A polêmica sobre o trem-bala serviu para que o tucano acusasse o governo de fomentar a corrupção, loteando cargos aos partidos aliados. De acordo com Serra, é essa distribuição de cargos que fomenta a corrupção.

Citou como exemplo os Correios, a Infraero e o Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes (Dnit).

Quando (o governo) loteia os órgãos estatais entre partidos, entre grupos de deputados, acaba fomentando a corrupção.

Quando algum grupo (político) indica o diretor financeiro de uma estatal, para que ele quer aquilo? Para ter voto? Não, por outras finalidades pouco mencionáveis

'Tudo é muito superficial'

DEU EM O GLOBO

Especialistas dizem que Serra e Dilma têm preferido bater boca a aprofundar debate

Silvia Amorim

SÃO PAULO -Três semanas após o início oficial da campanha nas ruas, os principais candidatos a presidente José Serra (PSDB), Dilma Rousseff (PV) e Marina Silva (PV) dedicaram, até agora, mais tempo a ataques, bate-bocas e debates superficiais do que a uma discussão programática e aprofundada sobre os principais problemas do país.

A avaliação é de cientistas políticos ouvidos pelo GLOBO sobre o comportamento dos três neste início da disputa eleitoral.

Em matéria de conteúdo, o debate está lastimável.

Na minha opinião, há questões fundamentais que não foram nem tangenciadas, como o papel do Estado na economia, a questão do aparelhamento do Estado versus a meritocracia, e os impostos. São questões basilares para você montar uma proposta de governo, apresentar ao eleitorado uma proposta de sociedade. Nada disso é discutido, e a hora de se discutir é agora afirmou o cientista político da Universidade de São Paulo (USP) e diretor do Centro de Pesquisas e Analises de Comunicação (Cepac), Rubens Figueiredo.

Tudo é muito superficial. A discussão sobre as Farc é uma reedição da eleição de 2002 e, no caso do Bolsa Família, se discutiu basicamente a paternidade do programa concordou o cientista político e professor emérito da Universidade de Brasília David Fleischer.

Oportunidades não faltaram para que o eleitor pudesse conhecer as propostas dos candidatos em temas como o narcotráfico, o combate à pobreza e a reforma agrária. Esses foram alguns assuntos amplamente explorados, principalmente por Serra e Dilma, nas últimas semanas. A abordagem, entretanto, ficou restrita, em geral, à troca de acusações.

Nos primeiros dias de campanha, o futuro do Bolsa Família pautou o discurso da petista e do tucano. Mas eles priorizaram o debate sobre a paternidade do programa, em vez de discutirem como conduzirão o combate à pobreza nos próximos quatro anos. No caso das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), tema introduzido na campanha pela oposição, houve troca de acusações entre PT e PSDB; e a questão do combate ao narcotráfico, um dos maiores problemas de segurança pública no país, foi praticamente ignorada.

Anteontem, outro tema relevante as invasões de terra e a reforma agrária entrou em pauta, e mais uma vez o bate-boca predominou. As razões para explicar esse comportamento dividem os especialistas: Acabou de sair o censo do TSE, que mostra que 54% dos eleitores brasileiros sequer têm o primeiro grau completo. Parece-me irrealista supor que os eleitores se debruçarão sobre programas de governo dos candidatos. No eleitorado como um todo, só 6% têm curso superior completo, talvez a parcela mais interessada num debate detalhado de propostas afirmou o Ph.D. em ciência política pelo Massachusetts Institute of Technology Amaury de Souza.

Até hoje, nenhum dos três presidenciáveis apresentou seu programa de governo definitivo. A exigência da Justiça Eleitoral para que fossem divulgados, no ato do pedido de registro de candidatura, um documento com propostas foi contornada pelos candidatos. Dilma apresentou um documento, que, na última hora, foi trocado por um texto menos radical.

Serra enviou à Justiça a cópia de dois discursos feitos na pré-convenção e na convenção do PSDB. Sua campanha prometeu pôr os principais pontos da proposta na internet, mas desistiu.

Marina entregou um texto com diretrizes de um plano de governo, e ontem apresentou um segundo documento genérico, que sofrerá mudanças novamente em setembro.

Para Rui Tavares Maluf, cientista político da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, a polarização desta eleição explicaria, em parte, a superficialidade dos debates: A eleição está polarizada, e o pessoal sabe que é um contingente pequeno que decidirá a eleição. Por isso, estão mais preocupados em forçar o contraste em relação à outra candidatura do que em gerar um debate racional profundo.

Ele também responsabiliza os setores organizados da sociedade: É uma agenda a ser colocada também por setores organizados da sociedade, entre eles a mídia.

Os mais otimistas acreditam que a pressão por uma discussão com mais conteúdo aumentará a partir de agosto, com a realização dos debates na TV e o início do horário eleitoral gratuito.

Acho que só vamos entrar um pouco mais a fundo com os debates na TV disse Fleischer.

Para Maluf, isso só deverá ocorrer num eventual segundo turno: Aí obviamente os candidatos terão que se aprofundar. É um momento em que os eleitores acabam exigindo isso.

A discussão feita até agora pelas candidaturas de Serra e Dilma, para especialistas, não tem impacto eleitoral significativo.

Para ganhar uma eleição de 137 milhões é preciso ir para o centro e não para os extremos. É obvio que, aqui e ali, fala-se nas Farc, na tolerância com o MST, mas, dificilmente, esse tipo de ataque vai ter muito impacto no grosso do eleitorado, mais interessado naquilo que afeta seu dia a dia avalia Souza.

Ao lançar-se ao temas das Farc e da invasão de terras pelo MST, a oposição, avaliam os cientistas políticos, está buscando um eleitorado mais conservador.

Gabeira: 'O quadro não é tão cor-de-rosa'

DEU EM O GLOBO

Gabeira vai centrar em áreas que considera críticas no governo Cabral

Natanael Damasceno e Rafael Galdo

O candidato do PV ao governo do estado, deputado Fernando Gabeira, afirmou ontem que concentrará a campanha nos temas que admitem críticas à atuação do adversário, o governador Sérgio Cabral. Ele disse que vai enfatizar os problemas ligados a quatro áreas: transportes, educação, saúde e segurança as duas últimas usadas como bandeira de campanha por Cabral. Segundo Gabeira, é preciso mostrar que a atuação do governador deixou lacunas: Ideb e Enem mostram o resultado de medidas que vêm desde 2007. Na saúde, temos a tese de que as UPAs não conseguem substituir os hospitais.

Além disso, há os indícios de corrupção nessa área, com suspeita de compra superfaturada de remédios. Queremos ainda mostrar que uma política de segurança não se resume a UPPs.

O quadro não é tão cor-de-rosa quanto ele pinta.

Gabeira, porém, disse que não vai pautar a campanha no ataque direto ao adversário: Não tenho razão para bater em ninguém. Não sou boxer. Faço críticas ao adversário e comparo minhas propostas às dele.

Dentro de sua estratégia de intensificar a campanha na Baixada Fluminense, Gabeira fez ontem uma viagem de trem da Vila Inhomirim, em Magé, até o Centro de Caxias. De olho nos 75% dos eleitores do estado concentrados na Região Metropolitana,seele disse que terá uma série de agendas na Baixada nas próximas semanas, para verificar problemas da região e fazer gravações para seu programa de TV.

Gabeira também voltou a reconhecer as dificuldades financeiras para a disputa que, segundo ele, seriam comuns a todos os candidatos no início da corrida eleitoral. Ele disse estar acostumado a concorrer com poucos recursos. E criticou as campanhas milionárias.

É preciso superar a ideia de campanhas milionárias. Minha política sempre é de gastar o menos possível. Tanto que faço pouco material de rua, não tenho placas e não sujo ruas. Meu trabalho se resume basicamente ao programa de televisão e internet continuou, destacando que o horário eleitoral gratuito mudará o quadro de campanha.

Muitos fluminenses e cariocas vão descobrir que há eleição e quem são os candidatos.

Cabral elogia Serra e defende privatização

DEU EM O GLOBO

Governador volta a dizer que rodoviária do Rio é melhor que Galeão e refere-se ao tucano como "grande amigo"

Cássio Bruno

Em encontro com convidados anteontem à noite, num restaurante de Ipanema, o governador do Rio, Sérgio Cabral, candidato à reeleição pelo PMDB, voltou a defender a privatização dos aeroportos do Galeão e Santos Dumont e elogiou o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, referindo-se a ele como grande amigo. À plateia, porém, disse que não deixaria de defender o meu peixe para a aliada Dilma Rousseff, do PT.

Confesso que é uma agenda não conquistada (a privatização).

É uma problemática. O aeroporto de Cabo Frio é privatizado e é um sucesso. A rodoviária (Novo Rio) é melhor do que o Galeão disse Cabral.

O governador é um dos maiores militantes em favor das privatizações, que até hoje não saíram do papel. Só o Galeão tem lucro de R$ 17,6 milhões.

O encontro foi mediado por André Urani, diretor do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade.

Acompanhado por secretários e pelo vice-governador Luiz Fernando Pezão, Cabral, que já foi do PSDB, elogiou Serra: Serra é um grande quadro.

Não tenho nada contra ele. Sou grande amigo dele. Poderia ficar quieto, na minha, porque sei que tem muito eleitor do Serra aqui, mas não vou deixar de defender meu peixe para a Dilma.

O governador admitiu que não acabará com o tráfico: Não temos a pretensão de achar que acabaremos com o tráfico. Infelizmente, onde há demanda, há oferta. O que não vamos admitir é controle territorial disse, referindo-se às Unidades de Polícia Pacificadora.

Ontem, Cabral respondeu a perguntas de internautas em seu twitter. Anunciou o lançamento de um projeto de visitação turística a favelas com UPPs. À noite, no Clube Marimbás, em Copacabana, reconheceu falhas no atendimento das UPAs, como constatou reportagem do GLOBO.

Claro (que há falhas). Esse é um desafio grande. Há carência, sobretudo, de pediatras

A sombra dos velhos vícios :: Rolf Kuntz

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Como os viciados em fase pós-terapia, os brasileiros deveriam tomar cuidado com três drogas: a inflação, o voluntarismo fiscal e o déficit nas contas externas. O governo tem cedido a pelo menos duas dessas tentações. Tem usado o Tesouro não só para objetivos partidários e principalmente eleitorais, mas também para distribuir benefícios por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Além disso, vem aceitando o rombo cada vez maior na conta corrente do balanço de pagamentos - US$ 40,9 bilhões nos 12 meses terminados em junho, ou 2,1% do Produto Interno Bruto (PIB). As contas externas têm sido por muito tempo a área mais vulnerável da economia brasileira. Em 1968 o professor Isaac Kerstenetzky, da Fundação Getúlio Vargas, publicou um trabalho sobre obstáculos ao crescimento. O limite mais estreito seria dado pelo balanço de pagamentos. Mas o governo implantava o câmbio flexível, cresciam as exportações e o estudo parecia fora de contexto. A festa acabou em 1974, mais pela dependência de insumos e bens de capital estrangeiros do que pela crise do petróleo.

Há vínculos entre os limites. Em fases de crescimento acelerado, parte da demanda é suprida pelas importações. Isso atenua, como agora, as pressões inflacionárias, mas corrói o saldo comercial. O problema se torna mais sério quando a moeda está sobrevalorizada. O Brasil é tradicionalmente superavitário no comércio de bens, mas deficitário na conta de serviços, onde entram juros, lucros, dividendos, viagens, seguros e fretes. As transações correntes são formadas por essas duas contas - a de mercadorias e a de serviços - e também pelas transferências unilaterais. Há normalmente um pequeno superávit neste item graças a remessas de trabalhadores no exterior.

Com o rápido crescimento da economia, as importações têm aumentado mais velozmente que as exportações. O superávit comercial de janeiro a junho ficou em US$ 7,9 bilhões, 43,4% menor que o de um ano antes. O déficit na conta de serviços chegou a US$ 33,2 bilhões, valor 46,1% maior que o do primeiro semestre de 2009. Com transferências unilaterais de apenas US$ 1,6 bilhão, o déficit em conta corrente alcançou US$ 23,7 bilhões e quase igualou o do ano passado inteiro, US$ 24,3 bilhões.

O buraco na conta de serviços foi ampliado principalmente pelos maiores gastos com viagens e pelo aumento de remessas de lucros e dividendos. Esse aumento é explicável pelo dólar barato, pelo bom desempenho das multinacionais no Brasil e pelas dificuldades de suas matrizes. A remessa de lucros e dividendos pode oscilar, mas é um evento normal. Os investimentos diretos no setor empresarial são bem-vindos, mas os investidores têm o direito de receber seus lucros quando desejam.

É bom lembrar outro detalhe. O Brasil é contabilmente credor, porque a soma de reservas, créditos externos e haveres dos bancos comerciais é maior que o total dos títulos de dívida (papéis de renda fixa emitidos no exterior, créditos comerciais e empréstimos). No fim de 2009, a diferença a favor do Brasil chegou a US$ 61,8 bilhões. Mas é preciso pensar também no passivo externo líquido, um conceito mais amplo e menos tranquilizador, como lembra o último boletim da consultoria Edgard Pereira & Associados. Essa conta inclui o investimento direto, os investimentos em ações e em renda fixa e outras operações com papéis. Esse passivo aumentou 115% em um ano e chegou a US$ 600,7 bilhões no fim de 2009.

O mais confiável desses componentes é o investimento direto, destinado a empresas. Até o ano passado, esse dinheiro cobriu o déficit em conta corrente. Mas nos 12 meses terminados em junho o País acumulou só US$ 25,3 bilhões de investimento direto estrangeiro. A diferença foi compensada com US$ 15,5 bilhões de outras fontes. Essa necessidade tende a crescer, segundo as projeções correntes. Então, o Brasil está mais dependente de financiamentos instáveis e especulativos. A solução envolve providências de curto, médio e longo prazos. É preciso tornar as exportações mais competitivas, diminuindo os entraves burocráticos, cortando impostos, barateando a logística e aumentando o financiamento. Não sobrará muito dinheiro para isso, se o BNDES continuar sendo usado para beneficiar alguns grupos e para financiar projetos de retorno duvidoso, como o do trem-bala. O câmbio e os juros dificilmente ficarão mais favoráveis, enquanto a situação fiscal continuar piorando pelo ex cesso de gastos. Além disso, o governo anuncia o desaquecimento dos negócios, mas o crédito para consumo continua generoso e os cidadãos não foram avisados da acomodação da economia.

Jornalista

Refazer o erro :: Miriam Leitão

DEU EM O GLOBO

O governo Lula resolveu repetir erros velhíssimos como a ideia de que o Estado deve decidir que empresas e setores precisam ser grandes. A notícia de que R$ 18,5 bi foram dados ao setor frigorífico ou a reportagem da Época sobre os benefícios fiscais direcionados a algumas obras recriam instrumentos que criaram no passado inúmeras distorções, prejuízos e estão na raiz do processo inflacionário


O cemitério dos ex-campeões nacionais ou a ala das empresas moribundas estão cheios dessa suposta boa intenção de que se investe agora o BNDES. O banco derrama dinheiro público em determinados setores e empresas. Essa ideia velha, e já comprovadamente errada, é a de que se o Estado der muitos empréstimos subsidiados e incentivos fiscais a determinadas empresas escolhidas, elas serão fortes e vão liderar o desenvolvimento nacional.

O economista Marcelo de Paiva Abreu lembra a lista de empresas mortas ou moribundas criadas exatamente neste tipo de proposta. A Coalbra faria álcool de madeira.

A Caraiba Metais acabou tendo que ser estatizada.

A Cobrasma seria a grande líder brasileira. Enfim, inúmeras.

Em 1975, o BNDES criou três empresas com o objetivo específico de comprar ações de empresas privadas: a Embramec, Fibase e Ibrasa. A Embramec, por exemplo, tinha o objetivo de fortalecer as empresas de bens de capital comprando ações, a Fibase fazia o mesmo com o setor de insumos básicos. Tudo isso provocou um enorme prejuízo ao país, já queimamos os dedos. Houve também incentivos para o setor bélico, com a Engesa.

Fizemos até um tanque, o Osório, que pelos planos seria o grande tanque do Oriente Médio e que foi um grande fracasso. Podese argumentar que a Embraer foi um sucesso, mas antes ela fracassou e teve que receber novas injeções de recursos públicos lembra Marcelo.

O Estadão fez a conta completa do que temos dado aqui na coluna com espanto: até agora, o BNDES já concentrou R$ 18,5 bilhões em empréstimos e participações societárias no setor de frigoríficos. E mais: escolhe alguns e recusa outros. O mais beneficiado é o JBS Friboi.

Do Independência, como já disse, o banco comprou ações, deu empréstimo numa operação total de R$ 450 milhões, e logo depois ele faliu.

Na reportagem da última edição da Época cuja leitura recomendo a jornalista Isabel Clemente analisou 324 obras do PAC que estão recebendo benefícios fiscais do Reidi (Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento da Infraestrutura).

As obras enquadradas não pagam PIS/Cofins. Foram encontradas várias irregularidades.

A ideia era atrair capital privado para investimento em infraestrutura, mas foi concedido até para obras que já estavam em andamento, como a Usina de Estreito. O benefício tem que ser suspenso dez dias após o fim do projeto, mas a revista encontrou várias obras encerradas há muito tempo que continuam enquadradas no benefício fiscal.

Tem que ser para o projeto em si e está sendo dado até para atividades de manutenção como troca de poste. O ministro Márcio Zimmermann admitiu o erro em um desses casos, e uma semana depois mudou de ideia. Enfim, a reportagem não deixa dúvidas de que está sendo recriado no Brasil o velho balcão de favores criado no governo militar e contra o qual se lutou tanto durante anos. Nesse balcão, algumas empresas, por razões sempre obscuras, conseguiam, de burocratas, vantagens fiscais que suas concorrentes não conseguiam. Criou-se uma enorme rede de burocracia, relações promíscuas, favores escusos, distorção.

É um risco e um retrocesso retomar esse caminho que só serviu no passado para criar empresas dependentes químicas do Estado, burocratas com poderes indevidos, privilégios que concentraram renda e muita corrupção.

Por que errar erro tão velho e tão comprovadamente distorsivo? Quando os privilegiados quebravam, a dívida era estatizada e muitos deles continuavam ricos. Foi assim que o Brasil foi alimentando o processo inflacionário.

Não é a única causa, mas certamente está na raiz do processo que inchou de forma descontrolada os gastos públicos e concentrou renda.

Não é o caso de ser purista. Há momentos e situações que podem haver subsídios, como, por exemplo, o incentivo ao investimento na inovação tecnológica. A concessão generalizada e sem critério, em vez de estimular, inibe o desenvolvimento tecnológico. Se os benefícios vão ser distribuídos indiscriminadamente, para que fazer o esforço de inovação? pergunta Marcelo de Paiva Abreu.

Os benefícios fiscais do Reidi são perigosos porque são nebulosos em si e, além disso, são distribuídos de forma obscura.

São criticáveis em princípio e ainda têm problemas de implementação.

Nós estamos ressuscitando instrumentos que deram errado sem ao menos fazer um estudo dos nossos erros disse o economista.

Há outro efeito que já vimos acontecer, empresas super protegidas e aduladas por recursos públicos não se firmam, pelo contrário, passam a depender eternamente dos mesmos favores.

O risco é de criar uma indústria eternamente infantil disse.

Com incentivos fiscais e dinheiro barato está se fazendo também uma grande cooptação do setor empresarial.

Quem não é beneficiado, tem esperança de ser. Mas o processo é insustentável a longo prazo.

Isso já vimos e nos custou muito caro.

#ligalula liga lá. Morte a pedrada não dá

O que pensa a mídia

Editoriais dos principais jornais do Brasil
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Brahms: Symphony No.4 (Kurt Masur)

Cansa sentir quando se pensa:: Fernando Pessoa

Cansa sentir quando se pensa.
No ar da noite a madrugar
Há uma solidão imensa
Que tem por corpo o frio do ar.

Neste momento insone e triste
Em que não sei quem hei de ser,
Pesa-me o informe real que existe
Na noite antes de amanhecer.

Tudo isto me parece tudo.
E é uma noite a ter um fim
Um negro astral silêncio surdo
E não poder viver assim.

(Tudo isto me parece tudo.
Mas noite, frio, negror sem fim,
Mundo mudo, silêncio mudo –
Ah, nada é isto, nada é assim!)