terça-feira, 27 de julho de 2010

Reflexão do dia - Luiz Werneck Vianna

Revoluções passivas são processos de revolução sem revolução em que as elites políticas das classes dominantes se apropriam total ou parcialmente da agenda dos setores subalternos, cooptando suas lideranças, afastando outras, em uma estratégia de conservar-mudando, tal como nas palavras de um personagem do romance O Leopardo, a obra-prima do italiano Giuseppe Lampedusa, que sentenciava ser necessário mudar para que as coisas permanecessem como estavam. Deve-se a Antonio Gramsci a mais refinada elaboração do conceito desse processo particular de mudança social, em especial em dois textos coligidos em Cadernos do Cárcere, o dedicado ao estudo do Risorgimento, tendo como tema a unificação do Estado italiano, e o que tem como objeto a análise de dois fenômenos cruciais no período de entreguerras, o americanismo e o fordismo.


(Luiz Werneck Vianna, no artigo ‘Revolução passiva e República’, no jornal Valor Econômico, ontem, 26/7/2010)

Leis da alienação :: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Por mais que estejam conceitualmente equivocados, não estão longe da realidade aqueles que não consideram absoluto o conceito de liberdade de expressão. Situando melhor: não estão longe da realidade brasileira nos três meses que antecedem todas as eleições no País.

Nesse período, o princípio é relativo. O quarto item do artigo quinto da Constituição - "É livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato" - fica suspenso para emissoras de rádio e televisão (incluídos os respectivos espaços na internet), submetidas a regras de exceção.

O arbítrio, em tese legal, pois obedece à legislação eleitoral e a resoluções do Tribunal Superior Eleitoral, alcança toda programação, jornalística ou não, e, ferindo a Constituição, pretende assegurar o cumprimento do preceito, também constitucional, da igualdade.

Em nome dele são cometidas variadas deformações, cujo carro-chefe é a pretensão de tratar como igual o que é inteiramente diferente.

Por exemplo: a obrigação de garantir espaços semelhantes para os candidatos. Quando um deles é protagonista (para o bem ou para o mal) de um fato muito importante, natural que fosse dado mais espaço a esse candidato. Bem como, quando há uma disputa polarizada entre dois deles, é óbvio que o interesse do público se concentra neles.

O espaço dado aos outros na mesma medida é artificial, maçante e desigual, pois desperdiça tempo e subtrai do eleitor a oportunidade de se concentrar no que interessa.

Pelas normas que regem o que pode ou não pode no rádio e na televisão é proibido dar "tratamento privilegiado" a candidato, partido ou coligação; veicular imagem que desagrade ao candidato, partido ou coligação; dar opinião favorável ou desfavorável a candidato, partido ou coligação.

Em resumo, não pode nada. Interpretação, opinião, piadas, paródias, fica tudo proibido, abolido o senso crítico, pois o julgamento do que desagrada ou prejudica candidatos, partidos ou coligações é totalmente subjetivo.

O Congresso e o Judiciário chamam isso de salvaguardas contra abusos e favorecimentos, mas o nome verdadeiro é censura. Em geral, auto-aplicada.

Como as emissoras - concessões estatais - não querem se arriscar a levar multas, e terem até suspensa a programação por "uso indevido de meio de comunicação", preferem não exibir nada que dê margem a punições.

Com isso o assunto eleição só aparece no rádio e na televisão de maneira "noticiosa". Ou seja, fulano disse isso, beltrano respondeu aquilo e sicrano falou tal coisa assim.

São regras de assepsia que pretendem acabar - e realmente acabam - com o exercício do discernimento justamente no momento em que ele é mais necessário e nos meios mais abrangentes de comunicação.

Quem perde? O perdedor de sempre, o boboca tutelado que paga a conta do horário eleitoral dito gratuito.

Para os políticos - que fizeram as leis - quanto menos crítica melhor, quanto mais o eleitor for tratado como incapaz menos trabalho ele dá.

Enquanto isso, o abuso de poder político e o uso de máquinas públicas grassa em abundância ao módico preço de R$ 5 mil a R$ 25 mil por infração.

Plano de voo. Em primeiro lugar nas pesquisas em Minas para o Senado, o ex-governador Aécio Neves não entrará no ritmo de artilharia pesada recentemente incorporado pelo PSDB em relação ao PT, explorando assuntos como Farc e invasões do MST de maneira bastante enfática.

Aécio preserva-se para, no caso da vitória de Dilma Rousseff, manter a expectativa de chegar à presidência do Senado mesmo tendo sido eleito por partido de oposição.

É assim que pensam mineiros, é assim que dizem pensar petistas, mas não é necessariamente assim que pensam pemedebistas.

Antes de chegar à cadeira hoje ocupada por José Sarney, Aécio terá de desarmar o acerto entre PT e PMDB para a ocupação das presidências da Câmara e do Senado. Em sistema de rodízio, como fizeram no governo Lula.

O belo horizonte de Serra e Dilma:: Eliane Cantanhêde

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - Minas Gerais, segundo maior eleitorado do país, com 14,5 milhões de eleitores, quase 11% do total, é uma verdadeira mina de votos para o tucano Serra e para a petista Dilma, tecnicamente empatados também no Estado. Ele tem 38%, e ela, 35%, ambos com enorme potencial entre os mineiros, tão desconfiados -e indecisos- quanto importantes nesta eleição.

A 68 dias das urnas e a 21 do início da propaganda na TV, o fato de Serra estar à frente de Dilma, mesmo que só três pontos, é considerado positivo para o tucano, que demonstra ter fôlego num Estado onde Lula teve expressivas margens de votos nas últimas eleições.

O belo horizonte do tucano é colar em Aécio Neves e Itamar Franco. Um batia recordes de popularidade como governador e registra 62% para o Senado. O outro, ex-presidente da República, é do PPS, aliado do PSDB, e está em segundo lugar para senador, com 41%.

Dado do último Datafolha: o candidato do PSDB ao governo, Antônio Anastasia, tem percentual muito menor do que o de Serra e está 26 pontos atrás do (por ora) favorito Hélio Costa, que tem apoio de Lula e Dilma. Aécio não tem porque aliviar com eles, que ameaçam o seu candidato lá. Além disso, trocar Serra por Dilma, neste momento, seria trocar 6 por meia dúzia.

Já o belo horizonte de Dilma em Minas depende da popularidade de Lula e da máquina do PMDB de Hélio Costa, que não são nada desprezíveis. Lula teve 47% dos votos no Estado em 2002 e 46% em 2006. E Costa está agora com 44%, contra 18% do tucano Anastasia.

Outro dado é que o ex-prefeito Fernando Pimentel (PT), considerado um dos coordenadores da campanha nacional da amiga Dilma, está em apenas terceiro lugar para o Senado, com 23%.

Ou seja: Serra tem de correr atrás da fidelidade, do pragmatismo e dos percentuais de Aécio. E Dilma, dos votos que foram de Lula, mas até agora não chegaram a ela.

No dia seguinte:: Wilson Figueiredo

DEU NO JORNAL DO BRASIL

Com o jeito de falsa modéstia, que não é o seu forte, ao contrário, o presidente Lula revelou disposição de passar à história republicana como o melhor ex-presidente da República. A seu ver, aquele que menos palpite emitiu a respeito dos que o antecederam e dos que o sucederem.

A ideia é original, mas de difícil aplicação, dado o temperamento presidencial impulsivo. Foi numa alentada entrevista aos jornais O Dia e Brasil Econômico a manifestação. Uma seleção do que ele certamente considera o que de melhor produziu oralmente nos dois mandatos.

Falou bem do seu governo e caprichou na primeira pessoa do singular. Não sobrou elogio para ninguém. Vai ser impossível Lula falar menos do que o presidente Eurico Dutra, de quem já deve ter ouvido falar. Dutra fez uma única declaração como ex-presidente (depois de passar o governo em janeiro de 1951). Foi ao Jornal do Brasil, quando a situação política não atava nem desatava e se encaminhava para o impasse em março de 1964. Uma declaração seca, com sotaque de ave de agouro, e então os fatos se moveram pela lei da gravidade. É difícil imaginar um Lula enigmático.

Como ficará a candidatura para a próxima eleição? Pela ordem natural, penderia para Dilma Rousseff ou José Serra: uma vez presidente, é irrefreável o direito ao segundo mandato. O presidencialismo entrou no beco sem saída pela mão da reeleição. E, antes que seja tarde, terá de voltar atrás, porque saída à frente não tem. Melhor eleição sem reeleição do que as duas mal atendidas. Os últimos meses induziram Lula a dar uma entrevista compensatória por aquela que ficou devendo desde a primeira eleição, por nunca ter acertado a entrevista coletiva da formalidade republicana.

A popularidade presidencial não o encoraja. Entre seus sinais exteriores de medo, esse continua intocado (os outros não vêm ao caso). Mas ainda quer distância da entrevista coletiva que faça a diferença entre o anterior e o atual Lula. Primeiro, porque é inevitável que não espere o fim do governo para emitir opinião com o toque da infalibilidade em relação ao Brasil. Segundo, porque descobriu que falar de governos mortos e enterrados é um prazer especial na hora de fazer as malas. Mortos não reagem. Entrevista coletiva, nem pensar. Nem pensar em exame de admissão à história do Brasil.

O prazer de Lula falar bem dele mesmo não vai secar, mas no dia seguinte, à medida que se inteirar de que o sol continua a aparecer e se recolher a despeito de governos, sentirá a diferença. Enquanto os impostos continuarem a ser pagos sem que o cidadão perceba, pegará mal falar bem de seu governo e mal dos governos alheios. Tudo será como sempre foi, e ele se acomodará. Mais cedo ou mais tarde.

Entenderá, finalmente, que não deve aos meios de comunicação senão respeito. Com direito de ser respeitado. No seu caso, o débito tem juros maiores devido às entrevistas coletivas das quais fugiu, nos dois mandatos, como o diabo da cruz.

A sustentabilidade do debate eleitoral :: Sérgio Besserman Vianna e Rodrigo Rosa

DEU EM O GLOBO

Durante a campanha eleitoral, candidatos a cargos no Executivo e no Legislativo apresentam suas biografias e propostas aos eleitores. A sociedade espera consistência e clareza nas proposições dos postulantes às funções públicas eletivas. Entre os diversos temas, um deles não pode estar ausente da pauta e dos programas dos candidatos: o desafio do desenvolvimento sustentável.

Vivemos um momento da História marcado pela descoberta e a consciência crescente de que as atuais formas de produzir e consumir são insustentáveis. A 15ª reunião da Conferência das Partes para o Clima (COP) da ONU, em Copenhague, em dezembro passado, foi um momento importante desse processo.

A opinião pública seguiu o andamento das negociações e as principais lideranças mundiais compareceram pessoalmente às reuniões. O resultado prático ficou aquém do esperado, mas marcou uma mudança na compreensão do impacto das mudanças climáticas para o futuro da civilização.

Os três principais candidatos a presidente da República, Marina Silva, José Serra e Dilma Roussef, estiveram em Copenhague, sensíveis à dimensão política e à relevância do tema.

Foi um gesto importante, mas é necessário aprofundá-lo. Sustentabilidade não pode ser apenas uma palavra simpática. O que se espera dos candidatos é que incorporem o discurso às práticas e aos compromissos de campanha e demonstrem a consistência de seu conteúdo com o programa de governo.

O desafio do desenvolvimento sustentável não pode ficar restrito à agenda ambiental e dissociado das demais questões, como a competitividade da economia, a política energética, o combate à pobreza e o futuro das cidades. A transição para uma economia de baixo teor de carbono vai determinar uma das mais aceleradas transformações tecnológicas da história econômica.

A natureza da inserção competitiva do país na economia mundial, seu peso político na governança global e a qualidade de vida futura da nossa população dependerão muito de como o Brasil se situará nesse contexto.

Muitas empresas e parte do mercado consumidor estão à frente do mercado político na compreensão da importância do tema.

Empresas líderes em seus mercados têm transformado seus processos produtivos incorporando práticas sustentáveis. As estratégias são as mais diversas e compreendem desde a redução do impacto ambiental de suas atividades à incorporação de conceito de sustentabilidade em seus produtos. E cresce o destaque dado ao tema nas escolas de negócios em todo o mundo.

Mundo afora, os debates eleitorais mostram essa tendência. As mudanças climáticas estiveram entre os temas mais destacados na última campanha presidencial dos EUA, mesmo em tempos de crise econômica e de agenda movimentada no front externo, com as guerras no Iraque e no Afeganistão.

Na Europa e na América Latina, o tema tem ganhado destaque. No Brasil, a candidatura da ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, como alternativa eleitoral às principais forças políticas, coloca o tema, desde o primeiro momento, no centro do debate.

Duas grandes crises políticas nos EUA tiveram origem em desastres ambientais. O recente vazamento de óleo no Golfo do México tem sido destacado pela opinião pública como marco do momento difícil pelo qual passa o presidente Barack Obama e é comparado aos danos do furacão Katrina, que arrasou Nova Orleans e seu antecessor.

A relevância do debate é ainda maior para o Brasil. A discussão sobre a exploração do présal, por exemplo, não pode negligenciar a nova realidade evidenciada pelo desastre no Golfo do México. Temas fundamentais como a reforma do código florestal, o modelo de geração energética, o sistema de transporte das grandes cidades e muitos outros ficam desprovidos de visão estratégica se tratados fora do debate sobre o desenvolvimento sustentável.

As oportunidades são imensas para o Brasil.

Temos grandes vantagens comparativas na transição para a economia de baixo teor de carbono.

A biodiversidade é um de nossos maiores patrimônios e esse é o campo mais propicio à afirmação do protagonismo internacional do país. Em 2012, seremos palco de uma nova conferência mundial sobre o desenvolvimento sustentável, no Rio de Janeiro, que possivelmente irá mobilizar esperanças em todo o mundo.

Senhores candidatos, queremos ouvi-los.


Sérgio Besserman Vianna é presidente da Câmara Técnica de Desenvolvimento Sustentável da Prefeitura do Rio de Janeiro e Rodrigo Rosa, assessor especial da Prefeitura do Rio de Janeiro

Velha Guarda e Vanessa da Matta - Onde a dor não tem razão

Lula passou dos limites, diz jornal americano

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

RIO Reportagem publicada ontem no jornal americano The New York Times afirma que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desrespeitou as leis eleitorais ao fazer campanha para sua candidata à Presidência, Dilma Rousseff (PT). No texto intitulado Presidente do Brasil trabalha para emprestar popularidade à protegida, o jornal afirma que Lula tenta emprestar seu pó mágico para a petista.

Com menos de três meses para a eleição presidencial, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está tentando fazer o possível para que seu pó mágico grude em sua sucessora escolhida, Dilma Rousseff, para convencer eleitores a elegerem ela como a primeira presidente do Brasil, o maior País da América Latina., diz a reportagem.

Analistas políticos dizem que Lula está se esforçando para eleger seu sucessor mais do que qualquer outro presidente em décadas. Mas ele passou dos limites. Autoridades eleitorais multaram Lula quatro vezes (sic) nos últimos meses por campanha antecipada em favor de Dilma, completa.

Lula já recebeu, na verdade, seis multas pelo Tribunal Superior Eleitoral em razão de campanha antecipada, totalizando R$ 42,5 mil.

'Fazemos filantropia com o Paraguai'

DEU EM O GLOBO

Serra critica acordo do governo Lula com país vizinho e diz que dinheiro devia ser investido no Nordeste

Silvia Amorim

SÃO PAULO. Para uma plateia de cerca de 500 empresários, em São Paulo, o candidato a presidente José Serra (PSDB) defendeu ontem que o governo federal deixe de fazer filantropia com países vizinhos, como Paraguai e Bolívia, e destine o dinheiro a investimentos em áreas carentes do Nordeste. O tucano criticou o acordo fechado entre o presidente Lula e o presidente paraguaio, Fernando Lugo, para ampliar a remuneração do vizinho na comercialização de energia da hidrelétrica de Itaipu.

Estamos fazendo, sem dúvida, filantropia com o Paraguai, a Bolívia. Só me pergunto por que não em Sergipe, no Piauí, no Maranhão? Tem muitos lugares para se fazer coisas criticou o tucano, no último almoço-debate da série com os três principais presidenciáveis organizado pelo Grupo de Líderes Empresariais (Lide), que representa 43% do PIB privado do país

Brasil desperdiça tempo com o Oriente Médio, diz Serra Ao criticar diretamente a candidata Dilma Rousseff (PT), Serra disse ao empresariado que, se a adversária for eleita, as invasões de terra pelo MST vão crescer.

O MST é um movimento de acumulação de forças revolucionário.

O Stédile declarou apoio a Dilma. E por quê? Isso está dito.

Porque, com ela, vão poder fazer mais invasões, mais agitação disse, referindo-se ao líder do movimento João Pedro Stédile.

Em relação ao Paraguai, Serra criticou especificamente o acordo pelo qual o Brasil vai aumentar em 15% a remuneração pela energia do Paraguai em Itaipu binacional.

Perguntado após o evento, sobre que tipo de relação teria com o Paraguai, Serra disse que seria a melhor possível, mas baseada em lances políticos mais construtivos.

Creio que há outros lances políticos mais construtivos e adequados na relação Brasil-Paraguai, que são de cooperação, financiamentos, mais do que abrir um precedente de quebra de tratado que, no futuro, pode trazer problemas.

No mês passado, Lula pediu agilidade ao Senado na aprovação do acordo feito com Lugo, que revê os termos dos repasses de arrecadação da hidrelétrica.

As críticas de Serra em relação à política externa de Lula não ficaram restritas a esse caso.

Em um pronunciamento de quase uma hora e meia, o candidato disse o Brasil desperdiça tempo com o Oriente Médio enquanto deveria se concentrar na América do Sul. Serra disse que é inegável que o governo brasileiro tem simpatia pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, a quem acusou de abrigar guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

Essa crise na Venezuela e Colômbia, é inegável e indiscutível que o Brasil sempre teve mais simpatia pelo Chávez. Isso é óbvio. É inegável que o Chávez abriga as Farc. É inegável que, se o Brasil tivesse gasto o tempo que gastou no Oriente Médio com a América do Sul, poderia ter evitado situações como essas que estão acontecendo agora.

Tucano volta a dizer que Dilma é despreparada Sem citar o nome de Lula, Serra também condenou a postura do Brasil no caso dos presos políticos em Cuba, sendo aplaudido.

O Brasil tem que estar à frente da questão dos direitos humanos. É amigo de Cuba? Muito bem. Então usa essa amizade para libertar os presos cubanos. Não deixa isso para a Espanha cutucou.

O tucano também não poupou artilharia contra a atual política econômica. Serra disse que Lula conduz um tripé maligno na economia.

O problema que nós temos adiante é o tripé maligno da economia brasileira afirmou, explicandose: Tem um tripé bom e outro ruim. O bom é o clássico da política econômica, feito basicamente pelo Armínio Fraga quando entrou no Banco Central, que é o tripé da flexibilidade cambial, da responsabilidade fiscal e das metas de inflação.

Eu acho que esse é um tripé importante a ser preservado e ser melhor administrado. Mas tem um outro tripé, muito perverso, que são três campeonatos mundiais: o maior juro real do mundo, a maior carga tributária do mundo em desenvolvimento e um dos últimos em investimento governamental.

O presidenciável voltou a dizer que Dilma Rousseff é mal preparada para ser presidente.

Ao criticar a alta carga tributária no Brasil a maior do mundo em desenvolvimento ele afirmou: Outro dia, a Dilma disse que isso era muito bom, que o Brasil era apenas intermediário.

Mas a assessoria dela deixou de informá-la que a gente deve comparar o Brasil com países em desenvolvimento equivalente. Não posso comparar o Brasil com a Suécia.

O empate técnico entre Dilma e Serra na pesquisa Datafolha divulgada neste fim de semana reforçou entre os tucanos a necessidade de pôr em prática, o quanto antes, o discurso de que o eleitor não deve optar pelo desconhecido, numa clara referência à experiência reduzida da petista na área pública.

Sérgio Guerra: horário eleitoral será divisor de águas Após encontro com Serra, o presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), disse que o horário eleitoral gratuito no rádio e na TV será um divisor de água na disputa acirrada entre os dois. Guerra disse que o partido vai reforçar durante as propagandas políticas a ideia de que o eleitor não conhece Dilma, e que votar nela é lançar o país num processo de continuidade, e não de avanço.

PV atacará "empreguismo" na gestão Lula

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Crítica a inchaço da máquina será reforçada hoje durante anúncio de novo programa de governo de Marina Silva

Candidata defende asilo ao ex-militante italiano Cesare Battisti, que teve a extradição aprovada pelo STF em novembro


Bernardo Mello Franco

DE SÃO PAULO - O suposto inchaço da máquina federal na gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o próximo alvo da candidatura de Marina Silva (PV) ao Palácio do Planalto.

Ela deve reforçar as críticas à ineficiência do Estado e defender uma redução drástica no número de cargos comissionados e no gasto com custeio da máquina federal.

O tema será explorado como estratégia para diferenciá-la de Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB), que têm prometido criar novos ministérios e órgãos federais.

"Não vamos criar órgão algum, até porque achamos que este governo inchou muito a máquina", disse à Folha o coordenador do programa de governo da senadora, Paulo Sandroni.

Na contramão dos adversários, a equipe de Marina estuda um pacote para cortar despesas e até mesmo extinguir órgãos públicos. O tema será abordado hoje na apresentação de novas diretrizes do plano do PV, mas ainda sem metas concretas.

Segundo Sandroni, é preciso "fechar os ralos por onde escorre a riqueza". "O Estado está inchado por empreguismo, excesso de gente e desperdício. Isso é o que aumenta a dívida pública."

Até aqui, Marina vem poupando o governo de críticas pelo suposto aumento da máquina. Ela costuma repetir que não acredita em "Estado máximo ou mínimo, mas em Estado necessário". O vice Guilherme Leal tem sido mais incisivo nas críticas ao "desperdício".

CASO BATTISTI

Em sabatina no portal Terra, ontem, a candidata defendeu a permanência no Brasil do italiano Cesare Battisti, condenado em seu país por quatro homicídios na década de 1970.

"O Brasil já deu abrigo até a ditadores. Por que com ele seria diferente? O Brasil está seguindo seus princípios, de sempre acolher quem pede ajuda", afirmou ela.

Em novembro, o STF (Supremo Tribunal Federal) aprovou a extradição do italiano, mas passou ao presidente Lula a decisão de entregá-lo ou não. Battisti segue preso em Brasília.

PT pede que Folha retire vídeo em que Indio critica partido

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

DE SÃO PAULO - A coligação Para o Brasil Seguir Mudando, da qual faz parte o PT, pediu que a Folha retire de seu site o vídeo da entrevista em que Indio da Costa (DEM), candidato a vice de José Serra (PSDB), acusa o PT de ter ligações com o narcotráfico. O jornal não atenderá à solicitação.

Com o título "Vice de Serra, Indio da Costa liga PT a narcotráfico e guerrilha", a reportagem foi publicada pela Folha no dia 18. Na versão on-line, a reportagem traz o vídeo em que Indio afirma: "Todo mundo sabe que o PT é ligado às Farc, ligado ao narcotráfico, ligado ao que há de pior".

Os ataques de Indio haviam sido feitos dois dias antes em entrevista ao portal "Mobiliza PSDB", que tirou o vídeo do ar.

No pedido para que o conteúdo seja retirado da Folha.com, a coligação alega que a entrevista traz "graves ofensas" ao PT, tendo "claro cunho danoso, com consequências para o pleito".

A notificação extrajudicial (pedido informal do advogado, sem amparo em sentença judicial) pede "a imediata retirada" do vídeo e cita o artigo 24 da resolução 23.191 do TSE, sobre propaganda eleitoral.

Para Luís Francisco Carvalho Filho, advogado da Folha, o pedido não faz sentido: "O jornal e o site não estão fazendo campanha, estão simplesmente informando o leitor a respeito de algo que ocorreu".

Segundo ele, "a tentativa do PT é um ato de censura grave. Mal comparando, seria o mesmo que mandar agentes do Estado para recortar páginas dos jornais das bibliotecas para que a notícia jamais seja lida".

Serra ataca e diz que MST invadirá mais com Dilma

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Estratégia é associar petista a imagem de desrespeito a valores democráticos

"É indiscutível que o Brasil sempre teve mais simpatia pelo [Hugo] Chávez", disse o tucano a empresários em SP

Catia Seabra e Ricardo Balthazar

SÃO PAULO - Disposto a associar a petista Dilma Rousseff a uma imagem de radicalismo e desrespeito aos valores democráticos, o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, subiu o tom de seus ataques à adversária ontem, durante almoço com empresários.

Citando uma entrevista em que o líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra João Pedro Stédile declarou apoio a Dilma, Serra disse que o MST aumentará o número de invasões caso Dilma seja eleita: "Porque com ela vão poder fazer mais invasões, mais agitação".

A disseminação da ideia de que o PT e sua candidata representam uma ameaça aos "valores democráticos" é uma estratégia da campanha. Um dos articuladores políticos de Serra, o deputado Jutahy Magalhães (BA) afirmou que essa é "uma linha mestra da campanha".

"Se o governo instrumentaliza um movimento que adota práticas ilegais, temos que denunciar", afirmou.

Até agora, Serra mirava o PT. Ontem, porém, avançou um degrau, falando especificamente no nome da adversária. O MST não será o único alvo. Ontem, Serra sugeriu que o governo deveria se valer de sua influência para salvar presos políticos em Cuba.

Dias depois de seu vice, o deputado Indio da Costa (DEM), associar o PT às Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), Serra sugeriu que o Brasil deveria ter usado sua influência para evitar o recente rompimento entre Venezuela e Colômbia.

"É inegável, indiscutível, que o Brasil sempre teve mais simpatia pelo [presidente venezuelano, Hugo] Chávez", disse Serra. "É inegável que o Chávez abriga essas Farc."

Em seguida, ao criticar o loteamento de estatais e agências reguladoras pelos partidos governistas, o tucano acusou os petistas de promoverem o que classificou como "patrimonialismo sindicalista" e "bolchevique".

No encontro de ontem, em que 497 integrantes do Grupo de Líderes Empresariais (Lide) se reuniram para ouvi-lo, Serra também se esforçou para desfazer a imagem de competência administrativa que muitos empresários costumam associar a Dilma.

Ao criticar um comentário da petista sobre o tamanho da carga tributária no Brasil, que em termos relativos é inferior à de alguns países ricos, Serra disse que a "assessoria dela deixou de informá-la que a gente deve comparar o Brasil com países de desenvolvimento equivalente".

Serra critica apoio de Lula a Chávez, em quem vê 'ameaça' à paz regional

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Julia Duailibi

Almoço com empresários. Serra e Índio durante debate em SP: críticas ao MST e ao presidente da Venezuela

O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, reafirmou ontem sua postura de oposição ao governo Lula ao dizer que haverá mais invasões no campo caso a rival Dilma Rousseff (PT) vença as eleições. Ele também elevou as críticas à política externa e disse que "até as árvores da floresta amazônica" sabem que o venezuelano Hugo Chávez abriga as Farc.

Em almoço com empresários do Grupo de Líderes Empresariais (Lide) em São Paulo, Serra lançou mão da estratégia de se diferenciar da adversária nos pontos mais polêmicos do atual governo, principalmente em assuntos caros ao empresariado.

Mais uma vez criticou o MST e citou declaração do dirigente João Pedro Stédile - no começo de julho, o líder dos sem-terra disse: "Com Dilma, nossa base social perceberá que vale a pena se mobilizar, que poderemos avançar, fazendo mais ocupações e mais greves."

Serra comentou as afirmações. "(Stedile) disse com todas as letras, está gravado. Porque com ela vão poder fazer mais invasões, mais agitação. É isso. Postura de governo em relação ao MST é que se trata de um movimento político e tem de viver pelas próprias pernas e não pode subverter a ordem democrática", declarou o tucano.

Questionado pelos empresários sobre política externa, o tucano aproveitou para falar sobre a atual crise entre Venezuela e Colômbia. "É inegável que o Brasil sempre teve mais simpatia pelo Chávez. É inegável que o Chávez abriga essas Farc. É inegável que se tivesse gasto o tempo que gastou no Oriente Médio na América do Sul poderia ter evitado situações como essas."

Na semana passada, a Venezuela rompeu relações diplomáticas com a Colômbia, depois que o presidente Álvaro Uribe enviou à Organização dos Estados Americanos (OEA) documentos que supostamente comprovariam a proteção do vizinho a guerrilheiros das Farc.

Indagado após a palestra sobre as declarações, Serra foi além: "Todo mundo sabe, até as árvores da floresta amazônica. Elas são as principais testemunhas de que as Farc se abrigam na Venezuela." O tucano disse defender uma relação de "pacificação" com o país vizinho, mas afirmou que Chávez é "partidário do espetáculo".

"Ele vai criando fatos que ameaçam a estabilidade da América do Sul, da Latina e do Brasil.

Ter países se hostilizando nas nossas fronteiras não é uma boa. É muito mais prioritário que o programa nuclear do Ahmadinejad (presidente do Irã)", completou o tucano sobre a investida do Itamaraty no assunto.

Proteção. Serra voltou a dizer que o País vive um processo de "desindustrialização da economia" e afirmou serem necessárias medidas de proteção. Também criticou o que chamou de "tripé maligno" da economia: as altas taxas de juros, a carga tributária e o baixo investimento público.

Afirmou então que o Brasil deve ser governado por partidos e não para partidos. "Vivemos hoje uma era de exacerbação de um patrimonialismo sindicalista, um patrimonialismo de oligarquias políticas regionais, que envolve até gente de São Paulo. É o chamado patrimonialismo bolchevique."

Durante a entrevista, o tucano foi questionado sobre sua posição em relação ao fato de o PSDB governar São Paulo há 15 anos, já que em 2008 teria defendido a importância de alternância de poder. Serra disse não se lembrar de ter feito tal afirmação e se, de fato, a fez foi uma "burrice".

Logo após a vitória de Gilberto Kassab (DEM) na disputa pela prefeitura paulistana, Serra afirmou: "Quem ganhou no Brasil foi a pluralidade e a diversidade. O monopólio perdeu e aqueles que sonham com ele. Espero que desistam. Meu partido não tem essa pretensão."

O TUCANO E OS PAÍSES VIZINHOS

Venezuela
Serra é contra a entradado país no Mercosul
Cuba
Critica o país por causa das violações aos direitos humanos
Bolívia
Declarou que Evo Morales é cúmplice do narcotráfico
Mercosul
Diz que bloco é barreira para o livre comércio do Brasil

Críticas ficam mais objetivas e atingem também o governo

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Análise: João Bosco Rabello
O candidato José Serra explora aquilo que lhe parece o flanco mais sensível do PT e de sua candidata - pelo menos aos olhos de um eleitorado ainda indeciso e avaliado como majoritariamente conservador, caça da vez no cenário polarizado da presente eleição. É uma parcela decisiva de eleitores que as campanhas não conseguiram empolgar e que esticará ao máximo o processo de reflexão antes de decidir o voto.

Ao dar visibilidade ao modo petista de viver perigosamente, flertando com movimentos como as Forças Revolucionárias da Colômbia (Farc), ou tolerando os excessos dos sem-terra, o candidato do PSDB tenta exibir a face imatura de um partido que insiste em plantar a desconfiança em desfavor do próprio governo a que dá sustentação política.

Serra se valeu de declaração de João Stédile, arauto espontâneo do aviso de aumento de invasões de terra num eventual governo do PT, para registrar novo ataque de campanha. Sabe-se que a própria candidata Dilma Rousseff ficou incomodada com a declaração de Stédile, ontem reproduzida pelo adversário.

O rompimento entre Venezuela e Colômbia, tendo como pivô as Farc, é mais um fator de pressão sobre o governo Lula - e o PT - pelo reconhecimento da natureza criminosa do movimento, que ainda classifica de "insurgente", quando União Europeia e Estados Unidos, entre outros, o consideram terrorista.

Os acontecimentos recentes nesse contexto tornam insuficientes as reações do PT - até aqui de desqualificar o denunciante -, para impor a necessidade de respostas objetivas. Serra descola-se rapidamente do figurino ameno de candidato pós-Lula e passa ao ataque com temas que dizem respeito tanto à candidata, Dilma, quanto ao governo Lula.


É diretor da sucursal de Brasília

Candidata condena diplomacia brasileira

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Marina Silva fez coro ao presidenciável do PSDB, José Serra, e condenou a atuação da diplomacia brasileira na América Latina, principalmente na mediação do conflito entre Venezuela e Colômbia.

"Talvez tenhamos de recuperar nossa credibilidade política como mediador de conflitos", disse. A candidata do PV disse que o alinhamento entre o presidente Lula e o venezuelano Hugo Chávez gera insegurança no governo colombiano. "Faz com que sintam que não temos atitude suficientemente neutra para mediar o conflito", avaliou.

A candidata negou que, se eleita, pretenda romper com governos polêmicos, como o de Chávez. Para Marina, a relação entre os chefes de Estado deve ser baseada em princípios, e não em afinidade ideológica.

Presidenciável do PT prepara divulgação de 'carta-compromisso'

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Bastidores: Vera Rosa
Nada de taxação das grandes fortunas nem de controle social dos meios de comunicação. A campanha de Dilma Rousseff (PT) à Presidência vai divulgar um texto enxuto, no estilo "carta-compromisso", com temas de consenso entre os aliados, dias antes da estreia do horário político na TV, em 17 de agosto.

É uma estratégia sob medida para causar impacto. Não se trata de uma Carta ao Povo Brasileiro, como ficou conhecido o documento divulgado pelo então candidato Luiz Inácio Lula da Silva, em junho de 2002, para acalmar o mercado. Pontos polêmicos, no entanto, como a defesa da descriminalização do aborto e do combate ao monopólio dos meios eletrônicos, ficarão de fora.

"Vão sair do papel, mas estão na cabeça das pessoas", afirmou ao Estado o coordenador do programa de governo, Marco Aurélio Garcia. "Para mim não há nada polêmico. Isso tudo é bobagem."

Na prática, o PT optou por um texto curto e genérico para evitar mais controvérsias. Serão lançados, depois, cadernos setoriais sobre os temas considerados mais relevantes, como "saúde", "educação" e "meio ambiente".

"O documento anterior acabou provocando desgaste desnecessário", disse o ex-ministro Roberto Amaral, vice-presidente do PSB, numa referência ao primeiro programa de governo registrado pelo PT no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com pontos que deram o que falar.

Eram as famosas "diretrizes", aprovadas no 4.º Congresso do PT, em fevereiro. Intitulada "A Grande Transformação", a plataforma continha propostas que se baseavam na terceira versão do Programa Nacional de Direitos Humanos, como a realização de audiência prévia para a reintegração de áreas invadidas por sem-terra. Confusão armada, toda a polêmica foi "lipoaspirada" e o PT substituiu o texto enviado ao TSE.

A nova "carta-compromisso" terá fisionomia mais amena. A ideia é dar formato bem light à pregação do Estado forte para que o PSDB não carimbe em Dilma o rótulo de estatizante. Até o PSB, que insistiu na taxação das grandes fortunas, acabou se rendendo. "Vai ser um programa que não necessariamente reflete o pensamento do PSB, mas que o PSB não se sente mal em assiná-lo", resumiu Amaral. "Essas questões sem consenso devem ser tratadas pelo Congresso."

Vice de Dilma, o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), terá agora papel mais ativo na campanha. A missão de Temer será percorrer Estados onde o PMDB está fragmentado e, pior, apoiando o candidato do PSDB, José Serra. São Paulo, Pernambuco e Mato Grosso do Sul estão na sua mira. Tudo para convencer o latifúndio peemedebista a se unir em torno de Dilma.

Gasto maior não garante melhor serviço na Saúde

DEU EM O GLOBO

Estados que investem o que a lei determina têm péssimos indicadores

O Departamento Nacional de Auditoria do Sistema Único de Saúde (Denasus) constatou que a situação no setor é grave mesmo nos estados que investem o limite mínimo previsto na Constituição, que é de 12% da arrecadação. A análise de dados de 2006 e 2007 revela que na Região Norte, onde todos os estados cumpriram a lei, a população sofre com um péssimo atendimento. No Pará, por exemplo, caiu a cobertura vacinal de BCG, hepatite e poliomielite, e 87% das mortes de crianças com idade inferior a 9 anos ocorrem entre menores de 1 ano, principalmente devido à septicemia (infecção generalizada). O presidente do Conselho Nacional de Saúde, Francisco Batista Junior, diz que essa situação é fruto da má gestão de recursos e da falta de políticas de atenção básica.

Mal da Saúde não é só falta de verba

Auditoria do SUS mostra que, mesmo quando há recursos, sistema sofre com problemas de gestão

Roberto Maltchik

BRASÍLIA - Eterna plataforma de políticos em campanha eleitoral, o resgate da saúde pública no Brasil não exige só a ampliação dos recursos públicos para o setor, revela auditoria do Departamento Nacional de Auditoria do Sistema Único de Saúde (Denasus). A investigação, que analisou dados de 2006 e 2007, detectou estados que cumpriam o limite mínimo de investimentos previsto pela Emenda 29 à Constituição, mas conviviam com um quadro assustador de mortes que poderiam ser facilmente evitadas com prevenção. Em outros casos, a falta de assistência básica foi agravada pelo abandono dos sistemas de vigilância epidemiológica e sanitária.

Menor estado brasileiro, com 21 mil quilômetros quadrados e população de pouco mais de dois milhões de habitantes, Sergipe integra a modesta lista de nove, entre 27 unidades da Federação, que seguiram a Constituição e investiram 12% da arrecadação em saúde. Mas, segundo o Denasus, o percentual de 12,2% não se refletiu em avanços no setor.

De 2004 e 2007, enquanto ocorria em Sergipe um injustificável descumprimento de carga horária de médicos e enfermeiros pagos pelo SUS, 776 bebês com menos de 1 ano morreram de diarreia, pneumonia e desnutrição. A secretária de Saúde de Sergipe, Mônica Sampaio, afirmou que a demanda por médicos no estado é maior do que a oferta. Ela frisou a dificuldade para que os profissionais atendam pelo SUS em cidades do interior. A respeito dos óbitos evitáveis, diz que a mortalidade infantil no estado caiu 21,6% de 2006 a 2009 devido às políticas adotadas.

A incidência (dos óbitos) tem como causa os baixos níveis socioeconômicos da população e a falta de acesso a serviços básicos disse.

A saúde básica fica em segundo plano

O mesmo dilema vive a população da Região Norte. Encravados na floresta, que transforma em epopeia a viagem do interior às capitais para aquisição de remédios de alto custo, os cinco estados da Amazônia aplicaram 12% da arrecadação em saúde em 2006 e 2007. Só que, na média, dispensaram à população o pior atendimento do país. A situação se agrava pela limitação de acesso às comunidades indígenas e ribeirinhas.

Segundo os auditores, as deficiências no Pará, que ficou no limite da lei em 2007, ao investir 11,89% das receitas em saúde, atingiram a assistência básica, a média e alta complexidades. Caiu a cobertura vacinal de BCG, hepatite B, poliomielite e tetravalente; 87% das mortes de crianças com idade inferior a 9 anos ocorreram entre os menores de 1 ano. A principal causa foi septicemia (infecção generalizada) em recém-nascidos.

A Secretaria de Saúde do Pará informou que, nos últimos três anos, dobrou o número de UTIs neonatais e passou de 45 para 165 o número de unidades de cuidados intermediários (UCIs). Além disso, diz que a cobertura do programa Saúde da Família, que inclui a assistência pré-natal, passou de 30% para 40% da população.

O alto índice de mortalidade infantil é inaceitável e reflete a falta de assistência pré-natal e ao recém-nascido. Ainda há deficiências na assistência farmacêutica, e o pobre é obrigado a comprar remédio de uso contínuo, empobrecendo ainda mais. A má gestão é problemática, mas o Brasil é um dos países com menor investimento público entre os que mantêm sistema universal de saúde diz o epidemiologista Jarbas Barbosa.

Para o presidente do Conselho Nacional de Saúde, Francisco Batista Junior, o quadro reflete a má gestão e falta de políticas de atenção básica: O debate conceitual do SUS é tratar a doença instalada ou prevenir. Por enquanto, de modo geral, a prevenção não é boa. Enquanto se gasta muito com alta complexidade, a saúde básica fica em segundo plano diz Batista Júnior.

O secretário-executivo do Conselho Nacional de Secretários de Saúde, Jurandi Frutuoso, diz que o atendimento básico só deve melhorar quando a União aumentar sua participação no bolo de recursos públicos para a saúde: O gasto público em saúde por habitante é baixíssimo. Os estados aumentaram sua participação, mas a União estagnou diz.

O governo federal repassa ao SUS R$ 59 bilhões (7,51% da Receita Corrente Líquida da União). Segundo o Ministério da Saúde, os investimentos em atenção básica cresceram 170%, de 2002 a 2009. Segundo o Denasus, de 2006 e 2007, os estados deixaram de aplicar R$ 11,8 bilhões em saúde, desviando os recursos para outras finalidades como saneamento básico; pagamento de aposentadorias e pensionistas e amortização de juros da dívida pública.

Sem contar os recursos do SUS que ficaram aplicados no sistema financeiro.

No Rio, problemas em hospitais e UPAs

DEU EM O GLOBO

Pacientes e profissionais reclamam; estado diz que médicos faltam muito

Cassio Bruno e Carolina Benevides

Qualidade no atendimento e respeito ao cidadão.

A placa com o aviso no Hospital Estadual Azevedo Lima, em Niterói, seria a esperança de pacientes de receber tratamento digno na rede pública de Saúde administrada pelo governo do estado. Além de conviver com a superlotação e com a falta de infraestrutura, a população sofre com a precariedade das Unidades de Pronto Atendimento as UPAs 24 horas, modelo já adotado pelo governo federal. O projeto, criado para desafogar as emergências, não tem médicos suficientes, e doentes chegam a esperar seis horas por uma consulta.

Os problemas não são menores nos hospitais.

Atualmente, o déficit é de 233 médicos, segundo a Secretaria estadual de Saúde. Resultado: não é difícil encontrar pacientes em macas e pelos corredores. Faltam anestesistas, neurologistas, cardiologistas e pediatras.

Uma auditoria do Ministério da Saúde mostrou que o Estado do Rio não cumpriu a legislação que prevê a destinação de 12% da arrecadação e de transferências federais para a Saúde. Proporcionalmente, o Rio teve o menor repasse do país em 2006 (2,76%) e, em 2007, ficou em antepenúltimo (6,06%). Em 2006 e 2007, o Denasus verificou que o governo do Rio deixou de investir R$ 2 bilhões na Saúde. A Secretaria de Saúde contesta e afirma que o Tribunal de Contas do Estado aprovou os gastos.

As UPAs, uma das principais bandeiras do governador Sérgio Cabral, candidato à reeleição pelo PMDB, atendem de oito mil a nove mil pessoas por dia. O Rio tem 35 UPAs sendo 15 de responsabilidade da prefeitura, mas todas sob supervisão do estado. Na UPA de Ricardo de Albuquerque, há duas semanas, com um clínico geral, os funcionários dispensavam quem procurava o local. Em Caxias, a demora no atendimento fez com que o auxiliar de carregamento Leonardo Gastaldi, de 20 anos, discutisse com funcionários. A namorada dele, com fortes dores no corpo, esperou seis horas: Cheguei às 10h e pediram para aguardar.

O segurança quis saber por que eu reclamava e discutimos. O atendimento é péssimo.

Para Jorge Darze, presidente do Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro, as UPAs padecem do mal de toda rede de saúde do estado: Não há médico suficiente. O paciente não sai com a consulta marcada, o que contribui para que as emergências continuem lotadas.

Vistorias realizadas este ano pelo Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio (Cremerj) revelaram que no Getúlio Vargas, na Penha, o déficit é de 40 médicos. No Albert Schweitzer, em Realengo, a UTI neonatal funciona com apenas 50% por falta de médicos.

Coordenador das UPAs, o major Jorge André admite os problemas, mas culpa os médicos: Temos 603 médicos em 20 UPAs. A falha é do médico que não vai ao serviço.

Sobre os hospitais da rede, Carlos Eduardo de Andrade Coelho, superintendente de Unidades Próprias da Secretaria Estadual de Saúde, diz que problemas existem: Temos dificuldades nas internações, principalmente nas UTIs. Estamos fazendo estudos para conseguir leitos em unidades particulares.

E nosso principal obstáculo é ocupar essas ausências em hospitais na Zona Oeste porque os médicos não querem trabalhar na região por causa da distância do Centro do Rio.

Discussão parada no Congresso

DEU EM O GLOBO

A Câmara dos Deputados engavetou há dois anos o projeto de lei complementar que regulamenta a Emenda 29, estabelecendo quais gastos podem ser contabilizados como destinados à Saúde. A regulamentação ainda poderá alterar os percentuais da arrecadação federal que devem ser alocados ao setor. A votação emperrou antes da análise do último e mais polêmico destaque: o que decide se a nova versão da CPMF, a Contribuição Social da Saúde (CSS), será criada. A CSS prevê a arrecadação de 0,1% das movimentações financeiras que excederem R$ 3.200.

A tramitação da regulamentação da Emenda 29 começou no Senado. Houve mudanças na Câmara e, quando os deputados terminarem a votação, o texto da emenda voltará ao Senado, que dará a palavra final. Mas a maioria governista na Câmara deverá impedir que a matéria seja analisada este ano. O Palácio do Planalto avalia que a criação da Contribuição Social da Saúde (CSS) será enterrada se entrar na pauta em período eleitoral.

Candidatos divergem sobre saneamento

DEU EM O GLOBO

Minha Casa, Minha Vida foi um dos pontos de discórdia entre coordenadores de Dilma, Serra e Marina em debate em SP

Adauri Antunes Barbosa

SÃO PAULO. Os coordenadores das campanhas dos três principais candidatos à Presidência Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV) divergiram ontem sobre como resolver a falta de saneamento básico no Brasil, durante debate promovido em São Paulo pelo Instituto Trata Brasil. No momento mais acirrado do debate, as principais divergências foram sobre o programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal.

Para João Paulo Capobianco, coordenador da campanha de Marina, o governo Lula erra ao fazer um programa de crédito para a construção de moradias sem antes regularizar a situação de clandestinidade da maioria das habitações no país.

O Minha Casa, Minha Vida tem que ter critério ambiental, tem que fiscalizar as áreas de risco, as áreas de mananciais.

Não pode ser feito com irresponsabilidade, como tem sido feito criticou Capobianco.

O coordenador petista, deputado José Eduardo Cardozo (SP), admitiu que a maior parte das moradias no país está irregular, mas disse que o governo não pode suspender a concessão de crédito até que a situação se regularize, já que isso puniria a população de baixa renda que mora em áreas problemáticas: A maior parte das moradias do país é clandestina. O saneamento é o maior problema que o Minha Casa, Minha Vida enfrenta, mas não podemos retirar esse crédito. O que temos de fazer é combater com rigor a ocupação irregular. A situação é grave. Eu não posso inibir políticas sociais nesse ponto.

Xico Graziano, ex-secretário do Meio Ambiente de São Paulo e coordenador da campanha de Serra na área ambiental, concordou com as críticas de Capobianco ao programa habitacional. Disse que é preciso melhorá-lo, mas negou a suspensão do projeto: Vamos fazer bem mais moradias que este governo. Mas vamos fazer conjuntos habitacionais com agenda sustentável.

Para Graziano, o próximo governo deve priorizar a criação de um plano nacional de saneamento para solucionar o problema, e dobrar o investimento na área, hoje de cerca de R$ 5 bilhões. Ironicamente, no entanto, o tucano se recusou a falar sobre as propostas de Serra para o saneamento, para que o PT não copie.

Capobianco defendeu que o problema da falta de saneamento seja encarado como questão de saúde pública. Cardozo disse que é preciso aliar a solução para os problemas ambientais às políticas de infraestrutura, e Graziano disse que o tema deve ser pensado dentro de um programa de política ambiental.

No entanto, os três concordaram que problemas de saneamento do Minha Casa, Minha Vida dependem, para ter solução definitiva, da interação entre os governos federal, estaduais e municipais.

PAC criticado por Graziano e Capobianco O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo Lula foi duramente criticado por Graziano e Capobianco. Para o tucano, o PAC não saiu do papel.

O assessor de Marina lamentou que o programa só se interesse em viabilizar obras.

O PAC traduz bem uma forma de governar: este governo quer transformar tudo em obra criticou Capobianco.

O PAC do saneamento é mais ou menos como todo o PAC. É bonito no papel, mas não sai do papel censurou Graziano, para quem a candidata Dilma Rousseff, chamada por Lula de mãe do PAC, não tem sensibilidade ambiental: A sensibilidade ambiental do PT é próxima de zero. É lamentável.

E a Dilma representa a insensibilidade em relação ao meio ambiente.

Cardozo criticou o quadro caótico descrito pelos adversários e falou sobre as melhorias no saneamento nos anos do governo Lula.

Somente no PAC 1 foram investidos R$ 34 bilhões em saneamento. Lembrando a frase do presidente Lula, nunca antes na História deste país foi feito tanto investimento na área afirmou o petista.

Graziano defendeu o governo paulista do PSDB das críticas feitas por Lula de que o estado atrasa concessões de licenças ambientais para obras. Segundo ele, o presidente falou bobagem.

Graziano disse ter sido pressionado pelas prefeituras de Diadema e de São Bernardo do Campo, governadas pelo PT, a autorizar obras sem estudos de impacto ambiental concluídos.

Milhões sem banheiro

DEU EM O GLOBO

Brasil é o 9o no "ranking da vergonha"

O Instituto Trata Brasil também divulgou ontem um estudo realizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) mostrando que o Brasil é o nono colocado no ranking mundial da vergonha dos países cuja população não tem acesso a banheiros. São 13 milhões de brasileiros sem banheiro em casa.

Entre 2003 e 2008, houve um avanço de 11,7% no atendimento de esgoto, e de 4,6% no tratamento de esgoto nas 81 maiores cidades do país. Os dados do instituto foram obtidos em levantamento nessas 81 cidades, que têm mais de 300 mil habitantes e reúnem, ao todo, 72 milhões de habitantes.

Cada morador consome em média 129 litros de água por dia, dos quais 80% se transformam em esgoto. Toda essa população gera 9,3 bilhões de litros de esgoto diariamente, e 5,9 bilhões de litros não têm qualquer tratamento.

Apenas 35% do esgoto recebem tratamento.

Remessa recorde faz o déficit externo triplicar

DEU EM O GLOBO

Com a crise na Europa e nos EUA, as remessas de lucros de multinacionais atingiram US$ 4,1 bilhões em junho, batendo recorde e levando o país ao maior déficit externo no mês em 63 anos: US$ 5,1 bilhões. No semestre o rombo chega a US$ 23,7 bilhões, o triplo de igual período do ano passado. Já o investimento estrangeiro caiu para US$ 708 milhões em junho. Os gastos dos brasileiros com viagens ao exterior subiram 60% de janeiro a junho, para US$ 7 bilhões.

Rombo histórico

Multinacionais elevam remessas e déficit externo vai a US$ 5 bi, pior junho em 63 anos

Patrícia Duarte

BRASÍLIA - Com a crise internacional ainda castigando os países ricos, as remessas de lucros e dividendos por parte das multinacionais instaladas no Brasil bateram recorde em junho, superando os investimentos feitos por essas companhias aqui e levando o país ao maior déficit de suas contas externas em 63 anos, informou ontem o Banco Central (BC). O rombo ficou em US$ 5,18 bilhões, o pior resultado para meses de junho desde o início da série histórica, em 1947, e o segundo pior desempenho mensal geral. No semestre, o déficit também é recorde, de US$ 23,762 bilhões e mais que o triplo do registrado em igual período do ano passado, quando o resultado negativo ficou em US$ 7,177 bilhões.

Esse desempenho ruim pegou de surpresa os analistas e colocou em atenção esse indicador a curto prazo.

Ainda não estamos à beira do perigo, mas os números de junho valem para pensar. Estávamos sendo financiados pelos Investimentos Estrangeiros Diretos (IED, produtivos) e, agora, precisamos dos recursos de portfólio (ações e títulos). A qualidade do nosso financiamento piorou afirmou o coordenador de projetos da consultoria Tendências, André Sacconato.

Viagens: gasto sobe 60%, para US$ 7 bi

Para este mês, o BC projeta um déficit em transações correntes de US$ 3,7 bilhões. Em junho, o IED ficou em apenas US$ 708 milhões, menos da metade do que esperava a própria autoridade monetária (US$ 1,5 bilhão) no período, acumulando US$ 12,058 bilhões no semestre. Se somados aos investimentos estrangeiros em ações e títulos no país, que em junho ficaram em US$ 3,339 bilhões, esses recursos não foram suficientes para cobrir o déficit em conta corrente em junho.

Segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, o mau desempenho do IED agora aconteceu por causa de algumas saídas de investimentos estrangeiros no período, sobretudo nos setores imobiliário.

No segundo semestre, pelas consultas que fazemos, (o IED) volta à normalidade. Por isso, mantemos nossa projeção de US$ 38 bilhões para o ano todo afirmou Lopes, acrescentando que, até ontem, esses investimentos já somavam US$ 1,6 bilhão em julho e a projeção é de fechar o período com US$ 2 bilhões.

O IED chegou até mesmo a ficar menor do que as remessas de lucros e dividendos no semestre, algo que não costuma ocorrer. Em junho, as multinacionais instaladas no país enviaram para suas matrizes US$ 4,156 bilhões, volume recorde, somando US$ 14,967 bilhões no semestre abaixo, portanto, dos aportes feitos via IED no período, de US$ 12,058 bilhões. Lopes argumenta que as remessas, que acertaram em cheio a conta corrente do país, aconteceram porque as empresas estão lucrando mais no país, em detrimento de maus desempenhos em outras regiões, como a Europa.

Pesaram também nas contas externas os gastos dos brasileiros com viagens internacionais que, entre janeiro e junho, somaram US$ 7,050 bilhões, quase 60% a mais do que em igual período de 2009. Isso ocorreu, segundo Lopes, por causa do dólar mais barato e do aumento de renda da população. Neste período, as receitas gastos de turistas estrangeiros no país cresceram apenas 15%, chegando a US$ 2,940 bilhões e originando uma perda líquida de US$ 4,109 bilhões ao país, também recorde.

As contas externas brasileiras têm mostrado sucessivos rombos por causa do bom momento econômico, com expansão da atividade, o que acaba impulsionando as importações. Por enquanto, os déficits têm sido financiados pelos investimentos produtivos e em carteira. No entanto, especialistas argumentam que é preciso ficar atento ao tamanho dos déficits, para não causar desvalorizações cambiais bruscas, ou seja, levar a uma perda do valor do real frente ao dólar.

Com piora no fluxo, real fica mais volátil

Atualmente, segundo o economista chefe da corretora Ativa, Arthur Carvalho, o saldo negativo nas transações correntes está em 2,13% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) e deve fechar o ano a 2,5%. Para ele, neste patamar, o país pode se financiar com facilidade. O alerta fica para 2011: O real já está mais volátil do que em 2006 e 2007, quando tínhamos superávits em conta corrente. Em 2011, vamos depender muito mais desses investimentos estrangeiros.

Muere un gran líder comunista del siglo XX

Capa de recente livro de Corvalán


Mario Amorós*

El miércoles por la mañana se extinguió la vida de Luis Corvalán, uno de los grandes líderes comunistas del siglo XX, secretario general del Partido Comunista de Chile entre 1958 y 1989. Don Lucho nació el 14 de septiembre de 1916 en Pelluco (Puerto Montt), en la provincia austral de Chiloé, como relata en su hermoso libro de memorias De lo vivido y lo peleado, aunque su infancia transcurrió en la localidad textil de Tomé.

Abrazó el compromiso con el socialismo cuando estudiaba para maestro en Chillán. En esta ciudad conoció a Elías Lafertte en su campaña como candidato comunista a la Presidencia de la República y en febrero de 1932 ingresó en el partido que Luis Emilio Recabarren había fundado 20 años antes en el Norte Grande, en Iquique, rodeado de obreros de la pampa salitrera. Muy pronto destacó como militante y a finales de 1937 fue llamado a Santiago para trabajar junto con Carlos Contreras Labarca, secretario general del partido, y en el Comité Central de la Federación Juvenil Comunista. Chile conocía entonces una gran efervescencia política, con la creación del Frente Popular y la solidaridad con la lucha de la República Española contra el fascismo, que marcó a esa generación de revolucionarios entre los que también se contaban Volodia Teitelboim y Salvador Allende.

En aquel tiempo Luis Corvalán entró a trabajar en el diario Frente Popular y con la histórica victoria de Pedro Aguirre Cerda en las elecciones del 25 de octubre de 1938, pudo reincorporarse al magisterio (había sido exonerado por razones políticas dos años antes) y trabajó en Valdivia, antes de partir a Iquique para cumplir tareas políticas. Allí dirigió el legendario diario El Despertar de los Trabajadores, fundado por Recabarren. En 1940, pasó a las filas de su partido y empezó a trabajar en el periódico El Siglo, del que muy pronto se convirtió en director.

En los años 40, el Partido Comunista de Chile conoció unos años de notable crecimiento, cuyas cimas fueron la victoria del radical Gabriel González Videla en las elecciones presidenciales de 1946, con el apoyo de los comunistas, y 17 por ciento de los votos que alcanzó en las elecciones municipales de 1947, cuando se convirtió en la segunda fuerza política del país. Sin embargo, González Videla sucumbió muy pronto a las presiones anticomunistas y de la administración Truman e impulsó la llamada ley maldita, que en 1948 ilegalizó al Partido Comunista y empujó a sus dirigentes y buena parte de sus militantes a la clandestinidad. Corvalán fue detenido y conducido a varios campos de concentración, entre ellos el de Pisagua.

En aquellas difíciles condiciones, Corvalán y la dirección del Partido Comunista supieron plantear la estrategia de unidad de acción de la izquierda y ofrecieron su apoyo al senador socialista Salvador Allende para las elecciones presidenciales de 1952. Allende quedó en último lugar, con apenas 5 por ciento de los sufragios, pero su candidatura trazó el camino por el que transitaría la izquierda durante dos décadas.

En 1958, con la muerte de Galo González, don Lucho asumió la Secretaría General del partido, puesto que ocupó hasta que Volodia Teitelboim lo relevó después del XV congreso, en mayo de 1989, ya en los estertores de la dictadura de Augusto Pinochet. Desde 1961 y hasta el golpe de Estado del 11 de septiembre de 1973 fue senador.

Con la conducción de Corvalán y de una gran generación de dirigentes comunistas, el PCCh se convirtió en la década de los 60 en el mayor Partido Comunista de América y alcanzó una influencia social similar a la que entonces tenían los partidos comunistas de Italia y Francia en Occidente. La apuesta estratégica por unir al conjunto de la izquierda en torno a un programa de profundas transformaciones políticas, económicas, sociales y culturales que abriera camino a la construcción del socialismo en Chile germinó en 1969 con la fundación de la Unidad Popular, que incluía a marxistas, cristianos, racionalistas laicos, socialdemócratas e independientes, y en la elección en enero de 1970 de Salvador Allende como candidato presidencial de la izquierda.

Después del golpe de Estado, Corvalán fue detenido por la dictadura y enviado a la austral isla Dawson, junto con otros connotados dirigentes de la Unidad Popular. Pasó por otros campos de concentración, como Ritoque o Tres Álamos, hasta su canje en diciembre de 1976 en Ginebra por un disidente soviético y su partida al exilio. Antes, en las cárceles de Pinochet, tuvo que conocer en el exilio, en Bulgaria, la muerte en octubre de 1975 de su hijo Luis Alberto, producto de las atroces torturas que había sufrido en septiembre de 1973 en el Estadio Nacional.

En agosto de 1977, en el primer pleno del Comité Central tras el golpe de Estado, en el momento más difícil de la historia de esta organización, masacrada en 1975 y 1976 por los cuerpos represivos de la dictadura fascista, Corvalán expuso un lúcido informe político sobre los grandes méritos de la revolución chilena, pero también sobre los errores de la izquierda y del Partido Comunista; singularmente, habló del vacío histórico del partido en su relación con las fuerzas armadas y la concepción del poder.

Hasta el último día de sus casi 94 años de vida, don Lucho ha trabajado y ha vivido como comunista. Ahora estaba ocupado con la ampliación de sus memorias y en los últimos años había publicado dos libros sobre el partido al que entregó su vida. Era uno de los miembros más estimados del Comité Central, órgano al que pertenecía desde hacía 60 años, y el pasado 6 de junio, en el acto de masas con motivo del 98 aniversario de la fundación del PCCh, su presidente, Guillermo Teillier, le había impuesto la medalla Luis Emilio Recabarren.


* Doctor en Historia y periodista español. Autor del libro Compañero presidente Salvador Allende, una vida por la democracia y el socialismo

O que pensa a mídia

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Musica intima & Pacific Baroque Orchestra - Vivaldi's Gloria

O mundo é grande:: Carlos Drummond de Andrade


O mundo é grande e cabe
nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe
na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe
no breve espaço de beijar.




(Carlos Drummond de Andrade in “Amar se Aprende Amando”)