sábado, 10 de julho de 2010

Reflexão do dia – Luiz Sergio Henriques


Protagonizar a luta social sem recorrer ao método da democracia, ou considerando-o como recurso a descartar no dia seguinte à "tomada do poder", conduziu aos excessos que desonraram o conceito de socialismo e puseram - e ainda põem - em dificuldade toda a esquerda, dos seus componentes mais moderados até os mais propriamente de ultraesquerda. Na frase de Habermas, que, na verdade, equivale a um programa, é preciso ser fiel ao Estado Democrático de Direito, sem nenhuma ambiguidade, para poder ir muito além do status quo.


(Luiz Sergio Henriques, no artigo, ‘Os nanicos de esquerda’, em O Estado de S. Paulo, ontem)

Programa faz de conta:: Roberto Freire

DEU NO BRASIL ECONÔMICO

Creio que a candidata Dilma Roussef atravessa um momento difícil, que revela sua grande fragilidade. O que se pode esperar de uma pessoa que, postulando a Presidência da República, entrega um programa de governo e, em menos de 24 horas, muda questões extremamente polêmicas, como aborto e invasões de terra?

Ela diz que não sabia o que assinou; que colocara sua rubrica em cada página sem ler aquilo que ali estava escrito.

Já não se sabe mais se a candidata é a favor ou contra as ações do MST, porque no programa o defende, depois, condena.

Aquilo que Dilma jogou no lixo eram as propostas aprovadas no último congresso do PT, seu partido. Mudou a candidata, o PT ou falaram mais alto as pressões de partidos aliados?

Foi preciso a atitude vexatória de trocar a proposta de governo entregue no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

As últimas movimentações da candidata petista deixa uma inevitável preocupação apoquentando a cabeça de cada eleitor. Ela se negou a responder à pergunta "por que quer ser presidente do Brasil", enviada aos presidenciáveis pelo jornal "O Globo".

Como confiar em uma pessoa que não sabe responder - ou não se preocupa em dar satisfação à sociedade - questão tão básica, tão elementar e de tamanha importância?

Se negar a dizer aos brasileiros quais são suas efetivas intenções, o que pretende empreender no cargo mais importante do país é realmente uma atitude que deixa a impressão de que lhe é indiferente a opinião alheia.

A troca de propostas no TSE vem coroar essa indiferença. Não foi uma correção ortográfica, mas uma mudança de conteúdo significativa. Se ela reconhece que não eram aquelas as suas propostas, por que deu entrada no tribunal?

É incrível como alguém entrega um compromisso, propostas de governo e, em menos de 24 horas, o recusa, sob o argumento de que não era seu. Isso tão grave quanto o fato de a candidata se negar a debater.

Se ela renega o próprio programa, se recusa a responder por que quer ser presidente, não quer debater, como é possível saber - longe da maquiagem do marketing, claro, o que ela realmente pensa?

Não queremos uma campanha de marqueteiros, mas de candidatos de verdade, dizendo o que pensam e o que pretendem.

Os problemas do país nada têm para ser resolvidos com propaganda, embora o governo gaste mais com ela do que com as tragédias nacionais.

Tampouco interessa ao Brasil uma pessoa que se esconde atrás do criador para evitar o espelho, o embate, a realidade dura a ser resolvida.

Precisamos, sim, de um candidato de verdade, disposto a encarar opositores, no debate, e mais ainda os problemas nacionais; sem medo do debate ou da crítica, sem criadores que lhe sirvam de cortina para esconder os defeitos, a falta de experiência e escondam a biografia.

Ao contrário, o país necessita de candidatos com larga experiência e uma biografia que lhe honre ao ponto de exibi-la não só como propaganda, mas como uma prova de que tem capacidade e instrumentos para trabalhar por todos os brasileiros.


Roberto Freire é presidente do PPS

Vexame internacional :: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

Chega a ser patética a tentativa das autoridades brasileiras de se livrarem do vexame que protagonizaram diante da atuação exitosa do governo espanhol para liberar presos políticos de Cuba. Trabalhando junto à Igreja Católica de Cuba, o governo da Espanha, representado por seu ministro das Relações Exteriores, Miguel Ángel Moratinos, conseguiu obter do governo ditatorial cubano o compromisso de libertar 52 dos 167 presos políticos do país, figura que o presidente Lula dizia que não existia na sua ilha caribenha preferida.

O ministro Celso Amorim chegou a insinuar que o Brasil teve "atuação discreta" na decisão, e o assessor especial Marco Aurélio Garcia, dublê de coordenador da campanha de Dilma Rousseff, ainda menosprezou a atuação da Espanha, sugerindo que a participação brasileira teria sido mais efetiva, apesar de "discreta", e que o chanceler espanhol apenas se aproveitou da situação para anunciar o fim das negociações.

No entanto, não é de hoje que a oposição cubana se queixa da posição brasileira de alegar a "não ingerência" nos negócios internos de outro país para se eximir de pressionar o governo cubano a favor dos direitos humanos.

Na primeira visita de Lula a Cuba como presidente, logo após a crise em que alguns dissidentes que tentaram fugir da ilha foram fuzilados, houve muitas queixas de que Lula não tocara no assunto em seus encontros.

Na ocasião, Frei Betto, que era assessor especial da Presidência, garantiu que Lula conversara com Fidel, que ficara irritado e cobrara dele atuação mais firme na reforma agrária, a favor do MST.

O fato é que Lula e todos os membros do governo que têm uma relação pessoal com Cuba consideram que não devem fazer críticas públicas ao governo cubano.

Alegam que é mais eficiente tratar de assuntos delicados discretamente. É uma tática de quem trata com um amigo, e não de Estado para Estado. E os resultados, até o momento, têm sido nulos.

Essa atitude já produziu fatos não condizentes com o Estado democrático, como a entrega ao governo cubano - que os resgatou em território nacional, à noite, em um avião venezuelano - dos pugilistas cubanos Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara, que haviam fugido da concentração durante os jogos do campeonato Panamericano no Rio em 2007, e queriam ficar no Brasil asilados.

Meses depois, desmentindo o governo brasileiro, que disse que os cubanos pediram para voltar ao seu país, Erislandy Lara, bicampeão mundial amador da categoria até 69 quilos, chegou a Hamburgo, na Alemanha, depois de ter fugido em uma lancha de Cuba para o México.

Em 2009, Rigondeaux acabou fugindo para Miami, nos Estados Unidos.

O prestígio internacional do presidente ficaria abalado depois de sua atitude diante da morte do dissidente cubano Orlando Zapata Tamayo em uma prisão, após 85 dias de greve de fome.

Lula chegou para mais uma de suas visitas a Cuba justamente no dia em que Zapata morreu, e em que outro preso político, Guilhermo Fariñas, começava a sua greve de fome, que só terminou agora com o acordo patrocinado pela Espanha e pela Igreja Católica.

Lula posou sorridente ao lado de Fidel e Raul Castro, e, quando questionado sobre a greve de fome, fez diversas declarações, todas elas defendendo o governo cubano e acusando os presos políticos.

"Temos de respeitar a determinação da Justiça e do governo cubano de prender as pessoas em função da legislação de Cuba, como quero que respeitem a do Brasil".

Como se na ditadura cubana houvesse leis para serem acatadas.

Ou então: "Eu gostaria que não ocorresse (prisão de presos políticos), mas não posso questionar as razões pelas quais Cuba os prendeu, como não quero que Cuba questione as razões pelas quais há pessoas presas no Brasil".

Continuando a confundir presos políticos com criminosos comuns, dentro da mesma linha adotada pela ditadura cubana, Lula saiu-se com esta: "Eu acho que greve de fome não pode ser utilizada como um pretexto dos direitos humanos para libertar pessoas. Imagine se todos os bandidos que estão presos em São Paulo entrarem em greve de fome e pedirem liberdade".

Na ocasião, o jornal espanhol "El País", que havia lhe dado o título de homem do ano, criticou sua atitude em um editorial, afirmando que o governo brasileiro poderia exercer mais pressão sobre o regime cubano, em especial na área de defesa de direitos humanos.

Além do fato de que não é verdade que o governo brasileiro tem por princípio a não interferência nos assuntos internos de outros países - basta lembrar a atuação de nossa diplomacia no caso de Honduras -, o próprio Lula já se gabou de ter dito ao presidente Barack Obama que ele deveria ter a mesma audácia dos eleitores que o colocaram na Casa Branca, e acabar com o bloqueio econômico a Cuba.

Portanto, quando é para defender os interesses da ditadura cubana, Lula está sempre à disposição. Mas não move uma palha para conseguir de seus amigos uma atitude mais humanitária em relação aos presos políticos.

Mas, se é verdade que atua com discrição nos bastidores, até o momento suas ações, tanto em Cuba quanto na ditadura teocrática do Irã, têm sido fracassadas.

Algum assessor precisa urgentemente avisar à candidata oficial, Dilma Rousseff, que rubrica é uma assinatura abreviada, de acordo com o dicionário.

Portanto, não adianta alegar que não "assinou" o programa enviado ao TSE, mas apenas "rubricou". Dá no mesmo.

Abuso do cachimbo:: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

A Receita Federal confirmou: as declarações de renda do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge Caldas, relativas aos anos de 2008 e 2009 foram consultadas por auditores autorizados. Não diz o motivo da consulta nem revela o nome, ou nomes, de quem buscou acesso aos dados que, segundo revelou o jornal Folha de S. Paulo em junho, teriam sido incluídos em dossiê a ser usado como arma de guerra eleitoral.

De acordo com o jornal, as informações fiscais de Eduardo Jorge faziam parte de uma série de papéis preparados pela campanha presidencial do PT, que, evidentemente, nega com veemência qualquer envolvimento em preparação de dossiês e em quebras de sigilo de quem quer que seja.

O problema é que o comportamento da Receita no episódio não é exatamente um convite ao crédito na isenção.

Primeiro porque levou quase um mês para chegar à conclusão de que não houve violação nem invasão em seus sistemas de armazenamento de dados. Protelou a divulgação de algo que teria condição de conferir muito rapidamente.

Em segundo lugar porque não revela - e, portanto, esconde - a identidade do responsável, ou responsáveis, pela quebra do sigilo. A Receita alega que ainda precisa aprofundar as investigações para saber se os acessos às informações sobre o tucano foram motivados "por razões de serviço" ou não.

De quanto tempo mais, além do mês já transcorrido, será que a competentíssima (no que tange à arrecadação de impostos) Receita Federal ainda precisa para obter essa resposta dos auditores que consultaram as declarações de Eduardo Jorge Caldas?

Naturalmente se a consulta tivesse sido feita "por razões de serviço" a informação teria sido dada de imediato. A demora nos remete ao caso do caseiro Francenildo Santos Costa.

Testemunha de acusação contra o então ministro da Fazenda Antonio Palocci (confirmava que o ministro frequentava uma casa de lobby em Brasília), Francenildo teve seu sigilo bancário violado por servidores autorizados da Caixa Econômica Federal.

Por motivação política. Era uma tentativa do governo de desmoralizar a testemunha mostrando depósitos de dinheiro incompatíveis com a renda do caseiro.

A urdidura acabou se voltando contra os urdidores, pegos em ato de uso do aparelho do Estado em proveito próprio. E como se sabe a visão de bocas tortas em geral denuncia abuso no uso do cachimbo.

Comparativo. A estimativa dos gastos das campanhas eleitorais por Estado mostra que o custo mais alto por eleitor será em Roraima (R$ 116,72) e o mais baixo no Rio de Janeiro (R$ 4,87).

A tabela fornece argumentos aos defensores do financiamento público de campanha, que, segundo cálculos já feitos, custaria R$ 7 por eleitor. Nesta eleição dos 26 Estados mais o Distrito Federal, só em quatro (São Paulo, Rio, Minas e Rio Grande do Sul) o custo per capita fica abaixo disso.

Mas é como argumentam os detratores do financiamento público: uma vez instituído, nada assegura que não haveria também recursos "não-contabilizados" nas finanças eleitorais. Além do mais, mesmo com custos mais elevados o dinheiro que circula hoje nas campanhas não sai diretamente do Orçamento público.

Mão dupla. A Espanha abrigará os presos políticos que a ditadura cubana se comprometeu a libertar. Já o Brasil fica com o dístico de ter devolvido a pedidos do regime castrista os dois esportistas que integravam a delegação de Cuba nos jogos Pan-americanos de 2008.

De acordo com o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, o Brasil participou das negociações com Havana, mas não anunciou porque optou pela discrição.

Pois é um caso inédito de país que vê vantagem diplomática em afagar ditadores pública e festivamente, enquanto atua em prol da democracia de forma imperceptível.

Faz um estardalhaço em defesa da paz no Oriente Médio, mas prefere ser discreto na intermediação democrática em seu próprio continente.

Um político de ficha limpa:: Dom Odilo P. Scherer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

A campanha em favor da ficha limpa mobilizou, em todo o Brasil, milhões de pessoas que acreditaram na possibilidade da decência e da ética na política. Em Brasília houve quem apostasse que seria mais fácil a vaca voar do que esse projeto de lei de iniciativa popular passar pelo Congresso Nacional.

Surpresa! A vaca não voou, mas o projeto passou, a lei já foi sancionada e está em vigor. Agora é vigiar e clamar pela sua aplicação correta. O País agradece a tantos cidadãos que se empenharam para barrar, antes das urnas, pretendentes a mandatos políticos que não podem ostentar idoneidade moral para governar ou legislar.

Será bom para o Brasil. Muito bom.

Mas sejamos justos, nem todos os políticos foram ou são fichas-sujas. Muitos desempenharam com dignidade e grandeza a sua missão. No passado e no presente.

Quero lembrar um deles, Tomás Morus, um político inglês. Não é que faltem exemplos também entre nós, mas porque esse é emblemático. Nasceu em Londres, em 1478, estudou Direito em Oxford, casou, teve três filhas e um filho. Homem de vasta cultura, amigo de notáveis protagonistas do Renascimento, escreveu vários livros sobre a arte de governar e em defesa da religião - era católico fervoroso. Em 1504 foi eleito para o Parlamento e o rei Henrique VIII confiou-lhe importantes missões diplomáticas e comerciais - chegou a ser membro do Conselho da Coroa, vice-tesoureiro do Reino e, em 1523, presidente da Câmara dos Comuns. Em 1529 foi nomeado chanceler de Sua Majestade.

Quando o soberano, não atendido pelo papa em sua pretensão de divórcio, resolveu ser, ele mesmo, o chefe na Igreja da Inglaterra, separando-a de Roma, o fiel chanceler começou a ter problemas. Não aprovando a ingerência do rei na Igreja e não aderindo à sua política discriminatória contra os católicos, Tomás Morus renunciou ao cargo e retirou-se da vida pública, para sofrer, com sua família, o ostracismo e a pobreza. Foi encarcerado na Torre de Londres e submetido a várias formas de pressão para prestar juramento de fidelidade ao rei. Preferiu permanecer fiel à sua consciência e, com firmeza, denunciou no tribunal o despotismo do soberano. Condenado à morte por "infidelidade ao rei", foi decapitado no dia 6 de julho de 1535.

Da prisão, escreveu à filha Margarida: "Fica tranquila, minha filha, e não te preocupes com o que possa me acontecer neste mundo. (...) Até agora, Deus me deu a graça de tudo desprezar, do fundo do coração - riquezas, rendimentos e a própria vida -, ao invés de jurar contra minha consciência." E manteve essa posição com serena firmeza. Não traiu a consciência por vantagens, poder, riquezas e prestígio, nem passou por cima da verdade e da decência, mesmo para salvar a própria vida. Permaneceu "ficha limpa", sabendo que isso lhe custaria a cabeça. Literalmente.

Em 1935, quatro séculos depois de seu martírio, o papa Pio XI declarou-o santo e, no ano 2000, João Paulo II proclamou-o patrono dos governantes e políticos.

De fato, vários chefes de Estado e de governo, numerosos dirigentes políticos, além de conferências episcopais, haviam apresentado sugestão ao papa nesse sentido. Tomás Morus foi um político comprometido com a verdade e com os valores éticos. O que mais impressiona nesse grande homem público são a retidão e a inflexível fidelidade à própria consciência. Colaborou com a autoridade e as instituições enquanto eram legítimas; exerceu o poder na medida da justiça, como serviço ao povo e a seu país. Mas sua grande firmeza de caráter e sua sólida estatura moral não lhe permitiram cair na tentação de usar o poder para sua vantagem e ganhos pessoais. Pôs sua atuação pública a serviço dos mais pobres e desprotegidos, promoveu a paz social, a educação integral da juventude, a defesa da pessoa e da família. Diante das lisonjas do poder, das honrarias e das riquezas, conservou uma serena jovialidade, inspirada no sensato conhecimento da natureza humana e da futilidade do sucesso. Manteve o bom humor, mesmo diante da iminência da morte.

Tomás Morus harmonizou, de forma extraordinária, sua intensa vida pública com suas convicções interiores. Um bom político, de fato, não pode separar-se da verdade, nem dissociar sua ação da moral.

A dignidade dos homens públicos é certificada por uma boa consciência. Como explicar, diante do povo, vantagens desonestas, sem afundar ainda mais no charco da mentira e da desonestidade?

A vida de Tomás Morus é um belo exemplo de ética na política. Coisas que ficaram no passado?


Não creio. É o mesmo anseio manifestado, ainda hoje, pelos milhões de brasileiros que apoiaram o projeto de lei de iniciativa popular da Ficha Limpa. O futuro confirmará, com toda a certeza, que essa lei terá contribuído muito para melhorar o nível ético da política brasileira.

Estamos em ano eleitoral e o povo brasileiro é convidado, mais uma vez, a fazer um discernimento acurado sobre candidatos e partidos, para escolher e votar. Esta é mais uma boa chance dos cidadãos para deixarem claro quais rumos querem ver na política do nosso país.

Tomás Morus tem algo a ensinar e nos lembra, sobretudo, que a verdade e a ética são inegociáveis. Não têm preço. Também alerta que a corrupção da consciência é uma vilania que pode levar ao despotismo e às maiores injustiças.

Com frequência, clama-se por reformas profundas para melhorar a política do País e elas, certamente, são necessárias. Porém mais necessários ainda na condução da vida política de um povo são os políticos íntegros.

Chegou a hora de conhecê-los e de votar neles.


Cardeal-Arcebispo de São Paulo

Ilha fiscal :: Míriam Leitão

DEU EM O GLOBO

A candidata Dilma Rousseff deveria ter pressa de que a Receita Federal esclareça o que aconteceu no órgão. Na entrevista ao Roda Viva, ela foi dura com o editor-executivo da "Folha de S. Paulo", Sérgio D"Ávila. Disse que não tinha processado o jornal por respeitar a liberdade de imprensa. "Acho oportuno que se prove, e quem acusa é que prova", afirmou.

No dia 12 de junho, a "Folha" havia publicado que os dados fiscais do vice-presidente executivo do PSDB, Eduardo Jorge, foram investigados pela "equipe de inteligência" da campanha da candidata Dilma Rousseff. E publicou fac símiles mostrando que estavam circulando documentos objeto de sigilo fiscal. O presidente Lula disse, no dia seguinte, que o dossiê era uma invenção dos adversários. Agora, a Receita em nota reconhece que não houve invasão no seu sistema e que os dados foram acessados por funcionários do próprio órgão. Essa informação não exige uma investigação de 27 dias, mas foi esse o tempo que a Receita precisou para saber que funcionários do órgão, usando senha pessoal e exclusiva, acessaram dados referentes às declarações de Eduardo Jorge. Não disse quem fez o que fez. Não sabe por que eles fizeram o que fizeram. Disse apenas que "as investigações prosseguem, através de instauração de processo administrativo e disciplinar, para apurar se os acessos foram motivados por razões de serviço."

Recapitulando: funcionários da máquina pública, que servem ao Estado - e não a governos, muito menos a partidos - acessaram documentos sigilosos de um adversário político do governo. Esses dados saíram da Receita, que é a depositária fiel das informações. A Receita admite que eles acessaram os dados e pede mais tempo para saber o motivo do comportamento de seus próprios funcionários. E se eles não tiverem acessado por motivo de serviço? "O responsável por acesso imotivado estará sujeito a penalidade de advertência ou suspensão de até 90 dias."

A falta de pressa da Receita e a leveza da punição são perturbadoras. A suspeita é de uso da máquina pública para espionar adversários que, como já disse aqui, quando aconteceu nos Estados Unidos provocou a maior crise política da história recente americana.

Já a candidata Dilma Rousseff tem outra suspeita. A Sérgio D"Ávila, no Roda Viva, ela disse: "É importante que o jornal traga essas provas a público. Nós não podemos aceitar, porque vivemos numa democracia, acusações sem prova. Nós processamos o acusador. Vocês, nós não processamos porque respeitamos a liberdade de imprensa. Achamos que vocês estão protegendo a fonte. Enquanto não demonstrarem a prova, é uma acusação infundada. Está em curso uma tentativa de atribuir a nós questões que foram criadas em outro ambiente político." O jornalista perguntou se ela não achava que era uma tentativa do tipo "aloprados 2", e ela concluiu: "Não, acho que há uma tendência de forçar essa interpretação por razões políticas." Ou seja, suspeita também, como Lula, de que é tudo invenção dos adversários.

Essa versão da ministra para os fatos que a imprensa tem publicado ficou mais frágil depois da nota da Receita Federal admitindo que os dados foram acessados por seus funcionários.

A Receita disse que ainda precisa verificar se o vazamento saiu de lá. Essa falta de sentido de urgência da Receita é inexplicável se há tantas dúvidas no ar. De um lado a oposição suspeita que os dados são parte de espionagem política, de outro, o governo suspeita que os dados são parte de uma conspiração de adversários. Tratar de forma burocrática um caso político tão incandescente; fazer uma verdadeira operação tartaruga na apuração de informação tão relevante coloca em risco a credibilidade do próprio órgão, ao qual os contribuintes entregam informações que estão sob a proteção constitucional do sigilo.

É indispensável que um órgão de Estado se comporte como um órgão de Estado. Do contrário, ficará parecendo que está acobertando algo ou alguém.

Toda a história começou com a publicação pela "Veja" de que a empresa fornecedora de serviços de comunicação do jornalista Luiz Lanzetta tinha se reunido com o delegado aposentado Onézimo Sousa e pedido ajuda para montar um dossiê contra o principal candidato de oposição e pessoas ligadas a ele. O delegado no Congresso confirmou o que disse à revista.

Na entrevista, Dilma deu uma definição do que a empresa de Lanzetta fazia na campanha:

- O Lanzetta foi contratado para fornecer pessoal para nossa campanha. Ele contratava pessoas que nós indicávamos. Nós não assumimos nenhuma responsabilidade.

Então, por essa explicação de Dilma Rousseff, pessoas que trabalhavam na empresa haviam sido indicadas pela campanha e apenas contratadas pela empresa do jornalista. Difícil entender o que ela quis dizer com isso. Mais uma dúvida num caso cheio de fatos mal explicados. O que piora tudo são os antecedentes do PT em compra e fabricação de dossiês falsos contra adversários. Se isso virar um método de luta política, o que está em risco é muito mais que uma eleição, mas a qualidade das instituições brasileiras.

A campanha começou oficialmente esta semana. Mas nos meses que a antecederam acumularam-se vários fatos preocupantes que vão do uso da máquina pública, excesso de bondades eleitoreiras com dinheiro público, e esse estranho caso que traz tão inquietantes dúvidas.

Publicidade de clientela:: Cesar Maia

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

A orgia publicitária dos governos é cada dia mais ostensiva. Se agregarmos a publicidade dos três níveis de governo com suas estatais, incluindo promoções e eventos, certamente chegaremos a R$ 5 bilhões ao ano. O que se chamava antes de mídia técnica (buscar o retorno adequado em função dos objetivos regionais, sociais e etários via planejamento de mídias) simplesmente não existe mais. Comparando com os planos de mídia de grandes empresas privadas, o que se vê é a tentativa de atingir uma mosca com um míssil.

Algumas vezes por ingenuidade, em função de alguma assessoria esperta associada ao contratante.

Outras vezes na antiga ilusão de pensar estar agradando os meios de comunicação, sem levar em conta que há um limite relativo à credibilidade do veículo.

Estranho que um governo que terá em poucas semanas tempo de TV e rádio à vontade para seu uso excite sua publicidade pré-eleitoral.

Não fica bem para ninguém. O excesso de publicidade pode criar um problema para os governos: a ruptura entre o que se diz e o que se vive. Se isso ocorre, o descrédito e a desconfiança produzem uma reversão da expectativa que se pretende.

Nas contas de publicidade, cada dia mais se paga de tudo, desde pesquisas a estudos, relatórios, "clipping" etc., sob a justificativa de que são preliminares para definir o conteúdo e a "mídia técnica".

Nos últimos anos as publicidades governamentais, "lato sensu", passaram a pré-cobrir as despesas publicitárias de campanha eleitoral.

Como a participação das agências alcança até 20% sobre o valor da mídia publicitária, estamos falando de valores altos. O que muitos objetivam com o excesso de exposição, muito além da mídia técnica, e assim a participação excessiva de suas agências, é pré-cobrir as despesas de campanha com publicidade. Isso vale para o projeto de programação visual, para a produção de TV e rádio.

Isso vai sendo feito, sem precisar, depois, alocar às despesas de campanha apresentadas à Justiça Eleitoral.

Quando leem os custos de publicidade, TV e rádio contabilizados pelos candidatos competitivos, e os valores de mercado político conhecidos, os especialistas ironizam. Curiosamente essa comparação nunca tem sido matéria de fiscalização e investigação eleitoral, o que poderia sinalizar evidências.

Os mesmos nomes, entre agências em campanha -elas mesmas ou suas aparentadas- e governo, não são só coincidências. O uso de "pool" de agências ajuda a disfarçar e a diluir. Vai ficando por isso mesmo. E "la nave va". Nunca antes nesse país foi tão ostensivo. Lembro que, nos EUA e na Europa Ocidental, tudo isso é proibido por lei.

Cesar Maia escreve aos sábados nesta coluna.

Quebra de sigilo ameaça estado de direito - Editorial

DEU EM O GLOBO

Eduardo Jorge Caldas Pereira, vice-presidente do PSDB, continua a acumular experiência como vítima de funcionários públicos que usam recursos do Estado com objetivos políticos. Quando era secretário-geral da Presidência da República, na Era FH, ele foi alvo prioritário do procurador Luiz Francisco de Souza, ex-militante de carteirinha do PT. Este e um colega, Guilherme Schelb, investigaram o então secretário de FH em busca de ligações do alto funcionário do governo com o escândalo do desvio de verbas na construção da sede do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo, um golpe do juiz Nicolau dos Santos Neto, sugestivamente apelidado de Lalau.

Os procuradores cumpriam sua missão. Mas, depois de determinando ponto, nada encontrando contra Eduardo Jorge, a dupla, principalmente Luiz Francisco, continuou no encalço do tucano. Tempos depois, mediante reclamação formal do perseguido, o Conselho Nacional do Ministério Público puniu Luiz Francisco com uma suspensão e Schelb, uma repreensão por escrito.

Agora, Eduardo Jorge se vê mais uma vez na mesma linha de tiro. Em vez de procuradores, os quais ao menos agiam à luz do dia, as evidências são de um esquema partidário em ação dentro da Receita Federal, responsável, acusa o vice-presidente do PSDB, pela quebra do seu sigilo fiscal - crime de extrema gravidade, por agredir o direto constitucional à privacidade.

Informações sobre a declaração de renda de Eduardo Jorge vazaram do tal bunker de comunicação da candidata Dilma Rousseff, e constariam de um suposto dossiê em fase de montagem contra o candidato tucano José Serra, conforme reportagem da "Folha de S.Paulo". Eduardo Jorge confirmou a fidedignidade das informações, e o caso ficou bastante sério.
Primeiro, houve uma tentativa de culpar o MP pelo vazamento, pois dados fiscais de Eduardo Jorge tinham sido requisitados por procuradores. Mas a Justiça proibira a Receita de repassar estes dados a procuradores e promotores. O tucano rejeitou a versão, e, na quinta-feira, a Receita, em nota, informou não ter havido invasão de seus arquivos. Ou seja, as informações foram obtidas por auditores donos de senhas que lhes permitem entrar nos computadores do órgão.

A Polícia Federal, o MP e a própria Receita têm de avançar nas investigações - que não parecem complexas. Está em questão a defesa do estado de direito, a confiança na impessoalidade do Estado. Quebrada esta garantia constitucional, resvala-se para a perigosa situação em que segmentos do Estado, sob controle de grupos políticos, agem a favor de projetos específicos de poder, como nos regimes ditatoriais.

Uma das marcas negativas dos quase oito anos de Era Lula é o aparelhamento da máquina pública por grupos políticos e partidários. Faz parte também da crônica desses tempos o enraizamento de esquemas sindicais no governo, entre eles grupos de sindicatos de servidores públicos, aliados de primeira hora do PT.

Mais este ataque sofrido por Eduardo Jorge, desfechado nas sombras, de dentro do aparato do serviço público, pode ter origem na contaminação da máquina por interesses partidários e ideológicos. Razão mais do que suficiente para se exigir investigação rigorosa, com a devida punição dos culpados. Este caso não será esquecido.

Paulinho da Viola e Clara Nunes (1976)

Serra descarta mudança nos royalties de petróleo

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

No Espírito Santo, tucano responsabiliza governo federal por problemas enfrentados pelo Estado nas áreas de infraestrutura, segurança pública e saúde

Alfredo Junqueira

O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, encerrou a primeira semana de campanha abrindo fogo contra o governo federal e sua principal concorrente na disputa, Dilma Rousseff (PT). Em compromissos no Espírito Santo, o tucano atribuiu à União os problemas enfrentados pelo Estado nos setores de infraestrutura, segurança pública e saúde.

Serra disse que, se eleito, não vai permitir a alteração do sistema de pagamento de royalties de petróleo e participações especiais. A polêmica medida, aprovada mês passado pelo Senado Federal no pacote de legislações regulatórias para a exploração do petróleo na camada pré-sal, atinge principalmente o Rio de Janeiro e Espírito Santo, os dois maiores produtores do País.

De acordo com emenda apresentada pelo senador Pedro Simon (PMDB-RS), os recursos dos royalties deixariam de beneficiar exclusivamente os Estados produtores e passariam a ser distribuídos entre todas as unidades federativas.

Serra, que vinha sendo reticente sobre o assunto, dessa vez foi taxativo: "Essa ameaça permanente de tirar recursos do Espírito Santo, que é uma região produtora de petróleo, tirar os recursos dos royalties e acabar com a participação especial não vai acontecer", afirmou o tucano, após fazer corpo a corpo na cidade de Vila Velha, na região metropolitana de Vitória. "Ano que vem, isso não vai mais acontecer. Esse fator de incerteza e angústia vai desaparecer e o Espírito Santo vai poder trabalhar bem na direção de seu progresso."

O candidato ainda citou Dilma ao atribuir diretamente a ela a criação do projeto que muda o marco regulatório da exploração do petróleo no País e o seu envio ao Congresso em ano eleitoral - na época em que a petista era ministra da Casa Civil. Serra também falou do ex-ministro de Minas e Energias e atual senador pelo PMDB do Maranhão, Edison Lobão.

Asfixia. Segundo ele, foi Dilma que elaborou a proposta "para refazer a distribuição dos royalties e asfixiar, na prática, o Espírito Santo e o Rio de Janeiro".

O tucano também cobrou investimentos federais para a recuperação de estradas, do porto e do aeroporto do Espírito Santo.

Serra também fez caminhada pela Avenida Jerônimo Monteiro, principal via do centro de Vitória, na companhia dos candidatos tucanos ao governo do Estado, Luiz Paulo Vellozo Lucas, e ao Senado, Rita Camata. O evento atrapalhou o trânsito e o fluxo de pedestres na avenida. Apesar de ter sido recebido com relativa simpatia pela população, muita gente reclamou da confusão, gritando "Lula" e "Dilma" em direção da comitiva tucana.

Serra promete não mexer na regra de royalty do petróleo

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

DO ENVIADO A VITÓRIA - Ontem, no Espírito Santo, o candidato do PSDB, José Serra, prometeu que não haverá alteração na distribuição dos royalties do petróleo, caso seja eleito. O Estado foi um dos mais prejudicados pela proposta em discussão no Congresso.

"Comigo na Presidência, acabar com a participação especial, não vai acontecer", disse ele, repetindo crítica ao modelo defendido pelo governo.

O candidato rebateu críticas da rival Dilma Rousseff (PT) ao programa adotado pelo tucano no governo de SP, em que as turmas do primeiro ano do ensino fundamental têm dois professores em sala, um deles assistente. "Primeiro precisa explicar para ela o que é [o programa]. O PT, pelo menos em São Paulo, não tem a mais remota preocupação com a educação", disse o tucano.

Rubricou, não leu...

DEU EM O GLOBO

A candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, admitiu que "rubricou sem ler" a primeira versão do programa de governo enviado ao TSE. O texto continha propostas radicais e acabou trocado. Para ela, rubricar não é assinar.

Não assinei, rubriquei"
Dilma também responsabiliza o PT pelo envio de programa radical ao TSE

Dilma e Cabral se encontram: ela voltou a criticar programa educacional de Serra e defendeu implantação do cartão do SUS

Cassio Bruno


Em sua primeira visita ao Rio após o início oficial da campanha, a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, responsabilizou ontem o PT pelo programa radical de governo entregue à Justiça Eleitoral e depois trocado por uma versão mais branda e afirmou, em entrevista à Rádio Tupi, que não leu o documento. Desta vez, Dilma alegou que apenas rubricou as páginas, mas não assinou, atribuindo o envio do texto ao TSE a "um erro" do PT. A nova versão enviada é mais branda, mas manteve, por exemplo, a defesa do controle social da mídia.

- Até o dia do registro, quem coordena a pré-campanha é o partido. Quem produz o documento não é a assessoria da candidata. Então, pegaram, fizeram toda a documentação, me enviaram e falaram: "está tudo pronto conforme o acertado, e é para rubricar todas as páginas". Não assinei documento nenhum, porque não tem documento a ser assinado. Eu rubriquei páginas. Não olhei porque achei que era aquele programa. Não achei que iam colocar um outro programa. Foi um erro - justificou.

Apesar de não citar o tucano José Serra, afirmou que "o adversário" erra sistematicamente:

- Os meus adversários, e principalmente o adversário, eles sistematicamente erram. Não vou dar exemplo porque não é minha responsabilidade falar sobre ele. Quem acha que não erra é um presunçoso.

Dilma também voltou a criticar o programa educacional do governo de São Paulo, criado por Serra, que põe dois professores em sala de aula:

- Não são dois professores. É um professor, que ganha R$1.800, e um estagiário, com R$500. Não concordo com o projeto do meu adversário que diz que, em vez de melhorar a educação, vai colocar dois professores. Não se melhora a qualidade da educação com estagiários. O que se tem que fazer é pagar bem aos professores.

Na área da saúde, ela prometeu criar o Cartão SUS, proposta do governo Fernando Henrique que também não saiu do papel no governo Lula. O cartão, que armazenaria dados sobre a saúde dos pacientes, melhorando o atendimento e o controle das verbas, foi lembrado no último domingo na coluna do jornalista Elio Gaspari no GLOBO.

- Acho imprescindível que a gente tenha um cartão do Sistema Único de Saúde. Com o cartão você vai saber o que a pessoa fez, o histórico dela. Isso é ótimo para a pessoa porque você terá registrado os últimos exames, onde foi atendida. É fundamental para a gestão - disse Dilma, que ontem também teve se reuniu com o governador Sérgio Cabral (PMDB), candidato à reeleição e seu aliado.

- Vir ao Rio e não vê-lo é como ir a Roma e não ver o Papa - disse ela, na saída.

'A rubrica significa que a pessoa leu tudo'

DEU EM O GLOBO

Para a Associação dos Notários e Registradores do Estado do Rio de Janeiro (Anoreg), a função da rubrica é clara: mostrar que a pessoa tomou conhecimento de determinado texto impresso ou escrito à mão. Em geral, são abreviaturas de nomes e sobrenomes.

- Os exemplos mais comuns para o uso da rubrica, um sinal pessoal, são contratos e escrituras. Ao ler, é preciso rubricar todas as páginas e assinar no final. Significa que a pessoa tomou conhecimento do que estava escrito no texto. Em outras palavras: leu tudo - diz o diretor de notas da Anoreg, Manuel José da Silva.

A rubrica é um instrumento de segurança. Se as folhas de um contrato ou certidão forem trocadas, a fraude pode ser identificada pela falta do símbolo. Sua ausência permite a contestação por parte do autor da rubrica. A rubrica não é considerada firma, como a assinatura reconhecida em cartório:

- Mas seu uso confirma que o autor possui conhecimento do ato - diz Silva.

PF pede acesso à investigação da Receita

DEU EM O GLOBO

Jailton de Carvalho

BRASÍLIA. A Polícia Federal pedirá à Receita Federal uma cópia da investigação preliminar sobre o vazamento de dados fiscais do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge Caldas. A Receita informou que não houve violação ou invasão externa do banco de dados da instituição. Os dados fiscais de Eduardo Jorge foram acessados por servidores da própria Receita. Anteontem, a Receita informou que aprofundará a apuração para saber a razão do acesso aos dados.

- Vamos passar, sim, para a Polícia Federal (a cópia da investigação). Só estamos esperando chegar o pedido - disse o vice-corregedor da Receita Federal, José Pereira Barros Neto.

No início da semana, a PF abriu inquérito para apurar a origem do vazamento. A investigação começou a partir de pedidos de PSDB e PT. Tucanos sustentam que os dados foram vazados da Receita Federal para integrantes do grupo de inteligência da pré-campanha da petista Dilma Rousseff. O PT negou a acusação. Na próxima semana, a PF deverá iniciar os depoimentos de pessoas que poderiam ter informações sobre o vazamento.

A Procuradoria da República em Brasília também deverá abrir investigação interna. Parte dos dados fiscais vazados fazia parte de uma investigação do Ministério Público Federal sobre suposto envolvimento de Eduardo Jorge em lavagem de dinheiro.

Apuração também sobre grampo ilegal

DEU EM O GLOBO

Levantamento fará parte de inquérito da PF sobre vazamento de dados

BRASÍLIA. No inquérito em que vai investigar o vazamento de dados fiscais do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge Caldas, a Polícia Federal deverá apurar também crime de interceptação telefônica ilegal. A investigação tem como ponto de partida reportagem da revista "Veja" sobre uma briga entre o jornalista Luiz Lanzetta, dono da Lanza Comunicação, contratado pela campanha de Dilma Rousseff (PT), e o delegado aposentado Onézimo Sousa.

Investigador particular, Onézimo disse que foi sondado por Lanzetta para fazer levantamento de informações, inclusive com uso de grampos, sobre o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, e outros tucanos. Lanzetta e o jornalista Amaury Ribeiro Jr., que também participou de um encontro com Onézimo, disseram que o delegado se ofereceu para investigar os tucanos. Onézimo deve ser um dos primeiros a depor.

A investigação do Ministério Público sobre suposto envolvimento de Eduardo Jorge em lavagem de dinheiro foi trancada em abril do ano passado pelo desembargador Hilton Queiroz, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, um dia após a primeira divulgação de parte dos dados fiscais do vice-presidente do PSDB. (Jailton de Carvalho)

Marina cobra punição por devassa fiscal

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Candidata do PV critica vazamento de dados do vice-presidente do PSDB pela Receita Federal e diz que vale-tudo não pode ser tolerado

Marcelo Auler

A candidata do PV à Presidência , Marina Silva, defendeu ontem que os autores pelo vazamento de informações da Receita Federal sejam punidos tão logo a responsabilidade seja comprovada.

"Não estamos em uma sociedade de justiçamento", disse a presidenciável referindo-se à nota divulgada anteontem pela Receita Federal confirmando que auditores do órgão tiveram acesso às declarações de renda do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge Caldas Pereira.

Os dados, referentes a 2008 e 2009, teriam teriam sido incluídos em suposto dossiê da campanha de Dilma Rousseff (PT) e usados como arma de guerra eleitoral.

Na opinião de Marina, devem ser punidos também "aqueles que lançam mão de informações adquiridas de forma ilegal e fraudulenta para prejudicar quem quer que seja". "Esta punição, é claro, é dada pela sociedade, pelo cidadão."

Marina insistiu no discurso de que o processo eleitoral não pode ser um vale tudo. "Toda e qualquer informação que extrapole o Estado Democrático de Direito não deve ser tolerada, nem pelas instituições, nem pelos candidatos e, principalmente, pela sociedade", salientou.

Segundo ela, em uma eleição se tem que provar a capacidade de respeitar as instituições públicas. "Se, para ganhar, não se respeita as instituições e o jogo democrático, é um sinal de que quando estiver com o poder na mão, pior fará", explicou.

Segurança. Ao visitar o Morro dos Prazeres, no bairro de Santa Teresa, no centro do Rio, a candidata do PV defendeu a extensão das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) a "todas comunidades que ainda vivem sob área de risco".

A instalação das unidades nos morros cariocas foi uma iniciativa do governador Sérgio Cabral (PMDB), que usa o projeto como uma de suas bandeiras s para a reeleição. Mesmo assim, o candidato do PV ao governo do Estado, Fernando Gabeira, já incorporou as unidades policiais ao seu discurso, com a proposta de estendê-las a todo o Estado e não apenas em alguns morros.

Para visitar o morro e inaugurar mais uma Casa de Marina - comitês eleitorais nas residências de eleitores - a candidata do PV não teve problemas com o tráfico de drogas na favela, conhecida pela violência.

O único incidente registrado durante a visita foi com uma repórter de uma emissora de rádio, que se perdeu no acesso ao morro e encontrou dois homens, um deles armado com uma pistola.
Ao saber qual era o caminho correto, a jornalista conseguiu encontrar, sem problemas, a comitiva da candidata.

Em seu discurso, Marina defendeu uma política de segurança para os centros urbanos - executada em parceira entre o governo federal e os Estados e que pense a segurança nos diferentes aspectos: trabalho de prevenção, inteligência e ação repressiva. "Nunca uma coisa isolada da outra", afirmou.

Após visitar a comunidade dos Prazeres, a candidata caminhou no Largo da Carioca, no centro. Ao passar pela entrada do Metrô, foi homenageada com a música Marina, de Dorival Caymmi, por Ademir de Paula, o Ademir Leão, de 60 anos, que há 26 toca saxofone na calçada. Deu a ele R$ 10 e confessou "você me convenceu que eu sou bonita com o que Deus me deu".

''Lula quer Dilma no poder para seguir mandando'', diz fundador do PT

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Hélio Bicudo Ex-deputado federal e vice-prefeito de SP na gestão petista

Adriana Carranca

Fundador do PT, deputado federal pelo partido, vice-prefeito de São Paulo na gestão Marta Suplicy, candidato ao Senado e a vice de Luiz Inácio Lula da Silva na disputa ao governo paulista, o advogado Helio Bicudo apoia publicamente a candidata do PV à Presidência, Marina da Silva, nas eleições desse ano. "Lula quer Dilma Rousseff no poder para continuar mandando no País", dispara, sobre a candidata petista.

Afastado do PT desde o escândalo do mensalão, em 2005, o jurista classifica o governo de "autoritário", acusa o presidente Lula de "mirar mais no poder pessoal do que nos objetivos do partido", diz que o Congresso e o Judiciário estão desmoralizados e defende a alternância de poder como indispensável ao estado democrático. "José Serra (PSDB) é um homem competente, mas Marina Silva expressa de forma melhor o ideário de um Brasil igual para todos."

Aos 88 anos, à frente da Fundação Interamericana de Direitos Humanos, Bicudo tem página no Facebook e escreve de próprio punho as notas que publica no Twitter, onde tem 618 seguidores. Nesta entrevista, o jurista fala da mágoa com o partido que ajudou a criar e onde militou por 25 anos. E diz por que, embora ligado aos movimentos sociais da Igreja Católica, seu voto irá para a candidata evangélica.

Marina Silva. "Conheci a Marina como senadora, quando nós organizamos um tribunal para julgar o massacre em Eldorado dos Carajás, no Pará. Ela deu um voto que realmente me emocionou. Mais tarde, num segundo tribunal da terra, em Curitiba, mais uma vez mostrou seu compromisso com os mais pobres. O fato de ser evangélica não muda em nada o meu apoio. Ter uma religião é um caminho importante no traçado da nossa vida. Sou católico praticante e tenho colhido bons frutos dessa fé. Mas, cada um deve encontrar seu credo.

Acho José Serra um homem competente. Plínio (Arruda Sampaio, candidato pelo Psol) é meu amigo e um homem de grande valor, que deixa tudo de lado para atender ao interesse público. Mas, Marina Silva expressa o ideário de um país onde todos são iguais, comprometido com os direitos humanos, não só relacionados à pessoa, mas ao meio ambiente."

Reforma Agrária. "Sou contra a criminalização dos movimentos sociais. Posso estar enganado, mas para mim o MST é o único movimento de massas ainda válido. A gente não sabe até que ponto eles estão envolvidos com o governo federal, mas criminalizar um movimento popular é ir na contramão dos direitos humanos. E acho que Marina não faria isso. Hoje, o MST sabe que não é com a invasão de terras que vão conseguir a reforma agrária, mas com a industrialização do que eles produzem nos assentamentos. E Marina é a pessoa certa para uma política agrária eficiente."

Partido dos Trabalhadores. "Não estou no PT desde 2005. Retirei a filiação porque entendi que o PT não cumpria mais o seu ideário. O que primeiro me advertiu sobre a mudança do partido foi a carta aos brasileiros (documento assinado durante a campanha presidencial de 2002) em que o Lula entregava-se ao neoliberalismo. Veio o mensalão, amoral e antiético. É um equívoco achar que não se pode governar com a minoria, porque Lula podia pressionar o Congresso com o povo.
Como diz que não sabia? Lula manda no PT. Esse é um problema. Numa democracia, ninguém pode mandar num partido, se não a sua base. Mas, no Brasil, os partidos têm direção e não base.
Ao pedir desligamento do PT, sequer recebi resposta. Ajudei o partido até o fim! Não conta?"

Lula. "É autoritário. Mira mais o poder pessoal do que os objetivos do PT. Me afastei dele. O eixo desse afastamento foi a sindicância interna feita por mim no PT, que enquadrava Roberto Teixeira, compadre de Lula e ele não perdoa ninguém."

Ficha Limpa. "É uma vergonha. A Constituição diz que se deve olhar a vida pregressa do candidato. Mas, a lei resumiu isso a um processo criminal. Vamos continuar tendo bandidos na política. Veja os envolvidos no mensalão. Foram denunciados pelo Procurador-Geral da República. Mas, pela lei, poderiam candidatar-se. E duas decisões dos Ministros do Supremo Tribunal Eleitoral já como a lei será interpretada. Ou seja, não será aplicada. Quando um Presidente da República nomeia 9 Ministros do STF, não há como garantir independência. Nenhum dos planos de governo, aliás, contempla o acesso à Justiça."

Stédile prevê mais invasões de terra com vitória do PT

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O País verá aumento das ocupações de terra caso Dilma Rousseff (PT) vença as eleições e crescimento da violência no campo se José Serra (PSDB) for o escolhido, acredita João Pedro Stédile, fundador do MST. "Com Dilma, nossa base social perceberá que vale a pena se mobilizar", disse, em entrevista à Reuters. "Se o Serra ganhar, será a hegemonia total do agronegócio".

Líder do MST prevê onda de invasões de terra em eventual governo Dilma

O mais influente dirigente do Movimento dos Sem-Terra (MST), João Pedro Stédile, previu que Brasil viverá um aumento das ocupações de terra se Dilma Rousseff (PT) vencer as eleições e um crescimento da violência no campo caso José Serra (PSDB) seja o escolhido.

Ele explica que a intensificação de atos num eventual governo do PT ocorre justamente pelas afinidades históricas entre os dois grupos. "Um operário, diante de um patrão reacionário, não se mobiliza. Com Dilma, nossa base social perceberá que vale a pena se mobilizar, que poderemos avançar, fazendo mais ocupações e mais greves", disse Stédile, em entrevista à Agência Reuters.

"Se o Serra ganhar, será a hegemonia total do agronegócio. Será o pior dos mundos. Haverá mais repressão e, por isso, maior tensão no campo. A vitória dele é a derrota dos movimentos sociais", acrescentou.

Por essa razão, a opção "majoritária" do movimento é apoiar a a petista - mesmo que, nos últimos anos, justamente num governo considerado amigo, o MST tenha se enfraquecido e chegado à conclusão de que "o agronegócio venceu".

"Lula não fez reforma agrária, mas uma política de assentamento. Metade dos números do governo é propaganda", afirma Stédile. Segundo dados oficiais, quase 1 milhão de famílias foram instaladas nos últimos sete anos em terras cedidas pela União, ou compradas do setor privado pelo valor de mercado.

Apesar de algumas decepções, Stédile descarta apoiar um candidato de extrema esquerda. "Não temos alternativa", disse. "É como se você percebesse que seu time pode cair para a segunda divisão e faz o que for possível para vencer o campeonato."

O MST vive um período difícil e se queixa de ter sido alvo de criminalização pela imprensa e por "forças de direita" nos dois mandatos do PT. Stédile raramente dá entrevistas. "A imprensa, que antes nos tratava como coitadinhos e até nos elogiava, passou a nos dar um pau nestes oito anos, passou a ser arma da direita para nos estigmatizar", argumentou.

O movimento endossou a candidatura de Lula em 2002 apostando numa administração à esquerda. Frustrou-se com a continuidade do modelo macroeconômico implantado por Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Voltou a dar um apoio tímido em 2006, momento mais difícil para o PT com a crise do mensalão. Após aquela vitória de Lula, as relações ficaram estremecidas.

Nesse período, a organização enfrentou três CPIs no Congresso e perdeu diversos repasses de convênios federais. PSDB e DEM acusam o governo de patrocinar ocupações de terra com dinheiro público. "Não somos puxa-saco nem pau-mandado de ninguém", enfatizou Stédile.

Pragmatismo. O apoio informal a Dilma - que assegurou que não vai tolerar "atividades ilegais" do movimento -, e não a presidenciáveis ideologicamente mais próximos ao MST, como Plínio de Arruda Sampaio (PSOL), vem de uma avaliação pragmática de que esses nomes não foram capazes de aglutinar forças populares.

Dilma mudará programa pela terceira vez

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O programa de governo da candidata Dilma Rousseff (PT) protocolado no Tribunal Superior Eleitoral será trocado de novo. A terceira versão deverá expurgar propostas radicais, como as críticas à mídia. O novo texto contará com sugestões de PMDB, PSB, PDT, PCdoB, PSC e outros partidos.

PT trocará programa de ex-ministra outra vez

Nova versão a ser entregue ao TRE deverá expurgar ataques aos meios de comunicação e propostas radicais

João Domingos

O programa de governo da petista Dilma Rousseff protocolado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) será trocado novamente. A nova versão deverá expurgar propostas marcadas pelo radicalismo, como os ataques aos meios de comunicação, que sobreviveram na segunda edição do plano.

A decisão foi tomada para conter o ciclo de repercussão negativa aberto pela divulgação da primeira versão do programa, marcada por propostas radicais como o combate ao "monopólio da mídia" e taxação das grandes fortunas. Apresentada na segunda-feira, essa versão provocou tanta polêmica que, no mesmo dia, o comitê de Dilma teve de apresentar uma outra, mais amena, porém ainda com pontos radicais.

A terceira proposta contará com as sugestões de PMDB, PSB, PDT, PC do B, PSC e outros partidos da aliança e terá mais cara de programa de governo, de acordo com um dos coordenadores da campanha de Dilma. Por isso, evitará entrar em assuntos como o controle social da mídia, que emergiu das resoluções aprovadas pelo 4.º Congresso do PT.

Um dos coordenadores da campanha de Dilma, o deputado estadual Rui Falcão (PT), disse que não há nenhum problema em fazer mais uma substituição do programa na Justiça Eleitoral. O primeiro programa registrado pelo PT no TSE tinha 19 páginas com resoluções do 4.º Congresso do partido, realizado em fevereiro. Todas as páginas foram rubricadas por Dilma e pelo presidente do PT, José Eduardo Dutra.

Teses. O PMDB destacou o ex-deputado Moreira Franco para representar o partido na coordenação da campanha petista. Ele vai trabalhar diretamente com o vice-presidente do PT, Marco Aurélio Garcia, encarregado de negociar a proposta de governo com os aliados e da nova versão a ser entregue ao TSE. Teses como o controle da mídia não são prioridade para o PMDB.

Moreira vai pedir demissão da vice-presidência de Loterias da Caixa, para a qual foi nomeado no segundo mandato do presidente Lula. Antes de participar do governo petista, Moreira integrava, com o ex-ministro Geddel Vieira Lima, o time dos peemedebistas que faziam oposição a Lula. Agraciados com cargos, eles mudaram de lado.

O PMDB pretende apresentar várias emendas ao programa de Dilma. Quer incluir a criação de uma poupança destinada aos filhos dos beneficiados com o Bolsa-Família. Seria uma forma de apresentar a porta de saída para os filhos das famílias de baixa renda que recebem a ajuda federal. O PMDB nunca aceitou o Bolsa-Família como foi planejado, alegando que falta alternativa para que as famílias possam ingressar no mercado de trabalho.

O partido sugere ainda a extensão do Programa Universidade para Todos (ProUni) ao ensino fundamental e médio. Acha que o ProUni é um sucesso. O plano peemedebista tem propostas para preparar o Brasil para aumentar a poupança pública, a partir da definição de uma agenda de ajustes no sistema previdenciário e assistencial, com o objetivo de garantir sua sustentabilidade num prazo mais longo.

Palanque chique para a candidata

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Convidada por Lily Marinho, Dilma almoça com 50 socialites e discute a evolução feminina

Sonia Racy

Depois das socialites de São Paulo, as do Rio. Na cruzada para tornar-se conhecida em salas nunca antes visitadas, a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, foi ontem o centro das atenções na lendária casa dos Marinho em Cosme Velho. Diante de cerca de 50 mulheres da sociedade carioca, Dilma foi saudada pela anfitriã, dona Lily Marinho, "por sua coragem política" e afirmou, numa conversa sobre a evolução da mulher na vida brasileira, que "nunca antes, na história deste País, uma mulher chegou à Presidência".

É a segunda incursão de Dilma em tais endereços. Duas semanas atrás, essa estratégia eleitoral foi inaugurada no bairro dos Jardins, em São Paulo, onde foi recebida por Geyse e Abilio Diniz - o dono da rede Pão de Açúcar.

As situações são parecidas, mas os encontros foram diferentes. Se em São Paulo a candidata fez discurso repleto de números, sobre educação, segurança e até reforma tributária, no Rio a conversa se fixou na mudança do papel feminino na vida moderna. Dilma mencionou então cargos antes exclusivos dos homens na vida pública - como o Ministério das Minas e Energia e a Casa Civil, aos quais ela chegou quebrando tradições. E depois de afirmar que o que admirava na candidata era "sua coragem de fazer política", dona Lily ponderou: "Graças à senhora Democracia nos é permitido esse convívio de diferença de opiniões, de troca de experiência, de questionamentos".

Ao final de seu texto, lido em uma cadeira de rodas, a sra. Roberto Marinho dedicou o encontro ao fundador do Grupo Globo, "homem de posições firmes, que jamais se absteve de conviver com diferenças de opinião".

Divididas em quatro mesas, lá estavam figuras como Maria da Conceição Tavares, Nélida Piñon, Magali Cabral (mãe do governador Sergio Cabral), Andrea Agnelli (mulher de Roger Agnelli), Carmen Mayrink Veiga, Antonia Mayrink Veiga, Lenny Niemeyer. Perguntada se vai promover encontros com outros candidatos, dona Lily respondeu no ato: "Não, é só para ela." E Dilma foi embora dizendo-se "muito satisfeita".

"Se recebi Fidel, por que não o PT?", indaga Lily sobre Dilma

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Mônica Bergamo
Dilma Rousseff (PT) chegou antes de boa parte das convidadas ao almoço oferecido para ela ontem, no Rio, por Lily Marinho, viúva de Roberto Marinho, das Organizações Globo. Eram 13h quando a petista foi recebida pela anfitriã na porta da célebre mansão cor-de-rosa do Cosme Velho, aos pés do Cristo Redentor, onde o casal recebeu por décadas governantes do mundo todo para jantares memoráveis.

"Se o Roberto recebeu Fidel Castro aqui, por que eu não posso receber o PT?", disse Lily à Folha, num cenário emoldurado por flamingos rosas que nadam nos lagos da mansão -as aves foram presente do cubano, que esteve no Rio em 1992.

Um músico dedilhava ao piano e garçons de luvas brancas serviam champanhe Dom Perignon. "Ô, Jandira, toma um golinho pra mim porque senão vou ficar gorda igual a um boi", disse Dilma à ex-deputada Jandira Feghali (PC do B), passando discretamente a ela a "flûte".

Dilma se sentou perto de Lily, em cadeira de rodas por causa de uma queda. "Que tipo de música você gosta?", perguntou a anfitriã. "Clássica. Gosto de Bach", respondeu a candidata. "Ela toca piano e fala francês", revelou uma amiga de ambas a Lily. "Eu tinha curiosidade de conhecê-la", explicava Lily.

Não, repetia, ela não vai oferecer almoço a José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV), adversários de Dilma na campanha presidencial. "Eu não sou política. Se ficarem com ciúmes, o que posso fazer? Nada."

Aos poucos, o quorum aumentou. "A Lily estava um pouco ansiosa porque muitas têm até medo de chegar perto do PT e da Dilma. Mas todo mundo está chegando, graças a Deus", dizia uma amiga da anfitriã.

Na hora do almoço, Dilma e Lily dividiram a mesa com a economista Maria da Conceição Tavares, a escritora Nélida Piñon, a produtora Lucy Barreto e a colunista Hildegard Angel, entre outras.

A conversa girou em torno de amenidades. "Todos os candidatos homens já fizeram plástica. To-dos", dizia Dilma. E as pesquisas eleitorais? "Deixa eu ficar no empate [com Serra] que tá bom", respondeu a petista. No cardápio, tartare de salmão com maçã e funcho e filé de cherne com banana caramelada, passas e urucum do chef Claude Troisgros.

Antes da sobremesa, Lily leu um rápido discurso. Disse que ofereceu o almoço para homenagear "a senhora D, a senhora democracia".

E que seria um privilégio ouvir "a outra senhora D, Dilma Rousseff, que se propõe a ser a primeira mulher presidente do Brasil".

Dilma fez um discurso sob medida. Falou de educação, família e cultura -e das "lutas de milhares de brasileiras anônimas". "Eu acho que chegou a nossa hora!" Cantarolou com Alcione ao microfone -e se despediu de Lily: "Te espero na minha posse".

A candidata se foi e as amigas formaram roda para comentar. "Ela está segura, senhora de si", dizia Andrea Agnelli, mulher do presidente da Vale, Roger Agnelli. "Achei importante ela falar de educação", disse Beth Floris, dona da editora Ediouro. Dona Lily gostou. "Vou fazer 90 anos. Sou velha para votar.

Mas acho que, se votasse, seria na Dilma."

Colaborou Marlene Bergamo, enviada especial ao Rio

Diretor monta ato pró-Dilma no comando de órgão federal

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Em horário de trabalho, chefe do Serpro convoca servidores para carreata

Ponto de encontro é no próprio órgão; "Avisa a "companheirada", diz Marcos Mazoni no Twitter a colega petista

Silvio Navarro
DO PAINEL

Instalado no comando de um órgão estratégico da máquina pública, o diretor-presidente do Serpro (serviço de processamento de dados do governo federal), Marcos Mazoni, desempenha simultaneamente a função de arregimentar servidores na Esplanada e organizar carreatas em Brasília para a campanha de Dilma Rousseff (PT).

O ponto de encontro, segundo o próprio Mazoni, é o estacionamento do Serpro. A convocatória dos funcionários é feita pela internet, em horário de expediente.

A maioria da comitiva petista é composta de servidores do Serpro, do Ministério da Educação e da Casa Brasil, órgão do Ministério de Ciência e Tecnologia para acesso gratuito à internet.

Segundo a legislação eleitoral, funcionários públicos não podem participar de campanha em horário de trabalho. As recomendações constam da cartilha da AGU (Advocacia-Geral da União), avalizada pela Comissão de Ética Pública da Presidência.

O dirigente atua em parceria com Marcelo Branco, coordenador de Dilma na internet, de quem é amigo.

Gaúchos, trabalharam juntos no órgão de processamento de dados do RS.

Um dos eventos ocorreu anteontem. O número um do Serpro fez o chamado pelo seu Twitter, às 11h34:

"Hoje vamos fazer uma carreata pró-Dilma ao meio dia aqui em Brasília". Ontem, ele mandou o seguinte recado, às 11h43, para Branco: "Avisa a "companheirada" de Brasília que estamos fazendo carreatas todas as quintas ao meio dia saindo da frente da sede Serpro".

A partir da semana que vem, os atos pró-Dilma conduzidos por ele serão semanais. "Para não precisar toda hora dizer, vai ter uma programação permanente, toda quinta-feira", disse à Folha.

Mazoni e Marcelo Branco também trocam mensagens sobre acordos políticos no Rio Grande do Sul. Na terça-feira passada, Branco escreveu no Twitter, às 13h16: "Exclusivo: ex-governador Collares do PDT apoia Tarso para governador e Dilma para presidente". Mazoni respondeu quatro minutos depois: "Como é bom ser conselheiro de Itaipu hahaha". Collares é conselheiro da empresa binacional e, para apoiar Tarso, rompeu com seu partido, que indicou o vice de José Fogaça (PMDB) ao governo.Quadro da corrente DS (Democracia Socialista) do PT, Mazoni é ligado ao ex-ministro da Justiça Tarso Genro. Foi sindicalista da área de telefonia e assessor de Olívio Dutra (PT) na Prefeitura de Porto Alegre.

Assumiu o Serpro após a queda do grupo do ex-ministro Antonio Palocci, que controlava o órgão.

Gabeira defende metrô de superfície

DEU EM O GLOBO

Em viagem de trem da Baixada à Central, candidato do PV propõe projeto semelhante ao sugerido por Serra

Natanael Damasceno

Em seu primeiro ato de campanha, o candidato do PV ao governo do Estado do Rio, deputado federal Fernando Gabeira, dividiu sua agenda entre a candidata do partido à Presidência da República, Marina Silva, e o candidato a vice na chapa do tucano José Serra (PSDB), o deputado federal Indio da Costa (DEM). Gabeira começou o dia viajando num trem da SuperVia, da Baixada Fluminense à Central do Brasil, onde defendeu o projeto de Serra para transformar a rede ferroviária em metrô de superfície.

Aperfeiçoar o serviço custaria R$2 bilhões

Gabeira afirmou que uma das metas de um eventual governo seu é ampliar o transporte sobre trilhos. Para isso, ele já teria conversado com a SuperVia, concessionária que administra a rede ferroviária, sobre a possibilidade de implantar um projeto semelhante ao anunciado por José Serra. De acordo com o verde, seriam necessários pouco mais de R$2 bilhões para aperfeiçoar o serviço, sobretudo no que diz respeito à sinalização da malha. Para Gabeira, no entanto, a constatação dos problemas com os usuários também é importante para pensar a questão.

Indio, que fez a segunda viagem de trem em menos de 24 horas, encontrou Gabeira, às 5h30m, na estação de Japeri, onde embarcaram num trem em direção ao Centro do Rio. Acompanhados do deputado tucano Luiz Paulo Correa da Rocha, eles entraram num vagão com o ar condicionado pifado e viajaram cerca de uma hora e meia conversando com os usuários sobre as dificuldades enfrentadas diariamente no sistema ferroviário.

- Constatamos alguns dos problemas relatados pelos usuários, como o ar condicionado que não funcionava, a sinalização precária e a entrada dos camelôs nos vagões. Mas vimos também que, mesmo com os problemas, a viagem de trem entre a Baixada e o Centro é bem mais rápida do que se fosse utilizado o transporte rodoviário. Isso mostra que se deve investir prioritariamente nesse tipo de transporte. E, mais que isso, que é preciso fazer imediatamente com que a agência reguladora (Agetransp) fiscalize o serviço - afirmou Gabeira, após a viagem.

Trem lotou após passar por duas estações
Gabeira, Indio e Luiz Paulo divulgaram suas impressões por meio do Twitter ao longo de toda a viagem pelos trilhos. De acordo com Luiz Paulo, o trem que saiu de Japeri vazio chegou a Austin, duas estações depois, já cheio, com uma taxa de ocupação de três passageiros por metro quadrado. Uma hora depois da partida, ao chegar a Madureira - estação de transferência para o parador do ramal de Santa Cruz e de integração com linhas de ônibus -, o vagão onde o grupo viajava já estava completamente lotado de passageiros.

Da Central, Gabeira e Indio seguiram, então, de metrô até a estação da Carioca, onde eles se despediram para que o candidato do PV pudesse ir ao encontro de Marina Silva. Gabeira passou o restante da manhã com correligionários de Marina numa visita ao Morro dos Prazeres, em Santa Teresa. Ele terminou a agenda acompanhando a candidata durante uma caminhada pelo Largo da Carioca, no Centro.

O QUE PENSA A MÍDIA

Editoriais dos principais jornais do Brasil
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Astor Piazzolla - Libertango

Cinco Almas, Cinco Rostos :: Graziela Melo


À
cada alma
um rosto

À primeira
por suposto
o rosto triste
do desgosto

À segunda
alegria
o riso fácil
o riso leve
à luz do dia

Bela alma
doce,
calma...

À terceira
o rosto
cínico,
o rosto
frio...

À quarta
inexpressivo,
vazio!!!

À quinta
o mais
mesquinho.
pelos lábios
contraídos
pela inveja
destrutiva

Furtivas
artimanhas
mal urdidas,
pelas teias
da aranha
venenosa...

Alma negra,
escabrosa!!!


In Graziela Melo, Crônicas, contos e poemas, pág. 125 – Fundação Astrojildo Pereira, 2008