sábado, 26 de junho de 2010

Reflexão do dia - Giulio Ferroni



" Poder-se-ia dizer que o conceito de intelectual orgânico é, ao mesmo tempo, atual e inatual. Atual pela lucidez com que Gramsci estendeu a categoria de intelectual, incluindo não só as figuras tradicionais (escritores, filósofos, artistas, etc.), mas abrangendo todas as figuras de técnicos e de mediadores do consenso e das formas de consciência e conhecimento sob títulos diversos (aqueles que hoje poderíamos chamar de operadores culturais). Inatual porque hoje não podemos mais falar de intelectuais que sejam orgânicos para uma classe ou um grupo de classes. Quando muito, há intelectuais funcionários que são orgânicos em relação ao sistema de comunicação e intelectuais “não orgânicos”, que resistem ao sistema global da comunicação, sem nenhum mandato social.


Bolchevique nos anos da revolução soviética e naqueles da fundação do Partido Comunista Italiano, Gramsci se afastou do bolchevismo no pensamento mais maduro dos Cadernos do cárcere, pensamento que também é animado por uma forte contraditoriedade e por uma grande tensão dramática. Quanto à concepção do “Moderno Príncipe”, os atuais partidos de esquerda, também aqueles que ainda pretendem ser “comunistas”, estão, com efeito, muito distantes disto. Na realidade, o atual “Moderno Príncipe” não é mais um partido ou o partido, mas é a televisão. "



(Giulio Ferroni, professor de literatura italiana da Universidade La Sapienza, de Roma, em entrevista publicada no site Gramsci e o Brasil, outubro de 2009)

Partidos em transição :: Marco Aurélio Nogueira

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Agora que a campanha presidencial ganha força e os candidatos começam a revelar seus recursos e ideias, pode ser útil dar algum destaque ao que está por trás e na base deles. Refiro-me aos partidos políticos, e especialmente ao PT e ao PSDB, as duas estruturas mais importantes em termos de quadros, bancadas parlamentares, experiência de governo e presença na História recente do País.

O cientista político Luiz Werneck Vianna tem observado, de forma recorrente, que esses dois partidos "paulistas", nascidos nas dobras da redemocratização para dar voz e representação a vários setores sociais impulsionados pela modernização, teriam vindo ao mundo com "um diagnóstico comum sobre o que seriam os males do país": o excesso de Estado, a "herança ibérica" e patrimonial, o autoritarismo político, as políticas de clientela, o burocratismo parasitário, os mecanismos de cooptação, em suma, tudo aquilo que bloqueava a movimentação da sociedade civil e a livre representação dos interesses.

No entanto, crescendo como estruturas independentes, passaram a ter de lutar pela conquista de espaços, recursos de poder e "territórios". Tornaram-se concorrentes, adversários. E o que poderia ter produzido uma vigorosa social-democracia no País acabou por desembocar no fortalecimento de dois partidos que detêm a hegemonia na política nacional, mas não conseguem mudar a face do Brasil nem melhorar a representação política dos setores que a eles se vincularam na origem. Com isso PT e PSDB deixaram de ser "expressões do moderno na política" e se entregaram ao trabalho de cortejar as forças do atraso político e social, para assim responderem ao "presidencialismo de coalizão" que prevaleceria no País. A diferença entre eles esmaeceu. Converteu-se em efeito colateral dos embates eleitorais.

Isso não quer, evidentemente, dizer que os dois partidos se tenham tornado iguais, nem que as distinções entre eles se resumam a detalhes banais ou pouco nobres. Muitas coisas importantes separam PT e PSDB: o estilo de governo, a relação com os setores organizados da sociedade, a maneira como concebem a questão da regulação do mercado. Isso para não mencionar suas ideias de desenvolvimento, distribuição de renda, redução da desigualdade e afirmação dos direitos de cidadania, que dão origem a políticas públicas distintas.

A interessante hipótese de Werneck Vianna vale tanto pelo que constata quanto pelo que sugere.

PT e PSDB perderam progressivamente a graça e a vitalidade. Acostumaram-se ao exercício do poder, assimilaram as implicações da globalização e do estabelecimento de um padrão mais "líquido", individualizado e veloz de vida social, ajustaram-se às novas maneiras de fazer política e disputar eleições. Deixaram-se envolver por uma rede de ressentimentos, mágoas e feridas recíprocas, que os mantém num conflito inflamado, mas pouco substantivo. "Civilizados" pela estabilidade democrática e pelos ritos e armadilhas do sistema político, foram se desconstruindo como partidos. Hoje estão à procura de um novo eixo. Não conseguem mais aparecer com cara própria, compatível com os ideais de esquerda ou centro-esquerda que professam.

Donde a sensação de que as disputas eleitorais transcorrem sem muita nitidez, como se expressassem mais do mesmo. Há concordâncias categóricas quanto ao que se considera "fundamental" - a estabilidade financeira, a responsabilidade fiscal, a necessidade de um novo ciclo de desenvolvimento. Como nada é aprofundado, fica difícil saber onde estão as diferenças.

PT e PSDB encontram-se em transição, obrigados a decifrar e traduzir uma sociedade complicada, num momento complicado do mundo. O cenário da política não lhes é propriamente favorável. Nem sequer está claro que tipo de partido pode cumprir uma função decisiva hoje.

Partidos políticos são entes que sempre disputam territórios e agem com os olhos na conquista de poder político. Partidos fortes e reformadores, como querem ser ambos, precisam ser pragmáticos e responsáveis, mas não podem abrir mão de postulações de identidade, ideais, valores e projetos de sociedade. Sem isso não têm como consubstanciar uma alternativa. Tornam-se iguais aos outros. Hoje, a disputa por território entre PT e PSDB é inevitável, mas também é vazia de ideias. Não chega a ser fisiológica, mas está perto.

Num debate que fizemos dias atrás pela internet (http://www.marcoanogueira.blogspot.com/), a cientista política Gisele Araújo observou corretamente que tudo o que se desconstrói também pode estar em reconstrução. Partidos são organismos em construção permanente, mas não são imortais. É provável que nossa época esteja desconstruindo os partidos para reconstruí-los como organismos especializados em arregimentar eleitores e conquistar governos. Pode ser que estejamos caminhando rumo a uma era de política menos ideológica, mais perfunctória e pragmática, que exigirá partidos mais frios e calculistas.

Mesmo que seja assim, PT e PSDB terão de realizar sua transição. Para onde caminharão? Há dois cenários no horizonte.

Um deles apontaria para o prolongamento da situação atual. Nele, PT e PSDB levariam ao extremo a adaptação às exigências da Realpolitik própria da "vida líquida". Continuaríamos a ter embates eleitorais inflamados, mas inócuos, demarcação de terreno sem maior substância, revezamentos continuístas e muita opacidade.

Outro cenário sugeriria o reforço daquilo que aproxima PT e PSDB. Ele significaria o deslanche de um movimento que culminaria na construção de um grande partido social-democrata com correntes internas dotadas de identidade suficiente para fomentar um embate partidário de qualidade e cavar novas trincheiras na sociedade.

Esse, porém, é um caminho árduo e complexo. Requer discernimento e desprendimento em doses elevadas, coisas improváveis quando se está em condição de hegemonia e sob os louros da vitória.


Professor titular de Teoria Política da UNESP.

Quem é o vice?:: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

De repente, quando ninguém queria ser o vice de José Serra, abre-se uma crise na coligação oposicionista justamente devido à disputa pelo posto. Os últimos dias foram gastos em reuniões infindáveis para analisar o que estaria acontecendo no Sudeste para permitir a ultrapassagem da candidata oficial logo na região onde a oposição tinha mais possibilidade de se impor ao governo.

As pesquisas recentes confirmavam que o país está dividido, desde a eleição de 2006, mesmo com a alta popularidade do presidente Lula, e que as questões regionais têm mais preponderância na escolha do voto que ideologias.

Toda a estratégia oposicionista está baseada em garantir as regiões “tucanas” e tentar reduzir a diferença nas dominadas pelo “lulismo”.

Na mais recente pesquisa do Ibope, em que surgiu pela primeira vez a candidata oficial, Dilma Rousseff, à frente de Serra, o candidato tucano melhorou no Nordeste (27% para 30%) e no Norte/ Centro Oeste (31% para 34%), cumprindo assim com sucesso a estratégia.

Mas caiu justamente nas duas regiões em que predomina o eleitorado “tucano”. No Sul, caiu de 46% para 42%, mas ainda lidera a disputa. E, no Sud e s t e , registrou se a maior reviravolta: Serra caiu 5 pontos, indo para 36%, e Dilma cresceu 4 pontos, alcançando um empate técnico.

Numa visão otimista, é melhor que essa mudança tenha se registrado em regiões onde o PSDB e aliados são fortes, pois indicaria que há condições de reverter esse processo.

U m processo , aliás , que teve início na ameaça de dissidência do Rio de Janeiro na chapa de Fernando Gabeira, com o PV e o PSDB reagindo a uma coligação com o DEM de Cesar Maia.

Por pouco a convenção para ratificar a candidatura de Gabeira não se realizou.

Por mais dificuldades que os parceiros tenham para caminharem juntos, é preciso fazer movimentos coordenados com os aliados, e não é isso o que está se vendo na escolha do vice.

O processo decisório começou com um equívoco político realmente sério, com a ideia de emplacar a vereadora Patrícia Amorim, do PSDB do Rio, c o m o c ompanheira de chapa de Serra.

Chegou a haver consultas sérias a respeito, e o melhor argumento a favor era o de que a vereadora, presidente do Flamengo, poderia levar para a candidatura um sopro popular no Rio de Janeiro, com reflexos em outros estados do país onde a torcida do Flamengo é grande.

Um argumento típico de quem está perdido na busca de um reforço em um dos estados da região Sudeste onde Serra perde terreno.

Apesar da pressa de alguns políticos imediatistas, que já cercavam a vereadora como se ela fosse a salvação da campanha, ao final de algumas consultas ficou claro que não era ali que estava a solução de uma questão política.

Já a escolha do senador Álvaro Dias, do PSDB do Paraná, tem a vantagem de consolidar a presença da oposição no Sul do país, garantindo a adesão do senador Osmar Dias, seu irmão.

Mas se esqueceram de combinar com os russos, como diria Garrincha.

O DEM, parceiro de primeira hora do PSDB, já se sente em condições de reivindicar posição de honra na coligação, digerida a crise do mensalão de Brasília.

O PSDB, e o próprio Serra, não pensam desse jeito, e gostariam de manter a coligação, com os preciosos três minutos de propaganda de rádio e televisão, mas sem ter que sair de mãos dadas com o partido que, temem, ainda está com a reputação abalada pelo escândalo.

Mas, como não é possível explicitar tais sentimentos, o PSDB esperava que o DEM ficasseem uma posição recatada nas discussões, acatando qualquer decisão que surgisse de um suposto “comando de campanha” do qual o presidente de honra do DEM, ex-senador Jorge Bornhausen, e o presidente, deputado Rodrigo Maia, fazem parte, mas de cujas reuniões, se é que aconteceram, não foram convidados a participar.

O resultado da fatídica pesquisa do Ibope deu forças ao DEM para reivindicar seu lugar na chapa, colocando na balança seus minutos de propaganda eleitoral.

A discussão não é feita em termos tão crus, embora seja isso mesmo o que está acontecendo.

Os dirigentes do Democratas consultados mostraramse unidos na recusa em abrir mão do cargo, a não ser que fosse para o ex-governador mineiro Aécio Neves, e alegaram temer não terem condições de controlar suas “bases” na convenção marcada para o dia 30, prazo derradeiro para a definição oficial da coligação.

No mesmo dia , por exemplo, as regionais de Sergipe e Pernambuco farão suas convenções, totalmente fora do controle na direção nacional, se não houver o compromisso de que o partido ficará com a vice-presidência.

O deputado Ronaldo Caiado, por exemplo, que apoia de má vontade o senador tucano Marconi Perilo em Goiás, está doido para romper a aliança.

Em todas as conversas, a impossibilidade de garantira realização da convenção nacional do partido a tempo de formalizar a aliança é colocada na mesa, travando a decisão final.

Que já tem no senador Álvaro Dias um vice convidado e que aceitou, e está sendo vetado por um dos grupos aliados. Para quem não tinha vice nenhum, até que a confusão está de bom tamanho.

A chapa pura:: Fernando Rodrigues

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - O PSDB quer disputar o Planalto com dois tucanos como candidatos a presidente e a vice: José Serra e Álvaro Dias. Essa chapa puro-sangue remete a uma discussão paralela: a nova configuração dos partidos pós-era Lula.

O PT há muito tempo abandonou o carreira solo em eleições. Lula venceu em 2002 em grande parte após promover uma dobradinha com o megaempresário José Alencar, à época abrigado no PL.

O tucano Fernando Henrique Cardoso alavancou sua vitória em 1994 com a ajuda do PFL (hoje DEM). A vaga de vice coube ao pernambucano Marco Maciel.

Num país com 27 partidos, é difícil vingar um projeto nacional sem compartilhamento de poder. Embora irrelevantes na vida real, muitas das 27 agremiações têm peso no establishment político: todas beliscam um naco do fundo partidário (R$ 200 milhões anuais) e têm horário garantido na TV e no rádio.

Se o PSDB for bem-sucedido com a chapa José Serra e Álvaro Dias, protagonizará um formato inédito de ganhar a Presidência da República. Poderá surgir talvez um partido social-democrata mais coeso. Mas, se o projeto fracassar, tucanos e oposição de centro-direita em geral entrarão esfarrapados em 2011. Uma coisa é perder a eleição de forma unida. Outra, bem diferente, é entrar na disputa já de maneira fragmentada, rachada.

Nesse cenário negativo para o PSDB, o partido emergirá mais fragilizado do que em 2002, quando Serra perdeu a eleição presidencial para Lula. Eterna linha auxiliar dos tucanos, o Democratas definhará. O PTB e outras siglas do sistema solar anti-PT dependerão de cargos em governos estaduais amigos.

Do outro lado do muro, se for vencedor, o consórcio PT-PMDB ampliará a política tradicional do fisiologismo no Congresso. Tudo considerado, a configuração partidária pós-Lula parece ser muito semelhante à atual -ou pior.

Mariene de Castro participa do DVD de Beth Carvalho

Álvaro Dias é escolhido vice de Serra e irrita DEM

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Após longo impasse, PSDB anuncia tucano para a chapa presidencial, mas principal aliado faz ameaça

O PSDB anunciou, ontem, após longo impasse, a indicação do senador tucano Álvaro Dias (PR) para vice na chapa de José Serra à Presidência, ainda sob o impacto da pesquisa CNI/Ibope que mostrou a candidatura do partido em queda. Dirigentes do PSDB consideram a indicação de Dias "irreversível", apesar de o principal aliado dos tucanos, o DEM, recusar a chapa puro-sangue e insistir em ocupar o posto - Rodrigo Maia, presidente do DEM, disse que os tucanos têm até o dia 30, data da convenção dos democratas, para mudar de ideia. Já o PPS e o PTB aprovaram a decisão. A escolha tucana foi uma solução política para evitar que um curto-circuito no Paraná ameace sua liderança na única região em que bate a petista Dilma Rousseff. Com isso, o PSDB abandonou a possibilidade de escalar Patrícia Amorim, presidente do Flamengo, que seria uma novidade de apelo popular.

PSDB indica Álvaro Dias como vice de Serra e enfrenta resistência do DEM

Escolha do nome do senador tucano é considerado irreversível pelos dirigentes do partido apesar de o deputado Rodrigo Maia (RJ) ter reagido de maneira negativa ao saber da notícia; para ele, decisão tucana deve sair até a convenção democrata, no dia 30

Christiane Samarco e Ana Paula Scinocca

BRASÍLIA - O PSDB escolheu o senador tucano Álvaro Dias (PR) para vice na chapa do presidenciável José Serra, ainda sob impacto do resultado da pesquisa CNI/Ibope que mostrou a candidatura do partido em queda. Dirigentes do partido consideram a indicação "irreversível", apesar de o principal aliado, o DEM, recusar a chapa puro-sangue e insistir em ocupar o posto.

Entre uma novidade com apelo popular e uma solução política para evitar que um curto-circuito no Paraná ameace sua liderança na única região em que bate a petista Dilma Rousseff, Serra ficou com a opção pragmática de vice. Foi assim que a cúpula tucana trocou a presidente do Flamengo, Patrícia Amorim, por Dias. Patrícia é também vereadora no Rio de Janeiro pelo PSDB.

Os estrategistas da campanha avaliaram que Serra precisa manter, a qualquer custo, a liderança no Sul, sob pena de passar a imagem de candidato em declínio. O que seria uma opção converteu-se em necessidade de consolidar os votos na região Sul, evitando qualquer "marola" política no Paraná. "Essa movimentação isola o PT no Estado e pode dar ao partido a maior vitória proporcional de Serra em todo o Brasil", justificou o deputado Jutahy Júnior (PSDB-BA), um dos articuladores da escolha.

Dias na vice significa afastar de vez a possibilidade de o irmão dele, senador Osmar Dias (PDT), dar um palanque forte a Dilma no Estado, saindo candidato a governador em aliança com o PT. Também serve de argumento a Osmar junto à direção nacional do PDT. Como seu partido decidiu pelo apoio à candidatura de Dilma, só uma boa justificativa pode render a liberação para apoiar o tucano Beto Richa na corrida estadual.

Serra bateu o martelo na escolha de seu vice ontem de manhã, encarregando o presidente nacional do PSDB e coordenador da campanha, senador Sérgio Guerra (PE), e seu amigo Jutahy de dar a notícia a Dias e aos aliados. O senador já estava na capital paulista desde cedo. Fora avisado na véspera de que poderia ser chamado por Serra, a qualquer momento.

Guerra fez questão de ir ao Rio comunicar o presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), da opção por Dias. "O nome que temos é este", avisou. A conversa foi tensa e não houve acordo. "Se querem um acordo no Paraná, o PSDB que se sacrifique, abra mão da candidatura de Beto Richa ao governo e apoie Osmar Dias. Não podem pedir para o DEM abrir mão. Entreguem o braço deles, e não o meu", disse Rodrigo Maia.

Ele fincou o pé na decisão do DEM de indicar o vice e disse que os tucanos têm até o dia 30, data da convenção do partido aliado, para decidir. É na convenção que a coligação com o PSDB terá de ser aprovada para dar mais três minutos de TV a Serra, ao longo dos 45 dias de programa eleitoral gratuito.

Já as consultas ao PPS de Roberto Freire e ao PTB de Roberto Jefferson foram bem sucedidas. "Acho uma excelente escolha", afirmou Jefferson. Avisou também que, se Rodrigo Maia insistir no critério partidário para a escolha do vice, o PTB vai pleitear o posto. "Acho que temos melhores condições públicas de fazer a indicação porque o episódio do Arruda (o ex-governador do DF José Roberto Arruda) está muito recente", disse, sugerindo o nome do ex-deputado Benito Gama (BA). Jefferson entende que Dias pode resolver o problema no Paraná e influir em toda a região, consolidando os votos no Sul.


'Se o DEM tiver que sair, saio eu', diz Dias

DEU EM O GLOBO

Anselmo Carvalho Pinto

Especial para O GLOBO CUIABÁ.

O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) afirmou ontem, em visita à capital de Mato Grosso, que o convite para ser vice na chapa encabeçada pelo tucano José Serra na disputa presidencial foi uma “convocação irrecusável”.

Ressaltou, no entanto, que a confirmação oficial de seu nome como vice depende da concordância do DEM, partido que esperava ter a prerrogativa de indicar o nome para a chapa. Perguntado se sua efetivação como vice não poderia provocar a saída do DEM do arco de alianças, Dias afirmou que essa possibilidade é nula.

— Não há nenhum risco. Se o DEM tiver que sair, saio eu. Estamos a favor do Brasil. É responsabilidade da oposição oferecer uma alternativa inteligente de poder ao país. Não podemos abrir mão desta responsabilidade — disse.

Apesar de dizer que ainda falta a concordância do DEM, Dias já falava como candidato.

— Fui convocado para ser o vice de Serra. E a convocação é irrecusável . Para contribuir, não vou fugir a esta responsabilidade.

Aceito, sim, obviamente. É uma honra ser vice do Serra, pelo seu talento, pela sua competência política e pela sua capacidade administrativa.

O senador afirmou ainda que se José Serra fizer um apelo pela unidade em torno do projeto da oposição, “certamente os democratas apoiarão”.

Álvaro Dias contou que conversou com o irmão, Osmar Dias (PDT-PR), com quem o PT contava para se lançar candidato no Paraná e abrir um palanque para a presidenciável Dilma Rousseff no estado: — Conversei com o Osmar, que me deu força, e me disse que não eu não tinha como não aceitar uma convocação dessa, que para o estado é importante. O fato de sermos irmãos é um estímulo para estarmos juntos.

Vaivém em torno de Aécio travou definição

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

A escolha do candidato a vice na chapa do tucano José Serra se arrasta desde muito antes da oficialização de sua candidatura à Presidência. O maior entrave foi o vaivém, desde o ano passado, em torno da tentativa de convencer o ex-governador de Minas Aécio Neves a aceitar a missão. Vice dos sonhos do PSDB, do próprio Serra e dos partidos aliados, o ex-governador resistiu até o fim e não embarcou no projeto da chapa tucana puro-sangue. Aécio alegou ser mais útil para projeto de eleger Serra como candidato a uma vaga no Senado.

Sem o ex-governador de Minas em jogo, o DEM - tradicional aliado dos tucanos - voltou a reivindicar o posto. E resiste à ideia de chapa tucana pura. Ofereceu os nomes do deputado José Carlos Aleluia (BA) e dos senadores José Agripino Maia (RN) e Kátia Abreu (TO). Ante a cogitação do nome da presidente do Flamengo, Patrícia Amorim, contrapôs o da vice-presidente do partido, Valéria Pires Franco.

Senador já foi acusado de traição e expulso do partido

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Depois de ter assinado a CPI da Corrupção no governo FHC, Álvaro Dias saiu do PSDB e apoiou Lula na eleição de 2002

Christiane Samarco e Ana Paula Scinocca

BRASÍLIA - O nome que a cúpula do PSDB e o candidato a presidente José Serra querem ver na chapa tucana já foi expulso do partido e votou contra Serra em 2002. Acusado de traição pelo tucanato por ter assinado a CPI da Corrupção no governo Fernando Henrique Cardoso, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) foi posto porta a fora do PSDB e ficou com o candidato vencedor, Luiz Inácio Lula da Silva.

Mas tudo isso é passado, repetem, em coro, os tucanos que hoje defendem a escolha de Dias como salvação do partido no Paraná, imprescindível para consolidar o avanço de Serra na região.

Quanto às críticas do DEM, os tucanos rebatem dizendo que, em 2002, o então PFL também ficou contra Serra. Apoiou Ciro Gomes no primeiro turno e, depois, fatia expressiva do partido também acabou aderindo a Lula.

A operação política da escolha de Álvaro Dias foi feita para atrair outro tucano expulso da legenda no passado: seu irmão e senador, Osmar Dias, também assinou pedido de CPI e deixou o PSDB. Como Álvaro, foi para o PDT. A diferença é que o vice voltou ao ninho e Osmar não.

O irmão caçula venceu a eleição para o Senado, pelo PDT. Álvaro preferiu concorrer ao governo do Paraná e foi derrotado por Roberto Requião, do PMDB. Sem mandato, tentou obter do aliado e presidente Lula a indicação para ser embaixador do Brasil na Espanha. Não conseguiu e, assim, acabou retornando à oposição e ao PSDB em 2003.

De volta ao Senado pelo PSDB em 2006, Dias foi líder da minoria de oposição e retomou um posto na direção partidária, como um dos vice-presidentes da legenda. Seu nome entrou na lista dos mais cotados para vice há cerca de dois meses. O senador paranaense foi lembrado pelo próprio presidente do PSDB, que tinha uma "dívida" com ele.

Em fevereiro, Guerra tinha dado sua palavra a Dias de que ele seria o novo líder do PSDB no Senado.

Diante da resistência do líder Arthur Virgílio (AM) em liberar a cadeira, que ocupa há 14 anos, ao colega de partido, Guerra adiou a promessa para maio. Nem assim conseguiu liberar o posto para ele. "Vamos resolver isso. Tenha calma. No final tudo vai se resolver", contemporizou Guerra. Virgílio continua líder, mas Álvaro Dias ganhou a vice de Serra e não tem nada a perder. Na pior hipótese, continuará senador por mais quatro anos.

PSDB dá a Álvaro Dias missão de 'virar votos'

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Luciana Nunes Leal

Na noite de quinta-feira, José Serra foi ao aniversário da filha, Verônica, na casa dela, no Morumbi. Àquela altura, o nome de Álvaro Dias estava amadurecido como candidato a vice e a missão do presidente do PSDB, Sérgio Guerra (foto), era conversar com os presidentes dos partidos aliados. "Era preciso bater o bolo onde tem fermento. Álvaro tem potencial instantâneo de virar pelo menos 500 mil votos", calcula um aliado que defendia a escolha do paranaense, em vez de uma mulher, para fazer frente a Dilma Rousseff e Marina Silva. Para o tucano, era arriscado lançar uma candidata com pouca consistência eleitoral ou de um Estado pouco expressivo. Depois de optarem por Álvaro Dias, os tucanos contavam com a reação inconformada do DEM e com a concordância do PTB e do PPS. Só não previam a indiscrição de Roberto Jefferson, que anunciou a escolha no Twitter.

Reação tucana contra prefeitos rebeldes

Dirigentes do PSDB em vários Estados estão encarregados de enquadrar prefeitos e outras lideranças municipais, na tentativa de evitar que, na prática, façam campanha para Dilma Rousseff, embora declarem apoio a José Serra. Há uma avaliação de que a vantagem de Dilma na última pesquisa Ibope já é consequência de uma debandada de prefeitos que vem acontecendo nos últimos meses. Em Estados como Rio de Janeiro e Minas Gerais, prefeitos do PSDB e do DEM argumentam que não têm como pedir votos contra o presidente Lula, depois de terem sido beneficiados por ações do governo federal. No Rio, governantes de partidos oposicionistas também trabalham pela reeleição do governador Sérgio Cabral (PMDB) e não embarcarão na campanha de Fernando Gabeira (PV), aliado de PSDB, DEM e PPS.

Cenários opostos para dois aliados

Uma situação curiosa acontece na eleição capixaba. Pesquisa do instituto Enquet (registro 10655/2010 no TSE) feita em maio, com 1.400 entrevistas, mostrou o candidato do PSDB ao governo, Luiz Paulo Vellozo Lucas, 40 pontos atrás do adversário do PSB, Renato Casagrande, enquanto José Serra estava 10 pontos à frente de Dilma Rousseff. "Hoje, o Serra me ajuda mais do que eu o ajudo", reconhece Vellozo Lucas.

Dilma não vai à festa do PMDB

José Serra estará hoje na convenção nacional do PPS que vai formalizar a coligação com PSDB. Já Dilma Rousseff não é esperada na convenção estadual do PMDB que lançará o governador Sérgio Cabral candidato à reeleição, amanhã. A petista vai ao lançamento da candidatura de Jaques Wagner (PT) na Bahia. Depois de prestigiar o peemedebista Geddel Vieira Lima, a candidata não poderia faltar à festa de seu partido.

Lula e Dilma: o voto e a copa :: Villas-Bôas Corrêa

DEU NO JORNAL DO BRASIL

Espremido entre a campanha por ele antecipada em desobediência aos prazos da lei, com a penca de multas do Superior Tribunal Eleitoral e a ansiedade do peladeiro, corintiano fanático em São Paulo e mais discreto vascaíno no Rio, o presidente Lula desta vez acertou na moita ao optar entre o voto e a Copa do Mundo pelo seu dever ético de visitar as áreas atingidas pelas chuvas que causaram mais de 50 mortes em Pernambuco e Alagoas e anunciou a liberação imediata de R$ 550 milhões para os dois estados.

Além das visitas a Palmares (PE) e Rio Largo (AL), cidades devastadas pelas enchentes, com mais de 150 mil desabrigados, Lula estimulou os governadores e autoridades estaduais a não medirem esforços e gastos para atender às vítimas da tragédia.

E num apelo que veio a calhar e soa com a sinceridade de uma autocrítica, advertiu aos governadores e prefeitos que não permitam o uso político do dinheiro já depositado para os dois estados.

Pela primeira vez, por uma desafinação imprevista, Lula e a candidata Dilma Rousseff bateram de frente na contradição. Enquanto o presidente caminhou pelas ruas enlameadas de Palmares, sujando os sapatos e as meias, a ministra-candidata cumpria o ameno programa de uma visita a Aracaju e baixou o nível do debate para acusar como responsáveis pela calamidade “os governos dos últimos 20 anos, pois não havia governo para 100% da população, mas apenas para um terço, e é esta camada mais pobre que sofre as consequências”.

A ministra esqueceu de conferir as datas, para descontar dos últimos 20 anos os sete anos e meio dos dois mandatos do presidente Lula. E que não deve utilizar o pretexto para cancelar a visita às outras áreas devastadas pela chuvarada que ainda maltrata populações que não têm mais o que perder, além da vida.

Desconfio, com as boas razões do seu entusiasmo pelo futebol, que o presidente acompanha a Seleção de Dunga desde a confirmação da sua escolha para técnico. E que muito na moita cultiva o sonho de uma viagem à África do Sul para assistir a uma final com a participação do Brasil na decisão do sonhado Hexacampeonato.

E não desanimar com a medíocre exibição da Seleção capenga e com ausências que a desfiguraram.

Sem Kaká, suspenso por um jogo e sem Ronaldinho Gaúcho, que não foi convocado, a Seleção de Dunga ficou perdida em campo. Mas disputará o título completa, com Kaká nas quatro partidas das oitavas de final, das quartas de final, nas semifinais e a final em 10 de julho, no estádio de Port Elizabeth.

PS Fica para a próxima o comentário sobre a Jabulani e as pesquisas científicas sobre a sua aerodinâmica pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) de São Paulo e também pela Nasa, publicadas ontem pelo JB

Tempo de TV e eleições:: Cesar Maia

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

A formação das coligações partidárias no Brasil para as eleições presidenciais é muito mais um processo de conquista de tempo de TV que de agregação política. Dias atrás, até o uso de tempo de TV do Senado foi motivo de atritos. Na verdade, uma questão inócua.

Realmente, o tempo de TV no auge do marketing político, até dez anos atrás, era um fator diferenciador pelo impacto que produzia. Vide os EUA, onde o tempo de comerciais na TV é comprado e, portanto, ilimitado. Os pontos eram o conteúdo e o efeito que produzia sobre o eleitor.

No Brasil, onde o tempo de TV é proporcional à quantidade de deputados federais, alguns partidos têm mais tempo que outros. E isso acirra a disputa por esse tempo.

Com as restrições dadas pelo regime militar, a introdução de tecnologia eleitoral na TV atrasou mais de 20 anos. A abertura do dique trouxe, ao mesmo tempo, essa tecnologia desenvolvida nos EUA e uma enorme atratividade para o eleitor. O tempo de TV ganhou importância, e vitórias eleitorais eram atribuídas aos publicitários (chamados marqueteiros), que passaram a ser estrelas nas eleições.

Mas a continuidade do uso da TV em propagandas partidárias e eleitorais foi acostumando o eleitor, e o desgaste progressivo dos políticos pós-democratização foi gerando desinteresse e menor impacto.

Nos últimos cinco anos, esse menor impacto dos comerciais políticos passou a ser percebido e analisado. Na eleição de 2008 nos EUA, este foi um fato comprovado, a ponto de a vitória de Obama receber um exagerado destaque pelo uso de redes na internet.

Com a minimização da emoção pela TV, surgem psicólogos sociais que oferecem técnicas de emocionalizar a comunicação política, com ou sem TV. No Brasil, o menor impacto da TV a partir da eleição de 2006 ficou claro para os analistas atentos. Claro que os publicitários continuaram a insistir que depende da técnica e que não é bem assim. Afinal, é um mercado generoso. O uso da TV em campanhas passa a ser muito mais um elemento de informação geral que de mobilização. E, nesse sentido, a técnica continua importante. Claro que a técnica exclui os que não usam a definição de imagem adequada e os que comunicam de forma simplória.

No Brasil, um tempo de TV para presidente abaixo de dois minutos elimina o candidato por falta de exposição e informação. Acima de cinco minutos é inócuo e não agrega quase nada, mas pode servir para não dar fôlego aos menores.

Nos comerciais, melhor ainda para quem tem mais, pois elimina os com pouco tempo, por um ou dois dias por semana. No programa, a vantagem é zero: todos os demais juntos terão sempre muito mais tempo para distrair o eleitor.

Fé e política:: Míriam Leitão

DEU EM O GLOBO

Na entrevista que fiz esta semana com Marina Silva não perguntei de religião. Foi proposital. Ao me preparar para a entrevista, me dei conta de que já entrevistei muitos candidatos à Presidência, nas últimas cinco eleições, e nunca perguntei a qualquer dos candidatos se, de alguma forma, suas convicções religiosas seriam parte do programa de governo. E eles tinham religião.

As perguntas sobre a religião evangélica de Marina Silva aparecem de várias formas, são recorrentes, todas revelam o mesmo temor: o de que ela imponha ao país, caso eleita, suas crenças religiosas através do currículo escolar ou padrões de comportamento. Um temor que mais parece preconceito. Primeiro, ela não tem esse perfil autoritário, aliás é uma pessoa pública que marcou sua vida pelo diálogo. Segundo, e mais importante, nós temos uma democracia forte, vibrante, capaz de reagir a quaisquer tentativas de cerceamento da liberdade individual. Vejase a tentativa do governo Lula de impor o controle da imprensa, em 2003, através de uma agência de audiovisual e de um conselho de jornalistas. Não deu certo. Em outros países latino-americanos, os governantes foram bem mais sucedidos.

Ninguém pergunta a um candidato católico se ele vai proibir a pílula, exigir que os brasileiros não usem métodos contraceptivos, apesar de isso ser uma orientação do Vaticano para as famílias. Não teria cabimento essa pergunta, porque é claro que o candidato, se eleito, nem tentaria uma barbaridade dessas, e se tentasse, as famílias ignorariam.

Mas à Marina a pergunta se ela implantaria políticas públicas baseadas na visão da igreja que frequenta aparece insistentemente.

O Brasil é um país laico e assim continuará. Marina está sendo vítima de erros de alguns políticos evangélicos que têm tentado transformar púlpito em palanque, o que é detestável da perspectiva religiosa e uma ameaça à qualidade da democracia.

Fé e política são questões que devem estar separadas. Apesar disso, os candidatos em campanha sempre vão a eventos religiosos, de diversas confissões, num chamado indireto aos fiéis. Se visitar diversos cultos for uma demonstração de tolerância religiosa, é excelente; se for uma tentativa de manipular a escolha do eleitor religioso, é um retrocesso.

A grande questão é: por que Marina é crivada de perguntas sobre sua fé e não há a mesma ilação sobre o risco de transposição das doutrinas religiosas para as políticas públicas quando o candidato é da religião dominante no país? Aos outros, basta responder afirmativamente à pergunta clássica se acredita em Deus.

E nisso aí, há uma hipocrisia: só se aceita como boa a resposta positiva, como se o Brasil não pudesse ser governado por um agnóstico.

A imprensa brasileira lida de forma mais civilizada com questões da vida pessoal do que a imprensa de outros países.

Há na americana uma obsessão puritana por saber quem tem ou teve amante; quem traiu ou não o cônjuge.

Isso é tão definitivo que uma infidelidade conjugal pode acabar com a candidatura.

A imprensa brasileira só dá atenção a casos pessoais quando eles envolvem questões públicas.

Um exemplo, o caso do senador Renan Calheiros.

A pauta não era se o então presidente do Senado tinha uma filha fora do casamento, mas o fato de que as contas da mãe da filha eram pagas no escritório de uma empreiteira.

Temos sabido distinguir entre fatos da vida pessoal que pertencem à privacidade do candidato, daqueles fatos que se transformam em questões públicas. Já a imprensa americana tem compulsão por investigar a vida dos candidatos atrás de amantes pretéritas e presentes.

Mas não temos passado bem no teste da escolha religiosa, se ela for qualquer uma que não a católica. O que é preciso, de novo, é fazer a distinção entre o que é assunto público do que pertence especificamente à pessoa do candidato.

A questão do ensino do criacionismo apareceu como um assunto público.

A “Veja” perguntou a ela, em setembro do ano passado, se o criacionismo deveria ser ensinado nas escolas. Ela garantiu que jamais defendeu a ideia de criacionismo como matéria obrigatória. Explicou que a confusão surgiu porque, numa palestra num colégio adventista, diante de uma pergunta se o criacionismo poderia ser ensinado na escola, ela respondeu “desde que ensinem também o evolucionismo.” A pergunta continuou sendo feita em cada entrevista.

Eu particularmente acho que as religiões têm o direito de ensinar, em seus recintos, as suas crenças sobre a origem da vida e do aparecimento do ser humano no Planeta. Mas isso deve ficar restrito ao ambiente religioso. Nas escolas, o que se ensina é ciência. As bíblias católica e protestante, a Torá, o Corão, e outros textos religiosos têm a mesma explicação de um força superior criadora da vida. Se é assim geral, por que só à Marina essa pergunta é feita? Me perguntei tudo isso ao me preparar para entrevistar Marina Silva e decidi que esse tema não estaria entre os que abordaria.

Senti que só poderia fazer para ela perguntas sobre o risco de políticas públicas inspiradas em sua fé se tivesse feito as mesmas perguntas aos outros candidatos, de outras denominações religiosas, que tenho entrevistado em todas as eleições. Não tendo feito a eles, não fiz a ela.

Doente, ex-governador ainda dirige PSDB do Rio

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Mesmo preso à cadeira de rodas, Alencar costurou a aliança com Gabeira

Bernardo Mello Franco de São Paulo

Presidente de honra do PSDB do Rio, o ex-governador Marcello Alencar, 84, não disputa uma eleição há 16 anos. Há oito está preso à cadeira de rodas, sequela de um acidente vascular cerebral que quase o matou.

Apesar da saúde debilitada, ele é o principal responsável pela aliança que livrou o tucano José Serra de ficar sem palanque no terceiro colégio eleitoral do país.

A pedido do presidenciável, Alencar costurou pessoalmente o lançamento de Fernando Gabeira (PV) ao governo fluminense, num delicado palanque duplo com a verde Marina Silva.

A chapa foi definida na sala de estar de seu apartamento, com ampla vista para a praia de São Conrado.

Na semana passada, em meio a uma crise que ameaçava implodir a coalizão, o ex-governador voltou ao circuito para garantir a palavra firmada por quatro partidos.

Como de hábito, sua intervenção quase não foi notada.

Desde que deixou o front eleitoral, ele mantém o mesmo estilo: praticamente não aparece, mas manda como poucos caciques brasileiros.

"Tenho que ter sempre a última palavra. Para ser obedecido ou desobedecido", sentencia o ex-governador.

Alencar assumiu o diretório estadual do PSDB em 1993, quando rompeu com Leonel Brizola (PDT).

Comanda o partido como um Estado absolutista. Os aliados são unânimes: nada é feito sem seu consentimento.

"Na minha idade, acho que não devia me meter em política. Mas não dá", diz ele, lembrando os atropelos da aliança fluminense. "Para não mentir, eu gosto..."

DISSIDENTES

Como no brizolismo, quem ousa desobedecer é convidado a deixar o partido. A lista inclui o governador Sérgio Cabral e o prefeito Eduardo Paes. Alencar não gosta de falar no assunto. "Meu filho, isso é muito penoso..."

Quem aceita obedecer é brindado por um misto de proteção e rispidez.

No dia em que o ex-governador recebeu a Folha, o deputado Otavio Leite (PSDB-RJ) ouviu uma bronca num ato partidário: "Porra, mas tu sempre chega atrasado!".

Herdeiro do populismo da Baixada Fluminense, o prefeito de Duque de Caixas, José Camilo Zito, chegou a abandonar a legenda.

Foi perdoado. "Ele só me chama de paizão. Na rua, me beija escandalosamente", diverte-se Alencar: "O Rio é um Estado de nariz em pé. Eu gosto do Zito, ele dá uma liga entre o partido e o povão".

Na véspera da entrevista, o ex-governador havia almoçado com Serra, que declarou que o Rio precisava de "um novo Marcello".

"Talvez ele tenha dito isso porque sabe que eu tô na bola sete, na boca da caçapa", debocha o ex-governador: "Quando acabou o discurso, todos os puxa-sacos oficiais vieram atrás de mim".

O escracho volta com um assunto proibido para a maioria dos políticos: o gosto pela bebida, que fez a alegria dos chargistas nos anos 90.

"Eu chegava na zona oeste, e o povo dizia: "Paga uma branquinha pra gente, governador". Aí não tinha jeito, eu tinha que beber", explica-se. "Me chamavam de Velho Barreiro, mas era injustiça, porque nunca fui viciado em nada", diz, sem demonstrar incômodo com o apelido.

O tema também pontua sua avaliação sobre o presidente. "Eu sei que o Lula gosta do que é bom. Trocou a cachaça pelo uísque..."

Na juventude, uísque e cigarro eram "companheiros de guerrilha" do advogado que defendia presos políticos. Fumou até cinco maços por dia, mas parou. O álcool segue em doses moderadas.

Ao comentar a última descoberta, Alencar exibe a empolgação de um estreante na política. Descreve Gabeira, de 69 anos, como "um jovem muito talentoso, com propostas para o futuro".

"O Gabeira está muito mais próximo de nós do que do PV", orgulha-se. "Ele já é um tucano de bico largo!"

País maravilha: Vítimas da chuva no NE disputam lixo

DEU EM O GLOBO

Desabrigados de Barreiros, em Pernambuco, se instalaram nas margens das rodovias e, no meio da lama podre, disputam comida e destroços.

Restos viram alimentos, e escombros, barracos

Às margens de rodovia estadual, vítimas das chuvas no interior de Pernambuco reviram montes de destroços

Letícia Lins

BARREIROS (PE). Mais de uma semana após o começo das chuvas e um dia após a visita do presidente Lula à região devastada em Pernambuco, um batalhão de desabrigados ocupava ontem as margens das rodovias para matar a fome, a sede e tentar refazer suas vidas.

Entre os escombros cobertos de lama podre, no meio do lixo, procuravam comida, separavam colchões e lençóis e até pedaços de madeira para reconstruir seus barracos.

Terreno às margens de rodovia torna-se lixão Um dos terrenos laterais da rodovia estadual PE-060 transformouse num lixão, onde estão sendo despejados escombros que sobraram da enchente do Rio Una, que cobriu a cidade de Barreiros, a 110 quilômetros da capital. Enfrentando o mau cheiro, sem luvas e quase sempre descalços, adultos e crianças disputavam os destroços atirados pelas caçambas.

— Estou procurando um taquinho de tábua para ver se ajeito um barraquinho. Desde segunda-feira procuro os pedaços no meio dessa lama, para ver se faço uma casinha para minha filha. Ela perdeu tudo na cheia e agora não tem onde morar com os três filhos — contou o desempregado José Amaro de Souza.Ao seu lado, Maria José da Silva, com três dos oito filhos, conseguiu achar roupas, colchão, dois travesseiros e um pacote de biscoitos. Tudo coberto de massa negra e fedorenta.

— O biscoito estava embrulhado, dá para comer. O resto a gente lava, dá para aproveitar — disse Maria José.

Maria Lourdes Ferreira, de 35 anos, acreditava que conseguiria fazer alguns trocados com o que tirava das montanhas cinzentas: — Minha casa valia R$ 8 mil, mas dela só ficou a terra. Perdi todos os móveis. Estou procurando plástico, alumínio, qualquer coisa que possa vender.

Não tenho mais nem documento.

— afirmou Lourdes, que, como Maria José, morava num bairro totalmente inundado.

Centenas de pessoas encontramse ao relento às margens da PE-60, perto da ponte sobre o Rio Una que dá acesso ao Centro de Barreiros. Até ontem, tinham recebido apenas água e pães com mortadela. Alguns se acomodaram num imóvel próximo à sede de uma usina, e outros improvisaram barracas de lona. Um bebê de um mês só contava com um estoque de 200 gramas de leite.

Depois de perder a casa, Maria José Alves da Silva mora sob uma barraca, cujas paredes são a carroceria abandonada de um caminhão, com seus quatro filhos, inclusive um bebê de um mês. A mobília se resume a uma cama, uma cadeira e um fogão de duas bocas.

— Meu mesmo, aqui, só tem o botijão de gás. O resto é emprestado — disse ela.

Arranjar comida é “uma guerra”, diz desabrigada Zorilda Oliveira da Silva, de 48 anos, andava na sexta-feira com um saco plástico amarrado no pescoço.

— Foi a herança que a enchente deixou, esse saco com meus documentos.

Do outro lado da rodovia, sob uma lona negra, cinco famílias aguardavam por doações.

Maria de Fátima da Silva, de 39 anos, contou tem sido “uma guerra” arranjar comida: — Quando chega alguma coisa avançam em cima. .

Perto dali, Cícera Maria da Silva, de 54 anos, com uma vassoura, lavava o chão de cerâmica dos quartos e terraço daquilo que ela provavelmente sonhava ainda ser uma casa.

Das paredes, só restou metade.

Parte de portas e janelas foi levada pela correnteza.

O número de municípios atingidos pelas enchentes subiu para 67, segundo a Comissão de defesa Civil de Pernambuco.

Destes, 29 encontram-se em situação de emergência e nove em calamidade, com decreto homologado pelo Governador Eduardo Campos (PSB).

Entre eles, encontram-se Barreiros, Água Preta e Palmares, visitada na quinta-feira por Lula.

Entre desabrigados e desalojados, o estado soma 83.912 pessoas. O número de mortos permanece 17. O número de casas derrubadas é de 11.748, com 4.334 quilômetros de rodovias danificadas, e 10 mil quilômetros de estradas vicinais destruídas. As pontes que ruíram já são 132, segundo o governo do estado.

Obama 1 x 0 Wall Street

DEU EM O GLOBO

Parlamentares americanos fecham acordo para maior reforma de bancos desde os anos 1930

Do New York Times*

WASHINGTON - Depois de uma maratona de mais de 20 horas de negociações, um comitê formado por senadores e deputados americanos fecharam, às 5h39m de ontem, um acordo para uma reforma histórica do sistema financeiro dos Estados Unidos, que há cerca de dois anos esteve à beira de um colapso. O presidente Barack Obama afirmou que o Congresso está agora pronto para aprovar as maiores mudanças no setor financeiro desde a Grande Depressão, nos anos 1930. O acordo foi visto como uma vitória de Obama: segundo o próprio presidente, o texto mantém 90% da proposta original.

— Todos vimos o que acontece quando há supervisão inadequada e pouca transparência em Wall Street — disse Obama, referindo-se à crise iniciada em 2008. — As reformas que estão no Congresso tornarão Wall Street responsável, para que possamos ajudar a evitar outra crise financeira.

Após votação, presidente deve assinar lei até 4 de julho Os representantes da Câmara no comitê que fechou o acordo aprovaram a proposta por 20 votos contra 11. Entre os senadores, o placar foi de sete a cinco. Eles queriam fechar uma proposta antes que Obama partisse para a reunião do G-20 (grupo das principais economias), em Toronto.

O texto muda as regras de Wall Street, o que afetará os lucros da indústria financeira, além de submetêla a uma supervisão mais rígida. O texto ainda precisa ser aprovado na Câmara e no Senado antes de ir à sanção de Obama, o que deve movimentar os lobistas de Wall Street. A votação deve ocorrer semana que vem. Mas esperase que o trâmite seja rápido e que Obama assine a lei até 4 de julho.

As medidas incluem a criação de uma agência de proteção ao consumidor financeiro, separação das operações com derivativos (que tiveram forte papel na crise) e regras mais rígidas para concessão de hipotecas e cartões de crédito, entre outras.

Um dos pontos polêmicos foi a chamada Lei Volcker — do ex-presidente do Federal Reserve (o banco central americano) Paul Volcker —, que propõe restringir as possibilidades para que os bancos façam operações financeiras com seus próprios recursos.

Essa é considerada uma das atividades mais lucrativas de Wall Street.

— Um dos objetivos desses limites é reduzir a participação (dos bancos) em atividades de risco, que possam causar perdas significativas em instituições essenciais para o sistema financeiro — disse o senador Christopher Dodd, do Partido Democrata.

— Acreditamos ter feito algo que era necessário há muito tempo.

Os democratas lideraram os protestos públicos contra Wall Street, que distribuía polpudos bônus entre si enquanto os cidadãos comuns enfrentavam uma profunda recessão.

— É tranquilizador saber que, quando a opinião pública está engajada, ela ganha — disse o deputado democrata Barney Frank.

Para analistas, bancos devem repassar custos aos clientes Mas as restrições a derivativos — os bancos terão de separar parte dessas operações em uma subsidiária com capital próprio — ficaram aquém da proposta original da senadora Blanche Lincoln. Ela queria simplesmente banir essas operações.

O Escritório de Orçamento do Congresso estima que a reforma terá um custo de cerca de US$ 20 bilhões nos próximos dez anos. O painel concordou em cobrir esses gastos com uma tributação sobre grandes bancos.

Frank disse que esse tributo, que os republicanos chamaram de imposto, era uma solução aceitável para “os erros coletivos de muitos bancos”.

Mas analistas mostraram ceticismo.

Eles acreditam que os bancos irão repassar o aumento de seus custos operacionais aos clientes.

(*) Com agências internacionais

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Sueño de amor - Franz Liszt

Gênio do Mal :: Charles Baudelaire


Gostavas de tragar o universo inteiro,
Mulher impura e cruel! Teu peito carniceiro,
Para se exercitar no jogo singular,
Por dia um coração precisa devorar.
Os teus olhos, a arder, lembram as gambiarras
Das barracas de feira, e prendem como garras;
Usam com insolência os filtros infernais,
Levando a perdição às almas dos mortais.

Ó monstro surdo e cego, em maldades fecundo!
Engenho salutar, que exaure o sangue do mundo
Tu não sentes pudor? o pejo não te invade?
Nenhum espelho há que te mostre a verdade?
A grandeza do mal, com que tu folgas tanto.
Nunca, jamais, te fez recuar com espanto
Quando a Natura-mãe, com um fim ignorado,
— Ó mulher infernal, rainha do Pecado! —
Vai recorrer a ti para um génio formar?

Ó grandeza de lama! ó ignomínia sem par.


Charles Baudelaire, in "As Flores do Mal"

Tradução de Delfim Guimarães