quinta-feira, 24 de junho de 2010

Reflexão do dia – Raimundo Santos


" Penso que a escolha de Itamar Franco como vice-presidente fortalece o movimento político nacional a favor da eleição de Serra. Itamar aporta dois valores que poderão, neste preciso momento, impulsionar a candidatura do ex-governador de São Paulo, a saber, os valores republicanos que ele representa e a imagem de honradez que o seu nome evoca. Itamar Franco acrescenta significação nacional à candidatura de Serra, tornando-a mais vigorosa em Minas Gerais. "



(Raimundo Santos. Cf. e-mail enviado a Luiz Sergio Henriques, em 20 de junho de 2010.)

Apoios fragmentados :: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

O balanço dos acordos regionais que estão sendo fechados nesses últimos dias, para a campanha presidencial, demonstra com assustadora clareza em que pé está nosso “presidencialismo de coalizão”, expressão cunhada há mais de 20 anos pelo cientista político Sérgio Abranches para tentar explicar o tipo de regime que utilizamos no país

E o que surge no cenário é uma reunião incongruente de siglas que nada tem a ver com a teoricamente avassaladora maioria parlamentar que abriga a base governista.

Se a base partidária do segundo governo Lula é das mais fragmentadas já registradas na História do presidencialismo brasileiro, essa fragmentação torna-se maior ainda na formação da base de apoio da campanha da candidata oficial, Dilma Rousseff, nos estados.

Em nível nacional, o governo perdeu o apoio oficial de dois partidos de sua base, o PP e o PTB, que não entraram na coalizão governista utilizando táticas distintas.

O PP ficou oficialmente neutro, pois os governistas que apoiam a candidatura Dilma não têm maioria para convocar uma convenção nacional do partido para formalizar a decisão, mas têm força suficiente para impedir que o partido aderisse à candidatura Serra.

Com a nova pesquisa do Ibope divulgada ontem, é possível que os dilmistas ganhem nova força e consigam reverter essa decisão já anunciada.

No PTB, o processo foi justamente o contrário: a direção nacional do partido tem o controle da convenção e aprovou a formalização do apoio a Serra, mas vários setores do partido estão com Dilma.

Os minutos de propaganda gratuita do PTB vão para Serra, os do PP são subtraídos de Dilma e divididos entre todos os partidos.

Uma medida para se ter a exata noção do tamanho da tropa de cada um, em nível nacional, é o tempo de televisão na propaganda gratuita que cada grupo acabou obtendo com suas alianças.

Se o governo conseguisse manter unida sua base partidária, o placar seria uma goleada para a coligação da candidata oficial, alguma coisa como o dobro de tempo em relação ao adversário Serra.

Com as negociações ocorridas, a diferença será de cerca de dois minutos a favor de Dilma, a não ser que o PP retorne ao seio governista com seu minuto e pouco.

Um bom exemplo é o Rio Grande do Sul, onde atribuí na coluna de terça-feira o apoio do PDT ao PT na campanha nacional para presidente que parece não ser tão simples.

O PT, que tem o ex-ministro da Justiça Tarso Genro como candidato ao governo do estado, está praticamente limitado ao apoio do PSB, do deputado Beto Albuquerque.

O PDT no Rio Grande do Sul está aliado oficialmente com o PMDB, cujo candidato é José Fogaça, que tem como vice o deputado Pompeu, que se caracteriza por se vestir normalmente com roupas gauches case é membro do PDT.

Há, no entanto, uma ala do partido apoiando a candidatura de Dilma, liderada por Alceu Colares, que, quando governador, foi o primeiro a dar um cargo a Dilma Rousseff, de secretária de Energia.

Com o rompimento de Brizola com o governo do PT de Olívio Dutra, Dilma saiu do PDT e se filiou ao PT, assumindo logo em seguida o Ministério de Minas e Energia do governo Lula.

Dilma não se esqueceu do seu padrinho político, e Alceu Colares foi nomeado consultor da Itaipu Bi-Nacional.

Embora esta ala do PDT seja fiel a Dilma, é muito discutível seu apoio ao PT de Tarso Genro.

Já o peemedebista José Fogaça alega que ficará neutro na eleição presidencial, chegando a argumentar que muitas vezes ficar neutro é um sinal de coragem na política.

Essa “coragem”, no entanto, conta a favor do candidato tucano José Serra, alimentando as dissidências regionais dentro de seções importantes do PMDB.

Na verdade, a partir do segundo governo Lula, o funcionamento da coalizão parlamentar melhorou em relação ao poder proporcional que cada partido recebeu.

O cientista político da Fundação Getulio Vargas Octávio Amorim Netto define que um governo multipartidário, em um regime presidencialista, para se assemelhar aos gabinetes de coalizão formados nos sistemas parlamentaristas, precisa que o presidente obedeça às seguintes normas: Usar um critério eminentemente partidário de seleção dos ministros; alocar os ministérios aos partidos em bases proporcionais ao seu peso dentro da maioria legislativa do governo; usar mais projetos de lei do que medidas provisórias; e dar poder de veto aos seus parceiros de coalizão sobre os projetos a serem apreciados pelo Congresso.

Com relação à distribuição de cargos e ministérios na proporção do poder de cada partido, Lula, para manter o apoio do PMDB e garantir não apenas os cinco minutos de propaganda eleitoral gratuita na televisão, mas também a capilaridade da atuação política do partido pelo país — é o que tem maior número de prefeitos e vereadores —, deu prioridade a suas reivindicações, forçando o PT a abrir mão de disputar governos importantes como o de Minas, ou intervindo no Maranhão para garantir apoio a Roseana Sarney.

O resultado da pesquisa Ibope, colocando pela primeira vez a candidata oficial, Dilma Rousseff, à frente da corrida presidencial, fora da margem de erro, é um banho de água fria na campanha tucana.

Eles contavam com a campanha na televisão para consolidar a posição de José Serra, e o que aconteceu foi uma subida da adversária.

Prova de que a campanha da candidata petista acertou ao criar fatos alternativos à propaganda tucana, como a viagem de Dilma Rousseff ao exterior, que garantiu a ela exposição pública, embora falsa.

Mesmo tendo sido mais um exemplo de uso da máquina governamental em favor da candidatura oficial.

Propaganda do governo neutralizou programa do PSDB :: José Roberto de Toledo

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Na batalha da propaganda, Dilma Rousseff (PT) ganhou o primeiro round de José Serra (PSDB). A candidata petista passou à liderança isolada da corrida presidencial justamente no período em que o tucano concentrou sua propaganda na TV e no rádio. Aumenta assim a pressão para Serra mudar de estratégia e de discurso.

Enquanto PSDB e aliados colocaram Serra em evidência nos programas partidários obrigatórios, o governo federal e a Petrobrás marcaram presença nos horários de jogos e programas da Copa do Mundo, com spots otimistas sobre o Brasil. Mesmo sem mostrar Dilma, a propaganda oficial parece ter funcionado como antídoto à dos tucanos.

O resultado desse embate de comunicação antecipa o que poderá acontecer a partir de agosto, quando começa o horário eleitoral gratuito, se Serra mantiver a estratégia atual. Além de Lula dizendo que seu nome é Dilma, a petista contará com cerca de 40% a mais de tempo de propaganda do que seu adversário.

Serra precisará decidir como vai ocupar seu tempo de TV. O discurso adotado até agora (o Brasil melhorou, mas pode melhorar mais) não está lhe dando um voto além dos que ele tinha. Mais: não está conseguindo segurar os eleitores que aprovam o governo Lula, mas votavam no tucano.

Em março, segundo o Ibope, só 58% dos eleitores sabiam dizer que Dilma era a candidata de Lula. Esse porcentual cresceu mês a mês, até chegar, agora, a 73%. Ao mesmo tempo, a petista foi ultrapassando Serra entre os que dão nota 10 ao governo, depois entre quem dá nota 9 e assim por diante.

Ainda há cerca de um quarto dos eleitores que desconhece a ligação de Dilma ao presidente. E a intenção de voto da petista parece crescer na proporção da redução desse grupo. Ou seja, ela ainda pode ganhar alguns pontos com a propaganda eleitoral apenas conectando seu nome ao de Lula. Nesse cenário, resta a Serra mudar de estratégia, partindo para o ataque, ou esperar por um erro da adversária. Ambas as opções são arriscadas. Como Marina Silva (PV) permanece estacionada no patamar de 10% das intenções de voto, é necessário que Dilma ou Serra abram 10 pontos de vantagem um sobre o outro para vencer já no 1.º turno. A petista percorreu metade desse caminho até agora.


É jornalista especializado em reportagens com uso de estatísticas

Tudo certo na catástrofe :: Janio de Freitas

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Lula faz declarações contristadas, o presidente que socorre o povo e apresenta sua candidata
Digam os números o que disserem, a catástrofe causada pelas águas no Nordeste é muito pior do que as ocorridas no Sudeste e no Sul. Os Estados nordestinos atingidos têm menos recursos materiais para atenuar o sofrimento dos que perdem seus minguados bens; menos dinheiro para remediar a destruição da escassa infraestrutura e, como causa e consequência desses fatores, populações com menos capacidade de pressão sobre os governos.

Mas acima de tudo está uma aberração do sistema administrativo, sanável e, no entanto, preservada por interesses dos sucessivos governos federais.

A cada ano, há no Orçamento federal a previsão financeira para gastos, nos Estados, com a prevenção de catástrofes climáticas. Sujeita, porém, a duas adversidades. A primeira é o chamado caráter autorizativo do Orçamento, pelo qual as previsões orçamentárias não passam de alegados destinos e limites de cada verba, para os fins especificados, caso o governo queira aplicá-la. Se não quiser, a população ou atividade a ser beneficiada que se dane. Não sendo o Orçamento obrigatório, é uma ficção a que o governo dá alguma realidade quando, em quanto e onde queira.

Como complemento ainda mais sorrateiro, há uma infinidade de trampolinagens burocráticas que permitem ao administrador da verba, em geral ministro, manipular a destinação e o volume das parcelas aplicadas (quando não ficam retidas de todo, para melhorar as contas governamentais).

Daí que a ONG Contas Abertas, de admiráveis serviços no exame das administrações públicas, constate que, dos R$ 70 milhões liberados pelo Ministério da Integração Nacional, para prevenção de catástrofes climáticas, R$ 40 milhões foram só para a Bahia. Até abril, o ministro da Integração Nacional chamava-se Geddel Vieira Lima, agora candidato do PMDB ao governo da Bahia.

Ninguém na Presidência da República, na Secretaria da Assuntos Institucionais e sua Abin, em qualquer outra parte do governo, notou o golpe da promoção de candidatura com dinheiro público, e em prejuízo de Estados com problemas graves? Ainda que ninguém notasse, apesar do Diário Oficial, o Tribunal de Contas da União notou e fez notar. Em vão.

Explica-se: Geddel passou direto de inimigo do governo a ministro e, por acordo feito em 2006, tanto viria a ser um dos apoiados agora por Lula na Bahia, como o apoiaria e à sua indicação, com o PMDB baiano, na sucessão presidencial. Negócio simples, porque o petista Jacques Wagner não se elegeria àquela altura para o governo baiano, e Geddel cobrou o Ministério da Integração para dar-lhe os decisivos votos do PMDB. Lula encampou o acordo, Geddel ficou de mãos livres no ministério e Lula-Dilma terão dois palanques na Bahia, o do PT e o PMDB.

Desgraça em Alagoas, em Pernambuco, em Sergipe? O governo promete alguns milhões, Lula faz declarações contristadas, o presidente que socorre o povo e apresenta sua candidata. Tudo certo, portanto.

PT tira com uma mão e devolve com a outra :: Maria Inês Nassif

DEU NO VALOR ECONÔMICO

A formação de alianças nos Estados que obedeçam a lógica da disputa federal para a Presidência da República é um tropeço, mesmo para partidos como o PT, onde a última palavra tradicionalmente é a do colegiado nacional. Aliás, principalmente para o PT. E aliás, especialmente em Estados com péssima distribuição de renda; em locais com elites resistentes à modernização econômica e política e pouco propensas a reduzir a prática de lucrar com a pobreza, política e financeiramente, e abrir mão do que ganham com o domínio da máquina de governo local. Por isso o caso da aliança entre PT e PMDB no Maranhão foi tão injustamente desfavorável aos anti-sarneyzistas.

Conflito resolvido a meia-boca, a aliança entre o PT e o PMDB do Maranhão, para apoio à reeleição da governadora Roseana Sarney, é apenas a metade da missa. Rezada por inteiro, até o desfecho "ide em paz e o senhor vos acompanhe", a imposição é a reprodução, internamente, de um conflito com poderosos que no Maranhão data de sempre e desde os anos 50 tem um perdedor certo: quem está do lado oposto à família ao do atual presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). São vitórias eleitorais cujos ingredientes são a manipulação do eleitor pobre, a interdição de movimentos populares e uma inacreditável manutenção da miséria como exército de reserva eterno, imutável, que mantém o Maranhão como Estado pobre cujo produto de exportação mais importante é mão de obra não qualificada para o Pará, Estado que está longe de ser desenvolvido.

Para entender a dramaticidade dessa situação - que é o retrato da política tradicional dos rincões do país -, é preciso repassar a história da própria formação do PT nessas regiões. Na regiões Norte e Nordeste, a base petista foi, antes de tudo, formada nas comissões de base da Igreja católica progressista; nas pastorais que, durante a ditadura, davam algum abrigo à ameaçada mobilização sindical ou por reforma agrária; e pelos movimentos sociais. Essa é uma regra no país inteiro, mas o fato é que, quando mais pobre o Estado, menos chances de autonomia da luta política desses contingentes na política, na vida sindical e em movimentos sociais. Os abrigos naturais são os movimentos sociais e as bases da Igreja. Isto está longe, contudo, de ser uma realidade em que bolsões de miséria, munidos de consciência política e abrigados pela Igreja e por movimentos mais aguerridos, como o MST, lutam heroicamente contra coronéis e seus prepostos. Essa é uma realidade onde a elite manipula, persegue e controla boa parte da população - e ganha eleição com esse voto - e grupos de oposição, vinculados a bolsões de resistência popular, tentam vencer a barreira do domínio político pela exploração da fome e da miséria por essas elites.

A luta institucional, via PT, ainda exerce alguma proteção contra uma política tradicional que manipula Executivo, Legislativo e o Judiciário. Quando a orientação política da direção nacional era a de evitar alianças com os setores locais dominantes - o partido sempre se aliou a pequenos partidos de esquerda -, foram dos movimentos sociais e das bases da igreja progressista que emergiram candidatos para as listas partidárias do PT; e foram de lá que se elegeram representantes dos quais se exige estrita vinculação às sérias exigências de políticos protegidos pelo mandato para representar uma população que não está protegida - nem de governantes, nem de jagunços, nem de grileiros.

Nos Estados do Norte e do Nordeste, a "institucionalização" do PT, isto é, o grau de autonomia que seus representantes ganharam em relação a essas bases muito pobres, varia de acordo com o progresso de cada um desses Estados. O partido não foi de todo institucionalizado em comunidades muito pobres. Mas, mesmo nos lugares onde prevaleceu o poder tradicional, tipo o da família Sarney, ao longo da última década, os avanços conseguidos em função do Bolsa Família reduziu estupidamente a influência dos políticos tradicionais sobre as famílias pobres. O favor político foi substituído pelo cartão do Bolsa Família, que o banco resolve, sem a intermediação do dono da política local.

As exigências da direção nacional do PT, de coligação com o PMDB em Estados que ainda amargam condições de extrema pobreza, baixa escolaridade, economias altamente dependentes de donos do poder etc, bagunçam essa lógica. Se a desintermediação é feita via programas sociais de transferência de renda, e tira com uma mão o poder que o coronel tem via máquina de governo, devolve com a outra mão, quando, se não tira totalmente a autonomia desses setores contra os chefes locais, neutraliza o poder de ofensiva deles, ao dar apoio, no Estado, ao candidato que representa a elite que mantém a miséria.


Maria Inês Nassif é repórter especial de Política. Escreve às quintas-feiras

Noite de São João

Serra diz que nome de vice em sua chapa será escolhido até domingo

DEU EM O GLOBO

Tucano faz caminhada e volta a defender investimento em infraestrutura

Flávio Freire

SÃO PAULO. Usando microfone de lapela, cercado de correligionários e distribuindo autógrafos, o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, fez de uma caminhada no Centro de Guarulhos, ontem, um evento de campanha, em que chegou a defender mais investimentos em infraestrutura aeroportuária, lembrouse de obras de sua gestão no governo paulista e ouviu reclamação sobre distribuição de remédios para idosos. O tucano não entrou em polêmicas. Para evitar que o assunto sobre a escolha do vice se estendesse, disse que o nome pode ser definido em “três ou quatro dias” (até domingo). O prazo para a escolha acaba em 30 de junho.

— Falar de vice dá muita confusão, e ainda tem três ou quatro dias — disse ele, ignorando a perguntado sobre a possibilidade de a presidente do Flamengo, Patrícia Amorim, ser a escolhida.

Serra também não respondeu à pergunta sobre a denúncia do jornal “Folha de S. Paulo”, de que o presidente do PSDB, o senador Sérgio Guerra, emprega nove pessoas de uma mesma família em seu escritório, em Recife.

Guerra é outro político cotado ser o candidato a vice.

Serra não comenta resultado da pesquisa CNI/Ibope Numa entrevista em que respondeu só a duas perguntas, o tucano disse que é preciso construir um novo terminal no Aeroporto de Cumbica e aumentar a capacidade de Viracopos, em Campinas. Sem mostrar preocupação com a legislação eleitoral, que permite campanha aberta só a partir de 5 de julho, Serra percorreu o calçadão comercial da cidade acompanhado da equipe de TV que prepara seu programa no horário eleitoral.

Procurando mostrar bom humor, Serra chamou para seu lado eleitores mais entusiasmados.

Abraçou e beijou. Aos que o elogiavam, deu mais atenção e chamou o fotógrafo de sua equipe.

Fez questão de chamar para a foto Geraldo Alckmin, candidato ao governo de São Paulo pelo PSDB, e Orestes Quércia, candidato ao Senado pelo PMDB.

Com a ajuda dos assessores, a estudante Karina conseguiu furar o bloqueio de seguranças para fazer uma pergunta ao candidato: — O que o senhor vai fazer por Guarulhos? Serra parecia ter a resposta na ponta da língua, e lembrou das obras de prolongamento da Avenida Jacu Pêssego, de responsabilidade do governo de São Paulo.

Irritado com o batalhão de fotógrafos e cinegrafistas que formavam um paredão à sua frente, Serra pediu para que deixassem o povo se aproximar.

Faltava pouco para terminar a caminhada quando a CNI divulgou pesquisa Ibope, que mostra a adversária de Serra, Dilma Rousseff (PT), com 40%, contra 35% do tucano.

Serra dava atenção para um homem com o corpo pintado de prateado, que fazia performance sob um latão de tinta, quando foi perguntado sobre o resultado.

Menos sorridente, voltou a ser lacônico: — Eu não vi.

Em seguida, entrou no carro e dei xou Guarulhos

TSE adia decisão sobre destino de Garotinho

DEU EM O GLOBO

Relator não aprecia pedido de liminar para suspensão de condenação, para aguardar manifestação do TER

Catarina Alencastro

BRASÍLIA e RIO. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu ontem aguardar a decisão do Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ) sobre o destino do ex-governador Anthony Garotinho (PR): não apreciou o pedido de liminar que suspenderia os efeitos da decisão do TRE-RJ, que decretou sua inelegibilidade e a de sua mulher, Rosinha Garotinho, prefeita de Campos.

O TRE decidiu que os dois não poderão se candidatar a cargos eletivos durante três anos, a contar de quando houve a infração (nas eleições de 2008), por abuso de poder econômico e uso indevido de meios de comunicação social.

O ministro Marcelo Ribeiro, relator do caso no TSE, entendeu que não caberia ao tribunal julgar o caso neste momento, já que ainda há um recurso a ser analisado pelo TRE-RJ.

“Tendo em vista ofício encaminhado nesta data pelo TRERJ, comunicando que os embargos de declaração serão apreciados no próximo dia 28, segunda-feira, penso que é o caso de se aguardar tal julgamento”, votou o relator.

O julgamento que decide o futuro político de Garotinho no TRE, que pretende concorrer nas eleições deste ano ao governo do estado, ocorrerá apenas dois dias antes do prazo final para que seu partido o indique como candidato. Se o TRE mantiver a decisão de torná-lo inelegível até 2011, o TSE então terá um prazo exíguo para julgar o caso a tempo de definir a situação de Garotinho ainda para as eleições de outubro.

Garotinho terá de correr contra o relógio, porque até 30 de junho os nomes que concorrerão terão de ser oficializados nas convenções partidárias.

E 5 de julho é o último dia para o registro das candidaturas na Justiça Eleitoral.

O advogado de Garotinho, Fernando Neves, considerou positiva a decisão do TSE, por acelerar o julgamento do caso.

— Nós estávamos preocupados com o não julgamento dos recursos no Rio. Agora o TRE vai ter que julgar — disse Neves.

A vereadora Clarissa Garotinho, filha de Garotinho, afirmou ontem que a situação prejudica a pré-campanha do pai.

— O fato é que a decisão de segunda-feira está em cima da hora das convenções. Evidentemente que traz prejuízos políticos principalmente com relação às alianças — disse Clarissa Garotinho.

Ontem, Garotinho conseguiu evitar que um outro processo contra ele fosse julgado ontem no Supremo Tribunal Federal (STF). Atendendo pedido de seus advogados, foi retirado da pauta de julgamentos do Supremo, na sessão de ontem à tarde, um inquérito para apurar denúncia de que Garotinho teria participado de um esquema de compra de votos para favorecer os então candidatos Geraldo Pudim e Álvaro Lins à Câmara dos Deputados, nas eleições de 2006

Jarbas e Guerra, enfim, conversam

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Peemedebista conversou com o tucano por telefone e marcaram encontro, que deve acontecer até domingo, para tentar fechar o segundo nome ao Senado

Os senadores Jarbas Vasconcelos (PMDB) e Sérgio Guerra (PSDB) marcaram um encontro “no feriadão de São João” (leia-se até domingo), no Recife, para tentar fechar a chapa majoritária do peemedebista, que disputará a eleição contra o governador Eduardo Campos (PSB). O impasse sobre a chapa das oposições (PMDB/DEM/PSDB/PPS) ainda deve se esticar, pela falta de opções, como prevê o próprio Jarbas. “A gente tem até às 17h do dia 30 para decidir este nome. O candidato não tem que ser necessariamente do PSDB. O que tem que ser é competitivo. A dificuldade é essa, encontrar um nome competitivo”, disse o peemedebista, ontem, em Caruaru, onde foi assistir ao desfile das “Drilhas”, ao lado da pré-candidata a vice, Miriam Lacerda, do vereador Tony Gel (ambos do DEM) e do deputado Edson Vieira (PSDB).

Nesta reta final para a decisão, Jarbas comentou também que vai “envolver mais os partidos aliados”. Dentro da aliança, Guerra vem sendo criticado por “estar fora do processo” local. Os dois senadores, que vêm se estranhando, tiveram uma conversa prévia, ontem pela manhã, por telefone. De Brasília, Guerra ligou para Jarbas e eles se falaram por meia hora, mas a conversa não foi conclusiva. O tucano disse ter reiterado a Jarbas sua posição de deixá-lo “à vontade” para definir o nome ao Senado. “O que Jarbas decidir, vou apoiar. Se (o nome) tiver que ser do PSDB, ele é que vai escolher”.

Presidente nacional do PSDB e coordenador da campanha de José Serra à Presidência, Guerra disse “lamentar” sua falta de tempo nestas eleições. “Eu não posso cuidar das coisas daí (de Pernambuco), do palanque de Jarbas e nem da minha campanha (a deputado) como eu gostaria. Isso as pessoas daí (aliados pernambucanos) precisam entender de uma vez por todas!”, desabafou o tucano, ontem, de Brasília. “Para você ter uma ideia, eu viajo toda hora o Brasil, atendo por dia umas trinta ligações, recebo mais de 20 pessoas. Essa parte da política que eu estou cuidando é só chateação. Fico ouvindo confusão e tentando resolver”, completou. O peemedebista, por sua vez, comentou ontem que “não tem procurado muito” o tucano por entender que ele está “mais envolvido com as questões nacionais”.

Jarbas e Guerra não quiseram falar de nomes para a vaga ao Senado. Com a “oficialização” do “não” do deputado Roberto Magalhães (DEM), na terça, a oposição voltou à estaca zero, embora essa decisão já fosse aguardada. Se a convenção ocorresse hoje, as especulações dão conta de que o médico e ex-secretário de Saúde no governo Jarbas, Guilherme Robalinho (PPS), seria o escolhido. “É o único que tem chances, desses que estão sendo especulados. Ele nunca disputou eleição, mas tem envergadura”, disse uma fonte, em reserva. Há ainda, porém, esperança de que o deputado Raul Jungmann (PPS) ceda e troque a tentativa de reeleição pela disputa ao Senado. Os outros nomes especulados são o da vereadora Aline Mariano e do cientista político André Régis (ambos do PSDB). O ex-presidente da OAB, Jayme Asfora (PMDB), também voltou a ser cotado.

CHUVAS

Jarbas elogiou, ontem, a vinda do presidente Lula (PT) a Pernambuco, para sobrevoar as áreas atingidas pela chuva. Indagado se os governos foram “inoperantes” no enfrentamento ao problema, respondeu que não. “Existe uma burocracia. Essas verbas de emergência só devem chegar daqui a um ano. Eu já passei por isso (como governador)”, disse.

Dilma passa Serra pela 1ª vez

DEU EM O GLOBO

Pesquisa Ibope divulgada ontem mostra que, pela primeira vez, a petista Dilma Rousseff assumiu a dianteira na disputa presidencial. Ela teria hoje 40% dos votos, contra 35% do adversário tucano, José Serra, e 9% de Marina Silva, do PV. A aprovação ao presidente Lula atingiu 85%.

Ibope: Dilma lidera pela 1ª vez

Segundo a pesquisa, a petista teria hoje 40% dos votos, contra 35% de Serra e 9% de Marina

Gerson Camarotti
BRASÍLIA - Pela primeira vez, a candidata petista Dilma Rousseff aparece liderando a disputa presidencial, segundo pesquisa do Ibope encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Os números divulgados ontem mostram que, numa lista com apenas os três principais candidatos, Dilma aparece com 40% das intenções de voto, contra 35% do candidato tucano, José Serra, e 9% da candidata do PV, a senadora Marina Silva. Na lista em que são incluídos todos os candidatos, inclusive nove nanicos, Dilma fica com 38,2%; Serra, com 32,3%; e Marina, com 7%. A consulta foi feita entre os dias 19 e 21 de junho, depois da propaganda eleitoral do PSDB na TV, exibida no último dia 17, que era uma das apostas dos tucanos para tentar retomar a dianteira.

A pesquisa divulgada ontem mostra que a forma de o presidente Lula governar obteve uma aprovação recorde de 85%, contra 83% em março. Os que consideram o governo Lula bom e ótimo somam 75% dos entrevistados.

Na última pesquisa feita pelo instituto Ibope sobre a sucessão presidencial — contratada pela Rede Globo e pelo jornal “O Estado de S. Paulo” e divulgada no dia 5 de junho —, Dilma e Serra apareciam empatados, com 37% das intenções de voto cada.

Em relação aos dados da pesquisa CNI/Ibope divulgados no dia 17 de março, houve uma inversão: Dilma estava com 33% e Serra liderava a disputa com 38% dos votos. Marina tinha 8%.

A pesquisa de ontem indica também vantagem da petista numa eventual disputa com o tucano no segundo turno: ela hoje teria 45% das intenções de voto, contra 38% de Serra.

Na pesquisa da CNI de março, Dilma estava, nesse cenário, com 39%, e Serra, com 44%. Já na pesquisa Ibope divulgada no início de junho, Serra e Dilma apareciam empatados num eventual segundo turno, com 42% cada. Os números apontam um crescimento da petista e uma queda do candidato do PSDB.

73% dos eleitores ligam Dilma a Lula

Na pesquisa espontânea — em que o entrevistado não recebe uma lista com os nomes dos candidatos —, Dilma está na frente de Serra desde a pesquisa anterior encomendada pela CNI. Passou de 14% em março para 22% na pesquisa de ontem. O tucano também cresceu, passando de 10% para 16% das citações espontâneas. Lula tinha 9% de citações e Marina Silva, 3%. Nesse tipo de consulta, ainda é muito alto o número de entrevistados que não sabem em quem votar: 40%. Esse dado mostra que a eleição está indefinida.

A pesquisa CNI/Ibope revelou ainda que cresceu de forma significativa o número de eleitores que têm conhecimento de que Dilma é a candidata do presidente Lula: 73% agora contra 58% em março. Esse número é visto como um dos principais fatores para o crescimento da petista, mesmo com a forte exposição do candidato tucano em inserções comerciais e programas partidários na TV nas últimas semanas. No período, Dilma, porém, também teve exposição grande na TV, no programa do PT e em inserções.

— Cresceu entre os eleitores a percepção de que Dilma é a candidata do presidente Lula.

Além disso, os índices de aprovação do governo, a popularidade elevada do presidente e a expansão da economia são fatores que explicam o crescimento de Dilma na pesquisa — disse o diretor de operação da CNI, Rafael Lucchesi.

Outro dado que tem influência no resultado principal da pesquisa é o nível de rejeição dos três principais candidatos: na pesquisa de ontem, 30% afirmaram que não votariam em Serra de jeito nenhum, contra 25% na pesquisa da CNI de março. Dilma aparece com a menor rejeição: 23% agora, contra 27% em março. Marina tem rejeição de 29%, contra 31% de março.

A pesquisa registrou ainda que caiu o percentual de eleitores que afirmam preferir votar num candidato apoiado pelo presidente Lula: são 48% contra 53% em março. Essa queda, porém, segundo o Ibope, não ocorre no sentido do voto em um candidato de oposição. Há um crescimento entre os eleitores que afirmam que não vão levar em conta o apoio do presidente na hora de votar: eles hoje são 37% , contra 33% em março.

Além de ter aprovação de 85% dos entrevistados, Lula conta com a confiança de 81% da população, contra 15% que afirmaram que não confiam. Em março, o índice de confiança era de 77%, contra 20% que não confiavam em Lula.

A pesquisa CNI/Ibope foi registrada no TSE com o número 16292/2010. Foram entrevistadas 2.002 pessoas em 140 municípios. A margem de erro é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos, e o grau de confiança é de 95%.

Algo deu errado! :: Valdo Cruz

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - Tão logo foi divulgada mais uma pesquisa de intenção de voto, os tucanos fizeram circular que não esperavam o resultado e que seus levantamentos internos indicam outra realidade. E aguardam novas pesquisas.

O fato é que José Serra se aproxima do início oficial da campanha presidencial numa situação desconfortável. Seu plano de voo era chegar nessa fase à frente de Dilma. No mínimo empatado.Pois bem, o resultado do Ibope mostrou exatamente o contrário. Dilma com 40%, Serra com 35% e Marina com 9%. Isso depois que o PSDB assumiu a tão criticada tática petista e fez propaganda eleitoral explícita de Serra na TV.

Ou seja, algo deu errado. Primeiro, os tucanos não contavam com a estratégia petista de usar os programas regionais como vacina. Depois, não conseguiram criar notícias positivas para seu candidato -nem negativas para Dilma.

A pesquisa indica que a história do dossiê contra Serra, fabricado por pessoas ligadas à pré-campanha de Dilma, não tirou votos da candidata petista. E que insistir na tecla da fuga de debates ainda não funcionou a contento.

A nova queda nas pesquisas vem num momento ruim, na reta final do fechamento de alianças estaduais ainda indefinidas. Confirmado por novas pesquisas, o resultado pode estimular defecções de última hora na seara tucana.

O maior receio tucano é o PP desistir da já anunciada neutralidade e apoiar oficialmente Dilma, engrossando ainda mais o tempo de TV da petista. Sem falar nas ameaças de prefeitos democratas de apoiar a candidata de Lula.

Tudo perdido para os tucanos? Claro que não, ainda virá a fase dos programas de TV e dos debates.

O retrato do momento, porém, mostra que a missão do PSDB será garantir o segundo turno. E aí, sim, apostar na comparação direta entre as duas candidaturas e suas propostas, coisa que fica diluída no primeiro round.

Tática tucana de poupar Lula está em xeque:: João Bosco Rabello

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

PT identifica no debate entre Dilma e Serra a possibilidade de crescimento do tucano e, fiel a uma política de redução de danos, vai restringi-lo ao estritamente indispensável

O resultado da pesquisa CNI/Ibope põe em xeque a estratégia do PSDB de separar o presidente Lula de sua candidata Dilma Rousseff. José Serra elegeu Dilma para debater, mas ela o está deixando na mão de Lula. Como ele não quer criar caso com o eleitor que deu ao governo e ao presidente índices recordes de 80% de aprovação, fica limitado aos programas gratuitos e às sabatinas promovidas por segmentos específicos da economia ? como CNI e CNA.

Produzida durante o período de maior exposição de Serra desde que oficializou sua candidatura, a pesquisa traz outro dado inquietante para os tucanos: a estagnação de Marina Silva, do PV, na casa dos 9%. Equivale a dizer: se a dinâmica eleitoral não mudar, vencer no primeiro turno passa a ser algo palpável para a candidata do governo.

A campanha de Serra mergulha, a partir de agora, em processo de reavaliação, a começar por um princípio que virou dogma: não criticar Lula. A pesquisa divulgada ontem indica que o eleitor inserido nos 80% que aprovam o governo emite sinais de que essa aprovação não é incondicional. Isso fica expresso na queda de aprovação do governo na educação e na segurança, binômio em que Serra assenta seu discurso.

Acima de tudo, o eleitor identifica para o candidato tucano em que áreas é receptivo à crítica ao governo Lula e, não por acaso, são as que Serra escolheu para trabalhar na sua campanha. Há ainda, segundo a pesquisa do Ibope, 40% de indecisos.

Outro ponto que fragiliza a candidatura tucana, e que soma nesse resultado, é a novela da escolha de seu vice. Menos pelo que ele possa agregar politicamente e mais pela sensação que transmite de vulnerabilidade política.

A pesquisa indica que, até aqui, Dilma Rousseff acerta ao evitar o tête-à-tête com seu adversário. O PT identifica no debate entre os dois a possibilidade de crescimento de José Serra e, fiel a uma política de redução de danos, vai restringi-lo ao estritamente indispensável. Debater com Serra só ajuda Serra, concluiu a campanha do PT, o que impõe ao tucano uma mudança de planos.

A campanha de Dilma se desenvolve numa estrutura que compreende as máquinas do PMDB e do governo, a organização e eficiência do PT, tudo embalado num cenário econômico invejável, que ganhou a fisionomia do presidente da República.

Enfrentar tal estrutura requer a qualquer candidato o mínimo de erros e o máximo de acertos. A campanha de Serra está longe desse padrão, pois ainda não se livrou da primeira de todas as armadilhas montadas por Lula: a de evitando a comparação com o governo de Fernando Henrique Cardoso renunciar à luta pela paternidade do programa econômico que deu ao País um outro lugar no contexto mundial.

Estrategicamente, o PSDB não deve aceitar a campanha plebiscitária, mas não pode deixar de enfrentar o candidato real que se chama Luiz Inácio Lula da Silva, sob pena de seu candidato debater com a paisagem.

É diretor da Sucursal de Brasília

'Resultado não é consistente com outros', diz Guerra

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Levantamento que mostra a petista Dilma à frente do tucano Serra surpreendeu presidente nacional do PSDB, que defende reflexão do partido

O presidente nacional do PSDB e coordenador da campanha de José Serra à Presidência, senador Sérgio Guerra (PE), disse estar "surpreso" com o resultado da pesquisa CNI/Ibope divulgada ontem e afirmou que o partido deve "refletir" sobre os números.

O levantamento mostra a petista Dilma Rousseff com 40% das intenções de voto no primeiro turno, contra 35% de Serra. "O resultado nos surpreende e não é consistente com outros levantamentos. Mas o fato concreto é que nós devemos refletir", disse.

Ontem, em Guarulhos (SP), Serra foi informado sobre os números por jornalistas, mas não fez comentários. "Eu não vi ."

O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), avaliou a ultrapassagem de Dilma como uma "oscilação natural". Já o líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN), classificou o resultado como "desagradável". E o deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA), cotado para a vice de Serra, creditou o crescimento de Dilma ao "uso da máquina do governo".

Para o presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), o resultado é surpreendente. "Eu respeito a pesquisa feita pelo Ibope, mas temos recebido números que apontam uma diferença em torno de 4 pontos porcentuais a favor de Serra", alega.

Do outro lado, Dilma não quis comentar a pesquisa, mas seus aliados comemoraram. O presidente do PT, José Eduardo Dutra, disse que a campanha está no caminho certo. "Por isso, vamos manter a mesma linha."

O secretário de Comunicação do PT, deputado André Vargas (PR), ironizou Serra. "Com a grande exposição de mídia (ele apareceu nos programas do PSDB, PPS e DEM antes da sondagem), esperança tucana para crescer, Serra perdeu 2 pontos e ganhou duas multas."

Para o coordenador de Marina Silva (PV), João Paulo Capobianco, a candidata verde tem "base consistente de apoio e condições de crescer".

"Campanha começa depois da Copa", diz Serra

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Vandson Lima

SÃO PAULO - Foram aproximadamente 450 metros, percorridos em uma hora. A cada minuto, 7,5 metros de abraços, empurrões e poucas palavras na caminhada dos candidatos do PSDB à Presidência da República e ao Governo de São Paulo, José Serra e Geraldo Alckmin, pelo calçadão comercial de Guarulhos, região metropolitana de São Paulo.

"Estamos aqui juntos para ouvir as pessoas, sentir", disse Serra. Indagado sobre a pesquisa CNI/Ibope, que mostrou a candidata petista Dilma Rousseff à sua frente, pela primeira vez, respondeu seco: "Não vi". Face à insistência dos repórteres, sentenciou: "Campanha começa depois da Copa". E voltou a ressaltar a importância dos debates e do horário eleitoral gratuito para que a população decida seu voto.

Ao seu lado, Alckmin, 50% nas pesquisas de intenção de voto para o Palácio dos Bandeirantes, apenas ouvia, sem ninguém a lhe dirigir palavra. Com o tumulto e as questões orbitando Serra, Alckmin descolou-se do grupo e entrou numa farmácia. A seu estilo, cumprimentou todos e ouviu, sempre atento. Tocava as mãos do interlocutor e dizia: "Eu entendo, mas vamos resolver isso, viu".

Serra continuava a caminhar ladeado de jornalistas frustrados em busca de uma frase de impacto. "Não vou falar de vice. Nenhuma palavra. Dá muita confusão. Logo vai ter (um vice), em três, quatro dias".

Guraulhos tem hoje 1,3 milhões de habitantes e é considerado reduto petista, capitaneado pelo prefeito Sebastião Almeida, que sucedeu ao também petista Elói Pietá, hoje coordenador do programa de governo do candidato Aloízio Mercadante, adversário de Alckmin no Estado.

Sempre dando preferência às senhoras idosas, mulheres com crianças de colo e às jovens bonitas, Serra se divertiu com um artista, todo pintado e com voz de Robocop, que imitava um estátua humana e o deixou com as mãos cheias de tinta prateada. Não se abalou com uma professora que parou sua caminhada só para berrar: "Nenhum professor vai votar em você". Deu ouvidos de mercador a uma senhora que cobrava sua ida ao Jardim Álamo, segundo ela, "cheio de água há meses". A senhora deu a volta e o esperou metros à frente. Quando Serra e Alckmin, de volta ao grupo, foram cumprimentá-la, desistiu de reclamar e falou com os candidatos amigavelmente.

Um grupo de adolescentes ralhava no pelotão intermediário: "Vou lá beijar a careca do Serra".
Um assessor pegou uma delas pelas mãos: "Vai lá então". O beijo não saiu, mas as meninas conseguiram arrancar do candidato a dança do "ah, moleque", que ele já havia protagonizado no programa Pânico na TV, para deleite de cinegrafistas e dos transeuntes com suas câmeras de celular.

Resultado surpreende tucanos e petistas

DEU EM O GLOBO

PSDB esperava que horário eleitoral ajudasse Serra; PT defende cautela

Gerson Camarotti, Adriana Vasconcelos e Cristiane Jungblut

BRASÍLIA. O resultado da pesquisa CNI/Ibope, na qual a petista Dilma Rousseff aparece liderando a corrida presidencial, surpreendeu o comando da campanha do candidato tucano, José Serra, e foi discretamente comemorado no PT e no Palácio do Planalto. Nem mesmo os petistas esperavam esse resultado.

A expectativa entre os tucanos era que a forte exposição de Serra em inserções e programas partidários nas últimas semanas na TV e no rádio garantisse a ele a dianteira nas pesquisas.

Os dois grupos atribuem o crescimento de Dilma à forte associação de sua candidatura com o presidente Lula, estratégia que será mantida até o final da campanha.

Em reunião na noite de terça-feira, integrantes da coordenação da campanha de Dilma avaliaram que a pesquisa Ibope poderia trazer uma pequena oscilação positiva para Serra, justamente por causa da propaganda partidária. No comando do PSDB e na oposição, a informação era que os programas na TV foram positivos e que pesquisas internas da campanha indicavam crescimento de Serra, como disse o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), ontem.

— O resultado nos surpreende e não bate com os números que conhecemos, nos quais estamos na frente. Mas o fato concreto é que devemos refletir sobre ele. Não brigo com pesquisa.

Leio resultados e presto atenção. Mas não tenho a menor dúvida de que crescemos nos últimos 30 dias — disse Sérgio Guerra.

— É um resultado a se respeitar, embora neste momento ninguém possa ter qualquer segurança, estando na frente ou não. É possível que a Dilma cresça ainda mais, mas não vai chegar nem a 60% daqueles que consideram o governo Lula bom ou ótimo — reforçou o líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM).

“Do ponto de vista psicológico, o resultado é negativo”, diz José Agripino O presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), minimizou o resultado de ontem e também afirmou que tem pesquisas em que Serra aparece liderando: — Preocupação zero. Fiz uma pesquisa no mesmo campo do Ibope, sem desmerecer o instituto, mas nossos resultados foram diferentes, e neles Serra aparece na frente.

— Do ponto de vista psicológico, o resultado é negativo, mas não assusta. O que pesa mais neste momento é a pesquisa qualitativa, na qual Serra está muito bem — afirmou o líder do DEM, senador José Agripino Maia (RN).

Mas, nos bastidores, a avaliação da oposição é que há sérios problemas na campanha do candidato tucano. Já há o reconhecimento de que Serra perdeu o bom momento das inserções partidárias com uma forte agenda negativa, principalmente por causa da indefinição do nome do candidato a vice em sua chapa.

Além disso, existe o reconhecimento interno de que é muito difícil encontrar um discurso forte contra um governo com aprovação recorde. Mesmo assim, a expectativa era de que Serra estivesse na frente nas pesquisas depois de tanta exposição.

No campo governista, a ordem é evitar o salto alto.

— Esse resultado é muito positivo, principalmente num período em que o adversário teve muita inserção na televisão. Mas essa é uma eleição difícil e ainda não começou. Não podemos nos deixar contagiar por uma alegria excessiva. Essa pesquisa mostra que Serra não está encontrando o rumo de sua campanha — disse o secretário-geral do PT, deputado José Eduardo Cardozo (SP).

Para o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), a consolidação da candidatura de Dilma Rousseff se deve ao fato de ela estar se tornando conhecida pela população.

— É cedo para fazer previsões definitivas. Mas o fato é que, cada vez mais, a população conhece a Dilma, vai comparando os dois candidatos, que era o que o Serra queria — disse Vaccarezza

Opiniões de Marco Antonio Villa

Deu no Blog do Villa

Pesquisa Ibope

Os números da pesquisa IBOPE são favoráveis a Dilma. A margem de 5% de vantagem é expressiva. Mostra que a popularidade de Lula, como era esperado, está tendo um papel determinante. Que a eleição vai ser muito disputada, escrevi diversas vezes. A oposição (entenda-se, José Serra) tem chances reais de vitótia. Porém necessita primeiro arrumar a casa, dar uma efetiva unidade aos projetos dos líderes regionais, resolver rapidamente a questão do vice e manter o pique dos militantes.

A estratégia do governo está sendo vitoriosa. Dilma não fala, some dos holofotes. Como disse Lula, "o candidato sou eu". Arrastar Dilma para os debates televisivos é a cada dia mais fundamental para a oposição. É óbvio que os estrategistas da sua candidatura vão evitar a ida dela aos debates. Não deve estar descartada a recusa, no primeiro turno, de participar de qualquer debate, inclusive, o da Globo, que tradicionalmente é o último.

Mas ainda estamos longe da consolidação do quadro sucessório. Porém, é evidente, Dilma - melhor dizendo, Lula - larga na frente.

A oposição e suas tarefas

A pesquisa IBOPE divulgada ontem revela alguns defeitos da oposição. A falta de combatividade é um deles. Os líderes oposicionistas querem vitórias fácies, de preferência no primeiro turno. Pensam nos casos de Minas (2002 e 2006) e de São Paulo (especialmente 2006). Fogem de uma campanha polarizada, difícil.

Parte do sucesso eleitoral de Lula (Dilma é uma simples marionete) deve-se à oposição. Ficou 7 anos e meio evitando o confronto, excetuando 3 meses de 2005, durante a crise do mensalão. de resto, foi quase que uma linha auxiliar do governo. Registre-se, por exemplo, os depoimentos de Antonio Palocci ou de Hnerique Meirelles no Senado. Parecia que a oposição era a bancada governamental. Este acúmulo de anos e anos de ausência de oposição acabou facilitando a aprovação popuilar do governo Lula.

Os projetos pessoais sempre estiveram à frente do projeto partidário (mais uma vez deve ser lembrado Lula: ele impôs Dilma e a manteve até agora, passando por cima de tudo). Todos os caciques se acham "o máximo", mas os eleitores pensam diferente.

A eleição vai se definir favorável a oposição caso obtenha uma grande vitória no Sul e principalmente em São Paulo e Minas. Nordeste e Norte, especialmente, são regiões que o governo vai vencer tranquilamente.

Por outro lado, deve ser destacado que as campanhas estaduais que podem favorecer Serra ainda não começaram, como é o caso de São Paulo.

A pesquisa IBOPE deve servir também para testar os nervos da oposição e o caráter de muito líder oposicionista.

O lance de Serra ao destacar Armínio como exemplo de nome para a área:: Jarbas de Holanda



Resposta de José Serra – na entrevista às páginas amarelas da última edição da Veja – ao pedido do exemplo de um economista que ele admira: “Olha lá! Não estou fazendo nenhuma nomeação antecipada. Mas teria muitos exemplos. Um deles? O Armínio Fraga, como perfil. Sabe economia, é pragmático, não doutrinário. Soube navegar em mar revolto e deu enorme contribuição à estabilidade econômica do país ao instituir o regime de metas de inflação”. O pedido de exemplo seguiu-se a uma pergunta sobre o perfil de seu ministro da Fazenda.

Apontando tal exemplo, independentemente da admiração que de fato tenha por Armínio Fraga, o que Serra certamente buscou foi diluir o efeito negativo de explícita manifestação contrária à autonomia do Banco Central, formulada cerca de um mês atrás. Com a qual ele ampliou críticas que sempre dirigiu à política monetária. E que imediatamente foi aproveitada pela adversária Dilma Rousseff para a disseminação no mercado financeiro, interno e externo, de desconfiança e receio em relação ao candidato oposicionista (numa manobra tática em que a ex-chefe da Casa Civil trocou a contestação às decisões do BC, que fazia habitualmente, por enfática defesa de sua autonomia). Da parte de José Serra, nada mais eficiente para o descrédito dessa desconfiança do que o destaque, como perfil de um gestor de política econômica em seu governo, da figura de Armínio Fraga, associado tanto quanto o é hoje Henrique Meirelles à autonomia e à boa condução do Banco Central.

E a queda dos juros é avaliada na entrevista como consequência da aplicação de bons fundamentos macroeconômicos, na resposta a outra pergunta: “Como seria a política econômica em um eventual governo Serra?”. “A manutenção da estabilidade é inegociável. Isso significa manter a inflação baixa. Com a combinação dos regimes fiscal, monetário e cambial, caminharíamos sem rupturas para um ambiente macroeconômico cujo resultado inevitável seria a trajetória descendente dos juros. Uma taxa de juros menor é, aliás, condição para atrair mais investimentos privados destinados à infraestrutura, sem ter de dar os subsídios que hoje distorcem o processo. Quanto mais alta a taxa real de juros, maior é a taxa interna de retorno exigida pelos investidores em infraestrutura. Para compensar o juro alto, o governo é obrigado a dar subsídios”.

Política externa – A entrevista à Veja ensejou também a José Serra fazer uma condenação, precisa e contundente, da atual política externa do país - inspirada pelo ideologismo esquerdista, voltada à busca, a qualquer preço, de protagonismo internacional para o presidente Lula e caracterizada pelo respaldo a governos ditatoriais e belicistas, como o do Irã dos ayatolás e de Ahmadinejad, ou como o da Venezuela dominada pelo populismo antimercado e liberticida de Hugo Chávez. Condenação estendida implicitamente aos apoia-dores dessa política, como a candidata do lulismo, Dilma Rousseff. E que a revista destaca na abertura da matéria: “Hoje me choca ver gente que sofreu sob a ditadura no Brasil cortejando ditadores que querem a bomba atômica, que encarceram, torturam e matam adversários políticos, fraudam eleições, perseguem a imprensa livre, manipulam e interveêm no Legislativo e no Judiciário. Isso é incompatível com a crença na democracia e o respeito aos direitos humanos”.

É jornalista

Avatar de Belo Monte:: Míriam Leitão

DEU EM O GLOBO

O presidente Lula simplifica propositadamente a questão de Belo Monte. Homem inteligente que é, sabe que o que sustenta a barragem de dúvidas sobre a usina não tem a ver com a vinda de um “cineasta gringo”. Simplificações são ótimas em épocas eleitorais, mas a verdade é que a usina está sendo tocada sem quaisquer dos cuidados ambientais, fiscais, econômicos necessários.

Na democracia, é preciso convencer a opinião pública.

Belo Monte está sendo empurrada de forma autoritária ao país, numa pressa desprovida de sentido, exceto o agrado às empreiteiras que vivem de fazer barragens. Curioso é que até elas não querem entrar no negócio em si. Preferem ficar de fora, como prestadoras de serviço.

Uma conversa sincera com qualquer uma delas mostrará que o empreendimento não foi devidamente precificado. O modelo de “modicidade tarifária” inventado pela então ministra das Minas e Energia Dilma Rousseff está fazendo água.

Cria ficções. Está apenas mudando o público pagante.

Se a energia de Belo Monte for vendida por aquele preço, o consumidor teria supostamente uma vantagem, mas o contribuinte estará pagando a festa. Ou seja, o que não sair de um bolso dos brasileiros sairá do outro bolso.

Supostamente a obra custaria R$ 19 bilhões. Mas a informação mais precisa eleva o preço a pelo menos R$ 30 bilhões. A diferença será paga de diversas formas.

A primeira, com os juros a 4% em empréstimo de 30 anos, num governo que se financia a títulos de poucos meses e juros de 10%. A segunda, em excessiva participação de empresas públicas, fundos de pensão de estatais. Ninguém tem dúvidas no mercado de energia que a usina é na prática estatal e que os grupos privados terão o benefício de ficar com o bônus, deixando o ônus para o setor público. A terceira, o futuro verá várias revisões de custos da obra que serão crescentemente bancadas com dinheiro público. Como negócio, tem retorno econômico duvidoso.

Há dúvidas de engenharia não sanadas. Não se deu tempo para os estudos de viabilidade pela pressa de se ter mais uma obra deslanchada antes da saída da então ministra da Casa Civil para a sua corrida presidencial.

Não ouço isso de ambientalistas, ouço de engenheiros.

Ninguém sabe exatamente como será feito o tal canal para desviar o rio Xingu na Grande Volta que vai movimentar mais terra do que para construir o Canal do Panamá. Isso só para citar uma das várias dúvidas de engenharia.

As dúvidas ambientais foram esmagadas sob o peso do cala-boca que saiu da Casa Civil na reunião de 7 de janeiro da qual falei aqui na coluna. Mostrei aqui no dia 17 de abril os fac similes dos documentos internos do Ibama com funcionários assinando que o tempo estabelecido pela Casa Civil para dar a licença não era suficiente, publiquei também as trocas de mensagens entre o Ibama e a Eletrobrás sobre a reunião da Casa Civil para cumprir os prazos. Esses documentos são um atestado inequívoco de que a agência reguladora do meio ambiente foi constrangida a conceder a licença.

Isso é uma irregularidade administrativa que eleva muito o risco de um desastre ambiental em Belo Monte.

O medo de que só um consórcio disputando desse a impressão de que a obra não tinha atraído os investidores fez o governo se envolver diretamente na formação do outro consórcio, mudando regras para aumentar as vantagens para as empresas. E mesmo depois do leilão, dúvidas sobre participação de um dos integrantes do consórcio vencedor permaneceram.

Enfim, por onde se olhe há dúvidas em Belo Monte.

De índios e não índios, de ambientalistas e engenheiros, de especialistas em energia e economistas. Cada um do seu ponto de vista tem questões que não foram suficientemente debatidas e esclarecidas antes de se bater o martelo de um leilão estranho e um empreendimento açodado.

O presidente Lula simplifica quando compara com Itaipu. A maior hidrelétrica das Américas foi imposta como fato consumado pelo poder do arbítrio militar. Lula não deveria querer comparações com aqueles métodos. A democracia ajudou a reduzir e muito o impacto ambiental exigindo da usina compensações que ela tem cumprido.

O medo de a usina ser uma arma contra a Argentina, com o risco de alagamento de parte das terras dos vizinhos, foi superado em demoradas negociações que consumiram anos da competente diplomacia brasileira daquela época. Os debates sobre se seria melhor ter construído um pouco acima, poupado o patrimônio turístico das Sete Quedas, ou ter feito uma usina só brasileira foram esmagados pelo poder ditatorial. Hoje, a usina é fundamental para o país, mas ela já investiu muito em compensação ambiental, permanecemos sob o risco constante das pressões paraguaias e ainda se paga sua interminável dívida externa. Itaipu é uma obra com mais facilidades por estar perto do centro consumidor, ao contrário de Belo Monte. Não há comparações entre as obras. O fundamental a reter é que os métodos de imposição de Itaipu à opinião pública não podem ser transpostos para os dias de hoje pelo simples — e excelente — motivo de que o país é democrático e o governo deveria ter dedicado mais tempo ao convencimento da opinião pública e levado mais a sério as dúvidas. Belo Monte sofre de falta de planejamento, estudos de viabilidade, precaução ambiental, segurança fiscal, análise econômica.

Mas seu erro fundamental é a falha democrática.

Está sendo imposta pelo governo Lula

Impostos, aluguéis e comida:: Vinicius Torres Freire

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Pesquisa do IBGE mostra que benefícios sociais são parte essencial do sustento de um terço das famílias

MAIS OU menos um terço das famílias depende de aposentadorias e/ ou outros benefícios sociais para comer ou pagar o aluguel. Ou melhor: em 37% das famílias, 21% da renda vem de transferências sociais do governo federal. Note-se que, entre as famílias mais pobres, comida e aluguel representam em média um quarto ou um quinto da despesa.

Como se trata de médias, algumas dessas famílias não ficariam na rua ou com fome caso não recebessem uma pensão do INSS ou uma Bolsa Família. Para ser mais preciso, é necessário fazer contas mais extensas com os dados da rica Pesquisa de Orçamentos Familiares, divulgada pelo IBGE. Mas os números mais brutos já dão o que pensar sobre políticas de transferências sociais de renda e impostos.

A receita total de impostos do governo federal foi de uns 24% do PIB nos últimos quatro anos do governo Lula (2006-09). Da receita federal "primária" (sem considerar juros), metade foi gasta em transferências sociais, na média desse período.

Transferências sociais são pagamentos de benefícios previdenciários, do INSS, e a servidores aposentados, seguro-desemprego, benefícios para os extremamente miseráveis etc. Uma parcela desses benefícios não é obviamente "social", como as aposentadorias dos servidores, assim como as aposentadorias maiores do INSS, as quais, no entanto, são o retorno da contribuição do trabalhador do setor privado.

Mas a maior parte da despesa, assim como a que mais cresceu, foram as transferências de fato sociais. Alguns economistas dizem que o Estado gasta demais com pessoas que não são os mais pobres dos pobres -que o Estado não "focaliza" a despesa de modo apropriado e mais justo, de resto elevando a carga tributária para fazê-lo.

A POF mostra, porém, que os nem tão pobres entre os brasileiros de menor renda teriam problemas de sustento caso não fossem as transferências, que compõem parte maior da renda média do que o faziam em 2003. Note-se que a renda familiar per capita dos 20% mais pobres era de R$ 177 mensais em 2008. A renda dos aposentados do INSS, a mais criticada pelos "focalistas", sustenta famílias extensas de renda baixa e a economia de localidades à margem do mercado.

De um ponto de vista cínico, pode-se dizer que as transferências são um seguro político. Isto é, criam paz social num país pobre e iníquo, o que tende a evitar tumulto político nos ciclos de baixa da economia, o que por sua vez estimularia respostas populistas dos governos, tão execradas por economistas.

Um problema sério é que o aumento dos impostos necessário para bancar transferências é, a partir de certo ponto, contraproducente, produz ineficiências e, de resto, tem recaído mais sobre a renda dos mais pobres. Além disso, as transferências sociais crescentes e o decorrente aumento do consumo foram bancados nos anos Lula graças também a um período muito favorável na economia mundial -para o Brasil. Por fim, o dinheiro "social" disputa verba com o investimento em infraestrutura. Com o qual se aumenta a eficiência geral da economia, o que cria empregos que pagam bem. Empregos que reduzem a carência de benefícios sociais.

Era preciso aumentar as transferências, sim. Agora, é preciso investir mais e cobrar menos imposto.

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Minha escola:: Ascenso Ferreira


A escola que eu frequentava era cheia de grades como as prisões.
E o meu Mestre, carrancudo como um dicionário;
Complicado como as Matemáticas;
Inacessível como Os Lusíadas de Camões!

À sua porta eu estava sempre hesitante...
De um lado a vida... — A minha adorável vida de criança:
Pinhões... Papagaios... Carreiras ao sol...
Vôos de trapézio à sombra da mangueira!
Saltos da ingazeira pra dentro do rio...
Jogos de castanhas...
— O meu engenho de barro de fazer mel!

Do outro lado, aquela tortura:
"As armas e os barões assinalados!"
— Quantas orações?
— Qual é o maior rio da China?
— A 2 + 2 A B = quanto?
— Que é curvilíneo, convexo?
— Menino, venha dar sua lição de retórica!
— "Eu começo, atenienses, invocando
a proteção dos deuses do Olimpo
para os destinos da Grécia!"
— Muito bem! Isto é do grande Demóstenes!
— Agora, a de francês:
— "Quand le christianisme avait apparu sur la terre..."
— Basta
— Hoje temos sabatina...
— O argumento é a bolo!
— Qual é a distância da Terra ao Sol?
— ?!!
— Não sabe? Passe a mão à palmatória!
— Bem, amanhã quero isso de cor...

Felizmente, à boca da noite,
eu tinha uma velha que me contava histórias...
Lindas histórias do reino da Mãe-d'Água...
E me ensinava a tomar a bênção à lua nova.



Publicado no livro Catimbó (1927).In: FERREIRA, Ascenso. Poemas: Catimbó, Cana Caiana, Xenhenhém. Il. por 20 artistas plásticos pernambucanos. Recife: Nordestal, 1981