terça-feira, 22 de junho de 2010

Reflexão do dia – Luiz Werneck Vianna


A ressurgência do tema do populismo, lido agora em luz favorável, mesmo por parte dos seus ferozes críticos no passado, vem dessa atrofia da política, da imobilização da sociedade diante de um Estado que traz tudo para si como se fosse um agente da Providência. Não há porque discutir os rumos possíveis para a nossa sociedade: sistemicamente, eles já estão previstos, o que cumpre fazer é ganhar a alma popular, quando a política se confunde, então, com as artes demiúrgicas de quem, por destino, aprendeu a decifrá-la.


(Luiz Werneck Vianna, em artigo, “O eterno retorno”, no Valor Econômico, segunda-feira, 21/6/2010)

Fatores regionais:: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

Os dez últimos dias para a montagem das coligações regionais serão de muita tensão nos bastidores, onde se desenrolam as últimas negociações.

O governo está saindo delas menor do que entrou, mas ainda assim maior do que a oposição, com uma campanha presidencial bastante organizada e fortes palanques estaduais

O maior perigo nesse período para o PSDB, com o crescimento da candidatura de Dilma Rousseff, era ser abandonado por parceiros políticos que abandonaram a base governista por questões regionais.

No entanto, André Puccinelli do PMDB do Mato Grosso do Sul aderiu; Osmar Dias do PDT do Paraná aderiu. E o PP nacional pode ficar neutro, o que ajuda.

O governo usa seus últimos cartuchos para pressionar os parlamentares do PP dilmistas a convocarem uma convenção até o fim do mês, mas a parte que prefere apoiar a candidatura tucana tem força para impedir a convocação, criando uma situação de fato que levará à neutralidade.

O fato é que o país dividiu-se geograficamente, e grupos políticos que normalmente estariam com Lula ficaram na oposição, especialmente os que representam o agronegócio.

Estados produtores com o câmbio baixo, dificuldades de exportação, estradas intransitáveis, portos sem capacidade de escoamento e ainda por cima a ameaça de o MST ganhar mais força em um eventual governo Dilma levaram o Sul a fechar com o candidato do PSDB.

No Rio Grande do Sul, o PSDB tem a governadora Yeda Crusius, apesar de todos os problemas que enfrentou, um grande pedaço do PMDB, e uma aliança DEM-PTB, além do PP e do PPS. Contra o PT e o PDT com o ex-ministro Tarso Genro.

Beto Richa é o candidato favorito ao governo, ainda mais depois que o senador Osmar Dias decidiu se candidatar à reeleição.

Em Santa Catarina, há três forças políticas que apoiam Serra indiscutivelmente: o ex-governador Luiz Henrique do PMDB, que é o favorito para o Senado; Raimundo Colombo, ligado aos Bornhausen, que deve ser o candidato a governador, e o Leonel Pavan que está no governo com o PSDB. A senadora Ideli Salvatti é a candidata ao governo pelo PT.

A definição do Sudeste, onde Serra vence nas pesquisas, terá o peso fundamental de São Paulo e Minas, onde os tucanos esperam tirar uma vantagem expressiva.

No Rio de Janeiro, o palanque é com o PV do candidato Fernando Gabeira. A soma de Marina Silva com José Serra supera Dilma Rousseff, que ganha individualmente no Estado, com o apoio do governador Sérgio Cabral, favorito na disputa para governador.

Em São Paulo, o tucano Geraldo Alckmin é o favorito para ganhar no primeiro turno, e o PSDB espera que Serra vença com uma diferença entre 4 e 6 milhões de votos.

Há quem tema, porém, que Alckmin não se esforce tanto quanto seria necessário, ainda uma sequela da disputa pela prefeitura em que Serra apoiou Kassab.

Em Minas Gerais, o PSDB também depende do empenho do ex-governador Aécio Neves.

A disputa pela Presidência está empatada, mas o crescimento da candidatura de Antonio Anastasia pode ajudar Serra num estado em que Lula ganhou as duas últimas eleições com diferença entre 1 e 1,5 milhão de votos.

No Espírito Santo, o candidato do PSB Renato Casagrande é o grande favorito, e o PSDB tem Luiz Paulo Vellozo Lucas, ex-prefeito de Vitória, como candidato, com o apoio do PTB e DEM, e Rita Camata como candidata ao Senado. Serra está na frente no estado.

No Nordeste, o PSDB só pode tentar “reduzir os danos”.

Na Bahia, Paulo Souto é candidato ao governo com PSDB e DEM, com Geddel Vieira Lima pelo PMDB e Jacques Wagner pelo PT.

Em Sergipe, João Alves é muito competitivo contra o Marcelo Déda do PT, e José Serra é mais forte do que Dilma.

Em Alagoas, o governador tucano Teotônio Vilela concorre à reeleição e foi lá o único estado em que Serra ganhou em 2002. Mas os favoritos são o senador Fernando Collor, da base do governo, e o ex-governador Ronaldo Lessa do PDT.

Em Pernambuco, Jarbas Vasconcellos reuniu forças consistentes no estado: Marco Maciel e Sérgio Guerra. Mas o governador Eduardo Campos é o franco favorito.

Na Paraíba, José Maranhão do PMDB é o favorito, e a maior força do PSDB era o Cássio Cunha Lima, que está às voltas com a Lei da Ficha Limpa.

No Maranhão, o ex-governador Jackson Lago também está teoricamente atingido pela nova lei, mas em situação mais favorável, porque já cumpriu a pena, mas a única perspectiva da oposição é tentar perder de menos.

No Piauí, há a candidatura tucana de Silvio Mendes, que é muito competitivo, contra dois candidatos governistas: Wilson Martins e João Vicente Claudino.

No Rio Grande do Norte, a candidata do DEM Rosalba Ciarlini é favoritíssima. No Ceará, o senador Tasso Jereissatti está fazendo uma pesquisa para tomar a decisão se deve ser candidato a senador ou a governador.

Foi uma absoluta surpresa o comportamento dos Gomes, pressionados pelo enviado especial José Dirceu, que lhes avisou que teriam sérios problemas se não apoiassem o exministro José Pimentel para o Senado.

No Norte, onde o governo também tem vantagem, há Tocantins, onde o Siqueira Campos do PSDB é favorito, principalmente agora que o Marcelo Miranda se tornou inelegível.

No Pará deve ter segundo turno com Simão Jatene do PSDB disputando com José Prianti do PMDB e a governadora petista Ana Júlia.

O deputado Jader Barbalho tem um problema igual ao do Joaquim Roriz do PSC de Brasília: ambos renunciaram para não perder o mandato e estão inelegíveis pela Lei da Ficha Limpa.

Em Goiás, o franco favorito é o senador Marconi Perillo, apesar da intenção do presidente Lula de derrotá-lo.

O pior problema dos tucanos é o Amazonas, onde o senador Arthur Virgílio não conseguiu montar um palanque local, a não ser o dele, sem chapa de governador. O maior problema do governo é o Paraná.

A hora da fugitiva:: Fernando de Barros e Silva

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Algum amigo do peito deveria presentear José Serra com um despertador. Talvez um modelo imitando o som da vuvuzela, para entrar no clima. Eram 11h42 quando o candidato tucano à Presidência entrou no palco da sabatina Folha/UOL, evento com transmissão ao vivo marcado para as 11h.

Esperavam-no sentados na primeira fila, à frente da plateia que lotava o teatro, Gilberto Kassab, Geraldo Alckmin, Orestes Quércia, Aloysio Nunes Ferreira, entre tantos outros. Não é fácil descrever a cena, mas todos ali pareciam seus empregados. Serra chegou sério, sem dizer bom dia nem pedir desculpas pelos 42 minutos de atraso.

Ele viria se retratar apenas no final do evento, duas horas mais tarde, depois de ser questionado sobre a razão de viver assim, sempre de mal com o relógio: "Eu detesto me atrasar. Eu sofro também, até mais do que as pessoas que esperam", disse, como se fosse o coelho da Alice. Os psicanalistas talvez se interessem por tanta e sincera aflição.

Serra chegou tarde, mas compareceu à sabatina. Dilma Rousseff, sua principal adversária, fugiu do compromisso que havia assumido. É muito mais sério. A petista tem evitado sistematicamente as situações de exposição e de confronto. Em público, só com papel na frente ou de braço dado com Lula -de preferência, as duas coisas juntas.

Agora, em seu giro europeu, armado às pressas e só explicável pela determinação de tirá-la de circulação, Dilma acabou posando de estadista antes do tempo. Em Paris, se hospedou num hotel de grã-fino nos Champs-Elysées e reclamou do assédio dos jornalistas. Mas não sabia bem o que dizer aos repórteres em Bruxelas, após encontro pouco amigável com o presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso.

Dilma vem sendo tratada no PT como um bibelô que deve ser preservado do mundo. Vive hoje numa espécie de redoma, e sua figura vai ficando marcada, inclusive fisicamente, pelo artificialismo. É uma aposta de risco. Que pode vingar.

A década que não acabou:: Marcos Nobre

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Imagine que a balbúrdia das alianças estaduais e regionais não aconteça apenas a cada quatro anos, em ano de eleições gerais. Imagine que seja a regra da política brasileira.

Imagine que a política nacional seja somente o resultado de acordos pontuais e instáveis, ditados por interesses de chefes políticos locais. Imagine que os acordos durem tanto quanto a rolagem de toda a dívida pública nacional: uma noite, "overnight" no jargão da época.

Imaginou? Bem-vindo à década de 1980.

Foi a década dos governadores. Um tempo de inflação fora de controle e de contas públicas em desordem, em que Estados tinham bancos importantes, faziam política monetária e fiscal, rivalizando com a União.

A partir de FHC, a União se impôs sobre a política dos governadores. Centralizou a política monetária e fiscal. E deu ao partido que ocupa o poder federal o monopólio da formulação política mais ampla.Mas a confusão atual nos arranjos estaduais mostra que muita coisa da década de 1980 continua bem viva na política.

Mostra que PT e PSDB são polos que lideram, mas não dirigem, uma massa informe de interesses e de querelas regionais.

Durante três anos, os governadores guardam silêncio obsequioso, postos na dependência de transferências da União. Isso aconteceu mesmo com os candidatos de oposição José Serra e Aécio Neves.

Ao ser desencadeado o processo eleitoral, os interesses locais reaparecem com apetite e avidez. Interesses que raramente coincidem com recortes partidários. Menos ainda com programas políticos.

Foi um quadro geral como esse que pesou, por exemplo, na decisão estratégica mais importante do PT para as próximas eleições. Em nome da aliança formal com o PMDB, o partido abriu mão de disputar governos estaduais e decidiu concentrar esforços na eleição para o Senado.

No poder há sete anos, Lula concluiu que os governadores podem ser controlados na boca do caixa. E que a Câmara dos Deputados, estruturalmente instável, é relativamente controlável, desde que devidamente atendidos médios, pequenos e minúsculos interesses. Nessa lógica, o problema seria o Senado. A duração mais longa dos mandatos, o menor número de integrantes, a experiência política acumulada, tudo isso faria com que o Senado fosse hoje de controle mais difícil.

Seja como for, é uma lógica de simples adaptação, e não de transformação, a que move os dois polos da política brasileira. São síndicos em um condomínio de interesses locais irreconciliáveis. Onde o vale-tudo dos arranjos estaduais não é uma anomalia. É a regra.

No limite da responsabilidade:: Raymundo Costa

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Em conversa com antigos companheiros sindicais em São Paulo, na festa do 1º de Maio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que faria "tudo" para eleger Dilma Rousseff presidente. Um dos presentes quis saber o que exatamente significava "tudo". Ouviu como resposta "tudo é tudo". Simplesmente.

À época, Lula já contabilizava algumas das multas que recebeu da Justiça Eleitoral por fazer campanha fora de época. Era muito, mas nem tudo o que poderia e pode fazer por Dilma. Prova disso é a sanção do presidente ao aumento de 7,7% aos aposentados, supostamente contrariando uma recomendação dos guardiões da responsabilidade fiscal.

Desde sempre o aumento de 7,7% é fava contada no comitê eleitoral do PT, onde se avaliava que o veto do presidente apenas daria munição eleitoral para a oposição na campanha sucessória. Lula não só tirou o discurso do PSDB como também fez média com com os aposentados, ao passar a impressão segundo a qual sancionara o projeto apesar da oposição dos ministros da Fazenda e do Planejamento.

Aposentados, aliás, é assunto latente no comité de Dilma Rousseff, onde sabe-se que a candidata, se for eleita, terá que enfrentar de imediato a questão previdenciária. Se depender do modo como hoje a ex-ministra avalia o problema, por meio de pequenas reformas para resolver demandas de médio prazo previsíveis.

A pauta do Congresso está recheada de bondades como o aumento de 7,7% aos aposentados. Só as propostas em curso que preveem a criação de novos cargos, se forem aprovadas, significam um gasto estimado em R$ 10 bilhões. A pressão por aumentos salariais também é intensa. Já o era na semana que passou e na semana anterior a ela. A diferença é que Lula piscou.

Nesta semana, a Câmara retoma as discussões sobre a criação de um piso salarial de R$ 3,5 mil para policiais e bombeiros de todo o país. É um bom teste para se medir a pulsação do governo.

O custo estimado da proposta é de R$ 50 bilhões. Já foi muito pior. O projeto original determinava a equiparação dos salários de todo o país com o dos PMs e bombeiros de Brasília, que é de R$ 5 mil.

Semana passada, sob pressão, o governo passou a negociar uma fórmula alternativa - aprova o piso, mas deixa para discutir valores depois. Já não se conversa mais sobre a necessidade de um piso nacional, o que espeta no Tesouro Nacional uma conta que a União hoje não tem.

A segurança da Câmara está de sobreaviso, preocupada com ameaças de invasão do prédio do Legislativo. O lobby dos policiais militares sempre foi um dos mais bem organizados do Congresso. Mas nunca desandou para ações violentas como as que foram desencadeadas, já no governo Lula, por alas mais radicais dos movimentos sem-terra.

O risco maior é o governo novamente piscar por motivos eleitorais. A maior dúvida hoje no Congresso é sobre até onde Lula é capaz de ir, no trato da coisa fiscal, na hipótese de Dilma cair nas pesquisas de opinião publica. Afinal, o presidente não teve dificuldade para sancionar o aumento dos aposentados num momento que é considerado favorável à candidatura oficial.

Apesar de se falar em R$ 50 bilhões, o certo é que ninguém sabe exatamente por quanto sairá para os cofres públicos o estabelecimento de um piso de R$ 3,5 mil para PMs, policiais civis e bombeiros de todo o país. Além do pessoal em serviço, o piso terá impacto também na folha do pessoal inativo. E é certo que áreas afins no Judiciário devem pedir equiparação.

O passado recente recomenda cautela a Lula, às vésperas de passar para a história como um presidente com a popularidade nas alturas. O governo Sarney se perdeu no descontrole fiscal; o de Fernando Henrique, no populismo cambial. Lula arrisca-se à danação nas duas situações.


Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras.

Lula veio para sacudir e voltar:: Wilson Figueiredo

DEU NO JORNAL DO BRASIL

Qualquer versão – seja oficial, seja da oposição – tem duração limitada até ficar convenientemente explicada a razão pela qual o que subjetivamente tinha tudo para dar errado e, da noite para o dia, se converteu objetivamente em resultados de boa cotação política. Cada vez mais se fornecem previsões eleitorais, facilidades, proteção a candidaturas e demais ingredientes que a democracia prefere não ver. Pela ordem natural, a reeleição se reserva para ser a matériaprima de uma crise política de bom tamanho, só não se sabe quando. Tudo vai depender da placa tectônica chamada crise institucional, deslocada para países localizados mais embaixo na escala do desenvolvimento econômico, que infelizmente não fechou – no Brasil – um pacto duradouro com a democracia. Depois que Franklin Roosevelt obteve nas urnas quatro mandatos presidenciais nos Estados Unidos, e só deu conta de três, antes de morrer pouco depois da quarta posse, já nos anos 40, uma emenda à Constituição americana limitou o privilégio a uma reeleição (que lá deu certo). E não se ouviram queixas.

Mas, como nem tudo que é bom para os Estados Unidos pode considerar-se bom para o Brasil, a reeleição brasileira foi ficando para trás e acabou adotando uma expectativa de direito assegurada a quem se elege presidente.

Não se falou mais em varrer esse artigo, que empana o saneamento trazido à sucessão presidencial pela exigência da maioria absoluta de votos. Com dois turnos, o resultado da eleição fora do alcance de suspeitas manipuladas com teor golpista. A reeleição esperou praticamente um século, do lado de fora das Constituições brasileiras, e cada um que se reelege se explica por aceitar um mandato com o qual não concorda. Em princípio, claro. Na prática é diferente, graças à natureza humana.

O presidente Fernando Henrique não repetiu no segundo mandato a plenitude do primeiro, que parecia a última palavra da social-democracia, nem percebeu que logo atrás viria o PT, sem compromisso com o passado e nada mais a ver com o futuro. Só o presente interessa ao petismo.

Tinha a medida exata para o presidente Lula emergir. No segundo mandato de Fernando Henrique, esvaziou-se o estoque de soluções que a social-democracia tinha a oferecer, e o sucessor entendeu que não precisava ir mais longe para fazer história. Nos seus dois mandatos, mesmo sendo (em princípio) contra a reeleição, Lula reproduziu a falta de fôlego do seu antecessor, em matéria de reforma política, mas inverteu a ordem dos fatores. Dissipou o crédito político do petismo no primeiro mandato e, no segundo, cuidou exclusivamente da sucessão, quando converteu em certeza a suspeita de que não veio ao mundo para mudar, mas apenas sacudir. E voltar.

"O povo pensa que dossiê é um doce":: Arnaldo Jabor

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Não me esqueço de um ataque de riso, muitos anos atrás, quando ouvi a autocrítica de um alto dirigente do PC da China, durante a revolução cultural. Quem foi? Lin Piao? Não me lembro. A "autocrítica" era um dos velhos hábitos comunas, uma espécie de confissão católico-vermelha, só que aos berros diante das massas. E o dirigente se criticou: "Eu sou um cão imperialista, eu sou o verme dos arrozais da China, eu sou a vergonha do comandante Mao..."

Queria de volta as autocríticas do tempo de Mao. Queria ver o Marco Aurélio Garcia, por exemplo, bater no peito se confessando: "Eu sou a praga do cerrado, eu sou um bolchevista fingindo de democrata. Acabei com o prestígio de Lula lá fora, beijando o Armadinejad, isolei o Brasil e provavelmente perderemos mais de US$ 3 bilhões em benefícios que os Estados Unidos nos davam para exportações, além da sobretaxa do etanol, que será mantida!"

Depois que conseguiram entrar no Estado, através do Lula, os velhos esquerdistas perderam a aura mística, a beleza romântica que tinham na clandestinidade que os santificava. Eu conheci muitos heróis, sonhando realmente com a revolução, mesmo que utópica, mas honestos, sacrificando-se, morrendo. O comunista romântico não vemos mais.

Hoje, eles não se consideram eleitos por uma democracia, mas guerreiros políticos que "tomaram" o poder. Vemos isso nos milhares de insultos no twitter, emails e bloguinhos que espoucam na internet. Recebo centenas, como outros jornalistas. São apavorantes os bilhetes na web: ofensas e ameaças. Não há uma luta por ideais, mas uma resistência carregada de ódio e medo daqueles que podem, eventualmente, tirar seus privilégios: os "canalhas neoliberais"...

Esses quadrilheiros usurparam os melhores conceitos da verdadeira esquerda que pensa o Brasil no mundo atual, uma esquerda reformada pelas crises internas e externas, que se conscientizou dos erros da agenda clássica. Eles injuriam e difamam o melhor pensamento de uma esquerda contemporânea, em nome de uma "verdade" deformada que teimam em manter. Esse crime abstrato muitos intelectuais e artistas não vêem, por temor ou ignorância. Falam de um lugar que seria da "esquerda", mas que é o lugar de baixos interesses pelegos, de boquinhas a defender ? uma versão de socialismo decaída em populismo. Se dizem de esquerda, mas são de direita, para usar seus termos. Não só pilharam bilhões de reais de aparelhos do Estado, em chantagem com empresários, em fundos de pensão, contratos falsos, mas roubaram também nossos mais generosos sentimentos. E não é só a mentira que é vergonhosa. É a arrogância com que mentem, ao se apropriar do controle da inflação e de todas as reformas que o governo anterior lhes deixou, que eles chamam de "herança maldita".

Não há mais "autocrítica". Hoje temos o desmentido. O "desmentido" é o arrependimento do "se colar colou". Quando uma ação revolucionária dá "chabu", basta desmentir e ainda dizer que foi tudo invenção da vítima. Assim foi o caso Celso Daniel, o caso dos "aloprados" de São Paulo, das cuecas, tudo. "Nunca antes" um partido tomou o poder no Brasil e montou um esquema assim, um plano secreto de "desapropriação" do Estado, para fundar um "outro Estado" ou para ficar 20 anos no poder.

E agora no caso do "dossiê" contra o PSDB e Serra, mentem tranquilos: é a ""mentira revolucionária". Lembro-me do Lula rindo do dossiê dos "aloprados", dizendo: "Deixa pra lá... o povo nem entende o que é dossiê... pensa que é doce de batata... de abóbora..."

Como não têm um programa moderno para o Brasil, a não ser o imaginário sarapatel de ideologias que vão de um leninismo mal lido, passando por um getulismo tardio, uma recauchutagem de JK fora de época, eles escondem sua incompetência se dedicado à parte "espiritual" da velha ideologia: controle, fiscalização, tutela, espionagem e censura.

Agora, estamos assistindo ao início da "porrada revolucionária", com os "militantes" atacando os "inimigos" do povo. É o zelo dos peões, dos pés-de-poeira, que se acham os guerreiros de uma missão bélica para impedir que os burgueses do PSDB ganhem ? (se aliam ao Sarney e Collor e dizem que Serra e FHC, que passaram mais de uma década no exílio são "fascistas neo liberais"... Pode?)

Os brutamontes da militância se acham imbuídos de uma missão sagrada: "Eu taquei um pé nos cornos daquele tucano filho de uma égua, esfreguei a cara dele no chão até ele gritar "Viva a Dilma!" É isso que é golpe de esquerda, não é, companheiro?"

Outro feito dos bolchevo-pelegos no poder é a desmoralização do escândalo. As verdades e delitos aparecem, mas, por negaças, recursos políticos e protelações o escândalo definha, entra em agonia e morre. Quantos já houve? Stalin apagava das fotos os membros do partido que ele expurgava; portanto, nunca existiram. Tudo é absolvido pela "mentira revolucionária", porque ela vem por uma "boa causa".

Quase todos esses cacoetes derivam de um sentimento: "Somos superiores." Quando eu era estudante, um dirigente do PC dizia sempre: "Não estamos com a doutrina certa? Então... é só aplicá-la." Essa "certeza superior" é encontradiça em homens-bomba, em bispos vermelhos. O autoritarismo e a truculência não são privilégio de fascistas.

A única revolução no Brasil seria o enxugamento de um Estado que come a nação, com gastos crescentes e que só tem para investir 1,5% do PIB. A única revolução seria administrativa, apontada para a educação e para as reformas institucionais, já que, graças a Deus, a macroeconomia herdada foi mantida e a economia mundial se dirige a países emergentes.

O Brasil está pronto para decolar, se modernizar e essa gente quer segurar o avião em nome de interesses de um patrimonialismo de Estado e de um socialismo morto que, em seu delírio, acham que virá. Como recomendou Stedile a seus "sem-terra": "Tenham filhos; eles vão conhecer o socialismo..."

Beth Carvalho - VouFestejar (Com a Bateria da Mangueira)

Jungmann acredita que vitória de Dilma pode afetar democracia

DEU NO PORTAL TERRA

Ed Ruas
Direto de Recife

O deputado federal Raul Jungmann (PPS) afirmou, nesta terça-feira (22), em entrevista à Rádio Folha, que a vitória de Dilma Rousseff (PT) nas próximas eleições pode estabelecer uma "Era Petista" e, consequentemente, impor mudanças à democracia no Brasil. "Anotem o que digo: se a oposição não tiver sucesso, vai ocorrer um sufocamento do espaço das oposições, quando não da própria imprensa. Isso é uma real possibilidade. Não se enganem, pois no PT existem alas antidemocráticas e anti-institucionais. Se isso (vitória do PT) ocorrer, podem ocorrer mudanças efetivas na democracia", avaliou.

De acordo com Raul Jungmann, o mandato de Dilma Rousseff será apenas uma ponte para o retorno de Lula, em 2014. "Não estamos (oposição) disputando uma eleição qualquer. Pode representar 20 anos de petismo e o sepultamento de várias trajetórias. É uma definição de 20 anos do rumo do País", argumentou.

Raul Jungmann, que é cotado para integrar a chapa majoritária de oposição em Pernambuco como candidato ao Senado, descartou a possibilidade e garantiu que disputará a reeleição. "Seria uma honra participar de uma chapa com Jarbas Vasconcelos (PMDB), mas o meu partido e eu entendemos que devemos manter essa cadeira".

O bloco de oposição em Pernambuco é formado pelo PDMB, PSDB, DEM, PPS e PMN. O PPS mantém a candidatura ao Senado do ex-secretário de Saúde de Pernambuco, Guilherme Robalinho.

Serra acusa Lula de uso eleitoral da máquina

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Tucano afirma que programa de combate ao crack lançado pelo governo federal foi baseado em pesquisas e serviu para ajudar a candidata petista

Carolina Freitas

Estratégia. Para tucano, adversários fazem "terrorismo"

O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, acusou ontem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de usar a máquina pública em benefício da candidata do PT, Dilma Rousseff. Para o tucano, um exemplo disso foi o lançamento de um programa de combate ao crack feito no mês passado pelo governo federal.

Serra disse que, após sete anos e meio de governo, os petistas souberam por pesquisas de opinião da preocupação do eleitor com o crack e lançaram o programa. "É uma tabelinha quase perfeita de uso da máquina. A candidata fala e o governo lança o plano", afirmou, em sabatina promovida ontem pelo jornal Folha de S. Paulo e pelo portal UOL.

O tucano acusou os adversários de usarem de "terrorismo" para tentar minar sua campanha e sua imagem, principalmente em debates regionais e pela internet. Citou um texto divulgado em blogs por uma pessoa ligada a Lula e Dilma afirmando que ele acabaria com o ProUni caso eleito. "Eu nunca disse isso. Tem tanta coisa maluca espalhada. Esse é o método terrorista. Não violento, mas terrorista."

Questionado sobre privatizações, tema polêmico que despertou boatos e tirou votos de Geraldo Alckmin, candidato tucano à Presidência em 2006, Serra classificou o tema como um "falso assunto". "Não vejo muito espaço para mais privatizações, mas esse debate sempre é feito com terrorismo", disse.

"Esta será uma eleição difícil", avaliou. Exemplo dessa dificuldade, disse, foi a suposta preparação de um dossiê contra ele por colaboradores da campanha de Dilma. Para o candidato, existe uma tendência de "culpar a vítima" em casos como esse. "Até hoje não houve nenhum pedido de desculpas pelo episódio dos aloprados, o que significa que eles vão continuar fazendo."

Em Brasília, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, reagiu às declarações de Serra, segundo as quais Dilma deveria se desculpar e afastar os assessores acusados de envolvimento no suposto dossiê. "Quem tem de pedir desculpas é quem está buscando relacionar essa história de dossiê, que não tem nada a ver com a pré-campanha da ministra Dilma", declarou. "Já está muito claro pela fala dos coordenadores da campanha, de outras pessoas envolvidas na campanha, que não teve nenhuma relação com a coordenação da campanha, com nenhum coordenador da campanha nem com campanha, nem da campanha da ministra Dilma ou com PT nacional."

O PSDB articula para chamar o secretário da Receita Federal, Otacílio Cartaxo, para depor na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado sobre a quebra ilegal de sigilo fiscal do vice-presidente do partido, Eduardo Jorge. Ontem, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) avisou que apresentará amanhã, na comissão, um requerimento para que o pedido de convite seja aprovado.

Serra: país está estrangulado por infraestrutura

DEU EM O GLOBO

"A soja de Mato Grosso custa até Santos o mesmo que de lá à China. Não é possível. Não tem cabimento"

Gisele Barcelos* e Flávio Freire

UBERABA e SÃO PAULO. Em encontro com líderes rurais em Uberaba (MG), o presidenciável José Serra (PSDB) rechaçou ontem as propagandas do governo Lula sobre investimento em infraestrutura. Segundo Serra, 70% das aplicações governamentais no setor são feitas por estados e municípios.

O tucano criticou as condições das rodovias.

— A soja de Mato Grosso custa até Paranaguá ou Santos o mesmo que de lá à China. Não é possível. Não tem cabimento.

Estamos estrangulados por infraestrutura, reflexo do baixo investimento governamental, mas também de política errada de concessões de serviços públicos, começando pelas estradas.

O tucano criticou o sistema atual de reforma agrária e a falta de políticas agressivas do governo Lula para derrubar barreiras sanitárias. Serra discursou em palanque e se intitulou o candidato da produção.

Reforçou a importância da agropecuária na consolidação do Plano Real e disse que o Brasil não terá desenvolvimento sem o setor produtivo: — E eu, presidente, seria presidente da produção. Sem isso, o país não vai para a frente.

Para o tucano, o atual sistema de reforma agrária é um problema, porque os assentamentos não conseguem produzir.

— Paga uma nota para desapropriar.

Custa R$ 40 mil, R$ 50 mil, R$ 60 mil por família assentada.

Tem cabimento depois ter que manter com uma cesta básica? Nenhum — argumentou, sem perder a chance de alfinetar o MST. — O MST não faz reforma agrária, é um movimento político com gente que não tem ideia do que acontece no meio rural.

Não pode dar dinheiro público para esses movimentos.

Serra rebateu a política externa de Lula. Disse que a taxa cambial está desfavorável ao agronegócio, e censurou o governo por não ser agressivo na derrubada de barreiras sanitárias ou na defesa do produto nacional: — Não tem política. Nem de defesa comercial, nem de penetração comercial.

Mais cedo, em sabatina do UOL e do jornal “Folha de S. Paulo”, Serra disse que gostaria de fazer, no segundo turno, “tabelinha” com Marina Silva, do PV: — Eu adoraria ser o herdeiro (dos votos do PV), mas a decisão não é minha, é dos eleitores.

Eu até toparia uma tabelinha, mas não acho que a Marina esteja fazendo algum viés, não. Agora, tenho uma proximidade grande com a área ambiental.

Me considero um ambientalista.

Mas não há nenhum tipo de entendimento político.

Serra rasgou elogios ao candidato verde ao governo do Rio, Fernando Gabeira — “é um caso único, tem apoio de todos os candidatos a presidente”. Em duas horas de sabatina, atacou o governo federal e a campanha de Dilma. Sobre privatizações, disse que os rivais fazem terrorismo eleitoral sobre o tema.

— O governo Lula privatizou dois bancos, não reprivatizou nada, e acho que essa questão é mais usada como terrorismo do que como debate. Falar “Serra vai privatizar o Banco do Brasil” é um terrorismo.

O tucano disse apostar as fichas em sua biografia política. E que caberá ao eleitor escolher a partir da história dos candidatos, em crítica velada ao currículo de Dilma na vida pública: — Quem deve dizer isso é o eleitor, que deve julgar a biografia, e não só a biografia familiar.

Mas me refiro à biografia na vida pública, coerência, experiência, o que já se fez.

Serra disse que a escolha do vice ficará para o fim do mês, mas que o assunto não o estressa.

Ele afirmou ainda que até ele tem curiosidade para saber quem será o escolhido: — Também tenho uma enorme curiosidade (sobre o vice), mas até o fim do mês se resolverá.

Essa não tem sido uma questão estressante para mim nem para o PSDB. Como temos o prazo, estamos fazendo uma boa avaliação, que some.

Serra voltou a dizer que Dilma deveria ter pedido desculpas publicamente por causa do suposto dossiê contra os tucanos: — Deveria ter afastado pessoas, pedir desculpas. O que não pode é dizer que o problema é da Receita. O que não pode é também culpar a vítima, o que significa que isso ainda vai continuar.

Acho que ela deveria pedir desculpas, sim. Do tipo: desculpa, nós erramos e estamos tomando as providências

Serra vê terrorismo com privatizações e diz que Dilma deve desculpas por dossiê

SABATINA NA FOLHA DE S. PAULO

"Lula chamava o Bolsa Família de Bolsa Esmola", diz Serra em sabatina

Serra se diz a favor da união civil e da adoção de crianças por gays

Serra diz que governo da Bolívia faz corpo mole e chama de absurda cassação de aliados

Também tenho uma enorme curiosidade de saber quem será meu vice, diz Serra

"Escolha do vice não tem sido estressante", diz Serra

Para Serra, governo errou ao tratar dos royalties em ano eleitoral

SÃO PAULO -
O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, afirmou nesta segunda-feira que as privatizações de empresas estatais são usadas como "terrorismo eleitoral" e que sua adversária na disputa, Dilma Rousseff (PT), deve desculpas pelo suposto dossiê contra tucanos.

"Isso [as privatizações] é usado mais como terrorismo eleitoral, do que como realidade", disse ele em sabatina da Folha, em referência a uma suposta intenção sua de privatizar empresas estatais.

Sobre o Banco do Brasil, afirmou que é "terrorismo em estado puro".

Serra também falou sobre o suposto dossiê contra tucanos. Segundo reportagem da Folha, os dados fiscais do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge Caldas Pereira, levantados pelo "grupo de inteligência" da pré-campanha de Dilma, saíram diretamente dos sistemas da Receita Federal, como atestam documentos aos quais a reportagem teve acesso.

"Por que a Receita vai quebrar o sigilo de alguém e fazer vazar isso à toa? Não é à toa", disse Serra. "Diante das evidências, caberia uma atitude mais dramática, de afastar as pessoas, pedir desculpas publicamente", afirmou ele sobre a reação que Dilma deveria ter em relação ao caso.

O jornalista responsável pelo pedido de levantamento de informações saiu da campanha petista, mas Dilma nunca foi a público dizer que houve falha de sua campanha. O presidente Lula chegou a dizer que o caso seria uma "armação".

Outro lado

O ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) disse que é Serra quem deve desculpas à Dilma por acusar membros da pré-campanha petista.

"Quem tem de pedir desculpas é quem está buscando relacionar esta história de dossiê com a pré-campanha da ministra Dilma", disse Padilha, após reunião com o presidente Lula, em Brasília.

Casais homossexuais

Ele disse ser a favor da união civil e da adoção de crianças por casais homossexuais. "Tem tanto problema grave de crianças abandonadas no Brasil. Isso vale para qualquer tipo de casal, qualquer tipo de pessoa. Não vejo por que não aprovar isso", disse ele durante sabatina da Folha.

O tucano disse ser a favor, "em geral", de ações afirmativas. Ele defendeu o modelo adotado pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). "Na Unicamp você tem pontos se você veio de escola pública, se tem cor negra. É diferente e tem funcionado bem."

Dilma também defende o direito de os casais gays adotarem crianças. Marina Silva (PV), que é evangélica, sempre escapa dessa pergunta. Há meses, diz que ainda não formou opinião.

Serra afirmou que não é a favor da descriminalização das drogas e disse que não mexeria na atual legislação sobre o aborto. "Liberar o aborto criaria uma verdadeira carnificina no país."

Vice

O tucano afirmou, ao ser questionado sobre o vice que irá compor sua chapa, que também tem uma "enorme curiosidade" em saber o nome do político que vai ocupar a vaga.

"Eu também tenho uma enorme curiosidade. Até o fim do mês resolve. Essa não tem sido uma questão estressante para mim, nem para grande parte do PSDB", disse ele durante sabatina da Folha.

Hoje, os mais cotados são Sérgio Guerra, Tasso Jereissati e Álvaro Dias, todos senadores do PSDB. No DEM, José Carlos Aleluia, deputado baiano, tem chances também.

Respondendo a uma pergunta se seria o candidato da continuidade ou da mudança, o tucano afirmou que será o "candidato do avanço".

Um dos entrevistadores da sabatina, Fernando Rodrigues, citou uma frase do presidente do PSDB, Sérgio Guerra, criticando o programa Bolsa Família, e Serra emendou: "É uma pena que você tenha pesquisado e deixado de ver o que o Lula falou. Antes de ser presidente, Lula e o PT chamavam o programa de Bolsa Esmola".

Serra falou sobre sua relação de congressista com o governo Fernando Collor para dizer que não faz oposição do "tudo ou nada, do quanto pior, melhor".

O tucano acusou o PT de fazer "terrorismo" contra sua candidatura. Ele culpou os petistas por boatos de que acabaria com o Bolsa Família ou o ProUni, marcas de sucesso do governo Lula.

"Isso nunca me passou pela cabeça. É como dizer que é contra a energia elétrica, a água encanada", reclamou. "Tem tanta coisa maluca espalhada que eu não quero nem falar. Depois endureceu o tom: "Esse é o método terrorista. Não violento, mas terrorista".

O tucano afirmou que governo não precisa ter uma marca específica. "Eu não acho que tenha que ter uma marca. Acho que tem que trabalhar muito. A minha marca foi trabalhar muito."

O presidenciável citou suas principais realizações no Ministério da Saúde, como genéricos, programa contra a Aids e campanha de vacinação contra a gripe, para dizer que nenhuma delas foi uma marca de sua gestão, e o famoso vídeo em que orienta a população a tomar cuidado com o porquinho para evitar a gripe suína. "Essa é uma das grandes gozações que eu sofri na minha vida pública, a coisa do porquinho."

PV

Após o PSDB nacional oficializar apoio neste fim de semana à candidatura de Fernando Gabeira (PV) ao governo do Rio de Janeiro, o tucano afirmou hoje que Gabeira é "um grande quadro" de sua geração. O palanque do deputado no Rio está dividido entre ele e Marina.

Questionado sobre se acha que herdará os votos de Marina num eventual segundo turno com Dilma, Serra afirmou que adoraria. "Eu adoraria ser o herdeiro, mas a decisão não é minha, é dos eleitores."

O tucano disse não concordar com a hipótese levantada de que Marina está lhe poupando na campanha."Eu até toparia uma tabelinha, mas eu não acho que a Marina esteja fazendo algum viés, não. Agora, eu tenho uma proximidade grande com a área ambiental. Me considero um ambientalista. Mas não há nenhum tipo de entendimento político", afirmou Serra.

PP

O candidato disse que não perdeu a esperança de atrair o PP para sua coligação. O partido flertou com Serra, mas agora indica que ficará neutro na disputa. "Ainda não acabaram as coisas, temos até o fim do mês. O PP tem alianças no Rio Grande do Sul, com o PSDB. O Brasil é heterogêneo, os partidos também são. Estamos trabalhando", disse Serra.

Perguntado sobre as chances matemáticas de fechar com o PP, o tucano arriscou uma metáfora futebolística, no estilo do presidente Lula: "Não sei qual é a chance, mas, se soubesse, não diria. Se numa partida de futebol o técnico diz: 'Acho que a chance do Kaká entrar pela esquerda e cruzar para o Elano é de 80%'. Isso não ocorre. Porque vão marcar o Kaká e o Elano."

Ele ainda evitou comentar sua participação como protagonista do programa do PSDB, na última quinta-feira. "A Justiça vai julgar."

Em seguida, atacou o PT e candidata Dilma. Segundo ele, está havendo "uso da máquina". "Por exemplo, falar de crack e no dia seguinte vir um programa contra o crack", disse, referindo-se ao episódio em que sua adversária levantou o problema da disseminação do vício e, em seguida, o governo federal lançou um plano nacional de enfrentamento da droga.

Serra ainda defendeu o fim da reeleição, mas disse que não transformará a ideia em "programa de governo".

Bolívia

Serra afirmou que o governo da Bolívia faz corpo mole contra as drogas. Segundo ele, a alegada "cumplicidade" do governo daquele país com o tráfico é só um fator do problema.

"São vários fatores. Nada contra o povo boliviano. É um país que tenho muito carinho. Agora, que o governo lá faz corpo mole, faz", disse ele durante sabatina da Folha.

O tucano também chamou de "absurdas" as cassações de dois aliados: os ex-governadores Cássio Cunha Lima (PSDB), da Paraíba, e Jackson Lago (PDT), do Maranhão.

"É um absurdo. O Jackson foi cassado porque o governador o apoiava e ele foi numa solenidade em que o governador disse não sei o quê."

Ambos podem ser impedidos de concorrer este ano pela Lei Ficha Limpa, o que causa apreensão na campanha tucana. Segundo Serra, a lei não deve ser usada contra os dois aliados.

"A lei teve como objetivo pegar malandro que rouba. Eles foram cassados, já foram punidos. Agora, diante da interpretação do TSE [Tribunal Superior Eleitoral], cada caso terá que ser julgado individualmente", disse. "Presumo que a Justiça fará uma via rápida para resolver isso a tempo. Se não, vai ser uma grande confusão no país."

Banco Central

Serra voltou a explicar hoje a afirmação de que o Banco Central não é a Santa Sé. "Eu disse algo muito óbvio. Acho que tem que funcionar direito, tem que ser entrosado."

Em uma alfinetada no governo, ele afirmou que terá uma equipe entrosada, sem divergências públicas entre o BC e os ministérios da Fazenda e do Planejamento. "Não pode ter uma política que vai para um lado e uma que vai para o outro. Com esse entendimento, vamos conseguir fazer uma bela política econômica."

Ditadura

Perseguido pelos militares, Serra disse que era contra a luta armada e não poderia ficar no Brasil como clandestino. "Viver na clandestinidade, se você tem cara conhecida, é praticamente impossível."

O tucano disse que salvou o petista Marco Aurélio Garcia, coordenador do programa de Dilma, no Chile. "Eu o ajudei no Chile, quando teve o golpe lá [em setembro de 1973]. Chamei o Paulo Renato [Souza] para ele levar o Marco Aurélio a uma embaixada que eu mesmo tinha aberto."

Ele ainda brincou com o aliado Aloysio Nunes Ferreira, candidato ao Senado pelo PSDB, sentado na primeira fila do Teatro Folha. "Luta armada, eu nunca acreditei. Tem amigos meus que acreditaram. Vou olhar de levinho aqui..."

Aposentados

Serra também falou sobre o reajuste de 7,7% para os aposentados, sancionado na semana passada pelo presidente Lula. "Quem está lá tem o domínio dos números."

Ele defendeu, sem entrar em detalhes, uma reforma previdenciária que não mexa em direitos adquiridos. O tucano lembrou de sua época de constituinte, em que diz ter defendido "um novo sistema, pra quem está nascendo hoje".

CPMF

Questionado sobre a extinção da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) e se ela voltaria num eventual governo tucano, Serra se esquivou de responder.

"A CPMF, quando foi extinta, já não estava mais vinculada à saúde. Essa história de que prejudicou a saúde é conversa. O dinheiro da saúde já vinha escasseando, porque o governo deixou de mandar."

O tucano afirmou que só pode falar de criação ou extinção de imposto no contexto de uma reforma tributária. Sobre essa reforma, repetiu um mantra de campanha: "É como eletricidade e água encanada. Todo mundo é a favor".

Segundo Serra, o governo precisa de um projeto claro a respeito. "A primeira coisa que um governo deve ter é um projeto. Segundo: batalhar pelo projeto. E, em terceiro, ganhar a opinião pública."

O tucano repetiu que "temos a maior carga tributária no mundo em desenvolvimento, a maior taxa de juros". "Tem algo errado aí. Com toda essa grana, se gasta mal o dinheiro."

Para ele, a preocupação com a eficiência no gasto público é "pequenininha" e fica "lá no horizonte".

Serra prometeu ainda fazer a Nota Fiscal Brasileira, nos moldes do programa Nota Fiscal Paulista, criada por ele em São Paulo. Segundo ele, não é promessa, é um "anúncio".

Royalties

Serra afirmou que o governo errou ao tratar da polêmica sobre os royalties de petróleo em ano eleitoral. "A questão dos royalties nunca poderia ter sido levantada em ano eleitoral. Para que?
Criou-se a sensação de que o pré-sal está aí na esquina. Levantar em ano eleitoral é trazer a discórdia e a desavença para o país."

O tucano diz que discorda do modelo de partilha, aprovado pelo Congresso, que tira recursos do Rio de Janeiro e do Espírito Santo.

"Lógico [que discordo]. Tira tudo do Espírito Santo e do Rio de Janeiro, que estão crescendo com isso. Você não pode chegar para a cidade de Campos e dizer que a partir de amanhã isso acabou.
Você vai criar um colapso. Óbvio que há uma reação muito forte. A troco de que? Não faz sentido."

Serra disse ainda que não se opõe à criação da nova estatal que administrará o pré-sal. "Em princípio, não sou contra criar nenhuma nova estatal, se ela for imprescindível. Neste caso tenho dúvidas, mas já é uma decisão tomada."

Copa-2014

O candidato tucano também falou sobre a exclusão do Morumbi da Copa-2014. "Por mim, teria feito no Morumbi. Não teria acontecido nada", disse. "As obras que cabiam ao governo do Estado, nós nos encarregamos. Aquilo que precisava do governo, nós garantimos tudo."

Ele ainda reclamou da Fifa: "Acho que há muita exigência também."

Cuba e Irã

Serra avalizou a relação do Brasil com Cuba e disse que o bloqueio americano à ilha é "uma coisa odiosa", mas afirmou que o respeito aos direitos humanos deve ser defendido pelo Brasil. "Se o Brasil votar para censurar a falta de direitos humanos em Cuba, vai votar sim."

Ele ainda defendeu as sanções ao Irã e comparou o presidente Mahmoud Ahmadinejad ao líder nazista Adolf Hitler. "O Brasil entrou num caminho que não tinha mais volta. Eu não teria feito essa negociação", disse, chamando Ahmadinejad de ditador. "Não é alguém confiável. Guardando as proporções, é como o pessoal que confiou em Hitler."

Debate

Antes de se despedir, Serra deu uma alfinetada em Dilma, que cancelou sua participação no debate, alegando uma viagem internacional.

"Um debate como esse não tira pedaço de ninguém. O ideal seria que todos comparecessem."

Ele ainda se desculpou pelo atraso de 40 minutos. Prevista para as 11h, a sabatina só começou por volta das 11h40. "Peço perdão sem esperança de obtê-lo."

Questionado sobre seus atrasos, Serra admite o problema, mas relativiza. "Quando eu chego na hora, não acontece nada."

Cenário eleitoral no Rio é atípico

DEU EM O GLOBO

Motivo seria ausência de candidatos do PT e do PSDB

A indefinição na corrida eleitoral no Rio este ano, segundo especialistas, é atípica se for comparada a eleições anteriores. Ricardo Ismael, professor do Departamento de Sociologia e Política da PUC-RJ, por exemplo, apontou duas características fundamentais para as mudanças no estado: a aliança nacional entre PT e PMDB e o fato de o PSDB fluminense não lançar candidatura própria ao governo.

— Ou seja: na eleição deste ano, os dois principais partidos da conjuntura nacional, PT e PSDB, não vão lançar candidatos ao governo.

É uma situação diferente em se tratando da importância do Rio em relação aos outros estados — disse Ismael.

Para o professor, apesar de o PT ter adiado a convenção temendo uma possível traição do PMDB, o acordo será mantido: — Os dois partidos têm uma aliança nacional.

O PT fez isso por questão de cautela, mas tudo deverá ser resolvido.

Ismael também acredita que os problemas na coligação PV-PSDB-DEM-PPS, por enquanto, estão superados depois de o deputado federal Fernando Gabeira ter oficializado sua candidatura no último sábado.

— O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, depende do apoio de Gabeira aqui no Rio. O comando nacional dos tucanos pressionou (para ter direito a uma vaga ao Senado na chapa, ocupada pelo ex-deputado Marcelo Cerqueira, do PPS). Mas pressão tem limite, e a aliança, ao que parece, superou o impasse — disse ele, lembrando que as atenções, agora, estão voltada para Anthony Garotinho.

Já Eurico Figueiredo, coordenador do Programa de Pós-Graduação de Ciências Políticas da Universidade Federal Fluminense (UFF), afirma que o cenário no estado está “confuso e turbulento”: — As pesquisas apontam um favoritismo para Sérgio Cabral. Mas não sabemos se Garotinho conseguirá ser candidato. Se não for, o governador será o maior beneficiado.

Os votos de Garotinho não são ideológicos. São personalistas e comunitários.

Mesmo se Garotinho declarar apoio a Gabeira, caso não concorra, esse apoio será quebrado, e boa parte desses votos vai para Cabral

Jarbas não desiste de Magalhães

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

O senador e pré-candidato ao governo Jarbas Vasconcelos (PMDB) ainda não conseguiu fechar a chapa majoritária, faltando oito dias para a convenção das oposições (PMDB/DEM/PSDB/PPS), marcada para o dia 30. Ele retorna hoje de Brasília, no último voo, o das 23h, e passará a semana recluso, com exceção da saída a Caruaru e Gravatá, amanhã, para festejar o São João. Ele está em intensa articulação para a escolha do segundo candidato ao Senado das oposições. Apesar das negativas do deputado Roberto Magalhães (DEM), informações de bastidor dão conta de que há espaço para fazer o parlamentar, nome preferido de Jarbas ao Senado, voltar atrás da ideia de largar a política este ano para se integrar à chapa majoritária.

O principal argumento tem um componente pessoal: o “sim” de Magalhães poderá ajudar a reeleger o seu amigo há décadas, o senador Marco Maciel (DEM), a quem o próprio deputado atribui sua entrada na política. Maciel, que inclusive é um dos escalados para “convencer” o amigo, enfrentará a chapa do governador Eduardo Campos (PSB), que terá o ex-secretário de Estado, Humberto Costa (PT), e o deputado Armando Monteiro Neto (PTB) como candidatos ao Senado. “Não é uma nem duas conversas que farão doutor Roberto voltar atrás, mas estamos trabalhando nisso”, contou um aliado.

Caso esse convencimento não ocorra, o deputado Raul Jungmann, nome sempre cogitado para o posto, poderá ser, enfim, confirmado. O parlamentar tem a aprovação de Jarbas para disputar o Senado e também o apoio do senador e presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra. Embora o dirigente afirme que o partido tucano precise ter o “número 45” nas composições regionais para ajudar o presidenciável José Serra, a solução de Pernambuco teria outro arranjo em função da falta de quadros do PSDB que satisfaça a todos.

A oposição deve usar o prazo máximo, dia 30, data da convenção, para anunciar esse segundo nome ao Senado. O evento das oposições será no Clube Atlético de Amadores, em Afogados. O ato está marcado para às 13h, mas Jarbas e os companheiros de chapa só devem chegar ao local às 16h. Data e horário igual à convenção do adversário, Eduardo Campos.

Ceará:Expectativa quanto ao encontro dos tucanos hoje

DEU NO DIÁRIO DO NORDESTE (CE)

Está confirmada para esta manhã, no escritório do senador Tasso Jereissati, a reunião dos deputados, prefeitos e outras lideranças do PSDB, anteriormente programada para o anúncio do nome do candidato do partido ao Governo do Estado.

Ontem, no entanto, alguns tucanos admitiam que esse nome poderá não ser conhecido hoje e ainda admitiam que o senador Tasso Jereissati teria um encontro, ainda nesta terça-feira, em Brasília, com o deputado federal Ciro Gomes (PSB), articulado por amigos comuns.

Na onda das especulações, em razão da falta de informações, os deputados estaduais do PSDB, ontem, não se cansavam de telefonar uns para os outros em busca de notícias. A maioria, no final do dia, concluiu que o partido até aquele momento, ainda não tinha um nome para lançar como candidato.

Na bancada, o nome do deputado Marcos Cals era apontado como uma solução, no caso de o partido realmente querer disputar a sucessão estadual. Marcos Cals cujo nome é sempre apontado para disputar um cargo majoritário, passou o dia longe das especulações, embora fosse o centro de todas elas.

Por não existir informação merecedora de confiança, todos se achavam com o direito de especular dando notícia de ter visto aquilo e aquilo outro, ou que alguém disse que foi informado sobre isso, que na verdade não existia.

Os tucanos só foram chamados ontem para o encontro que vai acontecer hoje. E nada mais lhes foi dito pelo portador do convite para o encontro, embora eles tenham procurado saber o que realmente vai acontecer. Se o partido vai anunciar ou não o seu candidato à governador.

Outros

Em entrevista ao Diário do Nordeste, ontem, o líder do PR no Ceará, ex-governador Lúcio Alcântara, admitiu a sinalização para um segundo turno com a possibilidade de o PSDB lançar um nome. Desde o início deste ano, o republicano insistia em formar alianças para que Cid tivesse um opositor no Estado. "Eu levantei essa luta sozinho no começo", lembra Lúcio.

Agora, embora não tenha conseguido, pelo menos por enquanto, se aliar ao PSDB para juntos tentarem desbancar o governador Cid Gomes, Lúcio vê com bons olhos a possibilidade de um segundo turno, o que para ele beneficia os partidos menores. "Em princípio, eu acho que isso é bom para todos porque ainda estamos nesse cenário de incertezas", destaca.

Se até o fim da semana não conseguir apoio para formar uma aliança de oposição a Cid, é Lúcio Alcântara quem vai encabeçar a chapa majoritária do PR na disputa pelo Governo.

Embora admita que ainda está "conversando com alguns partidos", ele diz não poder ficar esperando pelas siglas maiores, por isso o PR já tem esse plano.

Definido vice, Berfran diz: “Yeda pode confiar em mim”

DEU NO ZERO HORA

Depois de idas e vindas com nomes do PP, governadora recebeu ex-secretário do PPS na sede tucana

Juliana Bublitz

Quando pisou na sede do PSDB, na Capital, às 13h24min de ontem, vestindo um traje rosa pink e sorrindo, a governadora e candidata à reeleição Yeda Crusius só tinha olhos para ele. No fundo da sala, rodeado por colegas de partido, Berfran Rosado, deputado estadual e presidente do PPS, devolveu o sorriso, estendeu o braço e foi correspondido. Estava selada a parceria capaz de dar fim a uma novela que se arrastava havia meses.

Desde a semana passada, o nome de Berfran era o mais cotado para assumir o posto de candidato a vice-governador na chapa encabeçada por Yeda, que vinha procurando, sem sucesso, um parceiro de disputa confiável, fechado com seu projeto e discreto o bastante para se manter sempre “dois passos atrás” dela. Ontem, o engenheiro civil de 50 anos, que gosta de se definir como um “técnico em gestão pública”, não apenas aceitou o desafio, como prometeu lealdade à colega.

– Estou muito honrado. A governadora pode confiar em mim – afirmou Berfran.

Pela mão, Berfran foi conduzido por Yeda para uma sala com capacidade para 50 pessoas na sede do PSDB, que logo ficou pequena. Em tom descontraído, o deputado do PPS intimou o grupo que se aglomerava na entrada:

– Vamos lá, gurizada.

E foi seguido, em meio a risadas e burburinho, por políticos dos partidos que ontem formalizaram a união em torno de Yeda: PSDB, PP, PPS e PRB.

Além de confidenciar que esperava por Berfran havia “quatro anos”, ela aproveitou para alfinetar o atual vice, Paulo Feijó (DEM), durante entrevista.

– Um vice do porte do Berfran é capaz de contribuir para o Rio Grande em todas as áreas, mais do que eu consegui sozinha. Não apenas por não ter um vice atuando, mas por ter um vice contra o meu projeto de desenvolvimento – disse a candidata, que se desmanchou em elogios ao PP, por ter tornado possível a escolha de Berfran.

Foi a saída de cena do PP, que até então detinha a prioridade na indicação do vice. Isso viabilizou a entrada do PPS na campanha – considerada fundamental para alavancar as chances de reeleição.

TCU anuncia mais 5 mil que não podem disputar eleição

DEU EM O GLOBO

Tribunal envia à Justiça Eleitoral lista de gestores públicos condenados

A lista dos fichas-sujas, impedidos de disputar as eleições deste ano, aumentou ontem com o envio ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de uma relação de gestores condenados pelo Tribunal de Contas da União (TCU) por mau uso do dinheiro público. São 4.922 administradores em todo o país, que acumulam 7.854 condenações por irregularidades em convênios de estados e municípios com entidades federais. O número de condenados aumentou, em relação à última lista, elaborada em 2008, quando 3.178 gestores foram impedidos de concorrer. Neste ano, na ponta do ranking, está o Maranhão, com 728 condenações.


Mais cinco mil inelegíveis

TCU envia à Justiça Eleitoral lista de gestores públicos com contas rejeitadas

Catarina Alencastro

BRASÍLIA - O Tribunal de Contas da União (TCU) divulgou ontem uma lista com os nomes de 4.922 gestores públicos que estão impedidos de disputar as eleições de outubro. Eles ficaram inelegíveis porque tiveram suas contas dos últimos anos rejeitadas por mau uso do dinheiro da União em convênios de estados e municípios com entidades federais.

A grande maioria dos integrantes da lista é de funcionários de carreira ou ocupantes de cargos de confiança; e grande parte não pretende disputar a eleição.
Mas quem tiver essa pretensão será barrado na Justiça Eleitoral.

A lista do TCU, entregue ontem pelo presidente do tribunal, Ubiratan Aguiar, ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Ricardo Lewandowski, tem 7.854 condenações — alguns gestores foram punidos mais de uma vez. O número de condenações e de gestores aumentou em relação à última lista do TCU, divulgada nas eleições municipais de 2008, que continha 4.840 condenações de 3.178 pessoas.

Para os presidentes dos dois tribunais, essa lista é um instrumento a mais para barrar os registros de candidaturas de pessoas com ficha suja. A lista será entregue também a todos os Tribunais Regionais Eleitorais, ao procuradorgeral Eleitoral, Roberto Gurgel, e aos Tribunais de Contas de estados e municípios. Quem já homologou sua candidatura na Justiça Eleitoral e estiver nessa lista terá seu registro cassado.

Para o presidente do TSE, a Lei da Ficha Limpa, recém-aprovada no Congresso Nacional, fechou o cerco contra os que praticam irregularidades com dinheiro público. A rejeição de prestação de contas é um dos critérios para impedir o registro da candidatura.

— A Lei da Ficha Limpa realmente endureceu contra aqueles que empregam mal o dinheiro público — disse Lewandowski.

Maranhão está na ponta do ranking

O maior número de condenações foi no Maranhão: 728, seguido por Bahia (700), Distrito Federal (614) e Minas Gerais (575). Na outra ponta, com o menor número de condenações, está Santa Catarina: 86.

No Estado do Rio, o TCU somou 211 condenações, e em São Paulo, 455.

O presidente do TCU lembrou que esse trabalho vem sendo feito há 20 anos, para ajudar a Justiça Eleitoral a sanear o processo político do país. Ele disse que, a cada ano, aumenta o número de condenações.

O que é, segundo ele, fruto de uma ampliação no esforço que o tribunal vem fazendo para chegar aos nomes de quem praticou ilícitos.

— Essa lista com quase 5 mil nomes reflete um trabalho muito firme do TCU, um trabalho que sempre foi muito bem aproveitado — afirmou Aguiar.

Ao entregar o documento a Lewandowski, Aguiar também lembrou da Lei da Ficha Limpa.

— Espero que essa lista possa subsidiar a ação da Justiça Eleitoral no momento em que o Congresso aprovou a Lei da Ficha Limpa, na segurança de conseguir expurgar os maus gestores, e fazer prevalecer a ética e a moralidade da coisa pública — afirmou.

Caberá à Justiça Eleitoral, a partir dessa lista, decretar a impossibilidade desses gestores de concorrerem a um cargo eletivo. O levantamento será atualizado até 31 de dezembro deste ano, levando em conta recursos impetrados em tempo hábil, com efeito suspensivo.

Novos nomes poderão ser incluídos.

Seriam aqueles que forem condenados após a elaboração dessa primeira versão. A impossibilidade desses gestores participarem das eleições também é prevista na Lei das Inelegibilidades (64/90).

Lewandowski observou que o instrumento é importante para dar transparência e sanear a administração pública: — Queremos fazer prevalecer a moralidade pública e o princípio da probidade administrativa.

Entre as 214 contas condenadas pelo TCU no Estado do Rio, algumas estão relacionadas a irregularidades praticadas pelos gestores na compra e aquisição de equipamentos e medicamentos hospitalares; há muitas condenações de funcionários de órgãos federais como os Correios, Caixa Econômica Federal e Dataprev, além de prefeituras.

Alguns aparecem com quatro ou cinco condenações. Caso de José Carlos dos Santos Rocha, da prefeitura de Rio Claro (RJ), que aparece com cinco condenações na lista do TCU por irregularidades na prestação de contas sobre a utilização de recursos repassados pelo Fundo Nacional de Saúde. Com quatro condenações, figura na lista Paulo Cesar Chagas Lessa, que teve rejeitadas suas contas como diretor-geral do Hospital Geral de Andaraí.

Também condenações de funcionários do governo federal. Entre os que figuram na lista está o ex-coordenadorgeral do Audiovisual do Ministério da Cultura, Sérgio Eustáquio Assunção

Serra defende modelo chileno para o BC

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Cristiane Agostine, Luciano Máximo e João Villaverde, de São Paulo

O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, defendeu o modelo de Banco Central adotado pelo Chile, no qual as decisões são tomadas em conjunto com o Ministério da Fazenda. O tucano foi entrevistado no programa Roda Viva, da TV Cultura, que foi ao ar ontem à noite, e citou o modelo chileno ao ser questionado sobre o que faria no caso de o Comitê de Política Monetária (Copom) aumentar a taxa de juros e ele, se eleito presidente, considerar a decisão errada.

Serra explicou que no Chile, onde refugiou-se durante o regime militar, decisões econômicas importantes são articuladas. "Lá no Chile nunca teve nenhuma decisão do BC, nenhuma, que não fosse de comum acordo com a Fazenda, com todo mundo...". Sem fazer críticas diretas ao governo, ressaltou que isso difere de "coisa de amador, de análises cucarachas".

No país vizinho, o BC é considerado independente. O equivalente ao Copom brasileiro no Chile se reúne mensalmente para definir os rumos da política monetária. Ao lado do presidente e dos diretores da instituição, o ministro da Fazenda chileno tem cadeira cativa e espaço para fazer suas considerações. Só não pode votar pela subida ou pelo corte dos juros.

Para o ex-diretor do BC Alexandre Schwartsman, "colocar gente que defende interesses diferentes da estabilidade monetária não funciona". Ele lembra que o controle da inflação nos últimos anos não seria possível sem a autonomia do BC, "que deveria ser formal". Na avaliação do ex-diretor do BC Carlos Thadeu de Freitas Gomes, o candidato do PSDB tem uma visão "mais explícita" de que a autoridade monetária deve sofrer influência do governo. "Ele já deu esse sinal. Não é inconsistente o que ele falou, mas o mercado demanda menos interferência e maior transparência. E isso só existe com influência zero, que só é possível um BC autônomo legalmente", afirmou Freitas Gomes.

Já para o professor da Uerj Luiz Fernando Rodrigues Paula, especialista em finanças internacionais, Serra pretende copiar o modelo chileno de cooperação entre governo e BC. "A declaração sinaliza que ele está disposto a fazer alterações na política econômica, mas não bruscas", disse o acadêmico.

Para Luiz Gonzaga Belluzzo, professor da Unicamp, Serra "tem razão". "Há toda uma sacralização dos membros do Copom, que tem uma composição muito acanhada".

Serra disse que o BC precisa "trabalhar direito" e ironizou a atuação da autarquia durante a crise econômica mundial, por não ter reduzido a taxa de juros. "O Banco Central brasileiro foi o único no mundo civilizado que manteve o juro sem baixar durante quatro meses", afirmou.

O tucano declarou que vai ser "moleza" manter o câmbio flutuante se o país tiver uma política de crescimento sustentável. Ao analisar a área econômica do governo Lula, o tucano atacou também o papel do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a política industrial e o déficit na conta corrente. O candidato discorda da atuação do BNDES ao subsidiar juros para grandes empresas e ao dar suporte a fusão de conglomerados. "Eu não sou contra uma empresa comprar a outra, agora vai dar dinheiro público, subsidiado? Todos os contribuintes vão pagar para uma empresa comprar outra? Não tem sentido", declarou.

Sobre a política industrial, Serra novamente ironizou o governo Lula e disse que o presidente não deve ter conhecimento de que "o país está se desindustrializando". "Tenho certeza de que Lula não sabe disso. Não é obrigado saber de tudo. Vai levando."

Serra disse que Lula está fazendo um novo modelo de privatização do dinheiro público. "Uma das grandes farsas no Brasil é a questão da privatização. Tem gente que fala contra, chega no governo e não só não volta para trás como dá dinheiro subsidiado. O governo emite dívida pública, pega esse dinheiro e empresta, por um juro menor do que está pagando pela dívida, dando subsídio para uma empresa comprar outra. Um uso curioso de privatização de dinheiro público".

Durante a entrevista, o candidato do PSDB interrompeu a diretora de redação do Valor, Vera Brandimarte, por três vezes antes que pudesse ter sido completada pergunta sobre o avanço do PT no governo federal como banco estatal. O tucano negou que teria criticado o governo por privatizar bancos estaduais. "Eu não critiquei, eu estou analisando". Ao tentar completar a pergunta, Vera Brandimarte foi novamente interrompida. "Olha, todos aqui ouviram. Critiquei o governo Lula por ter vendido bancos estaduais que já eram de propriedade federal, da área privada? Os telespectadores estão ouvindo que você falou que eu critiquei... não critiquei", disse.
Em seguida, ressaltou que não tinha criticado o governo Lula.

O mediador do programa, Heródoto Barbeiro, também foi interrompido pelo tucano ao tentar completar uma pergunta sobre a política de pedágios das rodovias paulistas.

Cruz e caldeirinha no G20 :: Vinicius Torres Freire

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

EUA querem que governo alemão abra a carteira; BCE e Alemanha podem causar nova recessão na Europa

NO PRÓXIMO fim de semana haverá cúpula do G20. Estava previsto o fracasso das conversas sobre a excessiva desvalorização da moeda chinesa, sobre a criação de um imposto mundial sobre transações financeiras e sobre um imposto sobre bancos. Cúpulas quase sempre terminam em fracasso.

Depois de arreganhar um pouco os dentes, a China espertamente deu um peteleco no yuan, deixando que ele se valorize um tico, sabe-se lá quanto e até quando. De qualquer modo, os chineses saíram da roda. Devem entrar os alemães.

Os EUA implicam com a Alemanha e com o Banco Central Europeu, uma instituição na prática alemã. Os EUA querem que os governos maiores da Europa, Alemanha em particular, não cortem gastos. Acham que isso pode deprimir de novo a economia europeia.

Moedas mais valorizadas em tese fazem um país exportar menos e importar, consumir, mais. Os americanos faz tempo pedem aos chineses que deixem o yuan subir, sendo periodicamente esnobados.

Os chineses e os alemães são os maiores exportadores do planeta. São economias superpoupadoras -poupança doméstica maior e um pouco de câmbio ajudam a exportar. Os alemães não podem ser acusados de manipular o câmbio, de desvalorizar o euro, que cai pelas tabelas devido à crise da dívida de países da periferia europeia.

Mas americanos -governo e alguns de seus principais economistas- acham que os alemães têm de gastar mais e que o governo poderia incentivar tal atitude.

Para começar, poderiam evitar o corte de gastos recém-anunciado pelos alemães e apoiado pelo BCE com o fim de "restaurar a confiança de consumidores, empresários e investidores". Na Alemanha, corte de gasto público pode aumentar a confiança dos consumidores. Não é bem esse o caso no sul da Europa.

Na verdade, a Alemanha vai cortar gastos apenas a partir do ano que vem, e só um pouco. Mas vai continuar superexportadora, ainda mais agora, com o euro em baixa.

A disciplina fiscal que a Alemanha vai impor ao resto da eurozona, porém, vai restringir o crescimento da economia a décimos de porcentagem, com exceção da Alemanha, que vai se beneficiar do euro fraco, da França e da Holanda. A Europa do Mediterrâneo vai ficar no zero ou mesmo permanecer em recessão.Mesmo crescendo neste ano, o nível do PIB da Europa dos 15 ainda será equivalente ao de 2006. A taxa de juro real do euro é zero. Deve ficar por aí até meados de 2012. Mesmo assim, a economia reage devagar.

Nessa situação, crescimento entre 0,5% e 1% em 2010 com taxa de juro zero, seria interessante manter o estímulo dos gastos dos governos.

Mas os mercados financeiros ameaçaram cortar o financiamento de Grécia e Portugal. O resto da Europa está com medo. No entanto, com recessão e queda de receita de impostos, a Grécia, pelo menos, não arrumará dinheiro para pagar sua dívida. Muita gente séria prevê calote formal da Grécia em 2012.

Ou seja, boa parte da Europa nem vai crescer nem vai melhorar sua situação fiscal. Está entre a cruz e a caldeirinha. Não é o caso da Alemanha, o caixa continental.

Talvez os americanos tenham razão. Assim como quem diz que seria melhor já organizar uma redução da dívida grega, um calote autorizado.

Jogada chinesa:: Míriam Leitão

DEU EM O GLOBO

O anúncio da China, uma semana antes da reunião do G-20, de que vai tornar mais flexível sua política cambial foi bem recebido ontem pelo mercado, inicialmente. As avaliações são de que o Brasil pode ser um dos beneficiados pelo efeito favorável nas commodities. A nova política tem a cara da velha, que foi adotada entre 2005 a 2008, e que recuperou um pouco o valor da moeda chinesa

O yuan desvalorizado artificialmente é um fator perturbador na economia internacional. Ele torna mais competitivos os produtos chineses, desequilibra o comércio, provoca inúmeras distorções. Mas ninguém acha que o anúncio chinês seja o início de uma mudança para valer.

Alguns analistas acham que foi só uma jogada de marketing para sair do centro das discussões do G-20, outros acham que mesmo sendo suave a mudança será benéfica.

No seu blog, a economista Monica Baumgarten de Bolle, da Galanto Consultoria, diz que comparado com outros países que saíram de câmbio fixo para uma valorização da moeda, o comportamento cauteloso da China não é muito diferente dos outros. Entre 2005 e 2008, quando teve um câmbio mais flexível, a China valorizou sua moeda em cerca de 7% ao ano. Ao todo, em pouco mais de 20%. Em 2008, voltou bruscamente à política anterior de preço do yuan praticamente fixo em relação ao dólar e a valorização foi interrompida, como se pode ver no gráfico abaixo.

Com o yuan mais fraco, as exportações chinesas ganham competitividade, mas a política cambial é uma distorção num mundo de câmbio flutuante e diante da situação chinesa de grande receptora de capital, grande exportadora.

Com uma política cambial um pouco menos controladora, a moeda já teria ganhado valor diante do dólar. A China vai agora adotar uma cesta de moedas em vez do dólar para controlar sua taxa de câmbio, mas continua com uma política tão misteriosa quanto sempre foi, já que não se sabe a composição da cesta.

Será que essa vai ser uma mudança significativa? Em que vai impactar o mercado? Inicialmente, o mercado reagiu com euforia e depois passou a ver com menos entusiasmo e de forma mais setorial. As bolsas americanas que começaram o dia em alta terminaram no vermelho.

Pela manhã, os investidores estavam confiantes de que a valorização da moeda chinesa iria ajudar o comércio mundial. À tarde, a análise já era outra, mais minuciosa, com as ações das empresas de tecnologia em queda porque a importação de componentes eletrônicos chineses ficará mais cara. O Dow Jones fechou em 0,08%; Nasdaq, -0,90%; e o S&P, -0,39%. No Brasil, o índice Ibovespa depois de subir 1,65% na abertura do pregão perdeu fôlego e fechou em alta de 0,60%.

— A alta no Brasil foi sustentada pelas empresas ligadas a commodities e mineração, que devem ser beneficiadas pelo yuan mais forte. Se tirássemos a influência dessas empresas, o índice Ibovespa também fecharia no vermelho, assim como as bolsas americanas — explicou Rodrigo Moliterno, analista de investimentos da corretora Fator.

As ações da Vale subiram 2,9%; Usiminas, 0,94%; CSN, 1,26%; Gerdau, 1,15%. O índice de commodities CRB fechou com valorização de 0,76 ponto percentual.

Como disse o presidente do Banco Central brasileiro, Henrique Meirelles, é melhor esperar o desenrolar dos acontecimentos, já que com a China tudo é sempre muito pouco transparente.

No atual contexto cambial, a ligação do yuan a uma cesta de moedas pode acabar levando a menos valorização diante do dólar porque o euro tem perdido força diante da moeda americana.

Da perspectiva da China, é um bom momento para introduzir a mudança. A consultoria RGE, do economista Nouriel Roubini, acha que a moeda chinesa terá uma alta de 3% a 4% diante do dólar no próximo ano. É difícil saber em quanto uma mudança assim lenta ajudará o rebalanceamento do comércio global. Do ponto de vista político, pode acalmar alguns ácidos críticos da política cambial chinesa dentro do Congresso americano nesta conjuntura de eleição de meio de mandato e vai tirar essa questão do centro da mesa da próxima reunião do G-20, em Toronto

O QUE PENSA A MÍDIA

EDITORIAIS DOS PRINCIPAIS JORNAIS DO BRASIL
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Franz Liszt - La Campanella - pianista: Atsuko Seta

Hino à Beleza :: Charles Baudelaire


Vens do fundo do céu ou do abismo, ó sublime
Beleza? Teu olhar, que é divino e infernal,
Verte confusamente o benefício e o crime,
E por isso se diz que do vinho és rival.

Em teus olhos reténs uma aurora e um ocaso;
Tens mais perfumes que uma noite tempestuosa;
Teus beijos são um filtro e tua boca um vaso
Que tornam fraco o herói e a criança corajosa.

Sobes do abismo negro ou despencas de um astro?
O Destino servil te segue como um cão;
Semeias a desgraça e o prazer no teu rastro;
Governas tudo e vais sem dar satisfação.

Calcando mortos vais, Beleza, entre remoques;
No teu tesoiro o Horror é uma jóia atraente,
E o Assassínio, entre os teus mais preciosos berloques,
Sobre o teu volume real dança amorosamente.

A mariposa voando ao teu encontro ó vela,
"Bendito este clarão!" diz antes que sucumba.
O namorado arfante enleando a sua bela
Parece um moribundo acariciando a tumba.

Que tu venhas do céu ou do inferno, que importa,
Beleza! monstro horrendo e ingênuo! se de ti
Vêm o olhar, o sorriso, os pés, que abrem a porta
De um Infinito que amo e jamais conheci?

De Satã ou de Deus, que importa? Anjo ou Sereia,
Se és capaz de tornar, - fada aos olhos leves,
Ritmo, perfume, luz! - a vida menos feia,
Menos triste o universo e os instantes mais breves?