segunda-feira, 21 de junho de 2010

Reflexão do dia – José Serra


" Hoje me choca ver gente que sofreu sob a ditadura no Brasil cortejando ditadores que querem a bomba atômica, que encarceram, torturam e matam adversários políticos, fraudam eleições, perseguem a imprensa livre. "


(José Serra, em entrevista, sábado em S.Paulo)

O eterno retorno:: Luiz Werneck Vianna

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Parece que o relógio da história atual do Brasil desandou: quanto mais ele avança no tempo mais volta ao seu passado em busca de velhas soluções. Fora de controvérsias a natureza bem-sucedida do nosso capitalismo, indicada de modo evidente na força do seu sistema financeiro, estatal e privado, no seu diversificado parque industrial, no agronegócio, na sua presença afirmativa na cena do mundo. Essa força da economia capitalista brasileira é registrada, dia a dia, em todos os veículos da mídia que abrem amplos espaços aos seus temas - quando não inteiramente dedicados a eles -, mobilizando um sem número de especialistas em suas questões e na tradução de suas demandas para o governo e para a opinião pública, quando dissemina sua linguagem e seus valores em várias camadas sociais.

Essa presença poderosa da economia capitalista na nossa vida social se expressa com igual vitalidade na vida associativa que reúne os seus dirigentes em influentes corporações, como a Fiesp e a Febraban, para não mencionar a rede com que o chamado sistema S recobre, capilarmente, a sociedade civil, inclusive nas artes e na cultura, bem o caso do Sesc, que se substitui ao Estado na proteção de manifestações vulneráveis do ponto de vista do mercado, exemplarmente as da atividade teatral.

Tais êxitos, contudo, não podem ser inteiramente debitados à livre iniciativa, não sendo o resultado "natural", ao longo do tempo, das ações, cálculos e deliberações dos agentes econômicos, mas sim, em grande parte, ao Estado e à sua política que, desde os anos 1930, impuseram os objetivos e as linhas mestras do processo de modernização que recriou o país. A nossa modernização, como se sabe, nos veio verticalmente, de cima para baixo, caracteristicamente autoritária, ora duramente repressiva como nos ciclos 1937-45 e 1964-85, ora sob formas mais brandas como no governo JK, e da sua obra, como traços principais, ficaram não só a articulação solidária entre suas elites urbano-industriais com as agrárias como também formas de organização corporativa dos interesses de empresários e trabalhadores.

Com a democratização do país, o peso dessa herança logo se fez sentir. Salvo o caso do PT que se constituiu como um partido classista e de agregação de interesses dos trabalhadores - de início, fundamentalmente do setor industrial -, os grandes interesses dos setores urbanos industriais, assim como o dos agrários, tiveram um papel secundário na reorganização da vida partidária. Essa distância quanto aos partidos conta com mais um exemplo no Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), cuja opção foi a de preservar sua identidade de movimento social, deixando sem representação partidária direta o que nos restava de campesinato e a pequena propriedade rural.


Sob essa estratégia, as velhas formas de representação recuperaram viço, fortalecendo seus vínculos com o Estado e adotando uma perspectiva instrumental em relação aos partidos - no interior do Legislativo, segmentos de interesses atuam por meio de bancadas de parlamentares pertencentes a vários partidos. Tal prática se tem reforçado pelo fato de os últimos governos, especialmente o do PT, terem atribuído posições-chave na administração pública a lideranças de corporações. Nessa direção, o governo do PT foi além ao criar o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, de formatação inequivocamente corporativa, a fim de exercer funções de mediação direta entre ele e a sociedade.

Com essa orientação, o atual governo, oriundo do antigo partido classista dos anos 1980, restaura o estilo e instituições típicas do Estado Novo, redescobrindo, em condições de plena democracia política, a fórmula de um capitalismo politicamente orientado que não impõe seus fins a seus agentes econômicos porque os estabelece em negociação com eles. Assim, temos o processo de modernização mais bem-sucedido do antigo 3º Mundo, temos uma Constituição que consagra a democracia política e cria instrumentos eficazes para sua defesa e aperfeiçoamento, mas não contamos com partidos fortes, nem com uma sociedade robusta em termos de organização política.

O liberalismo dos empresários é vocalizado nos editoriais e nas páginas de opinião dos grandes jornais; o socialismo, nas revistas dos intelectuais. Mas, como ninguém ignora, nem um nem outro são figuras em extinção, eles estão aí, inclusive como ideologia silenciosa de próceres da atual administração. Mas se não há, na sociedade, espaço para sua expressão é porque esse Estado que está aí não admite espaço vazio que não tenha a marca da sua ocupação.

Fora do mundo dos interesses organizados e das instituições dedicadas a eles, há o povo, objeto passivo das políticas públicas, mas presença determinante na hora das urnas, quando a linguagem sistêmica conta pouco, salvo para o grupo seleto dos diretamente envolvidos em sua lógica. Para ele, se reserva a linguagem dos sentimentos, como a da compaixão, porque será da sua inclinação que se vai ter a decisão do lado vencedor.

A ressurgência do tema do populismo, lido agora em luz favorável, mesmo por parte dos seus ferozes críticos no passado, vem dessa atrofia da política, da imobilização da sociedade diante de um Estado que traz tudo para si como se fosse um agente da Providência. Não há porque discutir os rumos possíveis para a nossa sociedade: sistemicamente, eles já estão previstos, o que cumpre fazer é ganhar a alma popular, quando a política se confunde, então, com as artes demiúrgicas de quem, por destino, aprendeu a decifrá-la.


Luiz Werneck Vianna é professor-pesquisador do Iuperj e ex-presidente da Anpocs. Escreve às segundas-feiras

Anacronismo surreal: Fernando Rodrigues

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

A disputa política deste ano está explicitando de forma inédita o anacronismo da lei eleitoral brasileira. No primeiro semestre já houve a curiosa fase de pré-campanha. Candidatos fingiam ser apenas "pré-candidatos".

Agora, outros aspectos demonstram a caduquice da lei. Um deles é a obrigatoriedade de registrar as "propostas defendidas pelo candidato a prefeito, a governador de Estado e a presidente da República".

Essas plataformas têm de ser apresentadas no ato do registro da candidatura. Trata-se de uma impossibilidade prática legal e real.

Como pode um político que ainda não é candidato redigir um programa de governo se ainda não tem autorização legal para se comportar como candidato? Se não fizer nada, ficará impossibilitado de cumprir a exigência legal para se habilitar a disputar a eleição. Como ninguém pode fazer atos de campanha antes do registro, supõe-se que hoje dezenas de candidatos a governador e a presidente estejam, em segredo, fazendo essas suas plataformas.

Pior ainda. Todos esses programas de governo serão peças de ficção. Um amontoado de textos formulados só para atender a uma formalidade kafkiana legal.

Não deixa de ser revelador da alma do país a existência de uma lei exigindo dos políticos o registro formal de suas propostas. Em qualquer sociedade madura, os cidadãos ouvem os candidatos, fazem um julgamento e votam. Ou alguém acredita que uma plataforma de governo impressa seja garantia de alguma coisa? Aliás, nas últimas eleições os candidatos sempre publicam seus programas de governo.

Os vencedores descumprem as promessas de forma sistemática.

Pré-campanha de mentira, programas de governo fictícios, proibição de se declarar candidato a qualquer tempo e época são restrições surreais. Mas, pensando bem, compatíveis com o atual estágio da democracia brasileira.

A encruzilhada do presidente :: Ives Granda da Silva Martins

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

É de se lembrar que o presidente não reconheceu as eleições livres em Honduras, mas anda de braços dados com ditadores

O presidente Lula encontra-se em uma encruzilhada real, em que o fantasma da inflação, as multas que vem recebendo por desrespeitar à Constituição que jurou cumprir e a desfiguração de seu perfil de protagonista internacional podem empanar o que de positivo fizera no seu primeiro mandato.

O certo é que o sucesso do primeiro governo em assegurar respeitabilidade no exterior, tendo obtido justa e merecida exposição, com reconhecimento internacional, desde o episódio de Honduras -em que foi armadilhado por Chávez e protagonizou melancólico papel-, principiou a se desfazer, e a imagem exitosa ainda é mantida no país à custa de uma fantástica propaganda oficial.

É de se lembrar que não reconheceu as eleições livres realizadas em Honduras, mas anda de braços dados com notórios ditadores, como Fidel Castro, Raúl Castro e Ahmadinejad, nada obstante pisotearem, esses senhores, os direitos humanos em seus países.

Em clara seletividade, aceita tais violações, por conta de sua amizade com ditadores ou seus aprendizes (Chávez e Morales), mas é cruel em relação aos governantes democraticamente eleitos em Honduras, pelo fato de seu presidente não ser acólito do histriônico e verborreico presidente venezuelano.

O pior, todavia, reside na instalação de uma República sindical no país, com legislação por ele aprovada, que possibilitou a transferência de polpudas somas dos contribuintes para as centrais sindicais, as quais se utilizam de dinheiro do povo para fazer, aberta e ilegalmente, a campanha de sua candidata.

Mais do que isso, o presidente da República, transformado em cabo eleitoral, festeja a alta carga tributária brasileira para sustentar um Estado hoje tomado por expressivo número de sindicalistas não concursados.

Compara-a, de forma canhestra, com a carga dos EUA, ignorando que lá a carga é bem menor que no Brasil, como o é no Japão, na China e em outros países que prestam serviços públicos dignos a seus cidadãos, ao invés de ser destinada, quase exclusivamente, a assegurar benesses aos detentores do poder.

Nunca votei em Lula, muito embora tenha reconhecido, desde o primeiro ano de seu governo, seu talento e habilidade, que permitiram a aceitação internacional e os elogios do presidente Obama.

O certo é que essa imagem começa a se desfigurar, nada obstante a manutenção de sua popularidade à custa de maciça propaganda.

Quando a poeira da história se assentar e o historiador examinar o período de seu governo, sem as manipulações da propaganda oficial, certamente tais violações marcarão sua gestão e será contada a "verdade verdadeira" da era Lula.

Poder-se-á dizer que dirigiu bem a economia, o que é verdade, pois teve o bom senso de seguir rigorosamente a política de Fernando Henrique quanto a moeda e fundamentos, montando equipe de valor, que não se curvou aos apelos de gastança de todos os amigos do rei, malgrado o fantástico inchaço da máquina burocrática.

O certo, todavia, é que, mesmo na área econômica, o excesso de benesses aos servidores da máquina oficial (quase R$ 200 bilhões para pagar a mão de obra de menos de 1 milhão de brasileiros) projeta bomba de efeito retardado para o futuro governo, seja ele qual for.

É pena que Lula tenha se despido das vestes de estadista -que chegou a envergar, no primeiro mandato - para mostrar a face de exclusiva ambição pelo poder a qualquer preço, transformando-se em cabo eleitoral cuja especialidade maior é tisnar a lei e a verdade.



Ives Gandra da Silva Martins, 75, advogado, professor emérito da Universidade Mackenzie, da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército e da Escola Superior de Guerra, é presidente do Conselho Superior de Direito da Fecomercio.

Função democrática :: Thamy Pogrebinschi

DEU EM O GLOBO

A Câmara dos Deputados concluiu o relatório da subcomissão instalada para acompanhar a 1aConferência Nacional de Comunicação (Confecom), realizada, não sem controvérsias, em dezembro do ano passado. Com votação prevista para breve, o relatório aponta que aproximadamente 35% (222) das 641 diretrizes aprovadas na conferência requerem algum tipo de intervenção legislativa por parte do Congresso Nacional, a despeito de o principal destinatário das políticas públicas demandadas em conferências nacionais ser o próprio Poder Executivo que as convoca e organiza.

Mais interessante do que isso é a constatação de que 2/3 (148) dessas diretrizes já são objeto de atividade legislativa, o que pode ser constatado por projetos de lei e estudos legislativos em tramitação na Câmara e no Senado. Com a participação de representantes da sociedade civil, de empresários do setor e do Poder Público, a 1aConfecom aprovou 641 diretrizes de políticas públicas para a área de comunicação, desdobradas em temas tão diversos quanto convergência digital, ética no jornalismo, conteúdo de interesse social, proibição de monopólios e oligopólios, produção e veiculação nacional, e tão controversos quanto controle social da mídia, radiodifusão pública, e direitos humanos e de minorias.

A resposta do Congresso, na verdade, reproduz uma tendência: entre 1988 e 2009, a atividade legislativa do parlamento brasileiro foi significativamente influenciada pelos temas debatidos nas conferências nacionais.

No fim de 2009, 19,8% dos projetos de lei (2.629 iniciativas) e 48,5% das propostas de emenda constitucional (179 PECs) então em trâmite no Poder Legislativo possuíam algum tipo de pertinência temática com as diretrizes oriundas desses processos participativos.

As conferências nacionais têm se revelado uma forma de mediação política que corre paralela às eleições e aos partidos, mas que, como eles, convergem na realização da democracia através das instituições representativas.

A participação social contribui para tornar as instituições políticas mais representativas (pelo grau de abrangência e inclusividade dos interesses que o Poder Legislativo passa a apreciar com maior ênfase) e propicia uma representação política fortalecida pelos novos incentivos recebidos pelos parlamentares para iniciar o processo legislativo em determinadas direções.

A forte presunção de legitimidade popular de que dispõem as diretrizes derivadas das conferências nacionais faculta que as mesmas se superponham à lógica tradicional de distribuição dos interesses partidários.

As diretrizes de políticas públicas oriundas das conferências nacionais propulsionam a atividade legislativa do Congresso Nacional oferecendo aos parlamentares um amplo cardápio de demandas formatadas diretamente de acordo com as preferências da sociedade em um ambiente não eleitoral, e portanto livre de influências partidárias, do apelo midiático e de qualquer outra eventual interferência na formação da opinião e da vontade dos cidadãos. Desfaz-se, assim, o mito de que práticas participativas constituem uma ameaça às instituições democráticas representativas e que estas não são responsivas às demandas da sociedade.

Thamy Pogrebinschi é cientista político e professor do Iuperj

Arlindo Cruz - Chegamos ao Fim - MTV Ao Vivo

No PV, mais divergência

DEU EM GLOBO

Partidos dividem palanque estadual, mas disputam apoio nacional

Depois do estresse pré-convenção — que correu o risco de não sair no sábado por conta da pressão do PSDB para ter candidato próprio ao governo do Rio —, a coligação em torno de Fernando Gabeira, que soma PV, tucanos, DEM e PPS, vive as sequelas de sucessivas crises. As siglas já delimitaram o espaço dos presidenciáveis José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV). De acordo com o presidente regional do PV, Alfredo Sirkis, Gabeira estará em todas as agendas de Marina no Rio e selecionará aquelas em que acompanhará Serra. Mas os incômodos permanecem.

O PV reclama que o PPS fez no sábado uma faixa com os nomes de Gabeira e Serra.

— Não sei se fizeram inadvertidamente ou de propósito. Vou procurar o PPS e esclarecer.

Gabeira apoia Marina — afirmou Sirkis.

Comte Bittencourt, presidente local do PPS, discorda do PV e defende a faixa: — Essa discussão é uma bobagem. A faixa é do PPS, que vai pedir votos para os dois. Essa questão está muito bem articulada, foi bem negociada no pré-lançamento da campanha de Gabeira, todo mundo é maduro e não tem motivo para ficar criando confusão — disse.

Sirkis defendeu que o PV punirá candidatos a deputado que fizerem dobradinhas com políticos de outros partidos. O PV não está coligado com o PSDB na eleição proporcional.

Segundo o presidente do DEM, Rodrigo Maia, a atuação de Serra na campanha será natural: — Ela se dará para que não se crie embaraço para ninguém.

Marcelo Cerqueira, nome do PPS ao Senado, disse que o mal-estar com o PSDB é passado: — Sou amigo do Zé (Serra). Mágoa só faz mal a quem a tem — disse

Serra: governo Lula privatiza dinheiro público

DEU EM O GLOBO

Ao defender novo tipo de privatização no país, candidato tucano critica empréstimos da União a empresas

Tatiana Farah

SÃO PAULO. O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, defendeu a recuperação das rodovias brasileiras por meio de concessões e chamou a postura do governo em relação às privatizações de “farsa”, em entrevista ao programa “Roda Viva” que vai ao ar às 22h de hoje, na TV Cultura. Ele afirmou que o governo Lula privatiza o dinheiro público, ao conceder empréstimos a empresas.

— É uma nova modalidade, muito interessante (de privatização).

Você dá o dinheiro, e o proprietário é privado. Uma das grandes farsas no Brasil em toda discussão é a questão da privatização. Quando chega no governo, não só volta atrás como dá dinheiro para elas (as empresas). É um modelo curioso de privatização do dinheiro público — afirmou ele, ressaltando que, em seu governo, haveria restrições ao uso de recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a fusão de empresas.

O tucano afirmou que as críticas ao preço dos pedágios das estradas paulistas são “trololó petista” e não descartou a possibilidade de, se eleito, cobrar pedágio em estradas federais.

— Uma coisa eu te garanto: se for feito, vai ser bem feito, e não malfeito para jogar para a arquibancada e contra os motoristas — disse Serra.

Ontem, ao lado de intregrantes do PSDB e do DEM, Serra assistiu ao jogo do Brasil no bairro Itaim Paulista, em São Paulo

Serra cobra desculpas de Dilma por dossiê

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, disse que Dilma Rousseff (PT) deveria ter pedido desculpas e afastado assessores acusados de envolvimento na montagem de suposto dossiê contra ele. Durante gravação do programa Roda Viva, da TV Cultura, ele atribuiu a Dilma a fabricação do documento: "Não sei se ela tinha (conhecimento), mas ela é responsável.

Serra cobra desculpas de Dilma por dossiê e diz que petista é responsável

Candidato tucano à Presidência voltou a atribuir à adversária petista fabricação de documento contra ele, cobrou uma atitude mais categórica do presidente Lula e negou que sua equipe de campanha use a mesma estratégia para atingir adversários

André Mascarenhas, e Fausto Macedo

O candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, afirmou que a petista e sua adversária na disputa, Dilma Rousseff, deveria ter pedido desculpas e afastado imediatamente os assessores acusados de envolvimento na montagem de um suposto dossiê contra o tucano.

Durante gravação do programa Roda Viva, da TV Cultura, anteontem, ele novamente atribuiu a Dilma a fabricação do documento. "Não sei se ela (Dilma) tinha (conhecimento), mas ela é responsável", disse. O programa vai ao ar hoje, a partir das 22h.

Para Serra, o dossiê supostamente encomendado pela equipe da petista é material "requentado". "Quem não gosta de ouvir fofoca", respondeu ao ser questionado se os dossiês seriam um mal necessário nas campanhas. "O PT tem divulgado isso há muito tempo em seus blogs", disse. "Quando se fala em dossiê, é bom que se diga fajuto."

Ele negou que sua campanha use a mesma estratégia para atingir adversários. Ontem, no intervalo do jogo do Brasil com a Costa do Marfim, que assistiu em uma quadra esportiva na zona leste, Serra foi categórico ao cobrar do governo Lula investigação. "Tinha que ter uma comissão de sindicância, é o mínimo que se espera", disse. Pouco antes, Geraldo Alckmin, candidato tucano ao governo do Estado, já havia apontado para o Planalto. "O governo federal precisa explicar como é que o sigilo da Receita é quebrado. A sociedade brasileira espera explicações."

Apesar de os petistas negarem a produção do dossiê, o PSDB insiste em responsabilizar a candidata do PT pelo episódio. "A principal responsabilidade por esse novo dossiê é da candidata Dilma Rousseff.

Disso eu não tenho dúvida, assim como o principal responsável pelo dossiê dos aloprados foi o Aloizio Mercadante e como a principal responsabilidade por dossiês em 2002 foi do Ricardo Berzoini", disse Serra no primeiro comentário público sobre o episódio, no início do mês, logo depois das denúncias publicadas pela revista Veja.

Na época, os tucanos decidiram que partiriam para o contra-ataque. "Vamos para a briga", disse o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, que também é coordenador da campanha de Serra.

Os tucanos tentam colar em Dilma a autoria do documento relembrando o caso do dossiê com gastos do cartão corporativo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e de sua mulher Ruth Cardoso. O documento, que indicaria gastos pessoais irregulares na gestão FHC, teria sido elaborado pela Casa Civil, quando Dilma era ministra.

Privatização. Na entrevista ao Roda Viva, Serra falou também sobre economia, segurança e educação, além de ter defendido a união civil de homossexuais, mas não o casamento, e se posicionado contra a descriminalização da maconha.

Ao abordar a privatização, assunto sensível ao PSDB, o tucano procurou mostrar em que pontos tentará marcar diferenças com as políticas do governo Lula. Questionado se levaria para o resto do País a política de privatização de estradas do Estado de São Paulo, demonstrou considerar a possibilidade. "Mas uma coisa eu garanto: se for feito, vai ser bem feito", afirmou.

O presidenciável defendeu o modelo para os aeroportos brasileiros e criticou a concessão de empréstimos de bancos públicos para a fusão de empresas privadas, que classificou como o "modelo de privatização" do governo Lula.

Ao responder sobre as tarifas elevadas dos pedágios em São Paulo, atacou os rivais. "Você está apenas retransmitindo o que diz a oposição", respondeu Serra ao apresentador do programa. "Esse é o trololó petista, que tem muito pouco a falar sobre São Paulo", completou.

Economia. Serra procurou diminuir a responsabilidade do governo Lula no avanço econômico do País. Para ele, a alta taxa de crescimento no primeiro trimestre de 2010 é resultado da expansão reduzida dos últimos anos. "No ano passado crescemos 0%", lembrou o ex-governador, para quem há um processo de "desindustrialização" no Brasil.

Citou a indústria da celulose, setor em que, segundo ele, o país exporta matéria-prima para importar o produto final. Indagado sobre de quem é a culpa, disse: "É do atual governo. Mas muitos deles não sabem disso. O presidente Lula não sabe. Ele vai levando", afirmou.

O presidenciável tucano também atacou o loteamento de cargos no governo federal, comentou sobre a escolha do vice que vai compor a sua chapa e ainda defendeu a ampliação da Lei de Responsabilidade Fiscal para todos os níveis da administração federal (leia texto ao lado).

'Escolhemos esperar até o fim', afirma presidenciável sobre o vice

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O presidenciável tucano José Serra não conseguiu escapar da pergunta sobre a escolha de seu vice. Até agora, o PSDB ainda não definiu quem vai compor a chapa com Serra.

"Não trouxe o vice. O vice vai ser anunciado no fim do mês. Não tem demora. Tem o prazo até o fim do mês, então nós escolhemos esperar até o fim", disse ele. Depois, brincou: "Já que ninguém perguntou, eu digo, o vice vai ser a Argentina", fazendo referência à Copa do Mundo.

Como vem fazendo sempre que tem a oportunidade, o tucano atacou o loteamento de cargos no governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

"Eu não acredito que seja um mal necessário para o País o loteamento de cargos", diz, ao ser questionado se é possível governar sem alianças com políticos mal intencionados.

"Eu estou combatendo essa ideia (do mal necessário)", afirmou. Serra aproveitou também para atacar o loteamento a Fundação Nacional de Saúde e nos Correios. No final, defendeu que a Lei de Responsabilidade Fiscal seja estendida para todas as esferas da União. / A.M. e F.M.

Serra é sabatinado hoje por Folha e UOL

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Inscrições já estão esgotadas, mas leitores poderão acompanhar a entrevista, a partir das 11h, pela internet

Marina Silva (PV) já foi entrevistada; Dilma Rousseff (PT) cancelou a participação marcada para o dia 17 de junho
SÃO PAULO - A Folha, numa parceria com o UOL, sabatina o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, hoje às 11h, em São Paulo.

O tucano responderá a perguntas de entrevistadores, da plateia e dos internautas. Com duração de duas horas, a sabatina será realizada no Teatro Folha (av. Higienópolis, 618).

Ele será entrevistado pela editora do caderno Poder da Folha, Vera Magalhães, pelo colunista do UOL e da Folha Fernando Rodrigues, pela editora da coluna "Painel" da Folha, Renata Lo Prete, e pelo gerente geral de Notícias do UOL, Rodrigo Flores.

As inscrições para participar da sabatina já estão esgotadas. Mas os leitores podem acompanhar pela página uol.com/sabatina.

Marina Silva, candidata do PV, foi sabatinada na quarta-feira passada. Dilma Rousseff, do PT, cancelou sua participação na sabatina marcada para o último dia 17, alegando que tinha agendado uma viagem internacional naquela data.

A ordem dos entrevistados foi definida por um sorteio. No dia 13 de maio, todas as campanhas assinaram um documento no se comprometiam a cumprir o que foi acertado. A Folha e o UOL argumentaram com a direção da pré-campanha de Dilma que as sabatinas foram agendadas depois de mais de quatro meses de negociações.

DEBATES

Neste ano, a eleição presidencial terá 13 candidatos, sendo que 7 têm direito de participar de eventuais debates nos rádios e nas TVs.

A lei impõe restrições ao rádio e à TV porque são concessões públicas: na web podem ser convidados só os principais candidatos. Os debates realizados por veículos da mídia impressa ou por meio da internet não estão sujeitos a essas regras.

Há seis meses, a Folha e o UOL negociam com os principais candidatos para que seja realizado um debate a ser transmitido, ao vivo, pela internet. Até agora não houve acordo sobre uma data para que Dilma, Serra e Marina participem desse debate.

Jarbas compara gestões e ataca Eduardo Campos

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Ao adotar a postura mais incisiva desde que assumiu a pré-candidatura ao governo, senador critica capacidade gerencial e política do adversário, chama obra de “fajuta” e diz que pode fazer melhor

Jorge Cavalcanti

O senador Jarbas Vasconcelos (PMDB) disparou duro contra o governador Eduardo Campos (PSB), ao mesmo tempo em que afagou o deputado federal Roberto Magalhães (DEM) para que aceite disputar a segunda vaga ao Senado pela oposição, no último sábado, em Caruaru (Agreste). Conhecido pela forma ácida de fazer campanhas, Jarbas tentou minar uma das características que Eduardo mais preza: a figura de um político firme e envolvido com a administração.

No evento organizado pela deputada estadual Miriam Lacerda (DEM), sua colega de chapa, o peemedebista chamou a duplicação da BR 104 de “fajuta”, num dos municípios mais beneficiados pela BR 232, principal feito de seu governo. “A obra não anda porque Pernambuco não tem comando político e administrativo. Não anda porque o governador quer viver debaixo da asa do presidente Lula. Se tivesse um governador altivo, como eu fui, já estava pronta”, discursou, arrancando aplausos de uma plateia formada por cerca de 1.300 pessoas.

Na expectativa do palanque governista apostar numa campanha comparativa, Jarbas acusou Eduardo de prometer e não cumprir, apesar de não citar quais compromissos deixaram de ser realizados. “Vou disputar uma eleição com um governador que prometeu e não fez. Fiz muito mais do que ele”, afirmou, relembrando que herdou de Miguel Arraes – avô de Eduardo – um governo “desestruturado”.

Nos bastidores, aliados do senador viram no ataque uma estratégia para tirar Eduardo dos discursos administrativos e trazê-lo para o embate político. Nas críticas ao governo, raras vezes Eduardo se envolveu publicamente em polêmicas. Sempre delegou a subordinados, na maioria das vezes o líder do governo na Assembleia Legislativa, Isaltino Nascimento (PT). As exceções foram as denúncias da oposição contra a Empresa de Turismo (Empetur) e a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe).

A postura adotada por Jarbas, sábado, foi a mais incisiva desde que aceitou disputar o Palácio do Campo das Princesas, há 22 dias. De lá para cá, ocorreram mais cinco eventos. Mas em nenhum deles os ataques aconteceram num tom tão elevado. O senador voltou também a criticar a presidenciável do PT, Dilma Roussef, a quem acusou de “não ter visão nem competência”.

SENADO

O evento de sábado – mais um com a ausência do senador Sérgio Guerra (PSDB), a quarta consecutiva – serviu como tentativa de sensibilizar Roberto Magalhães de abandonar a política. O próprio Jarbas foi o porta-voz dos apelos. “Tenho certeza que, pela minha vontade e de todos presentes aqui, você não deixa a vida pública”, pediu.

Com a certeza de que o PSDB não indicará um quadro competitivo, e com a desistência do deputado Raul Jungmann (PPS), Jarbas e o DEM apostam em Magalhães para ter um palanque forte, com três ex-governadores.

Para Serra, Dilma deveria ter afastado assessores

DEU NO ZERO HORA (RS)

Dados fiscais levantados contra Eduardo Jorge teriam partido dos sistemas da Receita FederalA batalha entre PT e PSDB por conta do suposto dossiê contra José Serra tem mais um round. O tucano afirmou que a adversária Dilma Rousseff (PT) deveria ter pedido desculpas e afastado imediatamente assessores envolvidos no caso.

Durante gravação do programa Roda Viva, da TV Cultura, no sábado, ele novamente atribuiu a Dilma a fabricação do documento.

– Não sei se ela (Dilma) tinha (conhecimento), mas ela é responsável – disse.

O programa vai ao ar hoje, a partir das 22h.

No sábado, o jornal Folha de S.Paulo trouxe a informação de que os dados fiscais do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge Caldas Pereira, levantados pelo “grupo de inteligência” da pré-campanha de Dilma, saíram diretamente dos sistemas da Receita Federal, como atestam documentos aos quais o jornal teve acesso.

Em todas as páginas de um conjunto de cinco declarações completas do Imposto de Renda (entregues entre 2005 e 2009) de EJ, como o dirigente tucano é conhecido, consta a seguinte frase: “Estes dados são cópia fiel dos constantes em nossos arquivos. Informações protegidas por sigilo fiscal”.

Vale tudo para ficar no poder

DEU NO ESTADO DE MINAS

PT barra pretensões políticas de filiados históricos em favor de alianças com outros partidos, que em troca lhe dão apoio para renovar a estada no Palácio do Planalto
Ivan Iunes

Brasília – A caminhada do PT rumo ao pragmatismo político, com alianças firmadas com partidos de centro-direita, pode ser vista sob duas óticas. Por um lado, possibilitou à legenda alcançar o maior posto eleitoral do país, a Presidência da República, em 2003. O outro ângulo revela uma diáspora petista, a partir da mudança do rearranjo de prioridades dentro da sigla. Mais do que isso, faz crescer uma lista de aliados antes preferenciais, e até de membros do próprio partido relegados no plano eleitoral, em prol da aliança com partidos como PMDB e PR. Somente no atual xadrez eleitoral, pelo menos cinco candidatos petistas, ou de aliados históricos, ficaram pelo caminho para não pôr em risco os planos da legenda de renovar a estada no Palácio do Planalto, com Dilma Rousseff (PT). Nomes com forte potencial eleitoral, Fernando Pimentel (PT-MG), João Paulo (PT-PE), Lindberg Farias (PT-RJ), Antônio José (PT-PI) e Flávio Dino (PcdoB-MA), tiveram os planos políticos prejudicados em razão das alianças nacionais do PT, em especial o acordo fechado com o PMDB. “O PT decidiu adotar o pragmatismo para conseguir chegar ao poder e isso, naturalmente, produziu uma mudança de espírito do partido”, resume a deputada federal, e ex-petista Luíza Erundina (PSB-SP).

Com planos políticos de virarem governadores, Pimentel, Lindberg e Antônio José tiveram de limitar o horizonte eleitoral. Os dois primeiros ganharam do partido a legenda para o Senado Federal. O último ainda não tem o futuro garantido e pode acabar tentando a reeleição à Câmara dos Deputados. Dentro do Maranhão, Flávio Dino até conseguiu garantir o apoio petista. Mas o pragmatismo eleitoral fez o diretório nacional do PT retirar o apoio em nome da candidatura de Roseana Sarney (PMDB). Dino teve de se contentar em virar candidato nanico, com o apoio do próprio partido e do PSB.

Greve de fome Em protesto contra a decisão, o deputado federal Domingos Dutra (PT-MA) chegou a fazer greve de fome de uma semana no plenário da Câmara e praticamente abandonou a disputa pela reeleição. “O José Sarney fez questão de dobrar o PT do Maranhão por uma questão pessoal. Só que nós, internamente, decidimos ficar com o Dino. A eleição da Dilma está praticamente garantida, mas o diretório nacional, por medo do Sarney, praticou uma violência contra a militância e contra a própria democracia”, reclama Dutra.

Para o presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, a mudança na política de alianças da legenda foi necessária para que o partido se consolidasse no plano nacional, com reais chances de dirigir o país. Um dos reflexos dessa nova realidade é o número de candidatos do partido a governador, nos estados e no Distrito Federal. Em outubro, apenas 11 petistas disputarão o controle dos governos. A média histórica era de 20, por eleição, até 2002. “A partir do momento em que você alcança a Presidência, não há mais necessidade de se marcar posição, o trabalho é manter o projeto. Para isso, precisamos de alianças. Em política não dá para fugir da realidade. Antes, lançávamos candidatos somente para marcar posição, mas elegíamos poucos. Agora, serão 11 com boas chances de vitória”, justifica Dutra.

Brasil desiste de papel de interlocutor entre Irã e potências

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Amorim diz que País não terá mais "posição proativa" com Teerã; EUA comemoram Recuo

BRASÍLIA – Desapontado com a aprovação de novas sanções da ONU contra o Irã, o Brasil desistiu de exercer um papel de interlocutor entre as potências ocidentais e o país persa. A revelação foi feita pelo chanceler brasileiro, Celso Amorim, em entrevista ao jornal britânico Financial Times, publicada ontem.

"Não vamos novamente ter uma posição proativa (em relação à negociação iraniana), a não ser que sejamos solicitados", disse Amorim. Segundo o ministro, o Brasil acabou prejudicado "por fazer coisas que todos afirmavam ser positivas". "Ao final, descobrimos que tem gente que não sabe receber "sim" como resposta", alfinetou o chanceler.

Uma autoridade americana que pediu anonimato comemorou a declaração de Amorim. "Não vejo o Brasil e a Turquia em uma posição de exercer essa mediação", disse ao Financial Times. "Por terem votado contra as sanções da ONU, eles não são mais realmente neutros."

De acordo com o Itamaraty, o Brasil foi incentivado pelo próprio presidente Barack Obama a selar o acordo de 17 de maio, que previa a troca na Turquia de 1.200 quilos de urânio iraniano por 120 quilos de combustível nuclear. Obama teria afirmado - por meio de cartas vazadas à imprensa pelo governo brasileiro - que o compromisso seria um sinal positivo, embora insuficiente para fazer os EUA desistirem de novas sanções a Teerã.

Mas, após o pacto ser firmado, a diplomacia americana adotou posição oposta. Washington justificou seu ceticismo em relação ao acordo afirmando que a rápida ampliação dos estoques iranianos de urânio praticamente anulava o impacto da troca sobre o avanço de Teerã em direção à bomba.

Eleito com folga, candidato de Uribe promete governo de união na Colômbia

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Ex-ministro da Defesa, Santos recebe maior número de votos da história colombiana e derrota o opositor Antanas Mockus por uma diferença de mais de 40 pontos; favoritismo, fortes chuvas e Copa do Mundo fazem abstenção chegar a 55%

Renata Miranda
ENVIADA ESPECIAL / BOGOTÁ

Vencedor. Santos comemora vitória entre seu vice, Angelino Garzon, e sua mulher, Maria Clemencia, no centro de Bagdá


Confirmando o favoritismo e as pesquisas de intenção de voto, o candidato governista Juan Manuel Santos foi eleito ontem o novo presidente da Colômbia, com 69% dos votos, prometendo um governo de "unidade nacional". Com mais de 9 milhões de votos, Santos obteve a maior votação na história da Colômbia, superando as vitórias de seu mentor político Álvaro Uribe em 2002 e 2006.

Em um segundo turno marcado pela abstenção, seu rival, Antanas Mockus, do Partido Verde, obteve 27% de apoio, com 99,77% das urnas apuradas.

"O relógio hoje marca uma nova hora, chegou a hora da unidade nacional", afirmou Santos a milhares de partidários no Coliseu El Campín, em Bogotá. "Os colombianos votaram por unidade e hoje sou o presidente eleito de todos." O governista elogiou Mockus e convidou o opositor a participar de seu projeto de unidade. Santos também agradeceu o apoio de Uribe e prometeu dar continuidade às suas políticas.

O novo presidente da Colômbia aproveitou o discurso para enviar uma mensagem à comunidade internacional, garantindo melhorar as relações com os países vizinhos, como Venezuela e Equador. "Vocês podem ter certeza de que em meu governo encontrarão um aliado e um sócio." Sobre o combate à guerrilha, Santos disse que "se esgotou o tempo das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia)", prometendo "dureza e toda firmeza" na luta contra a insurgência.

Mockus, ex-prefeito de Bogotá, felicitou seu rival pela vitória. Ele disse também que, apesar de sua derrota nas eleições, seu partido consolidou-se como "uma força política independente".

O resultado das eleições é um claro reconhecimento do legado do presidente Álvaro Uribe, um dos líderes mais populares da América Latina que, em oito anos de governo, melhorou drasticamente a segurança do país. Em pronunciamento na TV, Uribe felicitou Santos e agradeceu o Exército pela segurança durante o processo eleitoral.

Como seu ministro da Defesa, Santos recebeu parte dos créditos pelos impressionantes resultados da política de Segurança Democrática e é visto como o símbolo de continuidade das populares medidas do governo.

Apesar da proximidade com o presidente, Santos promete fazer mudanças na Casa de Nariño. Analistas, porém, acreditam que após a vitória de seu herdeiro político, a presença de Uribe no próximo governo deve ser forte (mais informações nesta página). A governabilidade de Santos também está garantida, com uma base de apoio de 232 dos 268 deputados da Câmara, ou 86% do total de cadeiras da Casa.

Abstenção. "Altos níveis de votação melhoram sensivelmente os índices de governabilidade", disse o articulista Edulfo Peña no jornal El Tiempo. "Uma maioria significativa de votos dá ao presidente mais autoridade diante dos demais atores políticos."

Estima-se que apenas cerca de 45% dos colombianos foram às urnas escolher entre Santos e Mockus. Uma das principais preocupações deste segundo turno era tentar reduzir o número de abstenções - o voto na Colômbia não é obrigatório e na primeira fase da eleição, 50% do eleitorado decidiu ficar em casa.

O baixo comparecimento às urnas foi atribuído ao desânimo causado pela grande diferença de votos entre os dois candidatos no primeiro turno. As autoridades também temiam que os jogos da Copa do Mundo e a chuva desestimulassem os eleitores.

"É um grande avanço para o nosso país que os maiores problemas desta eleição sejam as partidas de futebol e a chuva", disse o candidato governista depois de ter votado pela manhã na capital. Ele elogiou o apoio do Exército para realizar as eleições.

Juan Manuel Santos
PRESIDENTE ELEITO
"Mockus foi um rival de alto nível, que fez a Colômbia pensar no valor da vida, transparência e legalidade. Compartilhamos essas bandeiras e o convido a, juntos, mantê-las no alto"

Antanas Mockus
CANDIDATO DERROTADO
"Desejo a (Juan Manuel) Santos o maior dos êxitos para o bem de nosso querido país"


PONTOS-CHAVE

Vizinhos
O novo presidente terá a difícil tarefa de normalizar as relações com Venezuela e Equador, abaladas após um ataque aéreo contra um acampamento das Farc em território equatoriano

Farc
Combate à guerrilha foi prioridade de Uribe e seu sucesso em acuar rebeldes é determinou sua alta popularidade. Santos afirma que se recusará a negociar com a guerrilha

Economia
O novo presidente terá de desenvolver políticas que melhorem a economia da Colômbia - que está saindo da recessão - e incentivem a criação de empregos. O desemprego no país é de 12,4%

Narcotráfico
O combate ao tráfico de drogas é um dos desafios do futuro líder. Apesar da ajuda dos Estados Unidos, a Colômbia continua sendo o primeiro produtor mundial de cocaína

Ato democrático :: Graziela Melo



Dentro dos espaços históricos, irregularmente democráticos da América Latina, me tocou, ainda na tenra infância, o período do Estado Novo de Getúlio.

Depois o país deu uma respirada, mais ou menos aliviada até o famigerado golpe de 64. Aí, já em plena juventude passei a sentir o sabor amargo de uma ditadura. A seguir, foi o Chile democrático de Salvador Allende. Pura alegria.

Depois de sair dos becos escuros, dos buracos negros, clandestinos onde e como vivíamos, tentando driblar os lobisomes da repressão, chegar a um país repleto de passeatas, bandeiras de distintos partidos desfraldadas ao ar, livremente, acompanhados da música e da voz de Victor Jara, do Conjunto Quilapayum, era uma emoção indescritível.

Bem, foi uma emoção semelhante que senti no último sábado pela manhã, ao chegar ao local da Convenção quadripartidária (PSDB-PPS-DEM-PV) que homologou Gabeira ao governo do Estado, Marcio Fortes, vice, Marcelo Cerqueira e Cezar Maia, para o senado, no Clube Canto do Rio, em Niterói, superlotado de gente, aguardando seus candidatos e partidos.

Inúmeras bandeiras desfraldadas Esse foi um belo espetáculo democrático. As pessoas se misturavam pelo pátio, batendo papo, tomando cervejinha, contando piadas. Uma bela maré humana!

A democracia é boa, gostosa de ser e para ser vivida e faz um grande bem à saúde!

Viva a democracia!!! A melhor e mais sábia forma de convivência humana!!!

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Franz Liszt: Liebestraum cello and piano

Canção do exílio:: Murilo Mendes


Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas, cubistas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormir
com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.
Eu morro sufocado
em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia.

Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade!



In: MENDES, Murilo. Poesias, 1925/1955. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1959