sexta-feira, 18 de junho de 2010

Reflexão do dia – Marcos Guterman


Um espectro ronda o século 21: o esquecimento. O fenômeno se manifesta pela redução do significado do passado recente e pela disseminada sensação de que o presente representa uma espécie de “marco zero” moral. Despreza-se assim o processo histórico do século anterior, congelado em rótulos tão negativos quanto convenientes – fala-se de “totalitarismo”, “globalização” e “neoliberalismo” como se fala de futebol. A história do século 20, segundo essa retórica, é apenas uma coleção de monumentos para os quais devemos olhar como forma de “lições”, e não como contexto duradouro e complexo que não se encerra em si e que está longe de uma apreensão completa. É quase como se não houvesse história, mas um memorial sobre erros que não devem ser repetidos, à esquerda e à direita. Esvazia-se o sentido dos embates políticos e dos dilemas morais violentos do século passado, cujos efeitos ainda são evidentes e mal compreendidos. Mas a estratégia é justamente essa: fazer dos herdeiros do século 20 homens sem passado, presas fáceis do messianismo político amoral disfarçado de pragmatismo, em troca de absolvição e redenção.


(Marcos Guterman, no artigo “Uma época em busca do esquecimento”, sábado (12/6/2010), em O Estado de S. Paulo/sabático)

Aprovação no voto: Roberto Freire

DEU NO BRASIL ECONÔMICO

O voto está no DNA da democracia. É seu motor. Uma jornada no caminho do regime democrático, para aquele que pretende representar dezenas, centenas, milhares, milhões, é longa, cheia de aprendizagem, derrotas, vitórias, surpresas, alegrias, decepções...

Mas, acima de tudo, de acúmulo de experiência. Escrever uma história de trajetória política é viver imerso no mundo do contraditório, do consenso, da busca de soluções por meio do diálogo, da disputa, respeitando as diferenças e convivendo com as adversidades.

É preciso viver para adquirir sabedoria; subir degraus. Não há outro meio.

Estou desde a adolescência no caminho da política. Briguei pela reforma agrária no Pernambuco, ao lado de Gregório Bezerra; fui candidato a prefeito; me elegi deputado estadual; por cinco mandatos fui deputado federal, uma vez senador, e me candidatei, em 1989, a presidente da República; sou presidente do meu partido e pretendo disputar novos mandatos.

Não sei tudo de política, mas sei muito; ao longo do caminho, formei convicções, mudei, militando, lendo, ouvindo os eleitores, reunindo companheiros - trabalhadores rurais, operários das fábricas, intelectuais - em torno das soluções que eu acreditava e das que eles apontavam como mais acertadas e sensatas.

Submeti-me a sete eleições, para que as pessoas pudessem analisar o que eu pensava, propunha e fizera. Eleito ou reeleito, coloquei em prática as ideias que eu acreditava e que os companheiros, eleitores e eu elaboramos no caminho. Voltei às urnas.

Não houve um mandato igual ao outro, nem eleição que não diferisse da anterior. Com cada experiência acrescentei um trecho de vida à minha biografia, à minha vida, à minha capacidade de fazer acontecer.

Ao olhar minha história, vejo o quanto a experiência, a vivência são fundamentais na vida de um político. Assim compreendo, também, a capacidade dos homens públicos que prezam pela responsabilidade, que têm capacidade de ousar, que não buscam o poder pelo poder, para garantir o domínio da máquina e manter aninhadas forças políticas com as quais assaltaram a máquina administrativa.

Essa é a diferença básica, gritante, entre as duas principais candidaturas a presidente da República. José Serra veio do voto para ocupar a presidência da União Nacional dos Estudantes, para deputado federal, senador, ministro, prefeito de São Paulo e governador do estado.

Tem a experiência das tarefas que assumiu e a humildade de voltar às urnas e renovar-se na democracia. Ao contrário, o único voto que a candidata Dilma, do PT, recebeu em sua trajetória política foi a "dedada" de seu chefe.

Pode ser que eles não dêem a devida importância à prática democrática e prefiram apostar no marketing. Mas o Brasil não vive de propaganda, e retomou sua democracia com esforço, luta e cidadania, do Congresso e de grandes lideranças políticas - embora o PT tenha insistido em ficar fora da maioria dos passos dessa história.

José Serra não apenas sabe fazer. Não apenas é o melhor, mas também aquele de que o Brasil mais precisa.


Roberto Freire é presidente do PPS

Um problema real :: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

O aumento real dado pelo Congresso aos aposentados que ganham mais de um salário mínimo, e sancionado pelo presidente Lula mesmo contrariando a opinião dos ministros da área econômica do governo, traz novamente à discussão a dificuldade dos governantes brasileiros de tratarem seriamente da situação financeira precária da Previdência Social

Os efeitos dessa decisão durarão em média 20 anos, segundo o ex-ministro da Previdência José Cechin.

Ele lembra que alguns países repassam para os aposentados o chamado “ganho de produtividade”, o aumento da renda per capita.

Outros pensam que é preciso apenas garantir o poder de compra do salário do aposentado. No nosso caso, uma lei garante o “ganho de produtividade” para o salário mínimo, mas, segundo Cechin, se o mesmo fosse feito para todas as aposentadorias, como propunha o projeto do senador petista Paulo Paim, a despesa cresceria muito e sairia do controle.

“Uma vez não é nada catastrófico, mas não pode ser um compromisso permanente”, diz ele.

O economista F á b i o Giambiagi, um estudioso do sistema de Previdência que recentemente lançou um livro pela editora Campus, em parceria com o economista e professor Paulo Tafner, intitulado “Demografia, a ameaça invisível — o dilema previdenciário que o Brasil se recusa a encarar”, pensa que “estamos indo por uma estrada potencialmente perigosa”.

Ele ressalta que estamos acrescentando ao desafio demográfico associado ao envelhecimento gradativo da população “uma prática de aumentar a remuneração de dois de cada três aposentados (os que ganham o salário mínimo) a algo em torno de 5% ao ano todos os anos, o que aumenta o tamanho da conta”.

O aumento das aposentadorias de quem ganha acima de um salário mínimo, decidido agora, é uma pressão que tende a se repetir nos próximos anos, alerta Giambiagi.

Para ele, um sistema previdenciário/ assistencial deve cumprir três objetivos.

O primeiro seria evitar que, na terceira idade, os indivíduos mergulhem na pobreza extrema, quando já não têm condições de se sustentar com o trabalho.

O segundo seria dar às pessoas uma aposentadoria que seja condizente com o esforço de contribuição prévio ao longo de muitos anos, ajustado pela expectativa de sobrevida.

E o terceiro, preservar o poder aquisitivo da aposentadoria, uma vez que ela é concedida.

Fábio Giambiagi acha que o Brasil tem um sistema que promove esses objetivos, uma rede de proteção social que se encontra entre as melhores entre as economias em desenvolvimento.

Ele destaca que o grau de cobertura para quem tem mais de 65 anos é muito próximo de 100%, só deixando de fora “parte da elite que tem outros meios de financiar seu sustento na velhice, de modo que não é um problema social; e os miseráveis extremos, que são muito difíceis de alcançar por políticas públicas centralizadas, casos próximos da mendicância em idade avançada”.

Mas Giambiagi acha que “uma coisa é preservar o poder aquisitivo, e outra muito diferente é aumentar o valor real das aposentadorias, que é o que está acontecendo”.

Para ele, o ponto central da discussão é a suposição de que oito milhões de aposentados que ganham acima de um salário mínimo estariam tendo “perdas” há anos. Ele dá um exemplo.

“Para entender o problema, pense-se no caso de uma pessoa que ganha R$ 5.100 (dez salários mínimos).

Imaginemos, por hipótese, que o salário mínimo aumentasse para R$ 1.020. Da noite para o dia, essa pessoa teria passado a ganhar cinco salários mínimos.

Porém, sua capacidade de adquirir bens teria se mantido a mesma”.

“A ideia de que essa pessoa teria perdido 50% do seu salário é essencialmente errada”, diz Giambiagi.

O resultado dessa conjunção de fatores é que, além de dar conta de um aumento do número de idosos que caminha para ser da ordem de 4% ao ano na próxima década, o país terá a pressão associada ao valor real unitário das aposentadorias.

Poderemos dar conta disso? Mesmo que a China continue crescendo mais de 10% ao ano, ajudando a manter um crescimento alto no Brasil devido ao preço de nossas exportações, “estaremos deixando menos recursos para atividades fundamentais para o futuro, associadas à educação, à ciência e tecnologia, e ao investimento em infraestrutura”, diz Giambiagi.

E, se um dia o mundo deixar de ajudar, nos perguntaremos: “O que é que o país fez nos anos de bonança para se preparar para a chegada do inverno?”.

O ex-ministro da Previdência José Cechin, por sua vez, preocupa-se com a tentativa de acabar com o fator previdenciário, abortada pelo veto do presidente Lula.

Ele foi aprovado por unanimidade no Senado, e o governo teve que segurar a votação na Câmara.

Apesar de que dificilmente o veto será derrubado — pois a base do governo está mais alerta para as consequências desastrosas disso, principalmente depois que o presidente Lula vetou —, Cechin chama a atenção para as providências que a Europa vem tomando para aumentar a idade mínima para as aposentadorias.

A Grã-Bretanha mandou um projeto há dois anos colocando o limite de idade até 68 anos dentro de 30 anos, “uma medida de longo prazo, que é como deve ser feito na Previdência”, lembra.

O fator previdenciário foi uma maneira de conseguir segurar as aposentadorias precoces, e Cechin acha que o seu efeito é melhor do que a idade mínima, por ser mais flexível. “Quem quiser se aposentar mais cedo vai receber menos por muito mais tempo”.

Para José Cechin, a melhor solução seria uma mistura de fator previdenciário com idade mínima.

Que droga :: Melchiades Filho

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - Pesquisa divulgada na semana passada ajuda a entender por que Dilma Rousseff passou a tratar do crack em quase toda entrevista e por que José Serra acusou duramente o governo da Bolívia de leniência com o narcotráfico.

O Ibope perguntou a 2.002 eleitores quais os principais problemas do Brasil. Segurança pública e drogas ficaram em 2º e 3º lugares -à frente de questões como miséria, corrupção, habitação e transporte.

Instados a declarar o que deve merecer "especial atenção" do próximo presidente, os entrevistados confirmaram o diagnóstico: puseram a segurança pública como a 2ª prioridade e as drogas como a 4ª.

Os dois assuntos atraem mais atenção do que na eleição passada. Em 2006, a segurança ocupava o 3º lugar no ranking; as drogas, o 5º.

Essa preocupação crescente com a violência arranha até a portentosa avaliação de Lula: é a área em que ele tirou a pior nota (2,1, de um máximo de 5). Dos entrevistados, 38% disseram-se totalmente insatisfeitos com a atuação federal na questão da segurança -contra 7% de totalmente insatisfeitos com a gestão da economia, por exemplo.

Ninguém sabe ao certo o que influencia o voto. Os marqueteiros, porém, acham importante descobrir e explorar o que aflige o eleitor. O Ibope, portanto, apenas tornou público o que as pesquisas do PT e do PSDB já haviam detectado.

Daí a decisão de Dilma de lançar um alerta sobre a disseminação do crack e fazer uma dobradinha indiscreta com o Planalto, que na sequência anunciou uma campanha nacional de combate à droga.

O súbito ataque de Serra à porosidade da fronteira boliviana foi o modo encontrado para evitar que a adversária tomasse conta dessa agenda. Não tinha como alvo a diplomacia lulista ou o Mercosul, como alguns interpretaram de saída.

O que falta esclarecer é a desatenção dos candidatos até aqui ao tema que mais desperta interesse e indignação no brasileiro: a saúde.

Que apareçam os liberais :: Maria Cristina Fernandes

DEU NO VALOR ECONÔMICO

"Há poucos dias o secretário do Tesouro Arno Augustin declarou que a evolução do salário mínimo no mesmo patamar do PIB, além de perfeitamente sustentável, é a base do crescimento do consumo e tem que ser mantida. Isso colide de frente com o que Bernard Appy acabou de dizer aqui". Com a provocação, feita num seminário na Fundação Getúlio Vargas, o economista do Ipea, Mansueto de Almeida, lançou mais provocações ao debate eleitoral do que o festival de evasivas que tem pautado os pronunciamentos dos candidatos sobre o futuro da política econômica.

Appy, que foi secretário de política econômica na gestão Antônio Palocci no Ministério da Fazenda e hoje ocupa uma diretoria da Bovespa, acabara de fazer uma preleção sobre os riscos de o crescimento econômico diminuir a pressão sobre a escalada de gastos correntes do governo, como a Previdência. E lançou mão de uma sucessão de gráficos para defender a tese de que a taxa de crescimento do consumo num patamar superior ao do PIB, como vem acontecendo desde 2005, não é sustentável.

Ao confrontar Appy e Augustin, dois ex-colegas de governo petista, Mansueto indagava-se sobre as escolhas do próximo presidente para fazer os investimentos sem os quais o país um dia vai parar de crescer. Se o investimento público permanecerá no patamar de 1% do PIB - menos da metade dos anos 1970 - enquanto a carga tributária, depois de mais de duas décadas na faixa de 25% (1968-92), ultrapassará os atuais 36% da riqueza nacional.

O economista do Ipea não aposta em redução da carga tributária no próximo governo. Primeiro porque com o crescimento e a formalização, a arrecadação acaba subindo ainda mais. Depois, porque o discurso de nenhum dos candidatos sinaliza redução de gastos correntes.

Muitas planilhas depois, Mansueto desmonta a tese oposicionista de que é possível se obter redução de gasto com choque de gestão. Sustenta que a eficiência do Estado o leva a gastar mais. Além disso, entre as despesas que a bravata política costuma mirar, a rubrica que inclui passagens aéreas, gasolina, xerox e cafezinho até diminuiu nos últimos dez anos. E a de pessoal, apesar dos generosos aumentos do funcionalismo - entre os quais lista o seu próprio no Ipea - teve um aumento de 0,2 pontos percentuais ao longo do governo Luiz Inácio Lula da Silva. E o que aumentou? As transferências sociais e os empréstimos do tesouro para os bancos públicos.

Do outro lado da mesa, veio a explicação por que os gastos sociais dificilmente terão como ser reduzidos. Professor de ciência política da casa, Fernando Abrucio jogou o debate fiscal para o meio do Largo 13, em São Paulo, numa manhã de sábado. Não vê como a desigualdade possa deixar o eixo da política e diz que, junto com a classe C, cresce uma demanda cada vez maior pelos serviços do Estado. De 2006 para cá, o peso do salário como problema dos brasileiros diminuiu pela metade. Os problemas mais graves medidos pelas sondagens são, pela ordem, saúde, segurança e as drogas.

Para contrabalancear as concessões à elite do funcionalismo, cita as escolas técnicas federais, como as principais demandantes de concursos públicos este ano. Pela simples razão de que quase não existiam e serão entregues às carradas no segundo semestre. Ao presidente eleito não restará outra alternativa senão preencher as vagas.

Appy acha que tem espaço para cortar sem, como diz, recorrer a maldades. Avalia que dá para manter os gastos em educação e saúde. O foco, insiste, tem que ser na contenção do consumo. Acusa a insensibilidade dos políticos à gravidade do problema, como se fosse fácil baixar o som de uma festa que acabou de começar.

Na toada do gasto a ser contido, Mansueto sugere que a conta seja cobrada em outra freguesia. Com a planilha dos créditos concedidos a bancos oficiais em tela, mostra que o valor passou de zero em 2007 para 217 bilhões em 2010. Vê muito mais vigilância da opinião pública em relação às condicionalidades do Bolsa Família, que consome 0,4% do PIB, do que sobre a relação muito mais onerosa entre o Tesouro e o BNDES.

Mansueto elogia o programa pelo qual o BNDES subsidia as taxas de juros cobradas pelos bancos para o setor produtivo (PSI) lançado durante a crise econômica. Mas não entende por que a medida provisória que aumentou esses subsídios em R$ 80 bilhões não informou as condições da subvenção. Diz que poderia até vir a concordar com a política industrial do governo, desde que tivesse informações sobre as condições de seus empréstimos. Dos R$ 10 bilhões que JBS e Bertin receberam do BNDES, por exemplo, não tem como saber se está sendo bem gasto.

Questiona por que os empresários que cobram corte de custeio e redução na carga tributária são os mesmos que pressionam por mais crédito subsidiado. E por que o mesmo governo que enfia goela abaixo do Congresso uma bilionária medida provisória de juro subsidiado para grandes empresas assiste ao Banco Central, dois dias depois, aumentar a Selic. Como se estivessem governo e BC em lados opostos do planeta.

O debate se encerra sem resposta, mas a indignação da professora Maria Celina de Araújo no início da preleção ainda ecoa. Numa crítica do atual governo, a professora disse que, ao contrário dos liberais que veem o Estado como um mal necessário, a esquerda brasileira o idolatra e atribui aos maus políticos sua corrupção. José Serra diria a mesma coisa dias depois na convenção de seu partido.

Das planilhas sobre as despesas governamentais ali apresentadas o que se conclui é que não está fácil encontrar liberais no Brasil. O Estado necessário está em toda parte. O mal talvez se esconda debaixo dos viadutos.


Maria Cristina Fernandes é editora de Política. Escreve às sextas-feiras

CLARA NUNES - IJEXÁ

Cresce pressão pelo vice

DEU NO ESTADO DE MINAS

PTB entra no páreo para indicar o companheiro de chapa do tucano José Serra, mas DEM não abre mão da indicação. No Piauí, candidato prefere se afastar dos temas mais polêmicos

Bertha Maakaron

A pressão dos democratas para indicar o vice na chapa do candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, pode esperar. Ontem, o ex-governador Aécio Neves evitou comentar a queda de braço que se trava no plano nacional entre democratas e tucanos para uma definição. De um lado, setores do PSDB pedem uma chapa puro-sangue. De outro, o presidente nacional do DEM, Rodrigo Maia, tem anunciado em alto e bom som que a legenda espera indicar o vice. “Serra está cuidando disso”, disse Aécio. “Temos prazo”, afirmou em seguida, assinalando: “As coisas estão caminhando bem. Não vou além disso, pois essa é condução feita por Serra, que está tranquilo, sereno e pronto para a largada da campanha”.

No PSDB, as apostas são em torno do presidente do partido, senador Sérgio Guerra (PE), e do senador Álvaro Dias (PR). O DEM, que ainda vai se reunir com Serra para tratar desse tema, discute os nomes do deputado José Carlos Aleluia (BA), o senador José Agripino (RN) e da vice-governadora do Pará, Valéria Pires (PA), mulher do deputado Vic Pires.

Mas a briga começa a ganhar novos contornos. O presidente do PTB, Roberto Jefferson, afirmou que seu partido também está disposto a entrar na disputa pela indicação do vice de Serra. Em seu Twitter, Jefferson disse que não haverá nenhuma imposição do DEM para o posto.Segundo o presidente do PTB, o tesoureiro do partido, Benito Gama, seria um nome ideal para a vaga. "Não nos imporão vice do DEM. Vamos brigar pela vice de Serra. Temos nomes: Benito Gama, da Bahia", afirmou.

Além de tesoureiro do PTB, Gama é pré-candidato a deputado federal. Amanhã, o partido realiza, em São Paulo, sua convenção para oficializar apoio ao tucano. A definição sobre quem será o vice de Serra deve se arrastar até o dia 30, quando o DEM realiza sua convenção para formalizar a aliança com o tucano. Líderes do PSDB e do DEM intensificaram as conversas em torno da escolha nos últimos dias, mas reconhecem que a decisão será feita individualmente por Serra.

Para tentar sensibilizar os tucanos, os democratas afirmam que ajustaram questões regionais para deixar a situação "mais confortável" para Serra e abririam mão de lançar candidatos em Espírito Santo, Tocantins, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Mato Grosso.

Campanha Em visita ao Piauí, o candidato à presidência, José Serra (PSDB), evitou comentar temas polêmicos. Serra preferiu falar sobre questões regionais, como a falta de investimentos federais no Nordeste, citando como exemplo a ferrovia Transnordestina, que, segundo ele, nunca deixou de ser um projeto. O presidenciável estava acompanhado do candidato a governador do Piauí pelo PSDB, Sílvio Mendes, e do senador Mão Santa (PSC).

Serra foi a Teresina para participar do 3º Encontro Lideres do Nordeste, organizado pela Associação dos Jovens Empreendedores, onde proferiu palestra. O candidato disse que iria começar uma batalha importante pela Presidência da República e estava feliz em reencontrar os companheiros. "O Piauí pode me considerar um amigo do estado. O Piauí tem um potencial enorme e não tem sido materializado", comentou.

"Aqui tem um potencial agrícola imenso no cerrado e no semiárido, que precisa de irrigação, que tem muito pouca irrigação pelas condições existentes. É preciso expandir a produção de grãos no cerrado", acrescentou.

O comando da campanha de Serra investe na superexposição do tucano no rádio e na televisão para retomar a liderança nas pesquisas. Com 10 minutos de duração, o programa do PSDB foi ao ar ontem à noite. Considerando o programa do PTB, agendado para quinta-feira, e o do PPS, exibido no dia 10, Serra terá monopolizado o horário nobre no rádio e na televisão durante quase todo o mês de junho. A próxima rodada de pesquisas será feita no fim do mês, depois que os três programas tiverem ido ao ar. (Com agências)

Prévia da convenção jarbista em Caruaru

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Miriam Lacerda, que será a vice na chapa do candidato ao governo Jarbas Vasconcelos, prepara o encontro das oposições. Festa acontece amanhã, ainda sem a definição do segundo nome ao Senado

Uma prévia da convenção do principal bloco de oposição estadual (PMDB/PSDB/DEM/PPS), adiada de hoje para o dia 30, ocorrerá amanhã, em Caruaru. Provavelmente, ainda sem o anúncio do segundo nome ao Senado, na chapa do senador e pré-candidato ao governo Jarbas Vasconcelos (PMDB) contra o governador Eduardo Campos (PSB). Sob o mote “Com Jarbas e Miriam Pernambuco pode mais”, a pré-candidata a vice, Miriam Lacerda (DEM), convocou lideranças do Agreste para um encontro político neste sábado, às 9h, no Palladium. A casa de shows tem capacidade para três mil pessoas e a oposição espera lotar.

Os componentes da chapa – Jarbas, Miriam e o senador Marco Maciel (DEM), pré-candidato à reeleição –, discursarão no evento. De acordo com Miriam, prestigiarão o ato o presidente estadual do DEM, Mendonça Filho, os deputados federais Raul Henry (PMDB), Bruno Araújo (PSDB) e Roberto Magalhães (DEM) – ainda lembrado para a segunda vaga ao Senado na chapa, embora se mostre irredutível na decisão de se encerrar a carreira política. “Até lá (o evento), acho que não se resolve isso (o nome para a vaga). Acho Doutor Roberto um excelente nome, mas soube pela imprensa que ele não quer”, disse ontem Miriam.

Os deputados estaduais do DEM Augusto Coutinho e Adelmo Duarte, e do PSDB, Terezinha Nunes, Edson Vieira e Antônio Morais também confirmaram presença em Caruaru, além de prefeitos e ex-prefeitos aliados, entre eles, o ex-prefeito de Caruaru, vereador e pré-candidato a deputado estadual Tony Gel (DEM). Após o evento no Palladium, haverá um almoço para 100 convidados no restaurante Via Regional Frutos do Mar, no Centro de Caruaru.

A expectativa é sobre a participação do presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra, no ato de amanhã. Em função do posto de coordenador nacional da campanha do candidato do PSDB a presidente, José Serra, o dirigente tucano não tem ido as atividades de Jarbas no Estado. As lideranças do bloco de oposição e o próprio Sérgio Guerra já declaram que cabe ao PSDB indicar o segundo nome ao Senado na chapa. Mas os nomes tucanos apresentados não teriam encontrado consenso e o impasse prossegue.

Ontem, Roberto Magalhães, que está no quarto mandato federal, reiterou que não disputará eleição deste ano. “Minha decisão (de deixar a política) é firme e foi tomada ao longo dos últimos quatro anos. Acho que o candidato deve ser do PSDB”, avaliou. No bastidor político, as principais lideranças da oposição (leia-se Jarbas e Marco Maciel) estariam em campo para tentar convencer o parlamentar a entrar na chapa como candidato ao Senado. Especula-se que o plano B seja confirmar o médico Guilherme Robalinho (PPS).

No Rio, tucanos decidem ter candidato ao Senado

DEU EM O GLOBO

Às vésperas da convenção que oficializará apoio a Gabeira, mudança desagrada a aliados; PPS insiste na vaga

Gerson Camarotti, Cassio Bruno e Natanael Damasceno

BRASÍLIA e RIO. Por determinação do comando nacional do PSDB, a direção tucana no Rio de Janeiro decidiu lançar um candidato próprio ao Senado, em prejuízo do acordo prévio para apoiar a candidatura do exdeputado Marcelo Cerqueira (PPS), na aliança encabeçada pelo deputado Fernando Gabeira (PV), que disputará o governo estadual. A decisão foi tomada após três reuniões do presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), com dirigentes estaduais do partido.

A decisão do PSDB causou grande desconforto no partido aliado, mas o presidente nacional do PPS, Roberto Freire, disse que o diretório no Rio terá autonomia para decidir. Freire criticou a pressão para substituir o candidato do partido ao Senado em cima da hora. Hoje, deve acontecer nova reunião entre integrantes de PSDB e PPS. O ex-deputado tucano Márcio Fortes já conversou com Cerqueira sobre a troca.

— O PPS do Rio é que vai decidir.

Mas, pelo que eu vi, isso não foi recebido com bons olhos. Fazer isso na véspera é muito ruim. Temos um grande candidato no Rio, que é o Gabeira, e uma grande aliança. Se mexer, o problema pode ser maior.

Lançamos o que de melhor tinha no Rio. Mas agora (os tucanos) descobriram que é importante ter um candidato majoritário — disse Freire, contrariado.

“Fomos pegos de surpresa”, diz dirigente do PPS No Rio, o presidente regional do PPS, deputado estadual Comte Bittencourt, disse que não abrirá mão de Cerqueira e que a coligação de Gabeira, formada por PV-PSDB-DEMPPS, será mantida: — Fomos pegos de surpresa.

Não há crise. A coligação continua a mesma — desconversou Comte.

Já o ex-prefeito Cesar Maia, que concorrerá ao Senado pelo DEM, afirmou que o diretório fluminense do seu partido manterá o apoio ao PPS.

— Hoje, o Sergio Guerra (presidente nacional do PSDB) e s t e v e e m m e u apartamento tratando da campanha de Serra no Estado do Rio quando, de passagem, me informou sobre as demarches entre PSDB e PPS. Eu disse que o DEM estará firme com o PPS seja qual for a decisão que o PPS tomar.

O presidente nacional do DEM, deputado Rodrigo Maia, também disse que não criaria problemas para a substituição de Cerqueira por um tucano, desde que o PPS concorde: — Se não tiver problema por parte do PPS, o DEM irá apoiar a solução. Mas essa tem que ser uma decisão do PPS — disse Rodrigo.

Na coordenação da campanha de Serra, há um cuidado para evitar uma crise por causa dessa mudança.

Por isso, o próprio Sérgio Guerra e o deputado J u t a h y J u n i o r (PSDB-BA) fizeram reuniões ontem no Rio. Há u m m ê s , o co mando do partido já tinha alertado sobre a necessidade de ter pelo menos um candidato ao Senado para massificar o número da legenda (45), na propaganda regional. Como não houve avanço nas negociações, o comando nacional tucano resolveu pressionar.

— Nós mostramos a importância de ter uma presença do partido na chapa majoritária com uma candidatura ao Senado.

Mas tem que ser uma construção do diretório estadual com os aliados — disse Jutahy.

Foram escalados para resolver o impasse o ex-deputado Márcio Fortes, candidato a vice na chapa de Gabeira, o presidente estadual do PSDB, o prefeito José Camilo Zito (Duque de Caxias), e o deputado estadual Luiz Paulo Corrêa da Rocha. Uma das alternativas seria realizar uma troca de cargos na chapa entre Márcio Fortes e Cerqueira.

Fortes, que também participou da reunião com os dirigentes nacionais no Rio, negou que seja o nome escolhido pelo partido para a disputa ao Senado: — Não. Eu não. Não é essa a questão que está posta. A coligação tem dois candidatos ao Senado. Nós estamos evoluindo para, eventualmente, termos um candidato do PSDB ao Senado em lugar de um outro candidato.

Isso não está elaborada.

“É praticamente impossível mudar”, diz Gabeira Gabeira ironizou ontem a suposta tentativa de tucanos de implodir seu palanque: — Não vão implodir palanque nenhum. Se for implodir, precisam avisar antes para ninguém se machucar. A situação (da coligação) não mudou. É praticamente impossível mudar. Estamos a 48 horas da convenção. Se houvesse mudança, eu saberia.

O presidente regional do PV, Alfredo Sirkis, seguiu o mesmo tom de Gabeira: — Falei com dirigentes do PSDB e, com relação ao Gabeira, tudo deve continuar como está. O que eles estão discutindo é uma possibilidade de lançar um candidato ao Senado.

Marcelo Cerqueira não retornou as ligações.

No Rio, Serra e Marina não se encontram

DEU EM O GLOBO

Sérgio Roxo

SÃO PAULO. O pré-candidato do PV ao governo do Rio, deputado Fernando Gabeira, terá a presença de dois presidenciáveis na festa que partidos de sua coligação realizam amanhã no Rio.

Mas José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV) não se encontrarão no evento.

A ideia inicial é que Serra chegue primeiro, discurse ao lado de Gabeira e vá embora. Marina entraria em cena em seguida.

As assessorias dos dois candidatos têm se esforçado para acertar as agendas e evitar a saia justa.
Os detalhes serão definidos hoje. Além de PV e PSDB, a aliança no Rio inclui DEM e PPS.

A exigência de evitar o encontro foi de Marina. A avaliação é que a aparição conjunta daria margem para que petistas voltem com as críticas de que a candidatura de Marina é uma linha auxiliar do tucano, na disputa com a adversária do PT, Dilma Rousseff. Em entrevistas, Marina tem dito que não é “continuadora” do governo Lula nem “opositora”.

O acerto dos horários será complexo porque os dois terão compromissos em São Paulo amanhã cedo: Marina participará da convenção do PV que lançará Fábio Feldman ao governo paulista, às 10h. Serra irá à convenção nacional do PTB, que anunciará apoio a sua candidatura, também prevista para as 10h. A previsão é que o tucano chegue ao evento de Gabeira às 12h. Ele deverá viajar de jato particular.

O palanque de Gabeira é essencial para as campanhas de Serra e Marina. No caso do tucano, é a chance de ter um aliado de peso, principalmente no segundo turno, que possa fazer frente ao governador Sérgio Cabral (PMDB), que apoia Dilma. Já Marina tem em Gabeira o nome mais forte de seu partido numa disputa estadual. O comando da campanha de Marina diz considerar natural que ela não queria aparecer ao lado de Serra.

— Do mesmo jeito que a Marina, que apoia o Tião Vianna (PT) para o governo do Acre, não aparecia num evento lá junto com a Dilma — disse o vereador carioca Alfredo Sirkis, presidente do PV no Rio.

PMDB paulista não dá espaço a Temer no horário de TV

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Presidente nacional do partido perde briga pelo palanque eletrônico também em Pernambuco e Mato Grosso do Sul

Christiane Samarco/BRASÍLIA

O presidente nacional do PMDB e candidato a vice na chapa presidencial da petista Dilma Rousseff, deputado Michel Temer (SP), não terá palanque eletrônico em São Paulo para pedir votos no programa eleitoral gratuito de rádio e televisão. Quem vai desfrutar dos preciosos minutos do PMDB paulista na TV será o candidato da oposição a presidente, José Serra, e não o presidente do partido, que disputará o Palácio do Planalto em parceria com o PT.

Com um histórico de traições até mesmo quando disputa a Presidência da República com candidato próprio, o PMDB está fazendo uma ofensiva para "segurar" o palanque eletrônico nos Estados em que o cenário é de racha partidário entre os presidenciáveis do governo e da oposição. A cúpula partidária instruiu alguns interlocutores a apelar pela neutralidade do palanque eletrônico onde não houver chance de fechar o apoio majoritário à Dilma.

É a única alternativa para impedir que o tempo de televisão do partido seja consumido pelo adversário tucano José Serra, ao longo dos 45 dias de propaganda eleitoral gratuita. Mesmo assim, Temer já sabe que seus correligionários também vão pedir voto para o candidato do PSDB a presidente em Pernambuco e no Mato Grosso do Sul.

É este o caso do Rio Grande do Sul, onde a briga com o PT é intensa. A grande maioria do PMDB gaúcho se recusa a pedir voto para Dilma e não admite a presidenciável no programa eleitoral do partido. Neste caso, a neutralidade é única alternativa para evitar que o palanque eletrônico repita o palanque real, em que vários peemedebistas já trabalham para eleger Serra.

Com a autoridade de quem elegeu 88% dos membros do diretório estadual do partido na eleição do ano passado, o presidente do PMDB de São Paulo, Orestes Quércia já deixou Temer de fora dos comerciais partidários que foram ao ar este mês e do programa anual da legenda, desde o ano passado. Tudo sem briga, em uma espécie de pacto em que um não incomoda o outro e cada um faz o que quer. Foi por conta desse acerto que Quércia liberou os suplentes de delegado de São Paulo para aprovar o nome de Temer para vice, na convenção nacional do dia 12, em Brasília.

Quércia argumenta que a razão da ausência do comandante nacional do partido na TV do partido nada tem de pessoal. Ao contrário, explica, ela tem fundamento político e jurídico, a partir da coligação formada pelo PMDB em São Paulo. Afinal, a coligação firmada no Estado é com o PSDB, o DEM e o PPS, em torno da eleição dos tucanos Geraldo Alckmin a governador, e Serra para presidente. E Quércia argumenta que, do ponto de vista jurídico, uma coligação formal funciona como um partido político.

Da mesma forma, em Pernambuco também é certo que o senador Jarbas Vasconcelos vai disputar o governo estadual em aliança com o DEM, o PPS e o PSDB. Tanto é assim que Jarbas fez questão de se lançar candidato na presença de Serra. E no Mato Grosso do Sul o candidato a governador, André Puccinelli, já montou a coligação com o PSDB negociando um espaço no tempo de TV para Serra. Foi o preço para evitar que a senadora Marisa Serrano (PSDB) concorressse contra ele, dificultando sua briga contra o petista José Orcírio dos Santos – o Zeca do PT.

Berfran (PPS) será o vice na chapa de Yeda à reeleição

DEU NO ZERO HORA (RS)

Juliana Bublitz

Depois de descartar nomes do PP, governadora aceitou ontem como parceiro o deputado do PPS

Com o aval da governadora Yeda Crusius, PSDB e PPS preparam para anunciar até segunda-feira o nome do deputado estadual Berfran Rosado como candidato a vice na chapa que disputará a reeleição. Ontem, o fim da novela em torno da escolha do braço direito de Yeda na eleição era comemorado por integrantes do PPS.

A opção por Berfran ganhou força quando o PP concordou em ceder a vaga a outro partido, diante da dificuldade de apresentar um nome que agradasse a Yeda. Com a desistência, abriu-se uma brecha para a volta do PPS à coligação, considerada fundamental para turbinar a campanha.

Como Berfran preenchia todos os requisitos impostos pela governadora, interlocutores no Piratini garantem que a indicação surgiu naturalmente. E foi aceita sem restrições.

– Berfran não é do tipo espalhafatoso, e era isso que a governadora queria – afirma um deputado ligado ao PPS.

Outros fatores, porém, contribuíram para que Yeda batesse o martelo. Berfran foi secretário do Meio Ambiente e conhece os meandros do governo. Além disso, defende como se fossem suas as políticas adotadas pela governadora, o que confere à dupla uma afinidade.

Ontem, durante o velório do ex-deputado Bernardo de Souza, o escolhido de Yeda foi evasivo ao ser questionado sobre o futuro. Com um sorriso contido, evitou confirmar a indicação, mas também não negou que aceitaria o convite. À tarde, durante um almoço com deputados do PPS, Berfran teria questionado os motivos para esperar até segunda-feira pelo anúncio oficial. A data teria sido acertada com o presidente do PSDB, Claudio Diaz. Berfran estaria angustiado com a insistência da imprensa.

– É possível que a divulgação ocorra amanhã (hoje) mesmo para resolver de uma vez essa questão. Se está decidido, não tem por que esperar até segunda-feira – disse o deputado estadual Paulo Odone (PPS).

No fim da tarde, procurado por ZH, Diaz disse que, até então, a ideia era manter o anúncio na segunda-feira. Diaz afirmou que ainda havia “alguns detalhezinhos” para acertar até lá.

Para o deputado federal Nelson Proença (PPS), o resultado é “bom para todos” por três motivos. Para o PSDB, porque fortalecerá a candidatura da governadora. Para o PPS, porque o partido esteve desde o início com o governo e agora terá a oportunidade um retorno em grande estilo.
Para o PP, porque ampliará as chances de vencer as eleições. Isso porque o PSDB se comprometeu em retirar a candidatura de Vicente Bogo ao Senado, tornando única a candidatura de Ana Amélia Lemos (PP).

José Serra participa de evento em Teresina e critica o governo federal

DEU NA TRIBUNA DO PIAUI

O pré-candidato a presidência da república, José Serra (PSDB), desembarcou às 16h10, desta quinta-feira, 17, no aeroporto de Teresina. O desembarque de Serra foi bastante tumultuado e ele quase não fala com a imprensa. O tucano se disse muito feliz de estar em Teresina.

Estou muito feliz de vir ao Piauí. "Vamos começar uma batalha importante pela presidência da república e quero dizer ao Piauí que me considero um amigo do estado. É um estado que tem um potencial enorme e que não tem sido aproveitado. Falta ao Piauí investimento federal”, disse.Serra foi recepcionado pelo ex-prefeito Silvio Mendes e pelo senador Mão Santa.

Em Teresina, ele vai participar da abertura oficial do evento Líder Nordeste, às 19h, no Atlantic City.

Serra critica recusa de Dilma em ir a debates

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

"O que ela tem para esconder?", provoca tucano em entrevista a TV

Depois do DEM, PTB de Roberto Jefferson quer entrar na briga para indicar o candidato a vice na chapa do PSDB

João Carlos Magalhães
ENVIADO ESPECIAL A TERESINA

Márcio Falcão
DE BRASÍLIA

José Serra, candidato do PSDB à Presidência de República, sugeriu ontem que Dilma Rousseff, candidata do PT, não comparece a debates por ter algo a esconder.

"Você não acha estranho que ela deixe de debater? Não é esquisito se ela quer ser presidente? O que ela tem para esconder?", questionou, em entrevista a emissoras de TV de Teresina (PI). Serra chamou a atitude de Dilma de "curiosíssima".

Na semana passada, Dilma cancelou a presença em uma sabatina promovida pela Folha e pelo UOL, alegando conflitos na agenda. Ela está em viagem à Europa.

Serra negou que, caso eleito, pretende parar a obra de transposição do rio São Francisco. Ele disse que a informação provém de uma "indústria da mentira" criada pelo governo Lula.

Serra disse que a escolha do vice em sua chapa não é problemática, e sim uma preocupação da imprensa. E minimizou a importância da definição: "A população não sabe que o Michel Temer [PMDB] é vice da Dilma."

PTB TAMBÉM QUER

Depois do DEM, ontem foi a vez de o presidente do PTB, Roberto Jefferson, afirmar que seu partido também está disposto a entrar na briga pela indicação do vice.

"Não nos imporão vice do DEM. Vamos brigar pela vice de Serra. Temos nomes: Benito Gama, da Bahia", afirmou no Twitter.

Além de tesoureiro do PTB, Gama é pré-candidato a deputado federal. No sábado, o partido realiza, em São Paulo, sua convenção para oficializar apoio ao tucano.

Serra promete ampliar Bolsa-Família

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Em tom coloquial, o PSDB usou seu horário eleitoral na TV para apresentar seu candidato à Presidência, José Serra. Destacando que Serra é um "governante testado", o programa fez um apanhado da trajetória do tucano desde seu nascimento, numa "casinha" na Mooca. Serra defendeu o Bolsa-Família e disse que ele deve ser "ampliado e fortalecido".

Serra explora na TV preocupação social e experiência

Programa trata presidenciável como "Zé Serra", exibe cenas dele em família e destaca realizações nas áreas de saúde e educação

Ana Paula Scinocca
BRASÍLIA - O PSDB usou ontem programa partidário em rede nacional de rádio e TV para campanha de seu candidato à Presidência, José Serra. A propaganda mostrou o tucano como um gestor experiente, com grandes realizações na área social. Procurou, ainda, reforçar o lado humano do candidato tratando-o como "Zé Serra" e exibindo cenas dele em família.

"O Bolsa-Família deve ser ampliado e fortalecido", disse Serra, logo na abertura da propaganda. Depoimentos de cidadãos beneficiados por iniciativas do candidato quando era ministro e governador serviram para destacar a performance administrativa do tucano, definido como um "governante testado".

"Tem gente que gosta de falar. O Serra gosta de fazer", anunciou o locutor, antes de listar os principais feitos do tucano à frente do Ministério da Saúde, no governo de Fernando Henrique Cardoso. Reforma de hospitais, vacina da gripe para idosos, ampliação do programa de saúde da família, lançamento dos remédios genéricos, programa de combate à Aids e mutirões da saúde foram alguns dos projetos lembrados.

Economista e professor, Serra também foi apresentado como um político que privilegia a educação, com destaque para o fortalecimento do ensino fundamental e profissionalizante quando era governador. O locutor lembrou que a gestão tucana implantou em São Paulo a remuneração por mérito para os professores e a colocação de dois professores em cada sala de aula.

Trabalhador. O programa lembrou que o candidato do PSDB foi o autor da proposta de criação do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). "O seguro-desemprego vem do FAT e o FAT financia obras de saneamento."

Apesar de reafirmar o compromisso com o principal programa social do atual governo, o Bolsa-Família, Serra não evitou críticas à gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva - que não foi mencionado diretamente, assim com a candidata do PT, Dilma Rousseff. Ao falar com um eleitor sobre a área de saúde, afirmou: "Nos últimos anos parou de avançar. Os mutirões acabaram e eu acho que têm de voltar."

"As coisas parecem difíceis, mas podem ser resolvidas. O Brasil avançou em algumas coisas, mas ainda falta muito por fazer", disse o tucano. "A saúde pública está ruim, a educação precisa melhorar muito, a segurança em muitos lugares está péssima. E as drogas são um verdadeiro pesadelo para as famílias."

Pai e avô. O programa começou com um rápida biografia de Serra. "Casado com Mônica, 68 anos, pai da Verônica e do Luciano, avô do Antonio, do Francisco e da Gabriela", diz o locutor, Serra nasceu numa "casinha" no bairro operário da Mooca.

"Filho de uma dona de casa e de um feirante, estudou em escola pública", prosseguiu o narrador do programa. Com os olhos marejados, Serra apareceu falando sobre a neta, Gabriela.

Em outro momento da propaganda, o locutor afirmou: "Zé Serra é um sujeito simples, de bem com a vida, de bem com seu povo." Em seguida, numa cena de rua, o próprio Serra afirmou: "Como tudo com pão."

O programa lembrou que Serra foi presidente da UNE e fez oposição ao regime militar. Resgatou, ainda, todos os cargos que ele ocupou: secretário estadual, deputado constituinte, senador, ministro, prefeito e governador de São Paulo.

Crise do PMDB vai de SC ao Maranhão

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Intevernção encomendada por Temer para impedir aliança do PMDB catarinense com o PSDB, de Serra, faz o DEM ameaçar retaliação contra Roseana

Christiane Samarco


BRASÍLIA - O movimento do presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), para impedir a aliança da regional catarinense do partido com o DEM e o PSDB do presidenciável tucano José Serra gerou uma crise que saiu dos limites de Santa Catarina e do próprio partido, e chegou ao Maranhão da governadora Roseana Sarney (PMDB).

Decidido a exigir respeito dos catarinenses à chapa da petista Dilma Rousseff, onde figura como candidato a vice-presidente,Temer viajou para a Europa deixando encomendada a intervenção no diretório de Santa Catarina. O DEM deu o troco, falando em intervenção para romper aliança com o PMDB maranhense.

Na troca de tiros, o poder de fogo do DEM pode ser medido pelo tempo do partido na propaganda eleitoral gratuita que será veiculada por 45 dias pelas emissoras de rádio e televisão maranhenses. Roseana pode perder preciosos 2 minutos e 37 segundos diários no programa de televisão, caso a regional maranhense do DEM lhe negue apoio ao projeto de reeleição, em represália à intervenção nacional do PMDB para impedir a parceria entre os dois partidos em Santa Catarina.

Foi esse o recado que o presidente nacional do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), fez chegar ao presidente do Senado e pai de Roseana, José Sarney (PMDB-AP) antes da primeira reunião da Executiva Nacional, terça-feira passada. Àquela altura, o próprio Temer já havia conversado com o deputado ACM Neto (DEM-BA) sobre a aliança no Maranhão, quando foi tratado o caso de Santa Catarina, um dos raros Estados em que o DEM pode vencer a corrida estadual com candidato próprio. Lá, o partido quer eleger o senador Raimundo Colombo governador, em aliança com peemedebistas e tucanos.

O que deixou Temer furioso foi o anúncio surpresa do presidente do PMDB catarinense, Eduardo Pinho Moreira, na segunda-feira, dando conta de que ele desistia da candidatura ao governo em favor da tríplice aliança. Ele próprio se lançou vice na chapa de Colombo. Temer argumenta que, uma semana antes, colocara o mesmo Pinho Moreira frente a frente com Dilma e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na conversa, os três fecharam acordo em favor da petista na eleição presidencial.

Desautorizado diante do presidente e da titular da chapa e sob pressão do PT, que interveio no Maranhão para facilitar a reeleição de Roseana, o presidente do PMDB embarcou para a Europa deixando a intervenção encaminhada junto à Executiva Nacional do partido. Contudo, a expectativa do DEM é que as ameaças trocadas contribuam para contornar a situação.

Como não aceitam que Colombo pague a conta da intervenção petista em favor de Sarney, líderes do DEM avisam que o estatuto do partido é o único que prevê a intervenção sumária, sem direito a defesa. A regional maranhense do partido é presidida pelo deputado Clóvis Fecury, filho do senador Mauro Fecury, suplente de Roseana que assumiu a vaga quando ela trocou o Senado pelo governo estadual.

COMENTÁRIO:

Seis diretórios do PMDB não vão apoiar Dilma: Acre, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Pernambuco. Temer fingiu entregar para Lula todo o partido. Blefou.
Não tem o controle sobre estas seções. É claro que vão tentar vários golpes para à força assumir o controle dos diretórios nestes estados.

Esta deserção é péssima para a candidata Dilma. Agora, pode não ter muita importância, mas quando começar a campanha, vai fazer muito falta este apoio. Resta observar como Serra vai se aproveitar desta fratura no PMDB.

PT pediu dossiê, reafirma araponga

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Em comissão mista do Congresso, ex-delegado volta a dizer que proposta do partido era que montasse dossiê contra José Serra

Rosa Costa

BRASÍLIA - O delegado aposentado da Polícia Federal Onézimo Sousa disse ontem que recebeu uma proposta de integrantes da equipe de campanha da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, para espionar e preparar um dossiê contra o adversário do PSDB, José Serra.

Em depoimento à Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência do Congresso, o delegado disse que foi convidado para um encontro em nome do coordenador da campanha de Dilma, Fernando Pimentel, para tratar de um problema de vazamento de informações no comitê eleitoral petista. Mas que, chegando ao local combinado, sentiu que o alvo do trabalho era outro e que, na realidade, os jornalistas Luiz Lanzetta, que integrava a campanha da petista, e Amaury Ribeiro queriam mesmo era que ele "vigiasse" o candidato tucano e pessoas ligadas a ele.

"Como eu recusei, notei que, ali, o tal contrato (ligado ao comitê) começou a fazer água", afirmou. "Porque depois se comprovou que eles não tinham interesse em investigar esse fato (vazamento de informações)". Onézimo insinuou que gravou a conversa, ao rebater a afirmação - atribuída a Luiz Lanzetta - de que ele teria oferecido o serviço contra Serra. "A recusa foi minha e eu tenho como provar", garantiu.

O policial disse que Lanzetta se apresentou como "representante" de Pimentel. Junto com os jornalistas, informou, estava "o Bené", depois identificado como o empresário Benedito de Oliveira, que teria sido o "responsável" pelo pagamento do serviço. O preço oferecido, segundo o depoente, seria de R$ 1,6 milhão, em 10 parcelas de R$ 160 mil, "preferencialmente" em dinheiro vivo.

Onézimo disse que quando recebeu a proposta - "me perdoem a impressão, que considerei indecente" - perguntou: "Vocês querem reeditar o Aloprados 2? ". Segundo ele, Amaury tentou convencê-lo, dizendo que tinha "dois tiros" contra Serra, um dos quais - na avaliação do policial - envolveria Verônica Serra, a filha do candidato.

Ele negou ter ouvido de seus interlocutores a palavra "grampo" e, sim, o pedido de fazer "um levantamento", embora tenha entendido que eles queriam, mesmo, era um serviço de escuta telefônica. "Se alguém queria saber tudo sobre determinada pessoa, como é que eu posso saber tudo? Para um bom entendedor, pingo é letra. Não existe outro tipo de conversa", ressaltou.

O delegado disse que os três interlocutores chegaram até ele, como revelou o Estado, por intermédio do sargento reformado da Aeronáutica Idalberto Martins de Araujo, seu amigo há muito anos. O ex-militar, conhecido por Dadá, também foi convidado pela comissão, mas não compareceu nem justificou a ausência. Como Onézimo disse que "parece que ele se aposentou há 60 dias", o líder da minoria na Câmara, deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), vai checar com a Aeronáutica se ele estava reformado na ocasião do suposto convite.

Genoino. Presente ao depoimento, o deputado José Genoino (PT-SP) tentou desqualificar as afirmações do policial. A certa altura, ele perguntou se houve a "proposta concreta" de fazer um dossiê ou se teria sido apenas uma "insinuação". "Foi uma proposta concreta, tanto que eu não aceitei", disse o ex-delegado.

Perguntado pelo senador Álvaro Dias (PSDB-PR) se a gravação seria a "carta na manga" respondeu: "Como profissional cuidadoso, eu pergunto ao senhor (senador), se faria isso". E acrescentou: "Se eu tivesse (a gravação), não iria apresentar aqui, pois como responderei a processo, apresento no momento oportuno, se a tiver".

O CASO DO DOSSIÊ

1º de junho
"Veja" relata que um grupo da campanha da petista Dilma Rousseff teria ensaiado a produção de um dossiê para atingir o tucano José Serra. Dilma nega

4 de junho
"Estado" revela que o esquema teve participação de arapongas ligados aos serviços secretos oficiais. Entre eles Idalberto Matias de Araújo, o Dadá

5 de junho
Onézimo Sousa, delegado aposentado da PF, confirma "operação dossiê" contra Serra. Dias depois, Onézimo e Dadá são convidados a depor na Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência do Congresso

TSE bane destas eleições todos os já condenados

DEU EM O GLOBO

Decisão inclui condenações anteriores à sanção da Lei da Ficha Limpa

Em resolução histórica, o Tribunal Superior Eleitoral decidiu que a Lei da Ficha Limpa valerá para todos os candidatos condenados por crimes graves em órgãos colegiados - mesmo que a condenação seja anterior à sanção da lei, em 4 de junho. Com isso, todos os condenados ficam banidos das eleições. O resultado foi 6 a 1, e só Marco Aurélio Mello votou contra. O relator, ministro Arnaldo Versiani, enfatizou que a lei alcança processos em tramitação, já julgados ou sobre os quais cabe recurso. Para o TSE, o direito eleitoral deve proteger a moralidade.

Já condenados estão fora

TSE decide que Ficha Limpa veta, nestas eleições, todos com condenação em órgão colegiado

Isabel Braga
BRASÍLIA - Numa decisão histórica, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu ontem que a Lei da Ficha Limpa alcançará todos os candidatos que tiverem condenação em órgão colegiado (por mais de um juiz), mesmo que elas tenham ocorrido antes da sanção da lei, em 4 de junho. O ministro relator da consulta sobre a abrangência da lei, Arnaldo Versiani, defendeu que inelegibilidade não é pena e, portanto, não significa perda de direito político.

Versiani enfatizou que a lei alcança os processos em tramitação, os já julgados e também aqueles aos quais ainda cabe recurso. O relator foi acompanhado por cinco dos sete ministros do TSE. Apenas Marco Aurélio Mello ficou contra. Na semana passada, ele também tinha sido o único a votar contra a validade da lei já para as eleições deste ano.

Segundo Versiani, as causas de inelegibilidade devem ser verificadas no momento do registro da candidatura — cujo prazo vai até 5 de julho. Se, naquela data, o candidato tiver condenações por órgão colegiado, estará impedido de se candidatar e terá o registro negado. É o caso, hoje, por exemplo, do ex-governador do Rio Anthony Garotinho, condenado pelo TRE do Rio por abuso de poder econômico nas eleições municipais de 2008. Ele, que pretende disputar o governo do estado, hoje está inelegível, mas já recorreu ao TRE. Para Versiani, não há por que se alegar que a lei estará retroagindo para prejudicar o direito do candidato.

— Não se trata de retroagir. A causa de inelegibilidade incide sobre a situação do candidato no momento do registro. Não se trata de perda de direito político, de punição. Inelegibilidade não constitui pena. A condenação é que, por si só, acarreta a inelegibilidade — disse Versiani. — A incidência de causa de inelegibilidade, sem exigência de trânsito em julgado (condenação definitiva), resulta de se exigir vida pregressa compatível dos candidatos.

Decisão traz “menor sacrifício possível”

O relator relembrou o voto do ministro Hamilton Carvalhido, dado na semana passada, destacando que o legislador, ao vetar o registro apenas nos casos em que haja condenação por órgão colegiado, garantiu o “menor sacrifício possível do princípio da não culpabilidade”, ou seja, o princípio da presunção da inocência (a pessoa só é considerada culpada quando for condenada definitivamente).

Assim como Carvalhido, Versiani e os demais ministros que acompanharam seu voto enfatizaram que o direito eleitoral impõe a proteção da probidade e moralidade públicas.

Os ministros enfatizaram que a lei, ao impedir o registro dos que têm condenações, não está impondo sanção penal, mas avaliando se o candidato tem condições de concorrer a um cargo eletivo.

Versiani também citou o artigo terceiro da nova lei, que permite que pessoas com condenação recorram a instâncias superiores para tentar suspender a inelegibilidade, para afirmar que a lei atinge todas as condenações passadas.

O presidente do tribunal, Ricardo Lewandowski, levou ponderações de professores sobre o tempo verbal — a modificação feita ao texto na votação no Senado que mudou o trecho do texto que citava “os que tenham sido” para “os que forem” condenados. Para Lewandowski, ainda que haja mais de uma interpretação, é preciso levar em conta o espírito da lei: — A locução “os que forem” não exclui os já condenados. Não se trata de hipótese de retroatividade, mas de considerar, na ocasião do registro, as condições de inelegibilidade.

O ministro Marco Aurélio afirmou que o TSE não poderia ter respondido à consulta porque as convenções partidárias já estão ocorrendo.

E argumentou que a lei só deveria valer para as próximas eleições, alertando que a retroatividade levará à insegurança jurídica: — Temo que a antecipação de crivo pelo TSE acabe por encomendar uma missa de sétimo dia relativamente a essa lei. Continuo convencido de que a queima de etapas não conduz ao ordenamento jurídico.

A vice-procuradora geral eleitoral, Sandra Cureau, defendeu a validade da lei para condenações que ocorreram antes da sanção. Ela destacou o movimento popular em torno da votação do projeto de iniciativa popular que pedia ética e moralidade no exercício dos cargos públicos: — O Ministério Público entende que se aplica a situações de inelegibilidade já configuradas e às que vierem se configurar até a data das eleições.

Apesar de acompanhar o voto de Versiani, o ministro Marcelo Ribeiro fez ressalvas à decisão. Para ele, há casos em que inelegibilidade é pena. O ministro deu como exemplo casos em que o eleito é julgado e cassado, na Justiça eleitoral, por compra de votos ou abuso de poder econômico.

O projeto de iniciativa popular foi apresentado à Câmara em setembro do ano passado, com o apoio de mais de 1,3 milhão de assinaturas, e vetava a candidatura dos que tivessem condenação em primeira instância.

Para ser aprovado, foi flexibilizado.

O Congresso cedeu a pressões e aprovou o projeto em maio, e ele foi sancionado no último dia 4 de junho. Na semana passada, o TSE decidiu que a lei valerá para as eleições deste ano.

Antes desta lei, só condenados em última instância da Justiça estavam impedidos de concorrer. A lei atual ve-da o registro eleitoral de condenados por crimes graves: cassação de mandato, crimes contra a vida, por tráfico de drogas, por improbidade administrativa.

O texto amplia o prazo de inelegibilidade de três para oito anos.

A condenação que torna o político inelegível só valerá se o julgamento se der em instância colegiada.

Dívida grega: calote ou reestruturação :: Luiz Carlos Bresser-Pereira

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Mercados financeiros, países ricos e o FMI pressionam para que o país faça o ajuste ao invés de reestruturar a sua dívida

Depois da Grécia, o que? A Hungria? Ou as perspectivas de baixo crescimento para a Europa? Ou a decepção com a retomada americana? Ou, ainda a Grécia? Os mercados financeiros internacionais são sempre nervosos e instáveis - tristes em alguns momentos, eufóricos em outros, mas sempre em meio a uma dialética de racionalidade e irracionalidade. Nós, economistas, ainda que com um ar mais "científico", cometemos os mesmos pecados. Diante disso, políticos e empresários - os agentes na economia real - perplexos, não sabem o que fazer. Investir ou não investir? Continuar com a política fiscal expansiva, ou já está na hora de cuidar da dívida pública elevada de cada Estado e da dívida externa eventualmente elevada de cada país? E perguntam: estaria a crise em forma de W começando?

Com o problema da Grécia houve de fato uma ameaça de a crise retornar com força. A demora da Alemanha contribuiu para agravar o problema. Entretanto, afinal o Banco Central Europeu (BCE) e aquele país fizeram o que se esperava deles, garantiram a dívida da Grécia e, mais amplamente, a dívida dos demais países do euro e, embora não ficasse tudo resolvido, a crise amainou. Todos sabem que, estruturalmente, o problema da Grécia não está resolvido porque, mesmo que cumpra fielmente seu programa de ajuste fiscal e seu PIB caia cerca de 3% a 4% nos dois próximos anos, no final desses dois anos, sua dívida pública em relação ao PIB ainda será de 150%.

Diante de um quadro desse tipo, volta a pergunta sobre uma possível saída da Grécia do euro, mas isto é muito pouco provável. A vantagem de ter uma moeda que começaria sua história já desvalorizada em relação ao euro não compensa os riscos de ficar fora da proteção do sistema euro. Existe, entretanto, a possibilidade de reestruturar a dívida pública dentro do euro. É a melhor coisa que a Grécia teria a fazer dado que sua situação é de insolvência, pois mesmo que a taxa de juros sobre seus títulos volte a níveis razoáveis e nesse nível se estabilize, ela não terá condições de honrar seus compromissos financeiros e voltar a crescer.

Mas um leitor poderia me perguntar: o senhor então está propondo um "calote"? Não, meu amigo, estou sugerindo que a Grécia faça uma "reestruturação" com desconto. Que é a mesma coisa que um calote e algo muito diferente. É a mesma coisa porque para o credor o resultado é o mesmo: recebe apenas parte de seu crédito. É muito diferente, porque na expressão calote existe um tom pejorativo que sugere um devedor irresponsável. Já reestruturação tem uma conotação mais amena, porque reparte a culpa entre o devedor e os credores, e principalmente porque afinal todos ou a grande maioria compreendem que era a única solução racional para o problema dada a insolvência do Estado grego.

Quando uma crise de dívida soberana é resolvida por um "calote" ela é geralmente mal resolvida porque isso significa que não havia insolvência, ou que os mercados financeiros não aceitaram o diagnóstico de insolvência do país devedor, e julgam que ele agiu de má fé. Já quando temos uma reestruturação, embora ela seja em princípio unilateral ou quase unilateral, o problema se resolve muito melhor, porque, afinal, o que ela faz é sancionar uma perda dos credores que mercados financeiros razoavelmente eficientes já devem ter antecipado pela precificação dos créditos com desconto.

Os governos de países cujo Estado se tornou insolvente têm medo de fazer uma reestruturação porque temem que seja vista como calote. Compreendo esse medo. Os mercados financeiros, os governos dos países ricos e o Fundo Monetário Internacional fazem sempre o que se espera do "establishment": pressionam para que o país faça o ajuste ao invés de reestruturar a dívida. E sempre ameaçam que a ação será considerada um calote e que, afinal, o país será obrigado a se curvar dada a força dos credores ou a da lei internacional.

Se o quadro não for de insolvência, mas de liquidez - de mero desequilíbrio entre vencimentos e receitas - essas ameaças poderão valer. No caso, porém, como é o da Grécia hoje, em que o quadro de insolvência esteja claro, essas ameaças são antes retóricas do que reais. Os mercados financeiros já sabem que a reestruturação é necessária. Sabem porque seus economistas e seus operadores viram os números, e sabem o que eles significam. Sabem também porque economistas, como Martin Wolf, e publicações econômicas que eles respeitam, como, por exemplo, "The Economist", já afirmaram que essa será provavelmente a solução mais adequada para a crise grega. Esses economistas e essas publicações constituem uma espécie de "opinião pública" financeira. Que, como toda opinião pública, pode estar errada, mas não é o que importa - o importante é que ações realizadas de acordo com ela ganham legitimidade imediata.

Não há razão para o mundo voltar a mergulhar na crise. Ela ainda custa muito caro aos países ricos, mas foi bem enfrentada por seus governos e suas economias estão a caminho da recuperação. No percurso, crises como a da Grécia podem ocorrer, mas se seu governo tiver a coragem e a determinação de fazer o que precisa ser feito, os demais governos e o próprio mercado financeiro compreenderão, e esse foco de crise estará brevemente neutralizado, ao invés de ficar supurando por muito tempo.


Luiz Carlos Bresser-Pereira é professor emérito da Fundação Getúlio Vargas/São Paulo.

Crise na UE começa a ser enfrentada ::Luiz Carlos Mendonça de Barros

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

O tratamento recessivo, e não há outro à disposição, vai criar uma nova fonte de problemas para a Europa

A economia mundial vive os efeitos de uma segunda onda de choque criada pela crise bancária iniciada nos Estados Unidos. Ainda circunscrita ao espaço comum europeu, os mesmos temores e ansiedades do mercado financeiro em 2008 e 2009 estão de volta. Queda expressiva das Bolsas de Valores, volatilidade das taxas de câmbio de várias moedas e, como sempre, novos e velhos profetas do Apocalipse a pregar o fim dos tempos.

Com a economia mundial ainda vivendo uma lenta e insegura recuperação, esse novo foco de instabilidade pode criar as condições para uma recaída recessiva a nível global. Afinal, a Europa representa hoje mais de um quarto da economia mundial.

Caso ocorra uma nova recessão econômica, os instrumentos que foram utilizados para enfrentar -até agora com sucesso- a primeira crise não estarão mais disponíveis. O endividamento da maioria dos países do G7 já está em níveis críticos e qualquer novo pacote fiscal de estímulos à economia pode detonar uma crise de confiança generalizada. Da mesma forma, a política monetária aproxima-se de seu limite, com os juros de intervenção da autoridade monetária próximos de zero.

Talvez por essa razão os governos dos maiores países europeus, depois de um triste período de desencontros, resolveram agir de forma coordenada para enfrentar esse novo período de incertezas. São várias as fontes de inquietação dos mercados que precisam ser enfrentadas nos próximos meses.

A primeira é o desequilíbrio nos orçamentos da grande maioria dos países da Europa. Para combater a recessão criada pela crise do "subprime", os governos aumentaram os gastos públicos via programas sociais e redução de impostos.

Embora existisse no Tratado de Maastricht a restrição formal de um deficit fiscal limite de 3% do PIB, a gravidade da situação enfrentada após a crise do banco Lehman Brothers fez com que todos fechassem os olhos para essa quebra de compromisso.

Mesmo a Alemanha, que havia exigido esse limite de desequilíbrio fiscal para aderir ao euro, em 1999, tem hoje um deficit da ordem de 5% do PIB. Os países agora terão que implementar programas multianuais de redução dos deficit e a obedecer a regras mais rígidas de seu controle.

Mas, ao trilhar esse caminho de redução dos desequilíbrios em seus Orçamentos, os países europeus vão impor às economias nacionais um choque recessivo. Um corte da demanda pública, em uma situação ainda muito frágil, vai levar a uma nova rodada de crescimento negativo nas economias mais frágeis da zona do euro. Em economias como a alemã, a francesa e a italiana, a desvalorização do euro deve criar, via aumento das exportações, uma força expansionista da demanda privada que pode compensar a retração do setor público.

Mas, nas economias como a grega, que não tem uma indústria competitiva, a resultante final desse ajuste será um aumento da recessão e da pressão por mais cortes de gastos e aumento de impostos.

Esse tratamento recessivo -e não existe outro à disposição dos governos europeus- vai criar uma nova fonte de problemas para a Europa. Os bancos vão sofrer uma nova deterioração na qualidade de seus ativos e, em seguida, terão que reforçar sua estrutura de capital para se manter solventes. Além dessa pressão vinda do lado privado, outra fonte de problemas para os bancos europeus é a perda de valor dos bônus soberanos dos países menos sólidos, como Grécia, Portugal e agora Espanha.

Também no front político começa a se desenhar um cenário de dificuldades. Com vários países tendo que aprofundar e manter a recessão por um período mais longo, a possibilidade de uma crise vir a desestabilizar a implantação dos programas de estabilização deve crescer. Essa contaminação da política pela economia já começa a ocorrer mesmo na Alemanha, país que deve sofrer menos com a austeridade fiscal. Já são claros os sinais de dificuldades do governo de Angela Merkel.

Luiz Carlos Mendonça de Barros, 67, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso). Escreve às sextas, quinzenalmente, nesta coluna.

Professores da rede estadual fazem protesto por reajuste salarial

DEU EM O DIA/RJ

Professores protestam por aumento salarial em frente ao palácio Guanabara, em Laranjeiras Foto: Eduardo Naddar / Agência O Dia

Rio - Professores da Rede Estadual de ensino fizeram paralização nesta quinta-feira e foram em passeata do Largo do Machado até o Palácio Guanabara.

Segundo o Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação eles reivindicam o cumprimento do plano de carreiras e um reajuste salarial de 48%.

A assessoria de imprensa do governador informou que o vice-governador Luiz Fernando Pezão iria receber uma comissão dos funcionários.

Comte Bittencourt: Comissão de Educação da ALERJ discute o papel da escola e do professor na favela


Os problemas enfrentados pelos professores nas escolas públicas que ficam dentro das favelas ou que atendem crianças que residem nesses locais foi o principal tema da audiência pública realizada anteontem (16/6) pela Comissão de Educação da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, presidida pelo deputado Comte Bittencourt (PPS). A audiência contou com a participação dos sociólogos e pesquisadores Ângela Paiva e Marcelo Burgos, autores do livro “A escola e a favela”.

Para Comte Bittencourt, a pesquisa, realizada em quatro favelas do Rio, serviu para reforçar a necessidade da qualificação dos profissionais de educação. Por isso, ele vai sugerir à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio (Faperj) a realização de uma segunda etapa.” Depois das Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPS), a população passou a ter um novo olhar para essas comunidades. Seria importante uma nova pesquisa nesse contexto”, disse o deputado.

“O professor, o educador, precisa voltar a ser o protagonista de um sério projeto de educação do estado. Não adianta todo o esforço em programas complementares sem que ele possa cumprir efetivamente o seu papel e possa fazer da escola o local onde a construção do saber e do conhecimento seja cada vez mais fortalecida”, complementou Comte.

Entre as favelas onde foi realizada a pesquisa, em 2005 e 2006, duas são da Zona Oeste, uma da Zona Sul e uma da Região da Leopoldina. “Vimos que podemos distinguir os professores em dois tipos: os do 1º ao 5º ano, trabalhando como heróis para que aquela criança saia daquele círculo vicioso de evasão escolar. E depois, do 6º ao 9º ano, verificamos que os professores perdem muito a esperança, pois sabem que a escola não está conseguindo fazer com que aquele aluno se sinta integrado e aprenda de forma satisfatória. Nesse caso, ele percebe que o ensino não tem muito significado para aquele aluno”, explicou Ângela. A socióloga lembrou também que a falta de material para trabalhar, de bibliotecas, e de espaços adequados são outras dificuldades pelas quais passam os profissionais da Educação.

Outro pesquisador, Marcelo Burgos acredita que nas cidades brasileiras, e muito especialmente no Rio de Janeiro, a segregação urbana é melhor representada pelas favelas.

“A escola pública na cidade do Rio de Janeiro é basicamente uma escola de favela e nem sempre o professor está preparado para lidar com certas situações desse contexto. A classe média resolveu o problema colocando o filho na escola particular e, assim, o tema deixou de ser debatido com mais vigor pela opinião pública”, lembrou Burgos. “O desafio do professor vai muito além da sua competência. É preciso que haja mais mobilização política e mais participação da sociedade para que possamos melhorar o índice de evasão, tanto de professores quanto de alunos, ou mesmo o desempenho dos estudantes nas escolas públicas”, disse o professor.

Participaram da audiência os deputados Alessandro Molon (PT) e Marcelo Freixo (PSOL), além de representantes da Secretaria de Estado de Educação (Seeduc) e dos sindicatos dos professores e profissionais da Educação no estado - Sepe e Uppes. "Vamos debater as conclusões dos dois pesquisadores e, em conjunto com o governo e a sociedade, buscar soluções para os problemas da escola, do aluno e do professor inserido no universo das favelas", finalizou Comte Bittencourt.

O QUE PENSA A MÍDIA

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W.A. Mozat : Andante in C for Solo Flute and Flute Orchestra

Romance XXI ou das ideias :: Cecília Meireles



A vastidão desses campos.
A alta muralha das serras.
As lavras inchadas de ouro.
Os diamantes entre as pedras.
Negros, índios e mulatos.
Almocrafes e gamelas.

Os rios todos virados.
Toda revirada, a terra.
Capitães, governadores,
padres intendentes, poetas.
Carros, liteiras douradas,
cavalos de crina aberta.
A água a transbordar das fontes.
Altares cheios de velas.
Cavalhadas. Luminárias.
Sinos, procissões, promessas.
Anjos e santos nascendo
em mãos de gangrena e lepra.
Finas músicas broslando
as alfaias das capelas.
Todos os sonhos barrocos
deslizando pelas pedras.
Pátios de seixos. Escadas.
Boticas. Pontes. Conversas.
Gente que chega e que passa.
E as idéias.

Amplas casas. Longos muros.
Vida de sombras inquietas.
Pelos cantos da alcovas,
histerias de donzelas.
Lamparinas, oratórios,
bálsamos, pílulas, rezas.
Orgulhosos sobrenomes.
Intrincada parentela.
No batuque das mulatas,
a prosápia degenera:
pelas portas dos fidalgos,
na lã das noites secretas,
meninos recém-nascidos
como mendigos esperam.
Bastardias. Desavenças.
Emboscadas pela treva.
Sesmarias, salteadores.
Emaranhadas invejas.
O clero. A nobreza. O povo.
E as idéias.

E as mobílias de cabiúna.
E as cortinas amarelas.
Dom José. Dona Maria.
Fogos. Mascaradas. Festas.
Nascimentos. Batizados.
Palavras que se interpretam
nos discursos, nas saúdes . . .
Visitas. Sermões de exéquias.
Os estudantes que partem.
Os doutores que regressam.
(Em redor das grandes luzes,
há sempre sombras perversas.
Sinistros corvos espreitam
pelas douradas janelas.)
E há mocidade! E há prestígio.
E as idéias.

As esposas preguiçosas
na rede embalando as sestas.
Negras de peitos robustos
que os claros meninos cevam.
Arapongas, papagaios,
passarinhos da floresta.
Essa lassidão do tempo
entre imbaúbas, quaresmas,
cana, milho, bananeiras
e a brisa que o riacho encrespa.
Os rumores familiares
que a lenta vida atravessam:
elefantíase; partos;
sarna; torceduras; quedas;
sezões; picadas de cobras;
sarampos e erisipelas . . .
Candombeiros. Feiticeiros.
Ungüentos. Emplastos. Ervas.
Senzalas. Tronco. Chibata.
Congos. Angolas. Benguelas.
Ó imenso tumulto humano!
E as idéias.

Banquetes. Gamão. Notícias.
Livros. Gazetas. Querelas.
Alvarás. Decretos. Cartas.
A Europa a ferver em guerras.
Portugal todo de luto:
triste Rainha o governa!
Ouro! Ouro! Pedem mais ouro!
E sugestões indiscretas:
Tão longe o trono se encontra!
Quem no Brasil o tivera!
Ah, se Dom José II
põe a coroa na testa!
Uns poucos de americanos,
por umas praias desertas,
já libertaram seu povo
da prepotente Inglaterra!
Washington. Jefferson. Franklin.
(Palpita a noite, repleta
de fantasmas, de presságios . . .)
E as idéias.

Doces invenções da Arcádia!
Delicada primavera:
pastoras, sonetos, liras,
— entre as ameaças austeras
de mais impostos e taxas
que uns protelam e outros negam.
Casamentos impossíveis.
Calúnias. Sátiras. Essa
paixão da mediocridade
que na sombra se exaspera.
E os versos de asas douradas,
que amor trazem e amor levam . . .
Anarda. Nise. Marília . . .
As verdades e as quimeras.
Outras leis, outras pessoas.
Novo mundo que começa.
Nova raça. Outro destino.
Planos de melhores eras.
E os inimigos atentos,
que, de olhos sinistros, velam.
E os aleives. E as denúncias.
E as idéias.