segunda-feira, 7 de junho de 2010

Reflexão do dia - José de Souza Martins


" Lula tem popularidade e não carisma. Carisma não se transfere, pondera Max Weber, em sua análise dos tipos de dominação. É um atributo pessoal e histórico de que pouquíssimos são dotados. Na história política do Brasil, apenas dois governantes foram dotados de carisma: o imperador dom Pedro II e o presidente Getúlio Vargas. Ambos assumiram impessoalidade do poder e governaram conscientes do mandato da história, personificando acima dos interesses pessoais e partidários o destino do País. "


(José de Souza Martins, O Estado de S. Paulo/Aliás, 6 de junho de 2010.)

A sucessão e o banho de lua:: Luiz Werneck Vianna

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Tal como no belíssimo romance "O Albatroz Azul", de João Ubaldo Ribeiro, em que o nascimento de uma criança é bafejado pelo sortilégio dela ter vindo ao mundo de bunda para a lua, feliz augúrio, conforme antiga crença, de que ela seria dotada de melhor sorte do que a sua sofrida família, já dá para suspeitar que algo com o mesmo condão propício se faz presente no governo Lula. Só mesmo a proteção do destino seria capaz de reverter o que parecia ser uma aposta grávida de perigos, como a cartada iraniana da diplomacia presidencial, em um trunfo promissor para o sucesso dessa intervenção em paragens tão distantes como as do Oriente Médio.

Pois foi o que aconteceu a partir dessa malfadada e iníqua agressão praticada por forças militares de Israel contra uma flotilha de voluntários que tentavam levar solidariedade à população palestina da Faixa de Gaza, e que pôs a nu os equívocos cometidos pelos dirigentes daquele Estado quanto à sua política para a sua região, suscitando um clamor de protestos da comunidade e da opinião pública internacionais. A mesma boa sina socorreu o presidente quando do episódio do mensalão em 2005, do qual saiu indene de uma avalanche de denúncias de corrupção contra o seu governo para uma consagradora reeleição no ano seguinte.

A calmaria em que transcorre a sucessão presidencial, desconhecendo, ao menos até aqui, duros antagonismos entre os três principais candidatos envolvidos, assemelhados em tantos aspectos cruciais, podem sugerir de que estamos a assistir a uma disputa entre alas de um mesmo partido.

Como que postos de acordo quanto ao principal, os candidatos divergem em questões tópicas, a exemplo, entre outras, do quantum de autonomia que deveria gozar o Banco Central, de como encaminhar uma reforma tributária - exigiria ela uma emenda constitucional? -, todos alinhados a uma perspectiva pós-Lula, que não deixa de ser, querendo ou não, também pós-FHC, com os temas da estabilidade financeira e da responsabilidade fiscal.

Enfim, a se tomar pelas aparências, já teríamos atingido um ponto ótimo na história da evolução do país, restando agora cuidar - por que podemos mais - do seu aperfeiçoamento. E, assim, essa hora da sucessão, longe de impor um debate sobre os caminhos já percorridos e sobre a marcação dos objetivos estratégicos a serem atingidos, se apequena na rotina e na reiteração de práticas, algumas delas tidas como tão consagradas que ninguém se atreve a discuti-las. Tudo se passa como se não estivéssemos no fim de um governo, mas no seu recomeço. Para que, então, uma sucessão?

Dessa forma, uma política orientada para intervir em caráter emergencial, legítima enquanto tal, como o assistencialismo do programa Bolsa Família, ameaça se tornar permanente sem que se discutam os seus aspectos perversos, como na criação de uma gigantesca clientela a que não se fornecem os meios para escapar dessa condição. Mais que isso, apresenta-se o que deveria ser apenas um paliativo como instrumento idôneo de correção da nossa desigualdade social.

Nessa circunstância, em que o que vale é o resultado imediato, redescobrem-se, no baú da nossa história, velhas ferramentas a que se pretende dar uso novo, como o sindicalismo controlado por seus vértices, agora representados por centrais sindicais dependentes do imposto sindical.


Amplia-se o Estado em um sem número de agências que invadem a esfera da sociedade civil com a disposição de regulá-la por cima. O social passa à órbita de um Estado administrativo sob a gestão de uma tecnocracia especializada, tal como se pretendera fazer com o mundo do trabalho nos idos do Estado Novo. Nessa chave, a sociedade civil é vista como uma matéria prima sobre a qual deve se exercer a modelagem de uma intelligentzia de novo tipo a que se atribui a missão de combater a desigualdade social.

Nessa construção, não sobra espaço para a política, quase um monopólio de fato do Estado e dos seus agentes. Estiolam-se os partidos, boa parte deles destituídos de representação significativa, dependentes de favores do governo, sem vida própria, apropriados por uma "classe política", em sua maioria, animada pelo projeto único de garantir a sua reprodução. Ausente a energia que provém da luta política, vive-se na modorra do pensamento único, qualquer manifestação de dissonância com os rumos atuais, a que restaria apenas aperfeiçoar, soando como um crime de lesa majestade. Não há sucessão livre sem que haja livre discussão sobre que sociedade queremos para viver, sobre uma avaliação da nossa história e com a determinação das escolhas com que pretendemos dar continuidade a ela.

Mas, se a política, enquanto atividade consciente dos homens para tentar criar o seu destino, está em baixa e sob o controle de alguns poucos, temos um potente mundo dos interesses, grandes e pequenos, uns bem mais atendidos que outros, prontos ao conflito, se muito contrariados. Certamente, no que se avizinha, interesses serão afetados, não necessariamente os grandes, e nem sempre passíveis de compensação por vias administrativas. Se até aqui o decantado carisma de Lula e a sua proverbial boa sorte permitiram que as fortes contradições entre eles não ganhassem as ruas, sempre resolvidas por acordos nos gabinetes ministeriais sob a arbitragem presidencial, resta pouca esperança de que, com esses pretendentes à sucessão, o mesmo remédio seja eficaz. Seguramente, falta-lhes o carisma e é provável que também lhes falte o mesmo banho de lua. A política de que estamos tão distantes, oculta nas razões da gramática tecnocrática, promete nos cobrar com juros a sua próxima aparição.


Luiz Werneck Vianna é professor-pesquisador do Iuperj e ex-presidente da Anpocs. Escreve às segundas-feiras

PT em transição :: Fernando Rodrigues

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - Há uma feroz disputa de poder dentro do PT. O elemento vital responsável por amalgamar o partido está de saída. Lula não será candidato neste ano. Em 2011, deve dar uma "sumida", como tem dito aos mais próximos.

Quem vai de fato mandar no PT pós-Lula? Ninguém sabe. Não há um petista com poder comparável ao exercido pelo hoje presidente mais popular da história recente do Brasil. Um imenso vácuo está em processo de formação.

Para mensurar o poder de Lula deve-se recapitular a construção da candidatura de Dilma Rousseff. Ninguém exceto ele teria condições de apontar o dedo para alguém vindo do PDT como o nome mais apropriado para sucedê-lo.

Entre os petistas, o projeto Dilma virou a candidatura da inevitabilidade. Só poderia ser ela. Mais recentemente, todos também passaram a acreditar na vitória da escolhida de Lula. A única dúvida no partido do poder é sobre se a vitória virá no primeiro ou no segundo turno.

Assim, todos estão demarcando território. Ninguém quer arriscar entrar em 2011 em posição frágil ou desfavorável.

Duas correntes claramente sobreviverão dentro do PT. Uma é a do establishment partidário. Seu representante oficial maior é José Eduardo Dutra, presidente nacional da legenda. Mas há também o ubíquo José Dirceu, uma fênix.

A outra facção é a dos herdeiros do lulismo. Nessa categoria puxa a fila o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci. Ele é Lula na campanha presidencial de Dilma Rousseff. Seu poder só faz crescer.

Por fim, há Dilma. Seu representante na política tem sido o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel -abalroado pelo caso do suposto dossiê anti-PSDB. O episódio foi uma amostra grátis de como será tortuoso o convívio da eventual futura presidente com seu partido e com a herança lulista. Até porque, por enquanto, o dilmismo ainda é apenas um neologismo.

Mensalão: antes e depois:: Fernando de Barros e Silva

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

SÃO PAULO - Completam-se nesta semana cinco anos das duas entrevistas que Roberto Jefferson, então ilustre deputado governista, concedeu à jornalista Renata Lo Prete. Elas trouxeram à tona o escândalo do mensalão e deram início à maior crise política dos anos Lula. O mensalão marca um capítulo do jornalismo e da história brasileira.

Para dimensionar sua importância, podemos fazer um exercício de imaginação: o que seria hoje do país sem o conhecimento do mensalão? José Dirceu provavelmente ainda estaria na Casa Civil, comandando as ações do governo. E Dilma Rousseff não seria nunca candidata à sucessão de Lula. O candidato talvez fosse o próprio Dirceu. Ou quem sabe Antonio Palocci. São apenas especulações.

Mas o mensalão também foi um divisor de águas para Lula. A crise obrigou o presidente a testar seus próprios limites, colocando à prova a extensão do seu poder. Paradoxalmente, o mensalão serviu para emancipar Lula do PT. E, de certa forma, dele mesmo.

Numa analogia psicanalítica, o mensalão foi uma espécie de terapia expressa para Lula. A superação do trauma veio desembocar no líder "bem resolvido" do segundo mandato. É evidente que na base material que explica esse processo estão o desempenho da economia e os efeitos dos programas e ações sociais do governo.

No que se refere aos costumes políticos, no entanto, não houve nenhuma superação virtuosa do mensalão. Pelo contrário. O PT recalcou seus dilemas éticos. A conversa da refundação não era séria. A popularidade de Lula acabou se convertendo em pretexto e razão suficiente para abafar qualquer autocrítica. Prevaleceu o pragmatismo da realpolitik.

Lula superou pessoalmente um problema que o PT desistiu de enfrentar. Vários "companheiros" ficaram pelo caminho e vão ter de responder à Justiça. Entre mortos e feridos, o país caminha, como o malandro da canção, assim de viés.

Aloprados: o retorno:: Ricardo Noblat

DEU EM O GLOBO

“Hélio Costa não será candidato ao governo de Minas com o apoio do PT se não quiser.” (Fernando Pimentel, do PT mineiro)

Que diferença faz um dossiê a mais ou a menos? Nada é mais comum, aqui e em toda parte, do que candidato estocar munição para disparar contra adversários. É o jogo sujo da política. Às vezes nem dispara. Em certas ocasiões, representantes dos candidatos se reúnem em local seguro e neutro e firmam um acordo: tiro só da cintura para cima.

Dossiês, quase sempre, são confeccionados para uso clandestino ou divulgação pela mídia. Servem para detonar escândalos. Quem se envolve com a tarefa trabalha no limite da irresponsabilidade. Uma coisa é juntar informações verdadeiras. O eleitor tem direito a conhecêlas. Outra é misturá-las com informações falsas captadas por meios criminosos: grampos, subornos e chantagem.

No segundo debate de televisão do segundo turno da eleição de 1989, Fernando Collor encarou Lula sobraçando pastas recheadas de documentos. Amigos de Lula temeram que ele pudesse exibir fotos do candidato do PT na companhia de uma amiga psicóloga. Quem supostamente presenteou Collor com as fotos foi o então deputado Bernardo Cabral (PMDBAM). As fotos não saíram das pastas.

O ensaio de candidatura de Roseana Sarney a presidente no início de 2002 foi fulminado por uma operação de agentes da Polícia Federal e procuradores da República. Achou-se R$ 1,3 milhão no cofre da empresa do marido dela. Roseana enrolou-se para explicar o que não passava de caixa dois. Sarney, o pai, atribuiu a culpa pelo sucedido a José Serra, também candidato a presidente.

Às vésperas do segundo turno da eleição daquele ano, o comando da campanha de Lula foi informado de que o programa de televisão de Serra exploraria imagens de uma antiga noitada alegre em Manaus do candidato do PT. Baixou o desespero. José Dirceu, presidente do PT, falou a respeito com o presidente Fernando Henrique Cardoso. Prometeu retaliar desovando o que armazenara contra o governo e Serra.

Amigo de Lula e de Serra com igual intensidade, o deputado Sigmaringa Seixas (PT-DF) voou às pressas para São Paulo a pedido de Dirceu. Conversou com Serra tarde da noite. Ouviu que não havia as tais imagens e que ele seria incapaz de apelar para recurso tão degradante. Na dúvida, Dirceu passou o resto da campanha de 2002 sem tirar o dedo do gatilho.

Dali a quatro anos, sobraria para Serra. Aqueles chamados por Lula de “aloprados”, funcionários do seu comitê de campanha à reeleição, forjaram um falso dossiê contra Serra, candidato ao governo de São Paulo, e Geraldo Alckmin, candidato do PSDB a presidente da República. O dossiê explodiu no colo de Lula. E acabou com suas chances de se eleger no primeiro turno.

Agradeça a Deus, Dilma, o fato de a nova geração de aloprados do PT ter sido logo flagrada em ação. Imagine se estivessem no ar os programas de propaganda eleitoral dos partidos no rádio e na televisão. E se só então pipocasse a história do dossiê contra Serra e do almoço do assessor de campanha com o delegado especialista em escutas telefônicas clandestinas.

Empenha-se o PT em vender algumas versões do episódio que não resistem a um sopro de criança. Dossiê? “Não havia dossiê”. Ora, há dossiê, sim, e ele segue sendo encorpado. Como o PSDB tem o dele contra Dilma, o PT e o governo. O PT informa que o dossiê não passa de um livro do jornalista Amaury Ribeiro Júnior, a ser postado em breve na internet. Menos!

Há 15 dias, Amaury não tinha um livro. Tinha documentos e a ideia de publicar um livro. Por que participou do almoço onde seu amigo Luiz Lanzetta, assessor de comunicação da campanha de Dilma, disse ao delegado-araponga Onésimo de Souza que precisava saber tudo que Serra fizesse ou falasse? Antes que o espaço acabe, digo que Dilma só agiu contra os aloprados depois de ter sido procurada pela imprensa.

Em telefonema para a direção da revista “Veja”, jurou inocência, pediu um voto de confiança e garantiu punir com rigor quem ferisse a lei. A conferir.

Peleguismo eleitoral :: Paulo Brossard

DEU NO ZERO HORA (RS)

Dos temas, recentemente versados, chamaram minha atenção pela evidente importância de ambos, e, como não são novos, sua gravidade mais graúda se torna. Um diz respeito à voracidade estatal, inclusive em relação a salários, que estão longe de serem altos. Trabalhador solteiro, em situação regular, com carteira assinada, com R$ 2 mil mensais de salário, entre os descontos a que é submetido e os custos impostos ao empregador, resultará em R$ 837 que passam para os cofres públicos. Ora, a mim parece extorsiva essa contribuição a que o trabalhador e o empregador estão sujeitos inexoravelmente, sem ter a quem apelar, quando os serviços públicos devolvidos à sociedade são defectivos, não são bons e em geral são maus, especialmente os mais vitais, como os referentes à saúde, à assistência médico-hospitalar, à educação, à segurança pessoal do trabalhador e de sua família. Por isto já foi dito que, entre nós, as contribuições são de padrão escandinavo, enquanto os serviços públicos são de escala africana.

O outro assunto que também me impressionou, vivamente, conhecidas as condições históricas do serviço, tradicionalmente reumático, é referente aos serviços portuários. Só no porto de Santos, o maior da América do Sul, na entrada ou saída de navios, exigem-se 17 toneladas de papel por ano; para cada navio são necessários 112 formulários, em diversas vias, com 935 informações a serem encaminhadas a seis diferentes entidades da administração! Se isto ocorre em um porto, o de Santos, que quantidade de papel e dias de demora serão consumidos com os 37 portos nacionais que respondem por 97% do comércio exterior brasileiro, dos quais, ao que me consta, pelo menos em sua maioria, está sujeito ao arcaísmo que respondeu e que responde por funestas consequências prejudiciais à economia nacional. Ainda bem que, ao lado do anquilosado modelo tradicional, graças à lei de modernização dos portos, passaram a existir terminais privatizados e especializados nos quais sua efi-ciência não faz feio se comparados com os melhores portos estrangeiros.

Os dois tópicos comentados, com brevidade e objetividade, seriam suficientes para encher o palmo da coluna que, faz 25 anos, semanalmente, venho ocupando nesta folha, mas outro fato, que me parece sem precedente, ocupa uma página de um dos maiores e importantes jornais de São Paulo, sob o título “Centrais gastam R$ 800 mil do imposto sindical para barrar eleição de Serra” – Sucessão. “Valor foi usado para pagar evento realizado ontem no Estádio do Pacaembu, em São Paulo, com objetivo de aprovar Agenda da Classe Trabalhadora e pregar a continuidade do governo Lula; das 30 mil pessoas esperadas, apenas metade compareceu”.

Independente do facciosismo da novidade e do seu caráter ilegal, porque o sindicato não pode imiscuir-se em procedimentos partidários, a serviço de partidos ou sobrepondo-se a ele, o fato de antecipar uma sindicalização partidária vai representar regresso formidável na nossa frágil organização partidária, herança direta do regime autoritário, que por duas vezes extinguiu os partidos e depois do insucesso do festejado bipartidarismo, optou pela fragmentação deles para deteriorar o instrumento imprescindível do funcionamento democrático, agora sob a ameaça do expediente da sua eliminação de fato na medida em que se pretende sua perversão mercê do famigerado imposto sindical.

Desde que, ainda estudante, comecei a militar na vida partidária, até o ingresso na magistratura, ou seja, de 1945 a 1989, ouvi ser imperioso extinguir o imposto sindical e, por faz ou nefas, ele tem a solidez das coisas provisórias no Brasil e que duram mais que as definitivas. E isto é um dos aspectos mais expressivos da nossa realidade social e das consequências inevitáveis que dela decorrem. Pois hoje o imposto em causa historicamente serve para o peleguismo eleitoral. Para dar um exemplo, 500 passagens aéreas foram adquiridas, por uma central, para transportar pessoas para a brincadeira no Pacaembu! Não seria demais?

P.S.: Do Liceu Leão XIII, do Rio Grande, aos 96 anos, faleceu o padre salesiano Hugo Neves Ferreira, o derradeiro sobrevivente dos meus professores do ginásio. Grande sacerdote e amigo.


*Jurista, ministro aposentado do STF

Cachaça com Arnica - Não deixa o samba morrer (Edson e Aluísio

Dossiê afasta Pimentel da campanha de Dilma

DEU EM O GLOBO
Em meio à crise do dossiê, o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel será afastado do comando da campanha da petista Dilma Rousseff, e o grupo de Antonio Palocci se fortalece. Veio de Pimentel a indicação de Luiz Lanzetta, responsável pela montagem de um suposto dossiê contra tucanos. Lanzetta deixou a campanha. O PT mineiro insiste em lançar Pimentel ao governo do Estado, mas a Executiva nacional deve vetar o nome dele e apoiar Hélio Costa (PMDB).

Pimentel será isolado da campanha de Dilma

Supostos dossiês contra Serra complicam ex-prefeito de BH, que será empurrado para cuidar só da própria candidatura

Maria Lima e Fábio Fabrini

ELEIÇÕES 2010: Ligação com Lanzetta enfraqueceu mineiro; presidente do PT e Palocci se fortalecem no comando

BRASÍLIA. O afastamento do jornalista Luiz Lanzetta não será a única baixa no comando da campanha da pré-candidata petista Dilma Rousseff. Considerado um homem-problema não só por causa do episódio dos supostos dossiês contra o tucano José Serra e a vinculação com Lanzetta, mas também devido ao impasse na aliança com o PMDB mineiro, o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel será isolado do núcleo duro da campanha. Com isso, se fortalecem no comando o presidente do PT, José Eduardo Dutra, e o deputado Antonio Palocci (SP), que desistiram de disputar a eleição para ter exclusividade na coordenação.

A estratégia para afastar Pimentel sem alarde é empurrá-lo para cuidar de sua candidatura ao Senado ou, numa hipótese menos provável, ao governo de Minas. Ontem, o grupo do exprefeito insistia em lançá-lo como cabeça de chapa, o que a cúpula do PT rejeita. A avaliação reservada entre os petistas é que o braço direito de Dilma vai perder duplamente: seu posto na coordenação da campanha presidencial e a candidatura ao Palácio Tiradentes.

Hoje, a Executiva do PT deve desautorizar o PT mineiro e decidir pelo apoio a Hélio Costa, do PMDB, tendo Pimentel apenas como candidato ao Senado.

Nos bastidores, a direção do PT e o presidente Lula já não perdoavam Pimentel pela aliança em 2008 com o então governador Aécio Neves (PSDB), quando ele afiançou a candidatura de Marcio Lacerda (PSB) e, assim, pôs a prefeitura de Belo Horizonte no colo da oposição. Agora, a sua situação piorou muito por causa da crise do dossiê.

‘Palocci vai ficar mais forte’

Até mesmo aliados de Pimentel reconhecem que ele “foi trapalhão” na escolha de Lanzetta, pois entregou a um amador o núcleo de inteligência da campanha petista. Outro erro teria sido a aproximação com o empresário Benedito Oliveira Neto, proprietário da companhia de eventos Dialog, investigada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e a Controladoria Geral da União (CGU).

De acordo com aliados seus, o afastamento de Pimentel do QG de Dilma vai ocorrer após as convenções partidárias do PMDB e do PT, marcadas para o próximo fim de semana.

A campanha oficial começa dia 5 de julho.

— O Palocci já é muito forte e vai ficar mais forte — admitiu o secretário nacional de Comunicação do PT, deputado André Vargas (PR).

Amigo pessoal de Dilma desde os tempos da militância nos grupos de luta armada, o exprefeito conquistou a antipatia do grupo paulista da pré-campanha petista. Principalmente do coordenador de comunicação, Rui Falcão, e de Palocci.

Falcão — ao descobrir que Lanzetta estaria montando um grupo de espionagem, inclusive do grupo paulista na campanha, e que a operação teria tido o aval de Fernando Pimentel — teria cuidado de vazar as informações sobre a montagem dos supostos dossiês para queimar os dois integrantes do grupo mineiro internamente.

Mesmo com a confusão dos supostos dossiês, Dilma Rousseff tem resistido ao afastamento de Pimentel, apontado como o político mais próximo a ela dentro da campanha.

Mas, ainda assim, a situação dele é insustentável.

O deputado Virgílio Guimarães (PT-MG), do grupo de Pimentel em Minas, nega que o aliado político vá ser afastado da campanha por causa da confusão dos supostos dossiês.

Admite apenas que, se ele for candidato, haverá um afastamento natural.

— Se o Pimentel for candidato ao Senado, ele vai ter que cuidar da campanha dele. Já o Dutra e o Palocci não serão candidatos e poderão se dedicar à campanha de Dilma — disse Virgílio.

Antes do estouro do escândalo dos dossiês, Pimentel e seus aliados apostavam que, mesmo com a sua candidatura ao Senado, ele permaneceria no núcleo da campanha de Dilma. O que agora é praticamente descartado por companheiros petistas.

— Só vou me desligar da campanha da Dilma se for candidato ao governo de Minas.

Se for candidato ao Senado, vou acumular — dissera Pimentel há cerca de dez dias, na sabatina dos candidatos na Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Aliados negam desgaste

Procurado ontem pelo GLOBO, Pimentel não atendeu às ligações.

Outros aliados seus negaram o desgaste e atribuíram o episódio do dossiê a uma reação dos tucanos à escalada de Dilma Rousseff nas pesquisas.

— Isso aí é especulação. O Serra está caindo, não consegue encontrar nenhum vice e agora está indo para o desespero.

Vocês sabem que quem entende de dossiê é o Serra — afirmou o presidente do PT de Minas, Reginaldo Lopes.

Após o desligamento de Lanzetta da campanha, uma nova empresa deverá substituir a sua firma, a Lanza Comunicação, e manter os jornalistas que já estão integrados à assessoria da pré-candidata petista.

Lanzetta anunciou seu afastamento sábado, após publicação de entrevista na qual o exdelegado da Polícia Federal Onésimo de Sousa afirma que foi convidado por Pimentel para uma conversa, no mês passado, mas quem o encontrou foi Lanzetta, que lhe teria proposto montar um grupo de espionagem.

O ex-prefeito nega que tenha proposto a conversa ou a autorizado. Lanzetta admite o encontro, mas afirma ter sido procurado por Onésimo.

Em Minas, acordo com PMDB emperra

DEU EM O GLOBO

Grupo de Pimentel insiste que ele dispute governo do estado

BRASÍLIA e BELO HORIZONTE. Após um dia de tensas negociações, com socos na mesa e troca de acusações, líderes do PT e do PMDB de Minas não chegaram a um acordo sobre o palanque para as eleições no estado. À revelia da cúpula nacional do partido e do presidente Lula, que tentam viabilizar a candidatura do peemedebista Hélio Costa para o governo, os petistas propuseram lançar o ex-prefeito Fernando Pimentel como cabeça de chapa, tendo o presidente do PR mineiro, Clésio Andrade, como vice e Costa como candidato a senador.

Os mineiros planejam boicotar o encontro entre os líderes nacionais de PT e PMDB hoje, em Brasília, para selar um acordo. No mesmo horário, em BH, prometem oficializar a candidatura do ex-prefeito.

A decisão do PT mineiro foi tomada pela manhã, em reunião de apoiadores de Fernando Pimentel com representantes de PR, PRB e PCdoB na casa de Clésio Andrade, em BH. Os peemedebistas faltaram. À tarde, a proposta foi levada por quatro emissários do ex-prefeito a oito integrantes da executiva estadual do PMDB.

Foram três horas de conversa num hotel, que terminou sem qualquer avanço. Aliados de Costa chegaram a socar a mesa, segundo o relato dos presentes. Uma hora antes, o exprefeito reafirmara sua posição em negociação reservada com um apoiador do ex-ministro das Comunicações.

No hotel, os petistas argumentaram que as pesquisas encomendadas pelos dois partidos indicam empate técnico entre Pimentel e Costa.

Contudo, o ex-prefeito tem menor rejeição e é conhecido por fatia menor do eleitorado, o que lhe daria mais chances de crescer e derrotar o governador Antônio Anastasia (PSDB).

— Não adianta apostar num nome que está caindo nas pesquisas e está fadado a perder as eleições — disse um aliado do ex-prefeito antes de entrar no encontro.

Os peemedebistas acusaram o grupo de Pimentel de tentar aplicar um golpe no PMDB.

Ameaçaram não votar pela aliança com Dilma Rousseff na convenção do partido, no próximo sábado, ou mesmo adiá-la. E avisaram que, caso o PT insista em ter a cabeça de chapa, podem aderir à campanha de Anastasia.

— O Pimentel fez uma confusão desgraçada.

Ele se enrolou todo no PT nacional. Agora, vem com essa proposta indecente de ser o candidato, com o Clésio de vice. A insatisfação no PMDB mineiro é tão grande que é bem capaz de a gente votar para não fazer a aliança formal para apoiar Dilma — avisou o ex-senador Wellington Salgado, braço direito de Costa, que acompanhava a reunião à distância.

O PT nacional adiantou que, a despeito de eventuais traumas, vai enquadrar o grupo de Pimentel.

— Este é o momento de Pimentel provar que tem responsabilidade com a campanha da Dilma.

Nós, da direção nacional, decidimos apoiar o PMDB na cabeça de chapa. Se insistirem, só vão aumentar o desgaste dos integrantes da Executiva do PT — avisou André Vargas.

Por palanque no Ceará, tucanos cobram definição de Cid Gomes

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Murillo Camarotto, do Recife

Com a missão de reforçar o palanque de José Serra no Ceará, o PSDB local começa a elevar o tom das cobranças ao governador Cid Gomes (PSB), para que ele se manifeste sobre a chapa que sustentará sua candidatura à reeleição. Até agora, Serra tem como único aliado de peso o senador Tasso Jereissati, o que leva líderes tucanos a sinalizarem com o lançamento de uma candidatura própria ao governo, que daria mais consistência ao palanque do presidenciável.

A posição de Cid, no entanto, é crucial para que o partido defina qual caminho seguir. O ideal para o PSDB é que o governador confirme o apoio a apenas um candidato ao Senado: o do deputado federal Eunício Oliveira (PMDB). Isso deixaria o caminho livre para a reeleição de Tasso, amigo de longa data dos Gomes.

O problema é que o PT, aliado e dono da vaga de vice de Cid, rejeita a possibilidade. Quer a chapa majoritária do governador com o ex-ministro da Previdência José Pimentel (PT) para o Senado.

O apoio de petistas e tucanos proporcionou a Cid uma gestão tranquila, quase sem oposição. Porém, com a proximidade das eleições, chegou a fatura. O governador vem sendo pressionado pelos dois lados, porém se recusa a falar de eleição, para minimizar as inevitáveis perdas que sua decisão acarretará.

O tempo para o rompimento do silêncio, entretanto, está se esgotando. Com as convenções que oficializarão as chapas se aproximando, o PSDB aumenta a pressão. "O governador não pode esperar mais. Nossa convenção está marcada para o dia 19. Até lá, tudo terá que ser resolvido", afirmou o líder do PSDB na Assembleia Legislativa, João Jaime.

Segundo ele, se Pimentel for mesmo confirmado na chapa de Cid, o PSDB deverá lançar candidato próprio ao governo. Estão colocados os nomes do ex-deputado estadual Marcos Cals e do empresário Beto Studart. Também há a possibilidade, menor, de apoio ao ex-governador Lúcio Alcântara, ex-tucano e hoje no PR. Ele teria se oferecido para encabeçar uma chapa composta pelo candidato ao Senado que for preterido por Cid, seja Pimentel ou Tasso.

De acordo com Jaime, uma conversa definitiva entre Cid e Tasso deve ocorrer nos próximos dias. Ele afirmou ainda que o PSDB local não trabalha com a hipótese de que Tasso aceite ser o vice de Serra, possibilidade que ganhou força nos últimos dias na boca do governador de Minas Gerais, Aécio Neves.

Estrategicamente ou não, o fato é que a convenção que lançará a candidatura de Cid Gomes à reeleição foi marcada para 27 de junho, ou seja, três dias antes do fim do prazo estabelecido na legislação eleitoral. A versão corrente no Ceará é de que o governador irá segurar o máximo que puder para divulgar sua chapa. Dessa forma, ele praticamente eliminaria a viabilidade eleitoral de qualquer adversário.

Independentemente de qualquer decisão, o PSDB se movimenta para ganhar musculatura por meio da atração de alguns partidos nanicos. Esta semana, o vice-prefeito de Fortaleza, Tin Gomes (PHS), que é primo do governador, participou de uma reunião com Tasso Jereissati, onde se tratou de potenciais alianças para as eleições proporcionais.

Questionado se encontro poderia gerar irritação na prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins (PT), ferrenha adversária de Tasso, o vice-prefeito ironizou. Disse ao jornal O Povo que "sua mãe já havia morrido", dando a entender que uma eventual bronca da prefeita não o assustava.

Desde 1945, Getúlio foi único eleito sem vencer em MG

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Paulo Peixoto

BELO HORIZONTE - De todos os presidentes eleitos no país a partir de 1945, após o declínio do Estado Novo, somente Getúlio Vargas, em 1950, não foi o mais votado pelos eleitores mineiros. Todos os demais presidentes eleitos venceram a disputa eleitoral em Minas.

O Estado é o segundo maior colégio eleitoral do país, com 14,5 milhões de eleitores. Por isso tem peso importante na disputa presidencial, a ponto de PSDB e aliados pressionarem o ex-governador Aécio Neves para ser vice na chapa de Serra.

Na exceção que aconteceu com Vargas, a derrota foi por uma margem de 1,8 ponto percentual dos votos válidos, ou 23.496 votos. Desde 1945 aconteceram nove disputas.

Tanto Fernando Collor (1989) quanto Lula (2002 e 2006) se mantiveram na frente nos dois turnos das disputas que venceram.

Nas eleições após a redemocratização, a maior diferença de votos registrada foi em 1994, quando Fernando Henrique Cardoso abriu 42,9 pontos sobre Lula. A menor ocorreu no primeiro turno da eleição de 2006, quando Lula abriu 10,2 pontos sobre Geraldo Alckmin (PSDB).

Mas, no segundo turno, Alckmin viu a diferença subir para 30,4 pontos.

O fato de haver um candidato do Estado concorrendo à Presidência pode influir. Por isso há esforço da pré-candidata Dilma Rousseff (PT) em reafirmar sua "mineiridade". Essa influência aconteceu em SP, onde Alckmin bateu Lula em 2006 e no Rio, quando Anthony Garotinho venceu Lula em 2002.

Serra quer evitar “Dilmasia” em Minas

DEU NO CORREIO BRAZILIENSE

Pré-candidato tucano retorna ao estado para tentar colocar um freio no movimento favorável à petista Dilma Rousseff e ao governador tucano Antonio Anastasia

Luiz Ribeiro

O pré-candidato à presidência da República José Serra (PSDB), acompanhado do ex-governador Aécio Neves e do governador Antonio Anastasia, retorna a Minas Gerais nesta segunda-feira, quando visitará Montes Claros, onde terá encontro com lideranças regionais.

A expectativa é de que a presença de Aécio — que fará sua primeira aparição pública ao lado do ex-governador paulista desde que retornou de viagem ao exterior — sirva de impulso para o engajamento dos prefeitos tanto na campanha de Serra como no trabalho para a reeleição de Anastasia. Mas existe uma ameaça de divisão dos chefes de executivo em relação ao candidato a presidente do PSDB.

A ameaça é representada pela “Dilmasia”, movimento que defende o apoio casado à reeleição do atual governador e à pré-candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff. O presidente da Associação dos Municípios da Área Mineira da Sudene (Amams), Valmir Morais (PTB), disse que cerca de 50 a 60 prefeitos deverão participar do encontro com os pré-candidatos tucanos. Segundo Morais, a maioria dos prefeitos norte-mineiros já declarou adesão à campanha para a reeleição de Anastasia e apoio à candidatura de Aécio ao Senado. Para o dirigente, o apoio ao tucano não será difícil. “Não vejo dificuldades para os prefeitos assumirem a candidatura do Serra. Vai depender da posição do Aécio”, afirma Morais. “Basta o Aécio pedir para que o Norte de Minas possa abraçar também a candidatura do PSDB para a Presidência da República”, acrescenta o presidente da Amams, que reúne 92 prefeitos.

Serra fará hoje a sua quinta viagem ao estado desde que se desincompatibilizou do governo de São Paulo, no início de abril, para concorrer ao Palácio do Planalto. Ele esteve duas vezes em Belo Horizonte e visitou Uberlândia e Uberaba, mas será a primeira viagem a Montes Claros, cidade de 364 mil habitantes, e importante centro universitário. Em 2002, quando também disputou a Presidência da República, Serra fez poucas visitas ao estado e não foi ao norte, apesar de a região ter cerca de dois milhões de votos. Nesta segunda-feira, Serra vai receber um documento com reivindicações, intitulado de Plano de Desenvolvimento do Norte de Minas, elaborado em encontro de lideranças políticas e empresariais, organizado pela Amams.

Apesar da informação do presidente da Amams, uma boa parte dos prefeitos norte-mineiros deverá apoiar Anastasia para governador e Dilma, para presidente da República. A observação é do prefeito de Salinas, José Prates (PTB), um dos cabeças da “Dilmasia”. Seria algo semelhante ao “Lulécio”, liderado pelo próprio José Prates em 2006, quando uma frente de prefeitos apoiou as reeleições de Aécio Neves para o governo de Minas e de Luiz Inácio Lula da Silva para o Palácio do Planalto. A diferença desta vez é que os prefeitos também deverão votar em Aécio para o Senado. Prates disse saber que um número expressivo de prefeitos, `no estado inteiro, incluindo filiados ao PSDB e ao PT”, que vão apoiar Dilma e Anastasia, mas não revela quem seriam eles. “Não posso falar os nomes porque não sou porta-voz deles”, justificou.

DIVISÃO MINEIRA

» Ao contrário do anunciado, terminou sem acordo o encontro entre PT e PMDB, realizado ontem à tarde, no qual se pretendia definir entre o ex-ministro das Comunicações Hélio Costa e o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel o cabeça-de-chapa para disputar o governo de Minas. O PT, porém, pegou de surpresa os peemedebistas que consideravam a partida ganha com Hélio Costa, para a disputa do governo mineiro. Em reunião pela manhã, petistas e representantes do PR, PCdoB e PRB, aproveitaram a ausência do PMDB, para anunciar nova chapa, esta encabeçada por Fernando Pimentel, tendo como vice Clésio Andrade, presidente do PR de Minas, e Hélio Costa como candidato único para o Senado.

Marina reduz agenda

A convenção do Partido Verde na próxima quinta-feira é o principal motivo para a agenda reduzida de compromissos nesta semana da senadora Marina Silva, que será aclamada no evento como a candidata da legenda ao Palácio do Planalto. A agenda da pré-candidata prevê apenas a participação hoje no prêmio Top Etanol, realizado pela União da Indústria da Cana-de-açúcar (Unica), em São Paulo.

Nesta semana, entretanto, Marina, José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) estarão empenhados em fazer um bom discurso nas convenções partidárias. O prazo estabelecido pela Justiça eleitoral para a realização das convenções inicia-se nesta semana e o Partido Verde será o primeiro a dar a largada. A convenção que aclamará a chapa Marina Silva e Guilherme Leal ocorrerá no Brasil 21, em Brasília. A expectativa é reunir 1,5 mil pessoas no salão principal, mas os outros espaços devem ser utilizados para acomodar os simpatizantes da candidatura da senadora. Após a convenção nacional, Marina deve ainda participar de algumas convenções do PV nos estados, principalmente no Rio, Minas e São Paulo.

Depois do evento de hoje, em São Paulo, a intenção é que Marina se concentre no discurso para a próxima quinta. O PV está empenhando em evitar a polarização do debate das eleições presidenciais entre PSDB e PT e tenta, sempre que possível, garantir a participação de Marina em eventos onde o ex-governador José Serra e a ex-ministra Dilma Rousseff também estejam. A convenção tucana ocorrerá em Salvador e a do PT, em Brasília — ambas no fim de semana.

Foi assim, por exemplo, em congresso de saúde realizado no fim de maio, em Gramado (RS). Dilma foi ao evento e, na última hora, a assessoria de Serra também confirmou sua presença. Marina, com a agenda já comprometida, não pôde ir no mesmo dia que os concorrentes. Mas nem por isso deixou de marcar presença: no dia seguinte, a senadora também prestigiou o congresso.

Queda-de-braço por candidato

DEU NO ESTADO DE MINAS

PT e PMDB não chegam a acordo sobre candidatura única da base do presidente Lula em Minas e prometem continuar conversas, mas petistas pretendem apresentar hoje nome do ex-prefeito

Maria Clara Prates e Alice Maciel


Terminou sem acordo o encontro do PT e PMDB, realizado ontem à tarde, no qual se pretendia definir entre o ex-ministro das Comunicações Hélio Costa e o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel o cabeça da chapa para disputar o governo de Minas. O presidente do PT estadual, deputado federal Reginaldo Lopes, e o presidente do PMDB, deputado federal Antônio Andrade, deixaram a reunião abraçados depois de mais de três horas de conversas tensas, sem o nome e com apenas a certeza de que o tão sonhado palanque único para a pré-candidata à presidência Dilma Rousseff (PT), será realidade, sem precisar da intervenção das executivas nacionais dos dois partidos.

Reginaldo Lopes e Antônio Andrade garantiram que vão voltar a discutir com as cúpulas dos partidos para a definição do candidato, já que o prazo final para a formação da chapa termina apenas dia 30. “Temos dois nomes fortes, dois excelentes candidatos capazes de derrotar o candidato tucano Antonio Anastasia, por isso, precisamos conversar”, diz o petista. Como se tivesse ensaiado, Andrade bateu na mesma tecla e fez questão apenas de frisar que tanto a pesquisa eleitoral encomendada por seu partido como a do PT, apontam que Hélio Costa tem a preferência dos eleitores hoje. Ele lamentou, no entanto, a falta de definição e admitiu continuar conversando com os petistas.

O PT, entretanto, pegou de surpresa os peemedebistas que consideravam a partida ganha com Hélio Costa, para a disputa do governo mineiro. Em reunião pela manhã, petistas e representantes do PR, PcdoB e PRB, aproveitaram a ausência do PMDB, para anunciar nova chapa, esta encabeçada por Fernando Pimentel, tendo como vice Clésio Andrade, presidente do PR de Minas, e Hélio Costa como candidato único para o Senado.

Segundo Lopes, o palanque único é uma armadilha para o PT mineiro. “A militância do partido não vai aceitar em hipótese alguma. Nós compreendemos a aliança nacional, queremos a aliança com o PMDB. No entanto, nós não estamos aqui escolhendo pela base do Lula um candidato pela coligação partidária. Nós estamos escolhendo o melhor candidato para conseguir apoio para Dilma no estado”, enfatizou. De acordo com Reginaldo Lopes, Hélio Costa está preparado para ocupar qualquer cargo na república, e será importante na sustentação da presidenciável petista no Senado.

O parlamentar disse ainda não temer a possibilidade de uma intervenção da direção nacional no PT em Minas. “Estamos fazendo debate político. Nenhuma candidatura nasce sob intervenção. Cada dia com sua agonia. Hoje estamos dando um passo para ter uma ótima campanha no estado”, completou. Antes da reunião à tarde, Antônio Andrade ironizou dizendo que não compareceu à reunião porque não foi convidado e que as pesquisas deixavam claro que Hélio Costa era o melhor candidato. “Deram o Senado ao Hélio Costa? Boa Proposta”, disse Andrade. Ontem, após reunião, o Reginaldo Lopes reafirmou que o nome de Pimentel ao governo será lançado oficialmente pela Executiva Estadual, às 18h de hoje

Conversa Se o acordo ainda não foi anunciado, as costuras em Brasília já começaram para que isso ocorra antes das convenções nacionais do PMDB e PT, marcadas para sábado e domingo. Antes mesmo do fim da reunião, Reginaldo Lopes já tinha sido convocado pelo presidente nacional do partido, José Eduardo Dutra, para uma conversa em Brasília, hoje, quando ele se encontra também com o presidente do PMDB, Michel Temer. Para justificar a insistência em manter o nome de Pimentel para encabeçar a chapa, Lopes alega que a militância petista está animada com o crescimento da candidatura do ex-prefeito, que estaria praticamente em empate técnico com Costa, de acordo com as pesquisas. “Ele tem ainda menor rejeição o que é mais uma vantagem”, diz.


Aliados à espera da decisão de Jarbas

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Em meio ao debate em relação às opções para a segunda vaga ao Senado, oposicionistas admitem a indefinição e afirmam que a única certeza que têm é de que decisão cabe apenas ao peemedebista

Paulo Augusto

A definição da chapa das oposições em Pernambuco voltou a estar da mesma forma que há pouco mais de um mês, quando não havia candidato ao governo: nas mãos do senador Jarbas Vasconcelos (PMDB), adversário do governador Eduardo Campos (PSB) no pleito de outubro. Questionados sobre o segundo nome da aliança oposicionista para o Senado – o primeiro é o senador Marco Maciel (DEM) –, representantes dos partidos admitem a indefinição e a única certeza que têm é de que cabe a Jarbas decidir a questão.

Embora, de fato, seja sua a palavra que vai decidir a questão, também é verdade que o peemedebista já deixou claro a preferência pelo PSDB na chapa – que estava certa até o senador Sérgio Guerra anunciar que concorreria a uma vaga na Câmara dos Deputados. “Vou conversar com Jarbas. Se couber ao PSDB decidir, eu vou indicar”, disse Guerra, ontem, por telefone.

O presidente nacional do PSDB, que passou o fim de semana descansando em Fernando de Noronha, voltou a bater na tecla de que nada foi oferecido ao partido ainda, portanto, ninguém está se esquivando da disputa. “Nenhum integrante do partido disse que não aceitava a vaga, porque ninguém foi convidado. Nosso querer é que Jarbas faça a melhor chapa possível”, reforçou.

A ênfase dada por Sérgio Guerra tem o intuito de reduzir a pressão sobre os dois deputados federais do partido, Bruno Araújo e Bruno Rodrigues, cuja especulação nos bastidores é de que ambos não estariam dispostos a trocar uma reeleição praticamente certa para a Câmara Federal por uma disputa dificílima no Senado. Em nota, na semana passada, Bruno Rodrigues negou que tenha rejeitado um convite – exatamente pela razão que o líder tucano expôs, ou seja, não ter sido convidado.

A deputada Terezinha Nunes (PSDB), que também chegou a ter seu nome cotado como opção para o Senado, disse que toparia se fosse a escolhida pelo partido, mas entende que essa não seria a opção ideal. “Eu aceitaria (se convocada), só que não tem sentido colocar duas mulheres na chapa majoritária”, justificou. “A escolha de Miriam (Lacerda – DEM, candidata a vice) foi importante e é ideal para a chapa. Duas mulheres é demais para a cultura política de Pernambuco”, ressaltou, ontem pela manhã, antes de participar de um encontro do PSDB Jovem, em Jaboatão dos Guararapes.

DEFESA

Também ontem, os deputados das bancadas estadual e federal do PSDB assinaram em conjunto uma nota oficial em defesa da legenda e de Sérgio Guerra sobre “injúrias e malediscências” que estariam sendo vítimas no atual processo eleitoral em Pernambuco.

A nota destaca a postura do partido desde 2002, quando passou a compor com o PMDB, DEM e PPS “a aliança em torno do senador Jarbas Vasconcelos”, enfatizando as “reiteradas demonstrações de solidariedade e apoio a todos os candidatos” indicados pelo grupo desde então.

Sobre a disputa atual, o texto aponta que “a posição (...) repassada pelo senador Sérgio Guerra e pela direção estadual a todos os filiados é a de apoio irrestrito à candidatura do senador Jarbas Vasconcelos”. E conclui: “O PSDB, da mesma forma, não deixará de indicar membros para compor a chapa majoritária se essa for a orientação do candidato a governador”.

José Serra vai discutir programa pela internet

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO(PE)

SÃO PAULO – Com a expectativa de arregimentar a comunidade acadêmica e os jovens, a campanha do presidenciável tucano, José Serra, põe no ar hoje o site www.propostaserra.ning.com que promoverá a discussão do programa de governo. O projeto é ambicioso, mas começará com um público restrito – pessoas que atuem no partido ou especialistas com trabalhos reconhecidos. Os tucanos temem a invasão do espaço de debate na internet por militantes dos adversários políticos. O plano de usar a internet para debater ideias é do próprio Serra, empolgado com a popularidade de seu Twitter.

O local escolhido para sediar o site é uma rede social, o Ning, usado principalmente por professores e educadores. O PSDB vê na rede uma oportunidade de trazer para o seu lado uma parte da comunidade acadêmica que esteve historicamente próxima do PT. O debate pela internet tem ainda intenção de marcar diferenças, de método e conteúdo, em relação à campanha de Dilma Rousseff.

PESQUISA

A ação é mais uma tentativa de Serra de voltar a crescer nas pesquisas. Levantamento do Ibope divulgado no último sábado mostra que ele está empatado com Dilma. Ambos têm 37% das intenções de voto. A senadora Marina Silva (PV) aparece em terceiro lugar, com 9%. O levantamento anterior do Ibope, feito em abril, mostrava Dilma com 32% das intenções e Serra com 40%. Marina tinha 9%. O empate entre o tucano e a petista continua em um eventual segundo turno, com 42%. Os indecisos somam 8% dos entrevistados e 9% disseram que votarão em branco, nulo ou em nenhum candidato.


O Ibope ouviu 2.002 eleitores em 141 cidades, entre os dias 31 de maio e 3 de junho. A margem de erro é de 2 pontos. A pesquisa foi registrada no TSE sob o número 13642/2010.

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Os rios: João Cabral de Melo Neto


Os rios que eu encontro
vão seguindo comigo.
Rios são de água pouca,
em que a água sempre está por um fio.
Cortados no verão
que faz secar todos os rios.
Rios todos com nome
e que abraço como a amigos.
Uns com nome de gente,
outros com nome de bicho,
uns com nome de santo,
muitos só com apelido.
Mas todos como a gente
que por aqui tenho visto:
a gente cuja vida
se interrompe quando os rios.