quarta-feira, 2 de junho de 2010

Reflexão do dia – Luiz Sergio Henriques

Pode-se dizer que ninguém mais fala em luta armada. Verdade. Pode-se dizer, também, que ninguém defende "ditaduras progressistas", embora, em nuestra América, o pecado more ao lado e nem todos saibam resistir à tentação. Seja como for, resta por fazer um exame rigoroso de velhas categorias, que, desconfio, talvez resistam sob nova aparência. Se isso for verdade ? se a esquerda ainda não tiver esboçado os contornos de uma novíssima trama de conceitos políticos baseada na paz e nos direitos ?, toda volta ao passado de chumbo e toda exigência de reparação correm o risco de se perder em recriminação facciosa ou irrealista, alheia aos valores universais que deveriam constituir uma esquerda democrática.


(Luiz Sergio Henriques, no artigo, “Viagem aos anos de chumbo” em O Estado de S. Paulo, de 31/5/2010)

Radicalizações:: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

O clima de Fla-Flu que predomina na política brasileira, com a polarização entre PT e PSDB na eleição presidencial, provoca distorções graves no comportamento dos militantes que repercutem na sociedade como um todo, criando um ambiente propício à radicalização de posições.

Peguemos dois fatos de nossos dias, a transgressão da lei eleitoral por parte do presidente Lula e o acordo nuclear do Irã com a mediação do Brasil e da Turquia.

Qualquer pessoa que considere inaceitável o comportamento do presidente Lula, usando seu poder político e a alta popularidade para alavancar a candidatura de Dilma Rousseff à sua sucessão, é considerado um golpista em potencial.

Da mesma maneira que qualquer um que critique a atuação do Brasil na negociação com o Irã é considerado antipatriota ou submisso ao imperialismo americano, por mais anacrônico que esse conceito pareça.

No entanto, há fundadas razões para se considerar até mesmo a impugnação da candidatura oficial por abuso de poder político, como já ocorreu diversas vezes com prefeitos e governadores estaduais.

Assim como há inúmeras razões para se discordar da posição brasileira, a começar pela própria natureza do governo do Irã, uma ditadura teocrática que não tem mecanismos internos, próprios da democracia, para controlar os arroubos totalitários de seus aiatolás atômicos.

O Brasil se colocou ao lado do Irã, em contraposição aos Estados Unidos.

Mas não estamos tratando do governo de George W. Bush, justamente condenado pela comunidade internacional pela belicosidade com que enfrentava os conflitos internacionais, e nem os Estados Unidos de Obama é um país que tenta impor sua hegemonia à comunidade internacional.

Eleito por ser o contrário da era Bush, o presidente dos Estados Unidos ganhou o Prêmio Nobel da Paz pelos compromissos de pacificação que assumiu.

E suas atitudes vêm tendo consequências concretas, como o acordo de desarmamento com a Rússia, ou a tentativa reiterada de negociação com o próprio Irã.

Como então considerar confiável a ditadura teocrática do governo de Mahmoud Ahmadinejad e não aceitar as ponderações do governo democrático dos Estados Unidos? Como acusar de antipatriótica a crítica a uma ação diplomática brasileira que pode ter como consequência a concessão de tempo para que o Irã se arme com a bomba atômica? Com relação à campanha eleitoral, até o momento, há uma clara diferença entre as multas aplicadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ao presidente Lula e sua candidata, Dilma Rousseff, e as aplicadas ao candidato tucano, José Serra, e seus aliados, que reflete a natureza dos delitos praticados.

Mesmo quando se tenta um paralelo entre o que o PT fez com seu programa eleitoral, onde Lula apareceu como uma espécie de âncora para apresentar Dilma ao eleitorado, e o que fez o DEM, colocando o candidato José Serra, que é do PSDB, em seu programa partidário, há diferenças de comportamento.

O DEM pode até mesmo ser punido pelo TSE, mas procurou brechas na legislação para tentar alavancar seu candidato, e se baseou em uma decisão do TSE de 2002, que considerou como ato partidário legítimo a apresentação de seu candidato na convenção, mesmo que ele fosse de outro partido.

Não afrontou diretamente a legislação.

É claro que existem ponderações a serem feitas, como as do advogado especialista em legislação eleitoral Marcelo Fontes, que considera muito perigosa essa tendência de transformar os tribunais eleitorais em um “terceiro turno” das eleições, substituindo a vontade popular pela de sete juízes.

Mesmo considerando que o presidente Lula está “passando da conta”, Fontes não considera que exista ainda uma justificativa para impugnar candidaturas.

Ele concorda com o ex-ministro da Justiça Marcio Thomaz Bastos, que defende a revisão da legislação eleitoral para que ela se adeque à realidade do país, e chama a atenção para as consequências de uma eventual cassação da candidatura de Dilma Rousseff: “Imagine se ela vence, e cassam sua eleição. Teríamos uma convulsão social, o país pararia. É inviável politicamente”.

Diante do perigo de um presidente popular como Lula acabar sendo inalcançável pela lei, Fontes alega que uma decisão drástica do TSE, na eventualidade de uma vitória de Dilma, seria distorcer a vontade do eleitor que, pela maioria, teria se pronunciado pela continuidade.

Mas quando especialistas em Justiça eleitoral como o ministro Marco Aurélio Mello, do TSE, ou o expresidente da mesma Corte, Carlos Velloso, dão entrevistas criticando as ações do presidente Lula, eles estão refletindo um entendimento de parte ponderável da Justiça eleitoral.

As multas aplicadas a Lula e Dilma Rousseff podem pesar numa eventual impugnação da candidatura da petista, comenta Marco Aurélio.

Não há dúvida de que a máquina administrativa está sendo usada a favor de uma candidatura, comenta Carlos Velloso.

A reincidência de Lula é vista com “perplexidade” por Marco Aurélio, para quem o exemplo de acatamento da lei deveria vir do presidente da República.

Para Velloso, o fato de o presidente ser constantemente multado pela Justiça eleitoral por propaganda eleitoral é sinal do uso da imagem institucional da Presidência.

Em vez de as advertências serem tomadas em consideração, elas são tratadas como atitudes políticas favoráveis aos adversários do governo — inclusive pelo fato de Carlos Velloso estar filiado hoje ao PSDB —, ou simplesmente como tentativas golpistas, sem que seja levado em conta o fato de que quem está transgredindo a lei é o próprio presidente da República, o que é um agravante.

Sindicato da boquinha:: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O deputado Arnaldo Madeira é um homem muito educado. Diz que o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, revela "desonestidade intelectual" ao afirmar que "esse sujeito (José Serra) vai mexer no Fundo de Garantia, nas férias, na licença-maternidade, vai tirar os direitos dos trabalhadores", caso seja eleito presidente.

Supõe que o notório Paulinho da Força tenha uma pálida ideia do que seja intelecto. O negócio dele é ação. Pragmática. Quanto ao "sujeito", é a maneira dele de indicar veemência no contraditório: desqualificando o objeto à falta de qualidade no verbo.

Na campanha presidencial de 2002 era vice de Ciro Gomes. Acusado em processo por desvio de recursos do Fundo de Amparo do Trabalhador, atirou na corregedora-geral da União, Anadyr de Mendonça: "Logo se vê que é uma mulher amarga, mal-amada."

Seis anos depois, acusado pela Polícia Federal em esquema de envolvimento em desvio de verbas do BNDES, foi absolvido por seus pares em processo por quebra de decoro parlamentar no igualmente notório Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. Antes havia prometido "mexer os pauzinhos", vale dizer, dar um jeitinho de encaminhar o resultado na direção do seu interesse.

Agora se apresenta como comandante em chefe das tropas sindicalistas para dar combate sem trégua à candidatura presidencial da oposição, movido pela mesma filosofia de que os fins justificam os meios.

Qual o fim? "Não deixar José Serra ganhar a eleição." Descontada a truculência, é uma preferência e até aí nada demais. Pessoas, partidos, sindicatos, movimentos sociais, entidades, organizações, cada qual se manifesta como pode, como quer e como sabe a favor de quem quiser.

Mas não vale fazer isso no manejo de poderosas máquinas financiadas com dinheiro público, a soldo do mesmo governo para o qual defendem continuidade, atribuindo a outrem propostas fictícias a fim de atemorizar o eleitorado e pior: agindo em estado de franco desacato à lei em vigor.

A virulência - traduzida na figura de Paulo Pereira apenas por ser o de histórico e gestual mais abusado - das centrais e sindicatos não é normal para quem simplesmente está envolvido como parte num embate eleitoral.

Há quem cobre dessas entidades atitude isenta. Seria obrigá-las a transitar no terreno do obscuro. Muito melhor que assumam suas posições de maneira transparente, inequívoca. Não há mal nem crime na opinião.

O ilícito aqui reside no patrocínio público da campanha e na transgressão à Lei Eleitoral. No campo da ética, o desvio se manifesta na ausência de maior clareza a respeito das razões, não do apoio à candidatura governista, do quase pavor ante a possibilidade de que a democracia expresse como resultado a alternância do poder.

Não é pelo dito: "Esse sujeito vai tirar os direitos dos trabalhadores."

É pelo não dito: pelo temor das centrais e dos sindicatos de perderem o maná que a todos abriga no aparelho de Estado. Regra vigente desde que Lula abandonou o melhor discurso desses quase oito anos de governo, feito no primeiro ano do primeiro mandato na forma de um diagnóstico perfeito sobre a necessidade de uma reforma sindical.

De convicto defensor do sindicalismo livre das amarras do oficialismo, passou a persuasivo executor da política de cooptação de sindicalistas subservientes às benesses do Estado, dando início a uma nova geração de pelegos. Logo Lula que, quase trinta anos antes, havia ajudado a pôr a velha pelegada para correr.

Sinistrose. Fernando Pimentel repudia acusações de que tenha sido o mentor da montagem de uma central de produções de dossiês da campanha do PT numa casa do Lago Sul, em Brasília. Aos próximos confidencia: "Os aloprados são os outros."

Mais não detalha nem especifica.

Do outro lado da crise a noção da geografia específica localiza apenas, em posto de comando, personagem afeito a lutas políticas de peso conhecido em São Paulo na década dos 80 pelo apelido de "anão sinistro".

Um partido, um projeto :: Fernando Rodrigues

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - A prioridade do PT é eleger Dilma Rousseff sucessora de Lula no Palácio do Planalto. O resto é o resto. O partido está sendo subjugado em vários Estados. Só pensa no objetivo maior.

Apesar de ter o presidente da República mais bem avaliado desde o fim da ditadura militar, o PT não terá candidato próprio aos governos de Estados relevantes como Rio de Janeiro e Paraná.

Em São Paulo, a candidatura de Aloizio Mercadante é tratada como inviável por muitos caciques da sigla. Fala-se apenas numa preparação para a eleição da prefeitura paulistana em 2012.

O caso mais emblemático dessa nova fase petista é Minas Gerais. O partido tem um postulante ao governo mineiro, Fernando Pimentel. A direção nacional pretende apoiar o nome do PMDB, Hélio Costa, em troca dos minutos peemedebistas a favor de Dilma na propaganda eleitoral para presidente.

O curioso (ou revelador) nesse caso é que Fernando Pimentel talvez seja o único candidato competitivo do PT em disputas por governos estaduais no Sudeste. Minas Gerais tem 14,4 milhões de eleitores. Só está atrás de São Paulo.

Essa novela mineira petista ganhará dramaticidade nos próximos dias. Um grupo do partido pretende resistir à pressão de Lula. O caso é peculiar também porque o preterido Pimentel é amigo pessoal de Dilma Rousseff desde os tempos da luta armada, quando ambos acabaram presos pela ditadura militar.

O PSDB conhece esse tipo de impasse. No Planalto, FHC cedeu ao PFL (hoje DEM) em troca de apoio eleitoral no plano nacional. Em 1998, na reeleição do tucano, os pefelistas faturaram a maior bancada de deputados federais.

A história depois é conhecida. O PSDB ficou oito anos no poder e fragilizou-se nos Estados. O PT pode ter sucesso agora no projeto quase único de eleger Dilma. Mas um partido não sobrevive muito tempo sem ser forte nos Estados.

Aliança antes, melhor que adesão depois:: Rosângela Bittar

DEU NO VALOR ECONÔMICO

A perspectiva de êxito que se alimenta no PMDB, hoje, a partir da aliança com o PT para eleição de Dilma Rousseff a presidente, é muito forte, mais do que viveu o partido em campanhas eleitorais anteriores. Alguns ousam registrar que, desde a Nova República, o PMDB não tem condições tão perfeitas, como agora, de exercer na plenitude e em abrangência o poder político.

Este PMDB fortíssimo, que se candidata a ter a Vice-Presidência (já houve cientista político levantando a hipótese de a situação levar ao vice-presidencialismo) e, com ela, por óbvio, boa parte do governo, caso seja eleita a candidata da aliança, ainda não admite que seja necessário ter mais do que teve no governo Lula.

O partido veio aderindo a sucessivos governos, o que lhe permitiu manter-se na crista política em governos estaduais, em prefeituras, fazer grandes bancadas e, numa espécie de retroalimentação, ser desejado para alianças no governo federal que o fizeram crescer mais, sucessivamente, e se fortalecer.

Não houve necessidade, para chegar a este ponto, que o partido se unisse internamente. Percorreu seus caminhos dividido, distribuindo nacos de poder entre facções diversas. Hoje, estaria mais unido do que sempre esteve, dizem os da direção, mesmo antes de estarem definidas as alianças estaduais que garantirão a formalização da aliança nacional. Contam com uma dissidência menor do que sempre.

Nos anos mais recentes, de três ministérios no governo Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, saltou para seis no governo Lula, depois de ter participado como vice da chapa do adversário de Lula, José Serra. Um fenômeno de partido.

Essa perfomance deveria sugerir que serão mais apurados seus desejos em um governo do qual será sócio já a partir das eleições. Crê o partido que, realmente, é mais forte a aliança que começa na luta eleitoral do que aquela firmada em adesão ao governo já em curso, vencedor.

O discurso que se arma, porém, é de uma discrição a toda prova. Inicia-se a reflexão sobre a divisão do poder futuro pela caracterização dos momentos. A eleição tem duas etapas, argumentam políticos do comando. Uma, política, vivida agora, dedicada a conversas, ordenamento do quadro de alianças, preparação das demandas. Outra, a eleitoral, da propaganda, do discurso, em que a política não entra mais.

O PMDB acha que está vivendo intensamente seu momento político, com cautela, para não deixar que nada estrague o que vem mais adiante. Assim, não explicita o que quer do governo Dilma.

As indicações contidas no seu programa de governo, porém, são eloquentes.

Gaba-se o partido de ter dado sempre, em todos os governos, uma contribuição forte em diferentes setores. Atribui-se, por exemplo, a criação da Secretaria do Tesouro, que viria a modernizar a contabilidade e a administração pública. Estão no portfólio apresentado pelo partido iniciativas como "a gênese dos programas sociais", a "relatoria do plano real", e nesse resgate recente até "a luta contra a ditadura".

"Queremos agora uma unidade interna igual ou maior do que à época de Tancredo Neves, em que praticamente todas as correntes se juntaram", diz integrante da cúpula. Mas os pés ainda estão no chão, e o discurso é que, o fato de ter a vice, não vai levar o partido a querer ser dono do governo.

"Nossa participação vai depender das políticas públicas que vierem a ser definidas, principalmente das que consideramos fundamentais no nosso programa", assinala um dos principais interlocutores da aliança, definindo: "Vamos procurar ter uma presença contributiva". Este é o novo nome para a divisão do poder no comando do governo. Nesta presença, o PMDB destaca políticas voltadas para o desenvolvimento urbano. Portanto, não haverá surpresa se levar o Ministério das Cidades.

"O grande problema que o país vive se dá nas grandes cidades, não temos dúvida em afirmar que os problemas de emprego, renda, serviços públicos na grandes cidades penalizam mais a população pobre que os ricos", diz um político da cúpula. "A questão fundiária urbana é gravíssima".

A educação, questão que mereceu destaque no programa do partido, tem evidência na conversa de perspectiva de poder para o PMDB. O partido quer prioridade para o ensino fundamental, criou programas que possam assegurar a presença das crianças na escola, como a instituição de uma poupança por aluno, a ser resgatada quando ele concluir o curso, ou um Prouni - bolsa de estudo em instituição particular - também para o ensino fundamental. Estar no comando do Ministério da Educação é uma postulação que, se ainda não verbalizada, o será no momento em que o canudo estiver mais perto de lhes ser entregue.

O PMDB imagina ter atribuído uma importância inédita aos bancos públicos em seu programa de governo, e acredita que o BNDES tem de pensar mais no médio empresariado do que no grande, como ocorre atualmente.

Não será surpresa se o PMDB assumir, na divisão de poder com o aliado, o desejo de comandar a Previdência. A proposta de aumento da idade para aposentadoria, feita pela candidata da aliança, Dilma Rousseff, há dois dias, não assustou o partido. Ao contrário, isto estava no seu programa de governo, mas à última hora não passou pelo crivo político o trecho que discutia a necessidade de mover para cima o limite tendo em vista o aumento da expectativa de vida do brasileiro. "Estamos vivendo mais e melhor, e as mulheres estão vivendo mais que os homens", justificou-se, dentro no partido, com a ressalva que isto seria só para os "novos entrantes" no sistema.

Uma supressão eleitoralmente preventiva, porém, não significa abandono da tese. Dessa discussão participaram técnicos, acadêmicos e políticos do partido, desde o exótico Mangabeira Unger até Delfim Netto e Bernardo Appy. Enquanto durou a ilusão da vice, Henrique Meirelles também participou ativamente.


Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras

A compadecida diplomacia amoral de Lula:: Elio Gaspari

DEU EM O GLOBO

A candidata Dilma Rousseff e o companheiro Paulo Vanucchi, secretário nacional de Direitos Humanos, precisam ler “Death to the dictator!” (“Morte ao ditador!”), livrinho de 169 páginas que saiu nos Estados Unidos, contando a história de um jovem de 25 anos que foi preso pela milícia iraniana no dia 5 de agosto do ano passado, durante um protesto contra a posse de Mahmoud Ahmadinejad na Presidência do país. Ele passou 28 dias nos calabouços da República Islâmica. Ambos conheceram a rotina dos porões da ditadura brasileira e podem avaliar o que sucede no Irã enquanto Nosso Guia apoia a ditadura que esmagou a sociedade civil iraniana.

Ex-presos políticos, Dilma e Vanucchi podem entender o que sucedeu ao ex-metalúrgico Mohsen (um pseudônimo, bem como o da autora, cujas qualificações foram verificadas pelo colunista Roger Cohen, do “The New York Times”). Ele era um ativista periférico e participou de passeatas e quebra-quebras nas semanas seguintes à eleição. Preso, foi levado para a prisão de Evin, a Bastilha de Teerã, desde o tempo do xá. Os presos ficavam nas celas algemados, encapuzados e obrigados ao silêncio.

Na linguagem do porão, Mohsen “quebrou” na primeira surra. Isso ficou claro quando confirmou ter participado de reuniões e projetos inexistentes, inventados pelos interrogadores.

Mohsen ficou poucos dias em Evin. Foi transferido para outro calabouço, onde o regime guardava bandidos, traficantes e cafetões. Lá, não mais o interrogavam. Os policiais o espancavam em nome do “Deus misericordioso e compadecido...” e um deles ordenou: “Engravideo.” Outro disse-lhe: “Você quer de volta o seu voto?” Mohsen, como seus companheiros de cela, era violentado todos os dias, às vezes mais de uma vez. Três semanas depois jogaram-no numa beira de estrada.

Quando reencontrou a família, pediu que o levassem a um médico que não o conhecesse.

Na noite da eleição, em junho passado, o presidente Ahmadinejad ironizou esportivamente os protestos: “É como no futebol, todo mundo acha que vai ganhar.” No dia seguinte, Lula recorreu à mesma metáfora: “Por enquanto, é apenas uma coisa entre flamenguistas e vascaínos.” O médico que cuidou de Mohsen disse à sua mãe que vigiasse o filho, pois vira casos semelhantes e muitos jovens mataram-se.

O que aconteceu no Irã depois que a Guarda Revolucionária se impôs nas ruas, nas empresas, nos meios de comunicação e no aparelho judiciário não foi coisa de flamenguistas ou de vascaínos. O beneplácito misericordioso e compadecido que, desde então, Lula dá a Ahmadinejad suja com a marca da amoralidade a diplomacia brasileira. Esse beneplácito faz com que soe parcial quando condena as ações de Israel.

Razões de Estado podem levar o governo turco, que tem uma extensa fronteira com o Irã, a cultivar uma política de boa vizinhança com Ahmadinejad, mas Brasília fica a 11 mil quilômetros dessa encrenca. Lula argumenta que exerce no Oriente Médio uma função pacificadora, porque o Brasil “cansou de ser tratado como segunda classe”.

Expandindo contenciosos e importando conflitos que pouco têm a ver com o interesse brasileiro, pratica uma agenda de terceira.


Elio Gaspari é jornalista.

Prestes a completar 80 anos, Ferreira Gullar prepara livro inédito de poesia

DEU NA FOLHA DE S. PAULO/ILUSTRADA

Marco Rodrigo Almeida

ENVIADO ESPECIAL A SÃO FRANCISCO XAVIER

"Não me sinto com 80 anos. O calendário é que fala isso. Mas não tenho essa idade", diz, sério, o poeta Ferreira Gullar quando o assunto é seu próximo aniversário, em 10 de setembro.

A tranquilidade associada à velhice, realmente, não se aplica a ele, como sabem os leitores de sua coluna na Ilustrada.

Gullar, que lança em setembro um livro inédito de poesia, "Em Alguma Parte Alguma", preserva intacto há mais de 50 anos o espírito crítico que faz dele um dos principais, e mais controversos, pensadores do país.

No domingo, um dia antes de ganhar o Prêmio Camões, o principal da língua portuguesa, ele participou do Festival da Mantiqueira, em São Francisco Xavier.

Logo após o debate, recebeu a Folha.

Na entrevista, fala sobre governo Lula, o comunismo, eleições presidenciais, criação poética, drogas e sexo.

Leia a íntegra:

Folha - Por sua história política, muita gente estranha o senhor ser um dos principais críticos do Lula.

Ferreira Gullar - Não é que seja um crítico ferrenho, tento ser objetivo. Eu me preocupo com o futuro do meu país. O Lula é um farsante, não merece confiança. Não entendemos o que ele faz.
Como abraçar o Ahmadinejad [presidente do Irã], de um regime que é uma ditadura teocrática, que realizou uma eleição fraudada. O povo protestou contra o resultado e o Lula disse que aquilo é choro de perdedor, como se fosse uma partida de futebol.
E o povo tá na rua, sendo reprimido, gente morrendo. Por que um presidente brasileiro vai dar apoio a um governo desse? Não entendo o interesse do Lula lá. Por que reatou relações com a Coreia do Norte? A Coreia é um regime atrasado, o povo morre de fome, muito atrasado. O povo com fome e o governo fazendo bombas. Não entendo o Lula. É um governo para enganar as pessoas.

O senhor já declarou admirar o presidente Barack Obama. O que achou quando ele disse que Lula é o "cara"?

Isso foi uma brincadeira. O fato de o Lula ser um operário que chegou aonde chegou desperta a simpatia das pessoas. Mas ele não quis dizer que o Lula é o "cara" do mundo. É uma bobagem, é provincianismo brasileiro ficar dando atenção a isso.
Quero saber é do destino do país. Não quero saber de piada, mas o que vai acontecer com nossa democracia.
Outra grande bobagem é o Marco Aurélio Garcia [assessor da Presidência] querer impedir a exibição de filme americano na TV a cabo. Alguém tem que falar para ele que já estamos em 2010. É muito atraso.

O senhor ainda se considera de esquerda?

Essa coisa de direita e esquerda é bastante discutível. Quem é de esquerda hoje? O Lula é de esquerda? Não me faça rir. Eu nunca tive medo de pensar por mim mesmo. Não fico preso a uma verdade indiscutível.
Outro dia li na internet uns jornalistas falando que quem foi de esquerda e não é mais se vendeu. Parece o fundamentalismo islâmico. A verdade indiscutível, quem ficar contra é traidor.

Arrepende-se de ter sido filiado ao Partido Comunista na década de 1960?


Eu aprendi na minha luta política, no preço que paguei no exílio, a ter uma visão diferente do marxismo que não tenho medo de expressar. O marxismo foi uma atitude correta e digna diante do capitalismo selvagem do século 19. Surgiu como uma alternativa contra aquela coisa inaceitável. Mas a projeção da sociedade futura, com a ditadura do proletariado, é um sonho equivocado.
Na minha experiência, durante a queda de Salvador Allende [(1908-1973) presidente chileno, deposto por um golpe militar], eu vi a extrema esquerda e o Partido Socialista de Allende trabalharem a favor do golpe, pensando que estavam sendo mais de esquerda do que todo mundo. Na verdade, colaboraram com a CIA para derrubar Allende.
O marxismo tem uma visão política generosa, mas equivocada

O senhor, então, também se equivocou?

Eu também cometi muitos erros na época [anos 60]. A fúria fundamentalista só conduz ao erro. Queria me sacrificar pelos interesses do país, mas não basta ter razão para estar certo.
Tem que ter lucidez, resolver com a cabeça e com a inteligência.
Quando me convidaram para participar da luta armada, eu disse a eles: mas nós vamos derrotar sozinhos o Exército, a Marinha e a Aeronáutica?
Tem que ter lucidez. Eu não vou chamar o Mike Tyson para lutar boxe comigo. Eu o chamo para discutir poesia, que aí ele tá ferrado.

E quanto às eleições, quais são suas expectativas?

A Marina Silva é uma excelente pessoa, dá um conteúdo ético para a disputa eleitoral. É preciso alguém com a estatura dela, com a pureza dela num país onde a corrupção impera. Mas a chance de ela ganhar é pouca.
Eu espero que a Dilma não ganhe. Se ganhar, nós corremos o risco de ter 20 anos de PT no governo, o que seria um desastre nacional.

Vai então votar no Serra?

Vou. Pelo que sei, ele fez um ótimo governo em São Paulo. Não conheço nenhuma acusação de que seja corrupto ou safado. Foi excelente ministro da Saúde. Se não votar nele, vou votar em quem?

Como definiria o novo livro?

Todos os meu livros são diferentes. Neste ["Em Alguma Parte Alguma"] predomina uma certa relação entre ordem e desordem. Eu escrevi no limite da ordem, ou seja, no limite da desordem.
A maneira de fazer os poemas foi diferente, mais desordenada.
Comecei a escrever sem saber o que iria acontecer, sem planejar nada, sem preconceber. A poesia foi para mim uma grande aventura.
Ao contrário dos outros livros, em que os poemas já nasciam quase prontos, já que ficava sempre refletindo e elaborando antes de escrever. Já hoje começo sem saber o que vai acontecer.
Tanto que o primeiro poema, que abre o livro, tem o nome "Fica o Não Dito por Dito". Eu tô dizendo que, já que não posso dizer o que quero dizer, faz de conta que eu disse.

E qual é a sensação quando o senhor encontra o verso?

Ah, dá muita felicidade. Os poetas têm mania de dizer que escrever poesia é um sofrimento. Pode ser pra eles, para mim é uma alegria.
"O Poema Sujo", que escrevi no exílio, nasceu de um "transe", um "barato" que durou por cinco meses. Sentia-me impelido a escrever.

No final do "Poema Sujo" está um dos seus mais famosos versos, "a cidade está no homem/quase como a árvore voa/no pássaro que a deixa".

Para você ver como a poesia é uma coisa totalmente sem lógica, certo dia eu acordei lembrando de uma frase que tinha lido do Hegel [filósofo alemão, (1870-1831)] citada por Lênin [líder soviético, (1870-1924)]: "na frase o ramo da árvore estão o universal e o particular". Parei pra pensar: a árvore é o universal, é o todo, e o ramo é parte dela, então é o particular. Essa frase me fez escrever o final do "Poema Sujo".
Eu posso arrancar o ramo da árvore, mas a árvore continua nele. Como São Luís, no Maranhão, está em mim mesmo quando estava em Buenos Aires. Aí entrei no "barato". Quando é que o Hegel imaginou que a frase dele ia fazer um poeta brasileiro terminar um poema escrito em Buenos Aires? (risos)

O senhor fala em "transe", "barato", sensações geralmente associadas às drogas. Já experimentou alguma?

Uma vez, quando tinha 15 anos, um amigo me chamou para fumar uma diamba, que é como chamam a maconha em São Luís. Dei uma tragada e senti um gosto de mato velho. Achei uma porcaria, nunca mais experimentei.

Tem gente que compara o estado de criação com o "transe" da droga

É bobagem dizer que as drogas ajudam na criação. Ela é outro tipo de "transe", que requer lucidez. Sem isso é impossível criar.
Durante a criação, você está, por um lado, livre da lógica rudimentar e, ao mesmo tempo, muito lúcido. Você está altamente emocionado, mas tem uma outra lucidez, que não é a da lógica pura e simples.

A lucidez costuma ser também um remédio contra o sofrimento em muitos de seus poemas, como "A Alegria".

Quando escrevi esse poema estava no máximo do sofrimento, exilado em Buenos Aires. Não sabia o que fazer da minha vida. Comecei a valorizar o sofrimento. Pensei: '"sou um herói do sofrimento, um novo Cristo?".
Mas quando você está numa situação sem saída, resta sempre a poesia. Aí escrevi: "O sofrimento não tem nenhum valor". Não quero saber do sofrimento, quero é felicidade. Não gosto de fazer lamúrias. Detesto o passado.
Uma vez, discuti feio com a Cláudia [Ahimsa, companheira de Gullar há 15 anos]. Fiquei sozinho em casa, cheio de razão e triste pra cacete. Então, pra que querer ter sempre razão? Não quero ter razão, quero é ser feliz.

Como é iniciar um relacionamento depois dos 60 anos?

Não tem muita diferença não, do ponto de vista de relacionamento em si. Você se apaixona e começa um romance. Eu tinha 64 no inicio e ela tinha 30 anos. Relacionamento é interesse um pelo outro. Hoje sou uma pessoa mais tolerante, mais reflexiva, tento compreender melhor o outro. Tento não me achar o dono da verdade. Já me enganei tantas vezes na vida que posso estar enganado de novo.

E como fica a relação sexual durante a fase de maturidade?

[Risos] Eu acho que você se torna mais refinado, menos vulgar. Acho sexo uma coisa maravilhosa, mas não fico pensando muito nisso. Penso mais sobre arte, política. Sexo eu não penso, eu faço.
Mas também não acho que seja o mais importante da vida, que o cara tenha que comer 300 mulheres. Legal é ter afeto, ter carinho.

O senhor falou sobre vulgaridade. Acha que o mundo está mais vulgar?

Acho que sim. A vulgaridade tomou conta das coisas. As pessoas devem achar que é um escândalo o que falo. Devem achar que estou velho e tal.
Mas essa ideia de que ir contra o que é tradicional é bom é uma besteira. Olhe a própria arte contemporânea. Quer ser diferente de tudo, não respeita norma nenhuma. Mas a vida é inventada, cara. Se não houvesse norma a civilização não existiria. É só isso.
Um quadro do Monet, do Picasso, é uma coisa elaborada, um produto que vem de quadros anteriores. O significado está na linguagem, se acabar com a linguagem não tem significado.
Hoje tem gente que pensa que o século 19 era atrasado porque as mulheres se vestiam da cabeça aos pés, não mostravam nenhuma parte do corpo. Hoje a mulher está de fio dental mostrando a bunda na praia. Isso é ser mais avançado do que ser elegante? Hoje é mais avançado mostrar a bunda? Para mim isso é mais primário, mais escroto. Perde todo o mistério da mulher. É muito mais legal, rico, sensual, erótico e poético se comover com o pé da moça.

Timoneiro Paulinho da viola

Programa de TV do PSDB trará Serra e Aécio juntos

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Intenção é aumentar a votação do pré-candidato ao Planalto em Minas

Em São Paulo, Aécio afirmou que, no PSDB, o senador Tasso Jereissati (CE) é a melhor opção para ser o vice de Serra

Catia Seabra

SÃO PAULO - Os ex-governadores José Serra e Aécio Neves deverão estar juntos no programa que o PSDB leva ao ar no dia 24.

A pedido do comando da campanha do PSDB à Presidência, Aécio gravará a participação no programa ao lado do pré-candidato tucano.

Na semana que vem, o mineiro viajará a São Paulo para as gravações, a cargo do jornalista Luiz Gonzalez.

Responsável pelo programa de Minas, o publicitário Paulo Vasconcelos foi ontem o porta-voz do pedido.

"Gonzalez perguntou quando poderia vir a São Paulo para gravar com Serra", afirmou Aécio.A intenção é ampliar a votação em Minas, apontada como fundamental para o resultado da eleição. Segundo Aécio, pesquisas registram um percentual de 40% para Serra no Estado.Mas outros 15% admitem votar nele, desde que com a manifestação de apoio de Aécio.

Outros 5% só votariam na chapa com Aécio na vice.

Ao PSDB, Aécio alegou que não se sente convencido a abandonar as eleições em Minas por causa de 0,5% do eleitorado nacional.

"Terei de trabalhar mais para a campanha do Anastasia do que para as minhas", argumentou.

TASSO

Em viagem ontem a São Paulo, Aécio afirmou que, dentro do PSDB, o senador Tasso Jereissati (CE) é a melhor opção para a vice.

"Tasso é o melhor nome do PSDB", disse Aécio.

No momento em que o PSDB reabre negociações com DEM em torno da vice, Tasso negou, no Twitter, a disposição de compor a chapa pela Presidência.

Pedida nova multa para o presidente

DEU EM O GLOBO

BRASÍLIA. A vice-procuradorageral eleitoral, Sandra Cureau, enviou ontem ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mais um parecer recomendando nova condenação ao presidente Lula e à pré-candidata do PT, Dilma Rousseff.

Desta vez, ambos teriam feito propaganda eleitoral antecipada no evento da Central Única dos Trabalhadores (CUT), no 1º de Maio em São Paulo. Sandra recomenda a cada um deles o pagamento de multa no valor máximo, R$ 25 mil. Para ela, a punição deve ser maior dessa vez para evitar que continuem reincidindo na infração. Este ano, Lula já foi condenado quatro vezes pelo TSE.

O mesmo tribunal negou ontem, pela segunda vez, recurso de Lula contra a primeira condenação dele neste ano. Lula foi multado em R$ 5 mil por, em discurso, ter incitado os presentes a eleger Dilma.

PSDB reage e cobra explicações sobre dossiê

DEU EM O GLOBO

Tucanos dizem que Eduardo Jorge também foi investigado pelos arapongas; petistas respondem apenas com ironia

Gerson Camarotti e Maria Lima

BRASÍLIA. O PSDB reagiu ontem e cobrou explicações da pré-candidata do PT, Dilma Rousseff, sobre a tentativa de integrantes da campanha petista de divulgar um suposto dossiê cujo alvo principal seria Verônica Serra, filha do pré-candidato tucano, José Serra. A cúpula tucana tem informações de que a ação teria sido mais ampla e que o outro alvo seria Eduardo Jorge Caldas Pereira, ex-secretário-geral da Presidência no governo Fernando Henrique e hoje secretárioexecutivo do PSDB. Segundo tucanos, ele teve contas vasculhadas.

O PT e o comando da campanha de Dilma negam a existência do dossiê.

— As informações que temos são de que a arapongagem petista é muito mais ampla do que apareceu até agora. O surgimento de dossiês é gravíssimo e comprometedor. Desta vez, Dilma não pode pedir ajuda de Erenice Guerra (chefe da Casa Civil).

Na verdade, Dilma tem que explicar por que a equipe dela montou um grupo de espiões e arapongas. Ela está na obrigação de afirmar o que fizeram, como fizeram e com qual objetivo — cobrou o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, completando: — Dilma tem que agir rápido, até por causa do episódio comprometedor do dossiê da Casa Civil contra dona Ruth Cardoso (no escândalo do cartão corporativo).

Se querem conturbar a eleição nos ameaçando, estão perdendo tempo. Falsos dossiês são coisa de gente que não tem compromisso democrático.

Dilma tem que falar.

A direção nacional do DEM divulgou nota condenando o que chamou de baixaria na campanha de Dilma. A nota, assinada pelo deputado Rodrigo Maia (RJ), condena a montagem de dossiês por integrantes da campanha adversária. “É do conhecimento público que os profissionais da ilegalidade do comitê de Dilma criaram uma lista de alvos que é encabeçada pelo ex-governador José Serra, candidato à Presidência da República.

Não é a primeira vez que assessores do governo tentam derrotar José Serra com manobras sujas”, diz a nota.

José Dirceu é chamado para tentar resolver crise petista Já no PT, por determinação do Planalto, a cúpula do partido e da campanha agiu para esfriar a crise interna. Esteve ontem em Brasília, para conversas reservadas, o ex-ministro José Dirceu, que tem grande influência na máquina partidária. À tarde, ele tratou da crise em um longo encontro com Dilma. Há no comando da campanha a convicção de que a queda de braço entre o grupo próximo a Dilma, representado pelo exprefeito Fernando Pimentel, e o grupo ligado à máquina do PT, representado pelo deputado Rui Falcão (SP), pode criar prejuízos eleitorais.

O presidente do PT, José Eduardo Dutra, ironizou o episódio em mensagem no Twitter: “O GLOBO informa mais uma crise na campanha da Dilma. Deve ser horrível participar de campanha com tantas crises.” O secretário de Comunicação do PT, deputado André Vargas (PR), disse que tudo é lorota e que, se tem gente do PT falando, “é quem está tangenciado, querendo entrar na campanha.” — A ordem da campanha é não fazer dossiês. Não precisamos desconstruir o Serra, ele se desconstrói sozinho. Não queremos saber se ele tem filhos, se é gay, nada disso. Estamos subindo, acertando em tudo. Por que brigar com Serra? Estamos blindados contra isso. Se tem alguém fazendo, não é por ordem da campanha, não é gente da campanha — disse Vargas.

O deputado Jorge Bittar (PTRJ) alertou que o episódio serve para evitar problemas futuros: — Se ocorreu esse problema do dossiê, reflete mais divergências pessoais sob a maneira de conduzir a campanha do que conflito entre grupos. É bom que isso aconteça agora para evitar problemas futuros.

Como reflexo da crise, o comando petista dá como certa a saída da campanha do jornalista Luiz Lanzetta, contratado para a área de comunicação. Indicado por Pimentel, ele é apontado como envolvido na montagem do dossiê. Procurado pelo GLOBO, Lanzetta não retornou.

Aliança entre PT e PMDB em Minas se complica

DEU EM O GLOBO

Lula terá de interferir para resolver crise entre os partidos, divididos entre Hélio Costa e Fernando Pimentel

Maria Lima e Fábio Fabrini

BRASÍLIA. Deve cair no colo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a missão de desarmar a bomba da crise mineira, que pode implodir a aliança nacional com o PMDB para dar sustentação à candidatura de Dilma Rousseff. O PMDB ameaça não fazer a convenção marcada para o dia 12, para formalizar a aliança com o PT, se o PT de Minas não apoiar o candidato do partido ao governo local, o senador Hélio Costa. A disputa ganhou um complicador ontem, com o vazamento do resultado da pesquisa encomendada ao Instituto Sensus pelo PT, que deu empate técnico entre o petista Fernando Pimentel e Hélio Costa.

Além do empate, Pimentel tem a menor rejeição, o que torna mais difícil para o PT enquadrálo internamente.

Enquanto o PT de Minas resiste na trincheira comandada pelo ex-prefeito, em Brasília a cúpula do PMDB se reuniu ontem na casa do presidente da Câmara, Michel Temer (PMDBSP), e se preparou para a guerra.

Pelo que ficou acordado lá atrás, PT e PMDB encomendariam pesquisas para ver quem estaria mais bem posicionado nas intenções de votos.

O resultado da pesquisa PMDB/Ibope será conhecido hoje. Mas o resultado da consulta espontânea da pesquisa PT/Sensus, com 1.500 eleitores, mostrou os três candidatos embolados: Pimentel com 10 %, Antonio Anastasia (PSDB) com 9% e Hélio Costa (PMDB) com 7%. A margem de erro é de 2,5%.

Na direção do PT, situação difícil para Pimentel A sondagem ficou pronta na segunda-feira e, segundo fontes do PT que tiveram acesso ao resultado, a pesquisa estimulada (quando os nomes são apresentados ao eleitor) indica ascendência de Anastasia. O petista e o peemedebista estão no mesmo patamar: num cenário, Pimentel tem 32,3%, contra 24% do tucano. No outro, Costa aparece com 35%, ante 22,9% do governador, apoiado por Aécio. Pimentel ganha pontos porque tem a menor rejeição que o peemedebista: 17%, contra 27% de Costa, e 16% de Anastasia.

No Twitter, Costa demonstrou ontem seu descontentamento com a divulgação antecipada dos dados: “Antes de ser apresentada oficialmente, pesquisa da Sensus vaza e números são divulgados sem critério técnico, confundindo leitura”.

A cúpula do PMDB, como disse Eduardo Cunha (PMDB-RJ), está disposta a brigar pela cabeça de chapa para Costa, independentemente de pesquisas. E espera que o PT enquadre Pimentel, que, avaliam, está “esticando” a corda.

Do almoço na casa de Temer participaram o líder do governo no Senado, Romero Jucá(RR), o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), o presidente do Senado, José Sarney (AP), o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), Costa e os deputados Eunício Oliveira (CE) e Antonio Andrade (MG).

— Dia 12 temos que fazer a convenção com isso resolvido.

O PT sabe que isso é condição para a convenção se realizar e vai dar um jeito de resolver.

Institucionalmente o PT está tendo juízo, mas pode faltar a alguns isoladamente — disse Jucá, após a reunião.

Na direção do PT e do comando da campanha de Dilma, o clima não é bom para Pimentel.

O secretário nacional de comunicação do partido, André Vargas, avisa que até o dia 7, se ele não se entender com Costa, a decisão será trazida para Brasília: — Ou eles se entendem, ou vamos fazer o entendimento.

Para nós, do PT nacional, o empate nessa pesquisa é pró-Hélio.

O PT tem um compromisso com Hélio Costa. Espero que Dilma converse com Pimentel. Ele não pode ter comportamento de líder estudantil. Dirigente nacional não pode ter comportamento paroquial.

Previdência: Dilma nega que tenha sugerido mudanças O presidente do PT mineiro, deputado Reginaldo Lopes, rebate, argumentando que a base aliada definiu um procedimento para a escolha do candidato, com base no resultado de pesquisas quantitativas e qualitativas, além da consulta aos partidos parceiros. Os petistas alegam que PR, PCdoB, PSB e e PRB preferem o ex-prefeito, além de uma grande parcela do PMDB, ligada ao ex-governador Newton Cardoso, que perdeu o controle da legenda para o grupo de Costa.

— Se todo o conjunto de fatores indicar Pimentel, eu exijo respeito da direção nacional — avisa Lopes.

Enquanto as alianças se complicam em Minas, a assessoria de Dilma Rousseff negou que a pré-candidata tenha sugerido mudanças nas regras para aposentadoria, durante seminário da Revista Exame, anteontem em São Paulo.

Segundo a nota, que reproduz suas declarações de anteontem, a ex-ministra apenas comentou a questão do bônus demográfico no Brasil, não propôs mudança no tempo de contribuição para aposentadoria.

Centrais gastam R$ 800 mil do imposto sindical para pedir voto contra Serra

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Valor foi usado para pagar evento realizado ontem no Estádio do Pacaembu, em São Paulo, com objetivo de aprovar Agenda da Classe Trabalhadora e pregar a continuidade do governo Lula; das 30 mil pessoas esperadas, apenas metade compareceu

Cinco centrais sindicais - Força, CUT, CGTB, CTB e Nova Central - pregaram ontem, na assembleia da Conferência Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat), em São Paulo, a continuidade do governo Lula e alertaram para um "retrocesso", em clara referência ao pré-candidato tucano à Presidência, José Serra.

O evento, pago pelo imposto sindical, que desconta um dia de salário ao ano de todos os trabalhadores com carteira assinada, custou pelo menos R$ 800 mil, segundo o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), presidente da Força Sindical.

O objetivo, cumprido, era o de aprovar a Agenda da Classe Trabalhadora, que será entregue aos três presidenciáveis. São quase 300 demandas a serem cumpridas pelo vencedor das eleições.

Ao todo, R$ 135 mil foram empenhados para o aluguel do Estádio do Pacaembu e R$ 35 mil para o pagamento da Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo para coordenar o trânsito. O restante - R$ 630 mil - foi para a infraestrutura, como palco, som e transporte de militantes.

De acordo com o deputado, somente a Força Sindical pagou 500 passagens de avião para dirigentes virem das regiões Norte e Nordeste do País. As demais centrais também admitiram ter pago por transporte aéreo. A CUT disse que não divulgaria dados e valores de logística.

Mesmo com o investimento pesado das centrais para um megaevento, o público foi apenas a metade do esperado. Segundo a Guarda Civil Metropolitana, 15 mil compareceram, metade dos 30 mil esperados.

A reserva inicial, de acordo com as centrais, era de 13 mil lugares para militantes da CUT e 11 mil para os da Força. Os demais seriam divididos em blocos menores entre as outras três centrais. No entanto, o Pacaembu teve uma manhã e um início de tarde com muitos lugares vazios.

Microfone aberto. Os militantes e dirigentes sindicais, vindos de todos os Estados do País, receberam lanches na porta do estádio e ouviram dezenas de discursos de sindicalistas - a maioria para evitar o "retrocesso", alguns citando nominalmente a gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e outros em defesa aberta da pré-candidata petista Dilma Rousseff.

O presidente do PT paulista, Edinho Silva, assumiu o microfone falando "em nome do companheiro José Eduardo Dutra", presidente do PT nacional. Delineou o cenário eleitoral, com rasgados elogios a Lula, e disse que "é preciso avançar ainda mais e aprofundar as mudanças do governo".

"O Brasil não pode ter retrocesso", afirmou, em referência ao governo tucano. "Não pode conviver novamente com o desmanche do Estado. Não pode conviver novamente com a submissão de seus interesses. Se vamos avançar ou não, isso cabe a cada um de nós."

Empenhado na campanha do senador Aloizio Mercadante (PT-SP) ao Palácio dos Bandeirantes, Edinho afirmou ainda que "é preciso fazer no Estado de São Paulo o mesmo que o presidente Lula fez no Brasil". "É hora de os trabalhadores mais uma vez mostrarem sua força. O avanço só depende de nós", finalizou.

Esvaziamento. O que era para ser o ápice da Conclat - a aprovação da Agenda do Trabalhador, documento chave do evento - acabou de maneira esvaziada. Boa parte do público já havia deixado o Estádio do Pacaembu antes mesmo dos discursos dos presidentes das centrais.

"Companheiros, acho que hoje, embora muita gente já saiu do estádio, nós temos que comemorar aqui esta unidade", afirmou Paulinho, na abertura de seu discurso, já no início da tarde.

A fala do presidente da Força foi "mais mansa" - como ele mesmo definiu -, em comparação à do dia anterior, em que aplicou uma saraivada de golpes em Serra diante de uma plateia composta por movimentos sociais, no centro de São Paulo. E saiu admitindo uma multa eleitoral.

Dessa vez, Paulinho concentrou seus esforços "nas vitórias do trabalhador" e "nas negociações com o presidente Lula". "Essa conferência tem um objetivo muito claro de entregá-la (a Agenda da Classe Trabalhadora) aos candidatos à Presidência. Dizia a grande imprensa nacional que iríamos fazer aqui um dia de política. Estamos hoje aprovando uma pauta, de um modelo de Brasil que nós queremos", esquivou-se Paulinho, para em seguida cantar o Hino à Bandeira.

Artur Henrique, presidente da CUT, que disse antes de discursar que "manteria a língua afiada", foi mais incisivo. "O maior desafio é não permitir o retrocesso, que nós tenhamos em nosso País a volta daqueles que foram, os responsáveis pela crise", discursou, citando FHC.

Raio – x

A estrutura da Agenda da Classe Trabalhadora

6 eixos estratégicos

Distribuição de renda e mercado interno

Valorização do trabalho e inclusão social

Estado e desenvolvimento ambiental

Democracia e participação popular

Soberania e integração nacional

Sindicalismo e negociação coletiva

290 propostas

(As principais)

Descriminalizar o aborto

Aumentar o valor dos benefícios sociais

Implantar o imposto sobre grandes fortunas e heranças

Extinguir o fator previdenciário

Garantir que os recursos do pré-sal sejam usados na área social

Dar a trabalhadores participação em agências reguladoras

Fazer a reforma política

Dar direito irrestrito de greve a servidores públicos

Reduzir a jornada de trabalho para 40 horas semanais

UGT, por influência do PPS, fica ausente da festa

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Marcelo Rehder

As divergências político-partidárias dentro das centrais sindicais impediram que a Conferência Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat), realizada ontem no Estádio do Pacaembu, na capital paulista, se transformasse em um ato explícito pró Dilma Rousseff, a pré-candidata do governo Lula à Presidência da República. Embora os organizadores tenham festejado a unidade das centrais, o movimento não foi unânime.

Sob a alegação de que a Conclat seria usada como palanque para fazer campanha em favor da pré-candidata do governo, militantes do PPS e do DEM na União Geral dos Trabalhadores (UGT), presidida por Ricardo Patah, articularam e conseguiram evitar que a central participasse do evento.

Para desespero da direção da UGT, a corrente que apoia a candidatura do tucano José Serra saiu vitoriosa de uma plenária que decidiu pela não participação da central na conferência. Foi a única baixa entre as seis centrais reconhecidas pelo Ministério do Trabalho.

Mas as divisões começaram com a posição da Central Única dos Trabalhadores (CUT), que insistia na ida do presidente Lula e de Dilma Rousseff ao evento. A CUT trabalhou por isso até o fim, mas as divergências entra as centrais acabaram por minar a articulação do presidente da entidade, Arthur Henrique.

"Nem na Força Sindical havia unidade para trazer a Dilma", disse o presidente da central, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho. "A CUT recuou dessa posição e conseguimos fazer um evento puramente sindical".

Para Artur Henrique, da CUT, o fato de a UGT ter ficado de fora não significa que houve racha no movimento sindical. "Somos cinco centrais que reunidas representamos 95% dos trabalhadores associados. A UGT representa só 5%".

O presidente da CUT também afirmou que a unanimidade do movimento sindical não quer o retrocesso, referindo-se à volta do PSDB ao governo federal. "Agora, quem vai ser apoiado pelas centrais, cada uma tem autonomia e vai discutir nas suas instâncias".

Sobrou até para o prefeito Gilberto Kassab (DEM), aliado político de Serra. Sindicalistas se queixaram de que o prefeito havia prometido não cobrar nada pelo uso do Pacaembu, mas no final tiveram de pagar R$ 130 mil.

'Lula pode ser chefe de entidade sindical gigante'

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

ENTREVISTA
Leôncio Martins Rodrigues
, professor titular aposentado da USP e da Unicamp

Guilherme Scarance

A cooptação de entidades sindicais faz parte dos esquemas populistas, diz Leôncio Martins Rodrigues, autor de Destino do Sindicalismo e professor titular aposentado da USP e da Unicamp. "Basta lembrar Getúlio e Perón", afirma o cientista político, lembrando que, no Brasil, nos quadros desse corporativismo criado pela Constituição de 1988, "o Estado sustenta os sindicatos". Ele cita um cenário em que a formação de uma só entidade sindical gigante poderia ter no presidente Lula "o grande chefe".


No ano passado, apenas a CUT embolsou R$ 26,7 milhões originários da partilha do imposto sindical. Como o sr. vê o fato de as centrais, cada vez mais cooptadas pelo governo por meio de repasses oficiais, reunirem uma multidão para um ato com forte conotação político-eleitoral?

A intensa e ampla cooptação de chefias e entidades sindicais por parte do governo não é uma novidade na história política do nosso e de outros países. Faz parte dos esquemas populistas. Basta lembrar Getúlio e Perón. Sindicalismo e política estão sempre próximos. Mas há várias diferenças nesse conúbio. Nos países centrais, frequentemente, eram os sindicatos que financiavam os partidos. O caso do Partido Trabalhista Britânico, criado pela Trade Union Congress (central sindical britânica) é um dos mais paradigmáticos. Os sindicatos sobrevivem pela cotização de seus membros. No Brasil, nos quadros desse corporativismo sui generis criado pela Constituição de 1988, na aparência, o Estado sustenta os sindicatos. Na realidade, legaliza a retirada compulsória dos salários dos trabalhadores do mercado formal de trabalho (sindicalizados ou não) e os repassa às chefias dos sindicatos únicos, quer dizer, a entidades sem concorrência que tem o monopólio da representação. Como o modelo do sindicato único permanece, há uma diferença essencial com relação a outros países: se os sindicatos corporativos vivem da contribuição de todos os empregados de diferentes ideologias, devem representar a todos. Não são sindicatos ideológicos e, portanto, formalmente, não podem apoiar candidatos, participar das disputas partidárias porque arrecadam dinheiro de trabalhadores de variadas posições políticas.

Como o sr. vê a união de CUT e Força em torno da candidatura Dilma? Essa reedição da Conclat tem conotação ideológica ou visa simplesmente a garantir a continuidade dos repasses, das vantagens e da interlocução com o governo federal?

Uma vez que a Força Sindical e a CUT foram adversários históricos, é óbvio que a aproximação entre elas não tem nada de programático ou ideológico. Essa afirmação vale para as outras centrais que eram rivais da CUT. É visível o esforço de seus dirigentes - alguns que já estiveram próximos do PSDB - para se legitimarem perante o PT e serem bem-aceitos pelos cutistas. A forte distribuição proporcional de recursos para todas elas e a ideia da recriação da Conclat fazem pensar num amplo movimento, que poderia ir mais além da "simples" eleição da Dilma e que terminaria na formação de uma só entidade sindical gigante. Lula, já fora da Presidência da República, seria o grande chefe, mais poderoso do que nunca, capaz de cortar qualquer pretensão de independência que sua candidata possa imaginar que teria, caso seja eleita. Seria uma espécie de Perón vindo das classes baixas.

Itamar rejeita vice tucana

DEU NO ESTADO DE MINAS

Ex-presidente ironiza a possibilidade de integrar a chapa do ex-governador paulista, mas lembra que o ideal seria ter um mineiro na vaga. Nome de Jereissati é sugerido

Ricardo Beghini

Com poucas palavras, o ex-presidente Itamar Franco (PPS), que disputa uma das duas cadeiras de Minas no Senado, rechaçou ontem, em Juiz de Fora, a possibilidade de integrar a chapa do tucano José Serra (PSDB), como candidato a vice-presidente da República. “Os serristas podem estar tranquilos, pois não sou e nem serei a pessoa para compor tal chapa”, alfinetou. O nome de Itamar foi lembrando por Aécio Neves (PSDB), em Janaúba, Norte de Minas, na segunda-feira. No mesmo evento, o ex-governador ressaltou, por outro lado, que a escolha de um mineiro como integrante da chapa tucana não deve ser encarada como uma obrigatoriedade.

Itamar deu a entender que conhece as origens da forte resistência que o nome dele enfrenta por parte dos correligionários paulistas de José Serra. O ex-presidente destacou também a importância da presença de um mineiro na chapa encabeçada pelo PSDB. “Entendo que a chapa do ex-governador de São Paulo clama pela mineiridade, que não é uma questão formal nem territorial, mas algo de fundo, que expressa o sentido de ser autêntico”, declarou.

Presidente da República, entre 1992 e 1994, após o impeachment de Fernando Collor (PTB), e governador de 1999 a 2002, o nome de Itamar, de 79 anos, começou a ser cotado para compor a chapa de Serra em dezembro do ano passado, quando Aécio anunciou a desistência de disputar as eleições para o cargo maior da República. Itamar, que até o ano passado ocupava a presidência do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), era um dos maiores entusiastas da candidatura do ex-governador.

O ex-presidente, em outra frente, fazia duras críticas ao tucanato paulista pela demora na definição de um nome para concorrer ao Palácio do Planalto. No início do ano, Itamar chegou a dizer que a oposição ao governo Lula estava correndo risco de perder a disputa por WO. Na época em que Serra e Aécio figuravam como pré-candidatos tucanos, ele também reclamou da postura do paulista, que, segundo ele, atuaria mais nos bastidores, enquanto Aécio jogava abertamente.

O ex-presidente chegou até a alfinetar o governador paulista em relação à paternidade dos medicamentos genéricos. De acordo com ele, a ideia foi de Jamil Haddad, ministro da Saúde de seu governo, que durou 28 meses. Itamar, que estava sem partido desde 2006, se filiou ao PPS em julho do ano passado. A escolha da legenda não ocorreu por acaso. O principal nome do PPS, o deputado federal Roberto Freire, foi líder do governo na Câmara durante a gestão do ex-presidente. Itamar se tornou vice-presidente do partido e defendeu internamente a candidatura de Aécio à Presidência.

Festa e novo ato político marcado para Caruaru

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

O senador Jarbas Vasconcelos (PMDB) decidiu fazer um segundo pré-lançamento da sua candidatura em Caruaru, cidade de sua candidata à vice, a deputada estadual Miriam Lacerda (DEM), esposa do ex-prefeito do município, o vereador Tony Gel (DEM). Será no dia 19, um sábado, com extensa programação. O roteiro ainda está sendo fechado, mas incluirá um ato político, visita ao Alto do Moura e, à noite, Jarbas assistirá aos shows em camarote no Pátio do Forró. Ele retorna ao Recife no domingo (20), para assistir ao jogo Brasil x Costa do Marfim, às 15h30, pela Copa do Mundo.

Antes de festejar o São João como pré-candidato, Jarbas irá a Salvador, no dia 12, para participar da convenção nacional do PSDB, que oficializará a candidatura a presidente da República de José Serra (PSDB). Uma caravana de políticos do Recife viajará para prestigiar o evento. Depois, no dia 18, Jarbas comandará a convenção das oposições (PMDB, DEM, PSDB, PPS) no Clube Atlético de Amadores, em Afogados.

Desde que virou pré-candidato ao governo, há pouco mais de três semanas, Jarbas não para de se movimentar e gerar mídia, voluntariamente ou não, em torno do seu nome. Ele decidiu que disputará o governo sem se licenciar do Senado, cujo recesso é em julho, quando poderá se dedicar mais à campanha em Pernambuco.

“Jogo do empurra” das oposições irrita Jarbas

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Bruno Araújo e Bruno Rodrigues, parlamentares tucanos, se esquivam da indicação ao Senado, o mesmo ocorrendo com Jungmann (PPS), que recebe o apoio do PMN para disputar vaga na Câmara

Cecília Ramos

A escolha do segundo candidato ao Senado na chapa majoritária do senador Jarbas Vasconcelos (PMDB) ao governo do Estado virou um “jogo do empurra”. É tão público e notório que o próprio Jarbas está ciente. Inclusive da última novidade: a deputada Terezinha Nunes (PSDB) foi posta no páreo, ontem, e a especulação foi tratada até no Palácio das Princesas. A postura dos aliados do PSDB – do senador Sérgio Guerra – e do PPS – do deputado Raul Jungmann – de tratarem do assunto via imprensa tem ajudado a fomentar os boatos e, assim, imposto constrangimento a Jarbas. Para completar, a outra queixa velada é a de que Guerra, que desistiu de disputar a reeleição, estaria ausente da pré-campanha do peemedebista.

Jarbas retorna de Brasília para o Recife, hoje à tarde, e terá conversas sobre o tema. A oposição precisa chegar à convenção, no dia 18, com a chapa fechada. Os deputados federais Bruno Rodrigues, Bruno Araújo (ambos do PSDB) e o próprio Jungmann, nomes já cotados para o Senado, estariam se esquivando do chamamento. O único que Jarbas teria conversado pessoalmente foi Jungmann, nome “preferido” da oposição para ocupar a segunda vaga. Os dois negaram, porém, terem trataram do tema. O JC apurou que teria sido apenas estratégia. Jarbas acredita que o perfil do deputado do PPS, ligado às polêmicas e embates, se encaixa com a tarefa de incomodar o adversário central, o governador Eduardo Campos (PSB), já que o senador Marco Maciel (DEM), candidato à reeleição na chapa, tem exatamente o estilo inverso ao de Jungmann.

Na sexta-feira (4), Jarbas terá uma reunião, às 16h, com os dirigentes do PPS e do PMN, na sede desse último partido, no Centro do Recife. O motivo do encontro, segundo o presidente do PMN, Silvio Barbosa, é oficializar o apoio a Jarbas e apresentá-lo aos 23 pré-candidatos a deputado federal do PMN e oito do PPS e aos 68 a estadual das duas legendas. Barbosa informou que também será reforçado que o candidato do PPS ao Senado é o ex-secretário de Saúde Guilherme Robalinho. “Jungmann não pode correr o risco de perder o mandato de deputado, indo para uma eleição arriscada, e o partido ficar no ostracismo”, defendeu Silvio Barbosa.

Por telefone, Raul Jungmann insistiu ontem que disputará a reeleição. “Isso é uma coisa sedimentada, consolidada”. No sábado passado, em almoço na casa do deputado José Mendonça, Jarbas declarou que “o ideal” é que o PSDB indique o segundo nome ao Senado. Mas que se não houver consenso, o candidato sairá, de fato, do PPS.

Mais que desemprego:: Celso Ming

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O desemprego é cruel porque solapa um dos mais importantes valores do homem: a dignidade.

Dezenas de utopias e de arquiteturas sociais foram construídas ao longo dos séculos com o objetivo de imunizar a sociedade dessa praga. Especialmente na Europa Ocidental os governos trataram de prover seus países de mecanismos de contenção dos choques provocados pela falta de trabalho: seguro-desemprego, bolsa-alimentação, previdência social e por aí vai.

Alguns observam que os resultados não são expressivos. Outro jeito de avaliá-los é levar em conta os enormes estragos econômicos, sociais e principalmente políticos que sobreviriam se toda essa estrutura de seguridade social não tivesse sido montada.

Ontem, a Eurostat, o organismo da União Europeia encarregado da elaboração de estatísticas econômicas, mostrou que, em abril, nada menos que 101 entre cada 1.000 cidadãos em atividade na área do euro (16 países) não conseguiram encontrar ocupação remunerada. É a pior situação em 12 anos. (Veja o gráfico.)

Reduzir tudo a efeito natural da atual crise é simplismo. Flagelos assim são como os desastres de avião: sempre têm múltiplas causas. O crescente desemprego no mundo rico foi acentuado pela crise, mas é bem mais do que isso. É o resultado de algumas degradações acumuladas nas últimas décadas: perda de competitividade da indústria, rápido envelhecimento da população, custo elevado da mão de obra, falta de reformas políticas e econômicas.

Paradoxalmente, a crise do desemprego tende a se acentuar pelos fatores que pretendiam atenuar seu impacto. Assim como a antecipação da aposentadoria pretendia abrir vagas aos mais jovens, mas tudo o que produziu foi a deterioração das finanças dos sistemas previdenciários, os mecanismos de seguro social vêm ajudando a criar enormes rombos, que, por sua vez, atiram as finanças públicas ao endividamento e à insolvência (e não apenas à falta de liquidez), como parece ser o caso da Grécia e talvez o de Portugal e Espanha. E aí chegamos a uma situação em que os instrumentos de defesa do emprego criam mais desemprego.

A deterioração da credibilidade do euro é fator que, por si só, contribui para a redução do poder aquisitivo do trabalhador. Não falta quem aposte em que a moeda mais fraca será fator decisivo na virada do jogo, na medida em que proporciona a recuperação da competitividade do produto europeu. Mas essa faca não corta apenas desse lado. Também deteriora o patrimônio dos fundos de pensão e da poupança. Assim, sabota o futuro do trabalhador.

As lideranças políticas europeias não conseguem sair do estado de perplexidade. Como aconteceu nos últimos seis meses, produziram foguetórios retóricos. E, quando tentaram ir além, como quando, em maio, instituíram um bolão de resgate avaliado em ? 750 bilhões (US$ 950 bilhões), não conseguiram convencer ninguém de que os recursos existem.

Alguns vêm advertindo que falta liderança. O problema é que a falta de liderança transparece como sintoma de mal mais profundo: o de que o próprio sistema social-democrata com todo seu aparato de defesa econômica e social já não consegue fornecer respostas rápidas e, sobretudo, eficazes para a crise, seja qual for o nome usado para designá-la.

Com força

Os resultados da balança comercial nos cinco primeiros meses do ano desmentem as apostas dos mais pessimistas. Em 12 meses, as exportações cresceram a um ritmo de 28,7% ao ano. Nada mal para este tempo de crise. E a disparada das importações, de 42,5%, continua refletindo o forte consumo interno.

Sem decepcionar

Os produtos líderes do crescimento exportador são as commodities (minério de ferro, soja e petróleo). Mas não dá para desprezar o resultado apresentado pelos manufaturados: crescimento de 19,4%.

Desconversa eleitoral e estatismo:: Vinicius Torres Freire

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Eleitorado dependente demais de transferências do Estado leva candidatos a esvaziar debate político

Dilma Rousseff deu uma escorregada ontem. Por um breve momento, se traiu. A candidata do PT deixou entrever que tem ideias próprias e sensatas sobre questões de Estado, no caso sobre o futuro da Previdência. Porém, cada vez mais bem treinada, logo voltou a se travestir de candidata e mudou de assunto.

A candidata do PT afirmou, como é óbvio, que o aumento da duração da vida vai, em algum momento, exigir que o tempo de contribuição dos trabalhadores para a Previdência também deva se estender, de modo que seja possível bancar o pagamento dos benefícios de uma aposentadoria também mais longa.

Mas Dilma desconversou a respeito de propor tal mudança em seu eventual governo. Existem quase 22 milhões de aposentados pela Previdência -poderiam nem ser afetados por uma mudança, mas ficariam com medo. Há outros milhões dependentes dos aposentados, com idade para votar, e outros tantos à beira de se aposentar. É muito voto.

O nível de desconversa da campanha eleitoral talvez tenha aumentado devido à democratização e à recente redução da desigualdade de renda. Num país muito desigual, ainda pobre, democrático e urbano, seria muito difícil manter a ordem, a "estabilidade política", e conter a ascensão política de populistas alucinados se não houvesse um regime de Previdência Social como o brasileiro, além do ainda muito precário mas universal e gratuito SUS.

No governo Lula, ficou evidente que é possível incrementar transferências sociais de renda sem haver "falência fiscal" do Estado. Isso também não significa dizer que o ritmo de aumentos das transferências sociais cabe na economia.

Mas, goste-se ou não do lulismo-petismo, o tom da conversa política sobre transferências de renda mudou. Também goste-se ou não, cresceu o número de dependentes do Estado. Mudaram as convicções políticas a respeito das obrigações do governante, chame-se isso de legitimação do assistencialismo ou não.

A desconversa eleitoral não se deve apenas a esse fato, à dependência de milhões de eleitores. A dependência do Estado é um fato social quase total, para fazer ironia com uma expressão de antropólogos. Classes médias, muitas empregadas pelo Estado, e elite também são de certo modo dependentes.

O empresariado não têm lá muita coragem de espinafrar os candidatos em público, para dizer o mínimo. Afora uns "radicais" do mercado financeiro, quase ninguém cobra, à vera, respostas programáticas dos candidatos. Qual o motivo? Brigar com um candidato pode ser brigar com o governo e, claro, com a máquina de favores do Estado.

Quando a grande empresa não é sócia direta de estatais, acerta com o governo suas estratégias de crescimento, "orgânico" ou por meio de fusões e aquisições. Tal processo ganha formas diferentes a cada período, mas a intimidade público-privada não morre. Tenha sido por meio de subsídios e proteção tarifária no "desenvolvimentismo", tenha sido na reordenação da propriedade por meio da privatização e do apoio do BNDES sob FHC. Seja por meio do gigantismo do BNDES e na criação dos supergrupos nacionais dos anos Lula.

Decerto Lula tornou mais ampla a "aliança" Estado-empresa. Mas não inovou, no mérito.Em suma, estatizamos a desconversa política eleitoral.

O QUE PENSA A MÍDIA

EDITORIAIS DOS PRINCIPAIS JORNAIS DO BRASIL
Clique o link abaixo

Quem Sabe - Canção de Carlos Gomes - Nunno Dellalio

NÃO HÁ VAGAS : Ferreira Gullar


O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão

O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras

- porque o poema, senhores,
está fechado:
"não há vagas"

Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço

O poema, senhores,
não fede
nem cheira