terça-feira, 1 de junho de 2010

Reflexão do dia – Alberto Aggio


Democrazia e cosmopolitismo in Antonio Gramsci se insere numa perspectiva de leitura do pensador italiano que visa recuperar não somente a sua vitalidade, mas efetivamente sua atualidade. Baseado em investigações pontuais solidamente apresentadas e densamente documentadas, o que se registra aqui é um Gramsci liberto do “gramscismo” que marcou sua difusão e assimilação mundial, mas muito distante de um improvável reencontro com o “obreirismo” dos anos de combate, que marcou o “conselhismo” do início de sua trajetória como dirigente político. É, efetivamente, um Gramsci também distante do “altermundismo” como forma de expressão do antagonismo social, sem a mediação da política. O Gramsci que Izzo nos apresenta e sobre o qual nos convida a refletir é aquele que indica uma percepção própria da democracia, qual seja, a de “uma possibilidade inscrita na morfologia do moderno”; e este último concebido como um campo “aberto a formas de subjetividade não integralmente previsíveis e jamais definitivas”.


(Alberto Aggio, no artigo, “Gramsci entre Marx e Maquiavel”, publicado no site Gramsci e o Brasil)

Transferência de votos:: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

A vitória, na Colômbia, do candidato governista, Juan Manuel Santos, com mais do dobro dos votos do segundo colocado, o candidato do Partido Verde, Antanas Mockus (47% contra 21,5%), trouxe novamente para o primeiro plano político a discussão sobre a capacidade de transferência de votos de um líder político.

Como aqui no Brasil, onde Lula tem até 80% de aprovação, também na Colômbia o presidente Álvaro Uribe tem o mesmo nível de popularidade e, pelas pesquisas de opinião, até uma semana antes da eleição, parecia não estar conseguindo transformar em votos para seu candidato esse enorme prestígio popular.

As pesquisas, que indicavam empate entre os dois candidatos, erraram clamorosamente como se viu, mas este não é um ponto comum com as nossas eleições.

Domingo, logo que o resultado oficial foi proclamado na Colômbia, participei no Jornal das Dez, da Globonews, de um debate sobre os resultados, em que o professor de Relações Internacionais da UFRJ Marcelo Coutinho chamou a atenção para a diferença entre os institutos de pesquisas dos países andinos e os nossos.

Segundo ele, em geral, as pesquisas nos países andinos erram muito. Erraram nas eleições peruanas, bolivianas, equatorianas. Costumam ter uma margem de erro superior à dos institutos de opinião brasileiros ou chilenos, que são de melhor qualidade. A razão é a dificuldade de chegar a alguns recantos do país, especialmente no interior.

Outro erro grave foi o do terceiro colocado, Germán Vargas Lleras, que recebeu 10% dos votos e aparecia em quinto ou sexto lugar nas pesquisas eleitorais de uma semana antes da eleição.

Já o cientista político Alberto Carlos Almeida, do Instituto Análise, aponta outra razão para os erros dos institutos de pesquisa.

Com o voto facultativo, eles não conseguem prever quem vai e quem não vai votar, aumentando assim a margem de erro. O voto na Colômbia não é obrigatório, mas a abstenção de 45% acontecida na eleição de domingo está dentro da média histórica.

O candidato do Partido Verde, Antanas Mockus, disse na campanha que as políticas sociais do presidente Lula servirão de base para sua atuação, caso se eleja.

O professor Marcelo Coutinho comenta que, embora Mockus se espelhe em Lula, disse em outro momento da campanha que simpatizava com o tucano José Serra.

Ele é de uma vertente socialdemocrata que o aproxima de lideranças de esquerda que defendem uma maior intervenção do estado.

Chegou a dizer que é favorável ao aumento da carga tributária na Colômbia para apoiar políticas públicas.

O interessante é que essa vitória do candidato do presidente Álvaro Uribe é boa para a tese de Lula de que a popularidade se transforma em votos, mas ele e o PT estavam torcendo pela vitória de Mockus.

Assim como Chávez, da Venezuela, que anunciou seu apoio ao candidato do Partido Verde da mesma maneira que fez com a candidata petista Dilma Rousseff.

O professor Marcelo Coutinho destaca que Mockus conseguiu 21% dos votos, e, em 2006, a oposição, liderada pelo Polo Democrático Alternativo, teve os mesmos índices, o que demonstra que não houve um aumento do número de oposicionistas.

Uma característica da eleição colombiana foi que, dos nove partidos que lançaram candidatos à Presidência, apenas um se diz de esquerda, todos os outros são de direita.

É justamente o Polo Alternativo Democrático, que hoje está, junto com os partidos Conservador e Liberal, fora do centro político depois de terem dominado a política colombiana por muitos anos.

Por isso, Coutinho destaca como fator decisivo da vitória de Santos, além da popularidade de Uribe, a hegemonia do grupo político conservador, que vai além do próprio Uribe.

Juan Manuel Santos tem uma história política que remonta ao ex-presidente Andrés Pastrana, de quem foi ministro da Fazenda. Esse grupo está há muitos anos no poder, e há uma hegemonia conservadora na Colômbia.

Esta seria uma diferença fundamental em relação à candidata de Lula, que não tem tradição política, nem mesmo dentro do PT.

E nem está ligada aos pontos de sucesso do governo Lula, embora ele tente transformar o PAC em um sucesso, e fazer de Dilma a responsável por tudo em seu governo.

Outra diferença básica é que, na eleição brasileira, todos os candidatos principais são de esquerda.

Mas a maioria do eleitorado brasileiro se declara de direita ou no máximo de centro, como demonstrou uma pesquisa do Datafolha. Nada menos de 37% das pessoas se dizem entre a centro-direita e a extrema-direita. E só 20% entre a centro-esquerda e a extrema-esquerda.

Dos eleitores de Dilma Rousseff (PT), 35% se dizem de direita, 26% de esquerda e 16% de centro. No caso de José Serra (PSDB), há 43% de direita, 17% de esquerda e 18% de centro.

A transferência de votos de um presidente popular, como Lula ou Uribe, estava em xeque depois de outra eleição envolvendo um presidente popular, Michele Bachelet, do Chile, que não conseguiu eleger seu candidato.

No Chile, porém, Bachelet não se meteu na campanha no primeiro turno, e quando decidiu pedir votos para seu candidato no segundo turno, Eduardo Frei subiu com força e ficou somente a dois pontos de distância de Sebastião Piñera no placar final.

Na Colômbia, Uribe tem feito campanha à beça, e, no Brasil, Lula está empenhado na eleição de Dilma Rousseff, ressalta o cientista político Alberto Carlos Almeida.

Outra semelhança entre a eleição da Colômbia e do Brasil é que em ambos os pleitos os dois presidentes estão disputando um terceiro mandato por intermediários.

Uribe só não disputou diretamente por que o Supremo proibiu. Lula não chegou a pleitear formalmente continuar no poder, mas está tentando convencer seus seguidores de que Dilma será ele no governo novamente.

Debate interditado:: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Pesquisa do Instituto Datafolha publicada no domingo sobre a opinião do eleitorado a respeito do voto obrigatório registra um fato interessante: 48% dos eleitores brasileiros estão satisfeitos com o atual sistema e 48% gostariam que o voto fosse facultativo.

Na última pesquisa, de 2008, 53% eram a favor do voto obrigatório e 43% defendiam o facultativo. Quer dizer, cresce, e de maneira nada desprezível, o apoio da população ao fim obrigatoriedade do voto.

No mínimo, portanto, o assunto está a merecer alguma atenção por parte dos partidos, das entidades civis, dos candidatos às eleições presidenciais ou de quem quer se ofereça para, de forma organizada e com capacidade de mobilização, tirar o tema do limbo do qual é prisioneiro.

E qual a razão de um assunto como esse, de óbvio potencial de interesse público, nunca ser discutido nem servir como ponto de partida para um debate sobre reforma política feita sob a ótica da sociedade?

Pelo que se vê e ouve por aí, mitificação e, no caso dos políticos, paúra de perder reserva de mercado. A última vez que o tema esteve em discussão de maneira ampla e organizada foi na Assembleia Nacional Constituinte.

Perdeu de lavada. À esquerda e à direita (como rezava a divisão nítida da época), os partidos rejeitaram a mudança.

Os motivos?

Basicamente os seguintes: é preciso educar o povo que ainda não está preparado para a não obrigatoriedade. O voto facultativo levaria a uma enorme abstenção que retiraria a legitimidade do resultado das eleições, excluiria os pobres. Ademais, o voto obrigatório é indispensável instrumento para o aperfeiçoamento da democracia.

Há muita gente, não só políticos, que concorda e repete o arrazoado, não obstante a ausência de comprovação de quaisquer das assertivas.

Ainda que estejam certas é preciso em algum momento tirá-las do conforto da inércia para levá-las à arena do contraditório.

A obrigatoriedade do voto assegurou alguma melhoria à democracia? Quem julgará em que momento o povo estará suficientemente educado para escolher se vota ou não vota? E por que, das mais de 230 nações do planeta, estariam certas as menos de 30 que adotam o voto obrigatório?

Lei e realidade. O ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, agora atuando na defesa do presidente Lula e do PT, acha que as multas já aplicadas pela Justiça Eleitoral foram injustas, porque os programas dos partidos não têm natureza educativa.

"São programas de propaganda política. São para dizer o que o partido fez e comparar com o que o seu opositor fez", argumenta.

Ocorre que os programas são destinados a propaganda partidária e o sistema é pluripartidário. Logo, a figura do "opositor" só existe em situação de disputa, o que caracteriza o uso eleitoral.

Thomaz Bastos não é o único entre os advogados atuantes nas campanhas a defender a adaptação da lei à "realidade". A oposição também vai por essa linha.

Daí a opção pelo uso dos programas partidários como propaganda eleitoral do pré-candidato José Serra.

A partilha. Do ponto de vista da lógica interna dos nichos de poder no partido, para o PMDB vale mais o Maranhão que Minas Gerais, cujo valor político é inestimável para o PT.

No Maranhão a família Sarney joga a manutenção do mando no feudo. Já disputar o governo de Minas representa para os petistas a última chance de conquistar um Estado relevante.

Mas o PMDB não aceita fazer a divisão de interesses no meio termo. O acordo nacional é claro: empresta seu apoio ao PT para a conquista da Presidência em troca do restante do País.

Se o PT ganhar o Planalto, o PMDB é parceiro nessa vitória, elege boa leva de governos estaduais e ainda domina as representações da Câmara e do Senado.

Se perder o Planalto, o PT fica praticamente sem nada; o PMDB pode até eleger menor quantidade, mas sempre terá um bom colchão de governadores, deputados e senadores para continuar sendo um partido muito influente. Joga sem risco.

Mais problema do que solução:: Wilson Figueiredo

DEU NO JORNAL DO BRASIL

Quem trouxe à baila, com senso de oportunidade, a questão relativa aos candidatos a vice, cuja escolha não pode mais ser adiada sob pena de trazer consequências imprevisíveis, foi o (pré) candidato José Serra, que em tom de desabafo reconheceu que o melhor companheiro de chapa, pelo menos no que lhe diz respeito, é aquele que aporrinhar menos. Foi na mosca. Os pretendentes formam um enxame e, quando chega a estação eleitoral, não há repelente que os disperse.

Vice dá trabalho. Antes, durante e depois de aprovado. Nem é por falha pessoal, mas pela própria distância entre a aparência e a impaciência que possa movê-lo tendo em vista apenas dois mandatos seguidos. A própria palavra vice, tal e qual, deve ter alvoroçado Roma no seu auge, ela define de modo restritivo a função de uma pessoa que substitui outra na expectativa da oportunidade. O sentido original, em latim, implica também a expectativa de vir a ser. Vice tem a ver com vez, oportunidade, alternativa, sucessão. Entra na composição de muitas expressões que fazem parte do dia a dia universal. Por natureza, vice com ampla variedade de aplicações frequenta vida militar, civil, política, eclesiástica. É inesgotável sua aplicação, e não falha no que depender da natureza humana (na maioria das vezes, o vice não dignifica a função).

Às exceções compete confirmar as regras: não existe vice do papa, que com isso se poupa de muitos aborrecimentos, assim na terra como no céu. Como José Serra acaba de dizer em bom português, o melhor vice é o que menos aporrinha, e não só na expectativa de ganhar a função ociosa. Em bom português, aporrinhar vem a ser o que chateia para ser escolhido e, daí por diante, se for premiado, sustenta uma incógnita. Titular e vice são unidos pela desconfiança recíproca.

Ninguém pode dizer que tenha ouvido falar de vice-ditador. Melhor não tê-lo do que se aborrecer e se arrepender por não contê-lo. Getulio Vargas, nos áureos tempos, dispensou os préstimos formais dos vices. Serra considera que o melhor vice vem a ser o menos insistente. Uma sombra como o senador Marco Maciel era em relação a Fernando Henrique, de quem foi vice para ninguém botar defeito, exatamente pelo dom de apagar-se diante do Sol. Talvez nem ele se lembre.

A evidência de que vice é mais problema do que solução é que esta já é a mais inutilmente prolongada campanha pré-eleitoral da República, e até agora não há ninguém garantido.

Mesmo porque vices não passam pelo crivo das pesquisas de opinião. São avaliados no olho e no currículo ético. Além do mais, há um cuidado sobrenatural no trato do assunto, porque a fama de azarado é incurável. Bem fez a monarquia que, mesmo sobrevivendo por amostragem, não recorre a votos para resolver questão de família.

No dia em que o espírito republicano, sem apelar para golpes de Estado (abaixo da cintura), enxotar da Constituição o vice, que é o apêndice da democracia, valerá por uma operação preventiva de apendicite. Nunca mais se registrarão os problemas correlatos. Um vice-presidente, para manter tudo no plano das ideias e no mais alto nível, não gera em língua portuguesa uma peça teatral com sotaque shakespeareano. Só um novo Nelson Rodrigues situaria nossos vices no seu devido nicho.

A diferença entre o governante eleito e o ditador, no caso do vice-presidente, resolve-se democraticamente com a supressão do vice. Ponto para ditador, que não quer uma Vice-Presidência para tirar-lhe o sono. As crises entram em cena por intermédio dos vices, que começam a aporrinhar muito antes de se elegerem, montados na garupa do candidato a presidente. Além do mais, a democracia acaba desqualificada pela dispensa de votos próprios, sem os quais o vice chega ao poder pela porta dos fundos. Quando tinham votos, nem por isso a democracia se sentiu em casa, na sua passagem por aqui entre 1946 e 1964, por ocasião da crise final do governo Vargas: o presidente e o seu vice (pelas razões que pedem desculpas por manterem silêncio em respeito ao presidente e sem desrespeito ao vice) mudaram o curso da História do Brasil. O resto não precisou esperar.

Nao Enche - Caetano Veloso

Dossiê abre crise na campanha de Dilma

DEU EM O GLOBO

Depois do escândalo dos aloprados do PT na campanha de 2006, quando tentaram comprar um falso dossiê contra o tucano José Serra, agora é a campanha de Dilma Rousseff que está às voltas com uma suposta nova tentativa de atingir Serra: desta vez, o alvo seria a filha do tucano. A crise expõe ainda uma briga de poder no comando da campanha de Dilma.

No rastro de novos "aloprados"

Campanha de Dilma entra em crise após descoberta de suposto dossiê contra Serra

Gerson Camarotti, Maria Lima, Jailton de Carvalho e Roberto Maltchik

BRASÍLIA - O comando da campanha presidencial da petista Dilma Rousseff trabalhou nas últimas horas para tentar abafar uma crise que poderia ter consequências explosivas.

No meio de uma disputa interna de poder, entre o grupo do ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel e o do deputado estadual Rui Falcão (SP), foi abortado um suposto dossiê, cujo alvo principal seria Verônica Serra, filha do pré-candidato tucano, José Serra.

Na campanha de 2006, petistas comandaram a tentativa de compra de um falso dossiê contra o mesmo Serra, que disputava o governo de São Paulo, no caso que ficou conhecido como o escândalo dos aloprados do PT — como os petistas presos com quase R$ 2 milhões em dinheiro vivo para comprar o suposto dossiê foram chamados pelo presidente Lula.

Agora, a suposta elaboração e circulação de um dossiê contra a filha de Serra pôs em situação delicada o jornalista Luiz Lanzetta, sócio da Lanza Comunicação, empresa contratada pela campanha de Dilma. Reportagem da revista “Veja” desta semana revelou que houve uma tentativa, que teria partido do grupo de Lanzetta, de montar na campanha do PT um esquema de espionagem de adversários e até de correligionários.

Ao GLOBO, integrantes da campanha de Dilma confirmaram a queda de braço entre Pimentel e Rui Falcão, mas negaram o esquema de espionagem.

Pimentel teria sido o responsável pela contratação de Lanzetta, que conheceu em 2008, por meio do deputado Virgílio Guimarães (PT-MG), durante a campanha de Márcio Lacerda (PSB) para a prefeitura de Belo Horizonte.

Empresa é investigada pelo TCU e pela CGU

Na ocasião, Lanzetta trabalhava em parceria com o empresário Benedito Oliveira Neto, da Dialog, uma empresa de eventos de Brasília investigada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e pela Controladoria Geral da União (CGU) por participação em licitações suspeitas. Esse é outro motivo de desconforto no comando da campanha do PT.

Benedito se tornou uma figura frequente na mansão do QI 5 do Lago Sul, onde está instalado o bunker de comunicação e internet da campanha de Dilma — diante da crise dos últimos dias, cogitou-se, inclusive, desmontar a casa.

Bené, como é conhecido, ganhou projeção nacional e chamou a atenção da Justiça em fevereiro de 2009, depois de faturar R$ 1,2 milhão do Ministério das Cidades para organizar um encontro de prefeitos com o presidente Lula.

A assessoria de Dilma negou ontem a participação de Bené na campanha. Informou que o aluguel da casa foi feito pela Lanza e pela Pepper Comunicação. E que todas as passagens aéreas de especialistas americanos em internet que assessoraram a campanha foram pagas pelo PT. O marqueteiro americano Scott Goodstein teria estado antes no país com passagens pagas por Benedito, mas a assessoria de Dilma diz que isso não foi de responsabilidade do partido.Em relação à elaboração do suposto dossiê contra a filha de Serra, a assessoria afirmou que Dilma não tem conhecimento disso.

— Bené é sócio de Lanzetta (em outra empresa).

Os dois trabalharam juntos na campanha do Márcio Lacerda. Foi quando o Pimentel os conheceu.

Essa casa não é a mansão do PT; foi alugada pela empresa de comunicação. E Bené não é Marcos Valério. Além disso, o pai dele tem a maior gráfica do Centro-Oeste — disse Virgílio.

O clima entre os petistas é de desconfiança mútua entre os grupos de Falcão e de Pimentel.

Oficialmente, Falcão é o coordenador de comunicação da campanha, mas ainda estaria tentando assumir, de fato, a função. Ele tenta emplacar na equipe Valdemir Garreta, que foi secretário de Marta Suplicy na Prefeitura de São Paulo.

— Minha empresa (SX Comunicação) já dá apoio ao PT nacional. Antes mesmo de o Rui ir para a campanha. Não há atrito com Lanzetta, isso é ruído de comunicação — disse Garreta.

Além da disputa por poder, preocupa os estrategistas do PT a presença de Bené no entorno da campanha de Dilma. Relatório preliminar da CGU confirma irregularidades em contrato do Ministério das Cidades com a Dialog Comunicação. Entre as supostas ilegalidades descobertas por auditores estão o pagamento por serviços não executados e prorrogação indevida do contrato. No fim do ano passado, a CGU cobrou explicações sobre as supostas irregularidades e recomendou a imediata suspensão do contrato com a Dialog.

A partir das respostas do ministério, a CGU fará o relatório definitivo. O contrato já está suspenso.

O TCU também determinou a suspensão da ata que amparava contratos sem licitação da Dialog com outros órgãos do governo federal.

Pelas investigações da CGU, a Dialog ofereceu preços abaixo do custo para ganhar a licitação no Ministério das Cidades. Depois de firmado o contrato, teria usado de artifícios para recupera o prejuízo e ampliar as margens de lucro. A prática seria conhecida com “jogo de planilhas”. Entre os indícios de irregularidades estão “aceitação e contratação de proposta com preços manifestamente inexequíveis”, diz trechos do relatório da CGU a que o GLOBO teve acesso. O relatório informa ainda que o ministério atestou e pagou “por serviços não executados”.

Fundada em 2004, a Dialog desenvolveu rapidamente uma importante e lucrativa relação com o governo. Dois anos depois da sua criação, deu os primeiros passos em contratos firmados com os ministérios das Cidades e da Cultura no valor de R$ 15 mil. Um ano mais tarde, a empresa já faturava mais de R$ 6,5 milhões em serviços prestados a órgãos públicos. Em 2008, o faturamento quadruplicou: 26,6 milhões. O ano decisivo para a Dialog foi 2009. A empresa quase dobrou seu faturamento e alcançou contratos de serviços terceirizados na ordem de R$ 42 milhões.

Neste ano, apesar dos contratos suspensos, a Dialog recebeu R$ 1 milhão dos Ministérios da Cultura e Cidades. Procurado pelo GLOBO, Benedito não retornou ao pedido de entrevista

PT e PMDB brigam e não entram em acordo sobre palanques nos estados

DEU EM O GLOBO

Diante de impasse em Minas, peemedebistas ameaçam adiar convenção nacional

Maria Lima

BRASÍLIA. Pegou fogo a reunião do conselho político da campanha da pré-candidata do PT, Dilma Rousseff, ontem à noite. Foi a reunião mais tensa desde a criação do conselho, do qual participam representantes dos partidos aliados. Com trocas de farpas e discussão acirrada, os peemedebistas avisaram que não abrem mão da candidatura do senador Hélio Costa a governador de Minas. E disseram que, se a chapa com o apoio do PT não for definida até dia 7, a convenção nacional do PMDB para formalizar a coligação para apoiar Dilma, prevista para o dia 12, pode ser adiada.

Na presença do ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, todos reclamaram também da lentidão na liberação de recursos de convênios e emendas. O PMDB foi com um time de peso composto pelo senador Renan Calheiros(AL), os deputados Eunício Guimarães (CE), Eduardo Cunha (RJ) e Antonio Andrade (MG), presidente do diretório do PMDB mineiro.

O caso de Minas foi o mais difícil, mas, segundo um dos presentes, ficaram sem solução os impasses do Pará, do Paraná e do Ceará. Antonio Andrade disse que os diretórios do PT e PMDB mineiros vão fazer uma última tentativa de acordo em reunião domingo. Mas, se não houver decisão, o caso será resolvido em Brasília, dia 7. Tanto para o comando do PT quanto do PMDB, o ex-prefeito Fernando Pimentel é quem está impedindo a solução do impasse.

“Sem solução, pode nem haver convenção” Os peemedebistas presentes jogaram duro e ameaçaram adiar a convenção.

— Minas é um problema sério.

Sem solução, pode nem ter convenção — ameaçou um dos peemedebistas presentes.

— Patrus, que tem 48% do diretório do PT mineiro, está calmo.

Mas Pimentel, que controla 52%, está tensionando muito — admitiu o presidente do PT, José Eduardo Dutra, segundo um dos presentes.

Antonio Andrade disse que ficou combinado que seriam feitas duas pesquisas qualitativas e quantitativas, pelos institutos Ibope e Sensus, para ver quem teria mais condições de disputar o governo: Hélio Costa ou Pimentel.

E que o PT prometeu respeitar o resultado.

— É só cumprir o combinado.

Quem não cumprir, estará rompendo o acordo — disse.

Mas Cunha afirmou que, independentemente das pesquisas, o PMDB não abrirá mão da candidatura de Costa em Minas: — A pesquisa é para ajudar o consenso, mas não mudamos nossa posição de manter o Hélio.

E, se não resolver isso até a convenção, podemos adiá-la.

Outro ponto de atrito foi com Eunício Guimarães, desta vez por causa de outro Pimentel, o ex-ministro da Previdência. Dutra e Padilha teriam sinalizado que vão manter a indicação de José Pimentel na chapa do governador Cid Gomes para o Senado, o que inviabilizaria a indicação de Eunício.

— Não tem esse negócio do Cid Gomes escolher o candidato ao Senado — teria dito Dutra.

Eunício então perdeu a paciência, segundo relatos.

— Sempre ajudei o PT. Em 2006, abri mão de ser candidato e depois ajudei a eleger a Luizianne Lins. Agora chegou a vez de o PT me ajudar — reagiu Eunício, que teve de ser acalmado pelo senador Gim Argelo (DF).

Na reunião , segundo o deputado Sandro Mabel (PR-GO), se discutiu arranjo para abrigar o senador Marcelo Crivella (PRBRJ) na chapa do ex-governador Anthony Garotinho. Sem espaço com o governador Sérgio Cabral, a saída seria a composição com Garotinho para garantir a legenda com o PR.

Na reunião, os integrantes do Conselho Político da campanha de Dilma praticamente jogaram a toalha em relação a possibilidade de o PP formalizar o apoio a Dilma e lhe garantir mais de um minuto no tempo de TV. A esperança era que, com a subida da pré-candidata nas pesquisas, o partido se decidisse. Mas o ex-líder Mário Negromonte jogou um balde de água fria nessa pretensão. Disse que o partido ainda estava fazendo consultas, e que sequer tinha marcado convenção nacional. Segundo Eduardo Cunha, apesar de Negromonte defender a coligação com Dilma, ele não tem capilaridade no partido

Procuradoria pede que Lula seja multado de novo

DEU EM O GLOBO

Parecer recomenda ainda que Dilma e Força Sindical sejam punidas

Carolina Brígido

BRASÍLIA. A vice-procuradorageral eleitoral, Sandra Cureau, enviou ontem dois pareceres ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) recomendando punição com pagamento de multa ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, à précandidata Dilma Rousseff, à Força Sindical e ao presidente da entidade, Paulo Pereira da Silva, por propaganda eleitoral antecipada durante as comemorações do Dia do Trabalho. Os pareceres servirão para auxiliar o tribunal no julgamento de três representações ajuizadas pelo DEM.

Se os ministros concordarem com o partido e com o Ministério Público, será a quinta multa imposta a Lula só neste ano.

Em uma das representações, o DEM acusa Lula de ter usado para fins eleitorais o pronunciamento oficial veiculado em cadeia nacional de rádio e TV para o 1ode Maio. Sandra Cureau afirmou que não houve menção explícita às eleições ou a Dilma. Segundo relata a procuradora, Lula falou sobre a importância da continuidade das realizações do governo atual, o que caracteriza propaganda eleitoral. A procuradora não recomendou aplicação de multa a Dilma, pois não foi comprovado que a candidata tinha conhecimento prévio do pronunciamento.

Oposição quer que Planalto devolva R$ 3 milhões de viagens com Dilma

DEU EM O GLOBO

Partidos acionarão MP e TSE por ressarcimento de verba

Maria Lima

BRASÍLIA. O PPS e os demais partidos que apoiam o tucano José Serra devem acionar o Ministério Público Eleitoral e o Tribunal Superior Eleitoral para pedir a devolução, aos cofres públicos, de R$ 3.052.870,94 que o Planalto informou ter gastado com 26 viagens da ex-ministra Dilma Rousseff país afora. A oposição afirma que, embora fossem eventos oficiais de governo, as viagens foram usadas para promover a presidenciável petista.

Entre essas viagens está a caravana liderada pelo presidente Lula para levar Dilma a vistoriar as obras de transposição do Rio São Francisco, ano passado. Os gastos foram reconhecidos em documento da Casa Civil, assinado pela ministra Erenice Guerra, em resposta a requerimento de informações do deputado Raul Jungmann (PPS-PE).

As viagens que constam do levantamento da Casa Civil repassado ao deputado ocorreram entre 1ode setembro de 2009 e 19 de fevereiro de 2010, quando Dilma ainda era ministra.

Segundo o PPS, os gastos podem ultrapassar os R$ 3 milhões declarados, já que a Casa Civil revelou apenas os gastos com alimentação, diárias, hospedagens, serviços de telecomunicações, de apoio logístico e de locomoção de veículos terrestres. Não foram contabilizadas despesas com combustível das aeronaves, locação de veículos aéreos e custo estimado por convidado de cada evento.

A Casa Civil argumenta que essas informações são de responsabilidade de outros órgãos, como o Comando da Aeronáutica e o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência.

Para Jungmann, fica evidente que as multas aplicadas pelo TSE não fazem justiça ao que teria sido utilizado irregularmente para promover a ministra como candidata.

— Esse documento de Erenice Guerra é a prova cabal da utilização da Presidência da República e da Casa Civil para a promoção indevida e ilegal, com dinheiro público, da candidataministra Dilma Rousseff. E esses R$ 3 milhões na verdade não são nem 10% do custo total dos gastos feitos — disse Jungmann.

Serra critica falta de infraestrutura

DEU EM O GLOBO

Tucano mira no projeto de energia, e evita perguntas sobre educação

Flávio Freire

SÃO PAULO. Ao mesmo tempo em que fez fortes ataques à condução de políticas do governo federal nas mais diferentes áreas, o pré-candidato do PSDB à Presidência, José Serra, evitou debater um dos temas mais críticos de sua gestão como governador paulista: a educação. Depois de criticar a “alta carga tributária e as maiores taxas de juros entre os países emergentes”, de bater forte no projeto de energia — tendo como alvo direto sua adversária, a ex-ministra de Minas e Energia e précandidata do PT, Dilma Rousseff —, o tucano disse que não estava ali (no evento Exame Fórum — A Construção da 5 aMaior Economia do Mundo), para falar sobre educação.

— Pergunte ao secretário ou ao governador — disse Serra a um jornalista, em entrevista.

Serra foi firme principalmente ao reclamar da infraestrutura nacional, diante de uma plateia de 500 empresários.

— O Brasil bate hoje recorde mundial. Tem os juros mais altos do mundo, a carga tributária mais alta dos países emergentes e a menor taxa de de investimento governamental.

Sem poupar a condução da economia pela administração do presidente Lula, Serra disse que hoje o país, na esfera federal, tem um investimento governamental menor que os de municípios e estados.

— O investimento governamental no país é de 3% de suas receitas, enquanto os municípios investem 7,3% e os estados, mais de 9%. O esforço é feito mais pelos estados e municípios, com 70% a mais que a média do investimento governamental na esfera federal.

Embora não tenha citado o nome, Serra deixou claro que estava mirando na área elétrica e, assim, atingindo a atuação de Dilma no governo.

— Grandes empresas hidrelétricas têm suas concessões vencendo em 2015, e não se faz nada. O caso da energia é gritante.

Vamos ter expansão na oferta de 2012 a 2016. E 60% vão ser de energia suja. Não se investe na economia de energia, que rende muito. As metas apresentadas são modestíssimas.

Não há um planejamento na área do gás, por exemplo.

Serra também atacou a política externa do atual governo.

— De 2002 para cá, já foram assinados mais de cem acordos de livre comércio, e o Brasil assinou um só.

Ao falar sobre educação, voltou a prometer bolsa-manutenção na área de cursos profissionalizantes para quem recebe o Bolsa Família. Serra ainda deu um tom político ao atacar o loteamento no atual governo: — No meu governo, nunca tivemos loteamento de cargos.

O que acontece no governo federal é gravíssimo. No caso da Anvisa, tinha um candidato do PT que foi para lá e agora vai concorrer a deputado. Esse tipo de coisa perverteu as agências reguladoras.

Centrais declaram guerra contra Serra

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Roberto Almeida

O deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho da Força, presidente da Força Sindical, e Artur Henrique, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), partiram para o ataque contra o pré-candidato tucano José Serra e devem repetir a dose no principal evento do sindicalismo brasileiro deste ano, marcado para hoje em São Paulo.

São esperadas 30 mil pessoas de cinco centrais sindicais - Força, CUT, CTB, CGTB e Nova Central - no Estádio do Pacaembu para a assembleia da Conferência Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat), reedição da reunião de 1981 que marcou a união do sindicalismo no País pela redemocratização. Dessa vez, porém, a união é pela continuidade do governo Lula elegendo a petista Dilma Rousseff.

O "aquecimento" para a Conclat foi ontem, na assembleia da Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS), composta por CUT, UNE, MST e outras 25 entidades ligadas ao movimento negro, LGBT, entre outros.

Paulinho chegou a ser vaiado quando subiu no palco da quadra do Sindicato dos Bancários, no centro da capital paulista. A Força Sindical, entidade que preside, não faz parte da CMS.

Mesmo assim, o deputado empunhou o microfone e assumiu a artilharia contra Serra, indiferente à Lei Eleitoral e às punições por campanha antecipada.

No bombardeio sobre a candidatura tucana, Paulinho - que tratou o pré-candidato a todo momento como "sujeito" - disse que Serra, se eleito, "vai tirar os direitos do trabalhador". "Vai mexer no Fundo de Garantia, nas férias, na licença-maternidade. Por isso, temos de enfrentá-lo na rua para ganhar dele aqui em São Paulo", afirmou.

"Se a gente não falar fica aí esse sujeito tentando ganhar a eleição. Eu estou falando, e vou falar o nome. Nós não podemos deixar esse José Serra ganhar as eleições. Nós estamos falando e não tem jeito. Eles podem processar e nós vamos falar", atacou o deputado pedetista, para uma plateia de 2 mil militantes.

Paulinho já foi processado quatro vezes por campanha antecipada e foi punido em duas, com multa total de R$ 15 mil. "Por quê? Porque estamos falando a verdade", justificou.

Na saída do evento, perguntado sobre a possibilidade de uma nova multa, admitiu: "É, tomei mais uma hoje." Em relação ao Conclat, contemporizou. "Amanhã (hoje) vamos baixar o tom."

"Tapetão do Judiciário". O presidente da CUT, que discursou após Paulinho, saudou a militância com um "bom Dilma". Ele manteve o tom agudo contra Serra e confirmou a indiferença sobre a Justiça Eleitoral. "O que eles (PSDB e DEM) estão tentando fazer é inviabilizar a candidatura democrática-popular (de Dilma) no tapetão do Judiciário", disse.

Para Artur Henrique, os oposicionistas "têm todos os veículos de comunicação na mão, mas não estão conseguindo convencer porque não têm projeto". E citou o que considera uma "tentativa de golpe" contra Lula, fazendo uma referência à crise do mensalão em 2005. A CUT, em texto publicado em seu site, considera a imprensa "o maior partido de direita do País".

Postura anti-Serra. Mesmo sem apoiar formalmente Dilma na corrida eleitoral, a CMS - representada pela dirigente da União Brasileira de Mulheres (UBM) e ex-presidente da UNE, Lúcia Stumpf - afirmou ontem que a postura dos movimentos sociais será anti-Serra. "Desde 2003 nós temos reafirmado posição contrária à volta do PSDB e do DEM ao poder no País", declarou .

BONDADES DO GOVERNO LULA SEDUZEM SINDICATOS

Salário mínimo
Acordo de reajustes até 2023, indexando o aumento da inflação mais a variação do PIB. Em dezembro passado, acordo reajustou o mínimo em R$ 510,00

Imposto de renda
Acordo para correção da tabela do Imposto de Renda, que estava estagnada

Legalização das centrais
Senado aprovou projeto que legalizou centrais sindicais, que passaram a receber parte do dinheiro arrecadado com o imposto sindical. Imposto, que estava ameaçado de se tornar facultativo, também foi mantido pelo projeto, que ainda aprovou a fiscalização das entidades pelo TCU

Trabalho aos domingos
Edição de medida provisória que modificou as regras para o trabalho aos domingos no comércio

Sistema S
Oficialização do movimento sindical nos conselhos do Sesi, Senais e Senac, que fazem parte do Sistema S

OIT
Envio ao Congresso das convenções 151 e 158 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) sobre negociação coletiva no setor público

CLT
Os sindicatos conseguiram a retirada do projeto de lei que estava no Congresso alterando a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT)

Reformas
Setor trabalhista conseguiu impedir o andamento das propostas de reforma sindical - que se arrastam no Congresso - e de reforma da Previdência, por falta de entendimento com os patronais

Sindicalistas no comando
Pesquisa da FGV mostra que 45% dos cargos de alto comando dentro do governo Lula estão nas mãos de sindicalistas

"Anistia"
Governo Lula reintegrou mais de 7 mil funcionários públicos demitidos por razões políticas ou por realizações de greve

'É desonestidade intelectual', reage tucano

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

"Eles são discípulos do Lula, seguidores do Lula, tanto que as centrais foram beneficiadas com recursos do imposto sindical. São assalariadas do governo", reagiu o deputado Arnaldo Madeira (PSDB-SP) ao posicionamento dos presidentes da Força Sindical e CUT.

De acordo com o deputado, é "lamentável" que, por sua relação simbiótica com o PT, os sindicalistas tenham "perdido a capacidade de isenção".

"Eles não sabem separar a política das entidades representativas de segmentos do trabalho.

Acho lamentável que eles tenham perdido a capacidade de isenção, de separar a política das entidades representativas de segmentos do trabalho", observou. O deputado atribui aos dirigentes sindicais uma "desonestidade intelectual" pelos ataques diretos à campanha tucana, especialmente por afirmar que Serra "tiraria os direitos do trabalhador".

"Há duas campanhas eles fizeram uma lista de deputados que teriam votado para acabar com o 13º salário. Eles fazem isso. É a marca da desonestidade intelectual. Para eles o que vale é atribuir ao adversário tudo para ele se explicar."

Sobre a indiferença do deputado Paulo Pereira da Silva com a lei eleitoral, Madeira foi sucinto. "Ele não liga para isso." / R.A.

''Jabuticaba e sindicalismo a favor do Estado são tipicamente brasileiros''

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

ENTREVISTA
Rubens Figueiredo, cientista político


Marcelo Rehder

Para o cientista político Rubens Figueiredo, hoje o Brasil é um raro exemplo de democracia capitalista com o sindicalismo a favor do Estado. "O nome disso é cooptação", diz Figueiredo.

Qual tem sido o papel do sindicalismo na era Lula?

Durante o processo de redemocratização, os sindicatos representaram uma força importante de resistência da sociedade e estavam profundamente afastados do Estado. Com a ascensão do PT e do Lula ao poder, e com a estabilização da economia também, houve um processo progressivo de cooptação, principalmente das centrais sindicais pelo Estado brasileiro, que passou a destinar polpudas quantias de dinheiro às centrais.

Qual é o lado mais visível desse processo?

Mesmo centrais que antes dificilmente se alinhavam, como a CUT e a Força Sindical, que lá atrás era chamada de pelego, hoje elas se alinham na defesa do governo. E do ponto de vista de ocupação do Estado, há uma quantidade imensa de ex-sindicalistas e até de sindicalistas em atividade que fazem parte dos órgãos de direção do Estado brasileiro.

É a república de sindicalistas?

Sim. Os quadros que o PT foi buscar para administrar o Brasil vieram dos sindicatos. E esses sindicalistas ocupam hoje postos chave por exemplo nos fundos de pensão, que são as instituições econômicas com maior liquidez no Brasil. Eles movimentam volume expressivos de dinheiro. Então, houve a ascensão do sindicalismo aos núcleos de decisão do Estado.

A contrapartida é a servidão dos sindicatos?

O nome disso é cooptação. O sindicalismo que era contra o empresário e contra o Estado passou a ser um sindicalismo cooptado e domesticado pelo governo. Tanto que temos assistido a manifestações de centrais a favor do governo.

É novidade no mundo sindical?

Jabuticaba e sindicalismo a favor são tipicamente brasileiros. Numa democracia, é difícil de encontrar sindicalismo a favor do Estado. Teve na Polônia, onde os sindicalistas também tomaram o poder, mas lá tinha o apoio das forças conservadoras europeias e o Solidariedade não tinha a inserção social, a capilaridade que tem o PT. Mas existe aqui pelo menos a aparência de que nós vivemos no capitalismo. O Brasil é um país capitalista com o sindicalismo a favor.

Os sindicatos vão apoiar a candidata de Lula?

As centrais têm de se apresentar para a sociedade de uma forma equidistante, vamos dizer assim, dos candidatos. Não podem manifestar apoio a um candidato, porque isso é proibido por lei. Mas do ponto de vista objetivo, não há nenhuma dúvida que as centrais estão alinhadas no projeto do presidente Lula. O nível de neutralidade é zero.

Serra propõe vincular benefício a ensino técnico

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Julia Duailibi

O pré-candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, fez ontem mais uma promessa de campanha ao defender a concessão de "bolsas-manutenção" para que os jovens beneficiados pelo programa Bolsa-Família possam cursar o ensino técnico.

"No caso das famílias ligadas ao Bolsa-Família, devemos dar para os seus filhos bolsas de manutenção para que possam cursar as escolas técnicas", declarou o pré-candidato tucano ao discursar em um evento para empresários, ontem na capital paulista.

Ministérios. Nesta fase de pré-campanha, Serra já se comprometeu também com a criação de um Ministério da Segurança Pública e com uma pasta para pessoas com deficiência, entre outras propostas.

Experiências. "Se der uma bolsa de manutenção, (os alunos) podem ter mais facilidade de deslocamento. Agora tem que ampliar muito a oferta, inclusive em parceria com os governos", argumentou José Serra, que citou a experiência de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Ceará na área.

"Se fizer parceria, turbina ainda mais", acrescentou o presidenciável tucano. "Imagina parceria com o governo federal", disse Serra.

Serra critica câmbio; Dilma fala em mexer na Previdência

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Durante evento em São Paulo, presidenciáveis tucano e petista tocam em assuntos polêmicos, mas evitam entrar em detalhes

Adriana Carranca e Julia Duailibi

Os pré-candidatos à Presidência José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) revelaram ontem pontos polêmicos de suas prováveis plataformas econômicas de governo, mas se recusaram a entrar em detalhes.

Dilma falou pela primeira vez na necessidade de mexer na faixa etária para aposentadoria dos brasileiros. Ao destacar a vantagem do que chama de "bônus demográfico do Brasil" sobre outros países desenvolvidos, ou seja, uma população ativa maior do que a parcela de dependentes, Dilma afirmou: "A terceira idade está ficando difícil... A gente vai ter de estender ela um pouco mais para lá."

Depois, questionada sobre detalhes do que mudaria de fato na Previdência, a pré-candidata disse ter feito apenas "uma brincadeira". "Eu sempre acho que (o governo) vai ter de olhar a questão etária do País e tomar providências, é claro. Mas fiz uma brincadeira comigo mesma, porque eu não tenho vergonha de dizer: tenho 62 anos. Nasci no final de 1947 e vou fazer 63 em dezembro.
Não tratei desse assunto", disse aos jornalistas.

Serra, por sua vez, criticou pontos da política econômica do governo federal, defendeu um "outro tipo de combinação" na relação entre câmbio e juros e destacou o crescimento da economia durante a gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

O tucano disse que, para haver crescimento sustentável em três décadas, é preciso "ter outro tipo de combinação a médio e longo prazo" na relação juros e câmbio. Questionado depois sobre como essa "combinação" se daria, Serra não foi além: "Uma combinação mais favorável. Tem que ter uma equipe econômica integrada, responsabilidade fiscal, cambial e monetária."

As declarações dos dois pré-candidatos foram feitas para uma plateia de empresários, durante o encontro Brasil, a construção da 5.ª maior economia do mundo, promovido pela revista Exame, e em entrevistas após o evento.

Críticas. Serra tentou se colocar como um contraponto a Dilma. Falou em falta de planejamento da atual gestão e em baixo investimento público, inclusive em infraestrutura, um dos pontos caros no discurso da petista. "O Brasil neste período todo cresceu pouco diante da sua performance histórica desde a estabilização. Se pegarmos na média, durante o governo passado, o crescimento deve ter sido de 2,6%, 2,7% ao ano. Curiosamente, nos oito primeiros anos depois do Plano Real, o crescimento do Brasil esteve mais próximo da média mundial do que no governo seguinte, que é o atual", declarou Serra.

Dilma disse que o País pode crescer de 5,5% em média ao ano até 2014, além de elevar a taxa de investimento para 22% do PIB. Entre os setores que impulsionariam este crescimento, destacou petróleo e gás, energia elétrica, logística, construção habitacional e o agronegócio.

A pré-candidata se atrapalhou com os números da reserva de óleo equivalente (petróleo e gás) do Brasil. Primeiro, falou em 4 bilhões de barris, número corrigido para 14 bilhões durante entrevista coletiva.

Candidatos definem posições diferentes perante 'mercado'

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Fernando Dantas

A pré-candidata Dilma Rousseff vem afinando o seu discurso para plateias empresariais e do mercado financeiro, com sinais de moderação e de manutenção de algum grau de ortodoxia na condução das políticas fiscal e monetária. Como já foi observado, o papel de maior destaque que o ex-ministro da Fazenda, Antonio Palocci, assumiu na campanha de Dilma é um claro sinal de que a pré-candidata petista quer consolidar um apelo centrista.

Ontem, por alguns momentos, Dilma pareceu abordar até mesmo o tema tabu da Previdência. Se, de fato, a menção a "estender a terceira idade" foi uma referência, proposital ou por ato-falho, a elevar a idade com que os brasileiros se aposentam, Dilma recuou no momento subsequente. Afinal, parece ter se tornado sabedoria convencional na política brasileira a preocupante ideia de que discutir o que para muitos economistas é o maior problema brasileiro - o déficit crescente da Previdência - é sinônimo de suicídio eleitoral.

O candidato tucano, José Serra, por sua vez, parece não temer as possíveis reações adversas do mercado financeiro às suas ideias. Ontem, ele repisou a crítica ao descompasso entre as políticas cambial e monetária, e o seu compromisso de buscar um "entrosamento" entre o Ministério da Fazenda e o Banco Central. Como, no atual modus operandi, o Banco Central goza de autonomia operacional para perseguir metas de inflação definidas pelo governo, aquela busca de entrosamento não tem como não soar como algum grau de redução da liberdade de ação do BC.

Assim, de forma um pouco curiosa, Dilma vai tentando se estabelecer como candidata confiável ao mercado, enquanto Serra sinaliza que outro caminho seria possível.

Bolsa Família não elimina extrema pobreza

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Larissa Guimarães

BRASÍLIA - A renda per capita das famílias beneficiadas pelo Bolsa Família não é suficiente para que elas cruzem a linha de extrema pobreza (R$ 70) no Norte e no Nordeste.

Juntas, essas regiões representam cerca de 60% do total de famílias abarcadas pelo programa, cujo benefício pode variar de R$ 22 a R$ 200 mensais por família.

O corte de R$ 70 para estabelecer extrema pobreza é definido pelo Ministério de Desenvolvimento Social, com base em cruzamento de dados do IBGE e do Ipea.

No Norte, a renda por pessoa fica em R$ 66,20 e, no Nordeste, chega a R$ 65,20, de acordo com um estudo apresentado ontem pelo ministério, com dados de 2009.

O programa atinge cerca de 12,4 milhões de famílias no país -metade delas está no Nordeste. Nessa região, o Bolsa Família representa, em média, um aumento de 63% na renda per capita.

Nas demais regiões do país, a renda per capita das famílias que participam do programa fica acima de R$ 80, quando somado o valor do benefício. O valor pago varia de R$ 85,07 (Sul) a R$ 82,27 (Sudeste) ao mês.

INDICADORES

A ministra de Desenvolvimento Social, Márcia Lopes, afirmou que o benefício é uma complementação, e não uma substituição da renda.

Ela citou que 77% das famílias beneficiárias trabalham, em empregos formais ou informais. "O projeto tem impacto direto na vida das famílias porque transfere renda", disse a ministra.

O estudo "Perfil das famílias beneficiárias do Bolsa Família" aponta melhora nas condições de vida dos atendidos pelo programa em relação a dados de 2007, quando foi feita a pesquisa anterior.

A proporção de analfabetos entre os responsáveis pelas famílias beneficiárias caiu de 17,3% para 13,1%.

O estudo também apontou avanços em relação à escolaridade. Em 2007, 13,2% dos chefes de família tinham completado o ensino médio. Em 2009, eram 17,6%.

Houve melhora, ainda, nos serviços básicos. Quase 70% tinham coleta de lixo de 2009, contra 66% em 2007.

A ministra disse que o Bolsa Família deverá cumprir a meta de chegar a 12,9 milhões de famílias até o fim do ano. Desde 2003, cerca de 4,7 milhões de famílias já saíram do programa.

Vice não precisa ser de Minas, diz Aécio

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Comando da campanha de Serra, porém, avalia que gesto constrange o partido diante do eleitorado do Estado

Cresce a possibilidade de o DEM indicar o vice da chapa presidencial, caso o acordo negociado com o PP não prospere


Aécio Neves (PSDB) disse ontem que não existe a "obrigatoriedade" de que um mineiro seja candidato a vice na chapa do tucano José Serra.

"Não diria que seja uma obrigatoriedade que o nome seja de Minas. Obviamente, nomes de Minas podem ser avaliados", disse Aécio.

"Nomes têm sido citados, o nome do ex-presidente Itamar Franco [PPS] tem sido lembrado, mas repito: a condução tem que ser de Serra."

O gesto foi mal recebido pela campanha serrista, pois, além de rejeitar o apelo para que fosse vice, Aécio estaria constrangendo a sigla diante do eleitorado. A avaliação é que a opção por Itamar resolveria um problema de Aécio, não do candidato.

Se o acordo com o PP não sair, há os tucanos Tasso Jereissati (CE) e Álvaro Dias (PR). Mas cresce a chance de a vice ficar com o DEM, que se queixa de estar relegado a segundo plano.

As opções são José Carlos Aleluia (BA) ou José Agripino (RN).

Ontem em São Paulo, os presidentes das siglas de oposição fizeram um pacto para só falar em vice após o Corpus Christi. "Não queremos alimentar polêmica", disse Rodrigo Maia (DEM).

Serra propõe curso técnico para saída do Bolsa Família

DEU N A FOLHA DE S. PAULO

Em palestra a empresários, tucano diz que dará bolsas a adolescentes

Serra minimiza taxas de crescimento sob Lula e diz que, em relação à média mundial, elas são menores que as de FHC

Breno Costa

SÃO PAULO - Pela primeira vez no ano, o pré-candidato tucano José Serra fez uma promessa relacionada ao Bolsa Família, principal programa assistencial do governo Lula.

Em palestra a empresários em São Paulo, Serra disse que dará bolsas para jovens que já são beneficiários do Bolsa Família, para que frequentem cursos técnicos e profissionalizantes. Seria uma forma de criar uma porta de saída para o programa.

O tucano não detalhou a proposta, mas afirmou que as bolsas serviriam para cobrir despesas que o aluno terá ao frequentar a escola.

Como praticamente não há escolas técnicas nos rincões, onde se concentra grande parte da massa beneficiada pelo Bolsa Família, disse que a concessão das bolsas estará acompanhada da criação dessas unidades.

"Em primeiro lugar nós temos que criar [mais escolas], paralelo a isso [bolsas]. Segundo, se você der uma bolsa de manutenção, o garoto ou a garota pode ter mais facilidade para deslocamento."

Na campanha, Serra tem dito que não acabará com o programa, mas o reforçará. Porém, ainda não tinha feito nenhuma proposta sobre ele.

A maior parte da palestra, concedida no mesmo evento no qual sua adversária Dilma Rousseff esteve mais cedo, foi dominada por críticas ao governo Lula, que, segundo ele, criou barreiras a um desenvolvimento sustentado.

Serra comparou o governo Lula ao de Fernando Henrique Cardoso e minimizou as atuais taxas de crescimento.

"Durante o governo passado o crescimento deve ter sido de 2,6%, 2,7% ao ano.

Curiosamente, nos oito primeiros anos depois do Plano Real, o crescimento do Brasil esteve mais próximo da média mundial do que no governo seguinte -que é o atual."

Dilma defende mais contribuição para Previdência

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Dilma Rousseff, pré-candidata do PT ao Planalto, defendeu aumento no tempo de contribuição para a Previdência. Ela sugeriu estender a terceira idade "um pouco mais para lá"; depois recuou, dizendo que falava de sua idade (62).

Dilma sugere contribuição mais longa à Previdência

Petista defende que terceira idade seja estendida "um pouco mais para lá"

Depois, pré-candidata recuou e afirmou que estava falando da sua própria idade, 62 anos, mas defendeu debate

Ana Flor e Denyse Godoy

SÃO PAULO - A pré-candidata do PT ao Planalto, Dilma Rousseff, defendeu ontem um aumento no tempo de contribuição para a Previdência.

A petista sugeriu que a terceira idade seja estendida "um pouco mais para lá", mas depois recuou e disse apenas que medidas terão de ser tomadas nesse campo, sem se comprometer com propostas específicas.

"O tal do bônus demográfico nada mais é do que isso: a sua população em idade ativa é maior que sua população dependente -jovem, criança e velho. Mas a terceira idade, a terceira idade está ficando difícil... A gente vai ter que estender ela um pouco mais para lá", disse.

Questionada se, caso eleita, proporia a contribuição por mais tempo, Dilma recuou, dizendo que se referia à própria idade -ela tem 62 anos. "Eu acho sempre que vai ter de haver, você vai ter de olhar a questão etária do país e tomar providências para isso", acrescentou.

No setor privado, a aposentadoria por idade pode ser pedida aos 65 anos (homens) e 60 anos (mulheres).

Dilma participou do Exame Fórum, em São Paulo. A empresários disse acreditar que até 2014 -quando acabaria seu mandato, se fosse eleita-, o crescimento fique em torno de 5,5% ao ano. Na sexta, havia defendido um crescimento "prudente".

O pré-candidato José Serra (PSDB) também participou do evento. Marina Silva (PV), outra concorrente na eleição que escolherá o 40º presidente da história do país, não foi convidada.

Dilma listou o que considera desafios para o Brasil ser um país desenvolvido. "Nosso objetivo não pode ser só crescimento do PIB. Não é isso. No caso do Brasil, é erradicar a pobreza", disse.

Outro ponto essencial, afirmou ela, é a estabilidade macroeconômica. Citou ainda a educação de qualidade.

O único momento em que ela recebeu aplausos foi ao falar da necessidade de aprofundar a democracia.

No discurso de 38 minutos, fez um apanhado das realizações do governo e desafios. A diversidade chegou a confundir a plateia.

Empresários classificaram a fala como "abrangente". "Acho que ela poderia, sim, ter focado um pouco mais", diz Luiza Trajano, superintendente do Magazine Luiza. "Mas acho que ela quer passar a impressão de que está por dentro de tudo."

Na avaliação de Eike Batista, presidente do grupo EBX, Dilma se mostra "muito bem posicionada".

Dificilmente o governo israelense sairá ileso de episódio :: Ian Black

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

A sangrenta interceptação da flotilha humanitária para Gaza rapidamente provocou apelos pela suspensão do bloqueio ao território palestino e deve aumentar a pressão para que se chegue a um acordo com o Hamas, considerado um grupo terrorista por Israel, EUA, Grã-Bretanha e União Europeia.

O Hamas e o Fatah, como era previsível, imediatamente condenaram Israel, acusando-o de cometer crimes de guerra e de usar força desproporcional - as mesmas acusações feitas contra o país depois da ofensiva em Gaza, que terminou no início do ano passado. Mas muito mais surpreendente foi a onda de declarações críticas vinda de países que em geral são amigos, como as do chanceler da Grã-Bretanha, William Hague, exigindo o fim do bloqueio a Gaza. França, Suécia, Dinamarca e Grécia convocaram os embaixadores de Israel, exigindo explicações.

Esse drama grotesco e a repercussão global levarão a uma reanálise da situação mais fundamental? Como as imagens que documentaram o assassinato da autoridade do Hamas Mahmoud al-Mabhouin, em Dubai, em janeiro, as imagens gráficas deste espetáculo no Mar Mediterrâneo mostram Israel usando sua superioridade militar esmagadora a serviço do que parece cada vez mais uma meta política insustentável.

Desta vez foram os comandantes da Marinha, e não agentes do Mossad, que se mobilizaram. Mas o "inimigo" era um grupo fortemente motivado de pessoas comprometidas com a justiça para os palestinos, impacientes com a ineficaz "pressão diplomática" e o quase moribundo processo de paz, confiantes de que esta seria mais uma luta assimétrica que conseguiriam vencer sem esforço - embora poucos imaginassem que haveria provavelmente um custo humano.

A posição de Israel provavelmente não vai mudar. O Hamas recusa-se formalmente a renunciar à violência, reconhecer o Estado judeu ou aceitar algum acordo firmado pela Organização de Libertação da Palestina (OLP). Israel, apoiado pelo Egito, utilizou o cerco de Gaza deliberadamente, mas sem sucesso, para corroer o Hamas, que venceu as eleições palestinas em 2007 e desfruta do apoio do Irã e da Síria.

O ministro da Defesa israelense, Ehud Barak, insistiu novamente que não existe fome nem crise humana em Gaza, reiterando que Israel permite a entrada de uma quantidade limitada de ajuda. É óbvio que a polêmica em torno dessa frota atrairá muita atenção internacional e criará uma condenação veemente de Israel. Mesmo defensores irredutíveis de Israel admitem que será difícil para o país sair ileso dessa história. Mas a questão que de fato importa é se, politicamente, alguma coisa vai mudar realmente depois do que ocorreu.

É editor para oriente médio do "GUARDIAN"

Motosserra sem ideologia :: Xico Graziano

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Há quem imagine que pequenos agricultores sejam mais ecológicos que grandes produtores rurais. Políticos que se julgam da "esquerda" propagam que a agricultura familiar faz bem à natureza, enquanto o agronegócio destrói o meio ambiente. Pura ideologia. Nunca nenhum estudo da realidade comprovou isso.

O equívoco desse pensamento mostra origens remotas. Desde 1775, quando o filósofo francês Jean-Jacques Rousseau, em seu famoso discurso sobre a origem da desigualdade, conceituou o "bom selvagem", constrói-se certa imagem de que o homem perdeu sua pureza no processo civilizatório. Antes, vivia em harmonia total. Depois, chegou a maldade sobre a Terra.

O raciocínio bem-aventurado procura se aplicar, hoje, aos indígenas. Ambientalistas argumentam que os povos da floresta, na Amazônia, por exemplo, vivem de forma ecológica. Avatar, belo filme, sublima essa questão, agradando sobremaneira aos defensores da natureza. Antropólogos, todavia, não corroboram facilmente tal ideia.

Orlando Villas Bôas, uma legenda nacional, afirmava serem os índios, que conhecia tão bem, nada ecológicos. Ao visitar a Unesp de Jaboticabal, nos anos 1980, contou uma pequena história aos alunos de Ciências Agrárias. Disse o grande indigenista que, certo dia, ao ver um índio derrubar uma palmeira de açaí para lhe retirar o cacho e colher os negros frutinhos, perguntou-lhe: "Por que você não sobe e corta apenas o cacho, sem derrubar a palmeira?"

O índio não entendeu: "Qual é o problema?"

"Ora", retrucou Villas Boas, "evitar a devastação da floresta!"

Mas o índio explicou: "Não se preocupe. Eu corto esta palmeira aqui, mas lá tem outra, outra lá adiante, tá cheio de açaizeiro por aí...". Para o índio, era infinito o estoque de palmeiras. Podia surrupiar à vontade.

Sem entender a História não se compreende a questão ambiental de nosso tempo. A pressão sobre os recursos naturais do planeta tornou-se um problema apenas após a intensa industrialização do século 19. Sua plena percepção ocorreu tão somente há 50 anos, quando a agenda da degradação entrou na preocupação pública. Quem criou o problema ecológico foi a explosão populacional humana.

Nem os brasileiros coletores da floresta, nem os índios norte-americanos caçadores de bisões tinham pensamento ecológico. Estes, quando descobriram os rifles dos mercadores de peles, ajudaram a destruir, sem piedade, o rebanho dos peludos bichões. A tecnologia potencializou a destruição da natureza.

No Brasil, a discussão sobre ecologia e tamanho da propriedade permeia os estudos sobre reforma agrária. Os agraristas ortodoxos, normalmente de origem comunista, nunca mostraram nenhuma predileção pelo tema da preservação ambiental. Sempre propugnaram pela desapropriação das "áreas ociosas" no campo, pouco se importando se elas estavam cobertas com florestas originais. Sua visão produtivista se aproximava da manifestada pelos desbravadores do território, com a diferença, claro, de que a terra deveria estar dividida, não concentrada. Menos mal.

Na história da reforma agrária brasileira contam-se infindáveis casos em que os projetos de assentamento rural recaíram sobre valiosas áreas naturais, seja em florestas densas do Pará ou de Mato Grosso, seja nos remanescentes de mata atlântica interiorana, seja nos frágeis ecossistemas litorâneos do sul da Bahia ou no Rio Grande do Norte. Onde procurar se acha um estrago ecológico, cometido em nome do combate à miséria rural.

O complicado tema veio à tona da opinião pública em 1997, num relatório apresentado à CPI do Congresso Nacional que investigava a atuação de madeireiras asiáticas na Amazônia. O então deputado federal Gilney Vianna, do PT-MT, demonstrou que 50% do desmatamento da região advinha dos assentamentos de reforma agrária. Os pequenos desmatavam tanto quanto os grandes. Deu um quiproquó na esquerda.

Nota do núcleo agrário do PT desmoralizou o relatório e enquadrou seu político rebelde, baixando o silêncio sobre o assunto. A senadora Marina Silva, defensora dos assentamentos extrativistas, também se aquietou. Mas não havia como tapar o sol com a peneira. Os sem-terra, tanto quanto madeireiros e grandes fazendeiros, faziam arder a floresta sem dó. Machado e motosserra não têm ideologia.

Novos estudos, mais recentes, especialmente os conduzidos pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), comprovam que boa parte da pressão contra a floresta amazônica se origina da reforma agrária. Sem maldade. Nem exclusivo é da Hileia. Na caatinga nordestina, que sofre uma tremenda ameaça, a lenha vira cinza na cozinha das famílias pobres do Semiárido. Subsistência básica.

Meses atrás, quando Carlos Minc ainda ocupava o Ministério do Meio Ambiente, patrocinou-se uma proposta estranha que concedia brechas no Código Florestal para os agricultores familiares, discriminando os demais produtores. Nada indica que esse favorecimento ajude a preservação ambiental do País. Reservas florestais belíssimas são mantidas por grandes fazendeiros.

A ideia do "small is beautiful" serviu a Ernest Schumacher, um visionário escritor inglês de origem germânica que defendia, na década de 1970, as tecnologias brandas, menos intensivas em recursos naturais. Seu famoso livro com esse título inspirou esse viés do ambientalismo, ultrapassado pelo avanço da tecnologia. Qualidade ambiental independe do tamanho do negócio rural.

Passarinhos que o digam. Eles nunca perceberam distinção entre as crianças que os caçam impiedosamente com estilingue e os adultos que os aprisionam para cantar na gaiola. Quem faz a diferença é a consciência humana. Depende da educação.


Agrônomo, é Secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo.

Oito séculos de crises financeiras :: Paulo R. Haddad

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O mundo ainda vivia o trauma resultante da primeira crise econômico-financeira global após a 2.ª Grande Guerra, quando essa crise se espraiou por diversos países da Europa. Uma crise global está associada a dois fatores abrangentes: os seus efeitos adversos sobre o nível e a volatilidade dos agregados macroeconômicos mais significativos (PIB, produção industrial, correntes de comércio, etc.) em escala mundial e sua relativa sincronização entre países. Por mais que se tente comparar esta crise com a Grande Depressão dos anos 1930, ela tem apresentado eventos circunstanciais que estão desafiando a capacidade de análise e de interpretação de historiadores, economistas, executivos públicos e privados. A perplexidade intelectual diante desses eventos tem trazido à tona intensas controvérsias ideológicas e, ao mesmo tempo, a síndrome de que "desta vez é diferente". Uma situação na qual a sociedade está convencida cada vez mais de que o seu ciclo de prosperidade, diferentemente de muitos ciclos anteriores que precederam colapsos catastróficos, está baseado em sólidos fundamentos, reformas estruturais, instrumentos criativos, inovações tecnológicas e políticas de melhor qualidade e consistência técnica.

Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff realizaram recentemente a mais ampla e melhor pesquisa sobre crises financeiras em escala global. A pesquisa cobre uma amostra de 66 países em cinco continentes, durante oito séculos, que se estendem desde os tempos da Idade Média (moratórias de dívidas ou práticas de adulteração pelos soberanos do conteúdo de metais preciosos das moedas em circulação) até a atual crise global iniciada em 2008. Utilizam não apenas trabalhos de outros pesquisadores como referência bibliográfica, mas produzem vários indicadores originais além de séries históricas macroeconômicas inéditas. Neste sentido, as 100 páginas do seu livro (Oito séculos de delírios financeiros: desta vez é diferente), que contém quatro apêndices, assim como as suas notas bibliográficas, passam a ser uma poderosa plataforma de apoio para novas e complementares pesquisas sobre as crises financeiras em nível global.

Percorrem cinco "variedades" de crises: a insolvência soberana doméstica e a externa, crises bancárias, colapsos monetários e explosões inflacionárias. Essas cinco variedades não são tratadas de forma isolada, pois tendem a se "clusterizar" em diferentes conjunturas num mesmo país e entre países por contágio ou por fatores comuns.

Como o livro foi escrito após "a crise do subprime" e publicado no segundo semestre de 2009, é possível destacar brevemente algumas reflexões (e não previsões) dos autores sobre o futuro da atual crise mirando as experiências do passado não como imagens estáticas em um espelho, uma vez que agora dispõem de noções evidentes sobre os processos da cadência, da intensidade e do sequenciamento dessas experiências, com destaque para os processos da Grande Depressão de 1929.

Assim os autores buscam, na sua jornada em torno de oito séculos de história das crises financeiras no mundo, lições que possam contribuir para mitigar crises futuras. Algumas delas merecem destaque. O perigo maior está nas crises financeiras globais uma vez que os países perdem seus eventuais estabilizadores ou amortecedores dos ciclos recessivos através dos fluxos de comércio e de capitais. Da mesma forma, essas crises globais (de qualquer variedade) são mais dramáticas em termos de duração, amplitude e volatilidade do que os ciclos de negócios típicos do período pós-2.ª Guerra, tanto nas economias avançadas quanto nas emergentes. É possível, analisando indicadores macroeconômicos antecedentes (em termos de preços de ativos, de atividade econômica, de fluxos externos, etc.), observar padrões que aparecem no sequenciamento (ordem temporal) através dos quais as crises se desdobram. Contudo, a natureza recorrente das crises financeiras em suas diversas versões leva os autores a um ceticismo quanto à possibilidade de fornecer respostas sobre qual a melhor forma de evitá-las. Por outro lado, há um imenso escopo para fortalecer a supervisão macroeconômica prudencial melhorando a divulgação de dados e desenvolvendo séries históricas mais extensas a fim de obter perspectiva maior sobre os padrões e as regularidades estatísticas.

Além de ricas reflexões, o livro de Reinhart e Rogoff traz também muitas advertências, tais como: em ciclos passados, crises bancárias internacionais muitas vezes resultaram em ondas de moratórias nacionais poucos anos mais tarde; ou, os governos que se convenceram de que fizeram as coisas muito melhor que seus predecessores deveriam ser os primeiros a despertar, porque nada é diferente desta vez.

Professor do IBMEC/MG, foi Ministro do Planejamento e da Fazenda no governo Itamar Franco

O mal-estar da grande transformação:: Luiz Gonzaga Belluzzo

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Edificado sobre os escombros da sociedade destruída pela Grande Depressão e pelos dois conflitos mundiais, o Estado do Bem-Estar figura entre os principais suspeitos acusados de deflagrar a crise fiscal em que se enfiaram os europeus.

Ainda assim, poucos contestam o caráter singular do período de expansão capitalista do pós-guerra, até meados dos anos 70. Os estudos do economista Angus Maddison ("The World Economy, a Millennial Perspective") demonstram que nenhuma outra etapa do desenvolvimento capitalista apresentou resultados tão favoráveis no que diz respeito às taxas de crescimento do produto, salários reais, comportamento da inflação e estabilidade das taxas de juros e de câmbio.

Hoje são majoritárias as opiniões que deploram o peso excessivo do Estado munificente e investem contra as tentativas de disciplinar as forças simultaneamente criadoras e destrutivas do capitalismo. As mudanças tecnológicas, nas formas de concorrência, na organização e na estratégia da grande empresa e, por fim, na operação dos mercados financeiros, ocorridas a partir dos anos 70 do século passado, abriram caminho para grandes transformações.

O processo de mundialização da concorrência desencadeou uma nova onda de centralização de capitais e estimulou a dispersão espacial das funções produtivas e a terceirização das funções acessórias ao processo produtivo. Esse movimento foi acompanhado por uma intensa "apropriação" das decisões e da circulação de informações pelo "cérebro" da finança. Os mercados de capitais tornaram-se, ao mesmo tempo, mais poderosos na formação das decisões e, contrariamente ao que se esperava, menos "eficientes" na definição dos critérios de avaliação do risco.

Essa centralização das decisões associou-se, como já foi dito, à busca incessante de novas áreas "competitivas". Essa aliança impôs à economia global uma dramática ampliação da relação produtividade-salário nos países emergentes e, ao mesmo tempo, favoreceu a má avaliação do risco nos mercados que transacionam direitos de propriedade e títulos de crédito.

Quanto ao Estado Nacional, ninguém duvida de que sua ação econômica foi severamente restringida: assistiu impotente ao desdobramento das estratégias de localização e de divisão interna do trabalho da grande empresa e ficou à mercê das tensões geradas nos mercados financeiros, que submetem a seus caprichos as políticas monetária, fiscal e cambial. Mais do que por seu caráter global, a nova finança e sua lógica tornaram-se decisivos por sua capacidade de impor vetos às políticas macroeconômicas. O desemprego de longo prazo se ampliou nos países centrais, sobretudo na Europa. Nos Estados Unidos proliferou a precarização do emprego, fonte da queda de rendimentos dos 40% mais pobres e, portanto, do aumento da desigualdade.

A estas forças negativas o Estado e a sociedade não podem responder com ações compensatórias de outros tempos porque nos mercados globalizados cresce a resistência à utilização de transferências fiscais e previdenciárias, aumentando ao mesmo tempo as restrições à capacidade impositiva e de endividamento do setor público. Isto porque a globalização, ao tornar mais livre o espaço de circulação da riqueza e da renda dos grupos integrados, desarticulou a velha base tributária das políticas keynesianas erigida sobre a prevalência dos impostos diretos sobre a renda e a riqueza.

A ação do Estado, particularmente sua prerrogativa fiscal, vem sendo contestada pelo intenso processo de homogeneização ideológica de celebração do individualismo que se opõe a qualquer interferência no processo de diferenciação da riqueza, da renda e do consumo efetuado por meio do mercado capitalista. A ética da solidariedade é substituída pela ética da eficiência e, desta forma, os programas de redistribuição de renda, reparação de desequilíbrios regionais e assistência a grupos marginalizados têm encontrado forte resistência dentro das sociedades.

Não há dúvida de que este novo individualismo tem sua base social originária na grande classe média produzida pela longa prosperidade e pelos processos mais igualitários que predominaram na era keynesiana. Hoje o novo individualismo encontra reforço e sustentação no aparecimento de milhões de empresários terceirizados e autonomizados, criaturas das mudanças nos métodos de trabalho e na organização da grande empresa.

A ação do Estado é vista como contraproducente pelos bem-sucedidos e integrados, mas como insuficiente pelos desmobilizados e desprotegidos. Estas duas percepções convergem na direção da "deslegitimação" do poder administrativo e na desvalorização da política. Aparentemente estamos numa situação histórica em que a "grande transformação" ocorre no sentido contrário ao previsto por Polanyi (1980): a economia trata de se libertar dos grilhões da sociedade. As manifestações na Europa sugerem que a sociedade está preparando novas respostas às façanhas da economia do Mal-Estar.

Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e professor titular do Instituto de Economia da Unicamp, escreve mensalmente às terças-feiras.

O QUE PENSA A MÍDIA

EDITORIAIS DOS PRINCIPAIS JORNAIS DO BRASIL
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Mundo, Brasil e etc :: Graziela Melo


Saímos da época das grandes navegações, descobrimentos de novos territórios e etc. Estamos vivenciando um mundo interligado, internectado, mais junto, mais autoconsciente dos limites e desafios da humanidade que, “essas alturas já deveria estar mais "aconchegada".

Por isso, é que um país comandado por gente má, como Coréia do Norte, Irã, Venezuela e mais alguns outros, causa repulsa, repugnância.

É aí que entra em evidência a desastrada política externa que vem sendo posta em prática pelo Brasil. Nem sequer sabemos, cientificamente, até quando o homem resistirá, sobreviverá às intempéries da própria natureza.

Portanto, é de fundamental importância abolir as guerras como tática de luta pelo poder. O fato de que o Brasil venha se juntando, mostrando afinidades, com as piores, mais obscuras e mal intencionadas lideranças (ou sublideranças) do mundo atual.

E preocupante e demonstra uma total falta de visão e previsão do futuro, dos prováveis e desejáveis destinos da humanidade.

Hector Berlioz: Symphonie Fantastique-4th Movement

Ferreira Gullar ganha o Prêmio Camões 2010

DEU EM O GLOBO

O poeta, crítico e dramaturgo brasileiro Ferreira Gullar, que completará 80 anos no dia 10 de setembro, é o ganhador do Prêmio Camões 2010. O anúncio foi feito esta segunda-feira em Lisboa pela ministra da Cultura de Portugal, Gabriela Canavilhas.

O júri responsável pela escolha é presidido por Helena Buescu, da Universidade de Lisboa, e formado ainda pelo português José Carlos Seabra Pereira, da Universidade de Coimbra; pela santomense Inocência Mata, da Universidade de Lisboa; pelo escritor e jornalista moçambicano Luís Carlos Patraquim; e pelos escritores brasileiros Antonio Carlos Secchin, da UFRJ; e Edla van Steen.

O Camões, que é dado como reconhecimento ao conjunto de uma obra, é o mais importante prêmio literário da língua portuguesa. Criado em 1989, quando foi concedido ao poeta português Miguel Torga, tem entre seus ganhadores recentes o português Antonio Lobo Antunes (2007), o brasileiro João Ubaldo Ribeiro (2008) e o cabo-verdiano Arménio Vieira (2009).

Gullar entregou recentemente à editora José Olympio os originais de um novo livro de poesia, que será lançado no segundo semestre.

Abaixo, a lista completa de ganhadores do Camões ano a ano.

1989 - Miguel Torga, Portugal.

1990 - João Cabral de Melo Neto, Brasil.

1991 - José Craveirinha, Moçambique.

1992 - Vergílio Ferreira, Portugal.

1993 - Rachel de Queiroz, Brasil.

1994 - Jorge Amado, Brasil.

1995 - José Saramago, Portugal.

1996 - Eduardo Lourenço, Portugal.

1997 - "Pepetela" - Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos, Angola.

1998 - Antonio Candido, Brasil.

1999 - Sophia de Mello Breyner, Portugal.

2000 - Autran Dourado, Brasil.

2001 - Eugénio de Andrade, Portugal.

2002 - Maria Velho da Costa, Portugal.

2003 - Rubem Fonseca, Brasil.

2004 - Agustina Bessa-Luís, Portugal.

2005 - Lygia Fagundes Telles, Brasil.

2006 - José Luandino Vieira, Portugal/Angola (o autor recusou o prêmio).

2007 - Antonio Lobo Antunes, Portugal.

2008 - João Ubaldo Ribeiro, Brasil.

2009 - Arménio Vieira, Cabo Verde.

2010 - Ferreira Gullar, Brasil.

Meu pai :: Ferreira Gullar


meu pai foi
ao Rio se tratar de
um câncer (que
o mataria) mas
perdeu os óculos
na viagem

quando lhe levei
os óculos novos
comprados na Ótica
Fluminense ele
examinou o estojo com
o nome da loja dobrou
a nota de compra guardou-a
no bolso e falou:
quero ver
agora qual é o
sacana que vai dizer
que eu nunca estive
no Rio de Janeiro



De Muitas Vozes (1999)