segunda-feira, 31 de maio de 2010

Reflexão do dia – Giorgio Barrata


Como Kafka, no início do século XX, Gramsci viu a “América” como um terreno avançado de contradições e de lutas, de alienações e de utopias.

Como Chaplin, em Tempos modernos, Gramsci viu crescer com o operário das grandes fábricas fordistas “um novo tipo de homem”, que Taylor sonhara reduzido a “gorila amestrado”.

Como Brecht, no entanto, Gramsci sabia — e também o sabiam, ele diz, os industriais americanos — que “um homem é um homem”, ou seja, que, “infelizmente, um homem permanece um homem”: o fato de que não lhe seja dado pensar dentro do trabalho na cadeia produtiva favorece o surgimento, nele, de um “curso de pensamentos pouco conformistas”.

Como Benjamin, Gramsci considerava a taylorização do trabalho intelectual, o ocaso do humanismo, do homo faber, da aura, o conúbio entre arte e tecnologia, como uma nova Atlântida, cujo pensamento laico e socialista se devia criativamente apropriar, projetando — com o comunismo — um grandioso e progressivo processo de unificação do gênero humano.


(Giorgio Barrata, no artigo, “Gramsci, eu o vi assim” no site Gramsci e o Brasil)

Moderno São Paulo e a política nacional:: Luiz Werneck Vianna

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Nessa próxima sucessão, salvo mudanças catastróficas no estado atual da disposição das forças políticas do país, teremos mais um presidente extraído das fileiras ou do PSDB ou do PT, mais quatro anos para esse ciclo que se abriu em 1994 e que está destinado a completar duas décadas em 2014. Nenhum outro partido durante esse longo período conseguiu se projetar de modo competitivo a ponto de ameaçar a posição desses dois partidos nas disputas presidenciais, largamente majoritários nos resultados das eleições presidenciais, embora, como se saiba, não contem com força própria de sustentação no Poder Legislativo, dependentes, quando vitoriosos eleitoralmente, de amplas coalizões com outros partidos. Mas, essa ressalva, contudo, não contraria o fato de que ambos se constituam como partidos hegemônicos na estrutura partidária brasileira, e de que sejam reconhecidos como tais pelos demais partidos.

Mas essa hegemonia embute outra, qual seja o papel dominante do Estado de São Paulo na política da Federação. Tanto o PSDB como o PT são "partidos paulistas", nascidos de movimentos sociais que fizeram parte da resistência ao regime militar, o segundo com origem no sindicalismo da região do ABC, sede da moderna indústria metalúrgica, e, o primeiro, como expressão de círculos intelectuais e de políticos nucleados em torno de um diagnóstico comum sobre o que seriam os males do país. Desse tempo originário guardaram marcas que conservaram nos seus primeiros embates eleitorais, é verdade que, hoje, algumas delas bem esmaecidas, quando não relegadas ao plano do que deve ser esquecido. Contudo, a memória da infância nos partidos é como nas pessoas - um partido já formado é prisioneiro, de algum modo, da sua história de fundação.

PT e PSDB, embora procedentes de regiões diversas do social, vão ter em comum a valorização da matriz do interesse e a denúncia do patrimonialismo, e não à toa "Os Donos do Poder", o clássico de Raimundo Faoro, será referência de ambos ao começarem suas trajetórias. Aliás, Faoro foi um dos fundadores do PT e é celebrado como um dos ícones do partido. Precisamente nesse sentido é que podem ser compreendidos como partidos paulistas na medida em que localizam no Estado a raiz do nosso autoritarismo político, das políticas de clientela e de um burocratismo parasitário a impedir a livre movimentação da sociedade civil. No diagnóstico da época, era preciso emancipar os mecanismos da representação política dos da cooptação, traço do nosso DNA herdado da história ibérica. No caso dos sindicatos, preconizava o PT, era preciso romper com a Consolidação da Legislação Trabalhista (CLT), e conduzir suas ações reivindicativas para o sistema da livre negociação com os empresários, cuja força dependeria da sua capacidade de organização e de mobilização dos trabalhadores.

A matriz do interesse, além de moderna, seria libertária, vindo a significar uma ruptura com uma cultura política que afirmaria a primazia do Estado e dos seus fins políticos sobre a sociedade civil. Essas afinidades no ponto de partida não resistiram à exposição às circunstâncias da política. Nascidos no mesmo solo, com vários pontos em comum, essas duas florações da social-democracia brasileira, partindo de São Paulo, igualadas em força aí, mais do que aproximar as suas convergências, se entregam a uma dura luta por território. No plano da disputa nacional, essa luta se tem caracterizado pelo esforço desses partidos em arregimentar aliados que engrossem suas hostes, desequilibrando a disputa em seu favor.

Assim, essas expressões do moderno na política brasileira, que se têm encontrado em tantos pontos na modernização e expansão do capitalismo brasileiro, encaminham o seu antagonismo na disputa pelas forças do atraso político e social. Com isso, os impulsos modernizadores vindos de São Paulo são moderados pelo cálculo político que preside a disputa entre seus grandes partidos - um deles, o PSDB, governando o Estado há vinte anos e pretendente a governá-lo por mais quatro. Para cada qual importa, além das questões inarredáveis de suas agenda, capturar o maior número possível de forças aliadas, indiferentes ao atraso político e social que representam, como no caso, por exemplo, do Maranhão do clã de Sarney, cobiçado pelo PT, ou do PTB de Roberto Jefferson, objeto de desejo do PSDB.

Esses movimentos, meramente instrumentais para os fins da competição eleitoral, contudo, não são ingênuos quanto à própria história desses partidos, que mudam com eles. A surpreendente mudança do PT, que, de ácido crítico da Era Vargas e da tradição republicana em geral, passou a incorporar muito de suas práticas, pode ser explicada, em boa parte, por essa lógica. Assim, no movimento sindical, as forças genuinamente petistas, com um histórico de lutas contra o imposto sindical e o princípio da unicidade sindical, hoje se veem tangidas a participar de uma estrutura sindical que sempre condenaram como lesiva à autonomia dos trabalhadores. A resposta do PSDB, ao incorporar acriticamente o atraso, mimetiza a do PT. Aliás, nesta sucessão, alguém sabe qual o programa, do PSDB para a reforma trabalhista?

O velho sindicalismo, na carona do novo, encontrou sua sobrevida, moderando, quando não interditando em muitos aspectos relevantes, a passagem do moderno. O mesmo vem ocorrendo com os agentes do patrimonialismo das antigas oligarquias regionais, que preservam o seu domínio a partir de suas articulações com o moderno e dessa forma, cindido em dois como está, capitula de dirigir o atraso a fim de transformá-lo para simplesmente se associar a ele.

Luiz Werneck Vianna é professor-pesquisador do Iuperj e ex-presidente da Anpocs

Viagem aos anos de chumbo :: Luiz Sérgio Henriques

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Nunca é fácil voltar aos anos de chumbo ? por definição, um tempo de ferro e fogo, de mulheres e homens "partidos", e aqui a metáfora drummondiana sai da literatura e adquire a cruel realidade de corpos dilacerados e, pior ainda, de "mortos sem sepultura".

Este último tema ? referente àqueles sobre cuja morte ainda desce um véu mais ou menos denso de ignorância e cujos restos ainda não encontraram sequer a mera reparação do enterro decente ? nos remete violentamente a um plano além da política. Chorar e enterrar os próprios mortos está na base da convivência humana, tal como a concebemos. E sobre isso não é possível transigir. Antígona que o diga.

Mas não é fácil voltar. Desde logo, porque também é imperioso outro plano de análise, mais diretamente prático e mundano, que sem cancelar de modo algum aquela dimensão simbólica previamente dada nos remete à realidade rebelde das orientações de valor, das opções e ações políticas feitas por indivíduos de carne e osso em contextos determinados. E neste aspecto a esquerda brasileira, de um modo geral, ainda precisa se debruçar sobre si mesma e examinar ações e personagens que lhe são caros, mas muito provavelmente são limitados e circunscritos, se é que nos movemos ? e queremos nos mover ? no plano contemporâneo da democracia.

Os anos de chumbo marcam também, entre nós, o surgimento do período moderno da política brasileira. De fato, esta política nasce, contraditoriamente, num contexto de modernização autoritária da economia e da sociedade, implementada pelo regime militar. Um autoritarismo que se acentuou, obviamente, a partir de 1968, mas mesmo então nunca configurou uma ordem sem brechas ou fissuras, com arregimentação "total" da sociedade, à moda fascista. Uma ditadura "desenvolvimentista", e não desindustrializante, como em outros casos simultâneos da América Latina, na qual conviveram, na maior parte do tempo, uma precária legalidade constitucional e a realidade, bruta por natureza, dos atos institucionais.

A mudança social impetuosa ? mesmo que dirigida "por cima" ? foi a marca de um País que se tornava cada vez mais complexo e potencialmente insubmisso aos constrangimentos do autoritarismo. Os sinais dessa insubmissão brotavam de muitos lados, alguns insuspeitados. As eleições eram momentos certos de crise de legitimidade, e isso desde os primeiros momentos do regime, como demonstrado cabalmente pela eleição de governadores moderada, mas efetivamente oposicionistas, em 1965, e pela constituição da "frente ampla" de líderes civis deslocados pelo regime militar, inclusive importantes personalidades conservadoras e mesmo da direita política, como o governador Carlos Lacerda.

A sequência de atos institucionais curiosamente não impediu ? e não podia mesmo impedir -a expansão quantitativa do corpo eleitoral em níveis inéditos, resultado evidente do alistamento e do voto obrigatório. Um fato que, por si só, tinha efeito explosivo sobre as possibilidades de autorreprodução do regime e forçava, quase por inércia, os limites e obstáculos impostos à competição eleitoral - salvo nos casos em que, como em 1970, parcela substancial da esquerda denunciou equivocadamente a participação nas eleições e dirigiu sua crítica, muitas vezes duríssima e desqualificadora, contra o "reformismo" e o "eleitoralismo", apostando todas as fichas numa suposta "forma superior de luta". Referimo-nos, evidentemente, à miragem revolucionarista da luta armada, com seus mitos, seu voluntarismo e ? digamos diretamente ? o reforço involuntário proporcionado às estruturas da repressão política e aos setores mais duros do regime, quando menos por estimularem na população, e isso na hipótese melhor, a admiração passiva diante da ação de uns poucos heróis e de vanguardas populares autoproclamadas.

Cabe mencionar que não só o mundo da política aos poucos se reconstituiria, resistindo às cassações, aos exílios e aos breves, mas difíceis, períodos de fechamento do Congresso. Em outro âmbito decisivo das relações de força, o fato é que também os sindicatos, em circunstâncias extremamente adversas, puderam na maioria dos casos seguir existindo nos marcos consentidos de uma ação "assistencial" ? ao menos na aparência. Pois facilmente se constata que quando uma economia industrial se moderniza, mudando toda a composição social, inevitavelmente concentra grandes massas operárias, como no ABC, e aquele assistencialismo inicial, mediante paciente ação dirigente, só pode encorpar-se numa moderna luta por direitos protagonizada por um associativismo autônomo, amparado por advogados, economistas e profissionais de outro tipo, como no exemplo histórico do Dieese.

Acredito ter descrito, sumariamente, um mundo bem estranho ao que podia conceber a esquerda armada daqueles anos, com sua exaltação da violência como "parteira da História" e da substituição do Estado burguês, segundo um leninismo (ou guevarismo) empobrecido, rumo a algo que costumava atender pelo nome - muito incômodo! - de "ditadura do proletariado".

Pode-se dizer que ninguém mais fala em luta armada. Verdade. Pode-se dizer, também, que ninguém defende "ditaduras progressistas", embora, em nuestra América, o pecado more ao lado e nem todos saibam resistir à tentação. Seja como for, resta por fazer um exame rigoroso de velhas categorias, que, desconfio, talvez resistam sob nova aparência. Se isso for verdade ? se a esquerda ainda não tiver esboçado os contornos de uma novíssima trama de conceitos políticos baseada na paz e nos direitos ?, toda volta ao passado de chumbo e toda exigência de reparação correm o risco de se perder em recriminação facciosa ou irrealista, alheia aos valores universais que deveriam constituir uma esquerda democrática.

ENSAÍSTA, É TRADUTOR E UM DOS ORGANIZADORES DAS OBRAS DE ANTONIO GRAMSCI EM PORTUGUÊS (WWW.GRAMSCI.ORG)

Contraventor contumaz :: Paulo Brossard

DEU NO ZERO HORA(RS)

Tenho sob os olhos a primeira página de um dos jornais de maior circulação entre nós e cuja manchete diz tudo em duas linhas, “Lula pela quarta vez é multado pelo TSE”. Em outra folha, leio que a procuradora da República e vice-procuradora-geral eleitoral junto ao Tribunal Superior Eleitoral, Sandra Cureau, chama a atenção para o deslize que se repete e que pode comprometer o registro da candidata oficial, também duas vezes multada pela mais alta Corte eleitoral do país. Para completar o quadro, a corte (aqui a corte é em minúscula) dos amigos do rei se mostra indignada com a independência do Ministério Público e com sua vigilância ainda que discreta. Enfim, meia dúzia de palavras que se interpenetram e não ocultam a gravidade da arrogância cometida. Porque lei alguma permite a quem quer que seja colocar-se acima da lei e, em se tratando do presidente da República, o mau exemplo é ainda mais censurável.

Já vivi alguns anos e testemunhei muitas coisas pouco exemplares, mas nunca vi o presidente da República ser censurado pela Justiça Eleitoral por infração à lei e, indiferente ou desdenhoso, repetir a falta uma, duas, três vezes. Em uma delas chancelou, dizendo que mandaria a multa para os ouvintes. É de convir-se que o presidente nada ganha com essas vulgaridades e muito se afasta das regras do decoro que a liturgia do cargo lhe impõe. Volto a dizer que lei alguma permite ao presidente proceder, no trato com um dos ramos do Judiciário, com essa licenciosidade de contraventor contumaz.

Chama a atenção esse procedimento presidencial, tanto mais quando ele decorre de um ato que lei alguma lhe permitiria praticar, a escolha se sua própria sucessora, por decisão solitária.

A propósito, vou lembrar uma situação, não por prazer, mas com pesar, que se tornou corrente no regime autoritário. O que foi feito agora lembra, com efeito, o que era habitual; os presidentes militares tomaram decisões repugnantes, restando à Arena o privilégio de conformar-se com elas. Ao maior partido do Ocidente, como foi cognominado, cabia chancelar o que o Executivo todo poderoso fazia majestaticamente. Não sei por que, talvez pelo papel que se lhe reservava, “o maior partido do Ocidente” trocou de nome duas vezes, se não estou enganado, parece que levado pela necessidade de desvincular-se dos seus tempos de gloriosa... servidão.

Como à Arena do passado, ao numeroso partido do presidente, a despeito das várias facções que o segmentam, foi reservado o honroso encargo de aprovar a escolha unipessoal do presidente pelo silêncio e desse modo engolir a indicação feita e entregue ao saber dos marqueteiros, do penteado ao estilo das roupas e à linguagem com acentos cesáreos.

Deixando de lado esses aspectos, embora nada irrelevantes, o fato que constrange é ver o presidente assumir a postura de um contraventor da lei, assim acoimado pela mais alta Corte eleitoral do país, já agora sob a advertência do Ministério Público Federal. Terá sido essa estranha febre que levou o presidente da República ao redil finamente democrático de Ahmadinejad ou terá sido nas terras persas que o presidente contraiu a febre islâmica?

Faz mais de século, Rui Barbosa notou que “as ideias políticas germinam e frutificam em utilidades como as sementes no solo, ou produzem nas sociedades fenômenos fatais, como os venenos nos organismos vivos”. E não se esqueça o presidente de que os maus exemplos são ainda piores, porque mais fáceis de serem repetidos.


*Jurista, ministro aposentado do STF

A guerra dos mundos:: Ricardo Noblat

DEU EM O GLOBO

"As pessoas não querem o pós-Lula, querem que o Lula continue"
(Rubens Figueiredo, cientista político, na Globonews)

Somos campeões mundiais em número de horas destinadas a navegar na internet. O twitter entre nós é um fenômeno, como foi o Orkut. Estudiosos estrangeiros se espantam com o elevado número de comentários postados em sites e blogs daqui. A sociabilidade do brasileiro é real e virtual. A rede, assim, poderá servir para que votemos melhor.

Certo? Não necessariamente. Até desconfio que não. Grande parte das pessoas que escrevem ou comentam o que é postado na rede manifesta seu inconformismo com o comportamento dos tradicionais meios de comunicação - jornais, emissoras de rádio e de televisão. Principalmente em ano eleitoral. É bom lembrar que há eleições a cada dois anos. O inconformismo, assim, seria permanente. E cresce veloz.

Dá-se cada vez mais como verdade absoluta na web que nós, jornalistas, manipulamos os fatos para que sirvam aos interesses mesquinhos e inconfessáveis de nossos patrões - esses, por sua vez, aliados incondicionais de poderosos grupos econômicos que exploram o país e o povo. A crise que atinge os jornais por toda parte é apresentada como sinal irrecusável da falta de confiança popular no seu conteúdo.

Ora, a crise dos jornais tem várias causas. E a verdade, na maioria das vezes, costuma estar no meio. Mas não é disso que quero tratar. Como titular de um blog há seis anos e refém de um computador durante 10 a 12 horas por dia de domingo a domingo, digo sem medo de errar que se reproduzem na web, sobretudo em espaços reservados ao jornalismo, os mesmos defeitos apontados nos veículos convencionais de comunicação.

Vou além: de fato, tais defeitos se agravam ali com frequência. Porque o mais acessado meio de comunicação do planeta é um território sem leis e sem códigos de ética. (O ministro Carlos Ayres Britto, do Supremo Tribunal Federal, considera a internet o último refúgio de liberdade do homem.) E também porque o anonimato é permitido. Ah, quantos crimes cruéis não são cometidos a cada segundo na rede devido ao anonimato.

E ouse falar contra o anonimato. Você será acusado de pugnar contra a livre manifestação de pensamento e correrá o risco de se tornar alvo de uma campanha difamatória. Ouse sugerir algum tipo de regulamento que discipline o que pode ser postado. Ou pelo menos o que não deve. Com toda a certeza você será execrado como o mais vil dos inimigos do direito universal ao livre acesso à informação e à opinião.

Fira injustamente a imagem de alguém ou de alguma instituição no jornal, televisão ou rádio. O atingido apelará para a Justiça. E você será julgado. Na internet, não. Porque se você conseguir identificar quem o ofendeu e decidir processá-lo haverá quem se encarregue de clonar a ofensa e de disseminá-la rede a dentro. Para cada anônimo identificado e processado surgirão milhares dispostos a encampar a ofensa.

A internet servirá nas eleições para que candidatos e partidos tentem, legitimamente, atrair apoios e votos por meio de mensagens e debates. Esse será, digamos, o lado sadio do uso da rede. Mas ela servirá também para a sistemática e organizada tentativa de se destruir reputações e espalhar rumores e mentiras. Não duvide: acabará prevalecendo o lado negativo do uso da rede.

Sob a proteção do anonimato ou da falsa identidade, e com a ajuda de militantes voluntários ou pagos, partidos e candidatos já começaram a travar o jogo sujo na internet. Ao cabo do processo eleitoral, seria curioso comparar o grau de veracidade do que foi postado na rede com o grau de veracidade do que foi veiculado por jornais, emissoras de televisão e de rádio. Mais do que curioso: poderia ser educativo.

O que alguns chamam de Partido da Imprensa Golpista tem seu equivalente no Partido da Internet Golpista. A sigla é a mesma - PIG. O mal que podem causar é o mesmo. Com algumas diferenças: um está em declínio, o outro em expansão. Um tem CNPJ, o outro nem CPF.

Quando o vice é útil :: Fernando Rodrigues

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - Começo por onde terminou ontem o mestre Clóvis Rossi, aqui no andar de cima desta página. Com muitas coberturas eleitorais acumuladas, Rossi escreveu sobre a relativa insignificância de candidatos a vice-presidente. Falou a propósito da ansiedade no mundo tucano pela possível entrada do mineiro Aécio Neves na chapa presidencial de José Serra.

Ontem, o próprio Aécio apareceu em entrevista a Adriana Vasconcelos minimizando a ajuda eventual sendo o candidato a vice de Serra: "Isso poderia aumentar em no máximo 5% as intenções de votos em favor de Serra em Minas".

É possível teorizar ao infinito a respeito do tema. Na vida real, as eleições recentes mostram três eventuais utilidades para um vice:

1) tempo de TV: é quando a sigla do vice dá ao titular mais tempo no horário eleitoral. Em 1994 e 1998, essa simbiose ocorreu com Marco Maciel (DEM, ex-PFL) apoiando Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Neste ano, Michel Temer (PMDB) anabolizará a exposição televisiva de Dilma Rousseff (PT);

2) mudança de imagem: em 2002, o vice de Lula foi o empresário José Alencar, então no PL. O petista ganhou mobilidade no establishment. Circulou com conforto pela elite. Não faltou dinheiro na campanha do PT;

3) mais voto: embora seja raro, um vice popular pode ajudar o desempenho do titular nas urnas.

Houve um exemplo claro em 1989. Waldir Pires era o vice da candidatura presidencial de Ulysses Guimarães (1916-1992), cuja votação final ficou em pífios 4,7%, no 7º lugar. Na Bahia deu-se uma história diferente. Waldir renunciou ao governo baiano. Fiel no posto de vice, garantiu naquele Estado a Ulysses 15,7% e a terceira colocação.

Tudo considerado, Aécio Neves pode não desejar ser vice, mas há exemplos históricos mostrando a possibilidade de fazer a diferença. Não parece ser, no momento, o desejo do ex-governador mineiro.

Pé de Bola - Moreira da Silva

Propostas para fazer o Brasil crescer

DEU NO JORNAL DO BRASIL

Em sabatina hoje, Dilma e Serra apresentam programas

Tecnicamente empatados nas pesquisas eleitorais, os presidenciáveis Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) participam hoje do Exame Fórum – Brasil: a construção da 5ª maior economia do mundo.

Na sabatina, os pré-candidatos terão de mostrar as diferenças que apresentam para convencer os eleitores de que são a melhor opção para o país crescer. Apesar de ambos garantirem que não vão mexer na chamada “santíssima trindade” da economia brasileira – metas fiscal e de inflação, além de câmbio flutuante – especialistas afirmam que falta objetividade nos discursos.

Neste ponto, dizem, Dilma saiu na frente por dar mais clareza às propostas.

– A Dilma falou em Nova York que vai reduzir as metas de inflação, mas gradualmente. O Serra ainda não foi tão claro. Por esse aspecto, ela saiu na frente – avalia o ex-diretor de política monetária do Banco Central Carlos Thadeu de Freitas.

Segundo o economista, tanto Dilma quanto Serra prometeram que não vão mexer no tripé da economia brasileira, e garantiram que vão promover a reforma tributária no país.

Contudo, diz Thadeu, falta apresentarem meios de cumprir as promessas.

– Os dois são muito competentes e responsáveis, não vão mudar os rumos da economia.

Mas ainda não se conhece que tipo de reforma cada um tem em mente. Qual será o ritmo da política fiscal a ser implementada por cada um? Eles precisam apresentar com mais clareza o ritmo da política tributária que pretendem adotar – disse.

Oportunidades na crise No último dia 20, o economista Márcio Pochmann, presidente do Instituto de Política Econômica Aplicada (Ipea), afirmou que o Brasil deve aproveitar a oportunidade de transição da economia para um desenvolvimento que prioriza a sustentabilidade, a fim de se tornar uma liderança mundial, durante um encontro na sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no Rio de Janeiro.

Para o economista Adriano Pires, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Dilma tem a vantagem de ser a candidata de um governo bem avaliado na área econômica.

– Não há dúvidas de que o governo Lula, do qual Dilma fez parte, promoveu a melhora do poder aquisitivo da população mais pobre do país. Mérito do governo, mas também houve ajuda do cenário internacional.

De 2003 a 2008, a economia mundial viveu céu de brigadeiro – ponderou. – A Dilma dá sinais de que terá uma gestão mais populista, ou seja, vai fazer o Estado gastar mais, investir e abrir crédito. A população terá de decidir se considera isso bom para o país.

Segundo Pires, em contraponto a Dilma, José Serra se mostra mais conservador. E acertou ao prometer desonerar o PIS e Confins das obras de saneamento, já que o país precisa investir em infraestrutura.

Estado forte Ex-ministro da Fazenda no governo Itamar Franco, Rubens Ricúpero também acredita que Dilma estará disposta a abrir os cofres públicos para garantir investimentos e linhas de crédito para as camadas mais pobres, enquanto Serra tentaria reduzir essa conta.

– Há uma semelhança grande entre os dois, ambos são desenvolvimentistas e querem investir em infraestrutura. A diferença está na disposição dos gastos de custeio da máquina governamental.

Os pré-candidatos do PT e do PSDB participam em horários distintos do Fórum Exame.

Dilma discursará às 11h; Serra, às 16h. Após participar do evento, a petista deverá cumprir agenda política no Rio de Janeiro.

Os demais candidatos não participam do fórum.

Hoje 'amigas' do Estado, centrais miram na imprensa

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Roberto Almeida

Centrais sindicais e movimentos sociais pretendem, com dois vultosos eventos no início desta semana, aprovar reivindicações para cobrar respostas dos presidenciáveis. Sem um alvo preferencial entre os que postulam o Palácio do Planalto, elegeram como inimigo "o principal partido de direita" no País ? "os conglomerados privados de mídia".

Amanhã, a Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS), composta por CUT, UNE, MST e mais 25 entidades, deve, além de desferir golpes contra a imprensa, ratificar um documento-base a ser apresentado a Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV).

Intitulado Projeto Nacional e Popular dos Movimentos Sociais, o texto elogia os "avanços" da gestão petista e classifica a crise do mensalão no governo federal como "tentativa de golpe contra Lula em 2005".

Ao todo, são cinco eixos temáticos para expor 58 propostas. "Muito mais há para ser feito", avisa o texto da CMS. "Defendemos mudanças na política econômica com redução dos juros e do elevado superávit primário, para que o País transite para um novo Projeto Nacional de Desenvolvimento." Há, ainda, críticas à reforma agrária.

Criada em 1997 sob outra alcunha ? chamava-se Fórum Nacional de Luta por Terra, Trabalho e Cidadania ?, a entidade passou por uma reformulação assim que Lula foi eleito, em 2002. Com a chegada petista ao governo, substituiu a meta de "derrubar" o então presidente Fernando Henrique Cardoso por "manter a pauta dos movimentos sociais no debate". "Somos questionadores", define o representante da CUT para a CMS, Antonio Carlos Spis.

A entidade espera 2 mil representantes para ratificar o documento na quadra do Sindicato dos Bancários, em São Paulo. O evento antecede a Assembleia da Conferência Nacional da Classe Trabalhadora, marcada para amanhã no Estádio do Pacaembu.

Lá, cinco centrais - CUT, Força Sindical, NCST, CGTB e CTB -, esperam 30 mil delegados em uma versão atualizada da Conferência Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat), que em 1981 uniu sindicalistas em torno da redemocratização do País.

As cinco centrais, hoje beneficiadas pelo imposto sindical, que usaram para alugar o estádio, devem aprovar a Agenda da Classe Trabalhadora, que também será apresentada aos presidenciáveis. Em pauta, a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais e o fim do fator previdenciário.

País não está pronto para a nova classe média, diz Bolívar

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

É preciso "evitar o oba-oba", afirma doutor em ciência política e diretor de instituto de estudos econômicos

Entraves do país são infraestrutura, mão de obra especializada e educação, diz autor de "A Nova Classe Média"

Uirá Machado

SÃO PAULO- O Brasil não está pronto para a nova classe média.

Tampouco esse segmento populacional está devidamente preparado para suas recentes conquistas em termos de mobilidade social.

As afirmações são de Bolívar Lamounier, doutor em ciência política pela Universidade da Califórnia e primeiro diretor-presidente do Ipesp (Instituto de Estudos Econômicos, Sociais e Políticos de São Paulo).

Em parceria com Amaury de Souza, ele acaba de lançar o livro "A Nova Classe Média" (Campus-Elsevier).

Na entrevista abaixo, ele discute a sustentabilidade da nova classe média e diz ser preciso "evitar o oba-oba".

Folha - Quais são as principais características dessa nova classe média?

Bolívar Lamounier - Estamos falando de algo em torno de 80 milhões de pessoas, um agregado social imensamente heterogêneo. É um megaprocesso de mobilidade social. É o conjunto da classe C ascendendo a condições e aspirações mais altas de consumo . Em razão disso, as famílias que a integram tornam-se mais "ambiciosas". Têm mais interesse em aumentar sua renda, querem um nível educacional mais alto para si e para seus filhos, manifestam desejo de obter um bom emprego ou de se estabelecer por conta própria etc.

Essa nova classe média é "sustentável"?

No nível macro, a sustentabilidade depende do crescimento econômico a taxas elevadas -e ambientalmente compatíveis. Hoje, no Brasil, há um clima de exagerado otimismo, mas é preciso cautela para não cantarmos vitória antes do tempo. Por outro lado, o que chamamos de ascensão da classe C se confunde em larga medida com a expansão do mercado interno e a redução das desigualdades de renda, condições que tendem a tornar o processo inteiro mais sustentável, quer dizer, menos suscetível a crises. O nível micro refere-se à geração da renda pelas famílias, à educação, ao empreendedorismo etc. Por exemplo, existem milhões de pessoas "empreendedoras", mas muitas não estão preparadas para isso. Do outro lado, a política pública mais dificulta que ajuda: carga tributária elevada, complicações burocráticas etc.

O Brasil está pronto, do ponto de vista estrutural, para essa nova classe média?

O avanço realizado nas últimas duas décadas é muito grande, mas eu não diria que está pronto. Basta atentar para a infraestrutura, obviamente incapaz de sustentar taxas elevadas de crescimento, a mão de obra especializada -que já começa a faltar- e a educação, de modo geral muito ruim.

E a nova classe média está preparada?

É preciso evitar o oba-oba. O aumento do consumo é salutar e as pessoas têm atualmente aspirações altas. Além de adquirirem mais escolaridade, os indivíduos precisam investir mais em si mesmos, ou seja, em sua própria produtividade, seja para conseguir empregos estáveis e de boa qualidade, seja para se tornarem empreendedores.


Frase
"Há no Brasil um clima de exagerado otimismo, mas é preciso cautela para não cantar vitória antes do tempo"

Bolívar Lamounier
cientista político

Jarbas adota o estilo de Serra e poupa Lula

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Pré-candidato do PMDB a governador assume a mesma postura paz e amor do presidenciável tucano com relação ao petista. Mas afia o discurso quando se trata de atacar Eduardo Campos

Gilvan Oliveira

O senador Jarbas Vasconcelos (PMDB), principal pré-candidato da oposição a governador, decidiu seguir à risca a receita do presidenciável José Serra (PSDB): adotou a postura paz e amor em relação ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). No último sábado, durante feijoada oferecida em sua homenagem pelo deputado federal José Mendonça (DEM), em Belo Jardim (Agreste), Jarbas evitou ataques ao presidente, e até o elogiou. O peemedebista negou fazer oposição pessoal a Lula e disse que as críticas em sua atuação parlamentar são dirigidas às falhas do governo.

Não sou contra ninguém. Sou oposição. O que o governo faz de errado, faz pela metade, de trapalhada. Tomo minha posição de oposição. Os aloprados do PT, por exemplo, nós denunciamos. Lula foi um bom presidente? Foi. Encontrou as coisas arrumadas e foi um bom presidente. Ajudou Pernambuco? Ajudou. Mas ele não é candidato, comentou. Jarbas, porém, desferiu críticas ao governo Eduardo Campos (PSB), adiantando que a atitude paz e amor será dispensada só a Lula.

O senador também seguiu a diretriz adotada por José Serra de confrontar o currículo do tucano com o da candidata do PT a presidente, a ex-ministra Dilma Rousseff. Por diversas vezes, ele mencionou que Lula não disputa a eleição, e enfatizou que o País deve eleger um presidente preparado, referindo-se à trajetória de Serra que já exerceu os cargos de governador de São Paulo, prefeito da capital paulista, ministro, senador e deputado em comparação à de Dilma, que foi apenas ministra. Lula está terminando seu mandato. Temos que eleger um presidente preparado, advertiu.

Mas em relação ao governo estadual, o peemedebista foi bem crítico, adiantando em parte a linha de discurso afiado que imprimirá quando a campanha começar. Jarbas qualificou a gestão Eduardo como uma peça de publicidade, que não realizou tanto quanto divulga. Apontou o que seriam falhas em áreas onde o governo assegura que vem obtendo êxitos: segurança, educação e saúde - neste último ponto, ele criticou a construção de três novos hospitais.

Se em um ano tivemos 3.800 mortos e no ano seguinte, 3.600, você não pode estar se vangloriando. As TVs mostram a violência diuturna nas ruas. Quando a publicidade não cola com a realidade, então é um desastre, avaliou. Jarbas também se referiu à insatisfação dos professores com o governo como ponto fraco na educação. E considerou a construção dos hospitais como desnecessária. Pernambuco tem a segunda maior rede nacional de hospitais (estaduais). Quem tem a rede que temos não pode estar criando novos hospitais, gerando novas despesas, se não faz modernização, atualização e adequação dos que já existem, afirmou.

Candidato de Uribe surpreende na Colômbia

DEU EM O GLOBO

O candidato do presidente Álvaro Uribe surpreendeu ontem ao conseguir ampla vitória sobre a oposição no primeiro turno das eleições presidenciais na Colômbia. Contrariando as últimas pesquisas, divulgadas uma semana antes com os dois candidatos em empate técnico, o ex-ministro Juan Manuel Santos obteve 46,6% dos votos, contra 21,5% do ex-prefeito de Bogotá Antanas Mockus. Por pouco, Santos não foi eleito presidente ontem. Eles se enfrentarão agora no segundo turno, no dia 20 de junho. Santos, segundo analistas, deve herdar os votos do terceiro colocado, Germán Vargas Lleras, que obteve 10% ontem. No interior do país, combates entre as Farc e o Exército deixaram cinco mortos.

Surpresa nas urnas na Colômbia

Santos contraria pesquisas e leva o dobro de votos de Mockus, mas não escapa do 2º turno

Mariana Timóteo da Costa

Contrariando todas as pesquisas de opinião anteriores ao pleito, o candidato governista Juan Manuel Santos venceu com ampla margem de diferença o primeiro turno das eleições presidenciais, realizadas ontem na Colômbia. Santos, que aparecia em todas as consultas empatado tecnicamente com o candidato do Partido Verde, Antanas Mockus, obteve 46,6% dos votos, contra 21,5% de Mockus. Por pouco a votação não leva o candidato do Partido da U ao que, na manhã de domingo, ao votar, ele dizia acreditar: que venceria o pleito ainda no primeiro turno. Como não obteve votação superior aos 50% de votos, necessária para se eleger presidente ontem mesmo, Santos enfrentará Mockus no segundo turno em 20 de junho.

Votos do 3º colocado iriam para Santos

Mas com uma série de vantagens: além dos quase sete milhões de votos que recebeu no primeiro turno - mais do que o dobro de Mockus - Santos deve, de acordo com analistas, herdar quase todos os eleitores do terceiro colocado na disputa, o direitista Germán Vargas Lleras, do Cambio Radical.

Lleras foi outra surpresa desta eleição: obteve mais de 10% dos votos, com propostas de campanha muito semelhantes às de Santos. A noite na sede do Partido da U foi de festa.

Cerca de 500 partidários de Mockus também se reuniram na sede do Partido Verde. Apesar de decepcionados, comemoram a possibilidade de seu candidato fazer mais três semanas de campanha.

- Foi a eleição mais pacífica dos últimos 30 anos na Colômbia - elogiou Adelina Cobo, presidente do Conselho Nacional Eleitoral, em referência à ausência de denúncias expressivas de fraude, bem como maiores episódios de violência.

Oitenta e cinco observadores da Organização dos Estados Americanos (OEA) também fiscalizaram as eleições, além de centenas de outros enviados por outros países, a maioria da União Europeia (UE). Mais uma surpresa: o comparecimento dos colombianos às urnas. Se antes o prognóstico era que até 65% dos 30 milhões de eleitores votariam devido à forte mobilização que as campanhas obtiveram nas ruas, apenas a metade votou. O voto na Colômbia é facultativo, e a abstenção em eleições costuma ser alta, o que continuou.

Ao votar por volta das 10h (meio-dia em Brasília) numa escola de um bairro nobre de Bogotá, Santos se disse confiante de que ganharia a eleição e, "espero que no primeiro turno". Rodeado por partidários, o candidato pediu que as pessoas votassem "contra o terrorismo, o pessimismo e a insegurança". Ainda prometeu dar continuidade às políticas contra a violência do presidente Álvaro Uribe, melhorar a economia e recuperar a "boa relação" com os vizinhos Venezuela e Equador.

- Ele é muito bem preparado e o único que tem conhecimento para liderar a Colômbia. Além disso, promete fazer um governo de conciliação e sem corrupção - elogiou Elvira de Schrader, de 64 anos, que foi ver de perto Santos votar.

Antanas Mockus votou pouco depois das 8h no horário local, na Cidade Universitária de Bogotá. Ele se disse confiante, e elogiou a democracia colombiana, que estava "pela primeira vez não votando contra, e sim a favor". Diversos analistas culparam a votação menos expressiva de Mockus ao fato de seu desempenho ter sido fraco nos debates realizados nas TVs na semana que antecedeu à eleição.

- Santos ganhou de Mockus em todos os últimos debates - lembrou a cientista política Laura Gil.

Pesquisas não refletiram debates

Pela lei eleitoral colombiana, a divulgação das pesquisas de opinião estava proibida desde o domingo anterior; então, as pesquisas não refletiram o desempenho dos debates. Mockus foi criticado ao longo da semana por não ter explicitado devidamente suas propostas de governo, e ainda por propor medidas impopulares para estimular a economia, como aumentar os impostos.

O esquerdista Gustavo Petro, do Polo Democrático Alternativo, superou a conservadora Noemí Sanín, e ficou com o quatro lugar. Sanín aparecia como a terceira colocada nas pesquisas, à frente de Pardo e Vargas Lleras. Sua campanha e a de Rafael Pardo, do Partido Liberal, o sexto colocado, foram consideradas os maiores fracassos desta eleição, já que seus dois partidos formam, respectivamente, a segunda e a terceira maior bancada do Congresso.

Cepal defende aumento da carga tributária

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Lu Aiko Otta
BRASÍLIA – A Comissão Econômica para América Latina e Caribe das Nações Unidas (Cepal) defende a elevação da carga tributária para garantir crescimento e distribuição de renda na região. Essa é a proposta central do documento "A hora da igualdade - brechas por fechar, caminhos por abrir", lançado ontem.

A sugestão de elevar impostos não se aplica ao Brasil, segundo explicou o secretário executivo adjunto da Cepal, Antônio Prado. A carga tributária no País é de 35,8%, segundo o dado mais recente da Receita Federal, referente a 2008. Embora num nível considerado adequado, a tributação brasileira sofre de outro problema. Ela recai de forma mais pesada sobre as pessoas de menor renda e as políticas sociais não são eficientes para contrabalançar esse problema.

Na média da América Latina e Caribe, porém, a carga é mais baixa: 18%. É um volume de arrecadação, segundo a Cepal, insuficiente para que os governos criem políticas que deem condições de a região crescer tanto quanto poderia.

Para a comissão, o maior problema a ser atacado é a falta de incentivos à inovação, que faz a economia da região ser pouco produtiva se comparada aos Estados Unidos e à Europa. É para financiar esse tipo de política que a Cepal defende mais tributação. Os recursos extras seriam usados também para fortalecer programas sociais. "São políticas de Estado de longo prazo, que não dependem de governo, por isso defendemos a construção de um pacto com a sociedade", disse o economista.

Segundo Prado, a América Latina e o Caribe alcançaram, nos seis anos anteriores à crise, um feito inédito: cresceram e distribuíram renda. A pobreza caiu de 44% da população para 33%, o mais baixo nível da história. Mas, com a crise, cerca de 9 milhões de pessoas que haviam deixado a faixa mais baixa de renda voltaram a ela.

O documento da Cepal relaciona o crescimento econômico oscilante dos últimos anos ao humor dos fluxos de capital. E defende que haja mais controle no entra e sai de recursos especulativos. Cita como exemplo o Brasil, que em outubro de 2009 começou a taxar em 2% o dinheiro estrangeiro destinado à compra de ações e títulos. Outra recomendação é aplicar o sistema de metas de inflação com parcimônia, ou seja, não buscar baixar a inflação de forma drástica em período curto de tempo.

"O Brasil está bem", disse Prado, ao explicar que nem todas as sugestões se aplicam ao País. "Não será preciso fazer nada heroico para ir bem nos próximos anos." Do ponto de vista das contas públicas, por exemplo, o Brasil é considerado o mais sólido da região.

O QUE PENSA A MÍDIA

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Gargalhada:: Cecília Meireles


Homem vulgar! Homem de coração mesquinho!
Eu te quero ensinar a arte sublime de rir.
Dobra essa orelha grosseira, e escuta
o ritmo e o som da minha gargalhada:

Ah! Ah! Ah! Ah!
Ah! Ah! Ah! Ah!

Não vês?
É preciso jogar por escadas de mármores baixelas de ouro.
Rebentar colares, partir espelhos, quebrar cristais,
vergar a lâmina das espadas e despedaçar estátuas,
destruir as lâmpadas, abater cúpulas,
e atirar para longe os pandeiros e as liras...

O riso magnífico é um trecho dessa música desvairada.

Mas é preciso ter baixelas de ouro,
compreendes?
— e colares, e espelhos, e espadas e estátuas.
E as lâmpadas, Deus do céu!
E os pandeiros ágeis e as liras sonoras e trêmulas...

Escuta bem:

Ah! Ah! Ah! Ah!
Ah! Ah! Ah! Ah!

Só de três lugares nasceu até hoje essa música heróica:
do céu que venta,
do mar que dança,
e de mim.