segunda-feira, 10 de maio de 2010

Reflexão do dia – Karl Marx

A questão de saber se cabe ai pensamento humano uma verdade objetiva não é uma questão teórica,mas prática. É na práxis que o homem deve demonstrar a verdade, isto é, a realidade e o poder, o caráter terreno de seu pensamento. A disputa sobre a realidade ou não-realidade de um pensamento que se isola da práxis – é uma questão puramente escolástica.


(Karl Marx, na II Teses sobre Feuerbach, no livro “A ideologia alemã” , pág, 125 – 3ª edição , Livraria Editora Ciências Humanas, São Paulo – 1982)

O problema do jabuti: o Judiciário e a política :: Luiz Werneck Vianna

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Pode-se, e deve-se, falar nos êxitos econômicos e sociais, logrados nas duas últimas décadas pela sociedade brasileira, mas essa narrativa estará incompleta se forem ignorados os avanços institucionais, a começar pela promulgação da Carta de 1988, que já imprimem uma marca singular na sua democracia política. Sinais evidentes dessa singularidade se manifestam nas novas relações entre os três Poderes republicanos, que têm evoluído no sentido de uma cuidadosa cooperação, tal como nos casos de políticas públicas em matéria de saúde e em tantos outros, deixando para trás a clássica separação rígida entre eles. A mais forte indicação das transformações por que tem passado o nosso ordenamento jurídico-político pode ser percebida na recente supremacia do direito constitucional sobre o Código Civil, até há pouco a sua maior referência, importando a afirmação da matriz do público sobre a nossa tradicional matriz privatística.

A prevalência do público foi uma opção estratégica do legislador constituinte, e que importou a constitucionalização de valores, princípios e dos direitos fundamentais, expressão de uma vontade geral quanto aos fins que deveriam ser buscados e concretizados. O intérprete dessa vontade seria a sociedade por meio de suas instituições, e não a esfera estatal, como ocorreu ao longo da persistência da tradição autoritária republicana. Esse foi um momento de ruptura com a cultura jurídico-política estabelecida, passando a se compreender a Constituição como obra aberta e em progresso contínuo, e não mais como um sistema fechado orientado para garantir a autonomia privada.

A partir dessa disposição, o constituinte inovou o papel do Poder Judiciário na cena republicana, instituindo um conjunto de novos instrumentos, como o mandado de injunção e a ação de inconstitucionalidade por omissão, com os quais a cidadania poderia acionar os demais Poderes para os fins de conceder eficácia aos direitos fundamentais que declarou. Ao lado disso, admitiu uma comunidade de intérpretes do texto constitucional, entre os quais partidos e representações da vida associativa, dotada da capacidade de interpelar o Supremo Tribunal Federal em nome da defesa da constitucionalidade das leis. Com essas largas intervenções, diluem-se os limites entre os Poderes e se redefine o cânon que prescrevia um estrito insulamento do Judiciário quanto à política, na medida em que ele é mobilizado constitucionalmente a dela participar.

Sob impacto dessas inovações, nosso sistema jurídico, ancorado na tradição da civil law, começa a conhecer elementos de convergência com a tradição da common law, já presente, antes mesmo da vigência da Carta de 88, sobretudo desde a criação da ação civil pública, em 1985, instituto que adotamos a partir do estudo da sua experiência americana. Com as ações civis públicas, e com a jurisprudência que a ela se seguiu, que vem ampliando o seu alcance, inclusive em matéria trabalhista, as demandas por políticas públicas encontram uma arena alternativa à da representação política, levando a que o Judiciário se veja, na prática, compelido a ampliar sua competência cognitiva. E, mais importante ainda, a orientar as suas decisões sopesando suas consequências.

A moderna democracia de massas brasileira atua, então, no sentido de pressionar a abertura do Direito a novos temas e na direção de novas soluções, exemplar o caso recente em que o Superior Tribunal de Justiça decidiu, em nome das consequências, permitir a adoção de duas crianças por um casal de mulheres. No caso, contrariando o entendimento de que a união homossexual seria apenas uma sociedade de fato, venceu a tese de que, para as crianças, o que importava era a qualidade "do vínculo e do afeto no meio familiar em que serão inseridas". As pressões por essa abertura, que vêm de várias regiões da vida social, inclusive do mundo do trabalho, põem sob tensão o princípio da integridade do Direito, que se não as admite corre o risco de perda de legitimidade. A partir dessa dialética entre integridade e abertura, o Direito se torna responsivo, tal como no exemplo acima mencionado.

As tendências para a transição do Direito Autônomo - a ordem racional-legal clássica do positivismo jurídico - ao Direito Responsivo, nas novas circunstâncias da democracia brasileira, não podem ser mais ignoradas. Essa transição, tendo como objeto o caso americano, foi estudada, em fins dos anos 1970, no trabalho clássico de P. Nonet e P. Selznick, "Direito e Sociedade: a transição ao sistema jurídico responsivo", somente agora, e não por acaso, publicado entre nós (Revan, Rio, 2010). Decerto que nosso caso é particular, em primeiro lugar porque pertencemos à família da civil law, em segundo, porque ainda desconhecemos o vigor das lutas pelos direitos civis e a judicialização deles, vivenciados pela sociedade americana na década decisiva de 1960, e, finalmente, porque anos de burocratismo e de submissão do Judiciário ao poder político hipotecaram boa parte dos nossos operadores do Direito ao conservantismo doutrinário.

Jabuti não sobe em árvore, o tema do Direito Responsivo, ao menos in nuce, esteve presente na obra do legislador constituinte, pois foi ele quem intencionalmente incluiu o Judiciário na trama dos impasses sociais. Mas essa obra estará incompleta se não se democratiza e moderniza esse Poder, e essa é mais uma questão que não pode faltar nos debates da próxima sucessão presidencial, porque, parodiando um grande autor, o Judiciário é importante demais para ser objeto exclusivo dos seus especialistas.

Luiz Werneck Vianna é professor-pesquisador do Iuperj e ex-presidente da Anpocs. Escreve às segundas-feiras

Hora de Serra :: Ricardo Noblat

DEU EM O GLOBO

“Eu não me coloco como oposição nem como situação. Eu me coloco como um candidato para o futuro” (José Serra)

Perguntei no meu blog quando Dilma Rousseff ultrapassará José Serra nas pesquisas de intenção de voto. Com pouco mais de três mil respostas registradas em quatro dias, 11,8% delas cravaram a opção “depois que Lula começar a pedir votos para Dilma na televisão a partir de agosto”. A opção “não ultrapassará Serra” atraiu 78% das respostas.

Otimistas, os que torcem por Serra ou parecem resignados com seu aparente favoritismo.

A tendência detectada pela série de pesquisas aplicadas desde o ano passado por quatro institutos (Datafolha, Ibope, Vox Populi e Sensus) sugeria a ultrapassagem de Serra por Dilma antes do início oficial da campanha eleitoral marcado para 5 de julho próximo. Ocorreu que...

Ocorreu que Serra largou o governo de São Paulo e se lançou como pré-candidato à sucessão de Lula. O barulho promovido pela oposição em torno do lançamento interrompeu a ascensão de Dilma, embora não tenha refletido de maneira expressiva na diferença de intenção de votos entre os dois. Pelo contrário. A diferença aumentou apenas em um ou dois pontinhos — dentro, portanto, da margem de erro das pesquisas.

O governo aposta na retomada do crescimento de Dilma depois dos comerciais do PT que começaram a ser veiculados no rádio e na televisão na última quintafeira. E que deverão culminar nesta quinta com o programa de dez minutos do partido a ser estrelado pela candidata. O programa corre o risco de não ir ao ar.

O Ministério Público Eleitoral quer punir o PT por ter usado o programa de dezembro para fazer propaganda de Dilma.

O PT limita-se a seguir o exemplo que vem de cima.

Há quase dois anos que Lula faz campanha aberta por Dilma desrespeitando a lei — e em algumas ocasiões debochando dela. Foi multado duas vezes. Os comerciais do PT exibidos na última quinta-feira acabaram vetados pelo Tribunal Superior Eleitoral. Os dois novos comerciais exibidos no fim de semana derraparam nos mesmos problemas dos comerciais vetados.

Na fase de pré-campanha é Serra quem tem brilhado mais. A agenda tem sido ditada por ele. E quem dita a agenda comanda a campanha.

Dilma ainda não encontrou um discurso. Tentou dois caminhos e, aparentemente, abandonou-os. Tentou seguir o script predeterminado há meses de comparar os governos Fernando Henrique e Lula. Não rendeu o suficiente até aqui.

Ficar na comparação entre os governos não lhe daria base para um posicionamento firme como candidata com vida e luz próprias.

Ela passou então a atacar Serra. Acusou-o de ser um lobo metido em pele de cordeiro. Chamou-o de biruta de aeroporto, que muda de direção a depender da força dos ventos. Não deu certo também. Para que desse, o adversário teria de topar a briga.

E Serra não topou. Quando lhe perguntaram o que achava de ter sido comparado a uma biruta de aeroporto, apenas riu. Durante o debate entre os candidatos na associação mineira de municípios, Serra desdobrou-se em cortesias com Dilma. Chegou ao ponto de dizer que ela jamais dificultou ou impediu a cooperação entre o governo federal e o governo paulista.

Esfregou seu nariz no dela.

À procura de um discurso que não se restrinja à exaltação do governo Lula e à promessa de que dará continuidade a ele, Dilma tem incorrido no erro de se deixar pautar pelo adversário.

Serra defendeu a criação do Ministério da Segurança Pública.

Ela criticou a proposta.

Serra disse que, se eleito, gostaria de governar com o PT e o PV. Lorota pura para ocupar espaço na mídia como candidato de conciliação.

Dilma reagiu à ideia. Líderes de peso do PT também reagiram. Assim como haviam reagido à garantia oferecida por Serra de que ampliará os benefícios do programa Bolsa Família. Se Lula pôde se apropriar de várias bandeiras do PSDB realizando um movimento clássico estudado em livros dedicados ao marketing político, por que Serra não poderia fazer o mesmo?

A hora de Dilma ainda está por vir.

Diogo Nogueira , Sururu na Roda e Roberta Sá - A nova geração do samba

Uso do "medo" deve marcar campanhas, avalia publicitário

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

DA SUCURSAL DO RIO
DA REPORTAGEM LOCAL

O uso do medo -frequente nas campanhas eleitorais no país, desde a redemocratização- será uma das marcas da eleição presidencial deste ano, avalia o publicitário Antonio Lavareda, autor do livro "Emoções Ocultas e Estratégias Eleitorais", lançado no final do ano passado pela Objetiva.

Medo da mudança do que tem dado certo, tentará demarcar a campanha da pré-candidata do PT, Dilma Rousseff. Medo do despreparo e da inexperiência, replicará a do pré-candidato do PSDB, José Serra.

"A campanha de Dilma deve trabalhar sentimentos como o orgulho (em relação às conquistas do país), a compaixão (políticas de inclusão e distribuição de renda) e o entusiasmo", avalia Lavareda.

Por outro lado, "vai naturalmente tentar resgatar a aversão ao governo FHC. Vai trabalhar o medo da descontinuidade das políticas sociais", diz.

Por sua vez, "Serra deve usar o entusiasmo na categoria específica da esperança. O slogan "pode mais" vai nessa direção. Do ponto de vista da emoção negativa, é o medo em relação a uma candidata despreparada, que não é o Lula, que não está pronta", acredita ele.

Doutor em ciência política pela UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), Lavareda estuda interface da neurociência com a política.

Com base na "neuropolítica", diz que o uso das emoções -como o medo- nas eleições é positivo e não pode ser confundido com manipulação. "As emoções, sobretudo as negativas, não entorpecem o eleitor. Elas podem melhorar a qualidade do voto, pois sentimentos como a ansiedade fazem as pessoas pensarem mais."

Em sentido reverso, diz ele, quando as coisas estão bem, o eleitor se caracteriza pelo entusiasmo, pela ausência de reflexão e pela manutenção. (PF e UM)

PT desafia TSE e mantém Dilma na TV

DEU EM O GLOBO

Oposição já prepara novas ações no TSE contra partido e candidata

Vivian Oswald e Chico de Gois

BRASÍLIA. A determinação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por meio de liminar na sexta-feira à noite, de que o PT não poderia repetir na TV inserções publicitárias de promoção da pré-candidata Dilma Rousseff e de comparação do governo Lula com o anterior, não impediu o partido de repetir a dose na sábado. A oposição já prepara novas ações contra o PT e Dilma, pedindo que a candidata seja multada. Amanhã, o PT volta a veicular dois comerciais de 30 segundos cada, e o programa nacional de 30 minutos está previsto para ir ao ar dia 13, quinta-feira.

Amanhã à noite, o TSE julga se esse programa de quinta-feira será mantido.

Como as inserções consideradas ilegais já foram ao ar, e tendo em vista a reincidência do partido, a oposição aposta numa decisão do TSE favorável a uma ação impetrada pelo DEM e pelo PSDB. A ação é contra o programa do PT levado ao ar em dezembro, considerado ilegal pela oposição. Se o TSE concordar com a alegada ilegalidade, poderá suspender a veiculação do programa de terça-feira.

— Desrespeitaram a decisão do ministro (do TSE) Aldir Passarinho Júnior, e a peça de sábado deve ser impugnada. As inserções do PT são aperitivo do que vem por aí. Com certeza, vão infringir a lei no programa do dia 13 — reclamou Afonso Ribeiro, advogado do PSDB.

A liminar concedida por Passarinho levou em consideração duas inserções do PT na quintafeira.

Numa delas, Dilma aparece dizendo que é fundamental continuar o caminho traçado pelo governo Lula. Em outra, um locutor cita números sobre distribuição de renda e acesso dos pobres à classe média, enquanto uma montanha russa é exibida.

Quando o carrinho começa a despencar, ele indaga sobre quem teria mais condições de continuar a política de Lula: alguém que fez parte do governo ou quem fez oposição.

No sábado, em peças publicitárias semelhantes, mas falando sobre a queda do desemprego, o locutor faz a mesma pergunta.

Para o ministro Passarinho, há, nas mensagens, uma ideia de continuismo, o que configura propaganda antecipada em favor de Dilma Rousseff.

O presidente do PT, José Eduardo Dutra, contestou a oposição, lembrando que o programa do PSDB do final do ano passado foi dividido para que o então governador de São Paulo e pré-candidato à Presidência, José Serra, e o ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves mostrassem suas administrações: — Não vejo como fazer um programa político sem mostrar o que se está fazendo no governo.

Todos os partidos fazem isso.

A continuar deste jeito, é melhor não ter programa partidário em ano de reeleição. Duvido que os programas do PSDB e do DEM não vão explorar o que o Serra fez em São Paulo.

Especialistas afirmam que o PT estaria trilhando um caminho equivocado de enfrentamento que pode lhe criar problemas mais à frente.

Especialistas: tom mais crítico do PSDB é estratégia

DEU EM O GLOBO

"Trata-se de mostrar ao eleitor a identidade política do partido"

Gilberto Scofield Jr.

SÃO PAULO. A subida no tom de críticas ao governo do presidente Lula, adotada sábado pela cúpula do PSDB no lançamento da candidatura de Geraldo Alckmin ao governo de São Paulo, foi interpretada por cientistas políticos e sociólogos como uma mudança estratégica do partido diante da sensação de que, por hora, a popularidade de Lula não vem sendo suficiente para compensar os erros da campanha da candidata Dilma Rousseff junto do eleitorado.

Para eles, a mudança é real e pode se sustentar até as eleições, caso o quadro de alianças estaduais permaneça difuso e instável como o atual, ou seja, sem reproduzir, nos estados, alinhamentos a nível federal, como parece ocorrer neste momento entre, por exemplo, o PT e seus aliados PMDB e PP.

— É uma subida de tom proposital, e acredito que vá durar até o pleito, mesmo que a candidata Dilma se recupere nas pesquisas de intenção de voto — disse Eurico Antônio Gonzalez, professor do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB). — Trata-se de mostrar ao eleitorado a identidade política do partido como oposição ao governo atual, já que o discurso conciliador que o PSDB usava até agora poderia acenar como uma discreta aprovação ao governo Lula. A estratégia tende a se radicalizar.

Segundo o cientista político Plínio Dentzien, pesquisador do Centro de Estudos de Opinião Pública da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), é cedo para saber se esta mudança de estratégia será duradoura.

Mas o evento de sábado, segundo ele, evidencia uma elevação no tom das críticas do partido que busca enfraquecer tanto o atual governo quanto a candidata do PT, Dilma Rousseff.

— Acho cedo para dizer que o PSDB será mais agressivo e irá bater mais. Se assim for, percebe-se que a estratégia está sendo feita cedo, bem antes do lançamento oficial das candidaturas, porque ela pode ser alterada, caso os tucanos percebam reação negativa do eleitor — diz Dentzien.

O cientista político Rodolfo Teixeira, doutorando em Sociologia pela UnB, observa que a subida no tom da cúpula do PSDB não foi acompanhada no discurso de Alckmin, no sábado, o único a evitar críticas ao governo Lula e à Dilma Rousseff.

Para ele, o evento evidenciou duas novas estratégias do PSDB: a da corrida pela Presidência, mais agressiva a partir de agora, e das corridas estaduais, mais conciliadora e amena.

A razão são as alianças difusas entre partidos como PSDB, PT, PMDB e PP.

— A ampla liderança de Alckmin na corrida estadual o poupa de um discurso mais agressivo.

E as disputas estaduais ocorrem em alianças que não se alinham a nível federal — disse Teixeira.

— Na briga federal, o discurso tende a se radicalizar.

Serra focado no Nordeste

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

O presidenciável do PSDB, José Serra, deve cumprir um circuito nordestino esta semana, tentando reduzir a vantagem da petista Dilma Rousseff na região.

O roteiro ainda não está fechado, mas o tucano já confirmou que a primeira parada será dia 17, no Ceará, no rastro dos tropeços de Dilma, que há um mês, sem comunicado prévio ao governador Cid Gomes (PSB), esteve por lá.

Estão programadas também visitas ao Piauí, a Campina Grande, na Paraíba, e ao Recife. Serra já visitou o Rio Grande do Norte, a Bahia por duas vezes e também foi a Maceió (AL).

Jarbas já prepara o lançamento da pré-candidatura

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

A pré-campanha do senador Jarbas Vasconcelos (PMDB) rumo ao Palácio do Campo das Princesas ainda não conta com um coordenador geral, mas desde a última quinta-feira - quando Jarbas verbalizou o “sim” - um grupo de aliados apressou-se em movimentar as articulações.
Compõem a tropa de choque jarbista os deputados federais Bruno Araujo (PSDB), Raul Henry (PMDB) e Raul Jungmann (PPS), a deputada estadual Terezinha Nunes (PSDB) e o presidente do DEM-PE, o ex-governador Mendonça Filho. Eles serão responsáveis por, no primeiro momento, organizar o levantamento da situação oposicionista no interior do Estado e viabilizar o evento que marcará o lançamento da pré-candidatura de Jarbas.

A festa, que acontecerá em recinto fechado - provavelmente no Recife -, contará com a presença do pré-candidato do PSDB ao Palácio do Planalto, o ex-governador de São Paulo José Serra. Satisfeito com a formação de mais um palanque para sua candidatura no Nordeste, o tucano já deixou claro que vem ao Estado em qualquer data escolhida por Jarbas. José Serra, que começou sua pré-campanha em visita a Salvador, quatro dias após lançar sua pré-candidatura, ainda não veio a Pernambuco após o lançamento. Sua última visita ocorreu no Carnaval, quando acompanhou o desfile do bloco Galo da Madrugada. No Nordeste, além da Bahia - onde já esteve duas vezes em 15 dias -, Serra já visitou Alagoas, Sergipe e Rio Grande do Norte como pré-candidato. Para evitar constrangimentos, o ex-governador prioriza visitar os Estados onde os seus palanques já estejam definidos.

Na cúpula jarbista, a avaliação majoritária indica que a festa da oposição deve acontecer no próximo dia 21, uma sexta-feira. “Deve ser numa sexta mesmo porque é o melhor dia para mobilizar as pessoas”, afirmou Terezinha Nunes (PSDB). O acerto definitivo sobre a data e o formato do evento serão fechados amanhã ou quarta-feira, em reunião entre Jarbas Vasconcelos e o presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra, em Brasília. “Estamos animados e dispostos a ajudar. Será uma campanha muito bonita”, afirmou Raul Henry (PMDB).

Além do evento, o grupo que fará o “mutirão pró-Jarbas”, como definiu Henry, está responsável por apresentar ao peemedebista, até o dia 17, a situação dos partidos (DEM, PMDB, PMN, PPS e PSDB) no interior. Em entrevistas a rádios locais, Jarbas afirmou na última sexta que a semana do dia “10 ao dia 17” será dedicada a esforços políticos de análise do cenário nos municípios.
“Todos os municípios têm dois lados”, avaliou o pré-candidato. Ainda nas arrumações do grupo, espera-se que Jarbas anuncie nas próximas semanas Roberto Pandolfi como coordenador logístico da campanha. Também são esperados para participar do “mutirão” oposicionista os deputados federais Bruno Rodrigues (PSDB), Roberto Magalhães (DEM) e o líder da oposição na Assembleia, Augusto Coutinho (DEM). (M.M.N.)

Serra aponta “inexperiência” de Dilma

DEU NO ZERO HORA (RS)

Foi no sábado o primeiro evento tucano em que as críticas ao governo Lula e à candidata do PT à sucessão, Dilma Rousseff, tiveram mais contundência.

Em uma agenda mais agressiva, José Serra (PSDB) deverá ir ao Nordeste na semana que vem – tudo para reduzir a vantagem petista na região.

O palco das críticas aos petistas foi o lançamento da pré-candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB) ao governo de São Paulo. Ainda que sem citar o nome de Dilma, tucanos e aliados insistiram na ideia de inexperiência da ex-ministra.

A começar pelo próprio Serra. Em seu discurso, o tucano afirmou que a administração não é um curso, em que se aprende ao longo do mandato.

– O governo não é curso de graduação, de madureza, nem de pós-graduação (no qual) quem ganha vai aprendendo no governo o que fazer, enquanto a necessidade da população fica sem atenção – disse Serra.

Minutos antes de Serra, foi a vez de o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso acusar a petista de falta de experiência:

– Ou ganhamos ou sabe-se lá o que vamos ter, meu Deus. Sabe Deus, com a inexperiência, o que vem pela frente com esse passado tão cheio de compromisso com o que há de pior em matéria de falta de civilidade e decência.

O roteiro completo ainda não está fechado, mas a primeira parada de Serra em terras nordestinas está prevista para dia 17, no Ceará.

Viagens de Lula emperram aliança entre PMDB e Dilma

DEU NO ZERO HORA (RS)

Presença do presidente em Estados onde há disputa entre peemedebistas e petistas retarda apoioA atuação do principal cabo eleitoral da candidata Dilma Rousseff (PT) – o presidente Luiz Inácio Lula da Silva – está melindrando o aliado mais importante da ex-ministra: o PMDB. O que incomoda os peemedebistas é a romaria do presidente pelos Estados, com destaque para aqueles em que o partido disputa o poder local com candidatos do PT.

Existe temor de que o apoio a Dilma custe derrotas que enfraqueçam a presença do PMDB nos governos estaduais após a eleição de outubro. Esta avaliação está por trás do adiamento da festa para anunciar a chapa presidencial com Dilma e Michel Temer (PMDB-SP) como seu vice.

Dilma até preparou um jantar para o vice na terça-feira passada, mas em vez da confirmação da data para comemorar a parceria – 15 de maio –, o encontro produziu o que um dirigente peemedebista batizou de “aliança da desconfiança”. A melhor tradução desta falta de confiança entre os aliados é o adiamento duplo das convenções que o PMDB nacional e o PT mineiro fariam para celebrar acordos.

Sem apoios nos Estados, Temer pode sair enfraquecido

Preocupados com o ambiente de desconfiança, os peemedebistas cobram de Temer, que preside o PMDB, que ponha rédeas nos parceiros petistas durante a campanha. O argumento neste caso é de que não podem colocar Temer como vice de Dilma e, ao mesmo tempo, ver os candidatos do partido nos Estados massacrados pela popularidade do presidente. O medo é de ver Lula nos palanques petistas.

Foi neste cenário que Temer comunicou Dilma, durante o jantar, que o PMDB só faria o encontro nacional para aclamá-lo candidato a vice em 12 de junho. Temer tem de fazer costuras políticas para sair fortalecido desta convenção e não pode prescindir de apoio se quiser ter força na aliança em um eventual governo Dilma.

– O nosso projeto não é presidencialista. É vice-presidencialista – define o deputado Colbert Martins (PMDB-BA).

Serra programa nova ofensiva no Nordeste

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Christiane Samarco

BRASÍLIA - O candidato do PSDB a presidente, José Serra, deve cumprir um circuito nordestino na próxima semana, com o objetivo de reduzir a vantagem da adversária petista Dilma Rousseff na região. O roteiro completo ainda não está fechado, mas o tucano já confirmou que visita o Ceará no dia 17.

A escolha do Estado para ser a primeira parada não é por acaso. O tucanato quer começar o giro no rastro dos tropeços da candidata do PT.

Depois da passagem de Dilma pelo território cearense há cerca de um mês ? sem comunicado prévio ao governador Cid Gomes (PSB) e em meio à operação do Palácio do Planalto para desmontar a candidatura presidencial do deputado Ciro Gomes (PSB-SP) ? , a ideia é aproveitar o clima de solidariedade aos irmãos que sempre atuaram em parceria com o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) no Estado.

"O presidente Lula continua muito forte no Ceará, mas a antipatia pela candidata dele é crescente", afirma Tasso. "Pode ser até que a Dilma industrializada, pasteurizada e enlatada no programa eleitoral de TV melhore seu desempenho. Mas fora da tela, não vai ter jeito. É a impressão que estou colhendo por aqui".

A visita ao Ceará vai começar pelo interior, na região do Cariri, em Crato e Juazeiro, terra de Padre Cícero e um dos maiores centros de romarias e religiosidade popular do Brasil. O dia seguinte ele passa em Fortaleza.

Encarregada de cuidar da agenda de viagens do candidato, a senadora Marisa Serrano (PSDB-MS) diz que, no Ceará, a visita tem um objetivo mais político, de conquistar novos aliados. Por isso os encontros com cerca de 200 prefeitos e líderes políticos municipais, tanto na capital como no interior. Mas, como o objetivo é conquistar eleitores além da estrutura política da oposição no Nordeste, bem menor do que a do presidente Lula e sua candidata, os chamados eventos de rua e de mídia não podem faltar.

"Nosso candidato precisa ser visto e precisa falar diretamente com setores da economia e da sociedade civil, que as estruturas aliadas a nós nesses Estados não alcançam", explica o deputado Jutahy Júnior (PSDB-BA).

No giro nordestino, a programação também vai incluir entrevistas a rádios e TVs locais, caminhadas pelas ruas, mercados, feiras e centros comerciais, deixando claro que o objetivo central é aproximar o candidato do povo.

Depois do Ceará, estão programadas viagens ao Piauí e a Campina Grande, na Paraíba. Serra também irá ao Recife, agora com a garantia de um palanque confortável com o PMDB do senador Jarbas Vasconcelos (PE), que vai disputar com o governador Eduardo Campos (PSB), que tenta a reeleição.

O comando político da campanha deve se reunir hoje em Brasília para avaliar o impacto positivo das viagens. As visitas espaçadas a Estados nordestinos começaram pelo Rio Grande do Norte, mas Serra já visitou a Bahia por duas vezes e Alagoas. "Serra tem deixado ótima impressão por onde passa, mostrando o que fez pelo Nordeste e por cada Estado em particular, seja como ministro do Planejamento ou da Saúde", atesta o líder do DEM no Senado, José Agripino (RN).

Tasso tenta atrair eleitores de Ciro para PSDB

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O Ceará deve ser o único Estado do Nordeste em que o presidenciável do PSDB, José Serra, não terá palanque de governador. Caberá ao senador tucano Tasso Jereissati, candidato à reeleição, pedir voto ao paulista.

Com o deputado Ciro Gomes eliminado da disputa presidencial, Tasso está à vontade para fazer campanha para Serra. A estratégia do tucano é fazer com que os votos do seu afilhado no Estado não migrem para Dilma.

Tasso já antecipa o discurso. "Vou mostrar obra por obra que ele trouxe para o Ceará, quando era ministro do Planejamento. E vou desafiar qualquer oponente a ter 5% das obras que ele trouxe para o Ceará, quando ministro do Planejamento: Porto do Pecém, Aeroporto, Castanhão e início do Metrô"", diz o senador. / C.P.

Lula se afirma 'multi-ideológico' a jornal espanhol

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Em entrevista ao jornal espanhol "El País", o presidente Lula se definiu como "multi-ideológico".
"Um chefe de Estado é uma instituição, não tem vontade própria todo santo dia, mas tem que levar a cabo os acordos que sejam possíveis." Para ele, que não vê chance de perder a eleição, haverá continuidade. "Ganhe quem ganhar, ninguém fará nenhum disparate."


Lula se define como "multi-ideológico"

Explicação do presidente para seu novo rótulo, em entrevista-reportagem no jornal espanhol "El País", não fica clara

Petista afirma que chefe de Estado "não tem vontade própria todo santo dia, mas tem que levar a cabo os acordos que sejam possíveis"

Clóvis Rossi
ENVIADO ESPECIAL A MADRI

Depois do "Lulinha, paz e amor", depois da "metamorfose ambulante", Luiz Inácio Lula da Silva achou uma nova e inédita maneira de auto-definir-se: "multi-ideológico".

O novo rótulo apareceu em uma entrevista-reportagem feita por Juan Luis Cebrián, o principal executivo do grupo espanhol Prisa, cuja nau-capitânia é o jornal "El País".

A conversa foi capa do caderno "Domingo". Nela, em vez de "multi-ideológico", Lula aparece pouco ou nada ideológico, como se vê na frase completa:

"Um chefe de Estado não é uma pessoa, é uma instituição, não tem vontade própria todo santo dia, mas tem que levar a cabo os acordos que sejam possíveis. Aprendi isso no poder e creio que foi bom para o Brasil", afirma, para continuar:

"Não pode ser que eu tenha que gostar de um presidente porque é de esquerda e de outro não, por ser direitista. Me dei bem com Aznar [José María Aznar, conservador ex-presidente do governo espanhol] e me dou com Zapatero [José Luis Rodríguez Zapatero, sucessor de Aznar, socialista]; tenho que me relacionar com Piñera (Sebastián Piñera, recém-eleito presidente do Chile, direitista] da mesma forma como o fiz com Bachelet (Michelle Bachelet, antecessora de Piñera, socialista]. No exercício do poder sou um cidadão, como diria, multinacional, multi-ideológico, não?".

A "multi-ideologia" reaparece ainda mais confusa em outro trecho, em que Lula recupera um conceito de Delfim Netto, ao dizer que "é preciso ter o que distribuir antes de fazê-lo".

Parte da fama de Lula como sindicalista se deveu ao fato de atacar continuamente a tese atribuída a Delfim de que é preciso primeiro fazer crescer o bolo para depois distribui-lo.

Mas esse conceito serve para anunciar um futuro salto ao socialismo. Lula repete sua conhecida avaliação de que o Brasil era "um capitalismo sem capital", antes dele, e, por isso, ele resolveu "que era preciso primeiro construir o capitalismo para depois fazer o socialismo".

O presidente não explica como se dará o salto para o socialismo, mas coloca na conversa Henry Ford, que não chega a ser um ícone do socialismo: "Os empresários têm que saber que é preciso pagar salários um pouco maiores para que as pessoas possam comprar os produtos que fabricam. Isso já dizia Henry Ford em 1912" (e Lula também, quando era líder sindical, bem mais tarde).

Em outro momento, o presidente mostra-se bastante confortável com um dos micro-símbolos do capitalismo: "Embora tenha trabalhado 27 anos com um avental [de operário], nunca estava à vontade; com dois meses de gravata não tive dificuldade em me acostumar a ela, é uma bonita prenda".

É sintomático que, na mesma edição de "El País", Moisés Naïm, do Centro Carnegie de Pesquisas (Washington), escreve que "Lula foi dos presidentes mais pró-mercado e pró-setor privado e investimento estrangeiro que o Brasil já teve".

O próprio Cebrián intervém no texto para observar que o "milagre brasileiro começou com [Fernando Henrique] Cardoso, um professor respeitado e um democrata exemplar, que nivelou as contas públicas e venceu a inflação".

Essa suposta ou real continuidade não se verá afetada pela eleição, na opinião de Lula:

"Ganhe quem ganhar, ninguém fará nenhum disparate. O povo quer seguir caminhando e não voltar para trás".

Mas ele garante, como é natural, que não vê possibilidade de perder a eleição.

Europa socorre países em crise com mais US$ 650 bi

DEU EM O GLOBO

Portugal, Espanha e Irlanda também terão ajuda; FMI amplia crédito para US$ 130 bi

Sob temores de que a crise grega contagie outras economias da região, a União Europeia (UE) aprovou ontem um pacote de socorro de US$ 650 bilhões a países da zona do euro em dificuldades financeiras, como Portugal, Espanha e Irlanda. O acordo prevê empréstimos e garantias de crédito no valor de US$ 572 bilhões e um fundo de estabilização de US$ 78 bilhões. Além disso, o Fundo Monetário Internacional (FMI) fará uma extensão de crédito de US$ 130 bilhões, além dos US$ 39 bilhões para a Grécia, acertados na semana passada e aprovados ontem pela diretoria do organismo. As notícias sobre o acordo levaram otimismo a investidores, após uma semana de forte turbulência. Na abertura dos mercados asiáticos hoje, o euro subiu quase 2% frente ao dólar. Ontem foi a vez de a Espanha anunciar um corte adicional em seus gastos de US$ 19,5 bilhões. Portugal e Grécia também já divulgaram planos de austeridade fiscal. O pacote grego vem gerando pesados protestos no pais e levando insegurança ao dia a dia da população.

US$ 940 bi para conter crise na UE

Ministros e FMI aprovam pacote de urgência. BCE comprará títulos de países em dificuldade

Da Bloomberg News*


BRUXELAS - Os ministros de Finanças da União Europeia (UE) aprovaram ontem um mecanismo de ajuda de US$ 650 bilhões (C 500 bilhões), para evitar que a crise fiscal da Grécia se espalhe por outros países da zona do euro. O esforço dos ministros repercutiu positivamente na abertura dos mercados na Ásia. Segundo a ministra de Finanças da Espanha, Elena Salgado, o acordo prevê financiamentos e garantias de empréstimos dos países da zona do euro no valor de US$ 572 bilhões (C 440 bilhões); um fundo de estabilização de US$ 78 bilhões (C 60 bilhões). Além disso, o Fundo Monetário Internacional (FMI) faria uma extensão de crédito de US$ 290 bilhões (C 220 bilhões), o que, somado ao pacote da UE, totaliza US$ 940 bilhões (C 720 bilhões).

— Estamos colocando considerável soma em defesa da estabilidade na Europa — disse Elena, após reunião de 14 horas dos ministros de Finanças da UE.

Em outra decisão importante, o Banco Central Europeu (BCE) anunciou ontem à noite que vai comprar títulos dos governos dos países do bloco que estão pagando altos juros para vender seus papéis ao mercado.

Já o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) anunciou um programa para enviar dólares para a Europa, para ajudar a conter a crise. Também estão envolvidos na iniciativa os BCs de Canadá, Inglaterra e Suíça.

No sábado, autoridades do bloco europeu se comprometeram a defender o euro de ataques especulativos e evitar um contágio da crise. Fontes da UE disseram ontem que a Alemanha, que enfrenta oposição interna contra a ajuda aos países em dificuldade, resistia a um acordo que não colocasse limites sobre uma possível assistência financeira a nações como Portugal, Espanha ou Irlanda. Os alemães também defenderam a participação ativa do FMI no processo.

Bolsa de Tóquio e euro abrem em alta

Em linha com as negociações em Bruxelas, o FMI anunciou ontem que sua diretoria aprovou o empréstimo de US$ 39 bilhões à Grécia, referentes à parte que cabe à instituição dentro do pacote de US$ 143 bilhões acertado no último dia 2 de maio. Em uma breve declaração após uma reunião de quase três horas, a diretoria do FMI disse que o programa de empréstimo vale por um período de três anos. Os demais US$ 104 bilhões do pacote virão dos países da UE. O FMI disse ainda que cerca de US$ 7,15 bilhões estão disponíveis para a Grécia imediatamente, dentro do plano de desembolsar US$ 13 bilhões para o país este ano.

A Grécia tem uma dívida de mais de 115% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos pelo país) e um déficit fiscal de 13,6% do PIB, quando o teto da UE é apenas 3% do PIB. O pacote da UE-FMI, que entra em vigor em 19 de maio, visa a ajudar Atenas satisfazer as necessidades de financiamento.

“A forte ação de hoje pelo FMI para apoiar a Grécia contribuirá para os esforços internacionais em andamento para ajudar a trazer estabilidade para a zona do euro e assegurar a recuperação econômica global”, disse o diretor-gerente, Dominique Strauss-Kahn em comunicado.

O acordo da UE ocorre depois de uma semana de forte turbulência nos mercados financeiros diante dos temores de um contágio da crise grega não só entre países europeus, mas envolvendo também nações com alto déficit público. Nesse caso, a perspectiva de a crise ganhar contornos globais levou pânico aos investidores.

Vários analistas criticaram a morosidade dos governos europeus na reação à crise fiscal grega, permitindo que sinais de contágio aparecessem em Portugal e Espanha, através de movimentos especulativos nos mercados financeiros.

Na sexta-feira, depois de um dia de forte queda nos mercados globais, os líderes europeus sinalizaram um entendimento, através de uma reunião convocada de emergência.

Por telefone, o presidente americano, Barack Obama, conversou com líderes europeus, como a chanceler Angela Merkel, da Alemanha, e o presidente francês, Nicolas Sarkozy. Obama prometeu apoiar a decisão europeia.

Na sexta-feira, o primeiro-ministro português, José Sócrates, anunciou que reduzirá o déficit fiscal além do previsto neste ano, para 7,3% do PIB. Ontem foi a vez da Espanha anunciar um corte adicional de US$ 19,5 bilhões de seu déficit, para 9,3% do PIB, este ano, e 6,5%, em 2011. No total, o corte equivale a 1,5 ponto percentual a menos da previsão anterior.

A notícia do pacote ajudou o euro na abertura dos mercados hoje, na Ásia. A moeda comum europeia avançou quase 2% ante o dólar e 3%, contra o iene. No mercado de ações, a Bolsa de Tóquio abriu em alta de 0,5%; a de Sydney subiu 1,4%; e a da Coreia do Sul, 1,4%. Já o ouro caiu 0,7% na abertura do mercado em Sydney.

(*) Com agências internacionais

A natureza da crise na Europa :: Luiz Carlos Bresser-Pereira

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

É preciso repensar radicalmente o problema das finanças internacionais e dos deficit em conta-corrente

O quadro financeiro europeu continua muito grave. A Alemanha, afinal, decidiu dar apoio ao pacote financeiro grego, de forma que a dívida do setor público da Grécia está equacionada.

A imprensa tem dado amplo noticiário sobre o assunto, mas afinal se limita a informar sobre o deficit público e a dívida pública do Estado grego, em vez de informar sobre o problema fundamental que não é do setor público, e sim do setor privado: é o deficit em conta-corrente e a dívida externa dos países. O problema fiscal é grave porque o deficit de 2009 somou-se a elevados níveis de dívida pública, mas o desequilíbrio não está apenas nos governos; está nos países como um todo e, portanto, em seu deficit em conta-corrente e em sua dívida externa, que englobam o setor público e o setor privado.

Se o problema fosse apenas do setor público, o socorro financeiro e uma política dura de ajuste fiscal resolveriam a questão. Sendo do país, necessita da depreciação cambial que não podem realizar.

A União Europeia controla os deficit públicos, não controla os deficit em conta-corrente. Os jornais não publicam dados sobre esse deficit porque não os recebem dos economistas.

Esses não os informam porque a teoria econômica ortodoxa pressupõe que o setor privado é equilibrado pelo mercado: é o chamado "princípio de Lawson", associado ao ministro das Finanças de Margaret Thatcher, Nigel Lawson.

A Crise Global de 2008 mostrou que essa tese é absurda no plano nacional. Agora o fenômeno se repete no plano internacional. Em 2009, enquanto a Alemanha, que reduziu salários nos últimos dez anos, obteve superavit em conta-corrente de 4,8% do PIB, Grécia, Portugal, Espanha e Itália realizaram deficit em conta-corrente de 10,2%, 10,5%, 5,8% e 3,9% do PIB, respectivamente. Esses deficit financiaram investimentos de médio prazo, mas as empresas e o Estado se endividaram no mercado financeiro de curto prazo.

Devedores e credores sabiam que os débitos não poderiam ser pagos de um dia para o outro -que teriam que ser rolados-, mas, dado o pressuposto dos mercados privados sempre equilibrados, foram adiante no processo. Até que, neste ano, repentinamente, os credores começaram a elevar os prêmios de risco e a suspender a rolagem da dívida.

O problema se agrava porque decidiram pelo "sudden stop" em um quadro no qual os países não têm o mecanismo de ajuste clássico para esses momentos: a desvalorização cambial, que reduziria os salários e equilibraria a conta-corrente. Os Estados de cada país podem ajustar suas finanças, mas não há solução para o desajuste privado de países que não têm moeda própria para desvalorizar.

Como na Crise Global, existe a solução financeira via Estado. O governo da União Europeia pode garantir a dívida externa daqueles quatro países por meio da criação, às pressas, de um FMI europeu, por meio do próprio FMI e via BC Europeu.

Neste momento, os ortodoxos dirão que o BCE não pode entrar no jogo porque estaria criando dinheiro ao socorrer os países, mas foi exatamente isso o que fez o Federal Reserve na Crise Global, sem causar inflação. Agora o BCE precisará criar dinheiro para salvar os países, ou melhor, novamente os bancos, porque foram eles que emprestaram.

Mas uma situação como essa não pode continuar para sempre. A política de crescimento com poupança externa já vitimou muitos países. É preciso repensar radicalmente o problema das finanças internacionais e dos deficit em conta-corrente.

Luiz Carlos Bresser-Pereira, 75, professor emérito da Fundação Getulio Vargas, ex-ministro da Fazenda (governo Sarney), da Administração e Reforma do Estado (primeiro governo FHC) e da Ciência e Tecnologia (segundo governo FHC), é autor de "Globalização e Competição".

Da pirambeira à frente, o governo nem quer saber... :: Marco Antonio Rocha

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

"Um espectro ronda a Europa." Cabe parafrasear o início do Manifesto Comunista de Karl Marx, de 1848. Só que, desta feita, não é o espectro do comunismo - como ele vaticinava -, mas o do capitalismo financeiro em desordem e desgovernado, que ronda a Europa e o mundo todo, e com tudo o que se pode qualificar de mais selvagem, na opinião de muitos críticos modernos.

Uma senhora aposentada, de cabelos brancos, entra no elevador do prédio onde mora o jornalista, empurrando seu carrinho de feira, e indaga com o semblante preocupado: "O que o senhor acha que vai acontecer? Essa situação da Grécia vai prejudicar o Brasil e bater no nosso bolso?"

Tudo indica, pelas conversas de rua, que o noticiário sobre o que acontece com a Grécia, na Grécia e na Europa em geral, já "não é grego" para o entendimento do brasileiro comum. Até pouco tempo atrás era raro o cidadão ou a cidadã, no Brasil, se inquietar com o que se passava em paragens distantes no mundo das altas finanças internacionais. Nós vivemos "tão apertadas" - diria a dona de casa nas TVs - com coisas miúdas como o preço do feijão e da cesta básica (que aliás teve bom aumento em abril), que não podemos perder tempo para tomar conhecimento dessas confusões de gente rica - é melhor que eles mesmos se entendam...

Não é essa a reação que mais se podia esperar do comum dos brasileiros?

Parece que não é mais tão assim. O fantasma que ronda a Europa começou a rondar também o espírito de boa parte dos brasileiros, devido, pensamos nós, à lição oferecida pela recente crise que começou com os créditos imobiliários podres nos Estados Unidos e se espalhou pelo mundo.
Os brasileiros, embora menos afetados, sentiram que o Brasil não esteve tão "blindado" nem escapou tão ileso daquela crise ? como gostam de proclamar os porta-vozes do governo e os fâmulos do presidente Lula, tentando incutir na cabeça do povo que foi graças a eles e aos seus iluminados tirocínios que o País passou incólume (sic) pelo vendaval. O povo percebeu, no entanto, que houve queda da produção, do PIB, do emprego, da renda, etc. ? mesmo que, a bem da verdade, a recuperação tenha sido rápida.

Mas ficou a lição. E por isso os acontecimentos na Grécia não estão sendo olhados com a indiferença popular que se costumava constatar.

E é oportuna essa nova atitude de alerta, até para evitar que Lula se refugie no seu habitual otimismo galopante e saia a falar de novo em "marolinha".

O clima de alarma e quase pânico que varreu a Europa na semana passada, a pancadaria e as mortes nas ruas de Atenas e os protestos e passeatas na Alemanha, França, Espanha e Portugal abriram caminho para todo tipo de menções relacionadas com a rica epopeia grega. Presente de grego, olimpíada do calote, cavalo de Troia, etc.

Uma delas me chamou a atenção: "A Ágora assalta a Acrópole" - imagem chique das manifestações em Atenas contra o FMI e os financistas europeus e que levaria Marx a escrever: "Esbulhados de todo o mundo, uni-vos!", uma vez que, de fato, os esbulhados de todo o mundo deveriam se unir para pôr fim à farra desse financismo virtual que circula pelo planeta com a velocidade da luz graças à internet. Em busca do quê? Rigorosamente, de nada, pois apenas procura o maior lucro possível nas próximas 24 horas, e só! Dinheiro correndo atrás de dinheiro.

Esse jogo improdutivo sempre existiu, seja dito. Mas hoje, além de avassalador, não é apenas improdutivo, mas também destrutivo, como se viu na crise de três anos atrás e como se verá nesta. O capital produtivo, que constroi empresas, empregos progresso cultural e riquezas, de fato se vê deslocado e esmagado pelo tsunami diário de uma especulação que, aparentemente, os bancos centrais e os governos não conseguem controlar ? admitindo que queiram de fato controlá-la.

A crise da Grécia não é só dela, já se disse. É da Europa toda, do euro, da administração dessa moeda inadministrável, como mostrou objetivamente o artigo Mais Europa, e não menos, do nosso colunista Celso Ming, na quinta-feira passada. E do sistema financeiro mundial.

O desgoverno financeiro é o motor de partida de crises, como foi na dos Estados Unidos, com a incúria de um Fed otimista demais e leniente demais com a alta finança. Ou na da Grécia, com a incúria de políticas fiscal e monetária demagógicas. Crises previsíveis pelos economistas que pensam com autonomia e, de fato, previstas. Mas nenhuma medida acauteladora foi tomada.

Como no Brasil, agora, pois até a Ata do Copom (governista) já fala em "deterioração do cenário prospectivo". A crise do subprime nos pegou com divisas em alta, balança comercial em alta, transações correntes superavitárias, inflação aquietada, demanda em crescimento sustentável e contas fiscais sob controle. Já agora isso tudo está com sinal trocado. E é nesse cenário desfavorável que a crise da União Europeia (UE) pode nos pegar.

Não obstante, todo mundo no governo só tem olhos na nuca para ver a boa velocidade que a economia vinha desenvolvendo até agora, sem querer saber da pirambeira pela frente.

É jornalista

ENTREVISTA: Antanas Mockus, candidato à presidência da Colômbia

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Ruth Costas


''Não sou contra o uribismo, mas contra a cultura do atalho e do vale-tudo''

Entre um comício e outro pelo interior da Colômbia, o candidato favorito às eleições do dia 30, Antanas Mockus, conversou com o Estado por telefone sobre seus planos de governo.

O que garante que quem se vestia de Supercidadão e chegou a abaixar as calças em público terá a seriedade necessária para ser presidente?

Pela Constituição, o presidente encarna a soberania nacional, representa o país e por isso precisa fazê-lo com dignidade. Sei que o dia em que me tornar presidente será aquele em que jurarei cumprir a Constituição e as leis. Isso significa um compromisso público de representar dignamente o país. Há um amadurecimento de minha parte nesse processo. Quando eu tinha 16 anos podia fazer coisas que não posso hoje. Há quatro anos eu cantava a Constituição, hoje não me atrevo.

Uribe insinua que o sr. não apoiou o programa Segurança Democrática e agora apropria-se do discurso dele...

Tivemos um ponto de diferença no início de seu primeiro mandato, quando eu era prefeito, sobre o pagamento de recompensas (por delação no combate à guerrilha). Eu não concordava com essa estratégia de incitar os cúmplices dos criminosos (a delatarem seus companheiros) com recompensas - para mim isso era comprar a cooperação dos cidadãos. Mas depois disso cooperamos.

Define-se como anti-Uribe?

Não. Em algumas coisas. Mais que anti-Uribe sou anti-cultura do atalho, anti-resultado a qualquer custo. Sou mais cuidadoso com os métodos. Mas temos coisas em comum, como a vontade de governar de perto dos cidadãos.

Não haverá acordo humanitário com as Farc em seu governo?


É improvável, porque as Farc nos últimos anos praticaram a linguagem do sequestro. Qualquer concessão poderia disparar o número de reféns e retroceder nos ganhos dos últimos anos. Agora, se a Cruz Vermelha e a Igreja quiserem ajudar a promover liberações unilaterais, poderão fazê-lo.

Como governaria sem a maioria no Congresso?

Acredito na democracia deliberativa, no debate. Qualquer congressista pode propor ideias que mudam os rumos de uma discussão. Não ofereceremos favores por votos nem aceitaremos extorsão. Venceremos pela forças dos nossos argumentos.

Como pretende melhorar as relações com a Venezuela?

Precisamos ser diplomáticos e prudentes, tratar os demais como gostaríamos de ser tratados. Nenhum desses países gostaria da intromissão do país vizinho nos seus debates filosóficos ou ideológicos. Em geral os colombianos têm uma atitude muito crítica com relação ao socialismo bolivariano. E parte da sociedade venezuelana olha com ressalva o que acontece na Colômbia. A existência de opiniões divergentes é em certa medida inevitável e até saudável, mas nós, governantes, devemos ser prudentes com essas opiniões. Agora, na América Latina há mais pontos de vista diferentes. A democracia está mais (pausa) interessante, apesar de que às vezes isso implica em mais riscos. Sou otimista. Acredito que a democracia se corrige a si mesma.

A Colômbia deu prioridade às relações com os EUA nos últimos anos. O sr. daria mais atenção à América Latina?

Tenho uma visão cálida dos EUA, sua academia e Constituição. Mas a Constituição colombiana orienta no seu preâmbulo à integração latino-americana e eu já disse que tomo a Constituição como norte.

A que atribui seu crescimento nas pesquisas?

À cooperação com meus ex-rivais (ex-prefeitos) e à aliança com Sérgio Fajardo. À discussão séria de conteúdos programáticos e à sinceridade no tema da doença de Parkinson. (Ele revelou que foi diagnosticado com a doença, mas seus sintomas, segundo médicos, só se manifestarão em 12 anos).

Aliança com outros prefeitos é grande trunfo do candidato

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Ao contrário do que possa parecer à primeira vista, o que a Colômbia assistirá, na votação do dia 30, não é bem o embate entre um "outsider" que promete mudanças e o legado da "segurança democrática" de Álvaro Uribe. Os uribistas concorrem, na realidade, contra um outro legado bastante sólido, construído desde os anos 90 por políticos independentes, com fama de honestos que modernizaram as duas principais cidades do país, tornando-se exemplos de gestão local.

Uniram-se à candidatura de Mockus, os ex-prefeitos de Bogotá Luiz Eduardo Garzón e Enrique Peñalosa. Juntos, eles transformaram Bogotá de uma terra de ninguém, violenta e sem infraestrutura, numa cidade moderna, cheia de praças e ciclovias.

Seu candidato a vice é Sérgio Fajardo, que tirou Medellín das garras do tráfico com um projeto que incluiu mais investimento em educação e o combate à corrupção na polícia. "Mockus propõe um modelo de governo colegiado, dentro do qual o grosso das decisões não dependa só de um líder ou caudillo", explica o analista Alejo Vargas.

Pesquisa mostra empate nas eleições presidenciais da Colômbia

Reuters

Antanas Mockus, do Partido Verde, e Juan Manuel Santos, da situação, se enfrentariam em 2º turno

BOGOTÁ - Os candidatos à presidência da Colômbia Antanas Mockus, do Partido Verde, e Juan Manuel Santos, do Partido Social da Unidade Nacional, estão tecnicamente empatados a menos de um mês para as eleições de 30 de maio, de acordo com pesquisa divulgada neste domingo, 9.

Santos, antigo ministro da Defesa do presidente Álvaro Uribe, teria 35% das intenções de voto, enquanto Mockus, duas vezes prefeito de Bogotá e conhecido por sua postura anti-corrupção, teria 34%, segundo mostrou a pesquisa da Ipsos-Napoleon Franco.

Em um eventual segundo turno, no entanto, Mockus teria 48% das intenções de voto e Santos, 41%, o que mostra uma margem mais apertada que na última pesquisa.

É a primeira pesquisa em várias semanas que mostra que Santos de volta à situação de empate com Mockus, um independente que subiu nas pesquisas a partir de abril. Nenhum candidato teve suporte suficiente para evitar um segundo turno em junho.

A pesquisa foi feita entre os dias 4 e 6 de maio com 1.202 eleitores de 36 cidades colombianas, com margem de erro de 3,5 a 3,7 pontos percentuais.

O QUE PENSA A MÍDIA

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Franz Liszt - Les Preludes, 1 of 2. AIMS Festival Orchestra. Edoardo Mueller, Conductor

Namorados :: Manuel Bandeira


O rapaz chegou-se para junto da moça e disse:
-Antônia, ainda não me acostumei com o seu corpo, com sua cara.
A moça olhou de lado e esperou.
-Você não sabe quando a gente é criança e de repente vê uma lagarta listrada?
A moça se lembrava:
-A gente fica olhando...
A meninice brincou de novo nos olhos dela.
O rapaz prosseguiu com muita doçura:
-Antônia, você parece uma lagarta listrada.
A moça arregalou os olhos, fez exclamações.
O rapaz concluiu:
-Antônia, você é engraçada! Você parece louca.