quinta-feira, 22 de abril de 2010

Reflexão do dia – José Serra

O tema da eleição é o futuro. Vai tratar de se escolher alguém que seja capaz de botar o Brasil para a frente. É o que eu disse: o Brasil pode mais. Nisso conta o que a pessoa fez, o preparo que tem, as ideias que tem, o significado das suas palavras, mas sempre apontando para frente. O Lula não é candidato, nem o Fernando Henrique, nem o Sarney e nem o Collor.

Nos últimos 25 anos, o povo brasileiro alcançou muitas conquistas. (...) Não foram conquistas de um só homem ou de um só governo, muito menos de um único partido. (...) E nós somos militantes dessa transformação, protagonistas mesmo, contribuímos para essa história de progresso e de avanços do nosso país. Nós podemos nos orgulhar disso. E, se considerarmos os avanços em outros países e o potencial do Brasil, uma conclusão é inevitável: o Brasil pode ser muito mais do que é hoje.


(José Serra na entrevista ao jornal O Globo, 11/4/2010)

De boné e outros males:: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Toda manifestação de condenação a ilegalidades é bem posta. De autoridades ou postulantes a mandatos eletivos ainda mais. O contrário é que soa fora do esquadro. Portanto, a declaração da pré-candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, sobre as últimas invasões de prédios públicos pelo MST, não requer reparos.

"É incorreto e ilegal. Não se pode conviver com ilegalidade estando no governo", disse.

Talvez se pudesse cobrar dela um acréscimo, já que é candidata do governo, foi ministra da Casa Civil até outro dia, faz campanha apresentando-se justamente como corresponsável pelo êxito do presidente Luiz Inácio da Silva.

Uma explicação para o fato de o governo que representa conviver tão bem e há tanto tempo com as ilegalidades por ela precisamente definidas.

No mesmo dia em que a ex-ministra dava declarações escorreitas à Rádio Jornal de Pernambuco, uma comissão de invasores do prédio do Incra em Brasília e em mais seis Estados era recebida pelo ministro do Planejamento e pelo presidente do Incra, separadamente, para discutir reivindicações.

Nenhuma novidade. As coisas se passam sempre assim. Mesmo quando as invasões têm consequências mais graves, deixam rastros de destruição e até vítimas. Há negociações, convivência, portanto.

Não foi a primeira vez, queira o bom senso que seja das últimas. O próximo "abril vermelho" alcançará Lula fora da Presidência. Descontada uma surpresa monumental, encontrará na cadeira presidencial Dilma Rousseff ou José Serra.

Conviria em breve que o pré-candidato tucano se pronunciasse a respeito. E Dilma, já que começou a abordar o tema poderia desde logo desenvolvê-lo.

Não no rumo que ganhou destaque no noticiário: se vestiria ou não o boné do MST como fez o presidente Lula no início de seu primeiro mandato nas dependências do Palácio do Planalto. Essa é uma questão de fácil solução.

Tanto que Dilma nem titubeou quando indagada a respeito: "Acho que não é cabível vestir o boné do MST. Governo é governo, movimento social é movimento social." Bem como mãe é mãe, pai é pai e nada de novo se extrai disso.

O boné, assim como o simbolismo romântico do MST, perdeu-se em obsolescência no tempo.

A questão em pauta não é essa. O essencial é saber dos candidatos se o próximo governo cumprirá a lei que excluiu da reforma agrária terras invadidas e invasores, o que equivale cortar-lhes o acesso a verbas federais, ou se continuará sustentando o movimento e patrocinando a ilegalidade ao arrepio do Estado de Direito.

Diplomacia, apenas. O episódio que levou o presidente Lula a cometer o que seria mais uma de suas descortesias, não configurasse antes uma agressão ao Itamaraty e aos fatos, não foi fruto da "diplomacia de vira-latas" daquele Brasil substituído pelo outro fundado em janeiro de 2003.

Em janeiro de 2002, o então chanceler Celso Lafer em três aeroportos americanos foi submetido a revistas e obrigado pelos seguranças a tirar os sapatos.

Tratamentos similares receberam os chanceleres do Canadá, da Rússia e do México. Já ao britânico não foi aplicada a regra geral de segurança.

Na primeira revista Lafer comunicou o ocorrido ao embaixador brasileiro em Washington, Rubens Barbosa, que apresentou protestos junto ao governo americano, todos inúteis.

Lafer só veio a receber pedidos formais de desculpas quando voltou ao Brasil por intermédio do então embaixador interino, Cristóbal Orozco.

Uma atitude altiva do ministro das Relações Exteriores seria qual, armar o chamado "comigo ninguém pode" na base da carteirada na frente de sabe-se lá quantos passageiros comuns igualmente revistados e sem sapatos?

Não, agiu diplomaticamente assim como os outros chanceleres que tiveram o princípio da imunidade diplomática desrespeitada pelos Estados Unidos, que, no caso, fez a diplomacia do pitbull atabalhoado.

O vexame ficou para a maior democracia do mundo, que ao aplicar uma simples regra de segurança de aeroporto se revelou discricionária.

Sinais contraditórios:: Editorial

DEU EM O GLOBO

A trajetória política de Luiz Inácio Lula da Silva, culminando com a eleição e reeleição à Presidência do Brasil, mereceu amplo reconhecimento e admiração internacionais. Sua disposição para cobrar de outros líderes soluções para problemas espinhosos, como a pobreza, mas de maneira afável, chegou a levar o presidente americano Barack Obama a chamá-lo de “o cara” numa reunião internacional.

É fora de dúvida que o Brasil, por força da manutenção pelo governo Lula da política econômica do governo anterior, mais no primeiro mandato do que no segundo, atravessou satisfatoriamente a crise mundial, fazendo crescer a importância relativa do país. Ele se fortaleceu no grupo dos Bric, com Rússia, Índia e China, os mais bem-sucedidos países emergentes.

Mas começou a aparecer um ponto falho nesse panorama — o caráter errático da política externa brasileira. Um dos primeiros episódios foi a maneira branda com que o governo Lula tratou da expropriação, pela Bolívia, das instalações de exploração e produção de gás da Petrobras nesse país. A explicação estava no companheirismo ideológico com o recémeleito Evo Morales, que falou mais alto que os interesses nacionais.

O mesmo argumento vale para o apoio do governo Lula à cada vez menos disfarçada ditadura de Hugo Chávez, na Venezuela, onde, segundo Lula, “há democracia demais” e, segundo seu assessor especial para política externa, Marco Aurélio Garcia, “há liberdade de imprensa”.

Repercutiu muito mal, em todo o mundo, o fato de Lula ter dado apoio incondicional à ditadura castrista, em Cuba, no episódio da morte por greve de fome do dissidente Orlando Zapata. O presidente brasileiro chegou a culpar a vítima.

A crise de Honduras deixara clara a prática, pela diplomacia brasileira, de dois pesos e duas medidas. No caso hondurenho, o Brasil se bateu pelo estrito cumprimento de preceitos democráticos que haviam se tornado inúteis, em contraste com o apoio a ditaduras como a cubana. É que em Honduras o interesse de Chávez coincidia, circunstancialmente, com a manutenção de certas regras democráticas.

E Chávez é compañero.

A companhia dos irmãos Castro, Hugo Chávez, Evo Morales e outros do mesmo time explica a opção brasileira por uma política externa de cunho terceiro-mundista, que recende a antiamericanismo esquerdista pueril e conflita com o novo papel do país, com uma economia dinâmica e avanços palpáveis na área social, em função do próprio governo lulista. O “Itamaraty do B”, que comanda essa vertente da diplomacia, garante seu caráter esquizofrênico.

Com isso, o Brasil tornou-se um dos pouquíssimos aliados da ditadura militar-clerical do Irã na questão da aplicação de novas sanções da ONU ao país por conta de seu programa nuclear.

O Brasil prefere dar a Teerã o benefício da dúvida, quando todas as indicações são de que o regime dos aiatolás desenvolve armas atômicas.

Para o jornal britânico “Financial Times”, “gafes recentes mudaram a imagem açucarada do Brasil e do seu presidente também. A política arcoiacute;ris do Brasil pode estar atingindo seu limite e poderia pôr em risco a vaga permanente no Conselho de Segurança que o país cobiça”. Lula rebateu que o Brasil deixou de lado o “complexo de vira-lata” e que essa postura “gera ciúmes de inimigos”. Mas, nitidamente, as contradições da política externa brasileira representam um grande risco para a tradição de eficiência, profissionalismo e confiabilidade de nossa diplomacia.

“Itamaraty do B” comanda viés esquerdista que põe credibilidade do país em risco

ENDEREÇO CERTO

DEU EM O GLOBO
Panorama Econômico :: Ilimar Franco

A decisão adotada pelo PPS, vetando alianças nos estados com partidos que não apoiam a candidatura de José Serra (PSDB), foi feita sob medida para a Bahia.

Lá, o PPS está alinhado, nas eleições para o governo, com a candidatura do deputado Geddel Vieira Lima (PMDB).
Mas o partido quer que os ex-comunistas baianos passem para o lado do ex-governador Paulo Souto (DEM), aliado do PSDB.

Marisa Monte - Água também é mar

Pesquisa Ibope: Serra tem 36%, e Dilma, 29%


DEU EM O GLOBO

Tatiana Farah

Para cientista político, momento é de estabilidade; Ciro e Marina ficam em 3o-, com 8% das intenções de voto

SÃO PAULO
. O ex-governador José Serra (PSDB) tem vantagem de sete pontos em relação à ex-ministra Dilma Rousseff (PT), segundo pesquisa realizada pelo Ibope e divulgada ontem pelo site do Diário do Comércio, jornal ligado à Associação Comercial de São Paulo. O tucano tem 36% das intenções de voto e a petista, 29%. No levantamento anterior, de março, a diferença era de cinco pontos (35 a 30).

De acordo com o Diário do Comércio, a pesquisa coloca os pré-candidatos Ciro Gomes (PSB-CE), que não decidiu pela candidatura, e Marina Silva (PVAC) empatados em terceiro lugar, com 8%. O Ibope aponta que, se as eleições fossem agora, Serra venceria no segundo turno, com 46% das intenções de voto contra 37% de Dilma.

A pesquisa, encomendada pela Associação Comercial de São Paulo, foi feita entre os dias 13 e 18, com 2002 entrevistas em 141 municípios. Como a margem de erro é de 2 pontos percentuais, os dois candidatos oscilaram, mas Serra para cima, e Dilma, para baixo. Em comparação à pesquisa de março, a senadora Marina Silva oscilou dois pontos para cima (6% para 8%), enquanto o deputado Ciro Gomes caiu três pontos, de 11% para 8%. Ele é o candidato com maior rejeição (48%), seguido por Marina, com 43%. Dilma tem 34% de rejeição e Serra, 32%.

A aprovação ao governo federal oscilou um ponto para cima, de 75% para 76%. A aprovação ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva se manteve em 76%.

— Tô saindo lá de baixo e tô chegando aqui. Pesquisa é um sinal do momento. Não podemos desconsiderar pesquisa.

Mas ela não serve para dizer hoje como vão ser as coisas daqui para a frente — disse a ex-ministra Dilma, em entrevista ontem à noite ao jornalista José Luis Datena, da Rede Bandeirantes.

O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra, comemorou: — A pesquisa comprova o crescimento do nosso candidato, mantendo simetria com outras pesquisas. Ela mostra o alargamento consistente da diferença entre os dois candidatos.

O cientista político Claudio Couto, da FGV, afirmou que a pesquisa Ibope mostra que o momento é de estabilidade para os pré-candidatos. Segundo ele, o anúncio de candidatura de Serra, há duas semanas, pode não ter influenciado nas intenções de voto porque o tucano já é muito conhecido.

— Serra já é muito conhecido e era esperado como candidato.

Não é o mero anúncio de sua candidatura que vai pesar sobre as pesquisas. É a campanha na TV que faz a diferença.

Couto destaca que a alta popularidade do governo Lula deve ajudar Dilma, mas que a pré-candidata precisa mostrar como vai lidar com a campanha e com os debates.

— Tudo tende a jogar água no moinho do candidato do governo, seja ele qual for. Mas é preciso ver como Dilma se comportará na campanha.

Dilma, ao comentar a pesquisa com Datena, afirmou: — Porque uma pesquisa saiu melhor ou pior para mim não vou brigar com os institutos.

Foi uma referência indireta ao anúncio do PSDB de que entrará com representação criminal na Justiça Eleitoral contra o Instituto Sensus, cuja última pesquisa mostrou empate técnico entre os dois pré-candidatos.

Os tucanos acusam o instituto de cometer irregularidades na execução da pesquisa e obstruir a fiscalização partidária.

Eleitorado feminino garante no Ibope vantagem de Serra sobre Dilma

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Os eleitores jovens, do sexo feminino e das Regiões Sul e Sudeste são os principais responsáveis pela vantagem de 7 pontos porcentuais de José Serra (PSDB) sobre Dilma Rousseff (PT) na corrida presidencial, segundo pesquisa Ibope divulgada ontem. O pré-candidato tucano tem 36% das intenções de voto, e a petista, 29%.

Pela primeira vez, o Ibope detectou um empate entre Ciro Gomes (PSB) e Marina Silva (PV) - ambos aparecem com 8%. Nos últimos sete meses, Ciro perdeu metade de seus eleitores.

Em relação à pesquisa do mesmo instituto feita em março, os dois principais concorrentes apenas oscilaram 1 ponto - Serra para cima, Dilma para baixo. A diferença entre os dois passou de 5 para 7 pontos.

Mas, se na média nacional houve apenas uma leve oscilação, a pesquisa indica solavancos em duas regiões. No Sul, onde em março havia um empate técnico (36% para o tucano e 34% para a petista), Serra passou a liderar com 20 pontos de vantagem (43% a 23%). No Norte/Centro-Oeste ocorreu o inverso: o ex-governador de São Paulo liderava por 41% a 26%, e agora há um empate técnico (31% a 29%).

O Nordeste é a única região em que a ex-ministra lidera de forma isolada, com 38% a 28%. No Sudeste, ela perde por 41% a 26%.

A divisão do eleitorado por sexo mostra que o apoio a Dilma é significativamente menor entre as mulheres (26%) que entre os homens (33%). Serra, com 37% das preferências no eleitorado feminino, obtém 11 pontos de vantagem nessa faixa, enquanto empata tecnicamente com a rival no universo masculino (35% a 33%).

Outro reduto em que o tucano se destaca é o dos eleitores com 16 a 24 anos - nessa faixa, ele tem 41% das preferências, ante 27% para Dilma. É entre os eleitores de 40 a 49 anos que a petista obtém seu melhor resultado - chega a 31% das preferências, em situação de empate técnico com o adversário do PSDB (32%).

Serra lidera em todas as faixas de renda e tem seu melhor desempenho entre os entrevistados que ganham mais de dez salários mínimos (38% a 24%).

Em um cenário sem a candidatura de Ciro Gomes, o pré-candidato do PSDB fica com 40%, à frente de Dilma (32%) e Marina (9%). Se um eventual segundo turno entre o tucano e a petista fosse realizado hoje, ele seria o vitorioso, com 46% contra 37%.

Os dois principais adversários estão muito próximos no quesito rejeição: 34% não admitem optar por Dilma e 32% não votariam em Serra de jeito nenhum.

Reação. "Se você me perguntar se eu fico contente por causa da pesquisa, claro que fico, mas estou preparado para a evolução das pesquisas consciente de que elas não decidem eleição", avaliou Serra, à noite, após entrevista ao telejornal SBT Brasil.

"Não acho que pesquisa seja referência sobre como a campanha deve ser dali para a frente", afirmou Dilma, em entrevista ao Brasil Urgente, na TV Bandeirantes. "Mas, se me falar que eu estou em cima ou embaixo na pesquisa, não vou brigar com o instituto. Vou respeitar."

Colaboraram Julia Duailibi e Flávia Tavares

Líderes se distanciam, indica média móvel:: José Roberto de Toledo

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Levantamento com base nas três últimas pesquisas mostra que tucano amplia vantagem sobre petista

Atualizada pela inclusão da mais recente pesquisa Ibope, a média móvel das pesquisas de intenção de voto mostra um pequeno crescimento da vantagem de José Serra (PSDB) sobre Dilma Rousseff (PT). A diferença média entre ambos, que chegou a ser de 4,1 pontos há duas semanas, é agora de 5,8 pontos.

Mais importante do que os valores é a trajetória das curvas de intenção de voto média de cada um dos pré-candidatos à Presidência. A inclusão da pesquisa Ibope confirmou uma mudança que havia sido iniciada pela pesquisa anterior, do Datafolha: as curvas de Serra e Dilma pararam de se aproximar e, lentamente, estão se distanciando.

Isso não significa necessariamente que a vantagem de Serra tende a aumentar. A média mostra o passado, não projeta o futuro. Mas indica que a transfusão da popularidade do presidente Lula para sua candidata será mais difícil do que muitos aliados da ex-ministra chegaram a supor quando ela começou a se aproximar do tucano.

Duas das três pesquisas que integram o cálculo desta média móvel foram feitas após a festa de lançamento da pré-candidatura de Serra, o que pode ter influenciado o seu resultado.

Na parte de baixo do gráfico, a média móvel mostra que a intenção de voto de Ciro Gomes (PSB) continua em queda, com sua curva descendente se encontrando com a de Marina Silva (PV), que vem no sentido contrário. Mantida essa tendência, a senadora pode vir a ultrapassar o deputado cearense.

Como sempre, o cálculo desta média levou em conta as três pesquisas mais recentes divulgadas: Ibope (cujo campo terminou no dia 19 de abril), Datafolha (fim do campo no dia 16) e Sensus (9 de abril). Esta última havia dado um empate técnico entre Serra e Dilma, apontando uma tendência contraditória com dois outros institutos.

Essa é uma das vantagens da média das pesquisas: eliminar as oscilações bruscas dos porcentuais entre os institutos. A média móvel das pesquisas eleitorais é uma técnica usada há anos nos EUA e na Europa para detectar tendências mais permanentes do eleitorado.

Petista defende PAC; tucano ataca MST


DEU EM O GLOBO

Flávio Freire e Tatiana Farah

Dilma fala de tortura e Serra diz que Aécio o ajudará como candidato ao Senado

SÃO PAULO. Dias depois de o ex-governador de São Paulo, José Serra (PSDB), dizer que o PAC é uma lista de obras inacabadas, sua adversária na corrida à Presidência, Dilma Rousseff (PT), rebateu os ataques com ironia. Entrevistada por uma hora e meia no programa “Brasil Urgente”, da TV Bandeirantes, disse que algumas obras inauguradas por Serra antes de deixar o governo foram entregues à população com dinheiro do PAC.

— Fizemos parcerias com o governo de São Paulo nas obras do Rodoanel, nas favelas de Heliópolis e Paraisópolis e nas represas Billings e Guarapiranga.

Essas parcerias são do PAC, então como o PAC não existe? — disse ela, que, em seguida, descartou a ideia de que é uma mulher brava e Serra, bonzinho.

— Nem sou tão brava como se diz nem ninguém é tão bonzinho como parece .

Evitando confronto pessoal, Dilma preferiu a diplomacia: — Eu e o Serra temos uma trajetória de respeito. A diferença é que ele representa um projeto e eu, outro.

Nervosa, falou da época em que foi torturada pela ditadura, no início dos anos 70. Lembrou que foi vítima de sessões de choque e pau de arara. Mas afirmou que olha para a frente.

— Ter mágoa é se amargurar.

Não tenho ressentimento.

Serra deu entrevista ao telejornal do SBT. Fez críticas ao MST e disse que a organização é alimentada pelo dinheiro público.

Questionado sobre como agiria com invasões de terra caso fosse eleito, o tucano afirmou que esse era assunto do Poder Judiciário. E seguiu: — O MST vive de dinheiro governamental.

Eu acho que a reforma agrária para o MST hoje é um pretexto. Trata-se de um movimento político, com finalidades políticas. Usam a reforma agrária como pretexto.

O ex-governador disse que quem quer a reforma agrária “para valer” é ele: — Quero a reforma agrária para valer, que é gente produzindo melhor, cada vez mais.

Serra praticamente descartou a possibilidade de o ex-governador Aécio Neves, de Minas, ocupar a vaga de vice-presidente na chapa tucana.

— O Aécio é carta dentro do baralho no que é mais importante: travarmos a batalha eleitoral juntos, ele em Minas, como candidato a senador, como homem público que terminou o governo muito bem avaliado, e eu candidato a presidente, que serei a partir de junho.

A culpa é nossa!:: Comte Bittencourt

DEU EM O GLOBO

Muitas de nossas cidades castigadas por chuvas intensas se viram envolvidas em total desordem, agravada pela morte de mais de duzentas e cinquenta pessoas. Isso nos faz pensar na responsabilidade para com a sociedade.

O programa do governo estadual, apresentado e debatido com a sociedade nas eleições em 2006, falava que uma das prioridades da gestão moderna, para uma política de habitação, era desenvolver projetos ordenados nas regiões do Estado do Rio de Janeiro — com aerofotografia e mapeamento, atualização de dados estatísticos, identificação de vazios urbanos, mapeamento de áreas de risco, áreas favelizadas, aglomerações subnormais não identificadas como favelas etc. Propunha, enfim, a criação de base de dados para planejamento de ações e programas, criação de cadastro, legalização e titulação das propriedades para as famílias a serem atendidas.

Pesquisei as atividades legislativas da Assembleia Legislativa nos últimos vinte anos. Procurei projetos que envolvessem a questão urbana do ponto de vista da regularização habitacional. Eis o resultado: Em 1988, a Alerj aprovou um projeto do ex-deputado Milton Temer, cuja lei recebeu o no1.354, que já tratava de uma política habitacional para áreas habitadas por comunidades carentes.

Em 2006, a governadora Rosinha Garotinho encaminhou à Alerj um projeto de lei criando o Fundo Estadual de Habitação de Interesse Social — aprovado pela Casa e sancionado pela governadora.

Pergunto: quais os recursos que foram utilizados, desde 2007, desse Fundo Estadual de Habitação de Interesse Social? Para obter a resposta é simples: basta ir aos orçamentos. Constataremos que quase nada. E reparem que foi uma mensagem do Poder Executivo, de autoria da governadora Rosinha, em dezembro de 2006, com o governador Sérgio Cabral já eleito.

O que se fez com esse fundo? Praticamente nada. Dos R$ 215 milhões previstos, até hoje apenas cerca de R$ 4,8 milhões foram utilizados.

Em 2007, o deputado Gilberto Palmares e o deputado André Corrêa aprovaram uma lei ( no5.149, para destinar e vincular 10% do produto da arrecadação do Fundo Estadual de Combate à Pobreza para habitação popular. Ora, se recuperarmos o valor arrecadado desde 2003, constataremos que são mais de R$ 11 bilhões os recursos colocados neste Fundo de Combate à Pobreza! Para onde está indo esse dinheiro? Infelizmente para pagar serviços terceirizados e pessoal terceirizado. Seguramente o Grupo Facillity arrecadou muito desses bilhões nos seus contratos com o governo do Estado. Por outro lado, quantas casas foram construídas com esses R$ 11 bilhões? Não vimos.

O deputado Luiz Paulo, juntamente com o deputado Rodrigo Neves, em 2008, aprovou com apoio total dos deputados estaduais, a criação do Conselho Estadual das Cidades, mais uma ferramenta.

Continuando a pesquisa, encontrei um projeto tramitando desde 2005 do ex-deputado Carlos Minc tratando dessa mesma matéria. O mesmo acontece com um projeto da deputada Aparecida Gama. E com outro, de igual teor, do deputado José Divino, de 1999. O deputado André Corrêa tem ainda um projeto de 2004 que diz respeito, também, à habitação popular e ao ordenamento urbano das encostas do Rio de Janeiro.

É claro que, mesmo assim, a Assembleia Legislativa deveria e deve procurar meios de pressionar o Poder Executivo para que cumpra as leis em vigor. O Legislativo fez a sua parte, mas não vigiou como é sua obrigação. Produzimos a agenda legislativa, mas tínhamos de cobrar a execução. Deveríamos denunciar a não execução. Deveríamos cobrar do Ministério Público, pois toda essa legislação que está aí poderia ter ajudado a evitar a calamidade e esse inferno que estão passando diversas famílias.

Se o Executivo e nós — o Executivo e nós! — tivéssemos tido um pouco mais de prontidão e de responsabilidade, muitas vidas teriam sido poupadas.

Comte Bittencourt é deputado estadual (PPS), foi vereador e vice-prefeito de Niterói (2004 a 2005) e Presidente Estadual do PPS/RJ

Inclusão e desenvolvimento:: Denise Paiva

DEU EM GRAMSCI E O BRASIL

Aprendemos uma noção conceitual do que seja desenvolvimento econômico e desenvolvimento social com elementos bem estruturados, objetivos, distantes, dicotômicos e antagônicos. O primeiro passo a ser dado na discussão sobre inclusão e desenvolvimento, para superar tal dicotomia, é nos afastarmos dos dois conceitos e construir um novo e único, integrando o econômico e o social numa só noção: a do desenvolvimento.

De que adianta? Esta é a pergunta que, enquanto sujeitos individuais ou coletivos, enquanto simples cidadãos ou poderosas instituições, devemos nos impor. De que adianta? Servimos para algo? Para quê? E o nosso para quê, faz avançar? Em que direção? O verbo “adiantar” encerra pelo menos dois sentidos: o da utilidade e o do avanço. Serviu para alguma coisa? Fez alguma coisa caminhar? E nesta indagação podemos somar um terceiro sentido, o que traz o conteúdo ético: caminhou em que direção? Atendeu a que interesses? A quais opções políticas? Precisamos dar respostas a estas perguntas aparentemente simples e do senso comum, mas de um significado inestimável quando se pensa em transformação social e desenvolvimento.

Como fazer rupturas e promover mudanças, criar nova massa crítica, novos consensos e pactos, criar vontades e forças políticas para manter o que deve ser mantido e mudar o que deve ser mudado? Precisamos de novos paradigmas, mas construí-los não é tarefa nem decisão, e nem sequer possibilidade, para um grupo de notáveis ou iluminados. Criar novos paradigmas exige um processo de construção coletiva, com incorporação de amplos atores da sociedade, contemplando a diversidade, a abertura de portas e janelas, de novos canais e mecanismos de comunicação, participação e controle social. Só se criam novos paradigmas, que atendam à noção de desenvolvimento para todos, no terreno fértil de uma robusta relação entre Estado e sociedade fundada na ética. Ética da autenticidade, do respeito, do acolhimento, da simplicidade, que se funda e se refunda cotidianamente segundo os parâmetros dados pelos valores universais da democracia.

Abrir portas e janelas institucionais não só assegura legitimidade aos processos de mudança, que de per si geram medos, resistências, desconfianças, oposições, mas também assegura a eficácia, a efetividade, enriquecendo o processo, o conteúdo e o resultado das propostas inovadoras e transformadoras. As instituições ganham ao incorporar o saber e a corresponsabilidade, a parceria dos diferentes atores da sociedade que podem orquestrar em conjunto o processo de mudança necessário e desejável.

Certos cuidados devem ser tomados quando da abertura dos canais institucionais e participação. Nem sempre a demanda social é qualificada e pode ser considerada pura e simplesmente. Faz-se necessário o fecundo diálogo, a troca de saberes, a ampliação do nível de conhecimento e informação, a franca interação e a sabedoria, especialmente no lidar com os conflitos.

Evitar as mistificações é importante na relação com o saber popular, com os movimentos sociais, com as organizações da sociedade civil. Insisto na ética da autenticidade e na lógica do bom senso. Não raro, ouvimos a seguinte pergunta: mas o que é o bom senso? Quais são seus valores? Não raro, também, tentativas sinceras de construção coletiva são desqualificadas como mais um disfarce de dominação do saber técnico ou da elite. Não podemos concordar com o desprezo pelo conhecimento, que não deve ser considerado propriedade de nenhum grupo ou classe social, mas sim um patrimônio de toda a humanidade, a ser apropriado por todos como bem da civilização.

Abrir as instituições é palavra de ordem para os organismos, sejam públicos ou privados, governamentais e não governamentais. Essa abertura vai exigir canais eficientes de participação e comunicação e, antes de tudo, um diálogo qualificado para que não se perca o rumo e o objetivo da interação.

A abertura do Estado para a sociedade, exigência impostergável para a inclusão social, para o desenvolvimento e o aperfeiçoamento democrático, tem que ser feita de modo a evitar que tal abertura, ao invés de fortalecer o papel e o prestígio institucional e a prevalência do interesse público, venha a se tornar apenas algo tópico, eventual, sem significado, acabando por desviar, confundir e não fortalecer e aprimorar a missão precípua e essencial do Estado e de suas instituições, muito bem expressa na Constituição de 1988.

É inadiável ligar a questão da inclusão ao desenvolvimento na agenda pública e política do país, no mundo empresarial e no aparelho estatal, de forma renovada e reconceituada.

Nem tudo o que é small is beautiful, nem tudo o que é de boa vontade se justifica, nem tudo o que é “bonzinho” vale a pena. A política social deve emancipar as pessoas e as nações; as políticas assistenciais devem ter como horizonte a não dependência dos beneficiários, a não ser no curto prazo, e devem almejar a valorização das iniciativas pessoais, grupais e comunitárias para buscar a melhoria do padrão e qualidade de vida dos indivíduos e das comunidades.

Uma empresa pode ser mais ou menos responsável eticamente. Prefiro esta qualificação ao já difundido conceito de responsabilidade social pelas razões da necessidade de superação da dicotomia a que já me referi, bem como pela necessidade, reafirmo, de construir um único conceito de desenvolvimento que integre e faça convergir os elementos e indicadores do social e do econômico de forma integrada.

Não podemos enfrentar desafios novos, resolver novos problemas, ou mesmo os antigos problemas que não conseguimos superar, com soluções e formas antigas. Problemas novos exigem soluções novas. A uma nova concepção de desenvolvimento, que integre o econômico e o social, deverão ser acoplados mecanismos, procedimentos, canais de participação, comunicação, como soluções inovadoras.

Hoje, as empresas estão criando seus departamentos de responsabilidade social e ambiental — o que é uma redundância. Como se o ambiental não fosse social e vice-versa; como se o econômico não fosse o ambiental. Haverá algo mais econômico do que o ambiental dentro de uma visão estratégica de desenvolvimento sustentável, ou de responsabilidade social ou de responsabilidade ética, ou, tão somente, de responsabilidade sem adjetivação?

Avançamos muito em relação ao início dos anos 90, quando todo este movimento teve início no Brasil. Até então a questão social passava distante do mundo empresarial público e privado. A questão da responsabilidade social empresarial, encarada junto com a questão tributária e do marketing, nos leva a adentrar num universo vasto, complexo e sobremaneira contraditório, que, todavia, não podemos ignorar e dele nos afastar.

Através de um olhar generoso, mas pouco crítico, é possível demonstrar um conjunto de ações meritórias, importantes e valorizadas pela sociedade como atuação social das empresas. Um olhar mais atento e experiente reconhece o quanto ainda tem que ser feito no que diz respeito à relevância, impacto, articulação e definição de papéis e responsabilidades neste âmbito de atuação, que vai da caridade, da filantropia ao investimento social privado. Estamos longe de onde devemos e podemos chegar!

Pensar na inclusão exige diagnosticar pela exclusão. A exclusão ainda permanece, por mais vigor que as políticas públicas venham ganhando nas últimas décadas. Tem sido assim nas políticas de crédito, nos programas de qualificação profissional e até nos de transferência de renda, em que o morador de rua, em geral, não é assistido.

O Brasil ainda não superou os dois desafios básicos para inclusão, dois mínimos de cidadania: universalização do registro civil e alfabetização. As ações de responsabilidade social, às vezes, não passam do necessário cumprimento das leis sob pressão do Ministério Público, como no caso do portador de necessidade especial e do jovem aprendiz.

As ações de responsabilidade social empresarial não fazem parte do âmago do negócio, não se transformaram numa real vantagem competitiva para as organizações e são pouco ou mal avaliadas. Apresenta-se um belo projeto que atende, por suposto, 50 jovens. A única pergunta esquecida na avaliação é quantos jovens tentaram participar do projeto e não conseguiram, ou quantos sequer tiveram a chance de desejar participar, pela total falta de informação. Creio, não erraria em afirmar que, se foram incluídos 50, 450 ficaram de fora! Nesta realidade, vem a justificativa: “É um piloto, um modelo, está sendo testado metodologicamente”. Não conheço nenhum piloto que deixou de ser piloto. Portanto, insisto: planejar a inclusão exige diagnosticar pela exclusão.

Quando as ações de responsabilidade social estiverem imbricadas, fundidas com a razão de ser, com a missão institucional de quem as promove, elas serão continuas, imprescindíveis, estratégicas, e contribuirão para o fortalecimento das organizações, das empresas, além de serem potenciais e privilegiadas alavancas do desenvolvimento.

Não podemos conceber uma política de investimento social privado ou de responsabilidade social empresarial pública e privada que não esteja integrada às diretrizes de uma política de Estado. É imprescindível uma formulação estratégica, um macroplanejamento, que integre a atuação das empresas com as políticas sociais públicas e ainda busque uma coordenação e atenção aos gaps e aos interregnos.

Por mais consequente que seja a atuação de uma empresa pública ou privada, ela não vai atuar fora da área de interesse do seu negócio, de forma direta ou direta. Ela atua buscando bônus das mais variadas naturezas, alguns até, num primeiro olhar, imperceptíveis, de natureza mais política do que propriamente econômica.

Urge evoluir do conceito e das práticas do que hoje é entendido como responsabilidade social empresarial para um patamar mais elevado de desenvolvimento integral e integrado, sustentável e eticamente responsável. Neste sentido alguns pressupostos são imprescindíveis.

Uma cultura de avaliação e de resultados: no mundo dos negócios financeiros temos indicadores objetivos, sensíveis e articulados que permitem aferir, facilmente, se as coisas vão bem ou mal. Sem entrar em conteúdo de mérito, esta cultura tem que chegar ao mundo do social. O social é impregnado por uma cultura hegemônica e historicamente estruturada de menosprezo à questão dos resultados e, em geral, considera os indicadores que devem nortear os processos de monitoramento e avaliação como intangíveis ou irrelevantes, ou até com certo desprezo, por serem considerados ícones do capitalismo.

As propostas de avaliação devem dar conta não só dos processos, mas da aferição dos resultados e dos impactos; não só da eficiência e da eficácia, mas da efetividade. É na avaliação da efetividade que encontramos indicadores que nos permitem repensar os próprios objetivos. Temos que estar atentos e não ter ouvidos moucos às demandas, às razões vindas do clamor silencioso e da voz rouca dos excluídos, dos que historicamente ainda representam as sequelas de sofrimento e humilhação das senzalas brasileiras.

Novo diálogo pressupõe um novo discurso: o mundo da economia é o mundo da racionalidade, da objetividade. Quanto custa? Qual a relação custo/benefício? Esta equação deve contaminar todos os campos da atividade humana, não só as lucrativas strictu sensu, como também as não lucrativas. Aqui reside outra falácia decorrente da dicotomia entre o social e econômico: a definição do que tem fim lucrativo e fim não lucrativo. Tudo deve ter lucro, tudo o que é bem feito gera lucro, mesmo que seja o brilho nos olhos e o sorriso feliz de uma criança bem cuidada na creche; isto é lucro e dispensa qualquer adjetivação e maiores comentários.

Não estamos valorizando os embustes e as fórmulas indecifráveis e as caixas-pretas de alguns monetaristas ou de algumas escolas ortodoxas econômicas e administrativas, bem como de alguns afamados e sacrossantos organismos. Estamos afirmando que os conceitos fundamentais da economia, que regem a vida de uma boa dona de casa ou de um empreendedor bem-sucedido, devem orientar o trabalho das ONGs e das agências sociais latu sensu. Por outro lado, o discurso — já sedimentado no mundo do social — do compromisso, da generosidade, dos direitos humanos, dos valores universais e das utopias civilizatórias deve impregnar o mundo da economia, das finanças, da administração.

Paulo Freire propôs um diálogo de troca, no âmbito da educação, entre o aluno e o professor: um aprende e transfere ao outro o que lhe faz falta. Há uma reciprocidade no ensinar e no aprender. Mutatis mutandis, esta é a nova relação que se impõe entre o econômico e o social, para que o mundo do social seja, também, o da racionalidade, da boa gestão, dos resultados, e o mundo dos negócios seja o mundo ético, inclusivo e luminoso dos direitos humanos.

Se superarmos dogmas e preconceitos históricos, podemos criar um diálogo profícuo, recriar uma “relação dialógica” entre o econômico e o social e impulsionar um novo dínamo para o desenvolvimento que sonhamos e se faz necessário e urgente.

Denise Paiva é assistente social e autora de Era outra história: política social do governo Itamar Franco 1992-1994.

Dilma e Serra disputam audiência na TV

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Pré-candidatos do PT e do PSDB concedem entrevistas ao vivo em programas da TV aberta e evitam críticas diretas

Petista fica "nervosa", mas canta tango para Datena; no SBT, tucano evita dizer se Aécio será seu vice e pede Neymar e Ganso na seleção

Ana Flor e Bernardo Mello Franco

Os presidenciáveis Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) travaram em pleno feriado uma disputa pelos telespectadores em aparições ao vivo no horário nobre em emissoras de TV aberta. Dilma concedeu entrevista de mais de uma hora ao apresentador José Luiz Datena, do programa "Brasil Urgente", da Bandeirantes. Serra falou por cerca de 20 minutos a Carlos Nascimento na bancada do "SBT Brasil".

Logo no início da entrevista, questionada se acreditava em Deus, Dilma disse crer em uma "força superior" e na "deusa mulher que é Nossa Senhora".

Há cerca de dois anos, em sabatina da Folha, Dilma respondeu à mesma pergunta afirmando: "Eu me equilibro nessa questão. Será que há? Será que não há? Eu me equilibro nela".

A candidata atacou a oposição e reforçou seu vínculo com o presidente Lula. Afirmou que teve uma "boa parceria" com o governo Serra, mas insistiu que obras do Estado de São Paulo, como o Rodoanel, receberam recursos do PAC. "Esses projetos que nós fizemos em parceria são parte do PAC. Então o PAC existe, uai", afirmou.

Além das expressões mineiras "uai" e "ocê", Dilma -que nasceu em Minas e quer reforçar o vínculo com o Estado- deixou escapar "te", "ti", e "contigo" usados no Rio Grande do Sul, onde sempre militou.

Questionada sobre a divergência entre pesquisas recentes, Dilma atacou indiretamente o PSDB, que entrou com uma representação contra a pesquisa Sensus em que ela aparece em empate técnico com o tucano. "Os resultados das pesquisas recentes são bastante variados. [...] Porque uma pesquisa saiu pior ou melhor para mim, não vou brigar com o instituto."

No primeiro bloco, Dilma foi avisada por Datena que teria um minuto e meio para falar. "Eu tô nervosa", disse ela, jogando para o bloco seguinte a resposta. No final, a pedido de Datena, cantou um trecho do tango "El dia que me quieras", do argentino Carlos Gardel.

Datena brincou com a fama de irritada de Dilma. Indagada se ela e Serra poderiam "sair na mão" na campanha, ela respondeu: "Nem eu sou tão brava quanto se diz, nem ninguém é tão bonzinho quanto parece".

Em sua entrevista ao "Jornal do SBT", Serra acusou o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) de sobreviver às custas de repasses do governo e de usar a reforma agrária como pretexto para fazer política. "O MST vive de dinheiro governamental. A reforma agrária para o MST hoje é um pretexto. Na verdade, trata-se de um movimento político, com finalidades políticas."

Em outra entrevista, gravada em seguida para a edição de hoje do "Jornal do SBT - Manhã", ele desconversou sobre se Aécio Neves será vice na chapa presidencial do PSDB. Disse que o aliado já está "engajadíssimo e envolvidíssimo" na campanha. "O espaço lá [em Minas] está aberto, não depende da questão do vice. Isso não tem todo o peso que se atribui."

Ele criticou o resultado do leilão de concessão da hidrelétrica de Belo Monte (PA): "É uma coisa muito cara para você fazer de maneira atropelada".

Ele aproveitou as duas entrevistas para defender a convocação para a Copa de Neymar e Paulo Henrique Ganso, revelações do Santos. No telejornal da noite, a apresentadora disse que ele estava "magrinho". Serra rebateu: "Posso te fazer uma confissão? Estou até querendo engordar um pouquinho".

Ao deixar a sede da emissora, ele ironizou Dilma, que o comparou a uma "biruta de aeroporto". "Eu acho graça. Realmente não sinto necessidade de ficar pegando no pé de outros candidatos", disse.

Cidade de gente bem e de elite ruim:: Maria Inês Nassif

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Quando cheguei a Brasília, em 1980, era jovem demais e tinha ressentimentos demais com o ditador que se instalara na Praça dos Três Poderes para considerar a cidade bonita. Fui descobrir alguns meses depois, no pico da seca, que era deslumbrante ver o céu avermelhar - uma expressão da ira dos deuses com os homens que usavam botas? -, invadir o azul límpido acima dele e, no chão, envolver com paixão as lúcidas curvas de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer. Pensei comigo, com desprezo: "Brasília deveria ter sido construída no céu". Começava a aceitar aquele lugar, mas como representação de um feito do homem e como um reconhecimento de seu espaço natural - não, todavia, como espaço geográfico que homens e mulheres de bem eram obrigados a dividir com pessoas que usurparam a democracia.

Não precisou mais tempo para que eu entendesse que Brasília, como qualquer outro espaço urbano, era também lugar de convivência de contrários, de costura de laços afetivos, de conhecimento, de cultura. Hoje, sei: Brasília é deslumbrantemente bonita, a despeito da elite local que retalhou, dividiu entre si e fez especulação imobiliária em terras públicas daquele patrimônio da humanidade. Essa elite não merece Brasília. Sei também: Brasília é uma cidade de homens bons, que tecem sólidas relações afetivas, tentam domar aquele solo urbano monumental para torná-lo depositário de suas histórias individuais, têm orgulho daquele rincão que resistiu aos homens que usurparam a ditadura do país. Essas pessoas de bem também vão se orgulhar, no futuro, de terem livrado Brasília da elite que sobreveio aos militares e hoje a usurpa.

Quando cheguei a Brasília, há 30 anos, fui direto ao Plano Piloto e tive a sensação de que a capital federal era uma grande Cidade Universitária - uma USP que não acabava mais. Era como se cada prédio fosse uma cidade, isolado em si mesmo e isolando iguais - ilhas de especialidade e de convivência social. Meses depois, não podia deixar de vê-la como a síntese absoluta do Brasil. O cidadão vinha de fora e trazia para as asas do Plano Piloto a sua contribuição para o sotaque que hoje existe - e hoje, eu me pergunto, esse sotaque é mais nordestino, nortista, carioca, mineiro ou paulista? E concluo, com prazer: são todos ao mesmo tempo. Trouxeram também das várias partes do Brasil a sua contribuição culinária. Lá em Brasília, incorporei ao meu vocabulário palavras que jamais saberia que existiam.

Se tivesse continuado na região Sudeste, jamais teria conhecido, convivido e sido parte daquele pedaço de chão que Dom Bosco jurou que tinha potencial para resgatar o Brasil. Aliás, não teria conhecido também muitas seitas, religiões e coisas semelhantes que para lá convergiram com a convicção de que era uma terra mágica, capaz também de fazer uma síntese de astrais, crenças, fluidos e, com essa ajuda espiritual, homens e mulheres capazes de fazer um futuro menos egoísta e mais espiritual.

Talvez não conseguisse entender concretamente o Brasil, sem ter morado e trabalhado em Brasília. A repórter do Sudeste que chegou lá - com a firme intenção de assistir e reportar o fim da ditadura, direto da Praça dos Três Poderes - entendeu de cara o "Coronelismo, enxada e voto", de Victor Nunes Leal, quando começou a percorrer aqueles imensos corredores do Congresso Nacional e a conhecer os parlamentares que vinham do mundaréu de Deus, onde mandavam em gente, e chegavam no mundão dos generais, onde obedeciam. Muitos deles deviam se deslumbrar com Brasília porque, olhada pela ótica do pequeno mundo de vários deles, era uma metrópole: muito mais do que conheciam em seus Estados de origem.

Era o mapa do Brasil que convivia entre as duas cuias, a côncava e a convexa, do Congresso Nacional. A repórter que vinha de São Paulo via desfilar, entre os salões Azul e Verde, um Brasil que era infinitamente mais rico e diversificado que a avenida Paulista: Acre, Amazonas, Pará, Rondônia, Minas, Mato Grosso, Rio Grande do Sul... Fora do trabalho, as histórias de grandes amizades incluíam conhecer, mesmo que apenas de relatos, a vida de lugares distantes que, até então, estavam apenas nos livros de geografia.

Quando cheguei em Brasília, outros chegavam também, do país inteiro. Todos estavam muito longe de suas famílias. Construíamos as nossas, sob rigorosos critérios de afinidade. Nos fins de semana, reuníamos os amigos. Nossos filhos - os meus, quando os tive, e dos meus amigos que escolhi como irmãos - adotaram tios, primos e até avós. Deixei por lá irmãos e sobrinhos eletivos, cada um de um canto do Brasil.

Brasília foi, para mim, a prova de que o território tem uma vida própria - é gente, terra, intervenção urbana, opções, ar seco, água, céu e tantas coisas. Inclusive a política.

Eu morei em Brasília. Como queria, reportei o fim da ditadura. Eu vi o medo, estado de emergência, ocupação da Esplanada dos Ministérios por tropas. Assisti à história, direto da Praça dos Três Poderes. Vi como a desesperança da rejeição da emenda das diretas pelo Congresso foi substituída pela articulação para a eleição de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral. Assisti ao grande embate nacional travado na Assembleia Nacional Constituinte, em 1988. Foi lá que vi a tenra democracia brasileira ser tecida, fibra por fibra.

Quando deixei Brasília, em 1991, a cidade vivia a prepotência do governo sob Fernando Collor de Mello. Era uma desesperança. O clima foi tomado por novos atores que, na cidade, compravam e vendiam como se tivessem tomando posse de terra conquistada. Perdi de assistir, como observadora da história, ao impeachment do primeiro presidente eleito pelo voto direto. Tem muita coisa que perdi e que, hoje acho, assistiria com desalento: à CPI do Orçamento, ao escândalo da compra de votos para aprovação da reeleição, ao escândalo do mensalão e ao escândalo do governo do GDF. Mas, fico pensando comigo: como culpar Brasília por isso? Brasília é o espaço deslumbrante que conversa com um céu límpido, no meio de um cerrado que verdeja à primeira chuva, depois de meses sem uma gota de água. Brasília é lugar de gente de bem que ocupa território, procria, faz amigos, cria laços de família. E a Brasília política nada mais é do que a síntese do Brasil. E cumpre a missão de superação que foi atribuída a ela por Dom Bosco.

Maria Inês Nassif é repórter especial de Política. Escreve às quintas-feiras

Decisão britânica:: Miriam Leitão

DEU EM O GLOBO

Trezentas línguas são faladas em Londres; existem 40 comunidades de imigrantes de mais de 10 mil pessoas; quando a Polônia entrou na União Europeia e seus cidadãos receberam o direito de circular entre os países, um milhão e meio de poloneses migraram para a Grã-Bretanha. Por isso, claro, o limite à imigração é um dos temas da campanha eleitoral britânica.

O tamanho do Estado é outro tema, mas não se discute matéria vencida, como reestatização. Esse assunto ficou resolvido nos anos 1980. Agora, o que se discute é quanto poder pode ser dado a mais aos cidadãos, limitandose o poder do Estado.

Os conservadores têm mais propostas nesta área, mas vão da possibilidade de revogar o mandato de um parlamentar, se um percentual de eleitores do distrito quiser, até o aumento do poder dos pais em mudar as diretrizes escolares baixadas pelo governo. Outro tema que esquenta o debate é a acusação de que os trabalhistas aumentaram o número de funcionários públicos e pressionaram o déficit público.

O problema é que, segundo o “Financial Times”, as promessas de campanha de todos os candidatos, se fossem cumpridas, custariam 30 bilhões de libras.

Nas pesquisas de intenção de voto, o Partido Conservador, de David Cameron — nada a ver com o cineasta de “Avatar” e inimigo de Belo Monte —, estava na frente até uma semana atrás. O debate na televisão entre os líderes dos três partidos mudou o quadro. A última pesquisa feita antes do primeiro debate dava 37% para os conservadores, 31% para os trabalhistas.

Já estava configurado, portanto, um cenário que não é comum na bipartidária Inglaterra. Normalmente, um dos dois partidos, Trabalhista ou Conservador, consegue maioria e forma o gabinete.

Agora, nenhum dos dois históricos adversários deve conseguir a maioria.

A possibilidade de um governo de coalizão aumentou muito nos últimos dias. O líder dos democratas liberais, Nick Clegg, foi considerado o vencedor do primeiro debate televisivo. Algumas pesquisas feitas nos últimos dias mostraram o crescimento do terceiro partido, o que aumenta a chance de que eles sejam o pêndulo para formar a maioria do próximo governo. Os lib dems (ou democratas liberais) passaram a ser o principal alvo de crítica dos tories (ou conservadores) porque eles estão mudando o quadro eleitoral.

Quando estive em Londres no ano passado, conversei com integrantes do gabinete do primeiro-ministro Gordon Brown. Um dos assessores de Brown me incluiu na lista de pessoas às quais ele mandava um boletim, escrito na primeira pessoa, com suas avaliações da questão climática. No dia em que as eleições foram convocadas, ele mandou uma mensagem ao grupo avisando: “O primeiro-ministro convocou eleições e, a partir desse momento, eu me desligo do governo e passo a me incorporar à campanha”.

Ele é um dos poucos assessores que Brown nomeou.

A maioria faz parte da máquina e, portanto, servirá a qualquer governo. “Temos apenas que mudar um pouco o que falamos, mas o trabalho é o mesmo”, me disse, na semana passada, um desses funcionários de carreira de Estado.

Pelo sistema inglês, a partir do momento em que as eleições são convocadas, o governo e os parlamentares têm que manter um perfil mais discreto. Fazem campanha, mas tentam ao máximo separar suas funções de representantes das de candidatos.

Normalmente, o primeiro-ministro limita suas atividades públicas como chefe de governo.

Para a reunião sobre desarmamento nuclear, por exemplo, a Inglaterra enviou o ministro das Relações Exteriores, David Miliband. A campanha normalmente é curta, de 40 dias.

Brown teria que convocar eleições até junho porque nenhuma legislatura pode durar mais de cinco anos, mas ele tentou adiar ao máximo, esperando que seu grande inimigo ficasse menor: a crise econômica. É ela, claro, o ponto central do descontentamento dos britânicos com os trabalhistas.

A Inglaterra, que afundou em 2009, cresceu mais que a Europa no primeiro trimestre do ano. Mesmo assim, o desemprego e o descontentamento continuam altos.

Na imigração, a proposta dos tories é limitar os que venham de qualquer país fora da União Europeia com o estabelecimento de cotas.

Pelo tratado da UE, a circulação de cidadãos da região é mais flexível, e por isso houve a onda polonesa logo após a aceitação da Polônia no grupo. Eles foram, se espalharam por toda a Inglaterra, na maioria com intenção de trabalhar, fazer um pé-de-meia e voltar. Ocuparam os postos de trabalho mais difíceis, formaram uma rede de fornecedores de pequenos serviços. Com a crise, metade já voltou à Polônia.

Esse é o argumento de Gordon Brown: já há uma diminuição da imigração.

Os conservadores nunca foram muito favoráveis à aproximação com os outros países. No Parlamento Europeu, por exemplo, os ingleses saíram do bloco dos outros partidos conservadores.

Preferem atuar de forma mais apartada, para irritação dos integrantes do partido de Nicolas Sarkozy.

A Inglaterra é da UE, mas preservando seu sistema monetário, e por isso, agora, pode ver com uma certa distância a preocupação alemã com a crise grega.

Na questão climática, eu ouvi, quando fui lá, que nada muda radicalmente se os tories vencerem. Eles, que inicialmente negavam as mudanças climáticas e não demonstravam nenhuma preocupação com a questão ambiental, tiveram que mudar seu discurso diante da mudança das convicções ambientais do eleitorado britânico.

Eles inclusive votaram a favor da Lei de Energia e Mudanças Climáticas, que prevê teto de emissão para as empresas, controle de emissões dos próprios órgãos do governo, e metas para um país como um todo.

Libertação da Itália tem concerto no Rio:: Andrea Lanzi


O Instituto Italiano de Cultura do Rio de Janeiro (IICRIO) celebra o 65º. aniversário da Libertação da Itália do nazifascismo, com um concerto da cantora Barbara Casini, acompanhada pelos músicos cariocas Gabriel Improta (violão e guitarra) e Rodrigo Villa (baixo acústico).

No repertório, músicas italianas e brasileiras. O concerto tem o apoio da Associação Anita e Giuseppe Garibaldi, da Ital Rio e do Comites (órgão que reúne delegados eleitos pela comunidade italiana).

Dia 27 de abril, às 18h30, na sede do Instituto (Av. Pres. Antônio Carlos, 40 – Rio de Janeiro)

UFES debate Joaquim Nabuco:: Adélia Miglievich



O Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PGCS) da Universidade Federal do Espírito Santo promove uma mesa de debate sobre o tema “O encontro de Joaquim Nabuco e dos liberais com a política democrática do Brasil”.

O palestrante é Marco Aurélio Nogueira, da Unesp, a coordenadora é Marta Zorzal e Silva, e o debatedor, Marclin Felix Moreira, ambos da Ufes.

Na ocasião, haverá o lançamento do livro de Marco Aurélio Nogueira, O encontro de Joaquim Nabuco com a política – as desventuras do liberalismo (São Paulo: Paz e Terra, 2010). Maiores informações podem ser obtidas diretamente com o PGCS.

Dia: 5 de maio, às 19h

Local: Espaço Adufes, sede da Associação dos Docentes da Ufes, em frente ao CCHN, no Campus Universitário de Goiabeira

Av. Fernando Ferrari, 514 – Vitória, ES.

Trailer Utopia e Barbárie de Silvio Tendler

Os 110 anos de Gregório Bezerra:: Marcos César de Oliveira Pinheiro


DEU EM GRAMSCI E O BRASIL

O Arquivo de Memória Operária do Rio de Janeiro (Amorj) e o Instituto Luiz Carlos Prestes (ILCP) promovem mesa-redonda e outras atividades em torno de “Gregório Bezerra – 110 anos”.

A mesa-redonda conta com os seguintes debatedores: Anita Prestes (Programa de Pós-graduação em História Comparada – PPGHC/UFRJ), Beatriz Heredia (Programa de Pós-graduação em Sociologia e Antropologia – PPGSA/UFRJ) e Jaime Amorim (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST); na coordenação da mesa, a professora Elina Pessanha (PPGSA). Após o debate será exibido um filme sobre a vida de Gregório; ao mesmo tempo, estarão expostas diversas fotografias que registram variados momentos na vida deste importante militante do antigo PCB.

Dia 29 de abril, a partir das 10h, no Salão Nobre do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ (Largo de São Francisco de Paula, s/n, Centro – Rio de Janeiro).

Nota de Gramsci e o Brasil

De Gregório Bezerra (1900-1983), é sempre útil ler as suas Memórias (Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1979, 2 v.), precioso documento das lutas sociais e democráticas do Brasil. “Homem de ferro e flor”, Gregório tornou-se também um símbolo: arrastado de modo desumano pelas ruas do Recife em seguida ao golpe de 1964, passou 23 anos da sua vida nos mais diferentes cárceres, desde a repressão do Estado Novo.

A sua atividade nos anos imediatamente anteriores a 1964 vinculou-se, sobretudo, à implantação e extensão do sindicalismo rural e dos direitos trabalhistas dos assalariados agrícolas, pisoteados por uma oligarquia tradicionalmente conservadora e até reacionária. Comparativamente, a ênfase do PCB na questão sindical distanciava-o do radicalismo das Ligas Camponesas, cujo foco era a redistribuição de terras “na lei ou na marra”.

No final de 1969, Gregório seria um dos 15 presos políticos trocados por Charles Elbrick, o embaixador norte-americano sequestrado por um grupo de extrema-esquerda. No calor da hora, foi o único a lançar uma notável e clarividente “Declaração ao Povo Brasileiro”. Nas palavras de Enio Silveira, esta declaração é “exemplo de dignidade e de coerência política, pois aceita sua libertação como um episódio de luta, mas publicamente repudia ações isoladas, que não geram transformações duradouras”.

Ao velho Gregório, constituinte de 1946, campeão da democracia social e da democracia política, ficam depositadas as homenagens dos que fazem este sítio.

O QUE PENSA A MÍDIA

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Nesta Rua - Heitor Villa Lobos

Romance II ou do ouro incansável:: Cecília Meireles




Mil bateias vão rodando
sobre córregos escuros;
a terra vai sendo aberta
por intermináveis sulcos;
infinitas galerias
penetram morros profundos.

De seu calmo esconderijo,
o ouro vem, dócil e ingênuo;
torna-se pó, folha, barra,
prestígio, poder, engenho . . .
É tão claro! — e turva tudo:
honra, amor e pensamento.

Borda flores nos vestidos,
sobe a opulentos altares,
traça palácios e pontes,
eleva os homens audazes,
e acende paixões que alastram
sinistras rivalidades.

Pelos córregos, definham
negros a rodar bateias.
Morre-se de febre e fome
sobre a riqueza da terra:
uns querem metais luzentes,
outros, as redradas pedras.

Ladrões e contrabandistas
estão cercando os caminhos;
cada família disputa
privilégios mais antigos;
os impostos vão crescendo
e as cadeias vão subindo.

Por ódio, cobiça, inveja,
vai sendo o inferno traçado.
Os reis querem seus tributos,
— mas não se encontram vassalos.
Mil bateias vão rodando,
mil bateias sem cansaço.

Mil galerias desabam;
mil homens ficam sepultos;
mil intrigas, mil enredos
prendem culpados e justos;
já ninguém dorme tranqüilo,
que a noite é um mundo de sustos.

Descem fantasmas dos morros,
vêm almas dos cemitérios:
todos pedem ouro e prata,
e estendem punhos severos,
mas vão sendo fabricadas
muitas algemas de ferro.