terça-feira, 13 de abril de 2010

Sábado de aleluia:: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Fazia tempo que a sorte não se mostrava uma aliada tão fiel dos tucanos como no último sábado, quando, no anúncio da candidatura de José Serra à Presidência da República, até os erros acabaram dando certo.

Traumatizados pela produção de atos partidários anteriores marcados pela discórdia na cúpula, o desânimo nas bases e o desinteresse da militância, os tucanos foram modestos na expectativa e escolheram um local aquém da cerimônia.

Cerimônia? Maneira de dizer. Balbúrdia descreveria melhor o ambiente totalmente estranho ao modo tucano de ser.

Gente amontoada num desconforto de dar dó e, ainda assim, apaixonada e motivada.

Nem tudo, no entanto, foi improviso. Os presidentes de partidos aliados, Rodrigo Maia, do DEM, e Roberto Freire, do PPS, foram os primeiros a bater forte no adversário.

Fernando Henrique Cardoso ficou com a ironia de expor como trabalho de propaganda as obras do governo. "Ouço falar nos discursos, mas não vejo nada."

Antes do início dos pronunciamentos havia uma preocupação entre os organizadores - falsa, viu-se depois - com o atraso de Aécio Neves. Tudo combinado. O mineiro chegou durante o discurso de FH, recebido em delírio da plateia, que pressionou como se não houvesse amanhã nem recomendação da direção nacional: "Vice, vice!"

Os dois, José Serra e Aécio Neves, dançaram conforme pedia a música da ocasião. O candidato alternou uma conversa amena sobre sua biografia com discurso afirmativo de propostas, ressaltando a questão da segurança pública, ponto em que os dois governos anteriores foram absolutamente omissos, e pregou a união do Brasil repudiando o "raciocínio do nós contra eles".

Já Aécio aceitou o desafio e disse que se fosse para discutir o passado o partido estava preparado para expor os fatos, a começar pela recusa do PT a participar do processo de transição democrática. E, a fim de dirimir dúvidas, finalizou: "A partir de hoje, o candidato de Minas é José Serra."

Dito isso, puxou Serra para o centro do palco e encerraram os dois o espetáculo deixando um aroma de puro-sangue no ar.

Ao fim no encontro, o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra, e o deputado Jutahy Júnior saiam ainda meio aparvalhados, sem acreditar no que tinham acabado de ver. "Esperávamos umas dez pessoas do Amazonas, mas apareceram 150", relatava Sérgio Guerra.

"Da Bahia chegaram ônibus de gente que nem conhecíamos", contava Jutahy.

À noite, já em São Paulo, José Serra checava pelo telefone e via e-mails o efeito do discurso que na opinião dele havia sido positivo, com muitos improvisos, mas queria ter certeza se a impressão interna correspondera à repercussão externa.

Avaliação sucinta do próprio: "Foi tudo na medida. Aécio irrepreensível sob todos os aspectos", com acréscimo provocativo a Fernando Henrique que o chamou de irmão: "Mais adequado teria sido sobrinho." Serra tem dez anos de idade a menos que FH e faz questão de cada um deles.

Arapuca. Se a candidata Dilma Rousseff tiver juízo não cairá na provocação do MST para forçá-la a se pronunciar sobre reforma agrária. Inclusive porque nos termos em que as coisas são postas, com João Pedro Stédile chamando Dilma de "ignorante" no tema, não há um convite racional ao debate.

O que existe é um óbvio desastre anunciado, cuja intenção do MST não é perceptível a olho nu, mas que muito agradará à oposição.

Se o MST não apoiar Dilma, tanto melhor para ela.

Tribos de Marina. Alfredo Sirkis, coordenador da campanha da senadora Marina Silva (PV), diz que neste momento o alvo são três tipo de público: "Os jovens, a classe média iluminista e as mulheres cristãs, em sua maioria pobres."

Crítica e autocrítica. "Os políticos se valorizam além do valor que eles têm" (César Maia).

Esquerda contra esquerda:: Eliane Cantanhêde

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - A semana passada não foi das melhores para Lula e para Dilma, que só "abriram a boca para falar besteira", como naquele velho programa humorístico de TV.

Deram a deixa para críticas dos adversários e deixaram desconfortáveis os próprios aliados.

Do alto dos seus 80% de popularidade, Lula desdenhou da Justiça e disse que não se pode ficar refém de um juiz qualquer, enquanto Dilma foi a Minas botar flores no túmulo de Tancredo Neves -que o PT simplesmente se recusou a apoiar em 1985- e aproveitou para lançar o voto "Dilmasia", sugerindo que os mineiros votem nela e no candidato tucano ao governo estadual.

Resultados: 1) o presidente do Supremo, Gilmar Mendes, teve de lembrar a Lula que o Brasil "não tem soberanos" e que ninguém está acima da lei;

2) o PMDB deu um pulo de chateação com a desfeita de Dilma a seu candidato, Hélio Costa;


3) o PSDB soltou nota e instigou Aécio Neves -tão popular em Minas quanto Lula no país- a lembrar que o PT não só não apoiou Tancredo como também virou as costas à Constituição de 1988 e ao Plano Real de Itamar e FHC.

Mas o desastre final foi quando Dilma, por inexperiência ou por estratégia equivocada, decidiu reacender uma velha discussão e jogar esquerda contra esquerda, ao comparar sua atuação contra a ditadura à de Serra. "Eu não fujo quando a situação fica difícil. Eu não tenho medo da luta", disse ela, que optou pela luta armada, enquanto Serra se exilava no Chile.

Dilma se esqueceu de um detalhe que o presidente do PPS, Roberto Freire, ex-partidão, hoje aliado de Serra, tratou de alardear: Brizola (PDT), Arraes (símbolo do PSB), Prestes (PCB), Jango (PTB) e até José Dirceu (PT) também foram exilados. Fugitivos? Será?

Havia vários motivos. Um deles era a avaliação de que pegar em armas provocaria maior radicalização do regime e uma guerra totalmente desigual. Com todo o respeito, foi ou não foi o que aconteceu?

Lulismo em disputa:: Fernando de Barros e Silva

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

SÃO PAULO - O que será do lulismo depois de Lula? Continuará existindo? E quem será (ou deixará de ser) seu herdeiro nas urnas?

Naquele que é, provavelmente, o ensaio mais esclarecedor sobre as "Raízes Sociais e Ideológicas do Lulismo" (publicado no final de 2009, na revista do Cebrap), o cientista político André Singer mostra que houve, entre 2002 e 2006, uma mudança da base que elegeu Lula.

Mais do que isso, mostra que na reeleição houve um descolamento entre a base tradicional do PT, formada pelas camadas médias, e a base que deu a vitória a Lula -o povão desorganizado, beneficiado desde o primeiro mandato por políticas e iniciativas cujos efeitos, até então, haviam sido pouco percebidos.

Essa massa desarticulada projetou em Lula, segundo Singer, "a expectativa de um Estado suficientemente forte para diminuir a desigualdade, mas sem ameaçar a ordem estabelecida". O lulismo exprimiria uma combinação inusitada de ideias -um elemento mais associado à esquerda (Estado forte) e outro mais identificado com a direita (estabilidade, não só na economia).

Sabemos que Dilma Rousseff é fã de carteirinha do "Estado forte". E que tem se esforçado para afirmar seu compromisso com a estabilidade (o contrário seria escandaloso).

Sua campanha, porém, vem investindo na radicalização retórica do lulismo. A gramática da luta de classes (ricos contra pobres) aproxima Dilma do PT histórico e politiza o jogo. Mas será adequada para aproximá-la dos "filhos de Lula"?

Serra, também por isso, aposta que a radical da geração 68 inventada por Lula como sucessora não será capaz de conquistar a confiança do eleitor. Investe na separação entre o pai do pobres e a mãe do PAC. E paga seu pedágio ao êxito do lulismo ao repetir: "O Brasil pode mais".

Mas o desafio do tucano não é nada fácil. Contra a palavra do próprio Lula, terá de convencer o pobre cuja vida melhorou de que ele não é o representante da elite descomprometida com os avanços sociais.

Ataulfo Alves canta "Pois é" - 1967

'Quem foi contra teve oito anos para mudar'

DEU EM O GLOBO

Serra diz que PT teve tempo para mudar privatizações e não o fez; tucano promete não privatizar e não lotear governo

Flávio Freire e Sérgio Roxo

SÃO PAULO. Na primeira entrevista concedida depois de lançado pré-candidato à Presidência pelo PSDB, José Serra disse ontem que não pretende, se eleito, adotar uma política de privatizações.

Ao mesmo tempo, o tucano criticou seus opositores por ficarem dizendo que o PSDB vai privatizar mais e defendeu a transferência de empresas estatais para a iniciativa privada na gestão do ex-presidente Fernando Henrique. Em entrevista à rádio Jovem Pan, concedida às 7h, Serra ironizou.

Quem era contra as privatizações teve oito anos para mudar tudo, e ninguém mudou nada, está certo? Se (as privatizações) fossem erradas, teriam facilmente, em oito anos, mudado isso sem problema nenhum disse Serra, que tratou de mandar recado para evitar discursos de seus adversários.

Às vezes se fala de (privatizar) Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e BNDES, mas acho que estes são instrumentos importantes na mão de um governo.

Na eleição presidencial de 2006, os ataques do PT fizeram com que o então candidato tucano, Geraldo Alckmin, assumisse o compromisso de não privatizar nada, a ponto de aparecer em público usando boné com o logo do Banco do Brasil.

Eu não faço loteamento de governo

Serra disse ainda que não vai lotear o governo caso assuma a Presidência em 2011.

Se eu ganhar, as questões de como formar o governo, alianças, vão ser vistas posteriormente.

Acho muito cedo para falar disso, mas eu faria um governo de soma no Brasil, com os setores políticos que estiverem de acordo com o nosso programa e o nosso estilo de governar. Eu não loteio, não faço loteamento de governo. Não distribuo capitânias dentro do governo. Atendo bem o Legislativo no que se refere às demandas de orçamento que têm ligação com interesses de estados e municípios.

O tucano também disse ter medo de que haja baixarias na campanha eleitoral. Com a ressalva de que acredita nas relações cordiais com Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PV), ele disse que os problemas podem acontecer também a partir de insinuações.

(Tenho) Temor de que tenha baixaria e esperança de que não tenha. Da minha parte, não vem. Não é meu estilo. Nunca fiz isso em campanha. E acho que, para as pessoas, é ruim. As pessoas querem ter confronto de ideias, de propostas, críticas também, mas não críticas pessoais, baixaria, baixo nível, insinuações.

Hoje, os candidatos que estão postos aí, a Dilma e a Marina, são pessoas que conheço, tenho relações cordiais e espero que se mantenha.

Dois dias depois do evento em que foi lançado pelo partido, o ex-governador de São Paulo voltou a tocar na escolha do vice.

Embora o ex-governador mineiro Aécio Neves tenha dito que estará ao lado de Serra se for convocado pela direção tucana, o pré-candidato foi cauteloso ao tratar do assunto.

As convenções serão em junho, até lá tem muita coisa para ver. O próprio governador (Aécio) tem dito que prefere ser candidato ao Senado, e sua decisão será respeitada, mas não tenho dúvidas de que vamos ter uma composição forte.

Indagado sobre a expectativa em torno do Aécio assumir essa posição, afirmou: Cada um poderá tomar suas decisões de forma bem pensada. Eu respeito a de quem quer refletir sobre qual caminho quer seguir.

Ainda sobre a política em campo mineiro, Serra ironizou a suposta tentativa de aproximação de Dilma ao pré-candidato tucano ao governo de Minas Gerais, Antonio Anastasia, num movimento chamado de Dilmasia: Parece doença de estômago, não é? Na entrevista, Serra ainda defendeu a candidatura de Geraldo Alckmin ao governo de São Paulo, assim como disse ser favorável a mudanças na legislação penal, como forma de evitar que quem pratica crimes hediondos seja beneficiado com redução de pena, por exemplo.

Ele ainda justificou o aumento no gasto da publicidade em seu governo em 2009 por causa da propaganda da Nota Fiscal Paulista e da Lei Antifumo.

Serra atende Aécio e vai começar sua pré-campanha por Minas

DEU EM O GLOBO

Ex-governador deve ir ainda à Bahia; agenda será fechada com aliados

Adriana Vasconcelos

BRASÍLIA. Numa conversa por telefone, o pré-candidato do PSDB à Presidência, José Serra, acertou ontem com o ex-governador mineiro Aécio Neves sua primeira agenda de pré-campanha.

Serra aceitou convite de Aécio para que visite Belo Horizonte no dia 19. A ideia de Aécio é promover um encontro de Serra com empresários na Federação das Indústrias de Minas Gerais, e outra reunião com prefeitos mineiros que apresentariam a agenda do estado para o candidato tucano.

O mais importante, porém, seria a mensagem simbólica do encontro dos dois, reforçando o engajamento de Aécio na campanha de Serra.

Para viabilizar isso, Aécio adiou pela segunda vez sua viagem de descanso que planeja fazer desde que se desincompatibilizou do cargo de governador, no último dia 30.

A agenda com Aécio está certa confirmou ontem o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE).

O cronograma de viagens para o primeiro mês de pré-campanha de Serra deverá começar a ser fechado hoje entre PSDB, DEM e PPS. O DEM da Bahia, por exemplo, defende que Serra comece seu giro pelo Nordeste pelo município baiano de Feira de Santana, dia 22 de abril.

Paralelamente a isso, Serra deverá traçar uma estratégia para resolver alguns problemas de palanques estaduais. A expectativa é que o candidato tucano se reúna nos próximos dias com o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), para acertar o lançamento de sua candidatura ao governo de Pernambuco, onde a oposição continua sem palanque.

Também é aguardado um gesto público de Serra para resolver o impasse no Rio, diante da resistência do deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) a incluir o ex-prefeito Cesar Maia (DEM) candidato ao Senado em sua chapa para governador.

A cúpula do DEM resiste à alternativa discutida na semana passada, pela qual o PV só formalizaria a aliança estadual com o PSDB, e Cesar Maia faria uma campanha independente para o Senado, apoiando Serra para presidente.

Uma meia aliança não interessa a ninguém reagiu o presidente nacional do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ).

Duas semanas após inauguração, porto desaba

DEU EM O GLOBO

Obra foi inaugurada por Dilma e Nascimento; segundo Ministério dos Transportes, houve só desmontagem

Paula Litaiff
Especial para O GLOBO

MANAUS. Duas semanas após a ex-ministra-chefe da Casa Civil e pré-candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, inaugurar o porto flutuante do município de Humaitá (AM) a 600 quilômetros a sudoeste de Manaus a estrutura da obra desabou, no último dia 8. Ninguém ficou ferido.

Segundo informações de moradores da cidade, o porto não suportou a força da correnteza do Rio Madeira, e quase 70% de sua estrutura de ferro cederam.

O porto é uma espécie de rampa onde os barcos ficam ancorados e onde ocorre o embarque e o desembarque de passageiros.

Testemunhas afirmaram que a correnteza do rio forçou parte da estrutura do porto, que se soltou das bases construídas no barranco. O presidente da Associação de Agricultores de Humaitá, Valdir Gomes, explicou que um cabo de aço que fixa uma das plataformas flutuantes do porto se soltou e fez com que parte da rampa se elevasse.

No sábado, a sustentação da rampa flutuante não resistiu à força da correnteza.

Ministério diz que houve desmontagem da rampa O porto foi inaugurado no dia 25 de março. No dia da inauguração, o então ministro dos Transportes e pré-candidato ao governo do Amazonas, Alfredo Nascimento (PR), estava no evento acompanhando Dilma e outros políticos do Amazonas.

A obra do porto de Humaitá custou R$ 15 milhões, sendo que 97% dos serviços foram custeados pelo Ministério dos Transportes e o restante, pela prefeitura do município. Os serviços foram iniciados no dia 12 de março de 2009 e finalizados quase nove meses depois.

Quando a obra foi inaugurada, ela já estava em funcionamento há três meses.

O Ministério dos Transportes negou que tenha ocorrido o desabamento do posto. Segundo a assessoria, o que houve foi a desmontagem da rampa flutuante para a retirada de toras de árvores que estavam se acumulando sob o porto flutuante. Ainda de acordo com a assessoria, dois dias após o deslocamento do porto, o local voltou a operar e, por precaução, mais duas poitas (espécie de âncora) foram colocadas para dar estabilidade ao terminal.

Inaugurações polêmicas

DEU EM O GLOBO

A pré-candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, visitou, ainda como ministra da Casa Civil, no dia 24 de março, o terminal hidroviário do município do Humaitá, a 600 quilômetros de Manaus. Na ocasião, a então ministra disse que o governo Lula demonstrou que é possível o país crescer. A petista também afirmou que, em governos anteriores, o povo ficava para trás.

Na época, Dilma e o então ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, também inauguraram trecho da BR-319 (que liga Manaus a Porto Velho) e assinaram ordem de serviço para a construção de um segundo porto na cidade.

Dilma já participou de algumas inaugurações que causaram polêmica.

Em ritmo de campanha, a ex-ministra inaugurou, no dia 7 de março, no Rio, o Hospital da Mulher Heloneida Studart, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense. Em festa preparada pelo governador Sérgio Cabral e ao lado de cinco ministros e dezenas de deputados, prefeitos e vereadores, ela foi a personagem principal da apresentação de uma unidade de saúde orçada em R$ 40 milhões, mas sem ter um centavo do governo federal.

A unidade só seria aberta ao público em três semanas. O evento ganhou ares de palanque eleitoral.

No dia 26 de novembro do ano passado, ao lado de Lula, Dilma inaugurou o gasoduto Urucu-Coari-Manaus, da Petrobras, obra que só funcionará completamente em setembro. A estrutura tem capacidade para transportar 5,5 milhões de metros cúbicos de gás por dia, mas, no dia do evento, apenas 77 mil metros cúbicos, o equivalente a 1,6%, começariam a ser aproveitados.

Agenda cautelosa contra 'situação ridícula'

DEU EM O GLOBO

Ordem no Planalto agora é evitar que Lula inaugure obras não concluídas

Luiza Damé

BRASÍLIA. O Palácio do Planalto será mais criterioso na elaboração da agenda de inaugurações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo país afora. A ordem, repassada aos principais auxiliares e à Esplanada dos Ministérios, é vistoriar in loco os projetos, antes, para evitar que Lula seja exposto à situação ridícula de inaugurar obras não concluídas ou com problemas. Foi o próprio presidente quem reclamou, no dia do lançamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC-2), do convite para inaugurar uma fábrica de dormentes em Salgueiro (PE) que não estava pronta.

Não temos motivo para expor o presidente a uma situação ridícula (inaugurar obra pela metade). O presidente não precisa inaugurar obra inacabada.

Temos muita obra sendo feita neste país confirmou um ministro.

No início deste ano, Lula enfrentou manifestação de estudantes na inauguração do campus avançado da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, em Teófilo Otoni (MG). Dos dez prédios previstos, somente dois tinham sido concluídos até o evento, cinco ainda estão em construção e três sequer tinham saído do papel. A previsão é que as obras sejam concluídas até o fim de 2012, ao custo de R$ 25,1 milhões.

No lançamento do PAC-2, dia 29 de março, Lula anunciou o cancelamento da visita às obras da ferrovia Transnordestina, na véspera da viagem, porque a fábrica de dormentes não estava pronta para inaugurar. No início deste ano, o presidente já havia cancelado uma extensa agenda no Piauí, que incluía Guaribas, porque nem a estrada de acesso ao município havia sido feita, e ele não teria o que mostrar no evento.

Eu ia amanhã para a Transnordestina, para inaugurar a fábrica de dormentes, a maior do mundo, e a fábrica de brita que, sozinha, vai produzir mais brita que as 40 que tem em São Paulo. E não vamos porque não está pronta. Esse compromisso foi feito comigo em janeiro!. Em janeiro! E não está pronta reclamou Lula, naquele dia.

Nas agendas pelo país, Lula já visitou e inaugurou obras com problemas detectados pelo Tribunal de Contas da União (TCU), incluindo superfaturamento de preços.

O governo ainda diz ver decisões politizadas no tribunal, mas reconhece que, nos últimos meses, as relações com o TCU melhoraram. O tribunal, que agora abriga uma representação da Advocacia Geral da União (AGU), tem atendido aos pedidos do Palácio do Planalto para dar prioridade a procedimentos envolvendo determinadas obras, especialmente às do PAC, e acatado esclarecimentos do governo.

Lula confirma aviso sobre o mensalão

DEU NO CORREIO BRAZILIENSE

Em documento enviado ao STF, presidente admite que soube, durante conversa com o ex-deputado Roberto Jefferson em 2005, do pagamento a deputados aliados

Alana Rizzo e Tiago Pariz

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva Lula admitiu pela primeira vez que teve conhecimento do mensalão durante reunião com o presidente do PTB, Roberto Jefferson (RJ), no primeiro semestre de 2005. No Ofício nº 57/2010 encaminhado ao Supremo Tribunal Federal, incluído na Ação Penal nº 470, que investiga o repasse financeiro a partidos da base aliada, Lula também reconheceu a possibilidade de ter sido feito um acordo financeiro entre o PT e o antigo PL (hoje PR) na campanha eleitoral de 2002.

No documento, Lula gasta o maior número de linhas para explicar o encontro com Jefferson.
Limita-se a fazer um relato da reunião, na presença dos ex-ministros Aldo Rebelo, Walfrido dos Mares Guia, e dos deputados Arlindo Chinaglia (PT-SP), José Múcio Monteiro (PTB-PE) e o próprio Jefferson. Lula disse que foi feita uma menção ao assunto repasse de dinheiro para integrantes da base aliada do governo federal na Câmara dos Deputados.

Posteriomente, o presidente disse que foi informado de uma reportagem publicada no Jornal do Brasil em 2004 que resultou na abertura de dois procedimentos na Câmara, um deles teria sido enviado ao Procurador-Geral da República. Detalhes específicos do encontro ou sua reação no momento foram poupados pela defesa. Essa pergunta de número 22 desdobrou-se em outras três. Duas não tiveram resposta por Lula ter considerado prejudicada. E, na outra, disse não se lembrar de ter tomado conhecimento do mensalão por outra pessoa que não Roberto Jefferson.
Na questão 28, quando o Ministério Público Federal (MPF) especifica a pergunta sobre se o PT repassava dinheiro aos aliados, o presidente disse não ter tido conhecimento, somente por meio da imprensa.

Lula negou ter conversado sobre o esquema antes da eclosão do escândalo com os principais envolvidos o deputado cassado José Dirceu, o ex-tesoureiro Delúbio Soares, o ex-presidente da legenda José Genoíno (SP), o ex-secretário-geral Silvio Pereira e o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha. O presidente, porém, joga para a antiga direção partidária a responsabilidade por acordos com o PL.

Acredito que as questões financeiras ou de mútuo apoio eleitoral foram tratadas pelas respectivas direções dos partidos, respondeu o presidente à pergunta 10 do MPF, que elaborou 33 questões: Em termos financeiros, no que concerne à relação que seria estabelecida entre o PL e o PT durante a campanha eleitoral, qual foi a configuração final do acordo?

Segundo o antigo presidente do PL deputado Valdemar Costa Neto (SP), o acordo eleitoral em 2002 só saiu porque o PT comprometeu-se a repassar R$ 10 milhões à campanha com aval de Lula numa reunião, em Brasília, que ocorreu no apartamento do deputado Paulo Rocha (PT-PA). O dinheiro foi pago em parcelas no total de R$ 6,5 milhões, depois que o governo havia sido formado.

O presidente confirma ter havido essa reunião na fase final da formação de chapa. Recordo-me de estarem presentes ao menos o vice-presidente José Alencar e os presidentes do Partido Liberal e do Partido dos Trabalhadores e de que a reunião transcorreu de forma amistosa, escreveu Lula em resposta à pergunta 9.1. O presidente nega, no entanto, que tenha sido informado por Valdemar do empréstimo para financiar a campanha.

Lula acaba também com uma antiga dúvida durante o escândalo. Ele foi explícito ao negar ter conhecido o publicitário Marcos Valério, considerado operador do mensalão, e também rejeitou um suposto encontro na Granja do Torto.

Acordo

Nas 15 páginas de respostas, Lula também desconhece qualquer ilícito em relação à votação da reforma da Previdência. Segundo ele, foi fruto de acordo com os 27 governadores. Na linha das respostas da presidenciável e ex-ministra Dilma Rousseff e do deputado Antonio Palocci (PT-SP), Lula afirmou não ter havido nenhum pedido para qualquer tipo de vantagem durante as votações no Congresso.

O presidente respondeu não sei às questões 13 e 14 sobre o tamanho da dívida remanescente do comitê de campanha de 2002 e ou com o marqueteiro Duda Mendonça.

Lula preferiu adotar a mesma estratégia dos petistas durante o escândalo: jogou no colo de Delúbio Soares a responsabilidade pelas negociações. O ministro Joaquim Barbosa recebeu o documento da Casa Civil na última quinta-feira e ainda não analisou as respostas. As defesas terão um prazo para se manifestar.

O número 39 - Quantidade de réus no processo do mensalão no Supremo Tribunal Federal

Sem ajuda a Dirceu

O presidente Lula não se comprometeu com a defesa do deputado cassado José Dirceu (PT) no processo do mensalão, que corre no Supremo Tribunal Federal. Em resposta encaminhada ao ministro Joaquim Barbosa, Lula não soube detalhar se Dirceu tratou de dinheiro na campanha de 2002. Não sei se tratava de assuntos financeiros diretamente, respondeu o presidente a uma das questões elaboradas pelo MPF. Segundo denúncia feita pelo então presidente do PL (hoje PR), deputado Valdemar Costa Neto (SP), Dirceu deu aval ao acordo de R$ 10 milhões que seriam repassados pelo PT durante a campanha. Em 26 de março, o Correio mostrou que José Dirceu queria o aval de Lula na sua defesa no STF.

O presidente apenas corroborou a informação que Dirceu deixou de ter papel direto na legenda quando ele se tornou chefe da Casa Civil no começo do governo. Creio que José Dirceu se afastou da administração interna do PT antes de ter assumido o cargo de ministro, respondeu. O presidente jogou para o partido a responsabilidade de ter indicado Dirceu, Delúbio Soares e o deputado João Paulo Cunha, respectivamente coordenador, tesoureiro e coordenador do grupo de trabalho eleitoral em 2002. A decisão referente à estrutura da campanha presidencial foi do PT, afirmou. Lula descartou ter sido informado por Valdemar que o PT não honrou o compromisso financeiro fechado na negociação eleitoral. (TP e AR)

OUÇA O AUDIO DO DISCURSO DE AÉCIO

Discurso do Ex-Governador Aécio Neves
10/04/2010

Serra tenta colar Sarney e Collor em Dilma

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

"Fico intrigado por que ex-presidentes que são aliados da Dilma são bem tratados", afirma, em reação à tática do PT de ligá-lo a FHC

Entrevista do tucano a rádio foi pontuada por avaliações sobre políticas públicas e suas realizações à frente do governo de São Paulo


Breno Costa
Da reportagem local

Numa mudança de estratégia nas reações à tática do PT de vinculá-lo ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), o pré-candidato tucano à Presidência, José Serra, buscou colar a imagem dos ex-presidentes José Sarney e Fernando Collor de Mello em sua rival Dilma Rousseff (PT) .

"Esta eleição tem a ver com o futuro. Porque o Lula não é candidato, nem o Fernando Henrique é candidato, nem o Collor e o Sarney, que apoiam a Dilma, são candidatos", disse Serra. "Às vezes eu fico intrigado por que ex-presidentes que são aliados da Dilma são bem tratados, não têm problema nenhum. Mas quando não são aliados, são muito criticados pelo PT e tudo o mais."

As declarações foram dadas durante entrevista de quase duas horas à rádio Jovem Pan, com transmissão para mais de 1.500 municípios.

Uma das apostas centrais do PT e partidos aliados para as eleições é transformar a disputa em uma espécie de plebiscito, em que os eleitores, na prática, escolheriam entre o herdeiro do governo Fernando Henrique ou a do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O presidente do PSDB e coordenador nacional da campanha de Serra, senador Sérgio Guerra, negou que essa será uma estratégia recorrente na campanha como forma de neutralizar os ataques do PT.

Serra evitou dar declarações que soassem como pressão para que Aécio Neves aceite o posto de vice em sua chapa, mas não conseguiu esconder o desejo de contar com o nome do mineiro. No lançamento de sua pré-candidatura, no sábado, em Brasília, Aécio foi aclamado aos gritos de "vice".

"Não vou dizer que tenho uma expectativa ou não tenho. É um assunto sobre o qual eu não vou me manifestar nas próximas semanas. Acho que há outras prioridades agora e, por outro lado, cada um poderá tomar suas decisões de maneira bem pensada", disse.O engajamento de Aécio também foi abordado por Serra, ao dizer que o voto "Dilmasia" em Minas -híbrido de Dilma com o governador de MG, Antonio Anastasia (PSDB)- "parece nome de doença".

A maior parte da entrevista foi pontuada por avaliações de Serra sobre políticas públicas e suas realizações em São Paulo. No quesito economia, se disse contrário às privatizações do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal e, ao criticar juros altos e câmbio desfavorável às exportações, disse que mudanças na área têm de ser "responsáveis" e "graduais".

Frase
"Esta eleição tem a ver com o futuro, porque o Lula não é candidato, nem o Fernando Henrique é candidato, nem o Collor e o Sarney, que apoiam a Dilma, são candidatos"
(JOSÉ SERRA)

As eleições e o Estado :: Cândido Grzybowski

DEU NO JORNAL DO BRASIL

RIO - Na conjuntura eleitoral, que se abre com a definição das candidaturas para a Presidência da República, começa a emergir com grande força a discussão sobre o papel do Estado. A exposição do tema certamente crescerá na medida em que a campanha eleitoral avance, tornando-se assim uma questão central nas opções que cabem à cidadania fazer pelo seu decisivo voto em outubro próximo. Este não é, obviamente, um debate novo. Mas estará bem colocado, de modo a favorecer a quem, em última instância, mais poderia beneficiar-se dele, ou seja, o cidadão-eleitor?

Encarada de modo leviano (como muitas vezes o é), a disputa de ideias parece dicotômica: maior ou menor presença do Estado na economia e na vida das pessoas. Em si mesma, porém e assim resumida a controvérsia pouco diz do que realmente está em jogo, pois o Estado nunca foi, não é e nunca será um mero aparato institucional neutro, como se pairasse acima de diferenças, oposições e conflitos que configuram o viver humano em sociedade. Reduzir a questão a mais ou menos Estado é uma forma de encobrir o verdadeiro sentido da existência e atuação do poder estatal no contexto de diferentes correlações de forças políticas. O que importa realmente é a quem ele serve e como o faz.

O que observamos, aqui, é que o Estado brasileiro é, nos momentos cruciais, capturado por interesses privados vários. Temos hoje um Estado que é, em linhas gerais, benéfico aos grandes e privados negócios, em diferentes níveis. O que vem acontecendo no Brasil, com a concessão e a privatização (levada a cabo em passado recente) de importantes setores de evidente interesse público como energia, transporte e comunicações , e apenas para focarmos em uma faceta bastante visível do problema, fala por si. O que até ontem parecia um sucesso começa a mostrar a falta total de responsabilidade pública na condução dos negócios. Sob muitos aspectos a privatização feita está se revelando um fracasso: metrô e trem não funcionam, falta energia elétrica até com nuvem no horizonte, telefones temos de montão mas passamos horas reclamando do serviço. A democratização de fato do acesso a bens e serviços ainda precisa ser feita, e isto, em algum grau, passará pela ação estatal via revisão de processos, regulação efetiva e amplo debate transparente na hora de renovar (ou não) concessões, por exemplo.

Nunca podemos esquecer, nós brasileiros e brasileiras, que somos uma invenção fruto da invasão e ocupação colonial, que praticamente destruiu tudo o que encontrou como organização humana por aqui. A invenção do Brasil apaga o passado pré-colonial e constrói uma economia e uma sociedade a partir do Estado. Trazendo a questão para um plano mais atual, o Brasil de hoje é, em grande parte, uma obra de Estado desde os anos JK (Plano de Metas, na década de 1950), passando pelo período ditatorial (marcado pela intervenção autoritária na economia), até os tempos atuais, quando capitais estatais em áreas diversas são empuxes importantes para o desenvolvimento do país.

Mas sejamos claros neste ponto. Não necessariamente ser estatal significa ser democrático, nem mesmo público. Para ser público e democrático o Estado dever servir ao interesse público e ser aberto à divergência, à disputa, ao conflito e capaz de transformá-los em força de construção ao invés de destruição. Esta é uma tarefa de cidadania, materializada no Estado como correlação de forças e pactos de governança. Num Estado democrático predominam o interesse e o espaço público ao privado. O verdadeiro debate, portanto, não é o maior ou menor Estado, mas quanto de cidadania o move. Ou submetemos e transformamos o Estado de acordo com as regras da cidadania e da democracia ou ele continuará sendo gerenciado de modo a favorecer, no fim da linha, interesses privados do negócio. Acredito ser esta uma ótima agenda para 2010.

Cândido Grzybowski é sociólogo e diretor do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase).

Agora crise é com aliados de Ciro

DEU EM O GLOBO

Depois de problemas em Minas e no Rio, Dilma vai ao Ceará e irrita partidários

Gerson Camarotti, Maria Lima e Isabela Martin

BRASÍLIA e FORTALEZA - A imagem da pré-candidata Dilma Rousseff criando problemas com aliados por onde passa, desde que começou a viajar sem a companhia do presidente Lula, acendeu sinal de alerta no comando da campanha petista. Parte da agenda da viagem ao Ceará, prevista para ontem e hoje, foi abortada, mas o estrago entre os aliados do deputado e também pré-candidato Ciro Gomes (PSB) já estava feito. A ordem, agora, é evitar viagens da candidata a estados ainda divididos, como Maranhão, Bahia e Pará, pelo menos por enquanto.

A situação da petista se complicou também na Bahia, onde os tucanos e integrantes do DEM comemoram a reviravolta provocada pela parceria do senador César Borges (PR) com o ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB), firmada no fim de semana, para a disputa pelo governo do estado.

Depois dos problemas de Dilma com Anthony Garotinho (PR) e Sérgio Cabral (PMDB) no Rio; com Hélio Costa (PMDB) em Minas; e agora no Ceará, o comando da campanha preferiu marcar sua próxima viagem para o Rio Grande do Sul, onde passará três dias a partir de quinta-feira.

Não se trata aliado dessa forma!

Ainda sem definição sobre a candidatura presidencial de Ciro, seus aliados consideraram desrespeitosa a ida de Dilma a Fortaleza. Para evitar um confronto direto, ele foi ontem para São Paulo. Mas deixou emissários.

Não se trata aliado dessa forma.

E não se ganha eleição passando por cima dos outros. Ciro foi um dos ministros mais leais ao presidente Lula.

Mais leal até do que os ministros petistas desabafou a senadora Patrícia Saboya (PDT-CE), ex-mulher e aliada de Ciro. E agora a segunda visita de campanha da Dilma é para o Ceará!

Ela veio fazer o quê? Por que não espera pelo menos a definição do PSB sobre a candidatura presidencial? Não consigo entender isso. É uma afronta! Patrícia Saboya continuou: Ela está vindo ao estado de alguém que até hoje é aliado dela e tem feito sacrifícios em atenção ao presidente Lula, como quando transferiu seu título de eleitor para São Paulo. Isso é para mim só um sintoma do desastre que pode ser uma campanha de alguém de salto alto.

Adversário do PT, o senador Tasso Jereissati (PSDB) considerou a passagem de Dilma uma afronta a Ciro, seu amigo há mais de duas décadas e a quem deu apoio para presidente em 2002, em detrimento da candidatura de Serra. Em tom de ironia, afirmou: Acho bom que a candidata Dilma conheça o Ceará, as pessoas aqui e o ambiente. Mas uma visita desta é quase um afronta direta ao Ciro.

Dilma recebeu o título de cidadã de Fortaleza na Câmara de Vereadores. A prefeita Luizianne Lins (PT) compareceu, mas o governador Cid Gomes (PSB), irmão de Ciro, não foi. Em seu discurso, Dilma não citou o nome de Ciro, e também não deu entrevista.

Já na Bahia os adversários de Dilma estão eufóricos com o novo quadro.

Primeiro, porque acreditam que, com o palanque de Geddel fortalecido pelo ex-governador César Borges, poderão impedir a reeleição de Jaques Wagner (PT) no primeiro turno, levando Paulo Souto (DEM) para o segundo turno.

Além disso, avaliam que o pré-candidato do PSDB à Presidência, José Serra, poderá ser beneficiado com uma eventual reaproximação com Geddel.

Geddel tem boa proximidade com Serra desde o governo FH. Por enquanto ele vai ficar com Dilma, porque tem lá seu ministro no governo diz o senador ACM Júnior (DEM).

Quanto mais ele comerem o couro um do outro (Geddel e Jaques), para nós é melhor. É um desastre para a campanha. O ambiente não está bom para Dilma vir à Bahia. Ainda mais se resolver visitar o túmulo de ACM. Tancredo ainda foi gentil, mas ACM é capaz de se virar no sarcófago disse o líder do PSDB, João Almeida (BA).

Em pouco tempo...

DEU EM O GLOBO

Uma semana após deixar a Casa Civil, a ex-ministra Dilma já demonstrou, em pelo menos quatro ocasiões, suposta inabilidade política, segundo até seus aliados.

GAROTINHO: No dia 5, Dilma teve encontro reservado com Anthony Garotinho, ex-governador do Rio e pré-candidato ao governo do estado, após evento do PR. As fotos dos dois se abraçando e a afirmação dela de que ele era parceiro antigo não foram bem recebidas pelo governador Sérgio Cabral (PMDB), candidato à reeleição no Rio.

O PMDB não quer Dilma em dois palanques no estado (PMDB e PR, caso Garotinho se candidate).

DILMASIA: Dois dias depois, Dilma passou por Minas e, ao ser perguntada por um jornalista sobre a possibilidade do fenômeno Dilmasia (com o eleitor mineiro votando no tucano Antonio Anastasia para governador e em Dilma para presidente), ela respondeu que achava melhor Anastadilma. O fato de a petista não ter rejeitado a associação irritou o aliado PMDB, partido do senador Hélio Costa, que pretende disputar o governo mineiro. Prefiro Serrélio, disse ele, indicando que poderia apoiar o tucano José Serra.

EXILADOS: No último sábado, no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (SP), Dilma lembrou de seu passado de oposição ao regime militar: Não fujo. Posso apanhar (...). Mas nunca abandonei o barco. A oposição interpretou a frase como um recado aos exilados do regime. Pelo Twitter, Dilma rebateu: De onde tiraram que fugir da luta é se exilar?.

CEARÁ: A mais recente polêmica da petista foi ter ido ontem a um evento no estado do deputado federal Ciro Gomes (PSB) sem tê-lo convidado. A viagem foi encarada por aliados de Ciro como uma afronta a ele, aliado de Lula.

Petista causa polêmica também sobre exilados

DEU EM O GLOBO

Serra, Marina e aliados de Dilma reagem à declaração dela de que "não foge da luta"

Adriana Vasconcelos e Gerson Camarotti

BRASÍLIA e SÃO PAULO. Os pré-candidatos à Presidência José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV) reagiram ontem às declarações da adversária Dilma Rousseff, do PT, de que não foge da luta, interpretada como crítica a ex-exilados políticos, como o tucano. Até aliados ficaram insatisfeitos, levando Dilma a se corrigir, primeiro no Twitter e, depois, em nota. Foi o quarto escorregão da petista desde que saiu do governo para a pré-campanha.

Sábado, ao participar de debate no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, Dilma disse: Eu não fujo da situação quando ela fica difícil. Eu não tenho medo da luta. Eu posso apanhar, sofrer, ser maltratada, como fui, mas estou sempre firme nas minhas convicções. (...) Mas eu nunca fugi da luta ou me submeti.

Nunca abandonei o barco.

Em entrevista à rádio Jovem Pan, Serra disse não acreditar que ela tenha se referido ao exílio dele no Chile, durante a ditadura, ou a outros que tiveram de deixar o Brasil para escaparem da prisão, da tortura ou da morte após o golpe de 64. Para Serra, a declaração de Dilma foi surpreendente: O próprio Brizola, que era chefe do partido da Dilma, foi exilado, porque, se ficasse no Brasil, seria preso. E há muitos companheiros de partido da Dilma que também foram exilados por este motivo, de maneira que não entendi direito a declaração, porque seria um desrespeito a toda essa gente (...) Acho que foi um escorregão, não me senti atingido.

Marina reagiu dizendo que os exilados não são fujões e que agiram em legítima defesa de suas vidas: Quando o senador Agripino Maia insinuou que ela (Dilma) era mentirosa, ela fez uma fala comovente. Disse que era muito fácil dizer a verdade quando você está torturado.

Difícil era mentir e não entregar seus companheiros.

Todos aqueles que saíram do Brasil não fugiram. Fizeram ato de legítima defesa de sua vida.

A senadora lembrou que o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), pré-candidato do partido ao governo do Rio, foi exilado: Eu não sei o contexto em que a ministra (Dilma) falou, mas o exilados políticos não são fujões.

O presidente do PPS, Roberto Freire, criticou em nota: O PPS, herdeiro das mais dignas tradições do PCB, vem a público em defesa de todos os exilados brasileiros, obrigados a deixar o país durante a ditadura militar.

Ao mesmo tempo, repudia as acusações feitas pela candidata do PT, que os chamou a todos de fugitivos. Ao tachá-los com tal adjetivo, Dilma nada mais fez do que se igualar ao general Leônidas Pires Gonçalves, diz trecho da nota, que lembrou declaração de Lula sobre um dissidente cubano: Não bastou a declaração do presidente Lula ao comparar o preso político Orlando Zapata Tamoyo, que morreu numa greve de fome em Cuba, com bandidos das nossas cadeias. Logo vem outra sandice, desta vez para macular a luta dos brasileiros exilados.

Além de ter tentando se explicar logo cedo, no Twitter, Dilma soltou uma nota, à tarde, para negar que tenha se referido a brasileiros que tiveram que sair do país, na ditadura.

Com o título Dilma não foge da luta nem critica exilados, a nota reproduz a frase dela no sindicato, quando, segunda a assessoria, enumerava os princípios que norteiam sua conduta ética e política. É, portanto, totalmente equivocada a interpretação, difundida hoje (ontem) por vários veículos de comunicação, de que ela tenha feito qualquer referência a brasileiros que tiveram que se exilar do país durante a ditadura militar. Cita ainda o que Dilma havia postado no Twitter: De onde tiraram que fugir da luta é se exilar? O exílio significou a diferença entre a vida e a morte para os exilados brasileiros.

Grandes amigos meus, corajosos e valorosos, só tiveram uma saída na ditadura, se exilar. Querer dizer que eu os critiquei só pode ser má-fé. Para a oposição, o alvo do discurso era Serra, como afirmou o líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM): Mas Dilma acabou chamando de covardes Miguel Arraes, Luiz Carlos Prestes e até seu companheiro José Dirceu. Atingiu ainda a memória do ex-governador Leonel Brizola.

O líder do governo, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), tentou contemporizar: Dilma não falou que os exilados fugiram da luta, falou da experiência dela. Até porque tem mais ex-exilado no PT do que no PSDB.
Mas o líder do PSB, deputado Rodrigo Rollemberg (DF), não escondeu o desconforto com a declaração.

Cada um viveu uma realidade na ditadura. Arraes foi exilado. Dilma tem uma biografia própria. É diferente daqueles que tiveram outro tipo de luta e vivências que também valorizamos.

O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) foi duro com a ex-ministra: Essa declaração é uma falta de respeito aos que se exilaram, como Arraes, Brizola e Prestes. Até porque os que estavam na guerrilha tinham a proteção do seu grupo e se defendiam.

Os que lutavam por solução política e não pegavam em armas não tinham opção de ficar. A única saída era sair do país. Tenho impressão que Dilma disse isso sem pensar, até porque não acho que queria chamar de fujão todos os exilados. Ao tentar atacar Serra, acabou atingindo muita gente.

'Não tivemos exilados no Brasil. Tivemos fugitivos'

DEU EM O GLOBO

General disse que governo não expulsou militantes

Em entrevista veiculada pela Globo News, na semana retrasada, o general Leônidas Pires Gonçalves criou polêmica ao dizer que os exilados da ditadura militar eram, na verdade, fugitivos. A frase dele foi lembrada ontem pela oposição ao criticar a pré-candidata do PT, Dilma Rousseff, por suas declarações. Não se esqueça do seguinte: não tivemos exilados no Brasil.
Tivemos fugitivos. Pode ser dura a minha palavra, mas não acho que tivemos exilados no Brasil.
Não houve um decreto de exilar ninguém. Depois, os que fizeram algumas coisas e quiseram ir embora, nós os consideramos banidos. Quiseram ir embora para aqui, para lá, para acolá. Pegaram um avião e saíram por aí, disse o general ao jornalista Geneton Moraes Neto.

Ao responder se não era uma injustiça considerar fugitivos políticos como Arraes, Brizola e Prestes, o general disse que o governo nunca exigiu que eles saíssem do país: A palavra exilado não serve para eles. Exilado é alguém que recebe um documento do governo exigindo que se afaste. Tal documento nunca houve. A minha sugestão é: fugitivos.

Frase de Dilma sobre exilados gera polêmica com adversários políticos

estadão.com.br

Serra e Marina comentaram as palavras da ex-ministra, que disse que 'apanha' mas 'não foge'

Em entrevista à rádio Jovem Pan concedida nesta manhã, o pré-candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, respondeu à colocação feita pela candidata do PT, Dilma Rousseff, em evento no ABC paulista neste sábado, 10, e lembrou que vários políticos de diversos partidos se exilaram durante a ditadura militar (1964-1985) para evitar a prisão.

Como exemplo, Serra citou o ex-governador de Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, Leonel Brizola, fundador o PDT, partido da Dilma Rousseff antes dela ingressar no PT, que permaneceu no exílio por mais de uma década.

No sábado, em evento ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a pré-candidata do PT disse que pode "apanhar", mas não "foge da briga". A frase foi interpretada como uma provocação a Serra, que viveu diversos anos no exílio durante a ditadura. "Eu não fujo da situação quando ela fica difícil. Eu posso apanhar, ser maltrada, como eu já fui, mas não fujo da luta. Em cada época da minha vida, eu fiz o que fiz porque acreditava naquilo. Eu mudei quando o Brasil mudou. Eu não fujo da luta. Nunca abandonei o barco", disse a ex-ministra na ocasião.

Nesta segunda-feira, 12, a pré-candidata do PT se retratou e disse, através de seu recém-inaugurado Twitter, que não pretendeu em momento algum criticar os exilados. "De onde tiraram que fugir da luta é se exilar? O exílio significou a diferença entre a vida e a morte para os exilados brasileiros", disse Dilma em um post. "Grandes amigos meus corajosos e valorosos só tiveram uma saída na ditadura, se exilar.Querer dizer que eu os critiquei só pode ser má fé", acrescentou a ex-ministra no post seguinte.

A frase de Dilma também causou polêmica entre políticos de outros partidos. A pré-candidata do PV, Marina Silva, comentou a frase de Dilma e afirmou que "os exilados não são fugitivos". A senadora disse que as pessoas que deixaram o País durante o regime de exceção "agiram em legitima defesa" e "continuaram sua luta fora do Brasil". "Inclusive trouxeram novos ares, como Gabeira, na luta pelo meio ambiente", concluiu, citando o deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ).

Por sua vez, o presidente nacional do PPS, Roberto Freire, divulgou nesta manhã uma nota de repúdio às declarações da candidata do PT. No texto, Freire compara a declaração de Dilma às do general Leônidas Pires Gonçalves, que chefiou o DOI-CODI durante o regime de exceção e se referia aos exilados como fugitivos.

"Essa distorção infame do general contra os brasileiros que lutavam contra o regime ditatorial de 1964 e que tiveram que se exilar não jamais poderia servir de mote para a insensatez de Dilma Roussef", disse Freire. Na nota, o PPS presta solidariedade aos exilados, "que eram milhares" e que " viveram dias amargos longe da pátria, sem poder voltar".

Leia a seguir a íntegra da nota do PPS:

Nota de desagravo
O PPS, herdeiro das mais dignas tradições do PCB, vem a público em defesa de todos os exilados brasileiros, obrigados a deixar o país durante a ditadura militar. Ao mesmo tempo, repudia as acusações feitas pela candidata do PT, Dilma Roussef, que os chamou a todos de fugitivos.

Ao tachá-los com tal adjetivo, Dilma nada mais fez do que se igualar ao general Leônidas Pires Gonçalves, que na ditadura, durante um bom período de tempo, ocupou o cargo de chefe do Estado Maior do Terceiro Exército, no Rio. Cabia a ele dirigir o DOI-CODI, o famigerado Destacamento de Operações e Informações do Centro de Defesa Interna.

Como a candidata do PT, o general Leônidas chamou de fugitivos aqueles que se exilaram. Ele disse isso durante entrevista ao jornalista Geneton Moraes Neto e exibido pela Globo News. Essa distorção infame do general contra os brasileiros que lutavam contra o regime ditatorial de 1964 e que tiveram que se exilar jamais poderia servir de mote para a insensatez de Dilma Roussef.

Não são poucos os desagravados. Entre eles podemos citar Leonel Brizola, Miguel Arraes, Luiz Carlos Prestes, Gregório Bezerra,Francisco Julião, Apolônio de Carvalho, Plínio de Arruda Sampaio, Almino Afonso, Gilberto Gil, Caetano, Fernando Henrique Cardoso, Betinho, José Serra a quase totalidade dos membros do Comitê Central do PCB na década de 70 que conseguiram salvar suas vidas ao partir para o exílio. Citamos alguns; são milhares!

Não bastou a declaração do Presidente Lula ao comparar o preso político Orlando Zapata Tamoyo, que morreu numa greve de fome em Cuba, com bandidos das nossas cadeias. Logo vem outra sandice, desta vez para macular a luta dos brasileiros exilados.

Nossa solidariedade com todos os que se exilaram e viveram dias amargos longe da pátria, sem poder voltar.

Principalmente com os que já se foram. Honra aos exilados brasileiros que fazem parte da nossa história de luta pelos direitos humanos e pela Liberdade.

Roberto Freire - Presidente Nacional do PPS
Brasília, 12 de abril de 2010.

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Serenata de Schubert - cantada por Nina Mouskouri

O que falta para sustentar o crescimento :: Yoshiaki Nakano

DEU NO VALOR ECONÔMICO

O estudo sobre desenvolvimento econômico teve importantes avanços após o fracasso do Consenso de Washington. Os mais interessantes são aqueles direcionados ao estudo de casos de sucesso - países com crescimento acelerado durante décadas - buscando encontrar empiricamente as características comuns que expliquem esses casos que, assim, poderão servir de benchmarking (veja, por exemplo, Andy Berg, Jonathan D. Ostry and Jeromin Zettelmeyer, "What Makes Growth Sustained ?" Washington: IMF, November 2006; Simon Johnson, Jonathan D. Ostry and Arvind Subramanian, "The Prospect for Sustained Growth in África": Benchmarking the Constraints, Washington: IMF Working Paper 52, March 2007; e o "Relatório da Comissão de Crescimento Desenvolvimento", formado por experts de 18 países e presidido pelo Nobel de Economia Michael Spence). Seria interessante analisar o atual surto de crescimento da economia brasileira utilizando esse benchmarking e verificar o que falta para o Brasil entrar numa trajetória de crescimento sustentado por décadas. É o que faremos neste artigo, selecionando dois aspectos que parecem relevantes no momento: reformas institucionais, por ser um ano eleitoral, e taxa de câmbio pelo déficit em transações correntes, que está aumentando fortemente pré-anunciando uma nova crise.

O relatório de Michael Spence aponta 13 casos de sucesso, de 7% ou mais de crescimento anual por pelo menos 25 anos, no período pós-Guerra, que podem nos servir de benchmarking. O Brasil está nesse grupo, mas esse relatório aponta que somos caso único e a parte, pois preenche o critério, mas que depois de quatro décadas de rápido crescimento, interrompeu esse processo a partir de 1980. Mais recentemente, a economia brasileira iniciou, no segundo semestre de 2003, um processo de recuperação que revelou, nos anos subsequentes, um novo dinamismo, com a expansão baseada num novo crescimento do mercado doméstico. Esse movimento de aceleração já foi interrompido por duas vezes: no terceiro trimestre de 2004, pela política monetária do Banco Central e no último trimestre de 2008, pela crise financeira nos Estados Unidos. O que os estudos citados encontram é que surtos de aceleração do crescimento são muito comuns e podem ser causados por uma infinidade de fatores domésticos e por choques externo. Mas os surtos de crescimento podem se converter ou não num processo de crescimento acelerado e sustentado por longo prazo, e aqui está a relevância desses estudos que revelam as características comuns dos casos de sucesso.

O primeiro aspecto relevante é que esses estudos enfatizam as boas instituições como fundamentais para o crescimento de longo prazo, mas constataram empiricamente que elas são mais resultado do que causa original. Em outras palavras, uma vez iniciado o surto de crescimento, por alguma razão específica ou mesmo acidental, todos os casos de sucesso mostram que, num período de cinco anos, iniciam importantes reformas removendo os entraves institucionais e desbloqueando as forças produtivas do país. Nesse particular, a nossa situação é preocupante, pois as instituições definem as regras do jogo, particularmente controlando os detentores de poder, protegendo os agentes econômicos contra expropriação do estado (carga tributária excessiva) e leis e práticas referentes ao cumprimento dos contratos entre partes privadas. Lei, ordem e burocracia eficiente também são fundamentais. As pesquisas empíricas no Brasil revelam que essas instituições são anêmicas, nas quais o povo não confia e ao invés de lei e ordem, o povo vive permanentemente sob pressão e medo. No que se refere a instituições que definem o ambiente de negócios e estimulam o investimento, a situação não é diferente, pesquisas tipo "doing business" revelam o altíssimo custo de fazer transações no Brasil.

Ainda há esperança, pois reformas das instituições não são pré-condição do crescimento, mas surtos de crescimento podem criar ambiente mais favorável para as reformas institucionais e aumentar fortemente a sua demanda. Os estudos mencionados mostram que se as reformas não forem iniciadas num prazo máximo de cinco anos, a transição para crescimento acelerado terá sido abortada. O que há de positivo no Brasil é que a demanda por reformas institucionais e de redução do custo Brasil, inclusive redução da carga tributária, vem aumentando fortemente, particularmente, pela classe empresarial. Nesse sentido, as eleições presidenciais deste ano serão decisivas, pois depois de dois períodos sem reformas institucionais, se o próximo presidente não iniciar o seu mandado fazendo as reformas institucionais, particularmente do estado, o atual surto de crescimento será efêmero.

Dos outros 12 casos de sucesso, 10 são classificados como modelos baseados nas exportações de manufaturados. De fato, a velha teoria do desenvolvimento já apontava que setor de manufaturados, além de empregos mais qualificados e elevada produtividade, geram externalidades, com retornos crescentes de escala e geração de encadeamentos dinâmicos na cadeia produtiva. Tem sido o setor que tem comandado a aceleração do crescimento, aumentando o seu valor agregado e participação no PIB, pelo menos até alcançar uma renda per capita de cerca de US$ 15 mil. O papel notável da exportação de manufaturados não significa que ela puxa toda a economia, mas a sua expansão e a sua diversificação são fundamentais para sustentar as crescentes importações necessárias para construir uma estrutura produtiva competitiva e dinâmica.

Nos casos de sucesso, o crescimento acelerado foi acompanhado de maior abertura comercial, com aumento na participação das exportações que viabiliza a transferência da fronteira tecnológica para dentro do país graças à importação de bens de capital e de novas tecnologias. E aqui a política chave é a cambial como mostram esses estudos. O crescimento acelerado e sustentado por longo período foi acompanhado de políticas que evitam a sobrevalorização da taxa de câmbio. E aqui a evidência empírica apresentada nos estudos mencionados é notável pois no grupo de países com crescimento sustentado não se verifica apreciação excessiva da taxa de câmbio, enquanto que nos países que assistem a surtos curtos de crescimento, mas não conseguem crescimento acelerado e sustentado por longo prazo, a apreciação excessiva tem incidência muito maior.

Yoshiaki Nakano, ex-secretário da Fazenda do governo Mário Covas (SP), professor e diretor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas - FGV/EESP, escreve mensalmente às terças-feiras.

Curto alívio:: Míriam Leitão

DEU EM O GLOBO

A bilionária oferta européia de socorro à Grécia põe fim a um dilema da Zona do Euro: se deveria ou não resgatar países encrencados por dificuldades fiscais.

Ontem, o euro subiu, e o custo da dívida grega diminuiu, mostrando que o mercado viu com bons olhos o fim do dilema. Mas os problemas ainda estão longe do fim, e o alívio é apenas de curto prazo. A médio e longo prazo, a dúvida grega continua.

É o que pensa, por exemplo, o economista Ilan Goldfajn, do Itaú Unibanco: O mercado olha para o futuro da Grécia, com uma dívida de 113% do PIB, um déficit de 12% e juros de 7%, e conclui que isso é explosivo.

Os juros caíram ligeiramente com a oferta do pacote de ajuda, mas a situação ainda é difícil.

A preocupação com a Grécia fez com que surgissem, pela primeira vez, dúvidas sobre o sistema monetário europeu. A Zona do Euro continua forte, mas apareceram incertezas sobre se é possível manter a mesma moeda para economias com pesos e situações fiscais tão diferentes.

No começo, todos os países passaram a pagar juros alemães. E foi uma festa.

A prestação, digamos, ficou mais baixa. Mas agora, quando entra a crise, os países descobrem que não têm uma ferramenta. Não podem desvalorizar a moeda para ajudar a resolver os problemas diz Ilan.

Ele registra ainda que o prêmio de risco da Grécia caiu ontem, mas o mercado continua achando o pacote de ajuda financeiro muito abstrato.

Mas há boas notícias em outras frentes da crise da economia mundial, que começou em 2008. Economias se recuperam, e isso vai gerando um circulo virtuoso.

Ontem, o Wall Street Journal noticiou que o custo para o contribuinte americano da ajuda aos bancos e empresas está encolhendo, com os pagamentos feitos pelos bancos e com a venda de ações que foram compradas pelo Tesouro.

Ilan acha, no entanto, que subsiste uma dúvida: Até que ponto essa recuperação da economia se deve aos estímulos econômicos e aos juros zero? Nada disso durará para sempre.

Todos sabiam que viria em algum momento uma crise fiscal. Ela veio mais rápido do que se esperava, e a Grécia é apenas o primeiro sinal.

A água que estava na altura do nariz, agora volta para o queixo diz o economistachefe da Austin Rating, Alex Agostini.

Depois do anúncio, os juros pagos pelos gregos caíram de 7,2% para 6,5%.

Queda forte para um único dia, mas que ainda os deixa acima da última captação, que teve juros de 5%. Parte da estratégia do pacote é justamente derrubar os juros, para que os gregos possam fazer novos empréstimos.

Seria uma forma de dividir a conta com o mercado. Ontem, os juros gregos atingiram a menor diferença dos últimos três meses em relação aos juros pagos pelos alemães.

A situação da Grécia não é simples: o país tem, em 2010, C 53 bilhões em dívida para rolar. Somente no mês de maio, são C 11 bilhões.

A dívida total é calculada, na melhor conta, em C 300 bilhões, cerca de 113% do PIB. A Zona do Euro colocou C 30 bilhões à disposição do país, e o FMI pode entrar com mais C 10 a 15 bilhões. Tudo isso, este ano. Ao todo, o pacote pode chegar a C 80 bi. Mas, nos próximos três anos, a Grécia tem C 150 bilhões em vencimentos para pagar.

Agostini acha que é muito difícil que a Zona do Euro e o FMI queiram financiar tudo isso: O problema não foi resolvido de forma definitiva.

O pacote só dará certo dentro de um contexto de recuperação afirmou.

A análise do banco Morgan Stanley é de que o risco de longo prazo continua intacto. Para piorar, o banco prevê que a economia grega sofrerá retração de 2,5% este ano: Enquanto os riscos de curto prazo diminuíram, os riscos de insolvência no longo prazo continuam firmes no mesmo lugar, disse o banco em relatório.

O economista-chefe do banco West LB, Roberto Padovani, acha que o problema grego deixou de ser a moratória e passou a ser o baixo crescimento. Ele aponta para o risco de uma espiral negativa no país, como houve na Argentina, em 2001.

O governo cortará gastos para diminuir o déficit público, só que isso pode também desacelerar a economia e diminuir a arrecadação.

Aí o governo cortará mais gastos, a economia voltará a desacelerar, e a arrecadação também.

Nesse contexto, haveria fuga de investidores. Por isso, a recuperação global é importante explica.

Álvaro Bandeira, da Ágora Corretora, acredita que o pacote diminui o ataque especulativo ao euro. Ontem, o euro se valorizou 1,4% em relação ao dólar, cotado a US$ 1,3691, a maior cotação das últimas três semanas, mas depois de ter caído 14% em quatro meses.

O mercado ainda olha com certa prudência. Outros países, como Espanha, Portugal, Irlanda e Itália, também devem precisar de ajuda. Outro ponto de dúvida é como a Itália, que está com problemas, participará do socorro à Grécia.

De uma maneira geral, todos os países estão com problemas fiscais disse.

O pacote grego é um alívio de curto prazo, mas a crise que começou em 2008 ainda continua produzindo seus desdobramentos.

Sinais de indigestão:: Vinicius Torres Freire

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Afora o previsível BC, restante dos economistas de Lula passa a achar que economia já está crescendo demais

A ECONOMIA está quente demais. Não apenas na opinião dos suspeitos de sempre, como o Banco Central e a finança privada. O restante do governo Lula que também se ocupa de economia está preocupado com os aumentos devidos à animação excessiva da economia.

Não se trata mais só de "evitar que o BC aumente demais os juros". O governo está algo surpreendido com a velocidade da recuperação. Pensa agora como pode ajudar a conter a escalada de alguns preços.

A estimativa oficial para o aumento do PIB deste ano é ainda de 5,5%. Mas, afora imprevistos fortes, o governo acha que a economia já vai para 6%. Ainda está menos otimista que dois bancões.

Os economistas do Itaú Unibanco revisaram na sexta-feira passada sua projeção de crescimento para 2010 de 6% para 6,5%; a inflação ficaria em torno de 5,3% (o IPCA).

Um pouco antes, o pessoal do Bradesco revisara sua projeção de alta do PIB para 6,4%, com inflação em torno de 5,5%. Na média do mercado ouvida pelo BC, o PIB sobe 5,6%, e o IPCA, 5,3%.

Os economistas do Bradesco esperam três altas de 0,75 ponto percentual para a taxa de juros, que iria assim de 8,75% para 11%. Os do Itaú Unibanco acreditam em quatro aumentos de 0,75, com a Selic indo a 11,75%. Ainda pedem mais altas de juros no primeiro trimestre de 2011.

O preço de matérias-primas industriais (metais) sobe no mundo inteiro, reajustes que vão desaguar aqui. Para o bem e para o mal, o preço dos produtos de exportação brasileiros está subindo, agora até um pouco mais que os dos importados.

O preço dos alimentos continua a subir, mesmo após a temporada climática ruim. Indústrias famintas com o faturamento magro de 2009 estão conseguindo reajustes, dados o aumento contínuo da renda e a melhora do crédito para pessoas físicas.

O governo está preocupado com esses três vetores de inflação. Pensa até em facilitar a importação de alguns insumos industriais. Como de costume, a parte dos economistas do governo que não está no Banco Central gostaria de ver o BC tomar medidas "alternativas" para reduzir o crescimento do crédito. Ou seja, exigir que os bancos deixem mais dinheiro parado no BC -aumentar o compulsório.

Em tese, o BC não acha que congelar mais dinheiro dos bancos seja o modo de conter o crédito. Porém, o BC sabe que algum efeito o aumento do compulsório tem, efeito muito mal estudado.

No que diz respeito ao corte do gasto público, outro modo de conter consumo e crescimento excessivos, o governo tem pouco tempo e pouco raio de ação para este ano. Teria de talhar na carne eleitoral, como parar obras e medidas ineficientes dessa espécie, pois contratou muita despesa inadiável. E ainda pode ter de arcar com mais reajustes do INSS.

Atitudes outras são ainda mais exóticas e com cheiro de mofo, como limitar prazos de financiamento (encurtar crediários) e elevar impostos financeiros. De resto, são medidas que vão na veia do eleitor. Gente do governo ressalta que tais coisas nem estão em cogitação.

Já não tem muito jeito. Haverá paulada nos juros. E, mesmo assim, o efeito disso só vai ser sentido na veia depois da eleição.

Inconsistências:: Celso Ming

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Um festival de inconsistências e de falsas soluções vem sendo detonado no governo e fora dele com o objetivo aparente de impedir que o Banco Central puxe os juros básicos (Selic) na sua reunião de 28 de abril.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, por exemplo, anunciou sexta-feira que está disposto a reduzir as alíquotas do Imposto sobre Importação (tarifas alfandegárias) para derrubar os preços finais do produto importado e, assim, aumentar a concorrência interna, de modo a conter a disparada da inflação e evitar a alta dos juros.

Os dirigentes da Fiesp, que não devem ter gostado dessa ideia, argumentam agora que o ritmo dos investimentos conseguirá garantir a normalização da oferta e, assim, dispensar o ajuste dos juros. No entanto, não conseguem ver que boa parte das pressões inflacionárias está concentrada nos serviços, que não se aliviam com investimentos em máquinas e ampliação de fábricas.

O ministro entende, corretamente, que o produto brasileiro está perdendo competitividade e que, por isso, é preciso tomar medidas para neutralizar esse efeito, que prejudica as exportações e estica o déficit em conta corrente. Mas ele próprio é um dos obstáculos a que o governo baixe um pacote de estímulo às exportações porque sabe, também corretamente, que o Tesouro está sendo bastante pressionado e que, nessas condições, não pode ser ainda mais sangrado. Mas, quando avisa que pode amolecer as tarifas alfandegárias, tende a aumentar a perda de competitividade do exportador brasileiro.

Quando insiste em que esta é a "inflação do tomatinho", Mantega está tentando dizer que o principal componente do atual strike inflacionário são fatores sazonais, como o excesso de chuvas em fevereiro e março, que derrubaram a produção e elevaram os preços dos alimentos.

Por trás desse diagnóstico está a conclusão de que, uma vez chegada a meia-estação, os preços do tomate voltarão ao normal e, com ele, a inflação recuará. Mas, se insiste em que é preciso derrubar as tarifas alfandegárias, Mantega reconhece que o principal componente da inflação não é sazonal, mas sim a forte demanda que precisa ser atendida com mais oferta.

É que nenhum piloto de política econômica reduz Imposto de Importação para combater "inflação do tomatinho". Nem o ministro da Fazenda de 1983, Delfim Netto, reduziu as tarifas aduaneiras para combater o que identificou então como a "inflação do feijão-preto", nem antes dele, em 1977, o então ministro da Fazenda, Mário Henrique Simonsen, fez o mesmo para combater a "inflação do chuchu".

De todo modo, a área fiscal, que Mantega comanda, pode fazer muito mais para evitar a alta da Selic e até mesmo para forçar sua baixa, desde que também faça o diagnóstico correto. Há, sim, forte componente de demanda na inflação atual.

Todos sabemos que o principal fator que pesa hoje na inflação é a disparada do consumo, que, por sua vez, tem a ver com o excesso de despesas correntes do governo, que saltaram 17% neste ano. Quando ameaça baixar as tarifas aduaneiras, Mantega está admitindo o fator demanda. E, se der um jeito de sentar-se sobre o cofre de maneira a que o governo deixe de fazer as extravagâncias que faz, certamente estaria colaborando mais com a redução da escalada dos preços do que estaria com a redução do Imposto de Importações.

Confira

Crime sem castigo

Está fechado: a Grécia receberá pelo menos - 30 bilhões em empréstimos dos membros da União Monetária Europeia, a juros de 5% ao ano. Fica estabelecido o precedente que qualquer país da área pode fazer todo o tipo de lambança fiscal. Se tudo der errado, terá o socorro que merece, a juros de apenas 5% ao ano. Falta saber quando será a vez de Portugal, Espanha, Itália, Irlanda e quem mais entrar nessa fila.

O curso do Titanic

Artigo publicado ontem no New York Times, assinado por Frank Rich, comenta afirmação feita no Congresso americano por Alan Greenspan, ex-presidente do Fed (o banco central dos Estados Unidos). Ao ser questionado por não ter previsto e por nada ter feito no Fed para conter a crise, Greenspan se justificou assim: "Eu estava correto 70% do tempo e errado em 30% do tempo." O comentário de Frank Rich foi o seguinte: "Se seguisse o modelo Greenspan, o capitão do Titanic poderia ter alegado que o curso do seu navio estava correto 70% do tempo."