quarta-feira, 3 de março de 2010

Reflexão do dia – Tancredo Neves

Minha formação democrática, alicerçada numa vida pública em que nunca faltaram o apoio do povo, o voto direto dos meus concidadãos e a confiança das lideranças políticas e sociais, não foi e jamais será marcada por revanchismos e represálias. Estes são os métodos próprios de governos e governantes temerosos de suas injustiças e de seus excessos de poder.

A agressividade e o radicalismo não passam de formas de pânico, individuais ou coletivas, situações-limite que, por isso mesmo, não podiam durar e muito menos, ser permanentes
.”


(Tancredo Neves, no discurso da vitória, revista VEJA, 21 de novembro de 1984)

Tancredo aos 100 anos:: Alon Feuerwerker

DEU NO CORREIO BRAZILIENSE

Alguns lutam desesperadamente para escrever a própria biografia em vida, tentando determinar de modo imperial o julgamento da História. É inútil. Já Tancredo Neves está confortável. O tempo passa e a imagem construída por ele vai bem

O centenário do nascimento de Tancredo Neves deverá ser prestigiado pelos diversos personagens e grupos envolvidos na atual luta pelo poder. É do jogo. A ideia é fazer uma homenagem ao líder político. Muito justo, mesmo se servir à autopromoção de quem nada teve a ver com a trajetória dele. Também é do jogo. A História é uma só, mas costuma ser reinterpretada conforme o sentido do vento, o interesse imediato ou a resultante vetorial dos litigantes.

Tancredo viveu e morreu colado nos principais episódios da nossa política no século 20. Até aí, nada. Seria apenas a fortuna ajudando o político sagaz. O mais notável na trajetória dele é outro detalhe: em todas essas ocasiões, sem exceção, ele estava do lado certo, do lado no qual deveria estar para ajudar o país a sair melhor da confusão.

Com Getúlio Vargas em 1954. Contra a radicalização política e o golpismo antes de março de 1964. Contra a ditadura, depois, no MDB. A favor da abertura política nos anos 1970. Pela reaglutinação no PMDB quando o regime impôs o voto vinculado em 1982 para tentar garantir maioria no colégio eleitoral que escolheria o sucessor de João Figueiredo. A favor de usar o Colégio Eleitoral para fazer pacificamente a transição democrática na sucessão do último presidente militar, depois do insucesso formal das diretas já.

No Brasil, as circunstâncias levaram a palavra “conservador” a adquirir conotação pejorativa. Pena. Pois talvez falte entre nós hoje alguém como Tancredo, que a cada passagem crítica da sua longa militância agiu sempre de modo a ajudar na conservação da democracia, mesmo quando isso implicava o risco de ver amputada a carreira política.

Seria devaneio idealista e ilusão acreditar que em 1985 a simples presença de alguém como ele no comando do país, saído do autoritarismo, teria tido o poder de legar um ambiente menos conflagrado às futuras gerações políticas.

Mas, se o indivíduo tem seu papel nos acontecimentos, é razoável creditar à morte precoce do presidente eleito e não empossado a desagregação acelerada de um núcleo democrático e nacionalista, que fez do MDB talvez o mais importante partido do nosso portfólio, por representar a possibilidade de um projeto nacional e progressista com a mais ampla base social. Na herança do campo PSD-PTB.

Em meados dos anos 1980 já estavam presentes as forças centrífugas hoje hegemônicas, mas a tarefa pós-udenista delas foi facilitada pelos limites óbvios de um presidente da República com a legitimidade sob pressão, um José Sarney recém-imigrado do outro campo.

Como teria sido um governo Tancredo Neves? Ninguém pode garantir, mas é razoável supor que seria pelo menos tão democrático quanto foi o de Sarney, e com mais condições de influir na Constituinte. E talvez o nó fiscal não tivesse se arrastado por mais uma década e meia, enterrando sucessivas administrações até Luiz Inácio Lula da Silva finalmente agarrar o touro a unha em 2003, depois de um ensaio tardio esboçado por Fernando Henrique Cardoso na vigésima quinta hora do Real.

O mais são conjecturas, e cada um é livre para fazê-las. Eu fico com os fatos. Um fato: Tancredo foi do tipo de político cuja alma nunca está à venda. Outro fato: ele era um assim chamado conciliador, mas nunca transigiu nos princípios democráticos. Outro fato: nunca se soube que fosse adepto do culto à personalidade.

Alguns lutam desesperadamente para escrever a própria biografia em vida, tentando determinar de modo imperial o julgamento da História. É esforço inútil, quixotesco. Batem-se contra moinhos de vento. Para o candidato a protagonista (êta profissãozinha de risco), mais seguro é agir de olho no juízo pós-morte, quando seu poder já não mais terá como intimidar os magistrados.

Nesse particular Tancredo Neves está confortável. O tempo passa e a imagem construída por ele vai bem.

Nervos de aço:: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

O pior cenário para o PSDB na sucessão presidencial ainda não aconteceu: no período entre maio e junho serão apresentados os programas de televisão de propaganda eleitoral da maioria dos partidos da base aliada, o que previsivelmente dará uma turbinada na candidatura oficial.

Nesse período crítico, que antecede as convenções partidárias, as pesquisas devem mostrar outra subida forte da já então exministra Dilma Rousseff, abalando a autoconfiança dos tucanos na possibilidade de vencer a eleição e, pior quer tudo, dificultando a ampliação das alianças partidárias.

Os programas do PSDB e de seus aliados DEM e PPS serão os últimos a serem transmitidos, próximo das convenções partidárias no fim de junho, em meio à Copa do Mundo.

Esse “timing” permitirá que o PT e seus aliados façam propaganda maciça, chegando às convenções animados com os resultados das pesquisas.

Tucanos temem que se repita o fenômeno que está acontecendo agora, com a divulgação do Datafolha apurado em cima do programa eleitoral do PSB com deputado Ciro Gomes ainda candidato; o programa do PV com a senadora Marina Silva, e o lançamento da candidatura oficial da ministra Dilma Rousseff pelo PT.

O único que não teve mídia nacional de dezembro a fevereiro foi o potencial candidato do PSDB, o governador de São Paulo, José Serra.

Ou melhor, teve, mas negativa por causa das chuvas torrenciais que inundaram São Paulo.

Ao mesmo tempo em que as chuvas afetaram a intenção de votos em Serra, que perdeu pontos preciosos na Região Sudeste, o seu forte, ele estaria aliviado por não ter cedido às pressões para sair do governo antes.

Poderia ser acusado de abandonar o estado por uma ambição política, enquanto no momento, mesmo com o prestígio talvez afetado, ele demonstra estar focado na tarefa de governar, passando a ideia de que se dedica à sua prioridade até o último dia que a lei permite.

Essa sempre foi, aliás, sua intenção ao retardar ao máximo a saída do governo: demonstrar que se dedicou até o último dia ao estado, esperando levar para a disputa presidencial a possibilidade de sair à frente de sua adversária com pelo menos seis milhões de votos.

Assim como em Minas o governador Aécio Neves representa o desejo do estado de voltar ao comando do país, em São Paulo o governador Serra representa a melhor aposta para que os paulistas continuem no poder central.

A tarefa do PSDB de São Paulo, na qual estão todos empenhados, é conseguir ampliar a votação do candidato do partido à Presidência da República, que há quatro eleições vence no estado com uma diferença entre 3,8 e 5,1 milhões de votos.

O secretário de Relações Institucionais de São Paulo, José Henrique Reis Lobo, que ontem deixou o governo, vai coordenar a interação entre as duas campanhas, a nacional e a estadual, que deverá ter o ex-governador Geraldo Alckmin como o candidato tucano.

Esse movimento é apenas a confirmação indireta do que já estava explícito: o governador José Serra não pensa em desistir da candidatura, embora continue muito preocupado com falhas que vê na organização da campanha.

A começar pela falta de unidade do partido até o momento, que seria fundamental para compensar as vantagens que a candidata oficial vem exibindo.

Seja a unidade partidária em uma ampla base aliada, seja o apoio explícito do presidente Lula, que não é reprimido até o momento pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Quando os dois deixarem os respectivos cargos, entre final de março e dia 3 de abril, estarão teoricamente em igualdade de condições, mas o presidente Lula continuará atuando fortemente.

Veremos então uma disputa judicial intensa para definir os limites do apoio do presidente. A interpretação da legislação eleitoral é muito sutil.

Há especialistas, por exemplo, que dizem que o presidente Lula poderá aparecer nos programas de propaganda eleitoral de Dilma, mas não poderá dizer que seus projetos sociais continuarão no governo dela.

Nem mesmo que ela dará continuidade ao seu governo, porque estaria colocando o cargo de presidente da República a serviço de uma candidatura, criando uma situação de desigualdade.

Que já está caracterizada, aliás, nas aparições de Lula ao lado de sua candidata oficial e das diversas entrevistas e declarações do presidente a propósito da sucessão presidencial, sempre apontando Dilma como sua escolhida para dar continuidade ao seu governo.

O que a lei eleitoral pune é o abuso do poder político e econômico. Há quem considere que Lula pode até mesmo subir nos palanques de Dilma, mas terá que fazê-lo fora do horário de expediente normal e talvez só mesmo nos fins de semana.

E não poderá fazer discursos.

Mas poderá levantar o braço de Dilma dizendo que ela é sua candidata.

Por sua vez, a candidata Dilma Rousseff não poderá comparecer às inaugurações de obras do governo, como vem fazendo até agora sob o pretexto de que está supervisionando as obras do PAC.

Ontem, o PSDB no Senado deu um primeiro passo no sentido de criar fatos políticos favoráveis, aprovando o estímulo aos alunos com boas notas inscritos no Bolsa Família.

De uma vez só, aproximou o Bolsa Família do Bolsa Educação, sua origem no governo Fernando Henrique, e aprimorou o sistema.

Mas não basta ao PSDB acer tar seu passo. Tem também que esperar que alguma coisa dê errado na estratégia do adversário.

Todos esses obstáculos dificultam a campanha oposicionista, e mais do que nunca José Serra terá que ter “nervos de aço” para atravessar os períodos de maior turbulência.

Armadilha da apoteose:: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

A história sobre a possibilidade da formação de uma chapa presidencial reunindo os governadores de São Paulo e Minas Gerais tem mais ou menos a idade da candidatura de Dilma Rousseff.

Em fevereiro de 2008, o presidente Luiz Inácio da Silva anunciou ao Brasil que Dilma seria a "mãe do PAC", lançando o primeiro esboço de slogan de campanha da ministra escolhida para representá-lo na primeira eleição na qual não é candidato, desde a redemocratização.

Um pouco antes, no fim de 2007, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso começava a conversar sobre a chapa José Serra-Aécio Neves com interlocutores que poderiam levar o assunto adiante na imprensa em feitio de especulação ainda incipiente.

Na época, a ala política da equipe de Aécio Neves em Minas via a ideia com grande simpatia. Em Belo Horizonte, mais exatamente no Palácio da Liberdade, falava-se do assunto como a solução ideal.

O governador tergiversava, mas não rejeitava peremptoriamente o plano. Dizia apenas que era cedo para discutir o tema e que a formação da chapa com dois candidatos do PSDB poderia denotar arrogância do partido, que estaria, assim, dispensando de antemão parceiros de outras legendas.

Um parêntese: tese que o governador de Minas parece ter abandonado quando recentemente citou o nome do senador Tasso Jereissati para compor a chapa.

Nesses pouco mais de dois anos a história foi tratada na base das idas e das vindas, de um jogo de luz e sombra, mas nunca arquivada. Nem quando o governador de Minas passou a negar a hipótese com mais veemência e seus aliados a tratá-la quase como uma ofensa.

Por essas e algumas outras é que a conversa da chapa Serra-Aécio continua em pauta. É de se perguntar por que o partido e seus políticos sustentariam esse suspense durante tanto tempo se a solução, no final, pudesse ser outra que não a cogitada há mais de dois anos, esperada por toda a oposição e temida pelo adversário?

Seria pelo gosto ao exercício da dúvida? Bom para intelectuais, mas no campo político gera incerteza e para o eleitor recende a dubiedade, fragilidade e confusão.

Seria uma maneira de não entregar o jogo ao inimigo antes do início da partida?

Ou estariam os tucanos perdidos, divididos e prisioneiros de idiossincrasias internas?

Nesta última hipótese, não sustentam uma campanha vitoriosa. Nas outras duas, fica a dúvida sobre a eficácia da estratégia.

O partido criou, alimentou e promoveu a expectativa da formação de uma chapa tida como imbatível.

Agora fica prisioneiro de uma solução apoteótica, sob pena de patrocinar um anticlímax logo no início da campanha.

Talvez o PSDB tenha outra carta bem escondida para jogar ou pode ser que esteja tudo acertado nas internas entre os dois governadores. Caso contrário, os tucanos iniciarão sua trajetória com uma sensação de fiasco no ar, deixando a impressão de que não conseguem materializar uma aposta tão antiga. Da idade da candidatura Dilma.

Só pressão

Nem o PMDB nem o PT acreditam na ameaça feita pelo presidente Lula de se ausentar dos Estados em que houver divisão dos aliados, o chamado palanque duplo para a candidata Dilma Rousseff.

A intenção do presidente foi pressionar os parceiros a entrar num entendimento. Ocorre que ambos sabem perfeitamente bem que Lula não pode se dar ao luxo de desprezar contato com o eleitorado nem de escolher aonde vai ou não vai defender sua candidata.

Precisa ocupar todos os espaços possíveis se não quiser prestar um grande serviço à oposição.

Lé com crê

O deputado Ciro Gomes reafirmou em entrevista à revista Isto É que na opinião dele o governador José Serra não será candidato a presidente, deixando para o governador Aécio Neves a vaga.

Ao mesmo tempo, Ciro continuou confirmando sua candidatura presidencial.

De duas, uma: ou tem informação privilegiada ou não disse a verdade quando garantiu que sairia do páreo se o escolhido do PSDB fosse Aécio.

Pé ante pé

Cuidadoso, o ex-governador do Acre Jorge Viana fez a defesa da retomada pelo PT da bandeira da ética na política, em artigo no jornal O Globo de domingo.

O texto tem oito parágrafos. Nos seis primeiros, Viana justifica-se exaltando os feitos do partido no governo. No sétimo, toca no assunto: "É indispensável pontuar a política de alianças para a sucessão presidencial com a preparação de candidaturas éticas à Câmara e ao Senado."

No oitavo, propõe a reposição da questão ética "no mesmo lugar de destaque que ocupou há 30 anos, na fundação do Partido dos Trabalhadores".

Naquele tempo o tema era premissa básica nos arrazoados dos petistas, que hoje tratam do assunto quase como quem pede desculpas pela abordagem.

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Duas cartas altas ainda fora do jogo:: Rosângela Bittar

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Por mais que seja natural a euforia no quartel general da campanha da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, ainda sediado na Presidência da República, políticos mais experientes de partidos da base do governo estão alertando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a evidência de que duas cartas importantes na definição do quadro eleitoral da sucessão ainda estão fora do jogo. São elas Aécio Neves e Ciro Gomes.

O pior para os interessados em cada um desses nomes é que não precisam definir seus projetos agora, não precisam dizer se vão se candidatar a isto ou aquilo, podem manter sob tensão seus aliados, deixar as chapas incompletas e aguardar melhor hora e maior clareza para anunciar o que farão.

A pesquisa Datafolha divulgada no domingo, que na avaliação do governo comprovou todas as teorias discutidas nos últimos três meses entre os partidos da aliança, serviu para o presidente Lula apontar aos aliados o que considera acerto de sua estratégia - a polarização com o PSDB, o crescimento da candidata do PT à medida em que vai se tornando conhecida, a redução do peso do PMDB na coligação e, principalmente, a demonstração ao candidato Ciro Gomes de que seu nome não tem lugar na disputa presidencial, devendo portanto ir para a briga pelo governo de São Paulo.

Mas esta é uma avaliação interna, íntima do grupo de auxiliares de Lula. Ciro ainda não jogou a toalha, resiste a abandonar a campanha presidencial, vai conversar com o presidente em meados deste mês mas talvez só anuncie decisão, se anunciar, lá por abril.

Ele quer esperar a definição e anúncio da candidatura de José Serra. Se Serra for candidato a presidente, há chances de Ciro disputar São Paulo para fazer o palanque destinado a sangrar o PSDB, como deseja Lula, e dar lastro para Dilma. Se Serra ficar para a reeleição, Ciro, segundo seus mais próximos amigos, permanecerá no jogo federal. E aqui as opiniões se dividem. Há até os que acham que Ciro é um dos poucos que ainda creem na desistência de Serra da campanha à sucessão de Lula. Na conjectura em vigor hoje, Serra daria lugar para Aécio e, deste, Ciro seria até vice. Aécio sairia então candidato a presidente, depois de ter se retirado da disputa, com apoio do PSB, do PP, do PTB, e até do PMDB. Não faz sentido e não há sinais concretos de que isto possa se transformar em algo provável, mas são hipóteses dos aliados de Ciro para demonstrar como ele está longe de uma definição.

A carta-Ciro, portanto, ainda não está no jogo e, de fora, cria problemas para a candidata do PT. Por exemplo: um candidato precisa encontrar defeitos no outro até para ressaltar as qualidades que pensa possuir. E Ciro tem citado as deficiências não só de Dilma Rousseff mas, até mesmo, do maestro de todos do seu grupo, o presidente.

Está fora do jogo, também, a carta Aécio. Se o governador de Minas optar pela candidatura a vice-presidente, o cenário eleitoral ficará mais favorável à oposição, mas se limitar-se à campanha regional provocará alterações profundas nas expectativas do seu partido.

O PSDB gostaria muito que Aécio se definisse logo, mas o governador de Minas, agora, não tem a premência que via na definição do quadro sucessório no ano passado. Aécio viajou no Carnaval, saiu de cena, todos correram a contactá-lo, pedindo definições que ele exigia há meses de todos. Não há o menor sinal de pressa. Para declarar-se candidato a vice-presidente ou senador, Aécio pode esperar até junho.

O PT gostaria que Ciro Gomes optasse logo pela candidatura ao governo de São Paulo para "tirar esse pesadelo do caminho da Dilma", como definiu um aliado, e liberar os candidatos petistas que ficaram amarrados a esta definição. Mas ele tem tempo.

Sua candidatura ao governo de São Paulo foi meticulosamente armada pelos partidos aliados em conjunto com o presidente Lula, e é tensa a torcida pelo seu desenlace da candidatura presidencial.

De acordo com o raciocínio que determinou a estratégia até aqui executada, e nasceu da discussão do PSB e PCdo B, eleição no Brasil não se define com muita antecedência, a correlação de forças vai se formando ao longo dos meses.

A análise apontou-lhes que as forças que representam (chamadas progressistas, o que nem sempre são, ou de centro-esquerda) têm uma base social, empresarial, intelectual, mas seus adversários, (que chamam de conservadores), são também ainda muito fortes.

Quando Ciro apresentou sua candidatura a presidente, esses partidos, inclusive o seu, que gostaria desde o início ter acompanhado Lula e apoiado Dilma, resolveram incorporá-la como mais uma candidatura governista, sendo Dilma de um "campo", Ciro do outro. E promover mais à frente uma unidade. Procurou-se, então, uma alternativa, uma saída para Ciro se o tempo fosse armando a unidade em torno de Dilma e não dele, como gostaria. Surgiu a idéia de incentivar a transferência do domicílio eleitoral de Ciro para São Paulo, de forma que ele tivesse uma alternativa quando a aliança se firmasse em torno de Dilma. Foi o deputado Henrique Fontana, líder do PT à época, quem levou a proposta ao presidente Lula, que a encampou imediatamente.

Ciro tendo uma válvula de escape, acreditava-se à época, haveria a distensão das relações desses partidos da aliança com o PT, com a possibilidade, acreditavam, de tornarem-se preferenciais na aliança em detrimento do PMDB.

No meio do caminho encontrou-se a resistência do PT paulista, agora considerada superada. Ciro não tem mais receio de Marta Suplicy ou Aloizio Mercadante, mas não define seu rumo enquanto José Serra não anunciar o que vai fazer. Os partidos aliados a Lula estão tão no ar quanto estavam antes da reunião que fizeram semana passada em Brasília com o candidato e da pesquisa Datafolha que apontou estacionada a candidatura presidencial de Ciro.

Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras

Dilma nada de braçada nas águas de março::José Nêumanne

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

A pesquisa divulgada pelo Datafolha domingo, constatando perda de cinco pontos porcentuais pelo candidato da oposição, o favorito governador José Serra (PSDB), e alta idêntica dos índices de preferência eleitoral da chefe da Casa Civil do governo Lula, Dilma Rousseff (PT), candidata governista, não surpreende ninguém. O jargão mais repetido sobre eleições reza que consultas à opinião pública são só retratos de um momento. Este é o flagrante de um verão no qual o presidente Luiz Inácio Lula da Silva passeou ao lado da candidata pelo País afora, ao arrepio da Justiça Eleitoral, gerida por um punhado de Pôncios Pilatos contemporâneos. E a oposição resistiu a apresentar ao eleitorado quem em seu nome se habilitaria à disputa. E não o fez por apreço à lei e à ordem, mas por solene desprezo pela realidade dos fatos. Dilma ganhou terreno por estar na disputa. Sem poder sair do governo nem ter um vice para chamar de seu, pois o partido não o definiu, Serra não entrou na liça.

Que culpa têm Lula e Dilma se a legislação eleitoral é casuística e vaga e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não toma as atitudes que tinha de tomar? As leis foram feitas por parlamentares a favor do governo e contra e o páreo está sendo corrido há um tempão. O glorioso PSDB não entrou ainda na arena só porque não quis. Ou porque não pode. O presidente nacional do maior partido de oposição do País, o atrapalhado senador Sérgio Guerra, diagnosticou que Dilma cresceu porque corre sozinha. Bidu! Entre as inúmeras tolices que andou dizendo pelo País afora, em prejuízo apenas de seu candidato, o insigne varão pernambucano proferiu esse acerto. Só que omitiu que Dilma só é candidata única porque o tucanato emplumado tem candidato, mas não consegue sair do armário. Culpa de Dilma, culpa de Lula?

Até os gansos do lago do Itamaraty sabem que Lula é um gênio nas manhas e artimanhas políticas e goza de um momento de popularidade espetacular. Se não perceberam isso, os oposicionistas incautos já deveriam ter consultado otorrinolaringologista e oftalmologista há muito tempo. Pensar que esse prestígio não será transferido para a candidata que ele indicar é esperar que o sol do sertão derreta a trilha do trenó de Papai Noel no próximo Natal.

A candidata do governo e do PT é inábil, bruta e jejuna em disputas eleitorais, além de padecer de uma doença grave. Na aparência, é um poste pesado demais para a musculatura do filho de dona Lindu. Na prática, sua consistente subida nas pesquisas desmente tais ilações. Mas talvez seja exagerado atribuir o sorriso que ela exibe no retrato das pesquisas apenas às virtudes do patrono. Convém prestar atenção nas lambanças dos adversários.

O cego Tirésias, que avisou a Júlio César sobre as desgraças que o atingiriam nos idos de março, não deve frequentar os sonhos dourados de Aécio Neves. Os nobres conceitos que ouviu do avô, Tancredo, cujo centenário é agora celebrado, não convenceram o governador de Minas de que há momentos na política em que até por esperteza os homens públicos devem recuar de suas ambições para lutar pelos interesses de seus eleitores. Ao recusar a vice-presidência na chapa do governador paulista, depois de preterido pelo partido, o moço mineiro dá até a impressão de que prefere perder para Dilma, apostando num mau governo dela para ele próprio aparecer como solução em 2014, a ficar preso à mera expectativa de oito anos à sombra do correligionário turrão. Do ponto de vista pragmático, a opção parece esperta. Mas, se se faz suspeito de um comportamento desse jaez, não entendeu o alerta do avô raposão segundo o qual a esperteza é um bicho perigoso, pois, se crescer demais, termina por devorar o dono.

Todos sabem que uma chapa Serra-Aécio sairia com uma diferença dos dois maiores colégios eleitorais do País - São Paulo e Minas Gerais - difícil de ser superada até por um matreiro do agreste como Lula. Mas essa hipótese hoje não parece plausível. Que culpa Lula e Dilma têm se os adversários não cedem sequer um milímetro em seus projetos pessoais?

Tirésias também teria dificuldades para convencer o prefeito Gilberto Kassab a parar de prejudicar seu padroeiro com aumento escorchante de IPTU, suspensão de merenda para crianças pobres e fechamento de albergues para os 13 mil sem teto que dormem nas calçadas da capital. Figura de proa do DEM, maior mico eleitoral do País desde que o ex-filiado José Roberto Arruda se mudou do palácio do governo do Distrito Federal para a prisão, o prefeito paulistano age como se estivesse disposto a salvar do afogamento as próprias fichas à custa do cacife do governador. Se São Pedro não tem sido amigo de São Paulo, afundando os idos de março nas águas do verão, Sua Excelência não lhes favorece o escoamento.

Vão tem sido ainda o esforço dos Tirésias de plantão para retirarem com açúcar e com afeto o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso do embate direto contra seu sucessor petista, que só sonha com isso, pois é o melhor meio de facilitar a transferência de seu prestígio em votos para a candidata. Como se dispusesse, em início de ano eleitoral, a provar que a vaidade pessoal supera seus méritos acadêmicos, o príncipe dos sociólogos adotou o papel de Brancaleone da descriminação das drogas, como se levar à prática uma conjectura do mexicano Octavio Paz fosse hoje mais importante para o Brasil que a escolha de quem subirá a rampa do poder.

Vítima das dificuldades de Serra de exigir cartas no jogo em que Dilma as tem dado faz tempo, a candidatura tucana é esquartejada pela malícia oportunista de Aécio; triturada no lugar do lixo que divide as calçadas com os mendigos na cidade de Kassab; e pisoteada pela súbita vocação de psiquiatra, policial e assistente social de FHC, cuja visão fatigada não o deixa perceber com clareza o mal que as drogas fazem à sociedade e à candidatura de seu partido.

José Nêumanne, jornalista e escritor, é editorialista do Jornal da Tarde

Manifesto Serra/Aécio: Confira repercussão na mídia

DEU NO PORTAL DO PPS

Confira abaixo repercussão na mídia sobre a decisão do PPS de apoiar e se engajar oficialmente no movimento em torno do Manifesto que defende uma chapa à Presidência da República formada pelos governadores de São Paulo, José Serra, e de Minas Gerais, Aécio Neves.

Brasília-DF :: Luiz Carlos Azedo

DEU NO CORREIO BRAZILIENSE

Era inevitável. Começou o ataque especulativo à candidatura do governador de São Paulo, José Serra (PSDB), à Presidência da República. Assediado nas pesquisas de opinião pela candidata governista, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), o tucano agora enfrenta as especulações de que não teria pegada para derrotar a ampla coalizão formada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em torno da petista. E que uma nova pesquisa, caso Dilma ultrapasse Serra nas intenções de voto, poderia levá-lo a jogar a toalha e optar por concorrer à reeleição ao Palácio dos Bandeirantes.

Uma velha raposa do Democratas revelou à coluna, ontem, que a maioria da cúpula da legenda deriva em direção à outra candidatura. Quereria resgatar a candidatura do governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), convencida de que a teimosia com que Serra adia a oficialização de sua candidatura é puro cálculo político para desistir da disputa. Tal decisão poderia ocorrer nos próximos 15 dias, diante do fato de que a situação eleitoral na Região Sudeste está se modificando irreversivelmente em favor de Dilma, principalmente no Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais. Serra teria plena consciência de que enfrenta um quadro cada vez mais desfavorável, além de ver reduzida sua vantagem em São Paulo.

Por essa razão, a cúpula da legenda já sinalizou para Aécio Neves — que se recusa a aceitar ser vice de Serra — que o considera um candidato com mais perspectivas, pois arrastaria a maioria dos votos do Sudeste, com uma vantagem avassaladora em Minas, muito maior que a de Serra em São Paulo. Além disso, atrairia novos aliados para a coalizão oposicionista. --> --> --> -->

Pressão

Porta-voz de Serra na bancada tucana da Câmara, o deputado Jutahy Magalhães (BA) perdeu a fleuma e resolveu engrossar o coro dos que pressionam Serra para assumir formalmente a candidatura a presidente da República. Está cada vez mais difícil acalmar o grupo carlista na Bahia, cujo candidato a governador, Paulo Souto (foto), se queixa da indefinição de Serra.

Fracasso

Sem consenso interno, PT e PSDB vão liberar suas bancadas durante a votação da PEC que efetiva os donos de cartórios sem concurso público. Após a alteração do texto original, incluindo entre os beneficiados apenas os titulares que assumiram as funções entre 1988 e 1994, os líderes decidiram votar o projeto. Petistas e tucanos apostam na falta de vontade política, representada em 308 votos, para enterrar a proposta.

Fatura

Segundo o corregedor nacional de Justiça, ministro Gilson Dipp, há cartórios que chegam a movimentar R$ 500 mil por mês

Vai e vem

Ciro Gomes pretende comunicar ao presidente Lula que não aceita ser candidato a governador de São Paulo, garantem caciques do PSB que apoiam sua corrida ao Palácio do Planalto. Está convencido de que sua candidatura à Presidência é robusta, tanto que vem resistindo ao rolo compressor governista. O problema de Ciro é o tempo de televisão, que assusta a bancada federal. O ex-ministro da Integração Nacional precisa desesperadamente de uma coligação para garantir a legenda. Se não conseguir, perderá o apoio do governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos, que dificilmente continuará apoiando-o.

Sinal

Renato Simplício foi reeleito presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Distrito Federal, por 271 votos a 84, derrotando Paulo Castanheira, candidato apoiado pelo ex-governador Joaquim Roriz (PSC). Renato é aliado do deputado federal Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), autor do projeto de regularização dos assentamentos de Brasília.

Apoio

A existência de um pacto no Judiciário contra a impunidade, defendido pelo presidente nacional da OAB, Ophir Cavalcante, foi saudada na tribuna do Senado por Pedro Simon (PMDB-RS), que previu “uma nova forma de fazer política” após a prisão do governador licenciado do Distrito Federal, José Roberto Arruda. O senador disse concordar plenamente com o posicionamento de Ophir Cavalcante quanto à necessidade de se priorizar processos contra quem tem o dever de cuidar dos recursos públicos.

Arrogância

“O PT criou com completo ineditismo no Poder Legislativo a figura da ‘desconvocação’ de uma autoridade governamental que deporia no Congresso Nacional”, comentou o líder do PSDB na Câmara, deputado João Almeida (BA). A irritação do tucano deve-se à manobra da base aliada, que conseguiu “desconvocar” a ministra Dilma Rousseff, que iria depor na Comissão de Constituição e Justiça do Senado sobre o 3º Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH). Segundo Almeida, nem no tempo da ditadura isso aconteceu.

Forca

Aloizio Mercadante (PT) voltou do Chile, depois de participar da viagem de Lula àquele país, com a corda no pescoço. Daqui pra frente, a pressão para que seja candidato ao governo de São Paulo só vai aumentar. Entre os petistas de São Paulo, está sendo chamado de fujão por insistir em disputar a reeleição ao Senado. Mercadante reiterou a Lula que não aceita o sacrifício.

Com Norma Moura

Só Aécio e Serra sabem o próximo passo

DEU NO ESTADO DE MINAS

A decisão do PSDB sobre a candidatura presidencial está na cabeça dos protagonistas: os governadores de Minas, Aécio Neves, e de São Paulo, José Serra. Nem mesmo a cúpula tucana sabe avaliar o efeito da pressão que tem exercido sobre ambos, já que eles aumentaram a reserva sobre o conteúdo das conversas, que têm sido diárias. Os auxiliares mais próximos evitam arriscar um palpite sobre a chapa que a legenda apresentará ao Planalto. Serra ainda é o nome mais cotado para encabeçá-la, mas a possibilidade de ele desistir e abraçar a candidatura à reeleição para o governo de São Paulo, diante da tendência de queda apontada pelas últimas pesquisas de intenção de voto, é considerada uma hipótese cada vez mais plausível. Se Aécio aceitaria substituí-lo como o candidato principal ou o socorreria, aceitando compor como candidato a vice-presidente, ainda é uma incógnita, até mesmo em Minas. Tucanos e aliados torcem que o sinal de que a novela está próxima do fim seja dado em jantar dos dois governadores hoje no Palácio das Mangabeiras.

Apesar de as assessorias dos dois governadores não confirmarem o encontro, líderes do PSDB davam como certo ontem que eles estarão frente a frente esta noite, o que possibilitará fechar os entendimentos para que o anúncio seja feito amanhã, durante as comemorações do centenário do ex-presidente Tancredo Neves, avô de Aécio, cujo nome batiza a Cidade Administrativa, que será inaugurada com a presença do vice-presidente José Alencar, ministros, governadores e do deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE), cotado para candidato a vice numa eventual chapa encabeçada por Aécio. Alguns líderes do PSDB aguardavam ontem a confirmação da presença do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso no jantar, o que reforçaria as suspeitas de uma declaração pública.

O presidente do diretório mineiro do PSDB, deputado federal Nárcio Rodrigues, define o jantar como uma “conversa reservada de irmãos” e evita falar sobre a possibilidade de Aécio substituir Serra como candidato a presidente. Para ele, até a pressão feita pela cúpula tucana e por partidos aliados para que o governador mineiro aceite compor uma chapa puro-sangue, como candidato a vice-presidente, é equivocada. “Primeiro temos que ter um candidato a presidente, para depois falarmos da composição da chapa. Qualquer movimento tem que ser feito da parte do Serra. Só nos resta esperar”, disse. Nárcio avalia que no PSDB o processo de entendimento esteja sendo dificultado por uma “crise de ansiedade”, argumentando que ainda restam sete meses de campanha eleitoral para que o nome de Serra possa ser trabalhado.

Novela Já o secretário-geral do PSDB, deputado federal Rodrigo de Castro (MG), não acredita que o desenlace da novela tucana aconteça hoje. “Há muita especulação e nenhuma sinalização”, diz, confirmando que Aécio e Serra têm se mantido “fechados” em relação ao assunto.

Do lado de Serra, o deputado federal Arnaldo Madeira (PSDB-SP) dá como certo que o governador será o candidato a presidente. “Ele será o candidato, só que não precisa anunciar agora, quando tem 30 dias para fazê-lo. Mesmo dentro do partido, o que mais tem é fofoca. O nome dele está firme e forte e sua candidatura será anunciada no momento adequado. Não agora”, garante.

O deputado federal Gustavo Fruet (PSDB-PR) é mais cauteloso, lembrando que tanto Serra quanto Aécio são habilidosos no jogo político. “Os mais apaixonados torcem por um ou por outro, mas o partido como um todo quer mesmo é uma composição que possa alterar os resultados da pesquisa. Há problemas em vários palanques estaduais e tanto o PSDB quanto os partidos aliados querem começar logo a campanha. A demora na definição abre margem para qualquer tipo de especulação, o que não contribui”, avalia.

"Ninguém terá mais dúvida da candidatura Serra", diz Guerra

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Raquel Ulhôa, de Brasília

A direção nacional do PSDB estabeleceu prazo até o fim desta semana para que o governador José Serra, de São Paulo, sinalize claramente que será candidato a presidente da República. Para superar a inanição da campanha oposicionista ao Palácio do Planalto, o partido decidiu anunciar o início da formação do "staff" de Serra e transformar dois eventos políticos - um em Brasília, hoje, e outro em Belo Horizonte, amanhã - em atos de afirmação e impulso da candidatura. "Ao término desta semana, ninguém vai ter mais dúvida de que Serra é o candidato", afirmou o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE).

O PSDB preparou uma recepção festiva para o governador paulista hoje, às 10h, na liderança do PSDB no Senado, onde participará de sessão solene conjunta do Congresso Nacional, em comemoração do centenário de nascimento de Tancredo Neves. Foram convocados para receber Serra deputados e senadores do PSDB e dos aliados DEM e PPS.

O governador paulista, que ainda resiste a se lançar pré-candidato a presidente, foi convencido a participar da sessão no Senado. O governador Aécio Neves (MG), neto de Tancredo, é outro convidado de honra. Amanhã, o mineiro será o anfitrião de outra festa, que vai reunir as principais lideranças tucanas do país - em torno da qual recaem as principais expectativas do PSDB sobre uma posição afirmativa de Serra. Será a inauguração da nova Cidade Administrativa do Estado, que recebeu o nome de Tancredo Neves.

Na sessão solene de Brasília e na inauguração em Belo Horizonte a intenção da cúpula tucana é reforçar publicamente a unidade entre Serra e Aécio. O mineiro ainda não dá segurança ao partido de que será vice na chapa de Serra, mas seu empenho na campanha - independentemente da posição em que estiver - é essencial para a vitória da oposição. Minas é o segundo colégio eleitoral do país e considerado decisivo na eleição presidencial.

A direção do PSDB tem menos pressa com relação à definição sobre o candidato a vice de Serra. As especulações em torno da escolha do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) como plano "B" causaram problemas ao PSDB com o DEM. Dirigentes demistas dizem que o partido abriu mão da vice para Aécio mas, não sendo o mineiro, a questão é reaberta.

O fato é que entre os tucanos começam a surgir discussões sobre alternativas a Aécio. Tasso - que publicamente não leva o assunto a sério - é considerado, de fato, um nome forte para compor a chapa com Serra. É nordestino e ganhou conceito de bom gestor como governador do Ceará (por três mandatos). Além disso, como é amigo do deputado Ciro Gomes (PSB-CE), poderia amenizar os ataques do socialista à chapa oposicionista. Tasso causou fissura no PSDB ao apoiar a candidatura de Ciro a presidente, em 1998.

Os tucanos preferem deixar a questão da vice para um segundo momento. A pressa, agora, é anunciar o nome do governador paulista como cabeça da chapa, para que os tucanos possam começar a se movimentar nos Estados e reagir à ofensiva da campanha de Dilma. A pressão da base partidária sobre a cúpula nacional aumenta a cada notícia de crescimento da ministra Dilma Rousseff nas pesquisas.

O que mais assustou os dirigentes do PSDB foi o Datafolha do domingo, mostrando uma crescimento das intenções de voto em Dilma, queda do desempenho de Serra e redução de 14 para 4 pontos percentuais do favoritismo do pré-candidato tucano.

O fator considerado mais preocupante pelos tucanos é a queda de Serra em São Paulo, maior colégio eleitoral do país e histórico reduto do partido. Na avaliação do tucanato, os estragos causados pelas fortes chuvas conseguiram arranhar a imagem de bom gestor de Serra.

Somou-se a esse fato o desgaste do prefeito da capital, Gilberto Kassab (DEM), aliado de Serra. Ele foi alvo de uma decisão da Justiça Eleitoral de primeira instância cassando seu mandato por recebimento de doações supostamente ilegais. Após recurso de efeito suspensivo no Tribunal Regional Eleitoral (TRE), ganhou o direito de permanecer no cargo até o julgamento final. A acusação não preocupa os tucanos, que admitem o prejuízo eleitoral - ao menos no primeiro momento.

Ontem a executiva nacional do PPS aprovou manifesto em defesa da chapa Serra-Aécio. "Seria sinalizar a toda a sociedade que um novo projeto ético na vida pública e na política é possível. Também simbolizaria a união dois grandes Estados - São Paulo e Minas Gerais - para a construção de um novo pacto federativo, reclamado pelas regiões e demais Estados brasileiros".

Para Fortes, chapa do PSDB precisa de vice mineiro para se viabilizar

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Heloisa Magalhães, Paola de Moura e Chico Santos, do Rio

Secretário-geral do Ministério da Fazenda na gestão Karlos Rischbieter (1979), aos 34 anos, presidente do BNDES no governo José Sarney (1987-89), deputado federal por três mandatos, Marcio Fortes é uma das peças-chave da estratégia tucana para 2010. Desde o ano passado mudou-se do Rio para São Paulo para presidir a Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano (Emplasa) e ficar mais próximo das articulações do governador de São Paulo, José Serra (PSDB), à Presidência.

No partido desde 1994, Fortes ocupou a estratégica secretaria geral do partido e pela proximidade com o mundo dos negócios - foi presidente da João Fortes Engenharia, criada por seu pai - abriu caminho para tornar-se tesoureiro da campanha de Serra em 2002.

Aos 65 anos, Fortes deverá se desincompatibilizar da Emplasa para entrar na campanha fluminense como vice do deputado Fernando Gabeira (PV) na disputa pelo governo do Rio com a missão de garantir um palanque forte para Serra no Estado.

Olhando do centro do ninho tucano, Fortes afirma que o fiel da balança das eleições presidenciais deste ano será Minas Gerais. Por isso, não vê outra opção para vice-presidente de Serra que não seja o governador Aécio Neves. Diz que, caso o mineiro realmente não aceite compor a chapa, outra solução terá que ser encontrada em Minas Gerais para assegurar a vitória do PSDB.

"Desde o governo de [João] Figueiredo [1979/85] a maior parte dos vices é mineira", diz, citando Aureliano Chaves, Itamar Franco e José Alencar. Não descarta que Aécio Neves venha a mudar de ideia, embora o governador de Minas Gerais afirme que não vai formar chapa com Serra. "Ele nega de pé junto, mas seus amigos dizem que ele ainda pode aceitar", afirma Fortes.

Avalia que a presença do mineiro na chapa tem um peso decisivo na disputa pelo voto mineiro:
"Aécio já demonstrou não ter vocação para pedir votos para os outros", diz Fortes referindo-se à vitória apertada de Marcio Lacerda, para Prefeitura de Belo Horizonte, em 2008.

Embora Minas tenha o segundo colégio eleitoral do Brasil, para Fortes, o Estado é mais decisivo do que São Paulo, mesmo respondendo por menos da metade dos eleitores que tem o Estado vizinho. "Os mineiros votam em bloco", afirma. E destaca que os focos das alianças tucanas também levam em conta três outros Estados que serão decisivos nas eleições de outubro para equilibrar a força petista no Nordeste: Rio de Janeiro, Bahia e Rio Grande do Sul.

Mas Fortes acha que, mesmo que Serra desista da candidatura, o que não descarta mas acha pouco provável, Aécio Neves não teria chance de ser eleito presidente. Para ele, o governador mineiro ainda não é suficientemente conhecido no país para uma disputa com a candidata do PT, Dilma Rousseff.

O crescimento da ministra nas pesquisas não o impressiona. Lembra que a Dilma vem tendo exposição nacional maciça ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em sucessivos eventos e inaugurações pelo país enquanto "o coitado do Serra só inaugura ciclovia no Tietê", diz, num lapso da geografia urbana de São Paulo. A ciclovia, inaugurada no domingo, é na Marginal do Rio Pinheiros. Diz que a ministra vai cair nas pesquisas após a desincompatibilização porque não poderá mais participar de eventos do governo.

Fortes conta que a campanha de Serra à Presidência deve ser focada na história política do governador, sua atuação como administrador e como Ministro da Saúde e do Planejamento. Os tucanos não têm a intenção de incluir na campanha o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que nas pesquisas mostra alto índice de rejeição, e muito menos traçar comparações entre os anos FHC com os de Lula como fez o ex-presidente em recente artigo publicado na imprensa.

O ex-deputado disse ainda que engajamento de FHC no esforço para a legalização das drogas, neste momento, atrapalha Serra, já que a maior parte da população brasileira é contra a medida.

Fortes diz que seu nome surgiu na coligação entre o PSDB e o PV para formar a chapa com Gabeira, em parte, porque conhece muito bem o Estado. Gostou da ideia, mas deixa claro que sua participação tem o objetivo maior de garantir palanque no Rio para que Serra vença.

Afirma que, no Rio, a candidatura Gabeira será fundamental para Serra, ainda que seu palanque seja de Marina Silva (PV). "Na televisão, Gabeira não pode pedir voto para Serra, mas eu posso.
Assim como Serra pode pedir para para o Gabeira. E nada impede que ambos participarem juntos de eventos públicos".

Fortes aposta que Gabeira irá para o segundo turno com o governador Sérgio Cabral (PMDB). Para ele, a candidatura de Anthony Garotinho (PR) vai se "esvaziar" ao longo da campanha. "Se eu fosse o Cabral resolvia isso logo, negociaria uma aliança com Garotinho para aumentar as chances de levar a eleição no primeiro turno, pois o governador não tem voto no interior. Sabe quantas vezes Cabral foi a Petrópolis, que fica a menos de 70 quilômetros do Rio, desde que assumiu? Nenhuma. Ele não visita o interior", diz.

Orgulha-se de conhecer o Rio. "Ninguém conhece mais o Estado do Rio de Janeiro do que eu", diz. Lembra que como presidente do Banerj (1990/91) viajou por todo o Estado, além de ter sido duas vezes secretário (municipal de Obras, de 1993 e 1994) e estadual de Indústria, Comércio e Turismo (1996/2000).

Presidente defende medidas estatizantes

DEU EM O GLOBO

Ao lado de Dilma, Lula diz que Estado tem que ser "o grande indutor das coisas que devem acontecer"

Soraya Aggege

SÃO PAULO. No embalo do balanço positivo do Banco do Brasil, que teve o maior lucro anual da história anunciado semana passada, o presidente Lula e sua candidata à sucessão, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, reforçaram ontem as vantagens das medidas estatizantes no país e criticaram os tucanos que os antecederam. Lula afirmou que seus antecessores não acreditavam nos servidores públicos, base de apoio do PT.

— Provamos que o Estado não é ineficaz como alguns quiseram fazer crer nas últimas três décadas. Provamos que o Estado não precisa se meter a ser um gerente, um empresário. O Estado tem que ser o grande indutor das coisas que devem acontecer — disse Lula.

Segundo o presidente, foi necessário ao Brasil um metalúrgico socialista para fazer a lição de casa dos capitalistas.

— Precisou ganhar a eleição neste país um metalúrgico, que não é economista, que não é cientista político, que passou 30 anos acreditando no socialismo e dizer a este país que não é possível um país capitalista sem capital, sem financiamento e sem crédito — afirmou Lula. — Quantas vezes vi manchetes falando do déficit do Banco do Brasil. Cheiravam a gosto de privatização. Nada melhor do que mostrar que um banco é deficitário para fazer uma privatização.

Segundo o presidente, o resultado do BB em 2009 “lava a alma daqueles que acreditam na importância do serviço público”, em contraposição “àqueles que acreditavam que a solução era privatizar”.

Dilma critica governos da década de 90 As afirmações de Lula foram feitas durante um encontro de diretores do BB na capital paulista, ao lado da ministra Dilma, no qual o presidente rasgou elogios aos servidores públicos.

Dilma foi mais enfática e fez críticas mais duras aos governos da década de 90. De acordo com ela, o BB foi um dos responsáveis pela superação da crise econômica. Ela chamou de “fantasiosa” a ideia de que o mercado seria capaz de atenuar os efeitos das turbulências iniciadas em setembro de 2008.

— Se não tivéssemos insistido, o Banco do Brasil teria ficado pelo caminho. Na crise dos anos 90, o governo cortou investimentos, aumentou juros, impondo ajustes ao povo. Fizemos o contrário.
Nossos governos são distintos do arsenal recessivo da década de 90. A prática venceu o preconceito: 2010 será o melhor ano da década.

Serra e Dilma antecipam debate econômico

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Em discursos em inauguração em Sorocaba, ministra defende mercado interno e tucano destaca papel das exportações

Governador fez ainda crítica velada a "subemprego", e foi contraditado por Lula, que repetiu comparações de seu governo com antecessores

Malu Delgado
Enviada Especial a Sorocaba

Lado a lado dois dias após a divulgação da pesquisa Datafolha, o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), e a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), criaram ontem um ambiente de debate eleitoral antecipado e, pela primeira vez, explicitaram divergências sobre a economia ao compararem gestões e políticas públicas. O embate entre os dois pré-candidatos à Presidência ocorreu durante os respectivos discursos na inauguração do complexo industrial da Case New Holland (máquinas agrícolas), em Sorocaba.

Último a falar, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enalteceu seu governo, antes elogiado por Dilma, e deixou Serra sem direito a tréplica. A petista destacou que os dois elementos essenciais para o crescimento dos últimos anos foram o consumo e o crédito.

"O mérito do governo do presidente Lula é ter percebido que esse mercado consumidor era talvez uma das nossas maiores riquezas", disse. A "pujança do Brasil", acrescentou, se explica pelo volume de crédito hoje disponível: R$ 1,4 trilhão.

O tucano, por sua vez, fez uma ressalva: "É importante que a indústria se desenvolva também exportando, não apenas atendendo (...) o mercado interno". Para ele, são falaciosas as teses de que o Brasil deve permanecer exportador de produtos primários ou focar a economia de serviços.

Em uma resposta indireta a Dilma, que falou do recorde de empregos na gestão Lula, o governador disse que "grande parte da força de trabalho está subempregada". "Não vamos conseguir gerar os empregos num país de 180 milhões de habitantes (...) sem indústria."

Dilma disse que "a palavrinha Bric" (sigla que designa Brasil, Rússia, Índia e China) não foi criada só por conta do crescimento desses países, mas pelos mercados consumidores.

Ela citou o programa Minha Casa, Minha Vida como exemplo da visão de Lula sobre economia. Ele destacou o plano de modernização da indústria automobilística quando era titular do Planejamento de FHC. Lula respondeu a Serra ora direta, ora veladamente. Disse que o Brasil vive um "momento ímpar" e que é preciso lembrar "os últimos 30 anos para a gente saber de onde nós partimos e aonde nós pretendemos chegar". Lembrando que "a Dilma é economista, o Serra é economista", disse que ia a debates com economistas e saía achando que o país tinha quebrado.

Por fim, em nova cutucada ao tucano, Lula disse que foram os bancos públicos que salvaram o país na crise. Na gestão de Serra foi concretizada a venda da Nossa Caixa ao Banco do Brasil. "Se tivesse mais banco para vender, Serra, eu ia comprar (...) para financiar o crédito."

Em almoço na Anfavea em São Paulo, Lula afirmou ter sido vítima da "ideia imbecil" do terrorismo eleitoral: "Mentiram tanto, que um dia o povo não acreditou mais". Para o presidente, "não existe possibilidade" de seu sucessor mudar o que está sendo feito.

Para o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, as regras da atual política econômica do Brasil não deixam espaço para mudanças que desviem o país da estabilidade. "Não se coloca mais a estabilidade versus o crescimento", disse ele, durante encontro com executivos de bancos.

Com Paula Nunes, colaboração para a Folha

Marcha Eslava - Tschaikovsky

PSDB amplia Bolsa Família e líder do governo é contra

DEU EM O GLOBO

Senadora acusa tucanos de fazer uso eleitoral do principal programa de Lula

Projeto do senador tucano Tasso Jereissati que prevê um aumento do Bolsa Família vinculado ao bom desempenho escolar das crianças foi aprovado ontem na Comissão de Educação do Senado e seguirá diretamente para a Câmara. Contrariada com a proposta do tucano, que põe a digital do PSDB na grande bandeira de campanha da pré-candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, a líder do governo no Congresso, Ideli Salvatti (PT-SC), votou contra. Três outros petistas votaram a favor. "Não consigo entender o motivo esdrúxulo e cruel (da proposta do tucano). Isso vai provocar uma pressão sobre a criança", protestou Ideli, que disse ver um viés eleitoral no projeto e ameaçou recorrer para que haja votação no plenário. Já o senador Cristovam Buarque, do PDT, elogiou a aprovação, dizendo que o projeto "tenta resgatar a filosofia inicial do antigo Bolsa Escola".

Disputa pelo Bolsa Família

Proposta de tucano amplia benefício, mas líder do governo Lula protesta e diz que recorrerá

Adriana Vasconcelos

BRASÍLIA - A Comissão de Educação do Senado aprovou ontem, em caráter terminativo, projeto de lei do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) que prevê aumento do benefício do Bolsa Família para famílias em que as crianças tenham um bom desempenho escolar. Mesmo contrariados com a proposta do tucano, que põe a digital do PSDB na grande bandeira de campanha do presidente Lula e da ministra Dilma Rousseff, pré-candidata do PT à Presidência, os líderes governistas não impediram a aprovação da matéria, que agora segue para apreciação da Câmara. Mas a líder do governo no Congresso, senadora Ideli Salvatti (PT-SC), votou contra.

O Bolsa Família é a grande vedete do governo para a campanha de Dilma, e os petistas viram na proposta de Tasso um interesse eleitoral. O projeto foi aprovado por 17 votos a um (o da Ideli). Dos 17 que aprovaram, sete são da oposição, três do PT e os demais aliados do governo. Votaram a favor os petistas Eduardo Suplicy (SP), Paulo Paim (RS) e Augusto Botelho (RR).

Para Ideli, a iniciativa é uma crueldade e representa um retrocesso, uma vez que joga nas costas do menor a responsabilidade pelo aumento da renda familiar: — Não consigo entender o motivo esdrúxulo e cruel (da proposta do tucano).

Isso vai provocar uma pressão sobre a criança, que passa a ser responsável pela renda maior da família.

Quando você coloca essa questão do rendimento escolar no Bolsa Família , como quer o senador Jereissati, você joga nos ombros da criança a responsabilidade de levar dinheiro para casa, e pode gerar situações de maus tratos, de conflito, se a criança não corresponder à expectativa das famílias.

A petista acusou a oposição de querer fazer uso político do projeto em ano eleitoral.

— É uma contradição social, pedagógica e um contrassenso político — acrescentou, dizendo que pretende apresentar recurso para que o projeto seja votado no plenário do Senado e não remetido à Câmara.

Os tucanos admitiram que a ideia é mesmo vincular o nome do partido ao Bolsa Família, que, alegam, é originário do antigo Bolsa Escola do governo de Fernando Henrique Cardoso.

— Este projeto amplia e melhora o Bolsa Família, além de ser um argumento importante para a luta futura do PSDB — admitiu o presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra (PE).

Volta a filosofia do antigo Bolsa Escola

Um dos nomes do PSDB cotados para ser vice na chapa presidencial de Serra, Tasso Jereissati disse ter ficado surpreso com a tentativa do governo de barrar seu projeto: — Jogaram pesado para que a proposta não fosse votada, mas a maioria governista não teve coragem de votar contra. O projeto vincula de forma definitiva o PSDB ao Bolsa Família e resgata a proposta do Bolsa Escola, que criamos, ao vincular o adicional do benefício ao desempenho educacional.

A aposta de Tasso é que o valor do benefício do Bolsa Família pode até dobrar.

Os valores do “prêmio” serão definidos em projeto de lei complementar se a proposta for aprovada pela Câmara e sancionada pelo presidente da República. Além do ganho financeiro, alega Tasso, incentivaria também as cobranças por um ensino de melhor qualidade nas escolas públicas.

O senador Cristovam Buarque (PDT-DF), que implementou programa semelhante quando governou o Distrito Federal, elogiou a proposta: — O projeto tenta resgatar a filosofia inicial do antigo Bolsa Escola.

Apesar da insatisfação de setores do governo, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), provocou: — No governo Dilma, a gente implanta isso — provocou Jucá.

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Vilas são geridas por interesses políticos no Rio

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Vereadores comandam centros olímpicos criados para a prática do esporte e a revelação de talentos

Alfredo Junqueira e Bruno Lousada

RIO - Criadas para o desenvolvimento de atividades esportivas em comunidades carentes e possível celeiro para o surgimento de novos atletas, as vilas olímpicas do Rio são geridas por interesses políticos e pela influência de vereadores. A informação é do secretário municipal de Esporte e Lazer da cidade-sede da Olimpíada de 2016, Francisco Manoel de Carvalho, o Chiquinho da Mangueira.

Em audiência pública na Câmara Municipal do Rio, em 3 de novembro de 2009, exatamente um mês após o Comitê Olímpico Internacional (COI) anunciar, na Dinamarca, que a cidade havia sido escolhida a sede da 31.ª edição dos Jogos, o secretário revelou sem constrangimento o nome de quem mandava em seis vilas olímpicas da cidade. Organizador de um evento que promete R$ 30 bilhões em investimentos, o Rio tem, de acordo com Chiquinho, unidades específicas para a prática de esportes em que a orientação é política, e não esportiva.

"A responsabilidade das Vilas Olímpicas é nossa (Prefeitura), as ONGs estão administrando e há um entendimento político de que algumas vilas estão sob orientação política de alguns vereadores", declarou o secretário, sem explicar, no entanto, o que significava dar "orientação política" a uma vila olímpica. Chiquinho deu o nome de sete vereadores. Um deles é o presidente da Câmara Municipal, Jorge Felippe (PMDB), que seria o "orientador" da Vila Olímpica Mestre André, em Padre Miguel, na zona oeste da cidade. "Ela (a vila) tem uma parceria de indicação política do vereador presidente desta Casa, Jorge Felippe, e o vereador Dr. Jairinho (PSC)", revelou.

A ata da audiência foi publicada no Diário Oficial do Legislativo do Município do Rio, em 18 de novembro. Chiquinho falava durante a análise do projeto de lei do orçamento da cidade para este ano. De acordo com a proposta apresentada pelo prefeito Eduardo Paes (PMDB), o item "Manutenção de Unidades Esportivas que atendem a Rede Municipal de Ensino" deve receber R$ 28,5 milhões neste ano. A expectativa da Prefeitura é atender 16.560 crianças por mês nessas unidades.

A previsão orçamentária de "Construção de Unidades Esportivas e de Lazer" tem R$ 3,9 milhões reservados. Entre as novas unidades, está a do Mato Alto, em Jacarepaguá, onde já treina em condições precárias a atleta Bárbara Leôncio, ouro nos 200 metros do Campeonato Mundial de Atletismo para Menores, realizado na República Checa em 2007, e xodó da delegação brasileira na Dinamarca no dia do anúncio da vitória da candidatura do Rio.

Na unidade de Santa Cruz, a "orientação política" é do vereador Elton Babu (PT) - irmão e herdeiro político do deputado estadual Jorge Babu (PTN). Figura polêmica, o Babu mais velho é policial civil e chegou a ser preso pela Polícia Federal, em 2004, numa rinha de galo ao lado do publicitário Duda Mendonça. Em 2008, foi indiciado pelo MP do Rio por suposto envolvimento com milícias que atuam em Santa Cruz.

Uma das atividades mais comuns desses grupos paramilitares que se espalharam pelo Rio é justamente ocupar e cobrar aluguel pelo uso de quadras poliesportivas públicas - além, obviamente, de extorquir em troca de proteção, atuar no mercado de transporte ilegal, venda de gás, entre outros.

Localizada na região mais violenta do Rio, a Vila Olímpica Carlos Castilho, no Complexo do Alemão, tem "orientação política" do vereador Jorginho da SOS (DEM) - suspeito de ter recebido ajuda de traficantes encastelados na região durante a campanha eleitoral.

Dois integrantes do Conselho de Ética da Câmara Municipal também dão "orientação política" a outras unidades. Rosa Fernandes (DEM) orienta o Grêmio Recreativo Esportivo dos Industriários (Greip) da Penha e Tio Carlos (DEM), a Cidade das Crianças, segundo Chiquinho da Mangueira. A Vila da Gamboa, no Centro do Rio, é da vereadora Liliam Sá (PR).

Com a administração desses locais de treinamento, os vereadores têm, entre outros benefícios, a participação na contratação de funcionários.

Novo tribunal não exige tempo para se aposentar

DEU EM O GLOBO

O novo texto para a criação de outro tribunal de contas no estado, aprovado ontem por comissão da Alerj, abre brecha para que sete futuros conselheiros se aposentem sem a exigência de tempo mínimo de trabalho.

Aposentadoria a jato

Proposta permite a conselheiros de novo tribunal pedirem benefício assim que assumirem

Carla Rocha, Fábio Vasconcellos e Natanael Damasceno

Os sete futuros conselheiros do Tribunal Estadual de Contas dos Municípios ocuparão não apenas cargos vitalícios, com salários de R$ 26 mil, como poderão também requisitar aposentadoria logo após assumirem o cargo. Essa mudança, que acaba com exigência mínima de cinco anos de permanência no cargo, consta do novo texto da proposta de emenda constitucional (PEC 60) aprovado ontem pela Comissão de Emendas e Vetos da Alerj e que será votado nos próximos dias. Os deputados analisaram 54 sugestões de alteração da PEC e aprovaram pelo menos 20.

Pelo texto divulgado, os deputados criaram uma nova versão do artigo 128 da Constituição estadual, que seria aplicada apenas ao novo tribunal.

O artigo original diz que os conselheiros do atual Tribunal de Contas “somente poderão aposentar-se com as vantagens do cargo quando o tiverem exercido efetivamente por mais de cinco anos”. O artigo 128-A, apresentado ontem, diz apenas que os conselheiros do Tribunal de Contas dos Municípios terão todas as garantias e prerrogativas do cargo de desembargador, sem fazer referência à permanência mínima no posto.

Caso seja mantido, o artigo 128-A abre uma brecha para pedidos de aposentadorias semelhantes aos que ocorreram em 1990. Naquele ano, a Alerj extinguiu o Conselho de Contas dos Municípios, que tinha sido instituído oito meses antes, com a mesma função de analisar as contas de 91 prefeituras no estado. Cinco dos conselheiros nomeados na época para o antigo órgão entraram com pedidos de aposentadorias e recebem até hoje salários pagos pelo governo.

Associação diz que mudança é proibida

Procurado, o deputado Paulo Melo (PMDB), relator do novo texto da PEC 60, afirmou que houve um erro de redação da proposta. Segundo ele, os futuros conselheiros serão obrigados a terem no mínimo cinco anos de atividade para requerer a aposentadoria, como prevê a Constituição estadual.

— Isso (o fim da exigência de cinco anos) não existe. Se está no texto, foi um erro de redação. Não vai haver modificação na Constituição estadual com relação ao critério atual de aposentadoria — afirmou Melo.

O presidente da Associação dos Membros dos Tribunais de Contas do Brasil (Atricon), Salomão Ribas Júnior, ficou surpreso ao saber da alteração proposta pelos deputados. Ele explicou que a permanência mínima de cinco anos no cargo é uma regra constitucional federal para evitar abusos: — A exigência do prazo mínimo de cinco anos surgiu em Santa Catarina há muitos anos. Na época, o sujeito chegava ao cargo num dia e já queria se aposentar no outro, alguns meses depois. O então governador do estado, Antônio Carlos Conde Reis, constitucionalista renomado, sancionou o projeto de um deputado que criava a permanência mínima de cinco anos. Ninguém nunca teve coragem de questionar isso.

Todo mundo sempre cumpriu.

Ele criticou a criação de mais um tribunal no Rio: — Nós, brasileiros, diante de um problema, estamos sempre querendo criar um novo tipo de controle. O que precisamos fazer é que os controles operem adequadamente.

Para o advogado Hermano Cabernite, que analisou os mudanças a pedido do GLOBO, o argumento dos deputados de que simplesmente houve um erro na redação deve ser mais bem analisado.

Segundo ele, uma proposta de emenda constitucional com erros não poderia ser aprovada pela Comissão de Emendas e Vetos.

— Uma emenda constitucional é algo muito sério. Os deputados estão criando um novo órgão.

Eles aprovaram na comissão o novo texto com as emendas e não poderiam, como dizem, ter errado um artigo tão importante como esse — afirmou o advogado.

Os deputados favoráveis à PEC 60 afirmaram que as emendas melhoraram a proposta. Eles alegam que pontos polêmicos — como o fim da exigência de diploma de terceiro grau para os conselheiros, bem com da de prefeitos e vereadores informarem os salários aos tribunais — foram retirados do novo texto. A PEC que vai a votação prevê que os conselheiros sejam escolhidos até junho deste ano, mas eles só passarão a trabalhar em janeiro de 2011. Até lá, os deputados esperam que o atual TCE ceda ao menos 35% do seu quadro de funcionários para o futuro tribunal. Os parlamentares incluíram a exigência de que um dos conselheiros nomeados seja do corpo técnico do tribunal. Outra alteração limita em 3% o percentual da receita líquida do estado que poderá ser usado por Alerj, TCE e novo tribunal para despesas com pessoal.

Por causa das divergências políticas entre Alerj e TCE, os deputados aprovaram uma emenda que determina que os conselheiros com familiares até terceiro grau concorrendo a cargos eletivos peçam afastamento durante a campanha eleitoral.

Embora as exigências passem a valer tanto para o novo tribunal quanto para o TCE, os deputados continuam defendendo a necessidade de dividir o Tribunal de Contas do Estado.

— O problema é que o antigo tribunal reúne um conjunto de conselheiros que é caso de polícia. E, como a fonte maior dessa casa de negócios são as prefeituras do interior, não vejo alternativa à criação de um novo conselho — disse Marcelo Freixo (PSOL), um dos autores do projeto original.

O Chile se preparou:: Miriam Leitão

DEU EM O GLOBO

O Chile sempre foi apontado como modelo na região. Foi o país de crescimento mais rápido na América Latina em duas décadas, foi o que fez reformas mais cedo, tem a maior renda per capita, a melhor situação fiscal, e foi o que primeiro começou a se preparar para dias mais difíceis do ponto de vista fiscal. O dia difícil chegou. E agora se verá a vantagem de estar preparado.

Neste momento, a solidez fiscal ajudará a reconstrução de um país onde a terra tremeu numa dimensão que nenhum brasileiro, que não estava lá na hora, pode imaginar.

Deve ter sido aterrorizante para pessoas de um país que dorme no meio de estáveis placas tectônicas.

Como disse, de lá, a escritora Ana Maria Machado, em entrevista, se a noção de segurança para os seres humanos vem da terra firme, o que se pode dizer quando a terra não fica firme? O custo humano e econômico do terremoto é alto, mas o que o Chile está ensinando é que vale a pena se preparar.

Na economia, o país decidiu assim que o cobre começou a subir — junto com todas as outras commodities metálicas —, a partir de 2003, que era necessário constituir um fundo de reserva.

O nosso fundo foi feito na undécima hora. O deles, na primeira.

Em 2003, o país conseguiu com o cobre, que representa 50% das exportações, US$ 7,8 bilhões. No ano seguinte, o dobro disso, e continuou aumentando, até chegar a 2007, no pico, em que a exportação do produto rendeu US$ 37 bilhões ao Chile. Nos anos seguintes, caiu (veja o gráfico).

Nesse boom, de 2004 a 2007, o Chile decidiu constituir fora do país um fundo que impedia que a entrada excessiva de dólares da exportação valorizasse exageradamente o peso, e ainda promovia uma reserva para contingências. Isso, além do aumento das reservas cambiais e do ajuste das contas públicas.

Ele não é perfeito. Tem um aleijão fiscal que é a lei que determina que parte das receitas da Codelco, estatal de cobre, seja uma espécie de recurso extra-orçamento que financia as Forças Armadas. Esse atalho fiscal criado pelo governo militar nunca foi corrigido em duas décadas de governo civil de centro-esquerda.

O novo presidente, Sebastián Piñera, do partido de direita, prometeu alterar isso. A conferir.

As contas ajustadas, as reservas cambiais, o fundo de reservas off-shore, a reputação de ser fiscalmente responsável, tudo isso ajudará agora o Chile na hora da reconstrução.

O terremoto é doloroso seja qual for a situação. As primeiras contas mostram a necessidade de reconstruir 1,5 milhão de residências, o setor mais afetado.

Parte da infraestrutura foi atingida, o que complica a vida de um país que tem modelo exportador e é a economia mais aberta da América Latina.

O novo governo, que assumirá em oito dias, herdará o caos provocado pelo terremoto, a desordem civil criada pelo surto de saques, e o descontentamento social.

Assumirá o país que teve, depois de longo crescimento, uma recessão de 1,9% no ano passado e que em 2010 estava começando a retomar o crescimento.

Os analistas das diversas consultorias internacionais, que se debruçam sobre o Chile agora para fazer projeções, coincidem em que o primeiro trimestre foi definitivamente afetado.

Em março, a economia cresceria no ritmo de 4%, e ninguém sabe se vai crescer.

As previsões são otimistas no geral. A ideia é que o país retomará a normalidade na produção de cobre — o Chile é responsável por 35% da exportação mundial do metal — e voltará a atrair investimentos.

Tanto que o cobre subiu na segunda-feira, num primeiro momento, mas depois cedeu um pouco com a melhora das expectativas em relação à capacidade do país de voltar à normalidade. O peso se desvalorizou, para se recuperar ontem.

O Chile, no período do seu crescimento sustentado, reduziu drasticamente seus problemas sociais. De 1990 a 2006 diminuiu em 21% a desigualdade entre os 10% mais ricos e os 10% mais pobres. Reduziu o percentual de pobres em 64% e de extremamente pobres em 75%. Tem os melhores indicadores educacionais da região. Além disso, sabedor de que é uma área sujeita a terremotos e tsunamis, investiu no reforço da defesa civil.

Mesmo com todas as prevenções contra crises e desastres, o país está contando seus mortos e se preparando para um longo trabalho de reconstrução. De qualquer maneira, o Chile prova que o responsável é sempre se preparar para dias piores. Ele precisará de ajuda internacional e o custo será alto, mas o país tirou o melhor proveito dos momentos de abundância e terra firme. Já fez um bom trabalho por anos a fio, agora precisa de sorte. E solidariedade.

Que tenha os dois.

A mesada do pai do mensalão

DEU EM O GLOBO

O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu publicou ontem em seu blog que de fato recebeu honorários do empresário Nelson dos Santos (da Eletronet): "Não recebi uma bolada de R$ 620 mil, mas R$ 20 mil mensais por 31 meses de trabalho. Não é dinheiro fácil.”

Dirceu: "É trabalho, não é dinheiro fácil"

Ex-ministro admite ter ganho R$ 620 mil por assessoria a empresário da Eletronet

SÃO PAULO. O ex-ministro da Casa Civil e deputado cassado José Dirceu (PT-SP) voltou a usar o seu blog para rebater as acusações de que fez lobby em favor do empresário Nelson dos Santos, da Eletronet — empresa que o governo pretende usar para implantar um plano nacional de banda larga.

Pela primeira vez, Dirceu mencionou o valor recebido de Santos. Segundo ele, foram R$ 20 mil mensais por um contrato de assessoria que durou de março de 2007 a setembro de 2009.

“Há que deixar claro que não recebi uma bolada de R$ 620 mil, como parte da imprensa insiste em deixar no ar, mas R$ 20 mil mensais, durante 31 meses de trabalho prestado, o que demandou viagens, reuniões e muita preparação. É trabalho, não é dinheiro fácil”, escreveu ele.

Dirceu afirmou que a consultoria que prestou a Santos “foi a respeito de cenários para investimentos em países da América Latina no setor elétrico; legislação e regulação nos países latino-americanos; e avaliação da situação político-econômica no continente”.

“Não sou lobista, nunca fiz lobby”, anotou no blog.

Dirceu repetiu que o contrato foi assinado dois anos antes de o empresário assumir a Eletronet. Na sequência, frisou que em maio de 2007 — “dois meses depois do início da minha consultoria” — o governo desistiu de estudar um projeto de recuperação financeira para a companhia.

“Se a consultoria que prestei a uma das empresas de Nelson dos Santos foi mesmo sobre a Eletronet e se eu sou de fato lobista, como me acusa parte da imprensa, gostaria de saber por que, dois meses após o início do contrato de consultoria, o governo brasileiro tomou uma decisão contrária aos interesses dos controladores privados da Eletronet?”, perguntou ele.

Sobre o fato de só agora ter falado sobre a remuneração recebida, Dirceu escreveu que “qualquer contrato de consultoria econômica tem uma cláusula de confidencialidade, que deve ser respeitada pelo consultor”.

“Agora que o próprio contratante deu informações à Folha (ao jornal ‘Folha de S.Paulo’) sobre esse documento, (...), também me sinto à vontade para fazer os esclarecimentos aqui presentes.” No início de seu texto, o ex-ministro afirmou que seu objetivo “é que não pairem dúvidas sobre este episódio e sobre as minhas atividades profissionais”.

Segundo ele, o episódio tem servido a propósitos eleitorais.

“A campanha eleitoral começou. Os ataques da mídia também. Outros virão, e temos que estar preparados. (...) A eleição presidencial deste ano será a mais dura que o PT já enfrentou. Mas vamos superar as calúnias, vencer as eleições e continuar com os projetos do PT e do governo do presidente Lula”, escreveu Dirceu.