segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Não me mandem cartões:: Fausto Matto Grosso

DEU NO JORNAL DA CIDADE (MS)

Estamos na época de receber e enviar cartões. Fico emocionado em ver quantos amigos figurões se lembram desse humilde eleitor: vereadores, deputados, senadores, prefeitos, desembargadores, conselheiros do tribunal de contas até meu sindicato e meu conselho profissional.

Envaidecido faço um pedido: não me dêem presentes de mim para mim. Com meu suado dinheirinho, não! Já estou crescidinho, não gosto do jogo do “me engana que eu gosto”.

Esses figurões pensam que estão agradando. De minha parte, levam-me à indignação, perdem pontos. Fazer marketing pessoal, à custa dos meus impostos e taxas, não!

O desvios de conduta pública, mesmo nas pequenas coisas, mostram que esses vícios, de tão antigos, incorporam-se à cultura política. Por incrível que pareça, ainda está por se proclamar a república-de-fato, para separar o público do privado. Como disse o Barão de Itararé “restaure-se a moralidade ou locupletemo-nos todos”

Quando falam contra a privatização do Estado eu fico pensando, com meus botões, sem entender nada. É precisão, na verdade, desprivatizá-lo, retirá-lo dos bancos, das corporações internas, dos lobistas e livrá-lo dos marajás políticos, desculpem-me a palavra de má lembrança.

Já fui vereador. Naquela época devolvia sistematicamente os pacotes de lindos cartões de natal impresso pela Câmara. Devolvia todas as cestas de natal com as quais me agraciavam as empresas de ônibus. Sentia a desaprovação de muitos colegas pelo meu mau exemplo. Já fui Secretário de Estado, sofri a incompreensão de amigos do peito, porque devolvi os bonitos cartões de visitas com que me agraciaram na posse.

Só cito esses casos pessoais porque eles demonstram que é possível, sim, nadar contra a corrente. No mínimo nos dá uma agradável sensação do passarinho que carrega água no bico para apagar o incêndio florestal dos costumes políticos. O que, na época, era simples censura, ou incompreensão, diante da degradação atual, talvez me levasse hoje a uma comissão de ética, por quebra de decoro.

Em tempo: adoro receber cartão dos meus amigos peito. Sinto muito orgulho de ter muitos e grandes amigos, agora, inclusive, meus amigos virtuais que se espalham pelas redes sociais.

Boas festas e feliz 2011 para todos!


Fausto Matto Grosso é Engenheiro, Professor a UFMS e membro da direção nacional do PPS

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