sábado, 25 de dezembro de 2010

Inflação foi maior este ano para os mais pobres

DEU EM O GLOBO

Pressão da alta de alimentos deve continuar em 2011

Com a disparada do preço dos alimentos, a inflação este ano teve um peso maior no bolso dos brasileiros mais pobres, que gastam um terço do que ganham com comida. Até novembro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que se refere às famílias com renda de um a seis salários mínimos, variou 5,83%. O resultado foi influenciado pelos preços dos alimentos, que subiram 9,59% em média. Já o IPCA - índice usado no regime de metas do governo - acumula alta menor no ano, de 5,25%, assim como os alimentos: 8,95%. O alívio para os brasileiros de todas as faixas de renda, no entanto, não deverá chegar em 2011. Os preços internacionais dos alimentos estão próximos às máximas históricas, segundo a ONU.

Pesou no andar de baixo

Preço de alimentos sobe quase 10% e afeta mais pobres. INPC acumula 5,83% no ano

Fabiana Ribeiro

A alta dos preços dos alimentos pesou mais no orçamento dos mais pobres — que gastam um terço do que ganham com comida. Até novembro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), segundo o IBGE, que se refere às famílias com rendimento de um a seis salários mínimos, variou 5,83%. Um resultado fortemente influenciado pelos preços dos alimentos, que, pelo índice, subiram 9,59% no ano. Já o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) — usado no regime de metas do governo — fechou até novembro em 5,25%, e os alimentos, em 8,95%.

O alívio para os brasileiros de todas as faixas de renda, no entanto, não deverá chegar no ano que vem. Os preços internacionais dos alimentos estão, de acordo com informes da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), próximos às máximas históricas que registraram em junho de 2008, apesar da melhora de projeções para produção global de cereais nesse ano.

Impacto direto sobre renda menor

— O impacto dos alimentos é muito maior entre os brasileiros de menor renda. É um impacto direto na veia e o governo deveria olhar mais atentamente para isso.

O poder de renda dessa camada da população se deteriora mais do que aqueles com mais renda — di z Eduardo Velho, economista- chefe da Prosper Corretora, acrescentando que, com os preços salgados, o comércio que vende alimentos já apresentou retrações nas vendas em novembro.

— Preços altos levam a substituições ou mesmo a um freio no consumo.

O economista André Braz, da Fundação Getulio Vargas (FGV), lembra que, a despeito da alta dos preços, houve uma expansão na renda dos trabalhadores. E essa expansão é o que garante que os brasileiros mais pobres continuem a manter os produtos básicos à mesa.

Estudo complementar da POF 2008/2009 do IBGE, contudo, faz um alerta: o brasileiro está comendo mais, mas a qualidade da alimentação piorou.

— Ainda que muitos analistas apontem para alta nos preços dos alim e n t o s n o a n o q u e vem, ainda há dúvidas.

Muitos alimentos encareceram muito e, portanto, há gordurinhas no preço que podem ser cortadas. É o caso do feijão e das carnes que já tiveram um recuo nos preços — afirma André Braz.

A recepcionista Daniele da Silva, de 25 anos, sentiu na mesa os efeitos dos preços mais altos. Para se adaptar aos novos preços dos alimentos, foi necessário fazer alguns ajustes no cardápio da família.

— Eu costumava comprar contra filé , mas agora estou substituindo por acém. Estou sem fazer compras grandes há dois meses. Vou abastecendo o que vejo que está faltando, prestando atenção nas promoções. Substituindo um produto mais caro por outro que sei que não é a mesma coisa, mas é mais barato — afirma ela. — Natal tem que ter a ceia, vou dar um jeito, comprar um peru. Mas não vai ser “aquela ceia”.

Apesar das substituições dos produtos, a família de Daniele não vai passar por nenhum risco de insegurança alimentar. É o que espera Pierre Vilela, coordenador da assessoria técnica da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais, entidade ligada à Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Para ele, os avanços do salário mínimo, com ganhos acima da inflação, permitem que a alimentação dos brasileiros não perca qualidade.

— Não há o que temer em relação à segurança alimentar nem em relação ao aumento da pobreza.

Pode até haver uma redução no consumo, mas os produtos básicos, menos influenciados pelos preços das commodities, continuarão no cardápio das famílias.

Vilela acrescenta, contudo, que os preços das commodities agrícolas continuarão elevados em 2011. Com preços acima da média histórica, diz ele.

— É claro que tudo também depende de como andará a economia internacional no ano que vem — afirma Vilela.

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