sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Brasil cresceu na era Lula menos que emergentes e AL

DEU EM O GLOBO

A economia brasileira pisou no freio no terceiro trimestre deste ano. O Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos pelo país) avançou apenas 0,5% frente aos três meses anteriores, depois de ter crescido 1,8% no trimestre anterior. Os números são do IBGE e mostram que a indústria e a agropecuária tiveram queda no período. Em relação ao terceiro trimestre de 2009, no entanto, o país cresceu 6,7%. Apesar do freio, analistas reviram as projeções e já apontam expansão de 7,4% a 7,8% este ano. Seria, portanto, o melhor resultado em 24 anos. O IBGE divulgou ontem ainda que a recessão de 2009, na esteira da crise global, foi maior do que se pensava. O PIB brasileiro encolheu 0,6% e não apenas 0,2%. A ""marolinha", como disse o presidente Lula, foi maior do que o esperado e representou uma perda de R$19,1 bilhões para o país. Nos oito anos de govemo Lula, o país cresceu, em média, 4% ao ano. O resultado é inferior ao de China (10,95%), Índia (8,2%), Rússia (4,8%) e América Latina (4, 64%), de acordo com o FMI.

PIB menor, mas ainda recorde

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País cresceu só 0,5% no 3º tri, mas deve fechar 2010 com a maior alta desde 1986

Cássia Almeida, Fabiana Ribeiro e Clarice Spitz

Com a produção menor da indústria e da agropecuária, a economia brasileira diminuiu o ritmo no terceiro trimestre. O Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos pelo país) avançou apenas 0,5% frente aos três meses anteriores, depois de ter crescido 1,8% no segundo trimestre, informou ontem o IBGE. Apesar de ter andado mais devagar de julho a setembro, o Brasil já tem garantida expansão de 7,4% este ano, mesmo que não haja crescimento algum no fim do ano. A elevação forte nos primeiros trimestres explica essa taxa que será recorde. Aumento semelhante só foi visto em 1986, quando o PIB crescera 7,5%, no auge do Plano Cruzado.

No terceiro trimestre, frente ao mesmo trimestre de 2009, a alta foi de 6,7%. O resultado do PIB veio dentro das projeções dos analistas.

- O Brasil saiu com velocidade forte da crise. Agora não dá para continuar no mesmo ritmo. Entramos num ritmo mais normal - afirmou Roberto Olinto, coordenador de Contas Nacionais do IBGE.

Na ótica da oferta, os serviços sustentaram o crescimento do PIB no terceiro trimestre. Com peso de 66,2% na economia, a alta de 1% dos serviços compensou as quedas de 1,5% na agropecuária e de 1,3% na indústria. Entre as cinco atividades econômicas que cresceram acima da média do PIB, quatro foram serviços, com a liderança da intermediação financeira, que avançou 3,1%, refletindo o aumento do crédito.

No comportamento do PIB pelo lado do consumo, só há taxas positivas. Os gastos das famílias, que representam 61,7% do PIB, subiram 1,6%. Mas a liderança coube ao investimento, com expansão de 3,9%. Assim, a demanda interna cresceu mais que a oferta de bens e serviços interna. E foi suprida pelas importações, que subiram 7,4%.

- O investimento surpreendeu. Veio mais forte que o esperado - afirmou Luiza Rodrigues, economista do Santander.

Contra o terceiro trimestre do ano passado, época em que o país ainda estava se recuperando da crise, as taxas são todas positivas, tanto na produção como na demanda, e até recordes, como da importação que subiu 40,9%, a maior desde 1996, início da série histórica do IBGE.

- Tem um efeito taxa de câmbio. Isso é indiscutível, com o barateamento das importações. A taxa média de câmbio ficou em R$1,75 no terceiro trimestre, ante R$1,87 no mesmo período do ano passado - disse Olinto.

Os investimentos cresceram 21,2% frente ao ano passado. Já o consumo das famílias, que vem em alta há sete anos, subiu 5,9%. Assim, a demanda interna cresceu 8,1% na comparação com o mesmo trimestre de 2009 - ou seja, se a produção nacional tivesse conseguido suprir esse consumo, sem a ajuda das importações, o PIB também teria avançado nessa proporção, e não em 6,7%.

- Mesmo com o crescimento das exportações, houve contribuição negativa do setor externo no PIB, de 1,4 ponto percentual do PIB, maior que o 0,8 ponto percentual do trimestre anterior - afirmou Luiza, do Santander.

Na avaliação de Carlos Thadeu de Freitas, da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o consumo das famílias vai continuar a puxar o PIB brasileiro no ano que vem.

- A demanda interna cresce acima do PIB, muito por causa do aumento da massa salarial dos brasileiros - disse Freitas.

Em 2009, recessão foi pior, de 0,6%

A construção civil foi o setor que teve a maior retração no terceiro trimestre, em relação ao início do ano. A queda foi de 2,3%. Em relação a igual período de 2009, no entanto, o setor registrou expansão de 9,6%, impulsionado pela maior oferta de crédito. Para o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon) do Rio, Roberto Kauffmann, os números refletem um ajuste no setor, após um boom desde meados de 2009. Mas a expectativa ainda é de crescimento. A projeção é de avanço de 13% este ano, sobre os 5% de expansão em 2009.

- Não há acomodação, é apenas um ajuste. Devemos fechar o ano com R$40 bilhões de recursos da poupança direcionados ao crédito habitacional e em 2011 devemos permanecer nesse patamar - disse Kauffmann.

Segundo o economista Samuel Pessôa, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV), a indústria, que já estava com os estoques elevados, sofreu no terceiro trimestre a concorrência dos importados.

- O resultado já era esperado. Houve uma acomodação. A indústria acumulou estoque no primeiro semestre. E, com isso, aproveitou para reduzir seus estoques. O crescimento em relação ao ano passado é ainda um reflexo da economia deprimida (de 2009). Ou seja, ainda há vestígios de recuperação ainda. O crescimento segue forte neste quarto trimestre - prevê o economista.

As projeções dos analistas para o último trimestre confirmam essa aceleração. As projeções estão próximas de 1% na comparação com o período de julho a setembro. E, para o ano, estão revisando as projeções que, agora, superam os 7,5% de média previstos até a divulgação dos números do PIB ontem. As expectativas estão mais próximas de 8%.

O que motivou as mudanças nas projeções foi a revisão que o IBGE fez nos números do PIB de 2009. Até então, o instituto estimava uma queda de 0,2%. Agora, calculou uma recessão maior, de 0,6% - o pior resultado desde 1990, quando o PIB sofreu retração de 4,3%, ainda no governo Fernando Collor. Com uma base de comparação menor em 2009, o crescimento previsto para este ano fica maior.

Colaboraram Bruno Rosa e Danielle Nogueira

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