sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Ata do Copom dá sinais ambíguos sobre o futuro das taxas de juros

DEU EM O GLOBO

Para analistas, BC vai esperar definição da política fiscal do novo governo

Vivian Oswald

BRASÍLIA e RIO. Menos impactante do que esperava o mercado, a última ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do ano e da era Henrique Meirelles à frente do Banco Central (BC) trouxe um recado ambíguo sobre a trajetória futura da Taxa Selic. Ao mesmo tempo em que indicou pressões inflacionárias crescentes, avisou que é preciso ver os resultados das medidas de restrição ao crédito adotadas na semana retrasada antes de mudar a política monetária. Analistas acham que o BC vai esperar a definição da política fiscal do novo governo para agir.

Isso porque o BC diz no documento que considera essencial o cumprimento em 2011 da meta de superávit fiscal primário da União. A ata desencadeou, assim, especulações de que a primeira reunião do Copom comandada por Alexandre Tombini, em janeiro, poderá decidir pela manutenção dos juros básicos em 10,75% ao ano.

- O documento deixa as portas abertas para a alta ou a manutenção. É sinal de que (os diretores do BC) não estão convictos sobre subir juros na próxima reunião - diz o estrategista de investimentos para a América Latina do banco WestLB do Brasil, Roberto Padovani.

O texto admite que as altas de preços mais fortes das últimas semanas tendem a ser transmitidas ao cenário futuro da inflação, mas considera que, "no âmbito interno, os efeitos do ajuste na Taxa Selic (que subiu de abril a julho) ainda não foram inteiramente incorporados à dinâmica dos preços", o mesmo acontecendo com "as medidas macroprudenciais recentemente anunciadas, um instrumento rápido e potente para conter pressões localizadas de demanda".

Bolsa cai 0,83% e dólar sobe para R$1,702

No cenário do BC, tem que haver, em 2011, o cumprimento da meta cheia de superávit fiscal primário, ou seja, sem os abatimentos dos investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), no patamar de 3% do Produto Interno Bruto (PIB), quando considerado o setor público consolidado.

Em 2012, a autoridade monetária projeta um esforço fiscal de 3,1% do PIB, igualmente cheio. O desafio é imenso. Entre janeiro e outubro de 2010, o setor público consolidado entregou um superávit de 2,85%. Se forem descontadas as manobras que inflam o resultado, o esforço está na casa de 1,8% do PIB, nas contas do economista Felipe Salto, da Tendências Consultoria.

A ata do Copom também dá a entender que a autoridade monetária trabalha com uma taxa de inflação ainda acima do centro da meta de 4,5% para o ano que vem. O BC fala da "persistência do descompasso" entre oferta e demanda.

- O BC trabalha com um período mais longo para a convergência e indica que, em 2011, o índice ficará acima do centro da meta - diz Padovani.

Para o ex-diretor do BC e economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas, a mensagem da ata não é clara:

- O BC, com essa mensagem mais ambígua, está dando tempo para que o novo governo indique o que pretende fazer com a política fiscal para acomodar as pressões inflacionárias.

Apesar dos sinais ambíguos, o mercado prevê altas de juros. As ações do setor da construção civil, mais sensíveis ao comportamento dos juros, tiveram forte perda ontem na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). O Ibovespa recuou 0,83%, para 67.306 pontos, menor patamar em três meses. O dólar comercial fechou o pregão em ligeira alta de 0,05%, cotado a R$1,702.

Já a Fundação Getulio Vargas informou ontem que o Índice Geral de Preços-10 (IGP-10) subiu 1,27% em dezembro, após alta de 1,16% em novembro.

Colaborou Bruno Villas Bôas, com agências internacionais

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