quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

As promessas e os passos de Dilma em favor da estabilidade e de investimentos privados:: Jarbas de Holanda

1) Só alguns meses após o início do governo Dilma Rousseff haverá fatos concretos para uma análise objetiva de suas opções e medidas na condução da economia (bem como nas esferas política e institucional). Até lá, sobretudo agora quando apenas parte do seu ministério está definida, as previsões a respeito, favoráveis ou contrárias, carecem de maior consistência, podendo virem a ser desmentidas na prática. Feita a ressalva, cabe assinalar que a maioria dos analistas e de matérias opinativas (editoriais) dos grandes veículos da mídia vem avaliando positivamente – parcela deles explicitando surpresa – os sinais emitidos pela presidente eleita através das diretrizes recomendadas à equipe econômica indicada, bem como por meio do papel importante que Antonio Palocci e Paulo Bernardo deverão ter no núcleo de decisões do Palácio do Planalto.

2) Tais diretrizes, já antecipadas no “discurso da vitória”, proferido por Dilma tão logo foi concluída a apuração do 2º turno presidencial, traduziram o reconhecimento por ela de que seu governo terá de enfrentar de saída a combinação de dois sérios problemas: uma piora significativa do cenário econômico externo e, no plano doméstico, um processo de descontrole das contas públicas. Resultante do grande aumento dos gastos federais, sobretudo os de custeio, ocorrido nos últimos anos e que se agravará se não for revertida a ameaça de explosão deles configurada em vultosas demandas corporativas em tramitação no Congresso. Esse reconhecimento induziu-a, ou compeliu-a a trocar suas antigas posturas – de desenvolvimentista bastante radical – contrárias à política monetária pela defesa, reiterada, do corte dos gastos públicos e dos chamados fundamentos da estabilidade macroeconômica.

3) Nesse contexto, aos aplausos iniciais da mídia ao “discurso da vitória” têm-se seguido nos seus principais veículos a valorização e um tratamento basicamente favorável aos critérios e aos passos da presidente eleita, na escolha dos primeiros ministros e nas articulações para a seleção de mais outros. Eis trechos de avaliação de tais processos feita na edição desta semana da Veja (na Carta ao Leitor) – um veículo de forte postura crítica ao situacionismo federal: “Os novos integrantes da equipe econômica ecoaram as diretrizes da presidente”. “Vamos ter de fazer mais e melhor com menos”, disse Miriam Belchior, a futura ministra do Planejamento. “O Banco Central terá total autonomia na tarefa de manter a inflação sob controle”, afirmou Alexandre Tombini, sucessor de Henrique Meirelles no BC. Primeiro nome confirmado da equipe, o atual e futuro ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou uma inflexão na rota. Ao divulgar cortes de R$ 20 bilhões no orçamento da União para 2011 e de R$ 50 bilhões para o BNDES, Mantega disse: “Gastamos demais nos últimos dois anos, é hora de abandonar o estímulo fiscal e os subsídios. A ordem é mão pesada”.

4) Seguem-se outros destaques da imprensa a objetivos proclamados pela presidente eleita e sobre a composição do seu governo. – Do Globo, de ontem: “Dilma estuda conceder 7 aeroportos a setor privado”. “O plano sugere que sete aeroportos, com maiores gargalos sejam concedidos à iniciativa privada antes mesmo da abertura de capital da Infraero. São eles: Guarulhos, Tom Jobim, Confins, Porto Alegre, Salvador, Brasília e Viracopos”. Cabe lembrar que tal abertura, proposta por Nelson Jobim como ministro da Defesa do primeiro governo Lula, foi bloqueada por veto do Palácio do Planalto, adotado certamente com aval da então chefe da Casa Civil Dilma Rousseff. – Manchete do Valor, da última sexta-feira: “Palocci, deve voltar ao núcleo do poder”, com a legenda “Depois de relutância inicial, ex-ministro teria aceitado assumir segundo cargo de maior projeção do Planalto”.

5) Da Folha de S. Paulo, de ontem: “Dilma corteja Gerdau para seu governo”. Abertura da reportagem: “A presidente eleita, Dilma Rousseff, está fazendo a corte para levar o empresário Jorge Gerdau para seu governo. Os dois são próximos desde que ela ocupava a Secretaria de Minas e Energia do Rio Grande do Sul. A petista já fez três sondagens a um dos principais homens da siderurgia brasileira. Primeiro foi para o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Dois outros destinos são agora analisados: a Secretaria de Assuntos Estratégicos e o comando do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social”.


Jarbas de Holanda é jornalista

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