quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Mantega descarta mexer no câmbio já

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Para ministro, queda do dólar ante o real é insignificante e por isso não haveria necessidade de novas medidas cambiais ""no momento""

Adriana Fernandes e Fabio Graner

Na contramão das expectativas do mercado financeiro, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, avaliou ontem que a queda do dólar ante o real é "insignificante" e não vê necessidade, "no momento", de novas medidas cambiais.

Com um discurso menos alarmante do que o utilizado na reunião do G-20, quando defendeu o controle de capitais, Mantega disse que as medidas já adotadas pelo governo brasileiro para combater a guerra cambial estão dando certo e agora é o momento de "avaliar" e deixar a taxa de câmbio se acomodar.

"Vamos observar. Também não é bom ficar mexendo toda hora no câmbio", disse o ministro. Para ele, a cotação do dólar está se mantendo num patamar "razoável" e o real foi a moeda que menos se valorizou em relação ao dólar.

As declarações do ministro, dadas no final da manhã, repercutiram negativamente no mercado financeiro. Em reação, a cotação do dólar, que já estava em queda, rapidamente acentuou o movimento de baixa. É que o mercado estava contando com medidas mais fortes do Brasil depois da reunião do G-20, realizada na semana passada em Seul, na Coreia do Sul.

Água fria. A percepção dos analistas de que o governo lançaria mão de mais um arsenal de medidas aumentou depois que Mantega fez uma enfática defesa do controle de capitais como arma para os países enfrentarem a guerra cambial.

A expectativa do mercado era a de que as medidas seriam tomadas imediatamente. Por isso, a fala do ministro funcionou como um verdadeiro balde de água fria para o mercado, que estava à espera das medidas.

Cauteloso, o ministro não descartou, porém, novas medidas cambiais no futuro. "Não vejo necessidade de novas medidas nesse momento, mas a qualquer momento sabe como é que é."

Segundo fontes, o agravamento da crise na Irlanda, que provocou incertezas no cenário internacional e fez a cotação do dólar subir a um nível acima do R$ 1,70 (que funciona como uma espécie de piso informal para a taxa de câmbio) acabou ajudando o governo, dando mais tempo para avaliar as condições do mercado. Não foi à toa que o ministro ontem fez uma referência ao fato de a cotação do dólar no Brasil estar sendo influenciada pela crise na Irlanda.

"Está num patamar razoável. É claro que influenciado pelo problema da Irlanda, problema europeu, mas de qualquer forma mostra que as medidas que temos tomado são eficazes e o real é uma das moedas que menos têm se valorizado em relação ao dólar, portanto, está dando certo", ponderou .

Medidas. Mas, se vier a precisar, o governo conta com algumas medidas para tentar reverter a valorização do real, entre elas a retomada da cobrança do Imposto de Renda sobre os ganhos dos investidores estrangeiros que aplicam em títulos públicos. A cobrança do tributo foi suspensa em 2006, quando a alíquota era de 15%. O uso do Fundo Soberano do Brasil (FSB) na compra de dólares no mercado de câmbio local é outra medida guardada na prateleira.

Para ampliar o poder de fogo do Fundo, no entanto, o governo terá de editar uma medida provisória permitindo ao Tesouro emitir títulos para a carteira do FSB. Com isso, o volume de compra de moeda estrangeira pelo Fundo seria praticamente ilimitado, já que tudo dependeria da disponibilidade do Tesouro em emitir novos papéis. Até mesmo a quarentena para entrada de capital no mercado financeiro não é descartada pela equipe econômica, caso a desvalorização do dólar volte a se acentuar.

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