quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Serra é agredido por petistas no Rio

DEU EM O GLOBO

Em campanha na Zona Oeste do Rio, o candidato tucano à Presidência, José Serra, enfrentou um tumulto iniciado por sindicalistas e militantes do PT e foi atingido na cabeça por um rolo de adesivos de campanha atirado por um manifestante. Com camisetas e bandeiras do PT, o grupo intimidou Serra com xingamentos e tentou se aproximar dele. O tucano não se feriu. Por orientação médica, cancelou o resto da agenda e submeteu-se a uma tomografia num hospital da Zona Sul.

Serra é agredido por petistas no Rio

Em caminhada na Zona Oeste, candidato é atingido na cabeça por uma bobina lançada por manifestante

Fabio Brisolla

O candidato José Serra, do PSDB, enfrentou ontem o momento mais tenso desde o início de sua campanha pelas ruas do país. Em uma caminhada pelo calçadão de Campo Grande, na Zona Oeste do Rio, o passeio de Serra com sua comitiva foi bloqueado por sindicalistas e militantes do PT. Com camisetas e bandeiras do partido da candidata Dilma Rousseff, os manifestantes tentaram intimidar Serra com insultos e, depois, brigaram para se aproximar à força do candidato tucano.

Houve muita discussão e troca de empurrões. Na confusão, Serra acabou atingido na cabeça por um rolo de adesivos de campanha atirado por um dos manifestantes. Uma jornalista da TV Globo também foi atingida na cabeça por uma pedra arremessada na direção de Serra.

A caminhada de apoio à candidatura tucana contou com o suporte dos cabos eleitorais da ex-vereadora Lucia Helena Pinto de Barros, a Lucinha, recém-eleita deputada estadual pelo PSDB. Em torno de cem pessoas com bandeiras da campanha de Serra estavam reunidas no calçadão de Campo Grande - uma rua fechada ao tráfego de carros que concentra o comércio do bairro. Dez minutos antes da chegada de Serra, os militantes do PT, trazendo um enorme cartaz com a imagem de Lula, Cabral e Dilma, chegaram ao local. Houve provocações de ambos os lados. Os petistas seguiram em frente e ficaram posicionados num ponto logo adiante, exatamente no trajeto dos tucanos.

Quando Serra chegou, a caminhada transcorreu normalmente até esbarrar na barreira de militantes. Escoltado pelo vice Índio da Costa e por Fernando Gabeira (PV), o candidato tucano chegou a desviar o caminho. Mas os manifestantes seguiram a comitiva do PSDB. A partir daí, o que seria um encontro casual de adversários virou confronto. Serra entrou numa farmácia para cumprimentar as funcionárias. Enquanto o candidato posava para fotos, os empurrões se intensificavam do lado de fora. Segurando cartazes (um deles com a frase: "Cadê o Paulo Preto?"), os militantes tentavam se aproximar de Serra à força.

O candidato saía da farmácia quando Índio da Costa apareceu e, ofegante, pediu:

- Serra! Serra! Volta, volta para dentro!

"Comportamento típico fascista"

O candidato até aquele momento não sabia exatamente o que estava acontecendo do lado de fora. Serra obedeceu ao vice. E fez um rápido comentário sobre o incidente:

- Isso é organizado por profissionais da mentira e da violência. Eles fazem isso no piloto automático. É uma tropa de choque lembra as tropas de assalto dos nazista. Um comportamento muito típico de movimentos fascistas.

Preocupado, um segurança do candidato chegou a sinalizar para um dos integrantes da comitiva aconselhando que todos voltassem para a van. Serra saiu da farmácia e continuou andando. Na linha de frente dos manifestantes estava Sandro Alex de Oliveira, conhecido como Sandro Mata-Mosquito, de 36 anos, candidato derrotado a deputado estadual pelo PT e secretário geral do Sindicato dos Trabalhadores no Combate às Endemias, o Sintsaúde RJ.

- Soube da manifestação (a favor de Serra) ontem à noite (terça). E chamei o pessoal que trabalha como mata-mosquito. Nosso grupo tem doze pessoas - contou Oliveira, que alegou estar ali para protestar contra a atuação de Serra como Ministro da Saúde do governo FHC.

Além dos sindicalistas, que apóiam oficialmente em seu site a candidatura de Dilma Rousseff, militantes do PT de Campo Grande se juntaram ao grupo. Serra tentou prosseguir normalmente até o fim da caminhada. Mas, apesar de esboçar sorrisos e cumprimentar eleitores, estava visivelmente assustado. Chegou a ser levado pelos empurrões.

Amedrontados, os comerciantes começaram a fechar as portas das lojas. No auge do tumulto, Serra chegou a parar para responder aos insultos, mas foi contido pelos assessores. Logo depois, o candidato foi atingido por uma bobina de adesivos de campanha. Uma pedra, arremessada na direção do candidato tucano, atingiu a repórter Mariana Gross, da TV Globo.

Ao fotógrafo Gabriel de Paiva, do GLOBO, que flagrou o momento em que o candidato levou as mãos à cabeça, Serra disse que estava "meio grogue". O candidato seguiu para uma clínica em Botafogo, onde passou por uma avaliação médica.

- Uma pancada como essa poderia ter consequência grave, como um edema cerebral. Por sorte, está tudo normal - avaliou o médico Jacob Kligerman.

Por orientação do médico, Serra cancelou a agenda de ontem, que incluía um encontro com militantes do PSDB. Ao sair da clínica, onde fez uma tomografia, Serra falou sobre sua tarde em Campo Grande:

- Fiquei perplexo. Nunca tinha acontecido isso. Foi uma ação violenta que me pareceu pré-organizada.

O presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, condenou as agressões sofridas por Serra.

- Acho lamentável que tenha acontecido isso. Repudiamos qualquer tipo de agressão física. Censuramos se são militantes do PT. Defendemos o debate de idéias, não as agressões físicas - disse Dutra.

O presidente do PT no Rio, deputado federal Luiz Sérgio, divulgou nota informando que "o incidente teve início depois que seguranças do candidato José Serra, do PSDB, trataram com rispidez integrantes do grupo conhecido como "mata-mosquitos" que estava no calçadão."

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