quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Estilo 'paz e amor' de Dilma terá Ciro Gomes à frente

DEU EM O GLOBO

Petista investe em discurso de confronto de projetos e tem reunião a sós com Lula

Gerson Camarotti

BRASÍLIA. A candidata petista à Presidência, Dilma Rousseff, começou a pôr em prática ontem mesmo os ajustes na campanha.

Mas, na contramão do espírito paz e amor anunciado na manhã de ontem, ela anunciou que o deputado e ex-ministro Ciro Gomes (PSB-CE) conhecido por seu estilo agressivo vai integrar a coordenação de sua campanha.

Além disso, iniciou um forte discurso de confronto de projetos contra o candidato tucano José Serra.

A indicação de Ciro é um gesto no sentido de que a campanha quer agregar e atrair aliados. Na conversa, que aconteceu à tarde, Dilma reconheceu que era preciso descer do salto alto e dar um traço de mais humildade na campanha.

Até então, o núcleo duro da campanha era formado exclusivamente por petistas: o pres i d e n t e d a l e g e n d a , J o s é Eduardo Dutra, e os deputados federais Antônio Palocci e José Eduardo Cardozo.

Tem uma pessoa muito especial que hoje integra a coordenação da minha campanha, o nosso querido Ciro Gomes. Eu estou muito feliz com isso porque eu admiro e respeito e eu considero muito o deputado Ciro Gomes. Tenho certeza que ele tem uma contribuição grande para dar anunciou Dilma.

Ontem à noite, Dilma teve longa reunião com o presidente Lula no Alvorada. Ela chegou sozinha e permaneceu por mais de duas horas, pelo menos. Depois que ela chegou, outros não entraram no Alvorada.

Preocupação com faca no pescoço de aliados Magoado com o fato de o Palácio do Planalto ter pressionado o PSB a retirar sua candidatura presidencial em abril, Ciro não se envolveu com a campanha para o Planalto no primeiro turno nem gravou depoimento para Dilma. Ontem à tarde, participaram da reunião os governadores reeleitos Eduardo Campos (PSB-PE), Cid Gomes (PSB-CE) e Marcelo Déda (PT-SE), além do senador eleito Wellington Dias (PT-PI).

Outra preocupação na campanha é com a postura de faca no pescoço de aliados, principalmente do PMDB. Há mágoas e ressentimentos do primeiro turno que a campanha terá que administrar, como a do senador Hélio Costa (PMDB-MG). Nos bastidores, ele tem atribuído a sua derrota ao pouco empenho do PT e do próprio presidente Lula, que teriam feito vista grossa para o voto Dilmasia, o que fortaleceu a reeleição do governador Antonio Anastasia (PSDBMG).

Dilma negou possibilidade de dissidências: Ninguém sai, só entra. A gente não diminui. Nós estamos na fase de somar. O processo hoje é de adição disse Dilma, que também ressaltou: Agora, a campanha conta com uma porção de lideranças que são eleitas, que antes estavam dedicadas às outras campanhas. Um grande reforço que vou receber. Esse é o efeito do segundo turno.

(Recebo) Pessoas que estavam engajadas nas suas próprias eleições.

Seguindo a estratégia montada pela campanha, Dilma iniciou ontem mesmo as comparações com Serra para estabelecer a disputa plebiscitária. Dilma fez duras críticas ao projeto tucano e resgatou a memória da gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Vou ter oportunidade de mostrar a diferença entre o meu projeto e o projeto do meu adversário. Deixar cada vez mais claro que se trata do confronto entre dois projetos. Um que é necessariamente uma volta ao passado, porque o exemplo do que foi o governo do PSDB no Brasil tem que ser lembrado, que é a única carta de referência que o eleitor pode ter sobre o que significa concretamente o projeto do meu adversário.

E o meu projeto é de mudança e de transformação do Brasil que nós levamos nesses últimos oito anos, que é a era de prosperidade.

Dilma ainda voltou a fazer críticas às privatizações do governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e afirmou que na gestão anterior a questão social não era uma prioridade.

Tem que comparar a questão das privatizações e do tratamento à Petrobras. A Petrobras, que era uma empresa que tiraram o que era mais brasileiro nela, que é o bras, e quiseram botar um brax. O projeto anterior excluía uma parte dos brasileiros.

Não de forma explícita. Mas, ao não cuidar desses brasileiros, na prática os excluiu. Quando a gente recebeu o Brasil com taxa de inflação elevada, com o Fundo Monetário dando as cartas, nós começamos o Bolsa Família.

Ninguém pode alegar que não fez programa social porque não tinha recurso. Quando a gente quer fazer programa social, encontra e acha os recursos.

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