sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Especialistas preveem uma disputa acirrada

DEU EM O GLOBO

"A cada pesquisa, cada campanha terá de rever sua estratégia", diz Ricardo Ismael

Henrique Gomes Batista e Fábio Brisolla

Especialistas de diversos setores disseram ontem acreditar que a candidata do PT, Dilma Rousseff, viveu um dos seus piores momentos no início do segundo turno e que, por este motivo, a retomada da corrida ao Palácio do Planalto começou tão acirrada com José Serra (PSDB). Cientistas políticos, antropólogos, economistas e teólogos ouvidos pelo GLOBO concordam que a situação ainda está em aberto.

Para o cientista político Ricardo Ismael, da PUC-Rio, diversos fatores contribuíram para a petista ter começado com uma margem pequena de vantagem nas pesquisas, no segundo turno:

- Dilma vinha de seus piores momentos no primeiro turno, em trajetória de queda. Esse mau momento continuou na primeira semana do segundo turno e até pode ter se agravado com a discussão moral e sobre o aborto.

Ele, entretanto, diz que ainda é cedo para dizer se a maré ainda está ruim para a petista. Diz que as quatro primeiras pesquisas divulgadas até agora - Datafolha, Vox Populi, Ibope e Sensus - refletem mais o clima da primeira semana, embora algumas tenham sido realizadas nos últimos dias, depois do debate da TV Bandeirantes e da postura mais agressiva da petista.

- Só na próxima rodada de pesquisas saberemos se Dilma continua caindo. De qualquer maneira, meu "feeling" indica que teremos uma disputa muito apertada até o final, e que, a cada pesquisa, cada campanha terá de rever sua estratégia - diz.

Ismael lembra que ela vinha perdendo apoio tanto entre as classes mais altas da população - por conta do caso Erenice Guerra - como nas camadas mais baixas, principalmente pela campanha religiosa. Eduardo Rosa Pedreira, doutor em teologia pela PUC-Rio e pastor da Comunidade Presbiteriana da Barra da Tijuca, concorda que as notícias sobre legalização do aborto afetaram parte do eleitorado:

- O perfil básico do evangélico influenciado por esse tipo de notícia é o majoritário. O evangélico típico não está preocupado com a postura ética do candidato, mas sim com sua postura moral. Por isso, você constata a existência de políticos que votam de acordo com a agenda moral evangélica, mas que são verdadeiros parasitas quando estão no poder. Prevalece uma mentalidade de gueto nesses casos. Esse grupo de evangélicos, sem dúvida, é influenciado por esse tipo de discussão (aborto) - disse ele, que defende que a igreja trate de política, como ocorre em outros grupos da sociedade civil, mas não da forma como está ocorrendo, puramente eleitoral.

Regina Novaes, antropóloga da UFRJ, concorda com o teólogo.

- Boa parte dos evangélicos é de pessoas das classes populares, que são mais influenciadas em questões polêmicas como o aborto. É possível que esses votos tenham ido para o Serra - acredita.
Mas ela minimiza o impacto no maior grupo religioso do país, os católicos:

- No caso do catolicismo, por ser a religião da maioria dos brasileiros, fica mais difícil perceber se a orientação religiosa teve peso, de fato, nas pesquisas. No caso dos católicos, o peso da religião é mais diluído.

Segundo a última pesquisa Ibope, Dilma e Serra estão empatados entre o eleitorado feminino, cada um com 46% das intenções de votos. Para Natália Mori, socióloga que integra o colegiado de gestão do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cfemea), a divisão do gênero na eleição demonstra que nenhuma candidatura debateu a fundo a questão das mulheres. Ele acredita que o fraco desempenho de Dilma entre as mulheres é uma herança do apoio de Lula:

- Historicamente, Lula foi menos apoiado por mulheres que por homens. Isso deve estar influenciando, além do fato de mulheres, também historicamente, decidirem seus votos mais próximo das eleições e do fato de que não há uma candidatura feminista, como era Michelle Bachelet, no Chile.

Para o economista Marcelo Neri, da FGV, as campanhas começam a "inverter papéis" neste segundo turno:

- Dilma quer agora se passar por Serra, mostrando-se uma boa gestora, e Serra quer tomar o discurso de Dilma, mostrando realizações que já fez. Mas esta eleição não está focada em temas econômicos, mas, sim, sociais - disse.

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