terça-feira, 5 de outubro de 2010

Escolha para 2º turno expõe divisão do PV

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Grupo de Marina ficou longe das lideranças do partido, que agora precisa se unir para escolher qual presidenciável apoiar

Luciana Nunes Leal, Roldão Arruda

O candidato derrotado ao governo do Rio, Fernando Gabeira (PV), foi o primeiro aliado da senadora Marina Silva a anunciar apoio a José Serra (PSDB) no segundo turno. Os tucanos só aguardam agora um sinal do deputado para planejar sua participação na campanha. A expectativa é que Gabeira ajude a levar para Serra parte dos 2,6 milhões de votos (31,52%) obtidos por Marina no Estado.

Gabeira teve 1 milhão de votos a menos que Marina (20,68%) e perdeu a disputa com o governador Sérgio Cabral (PMDB) no primeiro turno. O deputado do PV afirmou que não vai tentar convencer Marina a se aliar a Serra. "Não quero criar constrangimento a ela, de maneira nenhuma. Farei tudo da forma mais harmônica possível", respondeu.

Gabeira disse que seu apoio estava definido desde o primeiro turno. "Apoio Serra não só porque ele me apoiou, mas porque o considero o melhor candidato", afirmou.

A decisão de Gabeira é individual. Não leva em conta o processo de debates e consultas sobre o segundo turno anunciado na noite de domingo por Marina. Esse processo foi iniciado ontem à noite, em São Paulo, com uma reunião que teve a participação de seus assessores e apoiadores mais próximos, além de representantes da direção nacional do PV.

Gabeira não esperou nem o debate no diretório estadual do Rio. De acordo com o presidente do partido no Estado, deputado federal eleito Alfredo Sirkis, a decisão só será anunciada após os debates internos, que incluiriam até reuniões com Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB). A ideia é apresentar a eles uma plataforma programática mínima e não negociar cargos.

"Vamos ter reuniões de coordenação, fazer uma seleção de propostas e depois encontrar os dois candidatos. Queremos evitar a cena tradicional da política brasileira da divisão de ministérios e decisões tomadas de forma fisiológica. Vamos puxar um programa mínimo, obrigando os dois empedernidos desenvolvimentistas a trabalhar com a ideia da sustentabilidade."

Com essa declaração, Sirkis deixa aberta a possibilidade de neutralidade, defendida pelos círculos mais próximos a Marina Silva, que incluem ambientalistas recém-convertidos à vida partidária e antigos militantes do PT, que ela atraiu para o PV.

Os debates levarão em conta as diferentes tendências existentes no partido. Em São Paulo, a posição do diretório estadual é francamente favorável ao apoio a Serra. Pesam a favor disso as atitudes do presidente do partido, o também deputado eleito José Luiz de França Penna, próximo aos tucanos, de apoiar José Serra, e do candidato derrotado ao governo do Estado, Fábio Feldman. Ele foi filiado ao PSDB até 2005 e até hoje mantém sua amizade com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e com Serra.

O PV de São Paulo tem sido aliado histórico do PSDB. E esse cenário tende a se manter. Todos os seis deputados paulistas eleitos agora para a Câmara têm ligações com os tucanos. Um deles, Sinval Malheiro, chegou a declarar no primeiro turno que sua escolha para senador recairia sobre Aloysio Nunes Ferreira, do PSDB, e não em Ricardo Young, do PV. Ele também já disse que é muito amigo do prefeito Gilberto Kassab, que faz parte do DEM e é aliado de Serra.

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