quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Embate agora tem Serra na ofensiva e erosão do favoritismo de Dilma: Jarbas de Holanda

1) A campanha da nova etapa da disputa presidencial – propiciada pelos quatro pontos percentuais que, nos últimos 15 ou dez dias antecedentes de 3 de outubro, Marina Silva subtraiu dos índices de intenção de votos de Dilma Rousseff, bem mais do que a fatia que desviou de Serra, menos de dois pontos, segundo o Datafolha divulgado no dia 9 – começou a travar-se num clima basicamente distinto, até oposto ao dominante ao longo da do 1º turno. Ademais da contenção, pelo menos inicial, do radicalismo de propostas do PT e retórico do presidente Lula, de par com um aumento do papel de Michel Temer e da máquina nacional do PMDB (consequências do adiamento da decisão que valorizei na semana passada), o novo clima é marcado pela atitude ofensiva assumida pela campanha do candidato oposicionista, em contraponto a uma postura defensiva do Palácio do Planalto e de sua candidata (que a disfarçou em agressividade no debate com o adversário na TV Bandeirantes). Essa postura é reflexo do choque, que, inesperadamente, eles tiveram com a erosão eleitoral sofrida no Sul, no Sudeste e também no Centro-Oeste (resultante das denúncias sobre escândalos praticados no governo; da repulsa às ameaças dele e da candidata ao papel de imprensa nessas denúncias; da vinculação de Dilma à descriminalização do aborto, facilitada por proposta favorável a isso do PT e agora explorada em favor da campanha oposicionista).

2) Uma recuperação, possível mas incerta, do cenário anterior de consistente favoritismo de Dilma Rousseff passa a depender não apenas de que ela mantenha a larga vantagem de que desfruta no Norte e no Nordeste mas também de que contenha essa erosão. O que certamente vai levar o presidente Lula, após o impacto da frustração com o 2º turno, a se jogar na campanha dela, nas próximas semanas, com um grau de envolvimento, pessoal e do governo, ainda maior do que verificado até 3 de outubro. Com o qual buscará compensá-la por meio de radicalização social do discurso voltado ao eleitorado de baixa renda e menor grau de escolaridade, em especial o das periferias das cidades e regiões metropolitanas do Sudeste e do Sul. Discurso de caráter classista, pobre versus rico, semelhante ao que usou contra Geraldo Alckmin no 2º turno de 2006, e diferente do de cunho moderado, nesse aspecto, que deverá caber à candidata.

3) Por seu turno, favorecido pela competitividade que enfim ganhou, a campanha de Serra concentrará esforços, viáveis, em alargar a vantagem, que obteve na região Sul, em ampliar a pequena superioridade conseguida em São Paulo (menos de 800 mil votos) e em reduzir bastante a diferença pró-Dilma em Minas Gerais. Isso tudo combinado com promessas, populistas, direcionadas sobretudo para o Nordeste, de um salário mínimo de R$600 e de aumento das aposentadorias e do Bolsa Família, bem como com o empenho para atrair a maior parcela dos eleitores de Marina Silva nas capitais das diversas regiões. A conquista desses eleitores é importante principalmente no Estado do Rio, onde Serra teve votação muito baixa. Quanto à Minas, a percepção do peso de um salto da votação lá, capaz de compensar o amplo predomínio lulista no Nordeste, teria induzido Serra, segundo informação de algumas colunas políticas, a garantir a Aécio Neves que não disputará reeleição em 2014 caso seja vitorioso agora.

“A sucessão sequestrada”

Trechos de editorial do Estado de S. Paulo, do dia 11. Que, após reafirmar apoio manifestado à candidatura de José Serra, condena com veemência “ataques de grupos mais conservadores de diferentes denominações cristãs” a Dilma Rouseff “sob a alegação de que, se eleita, ela patrocinará a liberação total do aborto”: “Na passagem hoje mais citada de uma entrevista concedida em 2007, ela considerou um ‘absurdo’ que o aborto seja considerado um crime no Brasil. Isso não faz dela uma candidata pior ou melhor. Os critérios pelos quais se devem avaliar os aspirantes à chefia do governo são de outra natureza. Excluem a defesa ou a condenação de posições na esfera do comportamento individual em razão de convenções religiosas, ou da falta delas, salvo se o candidato prometer mudar a legislação para autorizar ou proibir determinada prática na órbita privada. Não foi o caso de Dilma”. “Quando um clérigo sustenta que o aborto deve ser proibido em qualquer hipótese, cabe aos seus correligionários agir, na vida real, de acordo ou em desacordo com esse ponto de vista. Trata-se de uma decisão de estrito foro íntimo. O que o sacerdote não pode querer é que o Estado laico se dobre aos dogmas de sua fé. O país já passou por esse debate quando tramitava não Congresso o projeto, afinal aprovado, permitindo experiências com células tronco embrionárias para fins terapêuticos. Agora, na polêmica do aborto, a perspectiva só pode ser a da saúde pública – a interrupção da gravidez é a terceira causa da mortalidade materna no Brasil. Ainda é tempo de “civilizar” o segundo turno,resgatando-o da tutela religiosa”.

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