segunda-feira, 4 de outubro de 2010

'Efeito Marina' surpreende e leva a 2º turno entre Dilma e Serra

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Os candidatos Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) disputarão o segundo turno da aleição presidencial no dia 31 de outubro. Marina Silva (PV), que cresceu na reta final e chegou a quase 20% dos votos válidos, impediu a vitória de Dilma no primeiro turno e foi a grande surpresa da eleição. A petista obteve cerca de 46% dos votos - abaixo do que previam as pesquisas. Serra, por sua vez, ficou com 33% e venceu em Estados onde Dilma era tida como favorita na véspera da votação, como São Paulo. Além disso, o desempenho da petista ficou abaixo do esperado em Estados do Nordeste. Marina festejou o fato de que haverá segundo turno, mas não definiu quem irá apoiar.

Marina tira eleitores de Dilma, que perde em mais Estados do que se previa

Com base nas pesquisas, pode-se dizer que quadro se inverteu em SP, por exemplo, em apenas uma semana

Daniel Bramatti


Os candidatos do PT, Dilma Rousseff, e do PSDB, José Serra, disputarão o segundo turno da eleição presidencial no dia 31 de outubro. Marina Silva, do PV, cresceu na reta final e teve papel decisivo para evitar que a disputa fosse encerrada ontem.

À meia-noite de ontem, quando haviam sido apuradas 99,84% das urnas, Dilma tinha cerca de 46,9% dos votos válidos, três pontos porcentuais a menos do que o mínimo necessário para encerrar a disputa no primeiro turno. Faltaram pouco menos de 3 milhões de votos. No primeiro turno de 2006, o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva teve 48,6% do eleitorado.

O desempenho da petista ficou abaixo do que previam, na véspera da eleição, os institutos de pesquisa Ibope e Datafolha. Pesquisa de boca de urna feita ontem pelo Ibope, apenas com eleitores que já haviam votado, indicava que Dilma teria 51% dos votos válidos - levando-se em conta a margem de erro, de 49% a 53%. Serra chegou a 32,6% dos votos válidos. E Marina, a surpresa da eleição, a 19,3%.

Viradas. O candidato do PSDB venceu em Estados onde Dilma era tida como favorita ainda na véspera da votação. Em São Paulo, por exemplo, abocanhou 40,7% do eleitorado, contra 37,3% para a adversária.

Uma semana antes da eleição, o Ibope indicava um quadro inverso em São Paulo: a petista liderava com 45% dos votos válidos, seguida pelo tucano, com 39%. Marina aparecia com 14% no Estado, e acabou com quase 21% - seu eleitorado, portanto, cresceu 50% em sete dias no maior colégio eleitoral do País.

Na Região Sul, Serra perdeu no Rio Grande do Sul, mas colheu duas vitórias imprevistas pelos institutos de pesquisa no Paraná (44% a 39%) e em Santa Catarina (46% a 39%).

Na Região Centro-Oeste, o tucano venceu em Mato Grosso e em Mato Grosso do Sul, por pequena margem (1,2 e 2,5 pontos, respectivamente), mas ainda assim em Estados onde a previsão era de desvantagem em relação a Dilma.

Na mesma região foi registrada a única vitória da candidata do PV em uma unidade da Federação: o Distrito Federal deu a Marina quase 42% dos votos válidos, uma vantagem de pouco mais de dez pontos em relação a Dilma, tida como favorita até poucos dias antes da votação.

Redutos. Enquanto Serra virava o jogo em Estados-chave do Sudeste, do Sul e do Centro-Oeste, Dilma obteve vitórias significativas no Nordeste, mas não suficientes para compensar o quadro no restante do País.

Na Bahia, maior colégio eleitoral do Nordeste, a petista obteve 62,5%, quase o triplo do obtido por Serra. Em Pernambuco, terra do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ela chegou a 61,7%. No Rio Grande do Norte, na Paraíba, em Alagoas e em Sergipe, o desempenho ficou abaixo dos 54%. Os Estados nordestinos onde Dilma foi melhor foram o Maranhão (70%), o Ceará (65%) e o Piauí (67%).

No Rio Grande do Sul, Estado onde desenvolveu sua carreira política, a candidata governista teve pouco menos de 47% dos votos - o suficiente para ficar seis pontos à frente de Serra. Mas a presidenciável teve, entre os gaúchos, proporcionalmente menos votos que o candidato de seu partido ao governo. Tarso Genro venceu no primeiro turno, com mais de 54% dos votos.

Votação nas cidades. O mapa da votação dos candidatos à Presidência nos municípios, publicado nesta página, mostra que tanto PT quanto PSDB perderam eleitores na comparação com o resultado de 2006.

Na maioria das áreas onde ganhou há quatro anos, o então candidato Lula teve margens maiores do que Dilma. Da mesma forma, Geraldo Alckmin, candidato na época pelo PSDB, venceu com mais folga do que Serra nas áreas "tucanas" do País.

A responsável por essa mudança é Marina, embora ela seja praticamente invisível no mapa - além do Distrito Federal, ela venceu em poucas cidades do Rio e de Minas, entre elas Belo Horizonte - e perdeu até em Rio Branco, sua base eleitoral.
Em 2006, a terceira força na eleição era representada pela alagoana Heloísa Helena, do PSOL, que definhou na reta final do primeiro turno e acabou com menos de 7% dos votos válidos.

Evolução. Na divisão do eleitorado por Estados, Dilma teve desempenho inferior ao de Lula na maioria deles. Em Minas Gerais, o presidente venceu com 51% há quatro anos, enquanto a ex-ministra da Casa Civil obteve 46%.

No Amazonas, onde Lula teve seu melhor resultado em 2006 (78%), Dilma ficou com 13 pontos porcentuais a menos (65%). Assim como Alckmin em 2006, Serra teve entre os amazonenses seu pior desempenho - menos de 8,5% dos votos.

Na comparação com Lula, Dilma conseguiu ir melhor no Rio Grande do Sul, em Alagoas e em três Estados do Centro-Oeste: Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás.

A maior votação proporcional de Serra foi registrada no Acre (52,2%) - Estado governado há 12 anos pelo PT.

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