sábado, 23 de outubro de 2010

Chefe de gabinete de Lula vira réu em caso de corrupção

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Gilberto Carvalho e o PT são acusados em processo sobre propina em Santo André para financiar campanhas

O PT e Gilberto Carvalho, chefe de gabinete do presidente Lula, tornaram-se réus num processo em que são acusados de participar de quadrilha que cobrava propina de empresas de transporte na Prefeitura de Santo André, informam os repórteres Ana Paula Scinocca e Leandro Colon. O desvio dos cofres públicos, segundo a acusação, chegou a R$ 5,3 milhões, num esquema que seria o precursor do mensalão petista no governo federal. Segundo a ação, o hoje assessor de Lula transportava a propina para o comando do PT quando ocupava a Secretaria de Governo do então prefeito de Santo André, Celso Daniel, que era um dos principais coordenadores da campanha presidencial de Lula e foi assassinado em janeiro de 2002 - supostamente porque não aceitou que parte da propina enriquecesse os envolvidos. O dinheiro, aponta a investigação, serviu para financiar campanhas municipais, regionais e nacionais do PT. Por isso, o partido também responderá ao processo. O Ministério Público quer que o petista e os demais acusados devolvam os recursos desviados e sejam condenados à perda dos direitos políticos por até dez anos.

PT e Gilberto Carvalho viram réus em ação sobre propina em Santo André

Partido e o chefe de gabinete do presidente Lula são acusados de participação numa quadrilha que cobrava de empresas de transporte para desviar R$ 5,3 milhões dos cofres públicos; o esquema de corrupção seria precursor do mensalão petista

Ana Paula Scinocca e Leandro Colon

BRASÍLIA - Uma decisão da Justiça traz de volta um fantasma que acompanha o PT e transforma em réu o partido e o chefe de gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho. O assessor e o PT viraram réus num processo em que são acusados de participar de uma quadrilha que cobrava propina de empresas de transporte na Prefeitura de Santo André para desviar R$ 5,3 milhões dos cofres públicos. O esquema seria o precursor do mensalão petista no governo federal.

Na segunda-feira, a Justiça tomou uma decisão que abre de vez o processo contra os envolvidos. A juíza Ana Lúcia Xavier Goldman negou recursos protelatórios e confirmou despacho em que aceita denúncia contra Carvalho, o próprio partido, outras cinco pessoas e uma empresa. A juíza entendeu, no primeiro despacho, em 23 de julho deste ano, que há elementos suficientes para processá-los por terem, segundo a denúncia, montado um esquema de corrupção para abastecer o PT. "Há indícios bastantes que autorizam a apuração da verdade dos fatos por meio da ação de improbidade administrativa", disse.

O Estado esteve no Fórum de Santo André na quinta-feira para ler o processo e a decisão de segunda-feira. A Justiça local já enviou para a comarca de Brasília a citação do chefe de gabinete de Lula para informá-lo de que virou réu. No documento, a Justiça pede que Carvalho receba o aviso em sua casa ou no "gabinete pessoal da Presidência da República". O Ministério Público quer que o petista e os demais acusados devolvam os recursos desviados e sejam condenados à perda dos direitos políticos por até dez anos.

A decisão judicial em acolher a denúncia foi celebrada ontem pelos promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) da região do ABC, responsáveis pela investigação. "Ao receber a denúncia, a Justiça reconhece que há indícios para que a ação corra de verdade. É um caminho importante para resgatarmos o dinheiro desviado", disse ao Estado a promotora Eliana Vendramini. Ela destaca que a Justiça decidiu aceitar a denúncia depois de ouvir a defesa de todos os acusados nos últimos três anos.

Daniel

Segundo a ação, o assessor de Lula transportava a propina para o comando do PT quando era secretário de governo do então prefeito de Santo André, Celso Daniel, assassinado em janeiro de 2002. "Ele concorreu de qualquer maneira para a prática dos atos de improbidade administrativa na medida em que transportava o dinheiro (propina) arrecadado em Santo André para o Partido dos Trabalhadores", diz a denúncia aceita pela Justiça. De acordo com a investigação, os recursos eram entregues ao então presidente do PT, José Dirceu.

Apontado pelo Ministério Público como mandante do assassinato de Daniel, o ex-segurança Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, é companheiro de Carvalho na relação de réus. Somam-se ao grupo o ex-secretário de Transportes Klinger Luiz de Oliveira Souza, o empresário Ronan Maria Pinto, entre outros. "O valor arrecadado era encaminhado por Ronan ao requerido Sérgio e chegava, em parte, nas mãos de Gilberto Carvalho, que se incumbia de transportar os valores para o Partido dos Trabalhadores", afirma a denúncia. "A responsabilidade de Klinger e Gilberto Carvalho decorre da sua participação efetiva na quadrilha e na destinação final dos recursos." O dinheiro, aponta a investigação, serviu para financiar campanhas municipais, regionais e nacionais do PT . Por isso, o partido também responderá ao processo como réu.

Braço direito

Carvalho era o braço direito de Daniel na Prefeitura de Santo André, entre 1997 e 2002. O prefeito foi sequestrado no dia 18 de janeiro de 2002 depois de um jantar em São Paulo na companhia de Sombra. Dois dias depois, foi encontrado morto em uma estrada em Juquitiba, com sinais de tortura e sete tiros. Daniel era um dos principais coordenadores da campanha presidencial de Lula até então.

O Ministério Público acusa sete pessoas pelo crime. Seis vão a júri popular a partir de novembro. De acordo com os promotores, o crime foi encomendado por Sérgio Sombra. A Justiça já decretou que ele irá a júri popular. Para os investigadores, Celso Daniel morreu porque não aceitou que a propina, direcionada apenas para o PT, fosse usada para enriquecer os envolvidos.

''Eu estou com a consciência absolutamente tranquila''

Carvalho sustenta ainda não ter sido citado, mas diz que já se manifestou sobre o caso várias vezes, inclusive em CPI

O chefe de gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho, disse ontem ao Estado que a Justiça de Santo André já enviou carta precatória à Justiça do Distrito Federal, mas que ele ainda não foi citado. "Meu advogado está preparando minha defesa", disse Carvalho.

O homem de confiança do presidente Lula afirmou que já se manifestou sobre o caso publicamente várias vezes. "Já falei também por duas vezes a uma CPI e ao Ministério Público", disse. "Eu estou com a consciência absolutamente tranquila." Gilberto Carvalho foi ouvido pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos aberta no Senado em 2005.

O Estado procurou ontem o advogado do PT no caso, Luiz José Bueno de Aguiar. Deixou recado com a secretária, mas não houve resposta até o fechamento da edição.

Satiagraha. O nome de Gilberto Carvalho também apareceu ao longo da Operação Satiagraha, da Polícia Federal, em 2008. À época, o chefe de gabinete de Lula foi acusado de tráfico de influência. Carvalho teria sido procurado pelo advogado e ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh, apontado como lobista do grupo do banqueiro Daniel Dantas. Em 29 de maio, Greenhalgh conversou com Gilberto Carvalho, que lhe prometeu ajuda para obter informações sigilosas na Polícia Federal sobre o inquérito contra Dantas. Carvalho negou tráfico de influência.

Conselheiro de Lula, Gilberto Carvalho já foi secretário-geral do PT e secretário de Comunicação e Governo da Prefeitura de Santo André. No ano passado, foi cotado para presidir o partido.

Assessor de Lula era braço direito de Celso Daniel

Entre 1997 e 2002, o hoje chefe de gabinete do presidente Lula, Gilberto Carvalho, era o braço direito do então prefeito de Santo André Celso Daniel. O prefeito foi sequestrado no dia 18 de janeiro de 2002 depois de um jantar em São Paulo na companhia do ex-segurança Sérgio Gomes da Silva, o Sombra. Dois dias depois, foi encontrado morto em uma estrada em Juquitiba, com sinais de tortura e sete tiros. Daniel era um dos principais coordenadores da campanha presidencial de Lula até então.

O Ministério Público acusa sete pessoas pelo crime. Seis vão a júri popular a partir de novembro. Segundo os promotores, o crime foi encomendado por Sérgio Sombra. A Justiça já decretou que ele irá a júri popular. Para os investigadores, Daniel morreu porque não aceitou que a propina, direcionada apenas para o PT, fosse usada para enriquecer os envolvidos.

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