domingo, 31 de outubro de 2010

Cartas dos brasileiros

DEU EM O GLOBO

Educação, saúde e segurança são os temas mais citados em textos destinados ao presidente que será eleito hoje

Sonhos, expectativas e cobranças se misturam em cartas escritas por 26 brasileiros ao novo titular do Palácio do Planalto, que será eleito hoje. A educação foi o tema mais frequente, citado em 16 textos. Segurança, saúde e habitação também fazem parte das preocupações desses brasileiros, espalhados por Rio, São Paulo, Brasília e Recife. Entre eles, uma analfabeta de 60 anos, que teve de ditar sua carta e "assiná-la" com a impressão digital. Entre dificuldades e problemas, um sentimento comum: o de que o país precisa e pode oferecer melhores condições de vida à população. Moradora de um barraco no Rio, Carla Regina dos Santos cobra desenvolvimento com um pedido inusitado: tirar do Hino Nacional a frase "deitado eternamente". "Quem está deitado está morto ou dormindo", explica. "Não quero voltar a ver o futuro das crianças e jovens ameaçado pela injustiça do não saber, não comer, não viver com dignidade", resume a socióloga Sevy Madureira, de Recife.

Senhor ou Senhora Presidente,

Brasileiros escrevem cartas ao próximo governante e falam de suas expectativas e sonhos; educação é tema mais citado

Demétrio Weber, Letícia Lins, Marcelle Ribeiro e Rafael Galdo

BRASÍLIA, RECIFE, SÃO PAULO e RIO.Em sete linhas escritas à mão, Carla Regina dos Santos, de 39 anos, depositou suas esperanças de um Brasil melhor. Desempregada, moradora de um barraco de madeira sem água encanada nem esgoto na favela carioca da Cidade de Deus, ela foi um dos 26 brasileiros que, a pedido do GLOBO, manifestaram suas expectativas para o país numa carta destinada ao próximo (a) presidente. Entre os desejos de Carla, mais habitação, saúde e, também, um protesto contra o comodismo que, para ela, está implícito no Hino Nacional, no verso deitado eternamente em berço esplêndido.

Quem está deitado está morto ou dormindo. Já no caso do Brasil, achamos que ele está é morto.
Que possamos ressuscitar o nosso Brasil pátria amada, escreveu ela, ao lado do filho Miguel, de 4 anos. Por ele, Carla cobra melhorias na educação, citada em 16 cartas.

Além do Rio, brasileiros de Brasília, São Paulo e Recife, de diferentes classes sociais, idades e níveis de escolaridade, expuseram seus desejos. Da vendedora de doces analfabeta Teresa Batista, de 60 anos, que ditou sua carta, ao jovem mestre em antropologia Raphael Bispo, de 27.

Os assuntos foram variados, passando por geração de emprego e renda, políticas sociais e de gênero e meio ambiente. E, depois da educação, outros dois temas centrais do cotidiano da população apareceram entre os mais lembrados: saúde e segurança, com dez e nove citações, respectivamente.

O que o senhor (a) vai fazer pelo povo que sofre tanto na fila dos hospitais públicos?, quis saber a caminhoneira Rita de Cassia de Lima, do Rio. Mais polícia, só assim poderemos andar em paz. Pois nosso Brasil precisa de mais segurança, concluiu a corretora de imóveis paulista Maria Aparecida de Morais.

A corrupção, tema recorrente de alguns dos principais debates da campanha presidencial, esteve no foco de cinco das cartas.

Para Crislaine Pereira Mourão, nutricionista de São Paulo, a má gestão dos recursos públicos prejudica principalmente os mais pobres. Enquanto a universitária Vanessa Christina Nascimento de Jesus Teixeira, de Brasília, afirma que a corrupção envergonha os brasileiros: Gostaria que neste seu governo tivesse maior atenção com a questão da corrupção que permeia toda a política brasileira e que causa tanta vergonha, escreveu ela.

Em meio aos pedidos, as cartas revelam um sentimento comum: o Brasil pode e deve avançar, com melhores condições de vida para a população. Não quero voltar a ver o futuro das crianças e jovens ameaçado pela injustiça do não saber, não comer, não viver com dignidade, resumiu a socióloga Sevy Madureira, de Recife.

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