terça-feira, 7 de setembro de 2010

Primeiros sinais do ex-presidente:: Wilson Figueiredo

DEU NO JORNAL DO BRASIL

A quatro meses de passar à condição de ex-presidente, o presidente Lula anunciou a dedicação exclusiva, assim que desencarnar, à criação de um organismo muito forte, no qual pretende reunir todas as tendências políticas disponíveis para que nunca mais um presidente sofra o que sofri. Fica, bem ou mal, entendido que Lula pretende abrir sua agenda de ex-presidente com a famosa Reforma Política, que não conseguiu sequer começar nos dois mandatos que teve em mãos e deles dispôs como bem entendeu.

E também sem retroceder às estatizações, às quais teceu loas durante oito anos ininterruptos, sem mover uma palha para honrar a tese. Vê-se que não basta falar mal do antecessor para governar melhor.

A Reforma Política passa a ser, portanto, solução que contará com outras forças atuantes fora do plano parlamentar. É aí que o risco se hospeda. O Brasil é outro para quem não se satisfaz com aparências. Compreende- se a ênfase presidencial pela circunstância de que Lula estava no palanque, de onde não desce mais, e falou de Pernambuco, onde veio ao mundo (e se mandou assim que foi possível).

Neste ciclo de improvisos diários, para dar vazão a sentimentos que cultiva, deixou reiterado que o ex-presidente que já convive com ele quer marcar a saída para ser lembrado como candidato bumerangue. São perturbadores os primeiros efeitos da condição de ex-presidente.

Lula ainda tem 16 semanas para arredondar a Operação Reforma Política. O cuidado de contratar mudanças sem perder tempo já está em aplicação graças à aceitação nacional de que a teoria é diferente na prática. Sozinha, ela chove no molhado. Se ninguém denuncia, por exemplo, a presença presidencial nas sucessões estaduais de sua conveniência é porque reconhece como republicano o direito presidencial de meter a colher onde convier. Até agora, ninguém reclamou pelos canais competentes e teme os não competentes. O presidente já está polindo os excessos da desigualdade no equilíbrio federativo. Os que estão com ele são (a seu ver) mais iguais do que os outros.


Enquanto isso, investe o tempo que sobra em ajuda a candidatos do PT e a aliados correlatos.
Se ninguém protesta, em nome da Federação, é porque ela já está mais desacreditada do que suas congêneres esportivas. Políticos não abrem mão de hábitos a que se afeiçoaram na democracia, como ocorreu antes na ditadura, a começar da semana de dois dias úteis de trabalho parlamentar e de mais cinco para cuidar dos próprios interesses, dentro, ou principalmente, fora do Congresso.

Trata-se da categoria de cidadãos mais iguais do que os demais. Não abrem mão das vantagens que se tornaram a razão do mandato representativo.

Representam, aliás, muito mais o que não declaram. E, como diria o presidente na apoteose que é a sua aura, quem já viu por aí esse tal de sigilo?

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