sábado, 18 de setembro de 2010

Para Planalto, pivô é ex-diretor dos Correios

DEU EM O GLOBO

Demissão de Marco Antonio de Oliveira em junho teria detonado série de denúncias

Gerson Camarotti

BRASÍLIA. Ainda sob impacto da crise política que motivou a demissão de Erenice Guerra da Casa Civil, o Palácio do Planalto está convencido de que o pivô do escândalo é o ex-diretor de Operações dos Correios Marco Antonio de Oliveira.

Integrantes do núcleo do governo atribuem à demissão de Oliveira, em junho, o estopim para a avalanche de denúncias de tráfico de influência na Casa Civil.

O Planalto já identificou que Oliveira tinha relações muito próximas com Erenice Guerra quando ela ainda era secretáriaexecutiva da Casa Civil. Essa proximidade foi mantida quando Guerra tornou-se ministra em substituição à candidata petista Dilma Rousseff, em março.

A relação entre Erenice e Oliveira era perigosa e explosiva, segundo relato feito ao GLOBO por integrantes do governo. A avaliação é que a ex-chefe da Casa Civil ficou refém do ex-diretor dos Correios, e que a amizade ficou deteriorada de forma definitiva quando ele foi demitido, após a constatação de risco de um apagão postal. Também chamou a atenção do Planalto o fato de Erenice ter patrocinado a troca de dois diretores dos Correios com as mudanças concretizadas em julho, como revelou O GLOBO esta semana.

Oliveira é tio de Vinícius Castro, que até segunda-feira era assessor da Casa Civil e foi apontado pela Veja como sócio oculto de Israel Guerra na consultoria Capital. Para o Planalto, toda a oferta de lobby e facilidade no governo foi intermediada pelo ex-diretor dos Correios.

Ele é apontado como elo da dupla Israel e Vinícius com os lobistas Fábio Baracat e Rubnei Quícoli. O primeiro queria beneficiar a MTA nos Correios. O segundo queria um financiamento no BNDES. Para o governo, chamou a atenção o que foi classificado ontem de ousadia de Oliveira de ter intermediado negócios não só nos Correios, mas ter tentado agir em negócios de outras áreas do governo.

Oliveira e Quícoli confirmaram que conhecem Fábio Baracat, autor da denúncia do suposto tráfico de influência feita à Veja. O encontro ocorreu após julho deste ano e, segundo Oliveira, serviria para tratar de interesses de Baracat no setor aéreo, cujo auxílio poderia ser dado por Quícoli.

Rubnei é um cara dinâmico afirmou o ex-diretor dos Correios.

Já Quícoli disse que, até o dia da reunião em São Paulo, não conhecia Fábio Baracat.

O dia em que me encontrei com Marco Antonio em São Paulo, ele (Baracat) estava junto, presente. Eu o conheci nesse dia. Conheci o Fábio através dele (Oliveira).

Apadrinhado do PMDB, Oliveira ficou próximo de Erenice por causa dos laços familiares.

Além da sociedade oculta do sobrinho Vinícius com Israel, ele era próximo do irmão de Erenice, Antonio Eudacy Alves Carvalho. Os dois trabalharam juntos na Infraero. Oliveira chegou a ser superintendente da estatal na região Centro-Oeste.

Oliveira chegou a ter o nome citado no relatório final da CPI do Apagão Aéreo, que em 2007 investigou a crise na aviação brasileira. O relatório foi elaborado pelo senador Demóstenes Torres (DEM-GO), que pedia o indiciamento de 23 pessoas por fraudes cometidas na Infraero, inclusive o de Oliveira. Mas o nome dele foi retirado depois de uma manobra da base governista que aprovou um relatório paralelo elaborado pelo senador João Pedro (PT-AM).


Colaborou: Roberto Maltchick

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