quarta-feira, 22 de setembro de 2010

'Livre fluxo de informações é direito de todos'

DEU EM O GLOBO

Presidente da SIP diz que é "algo perigoso" o tom das últimas declarações do presidente Lula sobre a imprensa

ENTREVISTA:: Alejandro Aguirre

O presidente da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Alejandro Aguirre, criticou as recentes acusações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra a imprensa no Brasil. É algo perigoso, disse o dirigente da entidade, ao defender a liberdade de expressão e de imprensa como um dos pilares do funcionamento da democracia. Aguirre se referia à declaração do presidente em que comparou a imprensa a um partido político. O livre fluxo de informação e de opinião é um direito que pertence a todo o povo, não ao governo, defendeu Aguirre, que anunciou uma manifestação oficial da SIP sobre o caso.

Fernando Eichenberg
Correspondente WASHINGTON

O GLOBO: Como o senhor vê as recentes declarações do presidente Lula contra a imprensa brasileira, acusada por ele de atuar como partido político?

ALEJANDRO AGUIRRE: Sempre há uma grande preocupação quando vemos que um governante se declara o dono da opinião pública pelo fato de ter sido eleito. Obviamente, a eleição democrática de um governante, neste caso o presidente Lula, é algo muito importante e significativo. Mas o livre fluxo de informação e de opinião é um direito que pertence a todo o povo, não ao governo. Defendemos um direito que pertence ao povo e que é a pedra angular da democracia, e o usamos para exercer nosso trabalho. Não é algo que pertence a nós ou ao governo, mas a todos. Reivindicamos que o ambiente em que se desenvolve a vida nacional tenha plena liberdade de expressão para todos, e liberdade de imprensa para que se possa informar ao povo sobre os acontecimentos. Neste caso agora, vemos um governante com desejo de seguir os passos de outro governo na América Latina, no qual se desenvolvem atitudes muito fortes contra veículos que querem manter uma linha independente, que não seguem a linha do Estado, do governo, e com repercussões negativas da parte do governante. É o caso do presidente Hugo Chávez, na Venezuela, e da presidente da Argentina, Cristina Kirchner. Vários são os governos que fizeram declarações muito parecidas com as que o presidente Lula fez agora.

É algo que pode perturbar o debate eleitoral?

AGUIRRE: É algo perigoso. É definitivamente um caso de muita preocupação. São os casos em que certos setores da sociedade demonstram, em algum momento, sua inquietação com os meios de comunicação social, e registram isso. Mas quando se buscam formas de intimidar ou causar a autocensura na mídia, não se pode dizer que se está atuando de uma forma democrática. Infelizmente, tivemos casos de governos de origem democrática que, em algum momento, começaram a atuar de forma autoritária, para controlar a mídia, particularmente os veículos que querem manter uma linha independente, um critério independente.

A SIP se manifestará oficialmente sobre isso?

AGUIRRE: Estou de partida para o México, para um encontro com o presidente Felipe Calderón, mas vamos lançar uma declaração sobre o que ocorre no Brasil. Estamos vendo com muita preocupação a situação por lá. Já em comunicados passados expressamos isso. Temos a esperança de que a pessoa que sucederá Lula seja respeitosa dos direitos civis e humanos, que veja a liberdade de expressão como a pedra angular da democracia e que pense que, a longo prazo, a democracia não pode existir sem isso. Pensar que se pode ter um mundo democrático sem que existam meios de comunicação social independentes é uma falácia.

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