sábado, 4 de setembro de 2010

Freire compara Lula a Mussolini

DEU NO BRASIL ECONÔMICO

Perfil eleitoral Roberto Freire/Candidato a deputado federal

Pedro Venceslau

Presidente do PPS, aliado de José Serra trocou Pernambuco por São Paulo em busca de votos no principal reduto tucano

Depois de quatro anos sem mandato parlamentar, o presidente nacional do PPS, Roberto Freire, decidiu tentar a vida política em outra praça. Deixou a Ilha do Retiro, no Recife, e mudou-se de santinhos e cuia para o bairro de Higienópolis, em São Paulo, onde mora com a esposa e a filha desde 2006. É de lá que ele sai todos os dias para garimpar os votos que precisa para voltar para a Câmara dos Deputados. Freire reconhece que a mudança pode gerar "um certo preconceito", mas diz que considera natural um certo "paulicentrismo" na política.

"Quem tem expressão em São Paulo tem expressão nacional. Jorge Amado era baiano, mas foi eleito deputado pelo PCB de São Paulo. E o Fernando Henrique é do Rio de Janeiro". Em sua nova base, Freire não busca redutos, mas os votos de opinião de quem o vê como um dos mais aguerridos opositores do governo Lula.

Se vencer, ele certamente ocupará a linha de frente de um eventual governo Serra ou será um dos mais destacados quadros da oposição a Dilma Rousseff (PT). Ex-senador por Pernambuco, Freire fez uma aposta segura: trocou o estado onde o lulismo pulsa com mais vigor pelo maior ninho tucano do Brasil. A mudança deixou o líder do PPS fisicamente mais próximo do comando da campanha de José Serra (PSDB), onde ocupa lugar estratégico. Entre os líderes dos partidos aliados, ele é de longe o mais influente. Freire tinha acabado de ler as manchetes do dia quando recebeu a reportagem do BRASIL ECONÔMICO em seu apartamento.

Sua avaliação sobre os desdobramentos eleitorais do episódio da quebra do sigilo de Verônica Serra é cautelosa e pragmática.

"Não acho que isso vai virar o jogo", resume. Freire elogiou o discurso duro e emocional de Serra em um evento do dia anterior, mas ponderou.

"Vou ser franco. Muitas pessoas analisam esse fato como combustível para a campanha, mas esse tema não tem a carga emocional dos aloprados em 2006, por exemplo. Não existe dessa vez uma fotografia do dinheiro na mesa. Sem a imagem, o efeito é menor". Ainda assim, ele revela que o caso será usado na campanha de TV e observa: "Isso sem dúvida estimulou a militância e até o próprio candidato. Ele se sentiu agredido. A garra dele será maior agora".

Fascismo

A palavra mais usada por tucanos e aliados na hora de repercutir o caso tem sido fascismo.Ex-comunista do PCB e convertido à social-democracia, Roberto Freire vai mais longe.
Cita uma terminologia marxista para fazer um paralelo entre Lula e Benito Mussolini. "Mussolini era um líder de esquerda. Lula quer fazer o mesmo que ele: uma grande aliança entre o capital e o lumpesinato (termo que designa uma camada social carente de informação). Ele também já falou em criar um grande partido único. Foi essa aliança que fundamentou o fascismo". Freire vai adiante e cita outro exemplo dessa suposta aproximação. "A atitude de Lula nessa campanha, de agredir oposicionistas, como fez em Pernambuco com Marco Maciel e Raul Jungmann, é fascista. Isso incentiva outras agressões. Quem garante que não haverá um atentado?".

Antes de encerrar a entrevista, Freire ainda faz uma rápida e ácida análise do desempenho da oposição nos últimos oitos anos.

"A oposição foi tímida. O DEM e o PSDB só criticaram a questão ética (do governo Lula), mas nunca a econômica. Eles blindaram mais o (Antonio) Palocci que o (Pedro) Malan (ex ministro da Fazenda)".

SOCIAL-DEMOCRACIA

Independentemente do resultado das urnas, um debate político certamente será deflagrado no ano que vem: a fusão entre o PPS (Partido Popular Socialista) e o PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira) O assunto já foi discutido internamente diversas vezes entre as duas legendas. As primeiras conversas ocorreram em 1994 “por iniciativa do PSDB”, como lembra Freire. “Setores do Partido defendiam isso, mas a conversa não avançou porque o PPS resistiu, conta, No ano passado, o projeto ressurgiu, mas dessa vez por iniciativa dos socialistas. “O PPS não rejeita a ideia de fusão, mas isso tem que partir do maior partido”.

Ex-comunista do PCB, partido pelo qual disputou a Presidência contra Lula, Collor e Brizola em 1989, Freire foi o principal responsável pela transformação da legenda em social-democrata. A mudança definitiva aconteceu em 1992, quando o PCB organizou um grande congresso e mudou de nome para PPS. Uma facção da legenda resistiu e “refundou” o PCB, hoje um partido nanico.

A inspiração foi o colapso do socialismo na Europa e a reformulação programática e ideológica do então mais forte partido comunista da região, o PCI (Partido Comunista Italiano), que passou a chamar-se PDS (Partido da Esquerda, na sigla em italiano). “Eu defendi em 1992 que o nome do nosso partido fosse PDE (Partido Democrático de Esquerda) mas fui voto vencido e o nome ficou PPS”, lembra Freire. Apesar de reconhecer que o PSDB e PT bebem hoje na mesma fonte teórica, a social democracia, ele rechaça a ideia de aproximação entre os dois partidos. “Haverá um realinhamento político no Brasil, mas não entre PT e PSDB.

O que o Lula quer é criar um grande partido único. Isso é perigoso”, conclui.

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