sábado, 18 de setembro de 2010

Consultor diz ter avisado Casa Civil de que vazaria escândalo

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Quícoli afirma ter enviado e-mails a partir de dezembro de 2009

Rubens Valente
Enviado especial a Campinas

O consultor Rubnei Quícoli disse ter enviado à Casa Civil e-mails em que ameaçava revelar a políticos do PSDB e a jornalistas o esquema de lobby que a firma de um filho da ex-ministra Erenice Guerra operava na sede da Presidência da República.

Quícoli alegou que enviou as mensagens entre dezembro de 2009 e fevereiro de 2010 para forçar o governo a desautorizar a Capital Consultoria, que exigia comissão para "viabilizar" um pedido de financiamento feito pela empresa EDRB ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

O consultor havia sido contratado pela EDRB para "fazer virar" um projeto de energia solar no semiárido do Nordeste, segundo afirmou à Folha um dos donos da empresa, Aldo Wagner.

Os e-mails que Quícoli disse ter enviado entre dezembro e fevereiro estão endereçados a Vinícius Castro, servidor da Casa Civil e sócio oculto de Israel Guerra, filho de Erenice, na Capital.

MENSAGENS

Num dos e-mails, o consultor prometeu revelar os problemas "sem dó nem piedade".

Noutro, falava que quis se reunir com "Serra", referência ao então governador de São Paulo e hoje candidato à Presidência da República pelo PSDB, José Serra, mas diz que a reunião foi "adiada".

E ainda em outro e-mail, escreveu que iria procurar jornalistas da Folha , de "O Globo" e de outros "jornais a que tenho acesso".

Ontem, Quícoli disse à Folha que não levou adiante a ameaça e que jamais esteve com José Serra ou com outro político tucano parar tratar das denúncias.

O consultor afirmou que nunca teve relações com o PSDB, mas com o PDT e com PSB, ambos hoje na base aliada do governo Lula.

Afirmou que nos anos 80 era "militante de esquerda". Disse que trabalhou na campanha à Prefeitura de Campinas (SP) de Jacó Bittar - fundador do PT e amigo do presidente Lula. O consultor disse ter votado duas vezes em Lula, em 1989 e em 1994.

O consultor contou que seu único "contato indireto" com o governo de São Paulo, administrado pelo PSDB, foi uma ONG da qual ele foi vice-presidente e que, em 2006, prestou serviço de atendimento a ex-detentos do sistema penitenciário. Segundo ele, o contrato não previa remuneração aos diretores da ONG, da qual se desligou há dois anos.

Quícoli disse que a primeira vez que falou com um integrante da campanha do PSDB foi anteontem. A pessoa disse ser da produção de programas de TV do partido e queria saber se ele gravaria um depoimento para a propaganda de Serra. O consultor ainda não se decidiu.

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